O Escandalo Do Comportmento Evangelico

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POR QUE OS CRISTÃOS ESTÃO VIVENDO EXATAMENTE COMO O RESTO DO MUNDO?

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O Escandalo Do Comportmento Evangelico

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  • POR QUE OS CRISTOS ESTO VIVENDOEXATAMENTE COMO O RESTO DO MUNDO?

  • RONALD SIDER

    POR QUE OS CRISTOS ESTO VIVENDOEXATAMENTE COMO O RESTO DO MUNDO?

    Traduo

    Jorge Camargo

  • Sider, Ronald J., 1939-

    O escndalo do comportamento evanglico : por que oscristos esto vivendo exatamente como o resto do mundo? /Ronald J. Sider ; traduo Jorge Camargo. Viosa, MG:Ultimato, 2006.

    144p.

    Ttulo original: The scandal of the evangelical conscience :Why are christians living just like the rest of the world?

    ISBN 85-86539-98-8978-85-86539-98-5

    1. Evangelismo Estados Unidos. 2. Igreja e o mundo.I. Ttulo.

    CDD. 22.ed. 277.3

    Ficha Catalogrfica Preparada pela Seo de Catalogaoe Classificao da Biblioteca Central da UFV

    S568e2006

    O ESCNDALO DO COMPORTAMENTO EVANGLICOCategoria: Vida Crist / Liderana / Igreja

    Copyright 2005, Ronald J. SiderPublicado originalmente por Baker Books,a division of Baker Publishing Group,Grand Rapids, Michigan, 49516, EUA

    Ttulo original: The Scandal of the Evangelical ConscienceTodos os direitos reservados

    Primeira edio: Dezembro de 2006Coodernao editorial: Bernadete RibeiroTraduo: Jorge CamargoReviso: Daniela Cabral

    Heloisa Wey Neves LimaCapa: Panormica Com&Mkt

    Os textos das referncias bblicas foram extrados daNova Verso Internacional, da Sociedade Bblica Internacional,salvo indicao especfica (RA Revista e Atualizada)

    PUBLICADO NO BRASIL COM AUTORIZAOE COM TODOS OS DIREITOS RESERVADOS PELA

    EDITORA ULTIMATO LTDACaixa Postal 4336570-000 Viosa, MGTelefone: 31 3891-3149 Fax: 31 3891-1557E-mail: [email protected]

  • SUMRIO

    Introduo 11

    1. A profundidade do escndalo 17

    2. A viso bblica 31

    3. Graa barata versus o evangelho todo 55

    4. Conformando-se cultura ou tornando-se igreja 85

    5. Raios de esperana 123

    Notas 135

  • memria de minha me e de meu pai,Ida e James Sider,que viveram aquilo que pregaram.

  • AGRADECIMENTOS

    SEM MEU EX-ALUNO Brent D. Miller, este livroprovavelmente no teria sido escrito. O conceito bsicoficou passeando em minha cabea por vrios anos. Maso projeto s comeou a deslanchar quando Brent fez umexcelente trabalho de pesquisa, fonte de vrios dadosestatsticos que uso no captulo 1. Mais tarde, quandofinalmente decidi escrever este livro, Brent concordou debom grado em fazer uma pesquisa complementar. Doisoutros alunos da graduao, Robin Weinstein e ChrisKlopp, tambm deram valiosa ajuda.

    Como em todos os meus projetos de literatura nosltimos vinte anos, minha assistente Naomi Miller deu-me seu apoio extraordinrio. Agradeo em especial atodos os companheiros que tornam possveis oministrio Evangelicals for Social Action (Evanglicos emprol da Ao Social) e o Sider Center on Ministry andPublic Policy (Centro Sider de Ministrio e PolticaPblica), do Seminrio Eastern. E, finalmente, a todos osmeus colegas do Seminrio Eastern e da UniversidadeEastern, instituies que continuam sendo um larmaravilhoso para todo o meu trabalho.

  • INTRODUO

    ERA UMA VEZ UMA GRANDE religio que, com o passar dossculos, se espalhou por todo o mundo. Mas nos lugaresonde ela existia por mais tempo, seus adeptos foram aospoucos se tornando complacentes, mornos e cticos. Alis,muitos lderes dos grupos mais antigos chegaram atmesmo a rejeitar publicamente algumas de suas crenasmais fundamentais.

    Em resposta, surgiu um movimento de renovao,apoiando de maneira apaixonada os clamores histricosda velha religio e convidando entusiasticamente os no-cristos de todo o mundo a abraar a f antiga. Rejeitando oceticismo dos lderes que j no acreditavam mais no Deusque faz milagres, integrantes do movimento de renovaoargumentavam com veemncia que seu Deus no apenasrealizou milagres no passado, como tambm ainda transfor-mava de maneira milagrosa aqueles que passavam a crer. Ocerne da pregao desse grupo era um novo nascimento,

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    radical e miraculoso, que dava incio a uma renovao etransformao moral profunda e definitiva. Com o tempo,o movimento de renovao floresceu de tal maneira que tor-nou-se um dos braos mais influentes da religio como um todo.

    No surpresa o fato de que os nmeros do movimentode renovao se traduziram em influncia poltica. E o movi-mento tinha tanta confiana em suas crenas e afirmaesque persuadiu os lderes da nao a fazer o governo traba-lhar lado a lado com as organizaes religiosas envolvidascom servios sociais, a fim de resolverem juntos os gravesproblemas do pas. Os adeptos do movimento de renovaosabiam que, na maioria das vezes, a miraculosa transforma-o moral de carter acontecia quando pessoas quebranta-das abraavam a grande religio. Eles tambm se uniam apolticos para fortalecer a definio tradicional de casamen-to, pois seus textos antigos ensinavam que a aliana vitalciaentre um homem e uma mulher o cerne do propsito doCriador para a famlia.

    Logo os pesquisadores comearam a fazer pesquisas deopinio. A despeito das afirmaes ufanistas dos integran-tes do movimento de renovao sobre a transformaomiraculosa, as pesquisas mostravam que os adeptos do mo-vimento se divorciavam e batiam em suas mulheres tantoquanto seus vizinhos seculares. Eram to materialistas quan-to seus amigos pagos e at mesmo mais racistas que eles.Frente a essa hipocrisia gritante, os cticos mais radicais riamde prazer cnico. A populao em geral estava confusa e eno-jada. Muitos lderes do movimento de renovao simples-mente entravam no ritmo de seus programas promocionais,agora muito bem-sucedidos e altamente sofisticados. Outroschoravam.

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    Infelizmente, hoje essa quase a mesma situao doOcidente, ou no mnimo do evangelicalismo na Amricado Norte.

    O comportamento escandaloso tem destruindo rapidamenteo cristianismo norte-americano. Em suas atividades dirias,muitos cristos traem com freqncia. Com os lbios afir-mam que Jesus Senhor, mas com os atos demonstram leal-dade ao dinheiro, ao sexo e a seus interesses pessoais.

    Os resultados de pesquisas conduzidas por institutos depesquisas respeitados, como o Gallup e o Barna Group, sochocantes. Gallup e Barna, lamenta o telogo evanglicoMichael Horton, apresentam resultados de pesquisas e maispesquisas mostrando que os cristos evanglicos esto a pon-to de assumir estilos de vida to hedonistas, materialistas,egostas e imorais quanto os do mundo em geral.1 Nos Esta-dos Unidos, o divrcio mais comum entre cristos nasci-dos de novo que entre a populao em geral. Apenas 6% dosevanglicos so dizimistas. Os evanglicos brancos tm maistendncia a discriminar seus vizinhos de outras raas. JoshMcDowell destaca que a promiscuidade sexual da juventudeevanglica apenas um pouco menos ultrajante que a dosjovens no-evanglicos.

    Alan Wolfe, famoso estudioso contemporneo e diretordo Centro Boisi para a Religio e a Vida Pblica Americana,publicou um estudo detalhado da vida religiosa nos EstadosUnidos. Os evanglicos aparecem com destaque em seu li-vro. Para Wolfe, o evangelicalismo atual exibe um desejoto forte de se amoldar cultura das redes hoteleiras e damsica popular que perde a distino religiosa que j teve.2

    O autor argumenta que h uma diferena cada vez menorentre uma atividade essencialmente secular, como a da

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    indstria do entretenimento popular, e os esforos do tipo

    traga-os para dentro a qualquer custo das mega-igrejas

    evanglicas.3

    No surpreendente a concluso de George Barna: A

    cada dia, a igreja tem se tornando mais e mais como o mun-

    do que ela supostamente busca mudar.4 Segundo Barna, te-

    mos pouco tempo para reverter essas tendncias. Professor

    e famoso estudioso de misses, o africano Lamin Sanneh

    disse revista Christianity Today: O cativeiro cultural docristianismo no Ocidente quase completo e, com a religio

    domesticada, a temporada de caa herana crist ocidental

    est aberta. Eu temo por um Ocidente sem um centro moral

    e enfrentando um islamismo politicamente ressurgente.5

    Nossa primeira preocupao, claro, deve ser a integrida-

    de interna, e no o perigo externo. Que tragdia para os

    evanglicos declarar com orgulho que a converso pessoal e

    o novo nascimento em Cristo so fundamentais em sua f e

    ao mesmo tempo desafiar os padres morais bblicos ao

    viver quase to pecaminosamente quanto seus vizinhos

    pagos.

    Graham Cyster contou-me uma triste experincia que ele

    viveu quando lutava contra o apartheid como jovem evang-lico sul-africano. Certa noite ele visitou s escondidas uma

    cela comunista subterrnea de jovens que lutavam contra o

    apartheid. Fale-nos sobre o evangelho de Jesus Cristo, elespediram, como se buscassem uma alternativa violenta

    estratgia comunista que haviam abraado.

    Graham fez uma exposio clara e convincente do

    evangelho mostrando como a f pessoal em Cristo

    transforma as pessoas de maneira maravilhosa e forma uma

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    nova comunidade, onde no h judeu ou grego, homem ou

    mulher, rico ou pobre, preto ou branco. Os jovens ficaram

    fascinados. Um deles, de 17 anos, exclamou: Isso maravi-

    lhoso! Mostre-me onde posso ver isso acontecendo. Graham

    fez uma expresso de desapontamento e respondeu que no

    podia pensar em nenhum lugar na frica do Sul onde os

    cristos estivessem verdadeiramente vivendo a mensagem

    do evangelho. Ento tudo isso um monte de m..., retru-

    cou o jovem com raiva. Um ms depois ele deixou o pas e

    juntou-se luta armada contra o apartheid dando, porfim, a vida pelas suas convices.

    O jovem estava certo. Se os cristos no vivem aquilo que

    pregam, a mensagem como um todo torna-se uma farsa. O

    cristianismo norte-americano fracassou grandemente desde

    meados do sculo 20 conclui Barna porque os disc-

    pulos de Jesus dos dias de hoje no agem como ele.6 Esse

    comportamento escandaloso ridiculariza Cristo, prejudica o

    evangelismo e destri a credibilidade do cristianismo.

    Se quisermos que a f crist vital sobreviva, temos de en-

    tender a profundidade da crise, descobrir suas causas e de-

    senvolver aes corretivas fiis e obedientes. isso que este

    livro busca fazer. O captulo 1 discorre sobre a extenso do

    escndalo. O captulo 2 contrasta a nossa desobedincia com

    o ensino bblico sobre o poder maravilhoso, transformador e

    santificador da f genuna em Cristo e da unio com ele. Os

    captulos 3 e 4 exploram as causas que esto no cerne do

    escndalo e os fundamentos bblicos que podem corrigi-lo.

    Finalmente, o captulo 5 aponta para alguns raios de espe-

    rana. Minha orao que, assim como The Scandal of theEvangelical Mind (O Escndalo da Mente Evanglica), de Mark

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    Noll, contribuiu para fortalecer o pensamento evanglico,O Escndalo do Comportamento Evanglico renove a reso-luo evanglica de viver aquilo que pregamos.

  • A PROFUNDIDADE DO ESCNDALO 17

    1.

    A PROFUNDIDADE DO ESCNDALO

    Os cristos evanglicos esto aderindo a estilos de vidahedonistas, materialistas, egostas e sexualmente imorais coma mesma propenso que o mundo em geral.

    MICHAEL HORTON

    QUO RUINS esto as coisas? Qual a profundidade doescndalo? A menos que encaremos essas questes comverdadeira honestidade, jamais poderemos esperar que oproblema seja corrigido.

    Quer o assunto seja divrcio, materialismo, promiscuidadesexual, racismo, abuso fsico no casamento ou negligncia viso de mundo bblica, pesquisas apontam para uma

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    desobedincia gritante e generalizada a exigncias bblicasmorais por parte daqueles que se dizem evanglicos, cristosnascidos de novo. As estatsticas so devastadoras.

    DIVRCIO

    Em uma pesquisa de 1999, George Barna constatou que, nosEstados Unidos, o percentual de cristos nascidos de novoque haviam se divorciado era um pouco maior (26%) que ode no-cristos (22%).1 Na pesquisa de Barna, desde meadosdos anos 90 esse nmero tem permanecido o mesmo.2 Emagosto de 2001, uma nova pesquisa demonstrou que a taxade divrcio era a mesma para os cristos nascidos de novo ea populao em geral; 33% dos cristos nascidos de novohaviam se divorciado em comparao com 34% de norte-ame-ricanos no-nascidos de novo uma diferena estatsticainsignificante. Em outro estudo Barna constatou tambm que90% de todos os nascidos de novo divorciados se separaramdepois de terem aceitado a Cristo.3

    Barna faz uma distino entre cristos nascidos de novoe evanglicos. Ele classifica como nascidos de novo todos osque dizem que fizeram um compromisso pessoal com JesusCristo, que ainda importante em suas vidas hoje, e queafirmam crer que quando morrerem, iro para o cu porqueconfessaram seus pecados e aceitaram Jesus Cristo como seuSalvador.4 Na pesquisa de Barna, entre 35% e 43% da popula-o norte-americana nascida de novo por atender a essescritrios.

    Barna limita o termo evanglico a um grupo muito menor

    apenas 7% a 8% da populao norte-americana. Alm deatender aos critrios relacionados aos nascidos de novo, os

  • A PROFUNDIDADE DO ESCNDALO 19

    evanglicos devem concordar com vrios outros pontos,como: Jesus viveu uma vida sem pecado; a salvao eterna por meio da graa e no de obras; os cristos possuem umaresponsabilidade pessoal de evangelizar os no-cristos;Satans existe. Essa definio, claro, identifica um grupo decristos muito mais bblico teologicamente, ortodoxo.

    De acordo com uma pesquisa de Barna, em 1999 a taxade divrcio entre os evanglicos era a mesma da mdianacional! Ou seja, 25% dos evanglicos assim como 25%da populao se divorciaram.5 No faz diferena para osevanglicos que o Senhor e Salvador deles tenha condenadoo divrcio explcita, clara e repetidamente?

    Vocs no leram que, no princpio, o Criador os fezhomem e mulher e disse: Por essa razo, o homemdeixar pai e me e se unir sua mulher, e os dois setornaro uma s carne? Assim, eles j no so dois, massim uma s carne. Portanto, o que Deus uniu, ningumsepare.

    Mateus 19.4-6, NVI

    O professor Brad Wilcox, socilogo cristo formado emPrinceton e especializado em temas familiares, tem estudadodois grupos de dados nos Estados Unidos: a Pesquisa SocialGeral e a Pesquisa Nacional de Famlias e Donas-de-Casas). Oresultado mostra que, comparados ao resto da populao,os protestantes conservadores tm mais propenso a se di-vorciar. Ele destaca tambm que as taxas de divrcio somais altas no sul dos Estados Unidos, onde os protestantesconservadores so mais numerosos que em outras partes dopas.6

    Em 2001, uma reportagem no The New York Times realouas concluses de Wilcox sobre as altas e surpreendentes

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    taxas de divrcio no sul. Em muitas partes do chamadoCinturo da Bblia, a taxa de divrcio se mostrou aproxima-damente 50% acima da mdia nacional (nfase acrescen-tada).7 O governador Frank Keating, de Oklahoma, desta-cou a ironia de que essas altas taxas de divrcio existam emseu Estado, onde 70% das pessoas vo igreja no mnimouma vez por semana. Ele concluiu: Essas taxas de divrcioso um indcio daquilo que no est sendo dito nos plpitos.

    MATERIALISMO E O POBRE

    John e Sylvia Ronsvalle tm analisado cuidadosamenteos padres de contribuio financeira dos cristos norte-americanos nos ltimos 30 anos. O relatrio anual A Situa-o da Oferta dos Cristos, de autoria dos pesquisadores, omais indicado para se saber o quanto os cristos nos pasmais rico da histria de fato contribuem. Na edio maisrecente do relatrio, h informaes detalhadas sobre opadro de contribuio individual dos membros das igrejasnos Estados Unidos de 1968 a 2001. Durante esses trinta epoucos anos, a renda mdia dos cristos norte-americanoscresceu muito, claro. Mas isso no se refletiu em suasofertas. O relatrio mostra que, proporcionalmente, quantomais ricos ficavam, menos contribuam.

    Em 1968, o membro de igreja doava em mdia 3,1% de suarenda menos de um tero do dzimo. Esse nmero dimi-nuiu ano aps ano durante a dcada de 90, e ento subiuligeiramente para 2,66% aproximadamente um quarto dodzimo.8

    Ainda mais interessante o que aconteceu com a contribuioevanglica. Os Ronsvalles comparam a contribuio financeira