O Envelhecido e Superado Pensamento Musical de Theodor Adorno Gazeta Do Povo

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Crítica à crítica de Adorno, notavelmente contra a cultura popular.

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    Enviado por Osvaldo Colarusso, 22/05/14 9:14:01 AM

    O envelhecido e superado pensamento musical de Theodor Adorno

    O filsofo Theodor Adorno

    Theodor Adorno (1903-1969) foi um dos mais importantes filsofos do sculo XX. Nascido em Frankfurt em 1903 demonstrou desde cedo paixo por duas reas: a filosofia e a msica. Em termos filosficos sua colaborao permanece ainda como algo de uma enorme importncia at os dias de hoje. Junto com outros pensadores como Max Horkheimer, Walter Benjamin e Herbert Marcuse formou o que se chama de Escola de Frankfurt, cujo pensamento, altamente complexo, deriva da dialtica de Georg Hegel, filsofo alemo que nasceu no sculo XVIII, e que foi incensado pelos pensadores marxistas no sculo XX. No aspecto musical Theodor Adorno, nascido num ambiente altamente favorvel a seu desenvolvimento musical (sua me era uma cantora lrica profissional), estudou composio musical com grandes nomes, dos quais se destaca o compositor austraco Alban Berg (1885-1935), compositor das peras Wozzeck e Lulu. Sua afinidade com o pensamento musical da segunda escola de Viena (Arnold Schoenberg, Alban Berg e Anton Webern) o levou a trilhar os caminhos do atonalismo e mesmo do serialismo vienense.

    Alban Berg e Arnold Schoenberg: os dolos de Adorno

    Um filsofo compositor

    Dono de uma formao musical de altssimo nvel escreveu diversas composies, entre as quais se destacam suas obras para quarteto de cordas e para piano. Se comps sempre de forma esmerada em termos tcnicos, a originalidade de suas obras fica bem abaixo do esperado. Sua Klavierstck (Pea para piano) de 1921, por exemplo, uma notria cpia das magnficas Trs peas para piano opus 11 de Arnold Schoenberg e suas Trs peas para piano compostas a partir de 1934 so um flagrante plgio das 6 pequenas peas para piano opus 19 tambm de Schoenberg. Suas obras para Quarteto de cordas, impecavelmente escritas para esta difcil formao, no contribuem muito para o enriquecimento do repertrio camerstico. A imitao de seu mestre, Alban Berg, fica flagrante em obras como suas Duas peas para quarteto de cordas de 1925.Se suas composies, volto a dizer, so impecveis do ponto de vista tcnico, mas pobres de originalidade, os textos filosficos que escreveu sobre msica so, at hoje, referncias extremamente importantes. Seu texto filosfico musical mais conhecido em nosso pas Filosofia da nova msica, lanada no Brasil pela Editora Perspectiva, na traduo razovel de Magda Frana. Livro de leitura complexa, tem uma introduo brilhante, que seguida por uma longa confrontao entre a maneira de compor de Arnold Schoenberg (1874-1951) (o captulo que ele batiza como Schoenberg e o progresso) e de Igor Stravinsky (1882-1971) (Stravinsky e a restaurao). Sua identificao com o compositor austraco faz com o que o captulo dedicado a ele seja bem maior do que o captulo dedicado ao compositor russo, e nos textos fica clara a sua preferncia.

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  • O compositor russo Igor Stravinsky: alvo de crticas ferozes de Adorno

    A rejeio ao Jazz e a Stravinsky

    Adorno, que era um severo crtico do Jazz (ele abominava qualquer fenmeno musical americano) e da msica popular, acaba esbarrando em uma dicotomia que est, no mnimo, envelhecida. Primeiro de tudo, dividir o mundo da composio musical da primeira metade do sculo XX em apenas dois nomes, de uma pobreza lamentvel. Se bem que ele estende o setor musical de Schoenberg a seus discpulos (Berg e Webern), esta Filosofia da nova msica exclui uma parcela enorme e importante da riqussima produo musical de seu tempo. Se o mundo da composio musical se resume apenas maneira de pensar de Schoenberg e Stravinsky, como se explica ento compositores to importantes e totalmente independentes destes dois msicos como o francs Edgar Varse e o tcheco Leo Janek. Nesta envelhecida e pobre discusso entre Schoenberg e Stravinsky fica de fora um gnio de primeira grandeza como o hngaro Bela Bartk, e, no preconceituoso pensamento do filsofo alemo, ficam de fora tambm uma lista enorme de gnios como Manuel de Falla, Benjamin Britten, Sergei Prokofiev, Jean Sibelius e tantos outros.As opinies de Adorno se afinam maneira de pensar do compositor Anton Webern, discpulo de Schoenberg, e muito admirado (e imitado) pelo filsofo alemo. Webern em seu livro O caminho para a msica nova, bem traduzido para o portugus por Carlos Kater (Editora Novas Metas, esgotado), compilao de diversas palestras que o compositor fez no incio da dcada de 1930, percebemos a enorme pretenso do grande msico em pensar que a forma de conceber msica da sua escola (Schoenberg e Berg includos) a nica. Se Adorno no foi um compositor brilhante, Webern, apesar de sua belssima produo musical, um pensador que esbarra na mediocridade. Mas h algo que os une: Adorno e Webern pensam mesmo em um mundo irreal onde a msica e a arte devem uniformemente serem concebidas. Quem no compactuar com eles ser desprezado. Para percebermos a origem desta forma de pensar existe uma carta datada de 1914 de Arnold Schoenberg para Alma Mahler (viva do grande compositor) na qual ele declara que nada composto fora da produo alem austraca relevante e chega a considerar a msica francesa e italiana de segunda classe. Esta maneira antiptica dos compositores da assim chamada Segunda escola de Viena pensarem, contribuiu bastante para que muita gente achasse sua msica pouco amigvel.Diversas obras de Arnold Schoenberg, de Anton Webern e de Alban Berg so verdadeiras obras primas. Mas no so as nicas de seu tempo. Os textos sobre msica de Theodor Adorno so importantes, mas envelheceram, e merecem ser lidos mais por sua impecvel metodologia do que pela discusso em si. Seu livro Quasi Una Fantasia: Essays on Modern Music, que denigre a criao de Igor Stravinsky, (que s conheo na verso em ingls), indigno do grande pensador que foi. Como existe uma ignorncia generalizada em termos musicais no ambiente intelectual brasileiro (vide os artigos que saram em revistas ditas especializadas, e uma falta de interesse no assunto entre os msicos, a lgica do que estou tentando dizer neste texto talvez passe batida tanto num meio quanto no outro. Mas se posso resumir o que tentei explicitar digo que Adorno, em termos musicais, se equivocou. Prova maior disso que pouco tempo depois da publicao de A filosofia da nova msica, em 1949, Stravinsky passou a compor seguindo os moldes de Schoenberg. Reafirmo que Adorno um gigante do pensamento filosfico. Livros como Minima Moralia (1945) e Dialtica do Esclarecimento (1947) so absolutamente fundamentais. no seu pensamento musical que sinto algo restritivo e ultrapassado que realmente no pactuo.

    Obras de Theodor Adorno

    Sua Pea para piano de 1921. Cpia das Peas opus 11 de Schoenberg

    Suas duas Peas para quarteto de cordas , completadas em 1925. Ecos frequentes da msica de Alban Berg

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    COMENTRIOS (3) COMUNIDADE

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    Cosme Jos Marques da Silveira 27/05/2014 01:20:50

    Prezado Maestro Colarusso, seu texto me foi indicado por uma amigo, pois cursamos juntos o curso de doutorado no PPG em Memria Social na UNIRIO. Pesquiso a memria dos msicos e as relaes interpessoais na orquestra sinfnica. Sou fagotista da OSN-UFF desde 1989 e j tocamos juntos pelo menos um vez. Confesso que fui vido ao seu texto, pois estou lendo Adorno (Introduo Sociologia da Msica) , Latour, Halbwachs e outros para escrever um artigo, e no encontrei a fora e a profundidade crtica que esperava. Se for possvel, esclarea mais o seu ponto de vista em um artigo complementar. Ab

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    Ana Lucia Vieira Santos 23/05/2014 12:31:55

    ser marxista era uma caraterstica da poca--Beethoven foi republicano- Mozart foi monarquista--- as funes sociolgicas atingem o artista mas no determinam sua arte. Essas funes mudam com o tempo e o que fica da arte o que importa. O que no podemos julgar essa arte deles por seu cunho poltico.

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