O Esteto e Pé de Atleta 91

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O Esteto e Pé de Atleta Número 91 Ano XVI 1 Editorial O que dizer desse novo jornal? Tenho certeza de que ele representa a atualidade. Mudamos o formato para tornar mais dinâmico o fluxo de pensamentos e ideias que acompanham nossos estudantes. Em tempos de gastar dinheiro público para construir estádios de futebol para a Copa, julgamento do Mensalão e greves de Federais, temos que estar sempre atentos a tudo o que acontece e por que não, emitir opiniões e/ou divulgar. Esse novo Esteto é um convite à leitura, à escrita e a quaisquer outras manifestações que queiram. Gostaríamos de receber textos, opiniões, desenhos e que surgissem debates de tudo isso, afinal esse jornal é feito para vocês! Sejam todos bem-vindos e fiquem à vontade. Torta ......................................................................................................................................................... Página 2 [...] prefiro ver e degustar a vida com mais doçura, com mais açúcar, com mais amor, com mais afeto. “Ao mestre, com carinho” – Um depoimento da alfabetização de adultos ................................................... Página 2 Uma demonstração de que ninguém apenas ensina, mas também sempre aprende. Capizza: Greve nas Federais .................................................................................................................... Página 3 Uma discussão organizada pelo Centro Acadêmico Pirajá da Silva sobre os motivos e as possíveis consequências da greve das universidades federais. Além dos Muros Disseram que era impossível ........................................................................................ Página 4 Após muitas desistências e desprezo pelos descrentes, o projeto Além dos Muros dá seu primeiro grande passo na busca de uma melhor qualidade de vida à população.

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Informativo Oficial dos Estudantes da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP

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O Esteto e Pé de Atleta Número 91 Ano XVI

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Editorial

O que dizer desse novo jornal? Tenho certeza de que ele representa a atualidade. Mudamos o formato

para tornar mais dinâmico o fluxo de pensamentos e ideias que acompanham nossos estudantes. Em

tempos de gastar dinheiro público para construir estádios de futebol para a Copa, julgamento do

Mensalão e greves de Federais, temos que estar sempre atentos a tudo o que acontece e por que não,

emitir opiniões e/ou divulgar. Esse novo Esteto é um convite à leitura, à escrita e a quaisquer outras

manifestações que queiram. Gostaríamos de receber textos, opiniões, desenhos e que surgissem

debates de tudo isso, afinal esse jornal é feito para vocês! Sejam todos bem-vindos e fiquem à vontade.

Torta ......................................................................................................................................................... Página 2

[...] prefiro ver e degustar a vida com mais doçura, com mais açúcar, com mais amor, com mais afeto.

“Ao mestre, com carinho” – Um depoimento da alfabetização de adultos ................................................... Página 2

Uma demonstração de que ninguém apenas ensina, mas também sempre aprende.

Capizza: Greve nas Federais .................................................................................................................... Página 3

Uma discussão organizada pelo Centro Acadêmico Pirajá da Silva sobre os motivos e as possíveis consequências da greve das universidades federais.

Além dos Muros – Disseram que era impossível ........................................................................................ Página 4

Após muitas desistências e desprezo pelos descrentes, o projeto Além dos Muros dá seu primeiro grande passo

na busca de uma melhor qualidade de vida à população.

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O Esteto e Pé de Atleta Número 91 Ano XVI

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Torta

Frodo – XLVII

“Rua torta

Lua morta

Tua porta”

Desde pequeno sempre gostei de brincar com o

significado das palavras e antes mesmo de conhecer e

me apaixonar por este poema modernista de Cassiano

Ricardo, a tal torta em “rua torta” já me seria capaz de

vir à mente coberta de marshmellow – assado e

recheado com o azedo e com o frescor e o “silvestre”

do morango.

Não sou adepto, por outro lado, de utilizar as palavras

“azedo” e “morta”, etc – à torto e à direito, digo... no dia

a dia. Relembro da história de minha tia avó que

contou um dia que o pintor para quem servia um café

da tarde durante o intervalo em que restaurava a

parede de seu apartamento – referira-se ao bolo de

maracujá que a ele era oferecido com um “__ Nossa,

D. Zilda, mas a vida é tão amarga e a senhora ainda

me oferece um bolo de maracujá amargo desses!!!”.

Assim, diferentemente do pintor, prefiro ver e degustar

a vida com mais doçura, com mais açúcar, com mais

amor, com mais afeto – e é por isso que os adjetivos

que puderam lhes parecer melancólicos da Serenata

Sintética do Cassiano e por mim apropriada, peço-lhes

que os recebam mais leves.

O sintético e o simples desmascaram o peso e livram o

preconceito que o leitor pusera sobre a tortuosidade da

rua, esquecendo que os verdadeiros caminhos

possuem imperfeições e traçados nada retilíneos e que

a lua que (diziam) morrera com o crepúsculo - renasce

a cada dia, tímida ou reluzente como a dessas noites

juninas e que insisto em lhes convidar a enxerga-la

como linda como cheia, como fértil.

A tua porta? Sim, somente a cada leitor é dado o poder

de abri-la, por vontade própria. E para aqueles que em

nossa porta ousarem fitar e cantar: que os recebam

mais leves, com mais açúcar, com mais amor, com

mais afeto, sem desperdiçar a cobertura do bolo, digo –

da torta.

“Ao mestre, com carinho” Um depoimento da Alfabetização de Adultos

Bugiganga – XLIX

Falamos sobre reciclagem e compostagem. Enquanto

pensávamos que estávamos ensinando, dona Valdete

começou a falar com imensa propriedade sobre o todo

o óleo que ela guarda em casa, utilizando-o para fazer

sabão. Outras alunas ficaram super interessadas e ela

começou a ensinar pra todo mundo (inclusive pra nós,

professoras) a receita do sabão, que ela sempre fazia

e, inclusive, colocava até corantes pra fazer sabão

colorido! Foi o máximo! Além disso, ela recomendou o

uso das caixinhas de leite vazias como formas para o

sabão a ser moldado - e eu nunca tinha pensado nisso.

Um pouco mais tarde, individualmente, fui conversar

com a mesma dona Valdete sobre compostagem. Ela

nunca tinha ouvido falar nessa palavra. Ao perguntar

sobre o que ela faz com os restos de alimentos, ela me

disse que coloca todos os restos de vegetais, legumes,

frutas e cascas de ovos ao redor da laranjeira que ela

tem em casa - e eu nem tinha falado nada sobre

compostagem ainda! É, mais uma vez, chegamos lá

com a farinha e ela nos trouxe o bolo prontinho. Ela

sabia tudo sobre compostagem, sabia ainda que no

Lageado eles fazem isso em grande quantidade. Ela

sempre fez isso em casa, e disse que sua laranjeira

cresce forte e dá ótimas laranjas. Usa ainda a borra de

café com cinzas de seu fogão à lenha pra colocar nas

árvores pra não dar pulgão. E eu mais uma vez nunca

tinha ouvido falar nisso, fui lá pra ensinar e voltei de lá

ensinada.

Pra terminar, pedi pra que ela escrevesse em seu

caderno uma frase, um sentimento, qualquer coisa que

ela quisesse falar sobre a aula de hoje. Ela escreveu

assim: "A aula de hoje foi maravilhosa". Eu escreveria

no meu caderno a mesma coisa.

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O Esteto e Pé de Atleta Número 91 Ano XVI

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Capizza: Greve nas Federais

Lilo – XLIX

Na sexta-feira, dia 3 de Agosto de 2012, ocorreu no

CAPS o Capizza sobre as Greves nas Federais. Como

poucos estão sabendo do que está acontecendo, por

causa do boicote da imprensa sobre as reivindicações

e propostas do governo para negociações, a primeira

discussão a ser feita foi sobre as alterações e metas do

PNE (Plano Nacional de Educação) atual. Foi feita a

leitura de texto que comparava as metas dos PNE’s

anteriores com esse que vigorará de 2011 a 2020

(Fonte: MEC).

Pode-se pensar: o que esse PNE tem a ver com as

Greves das Federais? Um dos itens aprovados (12.3

do Projeto de Lei) quer elevar o número de alunos por

professor de 10 para 18. Será que há estrutura para tal

aumento? Consegue imaginar mais 8 alunos

disputando a atenção de um docente, sendo que há

aulas que já são divididas em pequenos grupos em

nossa Universidade para que haja melhor

aproveitamento? Além disso, há outros pontos

discutíveis no PNE vigente: como a expansão do FIES

e a meta de elevar a taxa bruta de matrícula na

educação superior em 50% e a líquida para 33% (Meta

12 do Projeto de Lei).

O que pudemos concluir é que nosso Estado aprecia

números, mas não preza pela qualidade do que

pretende oferecer. Já sabemos que nossa escola

pública básica não é um exemplo de ensino, mas

atinge a meta de alunos matriculados. Será que é isso

que queremos para o ensino superior? Tais ilusões de

nosso governo só servem para que brechas, como a

progressão continuada, sejam adotadas e possam

enganar o Banco Mundial com expressões numéricas.

Agora, querer enganar o povo brasileiro e afundar

nossa sociedade em mentiras que somente mantêm

submissas nossa economia e ideologia (capitalismo e

consumo)...me parece uma imensa falta de

consideração que não me inspira respeito aos nossos

governantes.

Na verdade, as Greves nas Federais consolidam uma

realidade que o Brasil não quer ver: a sucata que virou

a Educação em nosso país. Vê-se a luta para a

substituição de infra-estrutura precária por lugares

decentes que sejam comparáveis às instituições

privadas, cada vez mais fomentadas por nosso

Ministério da Educação. Este que conta com

organizações como a UNE (que não mais representa

as reivindicações estudantis, mas interesses próprios e

da situação e, não mais oposição), a CUT (o que ela

tem a ver com Educação mesmo?!)e outras que

aceitaram, sem ao menos titubear, metas e decisões

esvaziadas de qualquer desejo verdadeiro de realizar a

melhora do futuro.

A privatização da educação é cada vez mais regra e,

fica claro com isso, a lavagem de mãos do Estado, a

total falta de comprometimento e de vontade de

valorizar o ensino público e de qualidade. Por essa

razão, as Federais lutam para manter sua boa

qualidade e serem reconhecidas pelo governo como

instituições de respeito e não como meras

propagandas e/ou massas de manobra.

Queimando o Filme

“Os assaltistas entraram antes!” – DOPA7 (XLVIII) falando sobre o assalto à sua casa.

“Professor, vem aqui dar uma olhada nas minhas pregas?” – Ggeyse (XLVIII) na aula de otorrino.

“Paciente fez uso de Dipiroca” – Pega na minha (XLVIII) explicando o caso durante o IUSC.

“Porco é o melhor animal: come alface e dá bacon!” – Ynhay (L).

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Além dos Muros – Disseram que era impossível

Napalm, XLVII

Quanta esperança nesses últimos tempos. Assim têm sido os sentimentos das pessoas que têm participado dessa ideia. Após mais de um ano de sonhos, reuniões, acordos com professores, contatos com organizações diversas, dezenas de páginas e noites de sono perdidas desenhando uma ideia, finalmente começamos a botar a mão na massa! Partindo de um grupo diversificado de pessoas, cada qual com um objetivo e gosto diferente –atualmente já contamos com participação da Medicina, Enfermagem, Nutrição, Biologia e Medicina Veterinária – o mais recente empreendimento em extensão popular na Unesp de Botucatu começou a tomar forma no dia 16 de Junho, quando foi realizada a primeira visita de reconhecimento territorial e aplicação experimental de questionários sobre doenças crônicas não transmissíveis, hábitos alimentares e anseios por melhorias no bairro que servirão de base para a aproximação, diálogo e futuras construções conjuntas entre acadêmicos e residentes do bairro de Rubião Jr. Percebemos que a população é heterogênea e, ao contrário do que muitos pensam aqui na Unesp, não é um bairro humilde, mas um quadro do típico contraste brasileiro. Há pessoas de todas as classes. Piscinas e

fossas, utilitários esportivos e fuscas, mansões e puxadinhos. Assim o desafio se torna ainda mais invigorante à medida que enfrentamos diferentes reações e opiniões dos moradores sobre nossa presença e as demandas de melhoria para sua qualidade de vida no bairro. Tudo isso após muitos desistirem, desprezarem ou rirem do nosso projeto. Chamaram-no de utópico ou ‘sonhador demais’. Mesmo assim, aceitamos a descrença como elogio, pois tudo o que construímos na história de nossas faculdades em Botucatu veio de sonhos! Sonhos por cursos melhores, por democracias e perseverança mesmo na época em que imperava a palavra do medo e do cacete. Por isso estamos felizes em dizer que também ousamos ‘sonhar demais’ como a maioria dos formados na FCMBB e Unesp já fizeram algum dia. Estamos assumindo a nossa vez. Agora, os planos são terminar o levantamento nas 6 microrregiões restantes e construir uma identidade coletiva junto à comunidade. É dessa forma que queremos começar uma nova proposta de extensão popular, produção científica contra-hegemônica ou qualquer outro nome que se queira dar. Não importa. Estamos fazendo o que todos disseram ser impossível!

Figura 1 - Rubião júnior: Primeiro palco para o Além dos Muros

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Arte

Fissura, XLVII

Tamagoxi, XLVII

Era misteriosa, aquela curva em suas feições. A cada jogada de cabelos ao ar, novas formas se

completavam ao rosto, dando a forma de um suave sorriso após um beijo.

Foi quando percebi. Não era ela que ficava mais bonita. Eram meus olhos que denunciavam: vi o amor.

Napalm, XLVII