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O ESTUDO DA PAISAGEM APLICADO A DINÂMICA DA ÁREA COSTEIRA DE SÃO JOÃO DA PONTA-PA TELES, GEISE CORRÊA (1); PIMENTEL, MÁRCIA APARECIDA DA SILVA (2) 1. Mestranda em Geografia (UFPA) - Geise-Corrê[email protected] 2. Profª. Adjunta da Universidade Federal do Pará - [email protected] Resumo O presente estudo objetivou apresentar uma aplicação metodológica para análise da paisagem na área costeira de São João da Ponta, localizada no estado do Pará. Tal pesquisa foi realizada sob a perspectiva do modelo GTP, proposta por Bertrand (2007), sendo este uma proposta de organização teórica metodológica que permite uma análise ambiental pautada em uma tríade conceitual geográfica possibilitando assim aprofundar as reflexões e correlações entre os aspectos físicos- naturais (Geossitema), sócio-econômicos (Território) e culturais (Paisagem). Sob essa base conceitual foram selecionados alguns direcionamentos, que serão necessários para o entendimento da paisagem, pois a sua compreensão, não corresponde a simples adição desses elementos, e sim a correlação entre eles, que pode parecer simples, mas requer uma análise mais profunda da realidade. Por isso consideramos este estudo preliminar. Palavras-Chave: Reserva Extrativista, Geossistema, Território e Paisagem

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O ESTUDO DA PAISAGEM APLICADO A DINÂMICA DA ÁREA COSTEIRA DE SÃO JOÃO DA PONTA-PA

TELES, GEISE CORRÊA (1); PIMENTEL, MÁRCIA APARECIDA DA SILVA (2)

1. Mestranda em Geografia (UFPA)

- Geise-Corrê[email protected]

2. Profª. Adjunta da Universidade Federal do Pará

- [email protected]

Resumo

O presente estudo objetivou apresentar uma aplicação metodológica para análise da paisagem na

área costeira de São João da Ponta, localizada no estado do Pará. Tal pesquisa foi realizada sob a

perspectiva do modelo GTP, proposta por Bertrand (2007), sendo este uma proposta de organização

teórica metodológica que permite uma análise ambiental pautada em uma tríade conceitual

geográfica possibilitando assim aprofundar as reflexões e correlações entre os aspectos físicos-

naturais (Geossitema), sócio-econômicos (Território) e culturais (Paisagem). Sob essa base

conceitual foram selecionados alguns direcionamentos, que serão necessários para o entendimento

da paisagem, pois a sua compreensão, não corresponde a simples adição desses elementos, e sim a

correlação entre eles, que pode parecer simples, mas requer uma análise mais profunda da

realidade. Por isso consideramos este estudo preliminar.

Palavras-Chave: Reserva Extrativista, Geossistema, Território e Paisagem

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Introdução

O desenvolvimento da paisagem, quanto categoria de análise da ciência geográfica, tem

acompanhado as mudanças ocorridas nesta mesma ciência, essas transformações que ora

favoreceram a fragmentação da geografia, no próprio âmbito da geografia física, ora

buscaram uma integração dos diversos ramos da ciência geográfica, chegaram a certo

amadurecimento, considerando que o entendimento da totalidade, assim como de parcelas

da totalidade, a exemplo da paisagem, deve partir de uma perspectiva transdiciplinar, uma

vez que o diálogo das ciências favorece a compreensão das mudanças ocorridas na

realidade.

Ao estudarmos a paisagem em unidades de conservação, não devemos considerar apenas

a configuração atual dessa paisagem, pois ela é resultado de mudanças no tempo e no

espaço, que são reflexos das atuações geológicas-geomorfológicas, e ações antrópicas,

que circunscritas na dimensão física do espaço, dão origem a diferentes territorialidades.

Essa combinação espaço temporal de análise da paisagem, requer conhecimentos amplos

que vão além da dimensão física, estendendo-se a análise das relações estabelecidas no

território, pois a sua organização é condicionada por ações de diferentes grupos muitas

vezes conflitantes. No caso de uma unidade de conservação como uma reserva extrativista

marinha, deve-se considerar a legislação que determina o uso legal dos recursos, e o

próprio modo de vida da população local, que acaba condicionando essas práticas.

Nesse contexto considera-se necessário uma aplicação metodológica que contemple o

entendimento dos diversos aspectos que dão origem a paisagem. O GTP (Geossistema,

Território e Paisagem), proposto por Bertrand (2007), representa uma tentativa de análise

integradora da realidade que perpassa por uma geografia transversal, que dialoga nos

diversos ramos da geografia, e da geografia com outras ciências. O GTP representa um

progresso epistemológico em relação ao conceito precedente de análise da paisagem, o

geossistema, pois busca romper com a idéia de fragmentação da ciência, materializada nos

diversos ramos refletidos nas especializações.

Considera-se a aplicação do GTP, um desafio, pois sua perspectiva de análise é reflexo de

uma proposta interdisciplinar, que exige a busca de outros conhecimentos, que extrapolam

os limites da ciência geográfica. Dentro dos limites da nossa área de conhecimento, e

buscando dialogar com outras ciências, este estudo procurou mostrar os caminhos para a

aplicação do sistema GTP, tomando como base a reserva extrativista de São João da

Ponta. A finalidade não é criar uma receita, mas elucidar os caminhos da análise proposta

por Bertrand.

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Objetivos

O objetivo do geral presente artigo é desenvolver e sistematizar algumas informações do

trabalho de Bertrand (2007), que podem elucidar os caminhos para a análise da paisagem.

Dentro da análise proposta do GTP, consideram-se os seguintes objetivos específicos:

Apontar as definições conceituais do GTP, relacionando-as;

Indicar as preposições práticas sobre a aplicação de cada conceito;

Contribuir para o estudo da paisagem, mesmo que de forma preliminar.

Metodologia

Para atingir os objetivos propostos pelo presente trabalho, adotaram-se os seguintes

procedimentos metodológicos:

Pesquisa bibliográfica e documental: levantamento do referencial bibliográfico

referente ao GTP, e aplicações metodológicas referentes a esse método de análise;

Sistematização de dados: organização elementos que podem dar subsídios para a

análise integrada da paisagem, tomando como base o município de São João da Ponta-PA.

Caracterização da área de estudo

O município de São João da Ponta faz parte da costa nordeste do Estado do Pará,

especificadamente da chamada microrregião do salgado, que apresenta alta diversidade de

ecossistemas. Dentre os ecossistemas da região destacam-se os manguezais, que

apresentam aparentemente um baixo grau de degradação ambiental, e são essenciais para

as populações tradicionais, pois deles são retirados os recursos vitais para a subsistência da

população local (PROST, et. al, 2001).

Segundo informações do IBGE (2010), São João da Ponta possui uma área territorial de

195,92 Km² de extensão e uma população de aproximadamente 5.265 mil habitantes, o

município foi criado em 27 de dezembro de 1995, por meio da Lei Estadual nº 5.920, que

desmembrou esse novo município, do município de São Caetano de Odivelas, a lei foi

sancionada pelo governador da época, o senhor Almir José de Oliveira Gabriel.

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Mapa 1- Localização do município- de São João da Ponta, microrregião do salgado, é um dos

municípios litorâneos e costeiros do Pará, que compõem a costa de manguezais do salgado

paraense (IBGE, 2010).

A análise da paisagem com base na proposta do GTP

Sabemos que a análise da paisagem sofreu diversas modificações ao longo do

desenvolvimento da ciência geográfica, dissociando-se cada vez mais da visão estática das

pinturas e jardins do século XVII, para uma relação mais estreita entre a análise do homem

com a natureza. Maximiano (2004), em seu artigo intitulado ‘Considerações sobre o conceito

de paisagem’, mostra com clareza todo o percurso desta categoria ao longo do

desenvolvimento da ciência geográfica. Ele expõe que a paisagem inicialmente ligada aos

elementos naturais, e ao belo, colocava em oposição o homem e a natureza, pois a

paisagem era composta por elementos naturais, que se materializavam em quadros

estáticos, provenientes da pintura, o homem nesse contexto inicial de análise da paisagem,

não fazia parte dela. Segundo o autor à medida que a ciência geográfica vai estreitando a

relação homem/natureza, pois assim como objeto do interesse da pesquisa, a paisagem

também pode ser entendida como produto da interação entre os elementos de origem

natural e humana, em um determinado espaço.

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Maximiano (2004) considera que embora a paisagem não seja o espaço geográfico, ela

pode ser entendida a partir da manifestação deste, como uma medida multidimensional de

compreensão do lugar. Isso quer dizer que para compreendermos a paisagem, temos que

relacioná-las a outras categorias de análise geográfica, e também recorrer a estudos

multidisciplinares.

Bem próxima de uma análise integrada da paisagem, o GTP (proposto por Bertrand, 2007)

surge com uma perspectiva mais ampla que não privilegia apenas os elementos físicos da

paisagem, e nem os elementos humanos, mas busca uma integração entre eles.

Na imagem a baixo podemos observar a complexidade inerente a paisagem sobre a

perspectiva do GTP.

Figura 1– Síntese da noção de paisagem em geografia de acordo com as concepções dos autores

(Dias, Bertrand, Passos, Dollfus, Juillard, Tricart, Rougerie, Beroutchachivili e Souza). (2012)

É possível observar nessa figura que cada conceito possui algumas características

particulares, e a relação que envolve a complexidade de cada um deles, é que da origem a

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síntese da paisagem. O GTP é um novo projeto geográfico ao passo que propõe a

integração como ponto de partida primordial ao estudo da realidade.

Baseado na análise do trabalho de Bertrand (2007), Souza (2010), apresenta um algumas

considerações para cada conceito. Do ponto de vista naturalista, deve-se considerar a

dinâmica geral do potencial geoecológico, firmados na vegetação, solo, e formação

geológica, ou seja, em todos os aspectos físicos, que constituem a base territorial da

paisagem.

Do ponto de vista da (des)organização territorial, deve-se considerar as formas de uso da

terra, e a relação existente entre a população e os recursos naturais. Considerando o

território como possibilidade da entrada sócioeconômica no estudo do meio ambiente,

Bertrand considerou aplicabilidade de apenas uma das dimensões dessa categoria, uma vez

que, na perspectiva da análise integrada, é indispensável encontrar o caminho para

contextualizar as relações econômicas que se dão sobre o ambiente. Ao discorrer sobre a

necessidade de territorializar o meio ambiente rural francês, o autor destaca aspectos

indispensáveis às pesquisas com objetivo na interface sociedade-natureza relativas a uma

história ecológica do território, a qual teria as seguintes preocupações: em primeiro lugar

tratar o espaço rural como uma entidade ecológica, com a ajuda de conceitos dessa ciência;

segundo lugar, examinar os diferentes tipos de espaços rurais, em função de sua escala

espacial (parcela, território, pays, região natural) e sua repercussão econômica (espaços

cultivados, pastoris, florestais); terceiro lugar, finalmente abordar as difíceis questões

históricas da produção agrícola e da vida rural. O autor completa sua noção sobre território

na proposta do GTP comentando que esse conceito é muito conhecido pelos geógrafos,

pois permite analisar as repercussões da organização e dos funcionamentos sociais e

econômicos sobre o espaço considerado, como aponta, Souza (2010).

Do ponto de vista paisagístico, o quadro geral nos remete diretamente às dinâmicas

socioambientais/territoriais. A paisagem, neste sentido, irrompe como um híbrido entre

homem e meio, entre sociedade e ambiente. Ela nos fornece elementos norteadores ao

entendimento da problemática social, da ambiental, da socioambiental: entre a economia e a

ecologia; entre as práticas quotidianas e os projetos de desenvolvimento; entre

conhecimento científico/filosófico e sabedoria popular.

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No modelo GTP, a paisagem corresponde à artialização erigida pelas sociedades.

Considerando a diversidade cultural do mundo, é através da paisagem que se permite a

análise de fenômenos ou objetos que só existem em determinadas pontos do espaço,

favorecendo, inclusive, que a mesma seja identificada em função da existência de tal

fenômeno. A paisagem constitui uma categoria muito discutida na Geografia e em outros

estudos ambientais como em Biologia, Ecologia, Geomorfologia e outras. Ela possibilita a

reflexão sobre as relações mais intrínsecas das populações com a natureza dos territórios

por elas ocupados. As paisagens refletem a sensibilidade das pessoas com os elementos da

natureza; elas também constituem a própria dinâmica e a fisionomia da mesma. A origem da

paisagem está relacionada à existência do próprio ser humano, a partir do primeiro olhar

sobre o espaço. Esse olhar, segundo Bertrand é um olhar cruzado no qual cada indivíduo

tem o seu projeto para a mesma, de forma a atribuir o interesse que lhe for apropriado.

Nesse sentido é que o referido autor defende que “a cada um, a sua paisagem” e a

investigação da ou na mesma deve priorizar abordagens interdisciplinares, com atenção à

subjetividade que permite conhecer a porção da paisagem que não se expõe ao olhar do

investigador. Assim, é necessária uma aproximação entre as diferentes noções conceituais

que a categoria paisagem tem ou teve ao longo do desenvolvimento epistemológico da

geografia ou ainda de outras ciências.

Ao entendermos o que representa cada um desses elementos e a interação entre eles,

temos o desafio aplicá-lo a nossos estudos.

Aplicação do GTP na área costeira do município de São João da Ponta

O primeiro passo é fazer uma síntese da formação territorial do município, indicando suas

principais características geológicas e geomorfológicas, seu processo de ocupação, os

principais recursos incluindo os usos da terra e as modificações instituídas na utilização

desses recursos.

O quadro a baixo faz uma síntese do processo de formação territorial do município.

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Quadro síntese de formação territorial da área estudada (Adaptado, Bertrand 2007).

Ao conhecer as características tanto físicas, quanto sociais de formação do território,

posteriormente é necessário conhecer quatro premissas básicas ou “verbetes”, como

denomina Bertrand, são eles: Os locais paisagísticos que são um conjunto de corpos

materiais (árvores, muralha, colina) definidos por seu volume, suas propriedades bio-físico-

químicas, seu agenciamento e seu funcionamento (sobre a base do método do

geossistema); Os atores da paisagem, individuais ou coletivos, atuais ou passados,

endógenos ou exógenos em relação ao território considerado com sua carga de memória

patrionial; Os projetos da paisagem que exprimem o tipo de relação entre os lugares e os

atores e que podem ser tanto contemplativos quanto econômicos (passantes,

empreendedores, etc); Os tempos da paisagem que combinam o tempo linear “histórico”,

aquele das sociedades humanas como aquele da natureza, com o tempo circular das

estações (fenologia e sucessão dos “estados” paisagísticos).

Síntese da formação territorial do município de São João da Ponta

Elemento da estrutura geoecológica

A configuração da zona costeira paraense é altamente recortada com a presença de

amplas reentrâncias também conhecida como litoral de rias (Costa de Manguezais de

Macromaré da Amazônia definida por Souza Filho, 2005). A geologia apresenta-se, em

grande parte, formada pelos depósitos de sedimentos de idade terciária da Formação

Barreiras, principalmente constituindo as partes mais internas de seu território (planaltos

costeiros) e pelos sedimentos fluviomarinhos e marinhos datados do Quaternário atual e

subatual. Em termos morfoestruturais, a costa paraense apresenta planícies de

inundações, terraços e esporádicos restos de tabuleiros, inseridos em duas unidades do

relevo regional: Planalto Rebaixado da Amazônia e Litoral de "Rias";

Ocupação Trata-se de um área de ocupação e colonização, com grande influência dos

portugueses, espanhóis e holandeses. Com a chegada destes colonizadores,

especialmente os portugueses, esta região começou a sofrer transformações no estilo

de vida, costumes e economia. As aldeias que outrora representavam as únicas formas

de aglomeração começavam a ter um fluxo maior de pessoas em busca de alimentos e

bens, para ser enviados a Portugal.Nesta região sugiram os pesqueiros reais,

especialmente em Vigia, que abasteciam com pescado a corte de Portugal, além das

fazendas de café. O extrativismo dos manguezais, das várzeas e igapós representava

uma das formas de sobrevivência destas populações ribeirinhas;

Motivações

para uso da

terra

Pesca artesanal, coleta de caranguejo, agricultura familiar e extrativismo com pouca

degradação ambiental;

Redefinições Aumento da produção começa a surgir a agricultura intensiva, aumentam as práticas

predatórias.

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Subsistemas da paisagem da área costeira de São João da Ponta

Os locais

paisagísticos

O Planalto Costeiro encontra-se edificado na unidade geológica Grupo Barreiras e nos depósitos pleistocênicos do Pós-Barreiras. O relevo é constituído por colinas de topo aplainado, localmente arredondado, com formas irregulares, e cotas altimétricas em torno de 50 m. Normalmente encontra-se recoberto por floresta secundária (capoeiras e/ou capoeirões). A Planície Aluvial corresponde ás áreas planas, topograficamente mais baixas, pobremente drenada, localizada nas adjacências de canais fluviais ativos, limitados por diques marginais. Funcionam como áreas de decantação, formando sedimentos compostos por silte e argila, sobretudo nos períodos de maior índice pluviométrico (período de cheias dos rios).

A Planície Estuarina é representada pelos setores do litoral onde há interações entre processos marinhos e fluviais, com predominância dos primeiros. O limite interno deste domínio corresponde ao contato com a planície aluvial e, externamente, pela plataforma continental adjacente. Encontra-se dividida em três unidades morfológicas: canal estuarino, canal de maré, funil estuarino e barras arenosas. A foz dos estuários é caracterizada pela presença de barras arenosas, enquanto que o setor mais interno do estuário apresenta-se sinuoso, com meandros regulares.

A Planície Costeira corresponde a uma faixa de terra de largura variável (de metros a quilômetros), que se estende do limite continental dos depósitos quaternários costeiro, normalmente marcado por uma variação topográfica, até a linha de maré baixa. Falésias ativas, dunas frontais ou uma linha permanente de vegetação marcam este limite interno. Dentre os ambientes constituintes destacam-se as planícies de maré, paleodunas, dunas recentes, manguezais e praias;

Os atores da

paisagem

Agricultores, extrativistas, catadores de caranguejo, funcionários públicos

e pequenos comerciantes;

Os projetos da

paisagem

O manguezal principal forma de sustento das comunidades locais;

agricultura familiar, baseada no cultivo de mandioca e frutas;

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Quadro síntese de análise da área estudada (Adaptado, Bertrand 2007).

Os tempos da

paisagem

A abertura de estradas no município facilitou o escoamento da produção,

e intensificou a produção agrícola para o mercado, assim como foi

responsável pela inserção de novas práticas produtivas voltadas para o

mercado, essa nova configuração trouxe mudanças significativas para a

paisagem local, aumentando algumas práticas degradativas.

Figura 1- Plantação de Mandioca, um dos cultivos mais comuns na região.

Figura 2- Terreno limpo para o plantio de pimenta do reino, pertencente a um proprietário de fora do município. Fonte: Geise Teles, 2012.

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Ao serem identificados os subsistemas da paisagem, reconhecem-se grande parte da sua

estrutura, que deve ser complementada pela percepção e representação da paisagem, que

vão revelar as impressões dos atores sociais a respeito da mesma, pois segundo Bertrand a

paisagem deve incluir o sensível, o perceptível, não por parte dos cientistas, mas por parte

das comunidades locais, os diferentes olhares, os juízos de valor e as memórias. O quadro

a baixo é uma síntese dessa representação.

Esquema 1: Convergência de diferentes olhares sobre o território e a paisagem. Todas as formas de um indivíduo apreender seu espaço de vivência nos fornecem importantes elementos para aprofundarmos nosso conhecimento sobre as dinâmicas socioambientais em um dado território. (Org.: Reginaldo J. Souza,2010).

Para escolhermos as paisagens que representam os atores sociais das comunidades locais,

teríamos que realizar entrevistas semidirigidas, e reconhecer alguns elementos da paisagem

que fazem parte da representação e imaginário de cada um deles. Como este é um estudo

preliminar, escolhemos dois elementos que representam bem as comunidades locais, são

eles o mangue e a sede do município.

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Figura 3- O Manguezal presente na região é fundamental para o sustento da população local.

O manguezal, que está ligado principalmente à coleta de caranguejo. A coleta de

caranguejo, a pesca, assim como as atividades agrícolas voltadas a produção familiar,

deram origem a reserva extrativista marinha de São João da Ponta, que surgiu em função

da necessidade de proteção do ecossistema manguezal e dessas práticas tradicionais

presentes na região, já que as atividades as ligadas à agropecuária estavam ganhando cada

vez mais espaço, nas áreas próximas ao mangue. Além da fundamentação econômica o

mangue faz parte do imaginário local, como uma verdadeira riqueza natural, um patrimônio

para os moradores locais.

Destacamos também como representação da comunidade local, a sede do município, pois

nela se materializam muitas atividades desenvolvidas pela população local.

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Figura 4- Área urbana do município de São João da Ponta.Fonte: Grupo de Estudos Paisagem e Planejamento Ambiental, 2012

A área urbana, que representa o núcleo de serviços da cidade, ou seja, na área urbana

concentram-se as principais atividades econômicas ligadas ao comércio, venda de

mercadorias e produtos agrícolas vindos das comunidades rurais do município. Caracteriza-

se por apresentar edificação contínua e a existência de equipamentos sociais destinados às

funções urbanas básicas, como habitação, áreas administrativas, trabalho ligado ao serviço

público, recreação e circulação de pessoas. Por isso é denominada pelos moradores de

sede municipal. Nela se manifestam festas e rituais religiosos que representam o imaginário

popular.

Vale lembrar que as paisagens locais devem ser representadas pela memória e identidade

das comunidades estudadas, nesse sentido carecemos de um estudo mais aprofundado

relacionado a essas representações, associados principalmente aos juízos de valor local.

Considerações finais

Não é fácil traçar uma trajetória de análise da paisagem como fez Bertrand, através do GTP,

mais difícil ainda é aplicar os diferentes conceitos integrando-os a uma área de estudo

diferente da estudada por ele. Nesse contexto, embora com algumas dificuldades,

reconhecemos a importância dessa nova proposta metodológica, pois como bem coloca o

autor ela é o ponta pé inicial para uma geografia transversal, que dialoga com outras

ciências, e que busca a integração das suas sub-áreas. Não há dúvidas que o GTP é um

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avanço para essa integração, pois ele procura, unir característica antes separadas pela

divisão geografia física e geografia humana.

A nova análise da paisagem deve reconhecer distintas abordagens que perpassam pelo

reconhecimento dos atores sociais da mesma, no caso do município de São João da Ponta,

temos os agricultores e coletores de caranguejo, que vão gerar as diferentes

territorialialidades locais, representadas pelas relações entre si, e com os elementos

naturais. Essas relações vão influenciar na percepção e no imaginário local, que

representam essencialmente a paisagem. Isso quer dizer que é necessário compreender a

base física e material do território, as relações que nele se estabelecem e a percepção dos

moradores locais a respeito dessas questões, que são configuradas pela identidade e

memória local, para assim desvendar a essência da paisagem.

Diante de tantas constatações observa-se que o modelo GTP é uma forma de análise capaz

de apontar transformações na paisagem, com possibilidade de evidenciarem-se as questões

mais urgentes para cada área específica. Nesse sentido, é necessário um estudo mais

aprofundado relacionado a cada elemento desse estudo integrado.

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