O Esteto e Pé de Atleta 91
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O Esteto e Pé de Atleta Número 91 Ano XVI
1
Editorial
O que dizer desse novo jornal? Tenho certeza de que ele representa a atualidade. Mudamos o formato
para tornar mais dinâmico o fluxo de pensamentos e ideias que acompanham nossos estudantes. Em
tempos de gastar dinheiro público para construir estádios de futebol para a Copa, julgamento do
Mensalão e greves de Federais, temos que estar sempre atentos a tudo o que acontece e por que não,
emitir opiniões e/ou divulgar. Esse novo Esteto é um convite à leitura, à escrita e a quaisquer outras
manifestações que queiram. Gostaríamos de receber textos, opiniões, desenhos e que surgissem
debates de tudo isso, afinal esse jornal é feito para vocês! Sejam todos bem-vindos e fiquem à vontade.
Torta ......................................................................................................................................................... Página 2
[...] prefiro ver e degustar a vida com mais doçura, com mais açúcar, com mais amor, com mais afeto.
“Ao mestre, com carinho” – Um depoimento da alfabetização de adultos ................................................... Página 2
Uma demonstração de que ninguém apenas ensina, mas também sempre aprende.
Capizza: Greve nas Federais .................................................................................................................... Página 3
Uma discussão organizada pelo Centro Acadêmico Pirajá da Silva sobre os motivos e as possíveis consequências da greve das universidades federais.
Além dos Muros – Disseram que era impossível ........................................................................................ Página 4
Após muitas desistências e desprezo pelos descrentes, o projeto Além dos Muros dá seu primeiro grande passo
na busca de uma melhor qualidade de vida à população.
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O Esteto e Pé de Atleta Número 91 Ano XVI
2
Torta
Frodo – XLVII
“Rua torta
Lua morta
Tua porta”
Desde pequeno sempre gostei de brincar com o
significado das palavras e antes mesmo de conhecer e
me apaixonar por este poema modernista de Cassiano
Ricardo, a tal torta em “rua torta” já me seria capaz de
vir à mente coberta de marshmellow – assado e
recheado com o azedo e com o frescor e o “silvestre”
do morango.
Não sou adepto, por outro lado, de utilizar as palavras
“azedo” e “morta”, etc – à torto e à direito, digo... no dia
a dia. Relembro da história de minha tia avó que
contou um dia que o pintor para quem servia um café
da tarde durante o intervalo em que restaurava a
parede de seu apartamento – referira-se ao bolo de
maracujá que a ele era oferecido com um “__ Nossa,
D. Zilda, mas a vida é tão amarga e a senhora ainda
me oferece um bolo de maracujá amargo desses!!!”.
Assim, diferentemente do pintor, prefiro ver e degustar
a vida com mais doçura, com mais açúcar, com mais
amor, com mais afeto – e é por isso que os adjetivos
que puderam lhes parecer melancólicos da Serenata
Sintética do Cassiano e por mim apropriada, peço-lhes
que os recebam mais leves.
O sintético e o simples desmascaram o peso e livram o
preconceito que o leitor pusera sobre a tortuosidade da
rua, esquecendo que os verdadeiros caminhos
possuem imperfeições e traçados nada retilíneos e que
a lua que (diziam) morrera com o crepúsculo - renasce
a cada dia, tímida ou reluzente como a dessas noites
juninas e que insisto em lhes convidar a enxerga-la
como linda como cheia, como fértil.
A tua porta? Sim, somente a cada leitor é dado o poder
de abri-la, por vontade própria. E para aqueles que em
nossa porta ousarem fitar e cantar: que os recebam
mais leves, com mais açúcar, com mais amor, com
mais afeto, sem desperdiçar a cobertura do bolo, digo –
da torta.
“Ao mestre, com carinho” Um depoimento da Alfabetização de Adultos
Bugiganga – XLIX
Falamos sobre reciclagem e compostagem. Enquanto
pensávamos que estávamos ensinando, dona Valdete
começou a falar com imensa propriedade sobre o todo
o óleo que ela guarda em casa, utilizando-o para fazer
sabão. Outras alunas ficaram super interessadas e ela
começou a ensinar pra todo mundo (inclusive pra nós,
professoras) a receita do sabão, que ela sempre fazia
e, inclusive, colocava até corantes pra fazer sabão
colorido! Foi o máximo! Além disso, ela recomendou o
uso das caixinhas de leite vazias como formas para o
sabão a ser moldado - e eu nunca tinha pensado nisso.
Um pouco mais tarde, individualmente, fui conversar
com a mesma dona Valdete sobre compostagem. Ela
nunca tinha ouvido falar nessa palavra. Ao perguntar
sobre o que ela faz com os restos de alimentos, ela me
disse que coloca todos os restos de vegetais, legumes,
frutas e cascas de ovos ao redor da laranjeira que ela
tem em casa - e eu nem tinha falado nada sobre
compostagem ainda! É, mais uma vez, chegamos lá
com a farinha e ela nos trouxe o bolo prontinho. Ela
sabia tudo sobre compostagem, sabia ainda que no
Lageado eles fazem isso em grande quantidade. Ela
sempre fez isso em casa, e disse que sua laranjeira
cresce forte e dá ótimas laranjas. Usa ainda a borra de
café com cinzas de seu fogão à lenha pra colocar nas
árvores pra não dar pulgão. E eu mais uma vez nunca
tinha ouvido falar nisso, fui lá pra ensinar e voltei de lá
ensinada.
Pra terminar, pedi pra que ela escrevesse em seu
caderno uma frase, um sentimento, qualquer coisa que
ela quisesse falar sobre a aula de hoje. Ela escreveu
assim: "A aula de hoje foi maravilhosa". Eu escreveria
no meu caderno a mesma coisa.
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O Esteto e Pé de Atleta Número 91 Ano XVI
3
Capizza: Greve nas Federais
Lilo – XLIX
Na sexta-feira, dia 3 de Agosto de 2012, ocorreu no
CAPS o Capizza sobre as Greves nas Federais. Como
poucos estão sabendo do que está acontecendo, por
causa do boicote da imprensa sobre as reivindicações
e propostas do governo para negociações, a primeira
discussão a ser feita foi sobre as alterações e metas do
PNE (Plano Nacional de Educação) atual. Foi feita a
leitura de texto que comparava as metas dos PNE’s
anteriores com esse que vigorará de 2011 a 2020
(Fonte: MEC).
Pode-se pensar: o que esse PNE tem a ver com as
Greves das Federais? Um dos itens aprovados (12.3
do Projeto de Lei) quer elevar o número de alunos por
professor de 10 para 18. Será que há estrutura para tal
aumento? Consegue imaginar mais 8 alunos
disputando a atenção de um docente, sendo que há
aulas que já são divididas em pequenos grupos em
nossa Universidade para que haja melhor
aproveitamento? Além disso, há outros pontos
discutíveis no PNE vigente: como a expansão do FIES
e a meta de elevar a taxa bruta de matrícula na
educação superior em 50% e a líquida para 33% (Meta
12 do Projeto de Lei).
O que pudemos concluir é que nosso Estado aprecia
números, mas não preza pela qualidade do que
pretende oferecer. Já sabemos que nossa escola
pública básica não é um exemplo de ensino, mas
atinge a meta de alunos matriculados. Será que é isso
que queremos para o ensino superior? Tais ilusões de
nosso governo só servem para que brechas, como a
progressão continuada, sejam adotadas e possam
enganar o Banco Mundial com expressões numéricas.
Agora, querer enganar o povo brasileiro e afundar
nossa sociedade em mentiras que somente mantêm
submissas nossa economia e ideologia (capitalismo e
consumo)...me parece uma imensa falta de
consideração que não me inspira respeito aos nossos
governantes.
Na verdade, as Greves nas Federais consolidam uma
realidade que o Brasil não quer ver: a sucata que virou
a Educação em nosso país. Vê-se a luta para a
substituição de infra-estrutura precária por lugares
decentes que sejam comparáveis às instituições
privadas, cada vez mais fomentadas por nosso
Ministério da Educação. Este que conta com
organizações como a UNE (que não mais representa
as reivindicações estudantis, mas interesses próprios e
da situação e, não mais oposição), a CUT (o que ela
tem a ver com Educação mesmo?!)e outras que
aceitaram, sem ao menos titubear, metas e decisões
esvaziadas de qualquer desejo verdadeiro de realizar a
melhora do futuro.
A privatização da educação é cada vez mais regra e,
fica claro com isso, a lavagem de mãos do Estado, a
total falta de comprometimento e de vontade de
valorizar o ensino público e de qualidade. Por essa
razão, as Federais lutam para manter sua boa
qualidade e serem reconhecidas pelo governo como
instituições de respeito e não como meras
propagandas e/ou massas de manobra.
Queimando o Filme
“Os assaltistas entraram antes!” – DOPA7 (XLVIII) falando sobre o assalto à sua casa.
“Professor, vem aqui dar uma olhada nas minhas pregas?” – Ggeyse (XLVIII) na aula de otorrino.
“Paciente fez uso de Dipiroca” – Pega na minha (XLVIII) explicando o caso durante o IUSC.
“Porco é o melhor animal: come alface e dá bacon!” – Ynhay (L).
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O Esteto e Pé de Atleta Número 91 Ano XVI
4
Além dos Muros – Disseram que era impossível
Napalm, XLVII
Quanta esperança nesses últimos tempos. Assim têm sido os sentimentos das pessoas que têm participado dessa ideia. Após mais de um ano de sonhos, reuniões, acordos com professores, contatos com organizações diversas, dezenas de páginas e noites de sono perdidas desenhando uma ideia, finalmente começamos a botar a mão na massa! Partindo de um grupo diversificado de pessoas, cada qual com um objetivo e gosto diferente –atualmente já contamos com participação da Medicina, Enfermagem, Nutrição, Biologia e Medicina Veterinária – o mais recente empreendimento em extensão popular na Unesp de Botucatu começou a tomar forma no dia 16 de Junho, quando foi realizada a primeira visita de reconhecimento territorial e aplicação experimental de questionários sobre doenças crônicas não transmissíveis, hábitos alimentares e anseios por melhorias no bairro que servirão de base para a aproximação, diálogo e futuras construções conjuntas entre acadêmicos e residentes do bairro de Rubião Jr. Percebemos que a população é heterogênea e, ao contrário do que muitos pensam aqui na Unesp, não é um bairro humilde, mas um quadro do típico contraste brasileiro. Há pessoas de todas as classes. Piscinas e
fossas, utilitários esportivos e fuscas, mansões e puxadinhos. Assim o desafio se torna ainda mais invigorante à medida que enfrentamos diferentes reações e opiniões dos moradores sobre nossa presença e as demandas de melhoria para sua qualidade de vida no bairro. Tudo isso após muitos desistirem, desprezarem ou rirem do nosso projeto. Chamaram-no de utópico ou ‘sonhador demais’. Mesmo assim, aceitamos a descrença como elogio, pois tudo o que construímos na história de nossas faculdades em Botucatu veio de sonhos! Sonhos por cursos melhores, por democracias e perseverança mesmo na época em que imperava a palavra do medo e do cacete. Por isso estamos felizes em dizer que também ousamos ‘sonhar demais’ como a maioria dos formados na FCMBB e Unesp já fizeram algum dia. Estamos assumindo a nossa vez. Agora, os planos são terminar o levantamento nas 6 microrregiões restantes e construir uma identidade coletiva junto à comunidade. É dessa forma que queremos começar uma nova proposta de extensão popular, produção científica contra-hegemônica ou qualquer outro nome que se queira dar. Não importa. Estamos fazendo o que todos disseram ser impossível!
Figura 1 - Rubião júnior: Primeiro palco para o Além dos Muros
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O Esteto e Pé de Atleta Número 91 Ano XVI
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Arte
Fissura, XLVII
Tamagoxi, XLVII
Era misteriosa, aquela curva em suas feições. A cada jogada de cabelos ao ar, novas formas se
completavam ao rosto, dando a forma de um suave sorriso após um beijo.
Foi quando percebi. Não era ela que ficava mais bonita. Eram meus olhos que denunciavam: vi o amor.
Napalm, XLVII