O espaço das desigualdades educativas no município de São ... · econômicos e escolares tendem...

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99 PRO-POSIÇÕES | V. 26, N. 2 (77) | P. 99-118 | MAI./AGO. 2015 Resumo Este artigo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa sobre o estado atual das disparidades educacionais em São Pau- lo. A partir de uma Análise de Componentes Principais Standard (ACP), realizada com dados do Censo 2010/IBGE, identificou-se e comparou-se as características sociodemográficas da popula- ção do município e a distribuição de indicadores educacionais entre as regiões das subprefeituras da cidade. Isso permitiu exa- minar a relação entre posição social, condições de vida e usos socialmente diferenciados do sistema de ensino. Os resultados revelaram que, se um primeiro eixo opõe de maneira esperada os bairros ricos aos bairros pobres, um segundo revela uma divisão mais fina, no interior do espaço urbano, ligada à posse do diplo- ma de ensino médio, que diferencia tanto as regiões de classes médias e altas, como as subprefeituras das periferias da cidade. Palavras-chave: desigualdades educativas, indicadores educacionais, estrutura social, São Paulo Graziela Serroni Perosa*, Frédéric Lebaron**, Cristiane Kerches da Silva Leite*** http://dx.doi.org/10.1590/0103-7307201507705 * Escola de Artes, Ciências e Humanidades e Programa de Pós-graduação em Estudos Culturais - Universidade de São Paulo (EACH/ USP), São Paulo, SP, Brasil. [email protected]. br ** Laboratório Printemps, Université Versailles-Saint- Quentin-en-Yvelines (UVSQ- CNRS) e Université Paris- Saclay. Versailles, França. [email protected] *** Escola de Artes, Ciências e Humanidades e Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas, Universidade de São Paulo (EACH/USP), São Paulo, SP, Brasil. [email protected] O espaço das desigualdades educativas no município de São Paulo

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    ResumoEste artigo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa

    sobre o estado atual das disparidades educacionais em So Pau-

    lo. A partir de uma Anlise de Componentes Principais Standard

    (ACP), realizada com dados do Censo 2010/IBGE, identificou-se

    e comparou-se as caractersticas sociodemogrficas da popula-

    o do municpio e a distribuio de indicadores educacionais

    entre as regies das subprefeituras da cidade. Isso permitiu exa-

    minar a relao entre posio social, condies de vida e usos

    socialmente diferenciados do sistema de ensino. Os resultados

    revelaram que, se um primeiro eixo ope de maneira esperada os

    bairros ricos aos bairros pobres, um segundo revela uma diviso

    mais fina, no interior do espao urbano, ligada posse do diplo-

    ma de ensino mdio, que diferencia tanto as regies de classes

    mdias e altas, como as subprefeituras das periferias da cidade.

    Palavras-chave: desigualdades educativas, indicadores educacionais, estrutura social, So Paulo

    Graziela Serroni Perosa*, Frdric Lebaron**, Cristiane Kerches da Silva Leite***http://dx.doi.org/10.1590/0103-7307201507705

    * Escola de Artes, Cincias e Humanidades e Programa de Ps-graduao em Estudos Culturais - Universidade de So Paulo (EACH/USP), So Paulo, SP, Brasil. [email protected]

    ** Laboratrio Printemps, Universit Versailles-Saint-Quentin-en-Yvelines (UVSQ-CNRS) e Universit Paris-Saclay. Versailles, Frana. [email protected]

    *** Escola de Artes, Cincias e Humanidades e Programa de Ps-graduao em Gesto de Polticas Pblicas, Universidade de So Paulo (EACH/USP), So Paulo, SP, Brasil. [email protected]

    O espao das desigualdades educativas no municpio de So Paulo

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    AbstractThis article presents the partial results of a research on the

    current state of educational disparities in So Paulo. Based on

    a Principal Component Analysis (PCA) of the IBGE 2010 Census

    data, the relationship between social position, life conditions,

    and the social uses of the educational system was analyzed. The

    results show that a first axis opposes, as expected, the rich and

    poor neighborhoods, and a second axis reveals a less evident

    opposition inside the regions. Based on high school credentials,

    this second opposition differentiates the neighborhoods in the

    middle and upper class regions as well as in the poorer regions

    of the city outskirts.

    Keywords: : educational inequalities, educational indicators, social structure, So Paulo, Brazil

    The space of educational inequalities in the city of So Paulo

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    So Paulo uma cidade particularmente frtil para a anlise das desigualdades

    educativas, pois rene, desde o incio do sculo XX, diversas categorias sociais: de

    banqueiros e grandes empresrios a modestos operrios e trabalhadores.1 Nessa ci-

    dade altamente desigual, a extrema pobreza e a extrema riqueza so pontos de um

    extenso contnuo constitudo de posies intermedirias, que constituem uma forte

    demanda por instruo e educao.2 Este artigo apresenta resultados parciais de uma

    pesquisa sobre o estado das disparidades educacionais no municpio de So Paulo,

    tendo por base uma anlise estatstica, realizada com dados do Censo 2010/IBGE, na

    qual comparamos dados sociodemogrficos da populao e a distribuio de alguns

    indicadores educacionais visando obter uma sntese multidimensional atual do espa-

    o social da cidade.

    A noo de espao social, proposta por Bourdieu (1979), nos incitou a apreender a

    cidade como um todo, passvel de ser reconstrudo

    com base em princpios de diferenciao pertinen-

    tes ao conjunto da populao considerada (nvel de

    renda, nvel educacional e infraestrutura pblica

    das subprefeituras). Os indivduos so localizados

    nesse espao pelas suas posies relativas em um

    campo de foras definido por relaes objetivas,

    com as quais esto todos confrontados e que so

    irredutveis s intenes dos agentes (Bourdieu,

    2011). Assim, tanto os diferentes investimentos

    educativos, como as patologias escolares3, so

    pensados aqui como o resultado da relao poss-

    vel com o sistema de ensino, derivada da posio

    das famlias na estrutura social. Os dados estats-

    ticos foram tratados com o auxlio de tcnicas de

    Anlise Geomtrica de Dados, em especial uma

    Anlise de Componentes Principais, particular-

    mente adaptada ao estudo de realidades multidi-

    mensionais e, por meio da qual, obtivemos uma

    representao do espao social construda com

    base na distribuio das diferentes espcies de

    capitais (econmico, cultural, social e simblico). 4

    1. O ndice de GINI de Renda varia de 0 a 1. Quanto mais prximo de 1, maior a desigualdade de renda. Nas ltimas trs dcadas, o coeficiente de So Paulo piorou de 0,57 para 0,64, em direo contrria apontada pelo Banco Mundial, em estudo de 2012, que indicou reduo do ndice de Gini na Amrica Latina de 0.530 no fim dos anos 1990 a 0.497 em 2010 , em virtude do aumento na renda familiar e no tempo de esco-larizao, entre outros fatores. Fontes: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/ibge/censo/cnv/ginisp.def http://raquelrolnik.wordpress.com/2011/01/25/o-que-dizem-os-numeros-sobre-sao-paulo-em-comparacao-com-outras-cidades-do-mundo/;http://www.worldbank.org/pt/news/feature/2013/01/25/Brazil-Argentina-Mex-ico-lead-fight-against-inequality;http://documents.worldbank.org/curated/en/2000/01/16867190/declining-inequality-latin-america-2000s-cases-argentina-brazil-mexico-declining-inequality-lat-in-america-2000s-cases-argentina-brazil-mexico. 2. Em 2010, a populao paulistana entre 0 e 14 anos era de 2.360.901 pessoas; entre 15 e 19 anos, 850.354; entre 20 e 24 anos, 1.850.068. Fonte: http://infocidade.prefei-tura.sp.gov.br/htmls/7_populacao_residente_por_gru-pos_de_idade__2010_595.html.3. Inspirados em Durkheim, definimos patologias es-colares como resultantes de dinmicas estruturais do sistema de ensino, medidas aqui pelas taxas de evaso do Ensino Mdio, de distoro srie-idade e de reprovao.4. Pierre Bourdieu utilizou este tipo de anlise de dados estatsticos, como ferramenta para reconstruir empirica-mente um determinado campo ou universo social. Ver, por exemplo: A distino (1979), La noblesse dEtat (1989) e Homo Academicus (1984). (Lebaron & Le Roux, 2013).

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    A pesquisa teve origem em uma interrogao relativa chegada de escolas pri-

    vadas na subprefeitura de Ermelino Matarazzo, distrito da periferia leste (Figura 1)

    onde, a partir de 1990, notamos o crescimento no nmero de escolas privadas.5 A

    anlise estatstica apresentada neste artigo teve como objetivo contribuir para a

    compreenso da posio desse distrito no interior do municpio de So Paulo6 e

    para a qualidade da ao pblica em nvel das subprefeituras.7 Os resultados permi-

    tem visualizar a relao entre posio social, condies de vida, usos socialmente

    diferenciados do sistema de ensino, em configuraes urbanas extremamente desi-

    guais. Possibilitam refletir sobre a escolarizao dos filhos de famlias extremamen-

    te pobres que buscam sobreviver ao cotidiano, mas tambm sobre a emergncia

    de estratgias educativas que exprimem uma viso de futuro, orientadas para o

    aumento da escolaridade.

    Sistemas de ensino e estrutura socialA difuso dos sistemas de ensino foi acompanhada de uma clara segmentao

    interna (Aris, 1981; Ringer, 2003), de hierarquizao dos estabelecimentos de ensino

    (Bourdieu, 1989) e de estratgias de diferenciao do fluxo escolar (Muel-Dreyfus,

    1975; Pinnel, 1995). De maneira bastante regular,

    houve, em diferentes contextos nacionais, uma

    transposio das desigualdades entre as classes

    sociais (e entre os sexos) para o interior dos sis-

    temas de ensino.8 Analisando os casos da Frana

    e da Alemanha, entre 1865 e 1920, Fritz Ringer

    (2003) prope que a segmentao a subdiviso

    em escolas e programas paralelos que se distin-

    guem a uma s vez pelo currculo e pela origem

    social dos alunos (p. 6). Tal segmentao pode

    se materializar entre as fileiras que conduzem

    universidade e aquelas que conduzem formao

    profissional. Nesse sentido, importa sublinhar que

    as distines geradas no interior do sistema de

    ensino contribuem para legitimar a estrutura so-

    cial, uma vez que as desigualdades sociais esto

    assentadas sobre as desigualdades educacionais.

    5. Em Ermelino Matarazzo, desenvolvemos outra etapa da pesquisa, ainda em andamento, com observaes em escolas e domiclios e entrevistas com pais, professores e diretores. A pesquisa foi realizada graas colaborao de Adriana Dantas, mestre em Estudos Culturais (EACH/USP), e de Helena Marcon (bolsista de iniciao cient-fica da FAPESP) e Isamara Lopes (bolsista PIBIC), ambas ex-alunas do curso de graduao em Gesto de Polticas Pblicas (EACH/USP).6. Agradecemos a Jean-Pierre Faguer (EHESS) pelo es-tmulo para identificar a posio relativa de Ermelino Matarazzo na cidade, por ocasio de sua visita a So Paulo como professor visitante (recursos da FAPESP), em 2012. 7. O estudo comparado de todas as subprefeituras teve incio em setembro de 2012, perodo que antecedeu a eleio do atual prefeito de So Paulo (Fernando Haddad). 8. As meninas, por exemplo, chegaram ao sistema de en-sino com cerca de 200 anos de atraso, como sugere o es-tudo de Philippe Aris (1981). Apenas na segunda metade do sculo XX, os currculos de meninos e meninas foram unificados. Antes disso, expectativas sociais relativas ao papel feminino foram erigidas em disciplinas escolares (puericultura, prendas domsticas, preparao para o casamento, etc.), como bem argumentou Francine Muel-Drefus (1998).

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    Neste estudo, ns partimos da realidade educacional brasileira atual, ps-expan-

    so de matrculas dos anos de 1990 e 2000, para interrogar a produo das desigual-

    dades educacionais. Ora, uma das principais formas de segmentao do sistema de

    ensino brasileiro a diferenciao operada pelos estabelecimentos pblicos e pri-

    vados de educao. Mesmo que ambos os segmentos possam ser heterogneos e

    desiguais entre si, os grupos sociais com maior renda e maior escolaridade tendem a

    manter seus filhos em escolas privadas, e os grupos com menor volume de recursos

    econmicos e escolares tendem a se concentrar nas estruturas pblicas de ensino.9

    Uma anlise preliminar da distribuio da matrcula no municpio de So Paulo

    evidencia claramente a relao entre a posio na estrutura social das famlias e as

    subdivises de ensino. A taxa mdia de matrculas no Ensino Fundamental II pblico,

    em 2010, era de 79%, contra 20,2% no setor privado. Tratar-se-ia de uma minoria nu-

    mrica, pouco relevante para o exame das desigualdades educativas, se a distribui-

    o da matrcula no fosse inteiramente desigual, com regies nas quais a populao

    possui baixa renda e menor escolaridade, com 99,9% dos jovens na escola pblica.

    No extremo oposto, nas poucas subprefeituras em que se concentram as famlias de

    maior renda e com ensino superior, 64% das matrculas esto na rede privada. No

    acesso ao Ensino Superior, a hierarquia escolar dos nveis precedentes se inverte. As

    universidades pblicas so historicamente o local

    de formao das elites, ocupam uma posio do-

    minante e seus diplomas conferem maior prestgio

    social. Nessas universidades, os estudantes de

    escolas privadas representam em mdia 60% das

    matrculas, uma realidade, que dispositivos de po-

    lticas pblicas recentes procuram alterar.10

    Quando So Paulo se industrializou e a popu-

    lao cresceu de maneira acelerada, o dficit de

    vagas em educao tornou-se ainda mais forte,

    especialmente nas sries finais da escolarizao.

    Por volta de 1940, quando a cidade chegava aos

    dois milhes de habitantes, a cidade possua ape-

    nas trs estabelecimentos de ensino secundrio

    pblicos (Spsito, 2002). Com o incentivo fiscal do

    Estado11, instalou-se um prspero mercado esco-

    9. Em La Noblesse dEtat, Bourdieu (1989) explora os sig-nificados da diviso entre o pblico e o privado na Frana, argumentando que ela inseparvel da recusa escola laica, portanto, ao Estado laico e filosofia republicana. A escola privada seria no apenas um ensino exclusivo, cujo limite a figura do preceptor em domiclio do passado, mas tambm de um ensino protegido, que busca trans-mitir as virtudes da moral conservadora, do trabalho, da famlia e da propriedade (p. 401). 10. A partir de 2004, um sistema de bnus foi intro-duzido em exames de acesso a universidades estaduais paulistas (Unicamp em 2004, USP em 2006), visando a aumentar a participao de estudantes de escolas pbli-cas. Esse sistema consiste na atribuio de uma pontua-o suplementar nos exames de ingresso para estudantes que fizeram a escolarizao bsica e o Ensino Mdio em escolas pblicas. A Unifesp e a UFABC introduziram, re-centemente, uma poltica de cotas raciais e sociais. 11. O incentivo se deu via incentivo fiscal, doao de ter-renos e de valor simblico agregado a estas instituies de ensino, na medida em que as elites e os homens p-blicos tendiam a matricular seus filhos no setor privado, catlico e laico. (Perosa, 2004).

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    lar que opera, h vrias geraes, uma segregao de base financeira.12 Outras con-

    tingncias histricas contriburam para a formao dessa oferta escolar, composta

    por escolas pblicas e privadas, laicas e religiosas, bastante desiguais entre si. Entre

    elas, a institucionalizao da escola republicana na Europa e o consequente fecha-

    mento de escolas confessionais em pases europeus, levando as ordens religiosas

    que aportaram ao Brasil, entre o sculo XIX e XX, a abrir internatos e colgios catli-

    cos.13 O fluxo imigratrio do perodo impulsionou ainda a criao de escolas privadas

    por grupos de imigrantes em um perodo em que a dinmica demogrfica representa-

    va um importante desafio s polticas educacionais na cidade.

    verdade que os indicadores educacionais brasileiros melhoraram de maneira ace-

    lerada nas ltimas dcadas do sculo XX, com a expanso das matrculas em todos os

    nveis de ensino (Hasenbalg & Valle, 2003). Entretanto, preciso dizer que a expanso

    se deu por meio do acesso a estruturas escolares muito desiguais entre si. Diferenas

    de progresso no sistema de ensino, de acesso a um nvel educacional e de escolhas

    de determinadas orientaes so fortemente determinadas pelas caractersticas sociais

    e geogrficas das famlias. Temos, ainda, crianas fora da escola e chances muito desi-

    guais de acesso ao Ensino Superior entre os grupos sociais (MontAlvo Neto, 2014; Ri-

    beiro, 2011).14 A preservao de fortes desigualdades no interior do sistema de ensino

    deu origem expresso democratizao quantitativa, na medida em que essa forma

    de acesso escolaridade no permite reduzir as distncias entre os grupos sociais (Gar-

    cia & Poupeau, 2003). Neste contexto de generalizao do acesso a estruturas escolares

    muito desiguais entre si e, de outro lado, de forte competio profissional no mundo do

    trabalho, as famlias tenderiam a desenvolver diversas estratgias que incluem o controle

    da fecundidade, a procura por determinadas escolas pblicas, a escolha de uma escola

    privada ou, at mesmo, a preferncia por bairros que

    possuam boas opes de escolarizao. Prticas que

    expressam estratgias familiares para manter ou al-

    terar sua posio no espao social. Para abordar este

    universo complexo e multifacetado, optamos por in-

    cluir uma grande variedade de indicadores sociais

    e educacionais e por fazer uma anlise estatstica

    multidimensional, capaz de oferecer uma sntese da

    relao entre o estado atual do sistema de ensino e

    da estrutura social no municpio de So Paulo.

    12. Almeida e Nogueira (2002). 13. A esse respeito, consultar Miceli (2009). 14. Segundo o Censo do IBGE de 2010, o Brasil tem hoje 3,8 milhes de crianas e adolescentes, de 4 a 17 anos, fora da escola. Outros 8,8 milhes correm o risco de ex-cluso por causa do atraso escolar. A excluso escolar no Brasil atinge, sobretudo, meninas e meninos negros, indgenas, pobres, com deficincia, os que vivem na zona rural, no Semirido, na Amaznia, na periferia dos grandes centros urbanos. (Unicef, 2014). Infelizmente, em funo da desatualizao de alguns dados estatsticos sobre raa/cor para as subprefeituras de So Paulo, no pudemos ainda incorporar esta dimenso na pesquisa, mesmo reconhecendo sua pertinncia.

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    Uma realidade muito desigual Atualmente, residem em So Paulo pouco mais de 11 milhes de habitantes

    18 milhes, se considerarmos a regio metropolitana , em uma rea de 1.530

    km2 e com um dos dez maiores Produto Interno Bruto (PIB) do mundo.15 Para obje-

    tivar as distncias neste espao gigantesco, optamos por comparar a distribuio

    das caractersticas sociais da populao e dos indicadores educacionais entre as

    subprefeituras, o que nos permitiu escapar, ao menos parcialmente, do uso ex-

    clusivo da mdia e da mediana, que no trazem informaes sobre a distribuio

    dos recursos e dos fenmenos medidos entre os grupos sociais (Stiglitz, Sen, &

    Fitoussi, 2012).

    O universo considerado foram os 3.574.286 domiclios de So Paulo dis-

    tribudos por 31 subprefeituras.16 As estatsticas utilizadas esto disponveis em

    portais pblicos e de organizaes no governamentais, como o Infocidade, a

    Fundao SEADE e a Rede Nossa So Paulo.17 Utilizamos, principalmente, dados

    produzidos a partir do Censo 2010 (IBGE) relativos renda dos domiclios, es-

    colaridade da populao, idade, precariedade habitacional e ao desempenho

    no sistema de ensino.18 Longe de serem perfei-

    tos, as estatsticas e o registro administrativo

    possuem diversos limites e lacunas, ligados em

    especial s operaes de classificao. Isso no

    impede o seu uso, embora exija constante vigi-

    lncia sobre o que os indicadores efetivamente

    medem e sobre a sua pertinncia para o proble-

    ma pesquisado.19 A escolha das variveis inclui

    indicadores de caractersticas da populao no

    que diz respeito ao volume e estrutura do ca-

    pital, e variveis indicativas das propriedades

    sociais das subprefeituras.

    15. A regio metropolitana de So Paulo a quinta maior do mundo, atrs de Tquio, Nova York, Cidade do Mxico e Bombaim. Se considerarmos s a cidade, a sexta (Rol-nik, 2011).16. Desde 2001, So Paulo dividida em subprefeituras, compostas por distritos, que, por sua vez, so forma-dos por bairros e vilas. Cada subprefeitura possui entre 140.000 e 500.000 habitantes. Para saber quais distritos compem as subprefeituras, veja: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/economia_urbana/mapas/mapaindice.pdf. Hoje a cidade possui 32 subprefeituras.17. Com o Infocidade, a Secretaria Municipal de Desen-volvimento Urbano (SMDU) disponibiliza uma compilao de indicadores, cujas fontes so as prprias secretarias da prefeitura, mas tambm instituies como o IBGE, a Fundao Seade e os Ministrios do Trabalho e Emprego, da Educao e da Sade. Ver: http://infocidade.prefei-tura.sp.gov.br. O Movimento Nossa So Paulo uma or-ganizao no governamental que surgiu em 2007. Ver: http://www.nossasaopaulo.org.br/. 18. Uma exceo a taxa de fecundidade de 2002, dis-ponibilizada pela Fundao SEADE. 19. Existem obstculos ligados s mudanas histricas no uso das categorias, mas tambm derivados da pos-svel dissimulao de fenmenos. Em especial, quando o registro estatstico realizado por agentes diretamente implicados no fenmeno mensurado (Lebaron, 2006).

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    Tabela1- Dezoito variveis ativas

    Fonte: Elaborao dos autores

    Pela Tabela 1, vemos como a mdia dos fenmenos considerados esconde reali-

    dades bastante dspares. A taxa mdia da populao com Ensino Superior de 16%.

    Temos, entretanto, regies em que apenas 3% possuem este recurso e outras, nas

    quais 54% possuem diploma superior. Com relao renda, em mdia, so baixos os

    percentuais nos dois extremos: 6% recebem at 1/2 salrio mnimo e 5,9% dos do-

    miclios possuem renda superior a 20 salrios mnimos. Contudo, h regies em que

    at 55% dos domiclios recebem mais de 10 salrios mnimos, enquanto em outras

    27,6

    19,0

    BiBLioTECAS PBLiCAS

    DiSToRo SRiE-iDADEENSiNo FUNDAmENTAL ii

    DomiCLioS SEm ESGoTo

    ENSiNo FUNDAmENTAL ii iNComPLETo

    ENSiNo mDio ComPLETo

    ENSiNo SUPERioR ComPLETo

    HomiCDioS

    LEiToS PBLiCoS

    mATRCULA ENSiNo FUNDAmENTAL i PBLiComATRCULA ENSiNo mDio PBLiCoPoPULAo Com mAiS DE 60 ANoSPoPULAo ENTRE 15 E 24 ANoSRENDA DE AT SALRio mNimo (Sm)

    RENDA ENTRE 1-2 Sm

    RENDA ENTRE 2-5 Sm

    RENDA ENTRE 5-10 Sm

    RENDA SUPERioR A 20 Sm

    TAxA DE FECUNDiDADE

    VARiVEiS ATiVAS mDiA

    3,2

    6,6

    9,1

    37,5

    26,5

    16,3

    6,9

    46,8

    79,7

    82,9

    11,8

    16,2

    6,3

    16,9

    34,2

    19,5

    5,9

    1,9

    DESVio-PADRo

    1,8

    1,2

    11,4

    10,5

    2,7

    14,1

    3,4

    35,4

    16,7

    15,8

    4,0

    2,0

    1,3

    6,9

    8,3

    4,7

    8,1

    0,2

    mNimo

    0,0

    4,1

    0,1

    13,5

    18,9

    3,0

    1,3

    0,0

    36,2

    44,4

    6,0

    11,5

    4,3

    3,2

    11,9

    9,9

    0,0

    1,2

    mximo

    6,9

    9,3

    65,4

    54,7

    31,7

    54,5

    15,2

    100,0

    99,9

    100,0

    19,7

    10,3

    43,0

    27,4

    30,6

    2,4

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    menos de 1% da populao recebe tais rendimentos. Mesmo se considerarmos a he-

    terogeneidade interna de cada subprefeitura, as desigualdades entre elas enorme.

    As diferenas se fazem notar ainda na infraestrutura das subprefeituras. Temos re-

    gies em que 100% dos domiclios contam com rede de esgoto, e no extremo oposto

    apenas 35% (Parelheiros) possuem esse recurso. Globalmente, 34% dos domiclios

    de So Paulo recebem entre 2 e 5 salrios mnimos, e 19% entre 5 e 10 salrios mni-

    mos. Assim como, 37% da populao no completou o Ensino Fundamental II, 26%

    concluiu o Ensino Mdio e 16% tem Ensino Superior. Como argumentam Preteceille e

    Ribeiro (1999, p. 143), a maior parte dos estudos sobre as desigualdades sociais nas

    metrpoles contemporneas enfatiza e ilustra a discusso com casos extremos, como

    se essas situaes fossem representativas do conjunto da sociedade, obscurecendo

    as posies intermedirias. Uma das vantagens de trabalhar com a noo de espao

    social e com tcnicas de anlise geomtrica dos dados a possibilidade de pensar a

    cidade como um todo, e os extremos como posies possveis neste todo.

    Uma anlise multidimensionalUtilizamos uma Anlise de Componentes Principais (ACP) standard, uma vez que

    os indicadores no estavam todos na mesma escala.20 Examinamos a estrutura das

    correlaes estatsticas a partir do conjunto de 18 variveis ativas (Tabela 1), cuja

    varincia define o espao das disparidades possveis na cidade. A ACP reduz o nme-

    ro de dimenses importantes, criando um sistema baseado em eixos principais, em

    relao aos quais os indivduos formam nuvens em funo de sua disperso (Leba-

    ron, 2006). Nesse tipo de anlise, podemos lanar mo das variveis suplementares,

    projetadas sobre o espao definido pelas variveis

    ativas. Enquanto as variveis ativas dizem respeito

    aos recursos sociais dos indivduos, as variveis

    suplementares referem-se s opinies e s toma-

    das de posio que nuanam de maneira mais

    sutil as clivagens das estruturas sociais. A procu-

    ra pelas escolas tcnicas (Etec)21, o abandono do

    Ensino Mdio, a demanda por escolas privadas, a

    inscrio no vestibular da Fuvest so exemplos de

    variveis suplementares, consideradas como to-

    madas de posio.22

    20. A ACP foi realizada por meio do software SPAD 7.3. Agradecemos Ana Maria Almeida (FE/Unicamp) que, gra-as aos recursos de reserva tcnica da FAPESP, adquiriu a licena do software e nos concedeu uma licena de uso. 21. As Escolas Tcnicas Estaduais Etec so institu-ies de ensino mantidas pelo governo do Estado de So Paulo e subordinadas ao Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, que oferecem cursos tcnicos e Ensino Mdio. O Centro Paula Souza mantm ainda as Faculdades de Tecnologia Fatec , cujos cursos de graduao possuem durao de trs anos (Ver: http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/fatec/escolas/sao-paulo/).22. Para uma discusso sobre as tomadas de posio em um determinado espao social, consultar Bourdieu (2011) e Bourdieu (1979).

  • 108 Pro-Posies | v. 26, n. 2 (77) | P. 99-118 | mai./ago. 2015

    A matrcula na escola privada poderia ter sido includa no rol de variveis ativas,

    como indicador de capital econmico. Entretanto, aps vrios testes, notou-se que

    essa varivel aprofundava ainda mais o peso da distncia entre as regies ricas e po-

    bres, o que dificultava a identificao de outras dimenses pertinentes. Por essa ra-

    zo, optamos por consider-la como indcio de tomada de posio. Inserimos ainda,

    como suplementar, o voto no primeiro turno da eleio municipal de 2012. Se o ndice

    de Desenvolvimento da Educao Bsica (Ideb) fica abaixo da mdia em toda a cida-

    de23, a mdia da reprovao escolar baixa em toda a cidade (4,7%) como conse-

    quncia de polticas de ciclos escolares e de promoo automtica de mbito nacio-

    nal. Menos incidentes no conjunto da cidade, as taxas de reprovao quase dobram

    em condies de extrema pobreza e precariedade habitacional, passando para 7%.

    A Figura 1, a seguir, traz a disposio das 31 subprefeituras de So Paulo no es-

    pao, que resulta da distribuio das 18 variveis ativas (Tabela 1). Trata-se de uma

    representao das posies possveis nesta estrutura social, baseada na distribuio

    do nvel de renda dos domiclios e do nvel educacional da populao, mas tambm

    de outras dimenses, como a disponibilidade de servios pblicos, a idade da po-

    pulao ou a taxa de fecundidade. Nesse tipo de anlise multidimensional, parte-se

    da observao da taxa de varincia dos eixos que estruturam o espao, e, em segui-

    da, examina-se a estrutura de correlao entre as variveis e a posio relativa das

    nuvens de indivduos (subprefeituras) no espao.24 Na Figura 1, o eixo 1 (horizontal)

    contribui com 60,43% da varincia do espao e diz respeito diferenciao socio-

    demogrfica da populao. J o eixo 2 (vertical) contribui com 14,1% da varincia

    e distancia as subprefeituras com maior incidncia de Ensino Mdio e aquelas com

    menor infraestrutura pblica. O eixo 3 dado pela

    correlao entre desempenho escolar, pobreza ex-

    trema e violncia, responsvel por 7% da varin-

    cia. Os eixos 4 e 5 respondem por 6,14% e 4,18 %

    da varincia e no sero analisados aqui.25

    23. Desde os anos 1990, generalizou-se no Brasil a avaliao externa s instituies educacionais. Um dos indicadores de qualidade mais usados o ndice de De-senvolvimento da Educao Bsica (Ideb), determinado com dados do Sistema de Avaliao da Educao Bsica (Saeb), combinando informaes de desempenho e de rendimento escolar (Almeida, Dalben, & Freitas, 2013). O Ideb importante por colocar o aprendizado e a regu-laridade na trajetria escolar dos alunos como elementos essenciais de um sistema educacional (Soares & Xavier, 2013, p. 904). 24. Aplicamos aqui o mtodo de interpretao proposto por Brigitte Le Roux (2014). 25. Os eixos 3, 4 e 5 no aparecem representados na Figura 1.

  • 109Pro-Posies | v. 26, n. 2 (77) | P. 99-118 | mai./ago. 2015

    Figura 1- o espao social das subprefeituras de So Paulo

    Fonte: Elaborao dos autores

    Figura 2- Crculo das correlaes das variveis ativas

    Fonte: Elaborao dos autores

    Pinheiros

    Vila mariana

    Lapa

    1,5

    -1,5

    -3,0

    -4,5

    -5,0 5,0-2,5 0 2,5

    0

    Santo Amaro

    ButantJabaquara

    SSantana

    AricanduvaPenha

    ipirangaVila maria

    Casa VerdeFreguesia

    Jaan

    Pirituba

    Vila Prudente

    Capela do Socorroitaim Paulista

    So miguel Perus mBoi mirim

    Cidade TiradentesCidade Ademar

    Parelheiros

    Guaianases

    Campo LimpoSo mateus

    itaqueraErmelino matarazzo

    mooca

    zona oeste

    zona sul

    Eixo 1

    Eixo 2

    zona norte

    zona leste

    zona central

    Renda entre 2 e 5 Sm

    matrculas pblicas Ensino mdio

    Renda entre 1 e 2 SmPopulao menor de 14 anos

    Disfuno srie-idadeHomicdios

    Domiclios sem esgotoRenda maior 20 Sm

    Superior Completo

    Populao maior

    de 60 anos

    Entre 5 e 10 Sm

    Ensino mdio completo

    Renda at 1/2 Sm

    Bibliotecas pblicas

    matrculas pblicas Ensino Fundamental iiEnsino Fundamental i incompleto

    Leitos pblicos

    Taxa de fecundidade

    Eixo 10.80.4-0.4-0.8

    -0.8

    -0.4

    0

    0.4

    0.8

    0

    Eixo 2

  • 110 Pro-Posies | v. 26, n. 2 (77) | P. 99-118 | mai./ago. 2015

    Vistas de maneira sobreposta, as figuras acima permitem apreender a disposio

    das subprefeituras no espao social de So Paulo. A Figura 1 definida pelas corre-

    laes estatsticas expressas na Figura 2. As flechas longas da Figura 2 indicam fen-

    menos mais concentrados em determinadas regies, e as flechas curtas, dinmicas

    mais bem distribudas no espao social. O eixo 1 distancia as poucas subprefeituras

    mais ricas e com maior percentual da populao com Ensino Superior (Pinheiros e

    Vila Mariana), onde vive 5,7% da populao, de uma densa nuvem de subprefeituras

    (no quadrante inferior direito), em que vivem 24,2%, em situao de pobreza, muitas

    vezes em condies indignas, com alto nmero de domiclios sem esgoto. Renda alta,

    maior escolaridade e longevidade esto fortemente correlacionadas no eixo 1. A ren-

    da entre 1 e 2 SM e entre 2 e 5 SM so positivamente correlacionadas e ambas nega-

    tivamente correlacionadas aos extratos de renda superior a 20 SM e 5 a 10 SM, corro-

    borando o que outros estudos j descreveram sobre os padres de segregao social

    da cidade (Marques & Torres, 2005; Villaa, 2001). Pinheiros e Parelheiros represen-

    tam, assim, posies extremas no apenas pela maior concentrao de domiclios de

    alta renda e alto nvel educacional em Pinheiros, mas tambm pelas caractersticas

    da regio de Parelheiros, que possui 65% dos domiclios sem rede de esgoto, situa-

    o atpica na cidade, o que a distancia de subprefeituras como Capela do Socorro e

    Perus, com 18% e 13% de domiclios nessa condio. O interesse maior do estudo so

    os eixos 2 e 3, que trazem clivagens menos evidentes da estrutura social.

    O Eixo 2 (vertical) teve como principal varivel a posse do diploma do Ensino Mdio,

    trazendo tona no s a diferena entre as subprefeituras das periferias, mas tambm

    as distines entre as regies dos grupos em posio intermediria, como as subprefei-

    turas do tipo Mooca e Santana, e as do tipo Pinheiros e Vila Mariana. O Ensino Mdio

    negativamente correlacionado pobreza extrema (renda at 1/2 SM e domiclios sem

    esgoto), mas tambm renda superior a 20 SM. Assim, a incidncia de diplomas de

    Ensino Mdio emerge como um recurso protetor da precariedade absoluta e distingue

    as periferias entre si, bem como as regies de classes mdias e altas, em termos de

    volume de capital econmico e cultural. O Eixo 3, por sua vez, aponta uma correlao

    entre taxa de fecundidade, taxa de homicdio e a distoro srie-idade. Uma correla-

    o delicada, abordada por outros estudos26. Nunca demais lembrar que correlao

    no quer dizer causalidade. Neste caso especfico

    preciso considerar que h a idade da populao

    uma varivel subjacente que pode gerar este efeito 26. Ver, em especial, os estudos etnogrficos muito ricos realizados por Zaluar (1985, 1994).

  • 111Pro-Posies | v. 26, n. 2 (77) | P. 99-118 | mai./ago. 2015

    de correlao, o que no implica em uma relao de causalidade e sim que nas regies

    da cidade em que temos os maiores percentuais de jovens, temos tambm maiores

    taxas de homicdio, de distoro srie-idade e tambm maior fecundidade.

    Reflexes sobre o espao das desigualdades educativasA descrio dos dados, proporcionada pela ACP, permite retomar as hipteses ini-

    ciais: i) a clivagem pblico-privado uma clivagem social central do estado atual do

    sistema de ensino; ii) as configuraes especficas das subprefeituras ligadas tanto

    s caractersticas sociais da populao, como infraestrutura pblica e educacional

    disponvel implicam em percursos escolares comuns a estudantes que vivem em

    condies semelhantes. Nas subprefeituras mais ricas ( esquerda do eixo vertical

    na Figura 1), nota-se a onipresena da matrcula privada, nos nveis do Ensino Funda-

    mental e Mdio, com taxas superiores a 60% em muitas subprefeituras. No outro ex-

    tremo da cidade (quadrantes direita na Figura 1), 99% das matrculas concentram-se

    na rede pblica. Em distritos com posio relativamente intermediria, como Ermeli-

    no Matarazzo, nota-se um crescimento de escolas privadas, com 14% das matrculas

    em escolas privadas e 86% no ensino pblico.

    Figura 3. Crculo de correlaes e as variveis suplementares

    Fonte: Elaborao dos autores

    Abandono do Ensino mdio

    Gravidez antes dos 19 anos

    Homicdio Juvenil

    inscritos Fuvest 2010

    Aprovados Fuvest 2010

    matrcula Privada Ensino mdiomatrcula Privada EFii

    Voto Serra (2002)

    iDEB Ens. Fundamental iEscolas profissionais

    matrcula ETECs e FATECs

    Emprstimos Bibliotecas pblicas

    Voto Russomano (2012)

    Voto Haddad (2012)

    Reprovao Ensino Fundamental ii pblico

    Eixo 10.80.4-0.4-0.8

    -0.8

    -0.4

    0.4

    0

    0.8

    0

    Eixo 2

    Reprovao EFii privado

  • 112 Pro-Posies | v. 26, n. 2 (77) | P. 99-118 | mai./ago. 2015

    Nas subprefeituras mais ricas da Figura 1, concentram-se as escolas privadas que

    ocupam as primeiras posies nos rankings produzidos pela imprensa a partir dos

    resultados dos exames nacionais. Nessas regies, uma nica mensalidade escolar

    pode chegar a custar mais de mil dlares ao ms. Os usos do sistema de ensino neste

    extremo da cidade correspondem ao que descrevem os estudos sobre a escolarizao

    dos grupos de elite, que incluem desde a escolha da escola definio do tipo de

    preparao escolar e insero em redes de relaes de amizade (Almeida & Noguei-

    ra, 2002; Bonvin, 1979; Cookson & Persell, 1985; Faguer, 1991; Saint-Martin, 1990). A

    lgica da aprovao nos vestibulares de acesso ao Ensino Superior impe fortes in-

    vestimentos econmicos para as famlias, exige o emprego de grande quantidade de

    energia e de tempo dos estudantes e, segundo alguns estudos, tende a resultar em

    uma relao com a cultura ao mesmo tempo dcil e segura, que predispe ao exerc-

    cio do poder (Wagner, 2012). A preparao para a competio escolar feita por meio

    de um intenso trabalho pedaggico que exige a concentrao dos estudantes em tor-

    no de preocupaes escolares.27 Vemos tambm, na Figura 3, a presena mais forte

    de estruturas como as Escolas Tcnicas (Etec), instaladas principalmente nos antigos

    distritos operrios da cidade (Mooca) e nas regies centrais (S). Trata-se de uma

    estrutura de Ensino Mdio pblica, cujo acesso realizado mediante a aprovao

    em seletivos exames escolares e que possuem bom desempenho no Exame Nacional

    do Ensino Mdio (Enem).28 Dentre as 50 escolas pblicas com maior desempenho,

    43 so escolas tcnicas conhecidas como Etec. A procura pelas Etec e pelas escolas

    profissionais aparece correlacionada ao volume relativamente mais baixo de capital

    econmico e cultural (renda entre 5 e 10 SM e ao diploma de Ensino Mdio), sendo

    menos incidente nos domiclios com renda superior a 20 salrios mnimos. Assim,

    nas regies socialmente intermedirias nota-se a presena de estratgias educativas

    visando ao aumento da escolaridade, como os indicadores de matrcula nas Etec, na

    Faculdade de Tecnologia do Estado de So Paulo - (Fatec) e de emprstimo nas bi-

    bliotecas pblicas parecem expressar. O simples reconhecimento da presena desses

    equipamentos pblicos e a compreenso sobre o

    funcionamento do sistema de ensino dependem,

    na realidade, de certo volume de capital econmi-

    co e cultural (Bourdieu, 1979, p. 147). Uma hipte-

    se possvel para explicar as estratgias educativas

    nos grupos intermedirios que a percepo agu-

    27. Uma ilustrao desta realidade pode ser vista no filme de Joo Jardim, Pro dia nascer feliz (2006).28. O Exame Nacional do Ensino Mdio (Enem) foi criado em 1998, para avaliar a proficincia de alunos do Ensino Mdio. O Enem um instrumento desenvolvido para bus-car garantir um currculo de base nacional (Santos, 2011), e para comparar o desempenho de estudantes em dife-rentes regies do Brasil, ver Viggiano e Matos (2013).

  • 113Pro-Posies | v. 26, n. 2 (77) | P. 99-118 | mai./ago. 2015

    da das hierarquias do sistema de ensino derivada da experincia de ter o Ensino

    Mdio e no ter o Ensino Superior contribui para o uso intenso de equipamentos p-

    blicos que oferecem maiores oportunidades educacionais. A distribuio socialmente

    diferenciada da taxa de matrculas na Fatec e das inscries na Fuvest exprime um

    sistema duplo de acesso ao Ensino Superior, que conduz a carreiras desiguais entre

    si e socialmente hierarquizadas, pois os diplomas obtidos na Fatec no possuem o

    mesmo valor simblico, quando comparados aos obtidos nas universidades pblicas

    brasileiras, entre elas, a USP, cujo acesso se d via o exame da Fuvest.

    Ns j sabamos que os trunfos (diplomas, capital cultural, etc.) e os handicaps es-

    colares (abandono precoce, distoro srie-idade, etc.) possuem forte correlao es-

    tatstica com a posio social da famlia (Alves & Soares, 2009; Bourdieu & Passeron

    2014; Hasenbalg & Valle, 2003; Ribeiro, 2011). Nossos resultados confirmam esses

    estudos e lanam luz sobre dimenses menos exploradas na literatura, relativas ao

    papel do diploma de Ensino Mdio na diferenciao da estrutura social brasileira, e as

    distines, menos evidentes, no desempenho educacional dos jovens das periferias

    que no se restringem renda e ao nvel educacional dos pais. Durante quase todo

    o sculo XX, o Brasil teve altas taxas de reprovao desde as sries iniciais (Ribeiro,

    1991), evaso geradas pelas sucessivas reprovaes e distoro srie-idade.29 Nos-

    sos resultados sugerem que o abandono escolar, a distoro srie-idade e a repro-

    vao no incidem da mesma forma em todas as periferias, ainda que elas possuam

    percentuais semelhantes da populao com baixa escolaridade e baixa renda, as

    patologias escolares (reprovao, evaso e distoro srie-idade) so muito mais

    acentuadas nas regies em que as condies objetivas de vida so extremamente pre-

    crias (domiclios sem esgoto e com renda domiciliar de at 1/2 salrio mnimo). Nes-

    sas condies, o investimento escolar torna-se muito mais difcil, raro e improvvel.

    Os resultados obtidos evidenciam como, ainda no sculo XXI, temos na cidade

    uma juventude tipicamente burguesa e a juventude abreviada dos grupos popula-

    res, frequentemente interrompida pelo abandono escolar, pela gravidez precoce e du-

    plamente exposta violncia institucional: a violncia policial descrita pelos estudos

    etnogrficos de Alba Zaluar e Srgio Adorno no Brasil; e a violncia simblica da ins-

    tituio escolar, cujo veredicto escolar se assenta

    em representaes negativas sobre os pobres e os

    moradores de favelas (Patto, 1990). Nas periferias

    menos precrias, a incidncia de reprovao e dis-

    29. Na dcada de 1980, visando melhorar as estatsticas educacionais, foram introduzidos ciclos escolares sem reprovao, o que resultou na elevao (artificial) do des-empenho do sistema de ensino brasileiro (Duran, Alves, & Palma Filho, 2005; Viegas e Souza, 2012).

  • 114 Pro-Posies | v. 26, n. 2 (77) | P. 99-118 | mai./ago. 2015

    toro srie-idade menor e cresce tambm o recurso s Etec e escola privada. A

    varivel do voto na eleio municipal de 2012 ilustra mais uma vez as distines entre

    as regies da cidade. O voto em Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores) foi

    superior nas regies mais precrias, entre a populao extremamente pobre, que de-

    pende mais dos programas de transferncia de renda, identificados com a gesto do

    Partido dos Trabalhadores (PT). J o voto em Celso Russomano (Partido Republicano

    Brasileiro), candidato ligado Igreja Evanglica, predominou entre os domiclios que

    ganham entre 2 a 5 SM.

    Consideraes finaisA primeira concluso passvel de ser extrada deste trabalho nos remete direta-

    mente ao clssico debate sobre a reproduo da estrutura social e as desigualdades

    educativas, uma vez que a dimenso principal do espao dada pelo eixo 1, que

    responde por 60% da varincia estatstica. No obstante, o interesse maior deste

    estudo reside menos na dualidade da estrutura social, j bastante analisada em ou-

    tros trabalhos, e volta-se mais para a observao dos demais fatores, representados

    pelos eixos 2 e 3. O eixo 2 definido pela dupla correlao negativa entre diploma

    de Ensino Mdio e domiclios mais precrios e tambm de renda intermediria (faixas

    entre 2 e 5 SM e entre 5 e 10 SM). Nesse espao social, no qual em mdia, 37,5% da

    populao possui o Ensino Fundamental II incompleto (ver Tabela 1), podemos dizer,

    parafraseando Durkheim (2011), que o diploma do Ensino Mdio age como um fator

    protetor da pobreza extrema. Esse nvel educacional tambm distancia os indivduos

    das faixas maiores de renda, resultando em uma posio social intermediria. O eixo

    3 contribui para observarmos o que acontece com o desempenho escolar nas subpre-

    feituras das periferias intermedirias e nas subprefeituras mais precrias.

    Contra todo o tipo de essencializao e de psicologizao dos determinantes do

    xito escolar que rondam os valores da meritocracia e do senso comum, vemos como

    as condies materiais de existncia derivadas da renda, da escolaridade e das

    condies habitacionais pesam brutalmente sobre os destinos educacionais. Nota-

    -se, com maior acuidade, como o menor desempenho educacional no deriva apenas

    da baixa renda familiar e do menor nvel educacional dos pais, mas da sobreposio

    destes fatores, a outras dimenses ligadas infraestrutura pblica dos domiclios.

    Por ltimo, mas no menos importante, pode-se notar que o espao das desigual-

    dades educativas tambm um espao de lutas e de investimento no jogo escolar

  • 115Pro-Posies | v. 26, n. 2 (77) | P. 99-118 | mai./ago. 2015

    (no desistir, no abandonar, buscar as melhores alternativas da oferta escolar local,

    etc.) e, portanto, de illusio, de crena no valor dos ttulos escolares, o que explica a

    emergncia de diferentes estratgias educativas entre os grupos sociais em condi-

    es objetivas de aderir lgica dos investimentos educativos.

  • 116 Pro-Posies | v. 26, n. 2 (77) | P. 99-118 | mai./ago. 2015

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    Submetido avaliao em 26 de setembro de 2014; aceito para publicao em 12 de fevereiro de 2015.