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    O espaço urbano em pauta: por que Goiânia é assim?

    Edição 2085Elder Dias

    Adensamento, expansão urbana, planejamento e Plano Diretor. Pode-se dizer que, sob ocomando desses quatro termos mágicos, se faz (ou se desfaz) uma cidade. O Jornal

    Opção foi à caça de atores envolvidos com esse debate na capital em que há locais deassombrosa concentração de prédios e trânsito — como é o caso do Jardim Goiás e do

    Setor Bueno —, mas onde também há cerca de 100 mil lotes vagos.

    Apenas uma das muitas contradições que podem ser observadas na cidade que virou

    metrópole e enfrenta, com esse crescimento, uma série de desafios. Foi por isso que areportagem foi atrás de técnicos e políticos envolvidos com a questão da cidade — algunsdeles na atual gestão ou pretendendo estar na próxima, inclusive na vaga hoje ocupada

    por Paulo Garcia (PT).

    “Expansão não é pauta prioritária da Prefeitura”

    Fernando Leite/Jornal Opção

    Paulo César Pereira, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano

    Sustentável: Titular da pasta que centraliza a discussão sobre o planejamento urbano eterritorial da capital, ele afirma que promover expansão urbana não é algo que interesse à

    atual gestão e que o investimento nos eixos estruturais (corredores) vai pautaro restante do mandato de Paulo Garcia

    A expansão urbana não é uma pauta prioritária para a Prefeitura. A equipe deplanejamento está o tempo todo avaliando a macrozona e a área rural — nosso foco no

    momento é o zoneamento econômico e ecológico. Obviamente há, digamos, expectativasdo setor imobiliário sobre a expansão urbana. Quando isso ocorrer, serão observados os

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    aspectos técnicos de acordo com a visão de cidade sustentável que temos. Isso deve serarticulado com a revisão do Plano Diretor, em 2017.

    Vamos investir no adensamento das vias estruturais, o que determina as cidadescompactas. É a concepção mais adequada ao mundo moderno. “Espalhar” a cidade é

     jogar a população carente para as franjas, distante do trabalho e dos serviços públicos.Esse espalhamento faz demandar um congestionamento onde há concentração deserviços e é uma compreensão equivocada de desenvolvimento urbano.

    Estamos trabalhando por um sistema viário eficiente. O governo Paulo Garcia procurafazer melhorias no transporte. Promessas de soluções rápidas como forma de construirplataforma de pedir votos, em cima daquilo com que a população esteja angustiada, têmfeito Goiânia pagar um preço muito alto por gestões passadas em que isso ocorreu.

    Precisamos de um debate técnico, mais qualificado para a próxima eleição, apontando oque seja factível.

    Vejo a crítica do Legislativo como correta sobre a questão dos lotes vagos e do impostoprogressivo, mas a conta não se soluciona somente com isso, o que não significa que não

    seja também uma forma de atacar o problema. A partir do próximo ano, poderemos aplicaro imposto progressivo sobre propriedades.

    Embora não queira entrar no mérito do que foi aprovado para parcelamentos como Jardinsdo Cerrado [região oeste] e Orlando de Morais [região norte], é correto citá-los como

    exemplos negativos para apontar preocupações com relação à expansão urbana sem

    critérios técnicos. Mas digo com toda a convicção: as orientações que recebo do prefeitosão sempre pelo interesse público e assim tenho me pautado.

    Para discutir a questão urbana, me relaciono com todos os interessados: entidades como

    Secovi [Sindicato da Habitação do Estado de Goiás], Ademi [Associação das Empresas doMercado Imobiliário de Goiás], Sinduscon [Sindicato da Indústria da Construção no Estado

    de Goiás], bem como com vereadores e lideranças. A discussão precisa se pautar comcuidado e levando em conta proposições positivas, tendo em vista os eixos de

    adensamento e a ocupação dos vazios urbanos. Isso é o mais sensato. Não podemos fugirdo interesse público.

    “O urbanismo de Goiânia só foi respeitado de 1937 a 1942”

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    Fernando Leite/Jornal Opção

    Maria Ester de Souza, vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás

    (CAU): O olhar político faz a cidade paralisar e não agir em prol do interesse público. É

    isso que se denota das palavras da vice-presidente do CAU de Goiás. A arquiteta e mestreem Geografia critica de forma veemente a falta de execução na gestão pública

    O CAU tem dois tipos de atuação, digamos assim. Um é zelar pelo exercício profissional;

    outro é atuar com a preocupação de estimular que se discuta a cidade. Para se falar deplanejamento urbano, há dois vieses: um é o da gestão pública, sempre tomado pelaquestão política. A Lei Orgânica de um município é traçada em um arranjo político,obviamente. Outro viés é a teoria e toda a estrutura de conhecimento científico deplanejamento urbano. Esses dois vieses não “conversam” entre si. Mas é bom lembrar queé no município que as coisas acontecem — alagamentos, violência, dificuldades notrânsito e tudo o mais.

    Observando como isso se processa, fico espantada como ainda não haja uma commodityoficialmente chamada de “lote”. Mas há sempre um grupo que solicita ao gestor que

    satisfaça seus interesses, e encontram-se áreas para que esse segmento possa ter lucro.Chamam a esse processo de expansão urbana. A primeira pergunta é: para que vamos

    discutir expansão urbana?

    A lei de expansão urbana modifica o perímetro. É óbvio que, olhando para o quadro quetemos na Câmara, alguns vereadores vão ser sempre favoráveis a manobras assim. Sóque o CAU não vai olhar para aspectos políticos. Eu só consigo olhar para o lado

    urbanístico. E, pela lógica, por que expandir mais o perímetro se há 100 mil lotes vagosdentro da cidade?

    O urbanismo de Goiânia só foi respeitado de 1937 a 1942. A partir daí, entraram no jogoos grandes proprietários de terra. Do ponto de vista urbanístico, não tem lógica expandir

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    mais a cidade. Mas, pela lógica do segmento econômico, essa é a solução — para omercado imobiliário. Então, existe uma solução. Mas solução para quem?

    Não conseguimos ter um gestor para as pessoas, mas para si e seu grupo interessado.Está errado? Quem está “dentro” não acha — e isso inclui vereadores, políticos,

    secretários, empreendedores etc. O argumento do mercado econômico é de que, se acidade não se expande, não se desenvolve. Não demonstram, porém, tal interesse quandoo tema é educação para o trânsito ou reciclagem do lixo, porque isso não dá lucro.

    A palavra sustentabilidade virou moda nos anos 80. Todo mundo tinha de falar nisso. Virouslogan. Agora, é a expressão “cidade compacta”. Só que isso é um conceito muito maisamplo. O programa Minha Casa Minha Vida injetou dinheiro e modificou a paisagem ondefoi inserido. Mas não faz sentido ter casa e não ter padaria, açougue, posto de saúde. Não

    adiantam 5 mil casas se ali não houver padarias, ônibus, escolas e tudo o mais.

    O Plano Diretor de 2007 tenta resolver os espaços vazios. Historicamente, porém, temosgestões que só conseguem se movimentar para atender quem lhes interessa. Como nacabeça de um médico gestor está sendo aplicada a gestão da saúde? E a da educação?

    Se não está a contento nessas áreas, como será para a cidade, a mais complexa dasconstruções, onde há de tudo (telefone público, árvore, animais, asfalto, bicicleta, grama,

    escola, parque, crianças, posto de saúde, ônibus)? É uma complexidade astronômica.Então, um planejamento urbano só serve se for a meta aplicá-lo.

    O problema é que a gestão pública não tem execução. Vai fazer o que interessa a ela. A

    implantação dos corredores preferenciais é “pra ontem”, mas tem gente ainda a criticaferozmente — ora, com 1 milhão de carros nas ruas é impossível imaginar que isso aindanão tenha sido implantado, é minimamente lógico, basta usar o bom senso. Mas há uma

    questão cultural: só fazer depois que o caos completo estiver instalado.

    “O problema de Goiânia não é plano. São as gestões”

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    Fernando Leite/Jornal Opção

    Luiz Fernando Teixeira – XIBIU, arquiteto e consultor de planos urbanísticos: Goiânia não

    tem carência de planejamento. O que falta é gestão — e isso há várias administrações.

    Esse é o ponto de vista do arquiteto Luiz Fernando Teixeira, o Xibiu, um dos nomes locaismais respeitados nacionalmente.

    Considero “cidade sustentável” aquela que se aproxima de média de 300 habitantes por

    hectare. E sustentabilidade não é uma questão ideológica, é criar condições de vida.Menos trânsito, menor expansão da área urbana. Mas Goiânia tem 30 habitantes porhectare. Isso é insustentável. Temos regiões que são exceções — como o Setor BelaVista, o Jardim Goiás, o Setor Bueno, com até 600 pessoas por hectare —, mas que sãoconsequência de planos passados.

    E não se pode adensar somente por adensar, isso tem de ser planejado ao longo doseixos de transporte. É como a história do ovo e da galinha: se não tiver densidade não temtransporte, e vice-versa. Ambos têm de vir ao mesmo tempo. Têm 19 eixos para executar eaté agora só dois ou três foram de alguma forma implantados. E ainda há o que fazer, por

    exemplo, no da T-63, que nem é um dos mais importantes. O transporte urbano só temcomo se sustentar com a implantação dos corredores. O Plano Diretor de Goiânia

    trabalhou nesse sentido para que no futuro tenhamos capacidade de implantar umtransporte com a maior carga possível de passageiros. O principal corredor, o Eixo

    Anhanguera, é uma área muito mal ocupada. Seria importante que houvesse incentivopara fazer seu adensamento de forma ordenada.

    Plano Diretor não pode ser para controlar altura de prédio e recuo de calçada. Então,nosso problema não é de plano, é de gestão. Não temos conseguido isso nas últimas

    gestões. Em 1969 tivemos um plano em que se estabeleceram os grandes eixos, as áreas

    de adensamento, e sua implantação foi consequente. Na década de 80, ao contrário,tivemos um Plano Diretor do qual nada foi implantado.

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    Do plano de 2007, até agora, de fato, nada foi implantado, nada em relação aos projetosestruturantes previstos — acessibilidade, habitação, mobilidade, terminais etc., indicandoonde e como tem de se investir. São quase dez anos e não se fez nada. O plano tem de

    ser comandado pelo Executivo. À época, queríamos a volta do Iplan [Instituto de Pesquisae Planejamento], mas isso foi vetado pelo então prefeito Iris Rezende. Acabar com um

    órgão como esse já tinha sido um desastre, e seria fundamental para o Plano Diretor queele ressurgisse. Infelizmente, isso não ocorreu.

    O plano é muito abrangente, mas, depois de todo esse tempo, não foi aplicado empraticamente nada. Daqui a alguns anos, vão fazer outro plano, com o argumento de que

    não há planejamento. Ora, Goiânia tem planejamento — como prova o Plano Diretor —, oque não tem é gestão. E a Secretaria de Planejamento infelizmente não está lá para

    planejar, mas para controlar.

    Trabalhei com Jaime Lerner [ex-prefeito de Curitiba e considerado uma grande referência

    em gestão urbana] e ele me falava: “De manhã planejo a cidade; de tarde, atendo àspessoas.” Gestão é perceber onde e quando há um problema e agir ali para corrigir. Nos

    gabinetes, infelizmente, o pessoal se perde atendendo favores e não tem tempo paragovernar. Por outro lado, a iniciativa privada não espera. A velocidade do poder público éinversamente proporcional à do setor privado.

    “Sem leis complementares, o Plano Diretor fica capenga”

    Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

    Anselmo Pereira, presidente da Câmara de Goiânia. O vereador do PSDB, nome mais

    experiente do Legislativo goianiense, o qual dirige, não vê como implementar as condições

    de cidade adensada sem que antes haja a aplicação do Plano Diretor. E para isso é

    preciso, antes, que ele seja complementado com leis do Executivo.

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    O Poder Executivo está pecando. A evolução dos eixos preferenciais está sendo atacadade forma muito lenta, em relação ao prazo que o Plano Diretor estipulou. Na verdade, amaioria dos prazos não está sendo cumprida. Já deveria ter havido muito mais

    investimento nos eixos, porque só assim vamos facilitar a mobilidade. As quadras próximasa eles ficariam para um adensamento maior. Mas, se não houver um transporte mais

    qualificado, de nada adianta a lei. Ninguém vai construir em um local para ter de continuarandando de carro. A ideia é que o cidadão deixe o carro em casa e vá trabalhar no

    transporte de massa.

    Então, ainda falta muita coisa para complementar o Plano Diretor. Ficaram “dívidas” em

    forma de leis. Sem essas leis, se torna um plano capenga. Por exemplo, tem a Lei deParcelamento de Solo, que até agora não chegou à Câmara. Há também o Código

    Ambiental, a reforma do Código de Posturas e a do Tributário, entre outras. Tudo isso erapreciso para tornar o Plano Diretor exequível.

    Também estava previsto que ele tivesse uma atualização de dois em dois anos e umarevisão de dez em dez anos. Até agora foi feita apenas uma atualização, em 2013. Ou

    seja, a Prefeitura está pecando em não obedecer à lei. Como vamos discutir a adequaçãoambiental da cidade se não há código ambiental?

    O Plano Diretor foi concebido sob a visão da cidade compacta. Entretanto, ficaram, dasúltimas determinações de macrozona construída, vários vazios entre áreas densamente

    povoadas. É preciso corrigir isso, porque a pressão urbanística exige. Goiânia já chegou ater mais de uma centena de loteamentos clandestinos, justamente para que o

    parcelamento fosse forçado. Já temos vários espaços sofrendo pressão novamente paraisso.

    Um exemplo está na região sudoeste. Entre o Residencial Itaipu e o Real Conquista temuma área com esse tipo de pressão. Se não corrigirmos isso agora, corremos o risco de terparcelamentos disfarçados — daqueles em que se modula uma área para certo uso e sefaz outro, dividindo-a em vários lotes. Temos áreas rurais corrigidas no meio urbano, entãotemos de atualizar a macrozona de modo corretivo. Ninguém quer expansão urbana paraespeculação.

    Já tivemos exemplos de erros no projeto de expansão. Os setores Madre Germana [regiãosudoeste] e Orlando Morais [região norte] são exemplos, foram uma imposição em cima doPlano Diretor, que mostram que o Executivo rasga sua própria carta.

    “Os vazios urbanos encarecem a cidade com estrutura ociosa”

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    Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

    Elias Vaz, vereador (PSB): bastante crítico da ocupação do espaço urbano, Elias Vaz

    (PSB) foca a questão do adensamento em um dado alarmante: a existência de 100 mil

    lotes vagos na malha já ocupada do perímetro urbano da cidade — o que evidencia quetalvez não seja necessário executar mais um projeto de expansão.

    Defendo uma ocupação racional, planejada, compacta. Precisamos adensar, mas isso não

    pode ocorrer de forma exagerada, como houve no Setor Bueno. O Plano Diretor de 2007adotou um caminho correto, mas há muito a ser feito. Goiânia tem mais de 100 mil lotesvagos. Estamos falando de um total de 400 mil pessoas — se colocarmos uma família dequatro pessoas por lote — que poderiam ser inseridas sem que houvesse qualquerexpansão, tornando a cidade mais compacta.

    No sentido de implantar o que rege o Plano Diretor, a Prefeitura tem tido uma atuaçãomuito insipiente, como ao retardar a implantação do imposto progressivo. Não é quequeiramos inibir que o cidadão tenha mais de uma propriedade, mas é preciso que estatenha função social. Até aqui, temos jogado dinheiro fora, pois os vazios urbanos

    encarecem a cidade com muita estrutura ociosa. É o que ocorre com um conjunto urbanoespalhado. Isso prejudica, onera e faz aproveitar mal redes de esgoto, linhas de ônibus,

    energia, água.

    Outra medida é fazer com que cada pessoa possa resolver o máximo de sua vida ao redorde sua casa. A necessidade de deslocamento tende a ser menor e uma região como anoroeste da Goiânia pode passar a ter vida própria, com uma lógica de ocupação racional.

    Acima de tudo, para que o Plano Diretor dê certo, será fundamental que o transportepúblico funcione. Em Bogotá, temos um eixo de transporte que faz o deslocamento ocorrer

    a 27 km/h. O metrô de São Paulo faz a média de 32 km/h. Precisamos desenvolver o BRTe os demais eixos e dar-lhes rapidez e agilidade.

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    “Goiânia precisa dialogar com toda a região metropolitana”

    Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

    Waldir Soares, deputado federal (PSDB): Embora ainda a um ano do início da campanha

    eleitoral, o goiano supercampeão de votos para a Câmara dos Deputados é também umdos mais citados nas pesquisas para a sucessão municipal. O deputado-delegado entendeque Goiânia precisa dialogar com os municípios vizinhos

    Temos de respeitar o planejamento urbano. E é bom lembrar que em Goiânia — que teveplanejamentos desenvolvidos de forma moderna mesmo antes de Curitiba — as últimasgestões não seguiram esse planejamento, especialmente no que se relaciona às viasestruturais.

    Sou contrário à expansão. Devemos ocupar os imóveis ociosos e evitar o adensamentoeleitoreiro, focado por interesses de grupos imobiliários. Isso é uma covardia com ocidadão, é um crime esparramar a cidade, porque depois não conseguimos levar escolas,delegacias redes de esgoto etc., e assim prossegue o desmantelamento de uma cidade.

    Vejo também que o ex-governador e ex-prefeito Iris Rezende levou o adensamento para aregião noroeste, por exemplo, mas se esqueceu de levar os benefícios. O que deve serfeito? Defendo a manutenção da área rural que temos hoje e que passemos a adensar junto às vias estruturais, perto do transporte coletivo. O Eixo Anhanguera é um caso de

    grande via que tem um adensamento muito aquém do que poderia, com relativamentepouca moradias.

    Por outro lado, não podemos desprezar o crescimento de Goiânia em relação à regiãometropolitana. Tem de haver um estudo uniforme, em consonância com os demais

    municípios. Fazer um estudo de Goiânia de forma individualizada, sem conversar com os

    prefeitos vizinhos, é um grande erro também — sabemos que alguns municípios são

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    dormitórios e que a população deles trabalha na capital. Enfim, não se pode conseguiruma cidade sustentável de maneira isolada.

    Vejo exemplos como os de Palmas e Curitiba — cidade onde já morei em Curitiba,trabalhando na prefeitura de Cássio Taniguchi (1997-2005) como auditor fiscal. São

    cidades em que o planejamento está dando certo. Goiânia teria tudo para dar certotambém, porque nossa capital tem planejamento. Como eu já disse, seus agentes políticosé que não o têm cumprido.

    “Precisamos ter 100% de conhecimento do que é o Plano Diretor”

    Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

    Vanerlan Cardoso, ex-prefeito de Senador Canedo e pré-candidato à Prefeitura de

    Goiânia: Com experiência de gestor tanto na iniciativa privada (é um próspero empresário)e no setor público (como ex-prefeito de Senador Canedo), Vanderlan Cardoso está no jogopara a disputa da Prefeitura de Goiânia. Mas diz que vai aguardar discussões do grupo detrabalho do partido para externar posição.

    O PSB está fazendo um grupo de trabalho para pensar, fazer levantamentos sobre o quequeremos para Goiânia. Vamos apresentar soluções para o candidato do partidoapresentar. Por isso, prefiro não entrar em polêmica sem ter 100% de noção do que vamoster em mãos. Precisamos nos inteirar da forma correta sobre como anda o Plano Diretor de

    Goiânia e estamos fazendo isso por meio desse grupo técnico. Vamos apresentar nossaposição no momento certo, e creio que isso será bem próximo de se iniciar a pré-

    campanha. Até lá, será preciso ter o máximo possível de dados sobre tudo.

    “Ou solucionamos o problema ou a cidade arruma suas soluções”

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    Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

    Agenor Mariano, vice-prefeito de Goiânia: Além de vice-prefeito, ele é um dos nomes

    mais próximos daquele que deve ser o candidato peemedebista à sucessão — o ex-

    prefeito Iris Rezende. No entanto, Agenor pensa que o partido tem pouco a falar sobre ocaso, já que, apesar de participar da gestão de Paulo Garcia, não ocupa a pasta

    responsável pelo planejamento da cidade.

    O PMDB ainda vai colocar em pauta a discussão sobre Goiânia. Creio que seja melhor nãofalar ainda como partido. Se pelo menos estivéssemos pelo menos na secretariaresponsável (Semdus), até poderíamos nos atrever. Como o partido não está na execuçãoda pasta, não temos como falar. O que posso dizer é que temos um excelente PlanoDiretor e que ele foi aprovado na gestão de Iris Rezende. Esse plano moderno, portanto, éum fruto de sua administração.

    Mas discutir planejamento e adensamento urbano é algo tão polêmico que um vereadorpensa de um jeito e outro de forma totalmente diferente, mesmo estando no mesmopartido.

    Espero que sejamos capazes de encontrar uma solução melhor para Goiânia, noslembrando sempre de que as pessoas precisam de moradia e de que todo dia chega gentenova a Goiânia — e de que todo dia nasce mais gente também. Se tomarmos a densidadedemográfica desde a elaboração do Plano Diretor, veremos que Goiânia já aumentou emcentenas de milhares de habitantes. Temos diversos problemas, mas o crescimento dacidade não vai parar apesar deles. Temos de dar solução rápida para o problema, porque

    senão a cidade mesma arruma “soluções” que em geral não são as melhores — as favelassão exemplo disso.

    “É preciso puxar Goiânia para o ritmo do Estado”

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    Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

    Jayme Rincón, presidente da Agência Goiânia de Transportes e Obras

    (Agetop): Responsável pela face mais “executora” do governo Marconi Perillo, o presidente

    da Agetop é o nome mais citado no PSDB para a disputa da próxima eleição em Goiânia.De estilo contundente, ele fala em uma série de “equívocos” das últimas gestões e diz que

    o maior deles foi ter um Plano Diretor “ditado pelo setor imobiliário”.

    É óbvio que o nível de adensamento que temos em algumas regiões de Goiânia estáerrado. Vejo, por exemplo, que uma região como a do Setor Bueno está insuportável.Morei na T-38, em uma quadra planejada para ter de 40 a 50 residências, e que hoje estáentupida de prédios. Lá, há 500 ou 600 famílias atualmente. Tenho certeza de que oobjetivo dessa ocupação não foi para benefício de Goiânia.

    Em minha avaliação, de todos os equívocos cometidos pelo grupo que está no poder nacidade, o maior foi um Plano Diretor ditado pelo setor imobiliário. A capital tem uma áreade expansão enorme e os planos diretores poderiam ter sido elaborados pela característicada cidade plana que temos.

    É preciso setorizar o município, procurando colocar o trabalho mais próximo da residência,levando o crescimento da cidade para as regiões, conseguindo uma evolução dos serviçose do comércio. Isso também tem sido desrespeitado, porque cada um hoje pode fazer oque quiser em qualquer lugar. Para essa setorização planejada, é preciso levar os serviçospúblicos e o comércio também, senão depois haverá complicações, como no trânsito.

    Temos na região noroeste, para citar um exemplo, uma outra cidade, que cresceu de formadesordenada e hoje é enorme, mas sem nenhuma infraestrutura. Um dos grandes desafiosdo próximo prefeito será requalificá-la. O Hugol [Hospital de Urgências Governador Otávio

    Lage, nome escolhido para batizar o Hugo 2], que o governo estadual, vai inaugurar nopróximo mês, será um instrumento importante para isso.

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    Outro caso típico de erro é o Parque Flamboyant. Encheram os arredores do parque deprédios e, onde tinha de ser pista dupla, não dá mais para resolver a questão do trânsitocom mão e contramão. Isso porque tudo foi concebido somente para atender ao poder

    imobiliário. O Parque Flamboyant é a cara de Iris Rezende no que diz respeito aplanejamento urbano, não há como circular por lá. Se não repensarmos um Plano Diretor

    discutindo com a sociedade, elaborando-o para os próximos 50 anos sem que ninguémmais mexa no planejado, nada vai dar certo. E essa discussão de expansão urbana tem de

    ficar para o próximo prefeito e não para um prefeito em fim de mandato.

    É preciso lembrar que transporte coletivo, por melhor que seja, nunca será tão bom quanto

    andar de carro. Só que transitar no Centro com carro, em uma cidade como a que temos,é algo que não pode existir mais. É preciso priorizar o transporte público. O prefeito Paulo

    Garcia até tentou, mas mexe com interesses que já estão aí há muito tempo. Claro, hádificuldades, mas alguém tem de ser afetado em benefício da maioria. E é preciso alguémcom credibilidade, liberdade de ação e firmeza para fazer isso.

    O grande desafio de Goiânia é dar o salto que foi dado nos governos de Marconi Perillo

    (PSDB). É preciso puxar Goiânia para colocá-la no ritmo do Estado. Temos a vantagem deter uma cidade plana, sem favelas, com um traçado original que foi preservado. O próximoprefeito será um divisor de águas nessa história.