O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA...
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O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E OS CONCEITOS DE VIOLÊNCIA NA ESCOLA
Alessandra Venâncio Justino1 Michely Fernanda Azeredo Coutinho Scherer2
Terezinha Corrêa Lindino3
Introdução
A construção do projeto O Estatuto da Criança e do Adolescente na Escola, pela
equipe pedagógica do Núcleo de Estudos e Defesa dos Direitos da Infância e da
Juventude – NEDIJ4, objetivou estudar o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA;
desenvolver atendimentos pedagógicos para crianças e adolescentes que se encontram
em dificuldades de desempenho escolar em função de situação de risco ou que tenham
seus direitos violados; atendimento pedagógico aos pais, irmãos ou responsáveis pela
criança e adolescente; avaliação pedagógica para analisar principais dificuldades e as
potencialidades de crianças e adolescentes em relação às atividades escolares propondo
encaminhamentos para outros profissionais quando julgar pertinente; desenvolvimento
de trabalhos em equipe e estudo de caso; participação em atividades de divulgação do
ECA em escolas municipais que pertencem a Comarca de Marechal Cândido Rondon.
Num primeiro momento, foram efetuados estudos e discussões sobre o ECA
entre os participantes do projeto, de modo que se obtivesse uma maior compreensão do
mesmo. Ao longo dos estudos, percebeu-se que havia uma grande necessidade em
esclarecer o ECA a mais pessoas e não apenas divulgá-lo. Neste mesmo período foi
pesquisado o contexto histórico, social, educacional e cultural dos alunos participantes
1Bolsista estagiária de Pedagogia do Núcleo de Estudos e Defesa dos Direitos da Infância e da Juventude, programa de extensão universitária - NEDIJ, situado na UNIOESTE, campus Marechal Cândido Rondon. 2Bolsista recém – formada em Pedagogia do Núcleo de Estudos e Defesa dos Direitos da Infância e da Juventude - NEDIJ, programa de extensão universitária, situado na UNIOESTE, campus Marechal Cândido Rondon. 3Doutora em Educação, docente da UNIOESTE, Campus Marechal Cândido Rondon e Coordenadora Pedagógica do Núcleo de Estudos e Defesa dos Direitos da Infância e da Juventude – 4 Programa de extensão universitária, situado no campus da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, de Marechal Cândido Rondon.
das oito turmas do 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental de uma escola piloto
selecionada. As atividades desenvolvidas na escola foram divididas em quatro fases:
conversa com o professor, entrevista com o aluno, palestra/jogos e por último cada
aluno confeccionou um jogo para levar para casa e brincar com seus familiares.
As entrevistas foram realizadas durante o ano letivo de 2009, tendo como
amostra 96 alunos, equivalentes a 50% da população estudada. A faixa etária dos
participantes estava entre seis e doze anos. Todos estudavam no período vespertino.
Nas entrevistas foram abordados assuntos pertinentes ao ECA - os direitos e
deveres fundamentais à vida e tipos de violência praticada pela e contra a criança no
âmbito escolar.
A partir da análise das informações coletadas, detectaram-se os problemas
existentes em cada turma, os quais eram enfatizados durante as palestras, bem como
explicados os principais direitos e deveres da criança e do adolescente estabelecidos
pelo ECA.
Após as entrevistas, foram realizadas palestras para 191 crianças, com o intuito
de divulgar e, principalmente, esclarecer os direitos e deveres contidos no ECA, por
meio de conversa, imagens e jogos (trilha, memória e caça-palavras). Também,
procurou-se orientá-las a procurar ajuda caso tivessem seus direitos violados. Durante
as palestras os temas trabalhos foram: convívio em sociedade e à vida em seus diversos
âmbitos (educacional, social, psicológico, biológico e jurídico).
Em 2010, sentiu-se a necessidade de confirmação dos dados coletados. A partir
do questionário de entrevistas formulou-se um questionário com perguntas fechadas.
Procurou-se junto à secretaria da escola a atual localização dos alunos participantes.
Assim, a aplicação do questionário foi realizada nos anos subsequentes ao aplicado em
2009. Buscou-se ainda aplicar o questionário aos alunos que saíram da escola piloto.
Conceito de violência e suas derivações
Atualmente, duas entre três discussões realizadas sobre a Escola pautam-se em
situações denominadas como violência. A questão da violência na escola apresentada
pela mídia ou pelos próprios estabelecimentos escolares fez com que ela se tornasse
objeto de pesquisa entre sociólogos, psicólogos, professores e tantos mais. Todavia, até
o momento, as opiniões sobre violência ainda são atribuídas como fenômeno novo que
teria surgido na década de 1980 e desenvolvido nos anos 90.
As escolas estão se tornando lugares propícios para a violência. Charlot (2005, p.
126) adverte que “[...] a escola não se apresenta mais como um lugar protegido e até
mesmo sagrado, mas como um espaço aberto às agressões vindas de fora”.
A agressão hoje é vista como “[...] um ato que implica uma brutalidade física ou
verbal” (ibidem, p. 128), pois realça o poder, a força e a dominação sobre outra pessoa.
Mas, toda agressão é uma violência?
Historicamente, a questão da violência na Escola não é tão nova. No séc. XIX
houve, em certas escolas de ensino médio, do mundo inteiro, algumas explosões
violentas sancionadas com prisão. Vários casos foram registrados desde a década de
1950 e 1960 sobre relações grosseiras entre alunos. Então, porque acreditamos que a
violência ocorrida na Escola hoje é nova?
A violência foi, é e será preocupante na escola por apresentar a dicotomia
simbólica do físico-verbal para o verbal-físico. Por meio de palavrões, desobediência,
apelidos, ameaças, grosserias, piadas de mau gosto, as crianças incitam ações que
tumultuam a aula, humilham os colegas e desafiam a autoridade do professor. Mas,
Charlot (2005) nos ajuda a entender esta dinâmica, afirmando que o fenômeno não é
radicalmente novo, mas sim que ele está assumindo novas formas.
O autor vai além apontando que esta situação está promovendo uma angústia
social, pois está sendo tratada como discursos sócio-midiáticos que tendem amalgamar
fenômenos de natureza muito diferente. Por conseguinte, em artigos, ele instiga-nos a
distinções conceituais que permitam introduzir certa ordem na categorização dos
fenômenos considerados como violência na escola.
O autor apresenta uma distinção particularmente útil sobre violência,
transgressão e incivilidade. Sugere que ao classificar qualquer ato realizado pelo aluno
somente como violência, muitas vezes, implica em tomada de decisões precipitadas.
Defende ainda que para identificarmos tal fato, devemos inicialmente dimensioná-lo sob
o foco da violência, da transgressão e da incivilidade.
Assim, conclui Charlot (2005), poderemos ter clareza no momento de sugerir
quais medidas a ser tomadas, ampliando a responsabilidade das/nas ações dentro e fora
da Escola. Por exemplo, casos que envolvam violência (lesões, extorsão, tráfico de
drogas na escola, insultos graves, ou seja, condutas descritas como crime ou
contravenção penal) não são de responsabilidade dos agentes escolares, mas sim da
policia, então estes devem ser chamados. Agora, transgressão (comportamento
contrário ao regulamento interno da escola, mas não é ilegal do ponto de vista da lei) e
incivilidade (comportamentos que não contradiz nem a lei e nem o regimento interno,
mas as regras da boa convivência) são de responsabilidades da Escola. Esta distinção
faz-nos refletir qual é o nosso papel na Escola, nossa função dentro da Escola e quais
deveriam ser as exigências requeridas à Escola. Indica-nos também a necessidade de
separar o que é “violência na escola, violência à escola e violência da escola”
(CHARLOT, 2005, p. 127).
A violência na escola é aquela que ocorre dentro da escola, sem ter nenhum
vinculo com a instituição, sendo a escola apenas o lugar onde a violência ocorre. A
violência à escola é a realizada contra a instituição, como por exemplo, incêndio
provocado por alunos, danos ao patrimônio, insulto ou agressão contra os professores,
entre outros. A violência da escola está relacionada com a maneira com que a escola e
os professores tratam os alunos, podendo ser com palavras ofensivas, atos injustos,
racistas e casos de bullying5.
Todavia, a violência está presente em nosso cotidiano e faz parte da nossa vida.
Sempre foi usada pelo homem, desde a antiguidade. Levisky (2001, p. 54) defende que
a “[...] violência é inerente ao ser humano”, uma vez que ele a utiliza por meio da força
para praticar seu controle ou introduzir mudanças, podendo ser sobre si mesmo ou sobre
atos de violência.
Segundo Charlot (2005), a distinção entre os tipos de violência nos possibilita a
tomada de providências cabíveis a cada situação. O que se pode ver, atualmente, em
alguns ambientes escolares, uma mistura de ações pertinentes à violência, à transgressão
e à incivilidade.
O acúmulo de incivilidades nas escolas de Ensino Fundamental, como palavrões,
piadas de mau gosto, indiferença, recuso ao trabalho, entre outros, está amplificando o
desconforto no convívio entre professor e aluno.
5 Termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo, ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo.
Indisciplina e violência nas escolas
No século XX, a indisciplina foi considerada como uma grande praga, e a
violência, o seu efeito mais trágico. Na atualidade, este problema ainda continua
preocupando tanto, passando a ser vista como produto de uma doença chamada
hiperatividade, porém, a verdade é que tem se tornado moda dizer que crianças e
adolescentes são hiperativos. A situação esta ficando muito preocupante, pois em
muitos casos os professores têm chamado os pais para comparecerem na escola para
dizer-lhes que seu filho possui hiperatividade, e que o mesmo deve ser encaminhado a
um atendimento neurológico, psicológico, pediátrico ou psicopedagógico.
Similarmente, verificamos que ao rotular as crianças e adolescentes desatentos,
dispersos, agitados e violentos como sendo hiperativos, os professores estão
esquecendo-se de questionar nessas situações se tais condutas inadequadas estão
relacionadas a outros fatores, por exemplo, a interação aluno/professor e aluno/aluno; o
nível de desenvolvimento afetivo, cognitivo e moral das aprendizagens; a infra-estrutura
material e humana oferecida; as condições objetivas de vida; os fatores circunstanciais,
como separação dos pais e violência doméstica, entre outros, levando em consideração o
aspecto natural no homem, desenvolvendo procedimentos reforçadores da passividade.
Silva (2002, p.118) menciona que a hiperatividade não é uma doença, mas sim,
um rótulo, para explicar essa concepção o autor baseia-se nas teorias do
desenvolvimento moral de Jean Piaget6; na psicanalítica de Freud, Klein, Winnicott e
Lacan e na teoria dos valores de La Taille7.
Desta forma, Silva (2002) defende que a indisciplina e a violência nas escolas
ocorrem pelo fato dos alunos não respeitar o próximo ou como instrumento de ascensão
social, fortalecimento de liderança, poder, manifestação de poder para grupos rivais,
atrair novos adeptos ao seu grupo ou como forma de recompor a auto-imagem, que por
ventura venha a ser diminuída.
6 Piaget observou que a moral desenvolve-se como a inteligência, e que tal processo pode ser descrito por fases (anomia – heteronomia - autonomia), assim como o desenvolvimento cognitivo. 7 A perspectiva dos valores de La Taille mencionada por Silva é estudar a moral, para isso é preciso compreender a dimensão afetiva, além da racional avaliando como fundamental os valores prezados pelas pessoas, pois para elas os valores são considerados como um investimento afetivo, ou seja, tudo aquilo que vale a pena.
Outro fator de extrema importância para o desenvolvimento integral do
individuo e faz parte da construção de valores é o estabelecimento de limites citado por
Digiácomo, em 2010, Promotor de Justiça no Estado do Paraná, este esclarece o artigo
205 da Constituição Federal.
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Art.205, Constituição Federal/1988) (grifo nosso)
Compreende-se por pleno desenvolvimento o direito da criança e do adolescente
de receber limites e ser corrigido, bem como o direito ao ensino de lições elementares
de cidadania e relacionamento interpessoal, compreendendo também o respeito às leis e
ao próximo. Sendo assim, esse direito deve ser assegurado primeiramente pela família,
pois esta é o primeiro grupo social que a criança participa, em seguida pela escola, pela
sociedade e pelo Estado.
Digiácomo (2010) menciona que a criança e o adolescente, como todo e
qualquer cidadão devem igual respeito às leis e ao próximo. Diante disso, o ECA vem
re-afirmar e garantir esses direitos. Sabe-se que antes deste estatuto, o Código de
Menores não concebia a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, mas sim
sujeitos de intervenção do Estado, sendo o infrator submetido a medidas de punitivas.
A implantação do ECA completou 20 anos e sua aceitação continua sendo um
grande desafio para a sociedade, pois exige a compreensão de novos conceitos e,
principalmente muita interpretação e esclarecimentos. Uma vez que, um novo sistema
de garantias é sempre desafiador e exige o rompimento com o sistema anterior, não
apenas no campo teórico, mas principalmente no campo prático.
Do espaço escola ao espaço social: o jogo como estratégia na discussão sobre o
ECA
Diante dos desafios estudados para a implantação do ECA, a parte prática do
projeto mencionado no inicio deste trabalho pretende divulgar e esclarecer as
atribuições do ECA para os principais interessados, ou seja para todos os responsáveis
com a educação de crianças e adolescentes. Assim, pensou em utilizar jogos como
ferramentas pedagógicas para compreensão do estatuto da criança e do adolescente, bem
como os conceitos de violência praticados contra e pelos alunos do ensino fundamental
e palestras informativas ministrados por profissionais da área jurídica para professores e
pais, esclarecendo suas responsabilidades e direitos.
Pensou-se na utilização de jogos, porque no período escolar, tornam-se mais
interessantes quando condizem com a realidade do aluno. Todo jogo é uma atividade
que possui um valor educacional intrínseco segundo Leif, apud Passerino (2010, p.01)
“[...] jogar educa, assim como viver educa: sempre sobra alguma coisa”.
A utilização de jogos no âmbito escolar contribui para o processo de
ensino/aprendizagem, pois, por meio do jogo o aluno sente prazer e realiza um esforço
espontâneo e voluntário para atingir o objetivo determinado; sente-se motivado para
aprender; obriga-se a pensar; aprende a ordenar o tempo e o espaço; desenvolve sua
personalidade, afetividade, socialização e cognição; favorece o desenvolvimento de
habilidades como coordenação, destreza, rapidez, força, concentração.
Neste sentido, defendemos que por ser o ambiente escolar um dos principais
locais a se fazer a divulgação, este projeto contribui tanto para o trabalho pedagógico
dos professores em sala de aula quanto para esclarecer aos adolescentes seus direitos e
deveres como cidadãos livres para agir na sociedade, sendo conscientes e responsáveis
por seus atos.
A proposta de ensinar o ECA, por meio de jogos, partiu do pressuposto que é por
meio deste que a criança une a vontade e o prazer em aprender durante a realização de
uma atividade. O ensino utilizando meios lúdicos proporciona um ambiente agradável e
descontraído; além de servir como estímulo para o desenvolvimento integral da criança,
uma vez que difere das atividades desenvolvidas diariamente em sala de aula.
Para a confecção dos jogos da trilha e da memória foram utilizados papel cartão
de diversas cores, material impresso e fotos copiados, giz de cera para colorir as casas
do jogo da trilha e plástico adesivo transparente. O processo levou cerca de três meses
para sua conclusão.
Dos agentes ativos e simbólicos
Ao sistematizarmos as entrevistas constatou-se que dos alunos entrevistados o
conceito de violência não é compreendido em sua totalidade. Assim, 66% acreditam que
violência é ofender, bater ou machucar alguém, 15% não sabem o que é violência, 10%
acreditam que seja matar ou roubar, 7% disseram que é fazer algo que deixa a outra
pessoa triste e para 2% violência é ofender alguém com palavras grotescas.
Outra informação importante trata-se do tipo de violência recebida ou realizada.
Dos alunos entrevistados, 56% responderam que já sofreram algum tipo de violência,
sendo que, 69% afirmam que a violência ocorreu na escola, 17% no âmbito familiar,
14% na rua e 7% em casa e na escola. Os tipos de violência praticados contra esses
alunos representam 43% violência física, 35% moral e física e 22% moral.
Ainda neste quesito, 42% afirmaram já terem praticado algum tipo de violência,
sendo que, 39% física, 38% moral, 20% física e moral e 3% não quiseram responder.
Segundo os alunos, tanto as agressões praticadas quanto às sofridas variaram em chutes,
socos, empurrões e ofensas.
Na coleta para confirmação dos dados, aplicamos novo questionário com cerca
de 80% dos alunos envolvidos no projeto de 2009. Constatou-se que o conceito de
violência pelos alunos varia: 35% acreditam serem socos, chutes, beliscões e
xingamentos; 41% roubar e matar; 10% fazer algo que deixa a outra pessoa triste; 3%
falar palavrão e 11% não sabiam descrever o que é violência.
Quanto ao fato de promover ou sofrer violência, 56% re-afirmaram já terem
sofrido algum tipo de violência; dos quais 29% ocorreram na escola, 16% em casa, 10%
na rua e 1% em outros lugares. Os tipos de violência mais comuns praticadas contra
esses alunos foram agressões físicas e morais, representando 44% no total.
Quanto ao fato de terem praticado algum ato de violência, 49% dos alunos
responderam que já agrediram alguém moralmente ou fisicamente. Dos atos praticados,
26% responderam que agrediram alguém verbalmente, 14% já agrediram e xingaram,
8% agrediram alguém fisicamente e 1% não soube responder.
Ao expressar sobre o que sentiram quando foram agredidos, 53% responderam
que sentiram algum tipo de dor física ou emocional (segundo eles “dor no coração”,
para expressar mágoa), 33% responderam que sentiram tristeza e 14% responderam
que sentiram raiva ou não sentiram nada (“senti que ele não era mais criança, porque
só brigava, xingava e falava palavrão”).
Constatou-se ainda que a violência ocorre tanto com os meninos (50%) quanto
com as meninas (50%), porém o maior índice de violência é praticado pelas meninas
(51%), com nove anos.
O maior índice de violência está na faixa etária dos nove anos (29%). Temos
ainda 2% aos 12 anos, 7% aos 11 anos, 24% aos dez anos; 19% aos oito anos, 12% aos
sete anos e 7% aos seis anos.
As entrevistas realizadas com os professores apontam que 86% dos professores
entrevistados consideram indisciplina a falta de respeito e 14% disseram que é a falta de
educação. De todos os professores entrevistados apenas 29% afirmaram que há casos de
indisciplina em sua sala de aula, pois considera indisciplina o desinteresse na aula, falta
de respeito entre colega e com o professor e mau comportamento. Numa pergunta
aberta, questionamos sobre a visão que os professores têm sobre o Estatuto. A maioria
respondeu que é dada muita ênfase aos direitos e pouco aos deveres, outros
responderam que precisa ser melhorado8.
Considerações finais
A mídia tem divulgado muitas atrocidades ocorridas, no Brasil e no mundo, com
crianças e adolescentes. Imagens de crianças e adolescentes praticando atos infracionais,
seja pela sobrevivência, pelo consumo de drogas ou aceitação social.
Sob este contexto, com o intuito de promover “[...] a proteção integral da criança
e do adolescente, de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter assegurado seu
pleno desenvolvimento” (CURY, 2005, p. 17), o projeto O Estatuto da Criança e do
Adolescente na Escola procura desenvolver ações que possam discutir o cumprimento e
a aplicação dos direitos contidos no ECA para a construção de uma sociedade mais
justa, solidária e harmoniosa. Neste sentido, defendemos que o ato de distinguir os tipos
de violências e verificar como elas estão presentes no ambiente escolar torna-se
premente nos dias atuais.
8 Porém, de acordo com Souza “o ECA é considerada umas das melhores e mais abrangentes leis do mundo no que diz respeito aos direitos das crianças e dos jovens”.
Constatamos que a escola ainda tem dificuldade em diferenciar o que é ato
infracional e o que é violência, pois atribui tanto ao primeiro quanto ao segundo tudo
aquilo que a criança faz dentro da escola. Cabe ressaltar aqui que violência na escola
pode ser classificada como atacar pedra, puxar o cabelo, empurrar, beliscar, dar socos e
chutes nas pessoas.
Carneiro (1998) menciona que uma das funções da Educação deve estar calcada
no desenvolvimento integral do aluno, visando o estabelecimento de limites e o direito
de ser corrigido, esse processo deve ocorrer de forma harmoniosa e progressiva, sem
violência e sem traumas. Assim, o preparo para o exercício da cidadania deve voltar-se
para a condição básica do ser cidadão (possuidor de direitos e deveres), indiferente de
sexo, raça, cor, classe social ou necessidades especiais. Todavia, essa preparação deve
ser feita e produzida socialmente, tornando o ensino mais dinâmico. Na escola, por
exemplo, como o aluno tem uma relação de interação com os conhecimentos já
adquiridos e com os construídos ao longo da História, essa interação tende a acontecer
por meio de materiais didáticos pedagógicos, processos de articulação e mediação do
conhecimento.
Assim, ensinar o ECA por meio de jogos une vontade e prazer em aprender na
criança. Este tipo de ensino proporciona um ambiente agradável e estimulante para o
desenvolvimento da criança, uma vez que difere das atividades desenvolvidas
diariamente em sala de aula, pois a violência exemplificada nos jogos e palestras sugere
a análise da percepção da existência de parceiros e de um conjunto de regras,
atribuindo-lhe caráter eminentemente social e educativo.
Por conseguinte, as próximas etapas do projeto visam elaborar dinâmicas de
grupo para desenvolver com adolescentes que se encontram em dificuldades de
desempenho escolar em função de situação de risco ou que tenham seus direitos
violados, envolver a comunidade escolar e profissionais do NEDIJ em palestras que têm
por objetivos divulgar e esclarecer os principais artigos contidos no ECA, bem como
alertar as responsabilidades de cada cidadão que infringir os direitos do outro; ainda
continuar ministrando atividades de divulgação do ECA em escolas dos municípios da
Comarca de Marechal Cândido Rondon.
Referências
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MACIEL. K. (Cood.). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. 4ª ed. Lumen Juris - RJ, 2010.
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