o Esoterismo

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Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 1 O ESOTERISMO UMA ABORDAGEM HERMENÊUTICO-CONCEITUAL Otávio Santana Vieira Resumo: O presente artigo consiste em uma reconstrução histórica e conceitual do esoterismo, suas origens, aplicações e, sobretudo, do sentido (tanto no significado, como no histórico) atribuído a ele pela tradição. O estudo do esoterismo propõe o retorno de um conhecimento rejeitado pelas tradições hegemônicas, mostrando que se pode estudá-lo de maneira lúcida, concisa, e dentro de seu próprio rigor metodológico. Trata-se aqui de uma introdução ao assunto, não se atendo a discutir temas ditos esotéricos, mas ao estabelecimento de um campo de estudo e uma tentativa de semear o interesse de pesquisa neste campo que cresce consideravelmente. Palavras Chaves: Esoterismo; Tradição; Ocidental; Antoine, Faivre; Philosophia Perennis. INTRODUÇÃO: O Esoterismo Ocidental A chamada Tradição Esotérica Ocidental(Western Esotericism Tradition) é um recente campo de pesquisa acadêmica 1 , porém esta “tradição” não é nada nova, nem mesmo uma moda moderna, nem pretende ser uma reação ao cientificismo ou ao empirismo. Para que possamos entender o que se designa por tal nome precisamos, antes de tudo, definir o que vêm a ser tradição e ocidental, além de esotérico e esoterismo. Antes o esoterismo era estudado como pertencente a assuntos teológicos; entretanto, com o estudo sistemático e a adoção de métodos apropriados e contando com publicações sérias sobre o assunto passou a designar um campo de pesquisa autônomo (o “ismo”) com sua própria abordagem. Mas porque deveríamos estudar a Tradição Esotérica Ocidental” (TEO)? Aquilo que chamamos “ocidente” refere-se a todo o conjunto greco-latino e judaico-cristão, ambos “visitados pelo islamismo” na antiguidade e medievo (FAIVRE, 1994, p.12). Em filosofia a questão envolvendo o ocidente sempre suscitou a relação de antagonismo entre ocidente e oriente. Não somente geográfica, mas, sobretudo, baseada em visões de mundo e contraposições culturais, os partidários do que ficou conhecido como “milagre grego” e os chamados “orientalistas” criaram uma dicotomia envolvendo as duas metades do mundo. Diferentes interpretações foram dadas para justificá-la e Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 1 Notadamente em universidades europeias, fortemente na Holanda (University of Amsterdã), Inglaterra (University of Exeter), Alemanha, Suécia e França.

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Um abordagem hermenêutico-conceitual.

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Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 1 O ESOTERISMO UMA ABORDAGEM HERMENUTICO-CONCEITUAL Otvio Santana Vieira Resumo: O presente artigo consiste em uma reconstruo histrica e conceitual do esoterismo, suasorigens,aplicaese,sobretudo,dosentido(tantonosignificado,comonohistrico) atribudoaelepelatradio.Oestudodoesoterismopropeoretornodeumconhecimento rejeitadopelastradieshegemnicas,mostrandoquesepodeestud-lodemaneiralcida, concisa,edentrodeseuprpriorigormetodolgico.Trata-seaquideumaintroduoao assunto,noseatendo adiscutir temas ditosesotricos, mas aoestabelecimento deum campo deestudoeumatentativadesemearointeressedepesquisanestecampoquecresce consideravelmente. Palavras Chaves: Esoterismo; Tradio; Ocidental; Antoine, Faivre; Philosophia Perennis. INTRODUO: O Esoterismo Ocidental A chamada Tradio Esotrica Ocidental (Western Esotericism Tradition) um recentecampodepesquisaacadmica1,pormestatradiononadanova,nem mesmoumamodamoderna,nempretendeserumareaoaocientificismoouao empirismo.Paraquepossamosentenderoquesedesignaportalnomeprecisamos, antesdetudo,definiroquevmasertradioeocidental,almdeesotricoe esoterismo. Antesoesoterismoeraestudadocomopertencenteaassuntosteolgicos; entretanto,comoestudosistemticoeaadoodemtodosapropriadosecontando compublicaessriassobreoassuntopassouadesignarumcampodepesquisa autnomo(oismo)comsuaprpriaabordagem.Masporquedeveramosestudara Tradio Esotrica Ocidental (TEO)? Aquiloquechamamosocidenterefere-seatodooconjuntogreco-latinoe judaico-cristo, ambos visitados pelo islamismo na antiguidade e medievo (FAIVRE, 1994, p.12). Em filosofia a questo envolvendo o ocidente sempre suscitou a relao de antagonismo entre ocidente e oriente. No somente geogrfica, mas, sobretudo, baseada emvisesdemundoecontraposiesculturais,ospartidriosdoqueficouconhecido como milagre grego e os chamados orientalistas criaram uma dicotomia envolvendo asduasmetadesdomundo.Diferentesinterpretaesforamdadasparajustific-lae

Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal da Paraba (UFPB). 1Notadamenteemuniversidadeseuropeias,fortementenaHolanda(UniversityofAmsterd),Inglaterra (University of Exeter), Alemanha, Sucia e Frana. Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 2 podemos distinguir duas: A primeira atribui um valor negativo ao oriente e positivo ao ocidente,poisoorienteseriaumainda-nodoocidente,atrasado,desptico, comunitrioereligioso,enquantooocidenteseriaodesenvolvido,livre,societrio, secularizado.Asegundaatribuiumvalornegativoaoocidenteepositivoaooriente, para eles, o oriente o lugar por excelncia da sabedoria, da espiritualidade, enquanto o ocidenteodesertodomaterialismo,docientificismo,dopragmatismotecnolgico, etc. (ABBAGNANO, 2007). AchamadaTradioEsotricaOcidentalcompreende,segundoFaivre,o mundolatinoapartirdofinalsc.XV,oRenascimentoeoresgatedecorrentes filosficasereligiosashelensticastaiscomoognosticismo,ohermetismo, neopitagorismo,estoicismo(FAIVRE,idemp.12),comotambmoneoplatonismo,a cabala e a alquimia.NomescomoMarclioFicinoePicodellaMirandolaestointimamente envolvidos tanto com o ressurgimento das filosofias pags, como do intercambiamento entreelas.ComPicodellaMirandolavemosacomplementaridadeentreacabala,o cristianismoeohermetismoalexandrino,ecomFicinoatraduodaHermetica2, atribuda a Hermes Trismegisto. no Renascimento que surge a ideia recorrente no esoterismo da unidade ou consonncia entre as doutrinas, o que evoca a ideia da philosophia perennis: autores que trariamnomagodesuasdoutrinasorigenscomuns,emboraexpressasdediferentes maneiras,pormconciliveisentresi.Aestaperenidadealgunsautoresdesdeosc. XIX chamam de Tradio. Nocontextodopensamentoesotrico,anoodeTradioremeteaumaideia quesurgedeumaTradioespiritualmentesuperiorqueperduradesdeosinciosdo pensamentoathojepormeiodeinspiraodivinaougruposiniciticos (HANEGRAFF, 2006, p.1125) (cf. philosophia perennis, prisca theologia). Aabordagemhermenuticapretendidanestetrabalhopropetraarahistriado conceitodeesoterismoeseuuso,compreendendosuaviacrucis,seujulgamento, condenaoeresgate.Osentidoquenseosautoresclssicos(oapoiodatradio documental) atribumos ao termo ser a medida e a base para a compreenso, ao menos provisria por no se pressupor definitiva, de nosso objeto de estudo. A parte do mtodo

2OqueaquichamamosHermetica,ouCorpusHermeticum,trata-sedacompilaodevriostextos, incluindooPoimandres,oAsclpio,osfragmentosetestemunhosdeEstobeo,entreoutrosautorese notcias de alguns neoplatnicos no perodo helenstico e cristo da filosofia antiga. Ver bibliografia. Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 3 prprioaoesoterismoocidentaltrata-sedeumesbooparafuturasabordagensdesde dentro, e consequentemente, melhor compreenso dos temas pertencentes Tradio e a complexidade que requer mais aprofundamentos em sua abordagem. Oestudodoesoterismonopropejustificaroscontedosdeumadeterminada correntedaTradio,nemmesmoverificarumasupostarealidadehistricadestaem tempos imemoriais; trata-se to somente de apreender ou investigar a emergncia dessa ideianasimagensediscursos,isto,pormeiodasformasqueassumiuathoje (FAIVRE, 1994, p.13). Deminhaparteproporoestudodoesoterismosignificatrazerluzum conhecimentoesquecidoourejeitado,noporquesejaumcaminhoideal,apenas porqueumamaneirapelaqualohomematribuisentidoeconstriumavisode mundoparticular,ou-porqueno?-umamaneiradeconhecimento(umanovaordem gnosiolgica) ou uma construo onto-lgica prpria. 1.Esotrico e Esoterismo. Primeiramentedevemosdistinguiresotricoeesoterismo.Apalavra esotrico encontrada com muita frequncia na literatura atual, e por esse motivo a maiorpartedasvezesabordadasemomenorrigor.Ousoinadvertidodotermocausa confusoaogeneralizar,porvezes,relacionandooesotricocomdoutrinasexticas, sistemas iniciticos, cincias ocultas, entre outros - o que o bastante para que a cincia moderna as taxe de falsas e nem sequer as considere cincias. OprimeiroatentarresolveraproblemticadotermoesoterismofoiAntoine Faivre, professor da Sorbonne, em seu pequeno livro Lsotrisme (1992). A etimologia do termo no sugere muito, ou melhor, pouco explicativa: eso indica para dentro, o terumaoposio(FAIVRE,1994,p.8),eoismoumsistema.Estarouirpara dentrosugereumainteriorizao,voltar-seaointerno,pormestarforaou dentro de qu? Pois a palavra esoterismo no indica algo especfico, at mesmo pode significar uma infinidade de contedos. A tentativa de Faivre circunscrever um campo depesquisapossvel.Porm,oesoterismopareceindicarmaisumaformade pensamentodoqueumcampo.Faivresugereinvestigaranaturezadoesoterismoa partir de discursos que chamam a si mesmo de esotricos, e os que implicitamente o dizem ser. Emgeralotermoesotricoindicasegredo,arcano;algoisolado,misterioso oureservado.Porexemplo,fala-sededoutrinasesotricasdePlatoeAristteleso Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 4 sentidodotermoesotrico()atribudoaAristteles,pormeleusa apenasapalavraexotrico,aqualseriaoopostoaacromtico(),quequer dizerinstruooral(cf.HANEGRAAFF,2006,p.336)queeramensinadasa discpulos escolhidos - ou dos ensinamentos das antigas escolas de mistrios reservados aosiniciadosquedeveriampercorrerumlongocaminhodepurificao.Otermo esotrico aparece pela primeira vez com Luciano de Samosata3, contudo este termo s serassociadoasegredoemClementedeAlexandria4,posteriormente,otermo aparece em Hiplito de Roma5, Orgenes e Gregrio de Nissa.SegundoJean-PierreLaurantotermoesoterismoaparecepelaprimeiravezem 1742emumautormaom6,elremeteaumensinamentointerno,ousecreto, ministrado nas Lojas apenas aos seus integrantes (cf. LAURANT, 1995, p.12).Hanegraaff,poroutrolado,indicaoanode1828eaoautorJacquesMatterao aparecimentodotermolsotrismeemseulivroHistriacrticadognosticismoede suasinfluncias;seguidoporJacquesEtienneem1839,ePierreLeroux.Em1852 aparecenoDicionrioUniversaldeMauriceLachtre(dogregoeistheoentendido comoprincpiodadoutrinasecreta),depoispopularizadoporEliphasLviemlivros sobre magia, enquanto no ingls (esoteric, esotericism) introduzido porA. P. Sinnett em Budismo Esotrico (HANEGRAAFF, 2006, p.337).Aqui podemos perceberum sentido a ele associado, o do mistrio, quetorna o mundoumaexperinciadeaprofundamento,foradosafazerescotidianos,dosobjetos comuns,paraoinslito,emsuma,paraoextraordinrio,ultrapassandooslimitesda linguagemedosconceitos,eingressaemummbitonocomunicativo,ounomundo do smbolo, do mito e do rito, da linguagem velada ou simblica. Porm, esse sentido muito restrito ou pouco significativo, pois muito do que se diz esotrico restrito aos iniciados,cabendoapenasaelesodomnioapropriadodosentidoetransmissodos contedos esotricos, sendo ento muito problemtico para os no-iniciados. Oesoterismopossuioutrossentidos,como:1)odeumcaminhoouprticaque dirige aquele que o segue a um lugar o qual conteria um tipo superior de conhecimento atravs do contato direto com a tradio (FAIVRE, 1994, p.10). As escolas ou correntes seriam um meio para alcanar esse lugar, tanto que o termo esoterismo poderia se referir tantoaomeiodealcan-lo,quantoolugarcomotalquesequeratingir.Segundo

3 Leilo de Vidas. No livro Hermes e Zeus vendem filsofos. Os aristotlicos so vendidos um por dois, pois um veria para fora e o segundo para dentro, o primeiro exotrico, o segundo esotrico. 4 Stromata. 5 Refutaes a todas as heresias. 6 La Tierce, Nouvelles obligations et status de la trs vnrable corporation des francs maons, 1742. Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 5 Faivre,esselugarseriaomesmoalcanadoportodosaquelesqueobuscam,no importandosuaorientaooutradio(nosentidodetransmisso)deonde particularmentepartiriam.Issodemonstrariaumasupostaunidadeentretodasas tradiesexistentes.Ou,2)odeconhecimentorejeitado,marginalizadoporuma tradio hegemnica.Seria,entretanto,nomnimoignorncia,ouingenuidade,suporquetudoaquilo queherticooucontrrioaumcontedodogmticosejaesotrico.Podemos perceberqueascorrentesditasesotricassurgemdentrodemovimentosreligiosos,da mesmamaneiraquevemosfalarcomcertafrequnciadecristianismoesotricoou budismo esotrico, como sendo a verso marginalizada da doutrina oficial.O caso do dogmatismo no restrito questo religiosa, mas atinge at mesmo o ambiente filosfico. Na tradio filosfica ocidental, tudo o que se diz esotrico, ou se aproximadisso,rejeitadoreiteradamenteetaxadocomoirracional,contraditrioou como um problema superado, um velho quadro intil da ignorncia primitiva do homem (cf.,porexemplo,acrticadeTheodorAdornocontraaastrologia,sendoesta instrumento de manipulao ideolgica em As Estrelas descem Terra, por outro lado, cf.PaulFeyerabendemOEstranhoCasodaAstrologia;tambmOMundoHumano do Espao e do Tempo,In.Ensaio sobre o Homem de E. Cassirer). Sendo ento tudo aquilo que no se encaixa no padro racional ou do mtodo no aceitvel ou passvel de estudo. Aquestoquesugereirparadentro,indicaolhardeforaalgoquedesdea idade mdia estava inserido na Teologia (FAIVRE, idem). O jugo da Teologia acerca do esotrico o tornara perifrico ou excludo; entretanto, o desmantelamento do lastro que sustentavaahegemoniadaTeologiafezsurgirumcampovastopassveldeinmeras abordagens,semanecessidadedaTeologiaparaacess-la.Ouseja,foiprimeiro necessrio ir para fora do teolgico, para acessar o esotrico por meio dele mesmo (o interno),ouseja,desdeaperspectivanosentidomesmodevisodoesoterista, recuperando-o do exlio, do claustro teolgico.Devemosmuitoaoshumanistasrenascentistasnesteponto,poiselesousaram rompercomojugoteolgico-escolsticoparacelebrarumverdadeirocasamentoentre asdoutrinasdasreligiesabramicascomasdoutrinashermtico-filosficas(cf.Pico dellaMirandola,DiscursosSobreaDignidadedoHomem).Odesprendimentoda Teologia descortinou o campo de abrangncia do esoterismo, e o mesmo ocorreu com a Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 6 cincia:elasetornouautnoma.Ocontedoditoesotricopassouadesignarassuntos de cunho metafsico, cosmolgico e tico, fora do mbito teolgico. SegundoFaivre,asfontesasquaisconstituemaTradioEsotricaOcidental podemserdistinguidascomograndesriosquedesguamnooceanodoesoterismo moderno. Estas disciplinas ou ramos irrigam a Alquimia, a Astrologia e a Magia, sendo seus afluentes usando a metfora de Faivre (FAIVRE, 1994, p.14) os seguintes: Cabala crist; Hermetismo neoalexandrino; Alquimia; Philosophia perennis (Tradio Primordial); Paracelsismo; Astrologia; Naturphilosophie;Teosofia7 (sc. XVII);Magia. Rosacrucianismo; Sociedades Iniciticas. Todososafluentesirrigaram,forteoutenuemente,ostrsgrandesriosdo esoterismo.Todoselesmantmrelaesentresi,comotambmcomastradies religiosasouculturaisquenopodemsertotalmenteseparadasoudissociadas,pois ambas so fontes para uma estrutura do imaginrio esotrico, o que bastante visvel ao analisarmos profundamente estas obras. H um distanciamento das questes teolgicas, entretantosemantmasfiliaesreligiosas(outalvezespirituais)eculturais,aspectos mitolgicos e sociais que envolvem toda a formao esotrica de seus componentes. 2. Os seis elementos fundamentais do esoterismo em Antoine Faivre. Definirdemaneirainequvocaquaissooscontedosnosquaisseadequa perfeitamenteotermoesoterismobastantecomplexo,poisdemaneiraalgumase buscadefinirdoutrinalmenteoquevenhaaseresotrico-nemoobjetivodefender quemaneiradeveseramaisadequadaparaentenderoesoterismo,privilegiandouma doutrina em detrimento de outra. AomenospodemosseguiratentativadeFaivre,emsuajconsagradadistino, entreosquatroelementosfundamentaisdoesoterismo:(1)ascorrespondncias;(2)a naturezaviva;(3)imaginaoemediaes;ea(4)experinciadatransmutao (FAIVRE,1994,p.17),almdeoutrasduasqueseriamelementossecundriosou no-fundamentais: (5) a prtica da concordncia e a (6) transmisso.

7NoconfundircomaexpressomodernadeTeosofia,associadaadoutrinasorientais,pelaSociedade Teosfica de H.P. Blavatsky (sc. XIX). Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 7 1.Oelementocorrespondnciaindicaumarelaodeinterdependncia,Oque estemcimacomooqueestembaixo... 8,almdediferenciadosnveisde existncia,osquaisestariamligadosouinterligadospormeiodecorrespondnciasou analogias(GOODRICK-CLARKE,2008,p.8).Naliteraturaesotricacomum encontrarcorrespondnciasentremicrocosmosemacrocosmos,eassociaesentre metais, plantas e planetas,um elemento sendoremetido aos outros, criando assim uma redepraticamenteinfinita.Estascorrespondnciassoquasesempreocultasoupouco reveladas. Este o campo do mistrio, do encoberto, do segredo.Faivre distingue dois tiposdecorrespondncias:(a)asvisveiseasinvisveis.Asvisveissoasqueesto ligadasaomundonatural,partesdocorpo,plantas,metais,etc.,comasregies invisveis do mundo celeste; as invisveis tratam da correspondncia entre (b) o cosmos, ouahistria,comotextorevelado.NaturezaeEscrituracorroboram-semutuamente, uma ajudando no conhecimento da outra (FAIVRE, 1994, p.18). Oestudodascorrespondnciasindicariaumadimensonaqualocontraditrio, paradoxalouindissocivelsedesfariaeencontraramosasoluoparaosgrandes problemas da existncia. Deste modo, demolida toda a estrutura lgico-aristotlica dos princpiosdeno-contradio,identidadeeterceiroexcludo9.Anoode correspondncias sugere que a ordem csmica segue uma estrutura no linear, diferente da lgicaclssica.As relaes de analogias e semelhanas podem variar facilmente de nveis ontolgicos e/ou lgicos, por meio de redes interligadas ou hieraquias, alterando-setantoascendentes,quantodescendentementedomacroaomicro,doacimaao baixo, e vice-versa. 2.Acorrespondnciapodeserassociadaideiadeumanaturezaviva,poisa relaosimpticaqueligatodasascoisasnaturaisoelodamagia,ondeocontrolee emprego das foras esto ligados ao uso das correspondncias. A ideia de uma natureza viva o princpio mesmo da magia, particularmente no Renascimento. Do latim magia e do grego magik tchne, a arte dos mgoi os antigos magos persas designava para osgregosumpraticantederituaisprivadosqueposteriormentepassouaser marginalizado e proibido (HANEGRAAFF, 2006, p.719). A crena em foras vivas ou animadaschamadaanimismo,naqualseadmiteaaooucausasforasnaturais animadas (salamandras, ondinas, silfos, gnomos).

8 O segundo princpio hermtico, princpio da correspondncia. Cf. Iniciados, Trs. O Caibalion. 9 Sobre este tema ver Aspectos da Semiose Hermtica in ECO, Umberto. Os limites da Interpretao. Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 8 Desta maneira podemoscompreender o cosmoscomo um complexo, plural, com entidadeshierrquicascontinuamenteanimadasporumaenergiaviva(GOODRICK-CLARKE, idem). O domnio destas foras naturais costuma-se chamar magia. A prtica damagiasefazporpartedeinstrumentos,amuletosoutalisms,pelosquaiso praticante se comunica com as foras celestes ou terrestres. Deorigemoriental,difundiu-senomundogregoeposteriormentenolatino, tornando-semarginalnaIdadeMdiaeressurgindonoRenascimentocomoparteda filosofia natural. As ideias bsicas expostas aqui concordam com praticamente todos os autores da poca, como Pico della Mirandola, Reuchlin, Agrippa, Paracelso, Fracastoro, Cardano e Della Porta, sendo a mesma ideia desdobrada pelo ltimo, como tambm por Campanella(ABBAGNANO,2007,p.733).AmagiaretornaaindanoRomantismo AlemoemNovalis,Goethe,etc.Nofinalsc.XIXemetadedoXXamagiatorna-se ento somente uma categoria de interpretao na sociologia e na psicologia. Do sc. XX em diante vemos um retorno da magia associado a movimentos como o neo-paganismo, wicca,newage,ecorrentescorrelatas,comotambmpodeserincludanosNovos Movimentos Religiosos (NMR). Nombitodassociedadesiniciticasmodernaspercebemosapredominnciada magianaOrdemHermticadaAuroraDouradaesuasramificaesposteriores(A.O. AlfaetOmega[S.L.MacgregorMathers],SociedadedaLuzInterior[DionFortune], BuildersoftheAdytum[P.FosterCase],ThelemicOrderoftheGoldenDawn,etc.), comotambmnomovimentoThelemita(A.A.[AleisterCrowley],O.T.Osistema manicoqueapsCrowleypassaapossuirumcartermgico-cerimonial)ouem demais ordens ou prticas cerimoniais (Societas Rosacriciana in Anglia, Elus Cohen). 3.Aimaginaoeamediaopressupemainterligaoentreestaseas correspondnciaseasforasnaturais.Sodestasinterligaesquesurgemosritos, smbolos,angelologias,etc.Faivreindicaumadiferenciaoimportanteentreo esotrico e o mstico, no qual o primeiro inclui em seu sentido um iniciador, ou seja, aquelequetransmite(mediao)umconhecimentoouprtica,enquantoosegundo termo dispensa tais mediaes (FAIVRE, 1994, p.19).Oesotricovisa,sobretudo,asmediaeserevelaes,peloqualousoda imaginaoessencial.Porm,istonopodeimpedirqueesoteristaspossuamtraos msticosouvice-versa.Aindasobreaimaginao,podemospercebersuaimportncia Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 9 nosomentenombitodamagia,masemtodaaexperinciahumana(cognitiva10, inventiva,religiosa).comaimaginaoqueohomemestabeleceumaintricada estrutura significativa e explicativa do mundo11. Faivre faz referncia neste elemento ao queHenryCorbinchamademundusimaginalis,ummesocosmo,ummundo intermedirio o qual teria relao cognitiva e visionria (FAIVRE, 1994, p.20). 4. A Transmutao remete metamorfose, ou seja, uma mudana que no de umestadoaoutro,senoummovimentoparcimoniosoougradual.Deorigem alqumica,pormnopossuindoosentidorestritodeprocessolaboratorial,senono sentidooriginaldapalavra(labororatorium,laboraetora,trabalhaeora)noqualo processo que ocorre na matria da Obra ocorre do mesmo modo no interior do operador. O sentido inicitico sugere o renascimento, o novo homem. Na alquimia a transmutao possuitrsestgios:onigredo,oalbedo,eorubedo,quepodemserassociados purgao, iluminao e unificao na mstica tradicional (FAIVRE, 1994, p.22). 5.Nesteelementosecundrio,Faivreinsereaprticadaconcordnciacomoo estabelecimentodepontoscomunsentrediferentestradies(umaindicaode laicidade do esoterismo). Este mtodo de estudo, o comparativo, surge no sc. XV-XVI (lembrar a importncia deFicino e Pico della Mirandola) e retomando com mais fora nos fins do sc. XIX (FAIVRE, idem). importanteressaltaroespritodetolernciaqueexistenofatodesereunir diferentes tradies sem evidenciar suas particularidades, seno em suas convergncias. Porm,oqueFaivrepretendemostrarqueaconvergnciadastradiesvisaatingir umagnosisquecontenha,demaneiraindividualoucoletiva,ovislumbredeuma origem nica da qual todas as tradies se ramificaram. O que se iniciou com o estudo dedoutrinasorientais,oestudodereligiescomparadas,deuorigemideiadeuma philosophiaperennis(ouTradioprimordial)queseacreditaserafontedetodasas religies e concepes esotricas. 6.Oelementotransmissoindicaqueoscontedosesotricosdevemser transmitidosoucomunicados;todavia,essatransmissonoseefetuadequalquer maneira. Isso sugere a emergncia de um Iniciador e um sistema legtimo e regular.

10Cf.AimportnciadadaporKantimaginaocomoacondiodesnteseentreascategoriaseas sensaes emsuaestticatranscendental,naCrtica da razo pura. Oesquematranscendentalseria o procedimento pelo qual a imaginao confere uma imagem para um conceito. 11Paraumaabordagemmaisaprofundadaacercadotemaver.DURAND,Gilbert.AImaginao Simblica. Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 10 Istoseencontrademaneirabastanteclaradentrodetodosossistemasiniciticos ocidentais que podem ser investigados (maonaria, rosacrucianismo, martinismo, etc.). Todos os elementos expostos aqui sugerem um ponto de partida para o estudo do esoterismoesuasdiversascorrentes.AtentativadeFaivreemelencarseiselementos fundamentaisnovisaconstituirummarcodoutrinrioparaarea,senoassinalara presena de pontos comuns aos mais variados discursos ou disciplinas esotricas. Cada elementopodevariarhierarquicamentedentrodeumdeterminadosistema,como tambm pode assumir posies metafsicas, teolgicas ou cosmolgicas diferentes. 3. O Problema da definio acadmica de esoterismo Wouter Hanegraaff no Dictionary of gnoses & western esotericism distingue duas perspectivasacercadosentidodotermoesoterismo:a)umaconstruotipolgica (certos tipos de atividade religiosa com sua estrutura especfica); b) ou como um tipo de religio ou dimenso estrutural (associado a certas correntes histricas ou culturais da tradio ocidental) (HANEGRAAFF, 2006, p.337). Existeaodebatesobreanecessidadederestringirombitodoesoterismo modernidadeoucontemporaneidade,caracterizadopelabuscadeumncleo dominanteparaoestabelecimentodeumaperiodizaooudemarcaohistricado esoterismo e sua definio. Uma sada para uma definio apoiada em umaperiodizao seriadelimitar uma corrente histrica especfica, porm quais seriam os pressupostos para o acolhimento de uma corrente como definio de esoterismo?VonStuckradcriticaadefiniodeHanegraaffporeleusarduplamenteotermo certos(certain)comovagoparadistinguirdoissentidosdeesoterismo.Oquehde racionalnisso?(cf.VonStuckrad,2005,p.79).Poderamosselecionarhermetismo, paracelsismo,newage,separadamenteexcluindoosdemais,entretantonoteramos umadefiniogeraldoquesejaesoterismo.Emvezdissoressalta-seocarterde conhecimentorejeitadopelaacademia,noqualoprprioestudodoesoterismo retornariaexcluindocertoscomponentesqueintegrariamsuaprpriadefinio.Isso sugereumareflexoacercadospressupostosepreconceitosdospesquisadores acadmicos. SegundoVonStuckrad,algunsestudiosospreferemaplicarotermoesoterismo para um restrito contexto ou perodo, da mesma forma que autores evitam outras formas Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 11 deabordagenshistricas,ouevitamousodotermoesoterismoparanoserem associados ao movimento moderno new age (Von Stuckrad, idem). Ainda seguindo a crtica de Von Stuckrad, o desafio acadmico de delimitao de campoedefiniodoconceitoimprescindvelparafornecerumprvioquadro interpretativonoqualestesdiversosestudos(hermetismo,alquimia,rosacrucianismo, maonaria, new age, etc.) possam estar devidamente ancorados em seu devido lugar. A propostadeVonStuckrad(cf.artigonasreferncias)nodefiniroesoterismopor meiodascorrenteshistricasqueacompem,senodefini-locomoumelemento estrutural da cultura ocidental. Alm disto, necessrio perguntar: qual a importncia do esoterismo na dinmica da histria ocidental? e o que podemos obter com o uso de uma tica do esoterismo? (Von Stuckrad, 2005, p.80). 4.Concluso: A possibilidade de estudo e o(s) mtodo(s) do Esoterismo Ocidental Sedesejarmosabordaroesoterismoapartirdeumaperspectivaquelheseja prpria,qualseriaentoomtodoprprioaessaempresa?Oquefazemosprincipais autoreseespecialistasnestareadeestudo,tantodoesoterismocomonoestudode religies, apontar a emergncia do mtodo emprico12. Oesoterismo(enquantonoorestritamenteocidental)remeteparatodoum conjuntodemateriaisparaoqualumestudoconcisosomentepossuiriaxitose investigadodentrodeseurestritoambientegeogrfico,histricoecultural(FAIVRE, 1994, p.26), ou seja, o mundo greco-latino e judaico-cristo visitado pelo isl. Segundo Faivreasuapropostadeestudodoesoterismodelimitarfronteirasnasquaisosseis elementosfundamentaissejamencontradostodosjuntosemumdeterminadoperodo histrico e geogrfico, no qual j existiria a necessidade de buscar nomes para designar talfenmeno.Estemtodobuscariaafastartodososriscosdeanacronismosou inconsistncias comumente encontrados em estudos pouco rigorosos ou aventureiros do esoterismo e das religies. Alegitimidadedapesquisasearvoranaquestocomumatodososhomens,ou seja,abuscapelasrespostasacercadaperplexidadenaqualohomemseencontraao estarlanandoemummundoestranhoerepletodeenigmas,oqualofazindagar-se sobre si e sua existncia. O esoterismo to antigo quanto o pensamento ocidental e as suashistriasestoentrelaadassejacomovisesdemundo,concepesreligiosase

12Empricoporquepretendesustentarapesquisaemmateriaisdelimitadosdentrodoespaoedo tempo. No confundir com empirismo, pois no se trata de verificao. Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 12 metafsicasoucomodesenvolvimentoscientficospeloqualpercorreramata modernidade. Denenhumamaneiraoestudodoesoterismodevepretender-secientficono rigor do termo , nem inserir-se no mbito do irracionalismo. Se admitirmos que apenas oquecientificoouracionalproduzconhecimentocamosemumpoosem fundo, o qual rejeita toda outra maneira (seja lgica, cognitiva, significativa) de pensar compreender o mundo. O pensamento esotrico possui sua prpria epistemologia que osmtodoshegemnicosrejeitampornoseenquadraremneles.Asideiasde correspondnciaemagianofazemsentidoemummundodominadopelosprincpios de identidade, no-contradio e terceiro excludo. A razo hermtica no deixa de ser racionalouproduzircompreenso(emnveisontolgicos)pornoserredutvel lgica tradicional (a no-linearidade) ou fazer uso dela. Oestudodoesoterismoproperesgatarumamaneiracompletamentevlida- quandoabordadametodologicamente-deatribuirsentidoaummundomuitoamploe passvel de diversas aproximaes, seja por parte da histria da filosofia, do imaginrio, dosimbolismo,daantropologia,etc.,comoporsuaprpriaviadeacesso,adarazo hermtica. AntoineFaivrelanouospontoscoordenadores,dentreosquaispodemser acrescidosoutroscomofezPierreRiffard(RIFFARD,1996).Aesteselementos fundamentaispodemserassociadasabordagensquenospossibilitamseaproximarde nossoobjeto.AbordagensparticularescomoasemiosehermticadeUmbertoEco,no campodasemitica,eahermeticaratioemGilbertDurand,nateoriadoimaginrio. Ambas,maisfortementeemDurand,partemdacrisedopensamentomoderno.Econa contraposioentrealgicaformal-aristotlicaealgicahermtica;Durandnacrise dascinciashumanasenacontribuioepistemolgicadahermeticaratio.Vemos queDurandpretendemostraroretornodoprincpiohermticodacorrespondnciade dois modos: a profunda metodologia que sugere este princpio e a soluo ao crculo, as redues e fragmentaes comuns s cincias sociais (DURAND, 1999, p.170). DeumpontomaisdistantepodemosevocaraquiafenomenologiadeMircea Eliadeaoexpordemaneirabrilhanteaestruturaodarealidadenamentalidadedo homemprimitivo.Partindodeumacompreensodaontologiadopensamentoarcaico podemosnosaproximardoesoterismocomoumaconstruoparticulardarealidade fundadanarupturadenveisontolgicosenoestabelecimentodeoutrosnveistanto Diversidade Religiosa, v. 1, n.1, 2014 ISSN 2317-0476 13 lgicos como ontolgicos da realidade, como na relao entre ontologia e hermenutica para a compreenso da relao entre homem e mundo. O estudo do esoterismo pode, alm de possibilitar outra maneira de compreenso acercadoreal,sertambmdegrandeimportnciaparaformulaodeumpensamento tico ligado a situao do homem em relao com os outros homens e com a natureza. 5. Referncias ABBAGNANO, Nicola. Dicionrio de Filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2007. ADORNO,Theodor.AsEstrelasDescemTerra.AcolunadeastrologiadoLos Angeles Times. Um estudo sobre a superstio secundria. So Paulo: Editora UNESP, 2008. CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o Homem. So Paulo: Martins Fontes, 1994. DURAND,Gilbert.CienciaDelhombreytradicin:Elnuevoesprituantropolgico. Barcelona: Ediciones Paids Ibrica, 1999. _______________.AImaginaoSimblica.Trad.CarlosAboimdeBrito.Lisboa: Edies 70, 1993. ECO, Umberto. Os Limites da Interpretao. So Paulo: Perspectiva, 1995. FAIVRE, Antoine. O Esoterismo. Campinas, SP: Papirus, 1994. ______________.TheEternalHermes.FromtheGreekGodtoAlchemicalMagus. Trad. Joscelyn Godwin. Phanes Press, 1995. FEYERABEND, Paul. El Extrao Caso de la Astrologa. In. Por que no Platon? Trad. Mara A. Albisu Aparicio. Madrid: Editorial Tecnos, 1993. FICINO,Marslio.ThreeBooksonLife.Tempe,Arizona:TheRenaissanceSocietyof America, 1998. GOODRICK-CLARKE,Nicholas.TheWesternEsotericTraditions.Ahistorical introduction. New York: Oxford university press, 2008. HANEGRAAFF,Wouter(ed.).DictionaryofGnosis&Westernesotericism.Leiden: Koninklijke Brill NV, 2006. _____________________. Empirical Method in the Study of Esotericism. In. Method & Theory in the Study of Religion, Vol. 7/2, pp. 99-129, 1995. INICIADOS,Trs.OCaibalion:estudodafilosofiahermticadoantigoEgitoeda Grcia. So Paulo: Pensamento, 2010. LAURANT, Jean-Pierre. O Esoterismo. So Paulo: Paulus, 1995. PICO della MIRANDOLA, Giovanni. Discurso Sobre a Dignidade do Homem. Lisboa: Edies 70, 2006. RIFFARD,Pierre.OEsoterismo.Oqueesoterismo.Antologiadoesoterismo ocidental. So Paulo: Mandarim, 1996. VonStruckrad,Kocku.Westernesotericism:Towardsanintegrativemodelof interpretation. In Religion 35, pp. 78-97. (2005)