O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - …bvespirita.com/O Evangelho Segundo o Espiritismo (Allan...

download O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - …bvespirita.com/O Evangelho Segundo o Espiritismo (Allan Kardec).pdf · 5–O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO O Evangelho Segundo o Espiritismo

If you can't read please download the document

Transcript of O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - …bvespirita.com/O Evangelho Segundo o Espiritismo (Allan...

  • O

    AllanKardec

  • 2 AllanKardec

    O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

    AllanKardec

  • 3 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMOAllanKardec

    Ttulooriginalemfrancs:LEVANGILESELONLESPIRITISMELanadoemabrilde1864Paris,Frana

    Traduoda3ediopor:GUILLONRIBEIROPublicadopelaFEBFederaoEspritadoBrasil1944www.febnet.org.br

    Versodigitalpor:ERYLOPES2007

  • 4 AllanKardec

    NOTADAEDITORA

    A traduo desta obra, devemola ao saudoso presidente daFederaoEspritaBrasileiraDr.GuillonRibeiro,engenheirocivil,poliglotaevernaculista.

    Ruy Barbosa, em seu discurso pronunciado na sesso de 14 deoutubro de 1903 (Anais do Senado Federal, vol. II, pg. 717), em sereferindo ao seu trabalho de reviso do Projeto do Cdigo Civil, trabalhomonumental que resultou naRplica, e que lhe imortalizou o nome comofilsofoepuristadalngua,disse:

    Devo, entretanto, Sr. Presidente, desempenharme de umdeverdeconscinciaregistrareagradecerdatribunadoSenadoacolaborao preciosa do Sr. Doutor Guillon Ribeiro, que meacompanhounessetrabalhocomamaiorinteligncia,nolimitandoos seus servios partematerial do comum dos revisores, mas,muitasvezes,suprindoatasdesateneseneglignciasminhas.

    Como vemos, Guillon Ribeiro recebeu, aos vinte e oito anos deidade, o maior elogio a que poderia aspirar um escritor, e a FederaoEsprita Brasileira, vinte anos depois, consagroulhe o nome, aprovandounanimementeassuasimpecveistraduesdeKardec.Jornalistaemrito,GuillonRibeirofoiredatordoJornaldoComrcioecolaboradordosmaioresjornais da poca. Exerceu, durante anos, o cargo de diretorgeral daSecretaria do Senado e foi diretor da Federao Esprita Brasileira, nodecurso de 26 anos consecutivos, tendo traduzido, ainda, O Livro dosEspritos, O Livro dos Mdiuns, A Gnese e Obras Pstumas, todos deKardec.

  • 5 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    OEvangelhoSegundooEspir itismo

    COMEXPLICAESDASMXIMAS MORAISDOCRISTOEMCONCORDNCIACOMOESPIRITISMOESUASAPLICAES

    SDIVERSASCIRCUNSTNCIASDAVIDA

    POR

    ALLANKARDEC

  • 6 AllanKardec

    SUMRIO

    Explicao 10

    Prefcio 11

    Introduo 12I Objetivodestaobra. II AutoridadedaDoutrinaEsprita.ControleuniversaldoensinodosEspritos.III Notciashistricas.IVScratesePlato,precursoresdaidiacristedoEspiritismo.

    CAPTULOI NOVIMDESTRUIRALEI 30As trs revelaes:Moiss,Cristo,Espiritismo:1 a7.AlianadaCincia edaReligio:8. InstruesdosEspritos:Anovaera:9a11.

    CAPTULOII MEUREINONODESTEMUNDO 37Avidafutura:1a3.ArealezadeJesus:4.Opontodevista:5a7.InstruesdosEspritos:Umarealezaterrestre:8.

    CAPTULOIII HMUITASMORADASNACASADEMEU PAI 42Diferentesestadosdaalmanaerraticidade:1e2. Diferentescategoriasdemundoshabitados: 3 a 5. Destinao da Terra. Causas das misrias humanas: 6 e 7. InstruesdosEspritos:Mundosinferioresemundossuperiores:8a12.Mundosdeexpiaesedeprovas:13a15.Mundosregeneradores:16a18.Progressodosmundos:19.

    CAPTULOIVNINGUMPODERVEROREINODEDEUSSENONASCERDENOVO50

    Ressurreioereencarnao:1a17.Areencarnaofortaleceoslaosdefamlia,ao passo que a unicidade da existncia os rompe: 18 a 23. Instrues dosEspritos:Limitesdaencarnao:24. Necessidadedaencarnao:25e26.

    CAPTULOVBEMAVENTURADOSOSAFLITOS59Justiadasaflies:1a3.Causasatuaisdasaflies:4e5.Causasanterioresdasaflies:6a10.Esquecimentodopassado:11.Motivosderesignao: 12e13.Osuicdioealoucura:14a17.InstruesdosEspritos:Bememalsofrer:18. Omal e o remdio: 19.A felicidade no destemundo:20. Perda depessoas amadas. Mortes prematuras: 21. Se fosse um homem de bem, teriamorrido:22.Ostormentosvoluntrios:23.Adesgraareal:24.Amelancolia:25.Provasvoluntrias.Overdadeirocilcio:26.Deverseprtermo sprovasdoprximo?:27.Serlcitoabreviara vidadeumdoentequesofrasemesperanadecura?:28.Sacrifciodaprpriavida:29e30.Proveitodossofrimentosparaoutrem:31.

    CAPTULOVI OCRISTOCONSOLADOR78O jugo leve: 1 e 2. Consolador prometido: 3 e 4. Instrues dos Espritos:AdventodoEspritode Verdade:5a8.

  • 7 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    CAPTULOVII BEMAVENTURADOSOSPOBRESDE ESPRITO82Oquesedeve entenderporpobresdeesprito:1 e2.Aqueleque se eleva serrebaixado: 3 a 6. Mistrios ocultos aos doutos e aos prudentes: 7 a 10. InstruesdosEspritos:Oorgulhoe ahumildade:11e12.MissodohomeminteligentenaTerra:13.

    CAPTULOVIII BEMAVENTURADOSOSQUETM PUROOCORAO91Simplicidadeepurezadecorao:1a4.Pecadoporpensamentos.Adultrio:5a7.Verdadeirapureza.Mosnolavadas:8a10.Escndalos.Seavossamomotivo de escndalo, cortaia: 11 a 17. Instrues dos Espritos: Deixai quevenhamamimascriancinhas:18e19.Bemaventuradososquetmfechadososolhos:20e21.

    CAPTULOIXBEMAVENTURADOSOSQUESO BRANDOSEPACFICOS100Injriaseviolncias:1a5. InstruesdosEspritos: Aafabilidadeeadoura:6. Apacincia:7. Obedinciaeresignao:8. Aclera:9e10.

    CAPTULOXBEMAVENTURADOSOSQUESOMISERICORDIOSOS105Perdoai,paraqueDeusvosperdoe:1a4.Reconciliaocomosadversrios:5e6.OsacrifciomaisagradvelaDeus:7e8.Oargueiroeatravenoolho:9e10. No julgueis, para no serdes julgados. Atire a primeira pedra aquele queestiversempecado:11a13. InstruesdosEspritos:Perdodasofensas:14e15.Aindulgncia:16a18.permitidorepreenderosoutros,notarasimperfeiesdeoutrem,divulgaromaldeoutrem?:19a21.

    CAPTULOXI AMAROPRXIMOCOMOASIMESMO 141O mandamento maior. Fazermos aos outros o que queiramos que os outros nosfaam. Parbola dos credores e dos devedores: 1 a 4. Dai a Csar o que deCsar:5a7.InstruesdosEspritos:Aleideamor:8a10.Oegosmo:11e12. Afeacaridade: 13. Caridadeparacomoscriminosos:14. Deveseexporavidaporummalfeitor?:15.

    CAPTULOXII AMAIOSVOSSOSINIMIGOS123Retribuiromalcomobem:1a4.Osinimigosdesencarnados: 5e6.Sealgumvos bater na face direita, apresentailhe tambm a outra: 7 e 8. Instrues dosEspritos:Avingana:9. Odio:10. Oduelo:11a16.

    CAPTULOXIII NOSAIBAAVOSSAMOESQUERDAOQUEDAVOSSAMODIREITA 132

    Fazerobemsemostentao:1a3.Osinfortniosocultos:4.Obolodaviva:5e6.Convidarospobreseosestropiados.Darsemesperarretribuio:7e8.Instrues dos Espritos: A caridade material e a caridade moral: 9 e 10. Abeneficncia:11a16.Apiedade:17.Osrfos:18.Benefcios pagos comaingratido:19. Beneficnciaexclusiva: 20.

    CAPTULOXIVHONRAIAVOSSOPAIEAVOSSAME147Piedadefilial:1a4.Quemminhameequemsomeusirmos?:5a7.Aparentela corporal e a parentela espiritual: 8. Instrues dos Espritos: Aingratidodosfilhoseoslaosdefamlia:9.

  • 8 AllanKardec

    CAPTULOXVFORADACARIDADENOHSALVAO154OdequeprecisaoEspritoparasersalvo.Parboladobomsamaritano:1a3.Omandamentomaior:4 e5.Necessidadeda caridade, segundoS.Paulo:6 e7.ForadaIgrejanohsalvao.Foradaverdadenohsalvao:8e9. InstruesdosEspritos: Foradacaridadenohsalvao:10.

    CAPTULOXVI NOSEPODESERVIRADEUSEAMAMON160Salvaodosricos:1e2.Preservarsedaavareza: 3.JesusemcasadeZaqueu:4.Parboladomaurico:5.Parboladostalentos:6.Utilidadeprovidencialdariqueza. Provas da riqueza e da misria: 7. Desigualdade das riquezas: 8. InstruesdosEspritos:Averdadeirapropriedade:9e10.Empregodariqueza:11a13.Desprendimentodosbens terrenos:14. Transmissodariqueza:15.

    CAPTULOXVII SEDEPERFEITOS173Caracteres da perfeio: 1 e 2. Ohomem de bem:3. Os bons espritas: 4. Parboladosemeador:5e6. InstruesdosEspritos:Odever:7. Avirtude:8.Ossuperioreseosinferiores:9.Ohomem nomundo:10. Cuidardocorpoedoesprito:11.

    CAPTULOXVIII MUITOSOSCHAMADOS,POUCOSOS ESCOLHIDOS183Parboladofestimdebodas:1e2.Aportaestreita:3a5.Nemtodososquedizem:Senhor!Senhor! Entraronoreinodoscus:6a9.Muitosepedirquelequemuitorecebeu:10a12.InstruesdosEspritos:Darsequelequetem:13a15. Pelas suasobrasquesereconheceocristo:16.

    CAPTULOXIXAFTRANSPORTAMONTANHAS191Poderdaf:1a5.Afreligiosa.Condiodafinabalvel:6e7.Parboladafigueiraquesecou:8a10.InstruesdosEspritos:Af:medaesperanaedacaridade:11. Afhumanaeadivina:12.

    CAPTULOXXOSTRABALHADORESDALTIMAHORA 197Instrues dos Espritos: Os ltimos sero os primeiros: 1 a 3. Misso dosespritas:4. Osobreirosdo Senhor:5.

    CAPTULOXXI HAVERFALSOSCRISTOSEFALSOSPROFETAS202Conhecese a rvore pelo fruto: 1 a 3. Misso dosprofetas: 4. Prodgios dosfalsos profetas: 5. No crimes em todos os Espritos: 6 e 7. Instrues dosEspritos:Osfalsosprofetas:8.Caracteresdoverdadeiroprofeta:9.Osfalsosprofetasdaerraticidade: 10. Jeremiaseosfalsosprofetas:11.

    CAPTULOXXII NOSEPAREISOQUEDEUSJUNTOU 210Indissolubilidadedocasamento:la4. Odivrcio:5.

    CAPTULOXXIII ESTRANHAMORAL 213Odiarospais:1a3.Abandonarpai,meefilhos:4a6.Deixaraosmortosocuidadodeenterrarseusmortos:7e8.Novimtrazerapaz,mas,adiviso:9a18.

  • 9 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    CAPTULOXXIVNOPONHAISACANDEIADEBAIXODOALQUEIRE220Candeiasoboalqueire.PorquefalaJesus porparbolas: 1a7. Novadestercomosgentios:8a10.Nosoosquegozamsadequeprecisamdemdico: 11e12.Coragemdaf:13a16.Carregarsuacruz.Quemquisersalvaravida,perdla:17a19.

    CAPTULOXXVBUSCAIEACHAREIS227Ajudateatimesmo,queocuteajudar:1a5. Observaiospssarosdocu:6a8. Novosafadigueispelapossedoouro:9a11.

    CAPTULOXXVI DAIGRATUITAMENTEOQUEGRATUITAMENTERECEBESTES 232Domdecurar:1e2.Precespagas:3e4. Mercadores expulsosdotemplo:5e6. Mediunidadegratuita: 7a10.

    CAPTULOXXVII PEDIEOBTEREIS236Qualidadesdaprece:1a4. Eficciadaprece:5a8. Aodaprece.Transmissodopensamento:9 a15.Preces inteligveis: 16e17.Daprecepelosmortos epelosEspritossofredores:18a21.InstruesdosEspritos:Maneiradeorar:22.Felicidade queapreceproporciona:23.

    CAPTULOXXVIII COLETNEADEPRECESESPRITAS246Prembulo:1.

    I PRECESGERAIS247Oraodominical:2e 3. Reuniesespritas:4a7. Paraosmdiuns:8a10.

    II PRECESPORAQUELEMESMOQUEORA 255Aos anjos guardies e aos Espritos protetores: 11 a 14. Para afastar os mausEspritos:15a17.Parapediracorrigendadeumdefeito:18e19.Parapediraforaderesistiraumatentao:20e21.Aodegraaspelavitriaalcanadasobreumatentao:22e23.Parapedirumconselho:24e25.Nasafliesdavida:26e27.Aodegraasporumfavorobtido:28e29.Atodesubmisso ederesignao:30a33. Numperigoiminente:34e35.Aodegraasporhaverescapadoaumperigo:36e37.horadedormir:38e39.Prevendoprximaamorte:40e41.

    III PRECESPOROUTREM265Por algum que esteja em aflio: 42 e 43. Ao de graas por um benefcioconcedidoaoutrem:44e45.Pelosnossosinimigosepelosquenosqueremmal:46e47. Aodegraaspelobemconcedido aosnossosinimigos:48e49. Pelosinimigosdo Espiritismo:50a52.Porumacrianaqueacaba denascer:53a56.Porumagonizante:57e58.

    IVPRECES PELOSQUEJNOSODATERRA 268Poralgumqueacabademorrer:59a61.Pelaspessoasaquemtivemosafeio:62e63.Pelasalmassofredorasquepedempreces:64a66.Poruminimigoquemorreu:67e68.Porumcriminoso:69e70.Porumsuicida:71e72.PelosEspritos penitentes:73e74. PelosEspritosendurecidos: 75e76.

    V PRECESPELOSDOENTESEPELOSOBSIDIADOS275Pelosdoentes:77a80. Pelosobsidiados:81a84.

  • 10 AllanKardec

    EXPLICAO

    Comododomniopblico,Kardec,aoimprimiraterceiraediodoseulivro O Evangelho segundo o Espiritismo , por ordemdos Espritos reformoucompletamente as edies anteriores, suprimindo inmeros trechos, acrescentandooutros, alterandoa redao demuitos e a numerao de vrios pargrafos, tendo,anteriormente,modificadooprpriottulodaobra.

    A 3 edio francesa ficou, pois, sendo a definitiva e, por issomesmo, aFederao Esprita Brasileira, obediente s instrues que os Espritos deram aKardec, e por este aceitas, fez a presente traduo da referida 3 edio francesa,sobreaqualKardecescreveu,emRevueSpiritedenovembrode1865,oseguinte:

    Esta edio foi completamente refundida. Alm de algumasadies, as principais modificaes consistem numa classificao maismetdica,maisclaraemaiscmodadasmatrias,tornandoaobrademaisfcilleituraefacilitandoigualmenteasconsultas.

    AEDITORA(FEB)

  • 11 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    PREFCIO

    OsEspritosdoSenhor,quesoasvirtudesdosCus,qualimensoexrcitoquesemovimentaaoreceberasordensdoseucomando,espalhamseportodaasuperfciedaTerrae,semelhantesaestrelascadentes,vmiluminaroscaminhoseabrirosolhosaoscegos.

    Euvosdigo,emverdade,quesochegadosostemposemquetodasascoisashodeserrestabelecidasnoseuverdadeirosentido,paradissiparastrevas,confundirosorgulhososeglorificarosjustos.

    AsgrandesvozesdoCuressoamcomosonsde trombetas,eoscnticosdosanjos se lhes associam.Ns vos convidamos, a vs homens, para o divino concerto.Tomaidalira,fazeiunssonasvossasvozes,eque,numhinosagrado,elasseestendamerepercutamdeumextremoaoutrodoUniverso.

    Homens, irmos a quem amamos, aqui estamos junto de vs. Amaivos,tambm,unsaosoutrosedizeidofundodocorao,fazendoasvontadesdoPai,queestnoCu:Senhor!Senhor!...EpodereisentrarnoreinodosCus.

    OESPRITODEVERDADE

    NotaAinstruoacima,transmitidaporviamedinica,resumeaumtempooverdadeirocarterdoEspiritismoeafinalidadedestaobraporissofoicolocadaaquicomoprefcio.

  • 12 AllanKardec

    INTRODUO

    I OBJETIVODESTAOBRA

    PodemdividirseemcincopartesasmatriascontidasnosEvangelhos:osatoscomunsdavidadoCristoosmilagresasprediesaspalavrasque foramtomadaspelaIgrejaparafundamentodeseusdogmaseoensinomoral.Asquatroprimeiras tm sido objeto de controvrsias a ltima, porm, conservouseconstantemente inatacvel.Diante dessecdigo divino, a prpria incredulidade securva.terrenoondetodososcultospodemreunirse,estandartesoboqualpodemtodoscolocarse,quaisquerquesejamsuascrenas,porquantojamaiseleconstituiumatria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram dasquestes dogmticas.Alis, se o discutissem,nele teriamas seitas encontrado suaprpriacondenao,vistoque,namaioria,elasseagarrammaispartemsticadoquepartemoral,queexigedecadaumareformadesi mesmo.Paraoshomens,emparticular, constitui aquele cdigo uma regra de proceder que abrange todas ascircunstncias da vida privada e da vida pblica, o princpio bsico de todas asrelaessociaisquese fundamnamais rigorosa justia., finalmenteeacimadetudo,oroteiroinfalvelparaafelicidadevindoura,olevantamentodeumapontadovuquenosocultaavidafutura.Essaparteaqueserobjetoexclusivodestaobra.

    Toda a gente admira a moral evanglica todos lhe proclamam asublimidadeeanecessidademuitos,porm,assimsepronunciamporf,confiadosnoqueouviramdizer,oufirmadosemcertasmximasquesetornaramproverbiais.Poucos,noentanto,aconhecemafundoemenosaindasoosqueacompreendemelhe sabem deduzir as conseqncias. A razo est, pormuito, na dificuldade queapresentaoentendimentodoEvangelhoque,paraomaiornmerodosseusleitores, ininteligvel.A forma alegrica e o intencionalmisticismoda linguagem fazemque a maioria o leia por desencargo de conscincia e por dever, como lem aspreces, sem as entender, isto , sem proveito. Passamlhes despercebidos ospreceitos morais, disseminados aqui e ali, intercalados na massa das narrativas.Impossvel, ento, apanharselhes o conjunto e tomlos para objeto de leitura emeditaesespeciais.

    certoquetratados j sehoescritodemoralevanglicamas,oarranjoemmodernoestiloliterriolhetiraaprimitivasimplicidadeque,aomesmotempo,lhe constitui o encanto e a autenticidade. Outro tanto cabe dizerse dasmximasdestacadasereduzidassuamaissimplesexpressoproverbial.Desdelogo,jnopassamdeaforismos,privadosdeumapartedoseuvaloreinteresse,pelaausnciadosacessriosedascircunstnciasemque foramenunciadas.

  • 13 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    Para obviar a esses inconvenientes, reunimos, nesta obra, os artigos quepodemcompor,abemdizer,umcdigodemoraluniversal,semdistinodeculto.Nascitaes,conservamosoquetilaodesenvolvimentodaidia,pondodeladounicamente o que se no prende ao assunto. Alm disso, respeitamosescrupulosamenteatraduodeSacy,assimcomoadivisoemversculos.Emvez,porm, denos atermos a umaordemcronolgica impossvel e semvantagemrealpara o caso, grupamos e classificamos metodicamente as mximas, segundo asrespectivas naturezas, de modo que decorram umas das outras, tanto quantopossvel.Aindicaodosnmerosdeordemdoscaptulosedosversculospermiteserecorraclassificaovulgar,emsendooportuno.

    Esse, entretanto, seria um trabalho material que, por si s, apenas teriasecundria utilidade. O essencial era plo ao alcance de todos, mediante aexplicao das passagens obscuras e o desdobramento de todas as conseqncias,tendo em vista a aplicao dos ensinos a todas as condies da vida. Foi o quetentamosfazer,comaajudadosbonsEspritosquenosassistem.

    MuitospontosdosEvangelhos,daBbliaedosautoressacrosemgeralssoininteligveis,parecendoalgunsatirracionais,porfaltadachavequefaculteselhesapreendaoverdadeirosentido.EssachaveestcompletanoEspiritismo,comoj o puderam reconhecer os que o tm estudado seriamente e como todos, maistarde,aindamelhororeconhecero.OEspiritismosenosdeparaportodaaparte naantigidade e nas diferentes pocas da Humanidade. Por toda a parte se lhedescobremosvestgios:nosescritos,nascrenasenosmonumentos.Essaarazoporque,aomesmotempoemquerasgahorizontesnovosparaofuturo,projetaluznomenosvivasobreosmistriosdopassado.

    Como complemento de cada preceito, acrescentamos algumas instruesescolhidas, dentre as que os Espritos ditaram em vrios pases e por diferentesmdiuns.Seelas fossem tiradasdeumafontenica,houveramtalvezsofridoumainfluncia pessoal ou a domeio, enquanto a diversidade de origens prova que osEspritos do indistintamente seus ensinos e que ninguma esse respeito goza dequalquerprivilgio.1

    Esta obra para uso de todos. Dela podem todos haurir os meios deconfortar com a moral do Cristo o respectivo proceder. Aos espritas ofereceaplicaesquelhesconcernemdemodoespecial.Graassrelaesestabelecidas,doravante e permanentemente, entre os homens e o mundo invisvel, a leievanglica,queosprpriosEspritosensinaramatodasasnaes,jnoserletramorta,porquecadaumacompreendereseverincessantementecompelidoapla

    1 Houvramos, sem dvida, podido apresentar, sobre cada assunto, maior nmero de comunicaesobtidas numa poro de outras cidades e centros, alm das que citamos. Tivemos, porm, de evitar amonotoniadasrepetiesinteiselimitaranossaescolhasque,tantopelofundoquantopelaforma,seenquadravammelhor no plano desta obra, reservando para publicaes ulteriores as que no puderamcaberaqui.Quantoaosmdiuns,abstivemonosdenomelos.Namaioriados casos,noosdesignamosapedidodelesprpriose,assim sendo, no convinha fazerexcees.Ao demais, osnomesdosmdiunsnenhum valor teriam acrescentado obra dos Espritos. Mencionlos mais no fora, ento, do quesatisfazeraoamorprprio,coisaaqueosmdiunsverdadeiramente sriosnenhumaimportncialigam.Compreendemelesque,porsermeramentepassivoopapelquelhestoca,ovalordascomunicaesemnadalhesexalaomritopessoaleque seriapueril envaideceremsedeumtrabalhode intelignciaaoqualapenasmecnicooconcursoqueprestam.

  • 14 AllanKardec

    emprtica,aconselhodeseusguiasespirituais.As instruesquepromanamdosEspritos so verdadeiramente as vozes do cu que vm esclarecer os homens econvidlosprticadoEvangelho.

    IIAUTORIDADEDADOUTRINAESPRITACONTROLEUNIVERSALDOENSINODOSESPRITOS

    Se a Doutrina Esprita fosse de concepo puramente humana, noofereceria por penhor seno as luzes daquele que a houvesse concebido. Ora,ningum,nestemundo,poderiaalimentarfundadamenteapretensodepossuir,comexclusividade, a verdade absoluta. Se os Espritos que a revelaram se houvessemmanifestado a um s homem,nada lhe garantiriaa origem, porquanto foramisteracreditar,sobpalavra,naquelequedissesseterrecebidodelesoensino.Admitida,desua parte, sinceridade perfeita, quandomuito poderia ele convencer as pessoas desuasrelaesconseguiriasectrios,masnuncachegaria acongregartodoomundo.

    Quis Deus que a nova revelao chegasse aos homens por mais rpidocaminho e mais autntico. Incumbiu, pois, os Espritos de levla de um plo aoutro,manifestandoseportodaaparte,semconferiraningumoprivilgiodelhesouvirapalavra.Umhomempodeserludibriado,podeenganarseasimesmojnoser assim, quandomilhes de criaturas vem e ouvem amesma coisa. Constituiisso uma garantia para cada um e para todos. Ao demais, pode fazerse quedesaparea umhomemmasno se pode fazer que desapareamas coletividadespodem queimarse os livros, mas no se podem queimar os Espritos. Ora,queimassemse todos os livros e a fonte da doutrinano deixaria de conservarseinexaurvel,pelarazomesmadenoestarnaTerra,desurgiremtodososlugaresede poderem todos dessedentarse nela. Faltem os homens para difundila: haversempreosEspritos,cujaatuaoatodosatingeeaosquaisningumpodeatingir.

    So,pois,osprpriosEspritosquefazemapropagao,comoauxliodosinmerosmdiunsque,tambmeles,osEspritos,vosuscitandodetodososlados.Se tivesse havido unicamente um intrprete, por mais favorecido que fosse, oEspiritismomalseriaconhecido.Qualquerquefosseaclasseaquepertencesse,talintrpretehouverasidoobjetodasprevenesdemuitagenteenemtodasasnaeso teriamaceitado,aopassoqueosEspritos secomunicamem todosospontosdaTerra,atodosospovos,atodasasseitas,atodosospartidos,etodososaceitam.OEspiritismo no tem nacionalidade e no faz parte de nenhum culto existentenenhumaclassesocialo impe,vistoquequalquerpessoapode receber instruesdeseusparenteseamigosdealmtmulo.Cumpresejaassim,paraqueelepossaconduzir todososhomens fraternidade.Senosemantivesse em terrenoneutro,alimentariaasdissenses,emvezdeapazigulas.

    NessauniversalidadedoensinodosEspritosresideaforadoEspiritismoe, tambm, a causa de sua to rpida propagao. Enquanto a palavra de um shomem, mesmo com o concurso da imprensa, levaria sculos para chegar aoconhecimentodetodos,milharesdevozessefazemouvirsimultaneamenteemtodos

  • 15 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    os recantos do planeta, proclamando os mesmos princpios e transmitindoos aosmais ignorantes,comoaosmaisdoutos,a fimdequenohajadeserdados.umavantagemdequenogozaraaindanenhumadasdoutrinassurgidasathoje.Se oEspiritismo, portanto, umaverdade,no teme omalquerer dos homens, nem asrevolues morais, nem as subverses fsicas do globo, porque nada disso podeatingirosEspritos.

    Noessa,porm,anicavantagemque lhedecorredasuaexcepcionalposio. Ela lhe faculta inatacvel garantia contra todos os cismas que pudessemprovir, seja da ambio de alguns, seja das contradies de certos Espritos.Taiscontradies,nohnegar,soumescolhomasquetrazconsigooremdio,aoladodomal.

    SabesequeosEspritos,emvirtudedadiferenaentreassuascapacidades,longeseachamdeestar,individualmenteconsiderados,napossedetodaaverdadequenema todosdadopenetrarcertosmistriosqueosaberdecadaumdelesproporcional sua depurao que os Espritos vulgares mais no sabem do quemuitoshomensqueentreeles,comoentreestes,hpresunososesofmanos,quejulgamsaberoqueignoramsistemticos,quetomamporverdadesassuasidiasenfim,quesosEspritosdacategoriamaiselevada,osquejestocompletamentedesmaterializados, se encontramdespidos das idias e preconceitos terrenosmas,tambmsabidoque osEspritosenganadoresnoescrupulizamem tomarnomesquelhesnopertencem,paraimpingiremsuasutopias.Daresultaque,comrelaoatudooquesejaforadombitodoensinoexclusivamentemoral,asrevelaesquecada um possa receber tero carter individual, sem cunho de autenticidade quedevemserconsideradasopiniespessoaisdetalouqualEspritoequeimprudenteforaaceitlasepropaglaslevianamentecomoverdadesabsolutas.

    Oprimeiroexamecomprobativo,pois,semcontradita,odarazo,aoqualcumpresesubmeta, semexceo, tudooque venhadosEspritos.Toda teoriaemmanifestacontradiocomobomsenso,comumalgicarigorosaecomosdadospositivosjadquiridos,deveserrejeitada,pormaisrespeitvelquesejaonomequetragacomoassinatura.Incompleto,porm,ficaresseexameemmuitoscasos,porefeitodafaltadeluzesdecertaspessoasedastendnciasdenopoucasatomarasprprias opinies como juzes nicos da verdade. Assim sendo, que ho de fazeraquelesquenodepositamconfianaabsolutaemsimesmos?Buscaroparecerdamaioriae tomarporguiaaopiniodesta.De talmodoquesedeveprocederemface do que digamosEspritos, que so os primeiros a nos fornecer osmeios deconseguilo.

    A concordncia no que ensinem os Espritos , pois, a melhorcomprovao. Importa, no entanto, que ela se d em determinadas condies. Amais fraca de todas ocorre quando ummdium, a ss, interrogamuitos Espritosacercadeumpontoduvidoso.evidenteque,seeleestiversoboimpriodeumaobsesso, ou lidando com umEspritomistificador, este lhe pode dizer amesmacoisa sob diferentes nomes. Tampouco garantia alguma suficiente haver naconformidadequeapresenteoquese possaobterpordiversosmdiuns,nummesmocentro,porquepodemestartodossobamesmainfluncia.

  • 16 AllanKardec

    UmasgarantiasriaexisteparaoensinodosEspritos:aconcordnciaque haja entre as revelaes que eles faam espontaneamente, servindose degrandenmerodemdiunsestranhosunsaosoutroseemvrioslugares.

    Vse bemquenose trataaquidascomunicaes referentesa interessessecundrios, mas do que respeita aos princpios mesmos da doutrina. Prova aexperincia que, quando um princpio novo tem de ser enunciado, isso se despontaneamente emdiversos pontos aomesmo tempoe demodo idntico, senoquantoforma,quantoao fundo.

    Se, portanto, aprouver a um Esprito formular um sistema excntrico,baseadounicamentenassuasidiasecomexclusodaverdade,podeterseacertezadequetalsistemaconservarsecircunscritoecair,diantedasinstruesdadasdetodas as partes, conforme os mltiplos exemplos que j se conhecem. Foi essaunanimidadequepsporterratodosossistemasparciaisquesurgiramnaorigemdoEspiritismo,quandocadaumexplicavasuamaneiraosfenmenos,eantesqueseconhecessem as leis que regem as relaes entre o mundo visvel e o mundoinvisvel.

    Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um princpio dadoutrina. No porque esteja de acordo com as nossas idias que o temos porverdadeiro.Nonosarvoramos,absolutamente,emrbitrosupremodaverdadeeaningumdizemos: Crede em tal coisa, porque somos ns que volo dizemos.Anossa opiniono passa, aos nossos prprios olhos, de uma opinio pessoal, quepode ser verdadeira ou falsa, visto no nos considerarmos mais infalvel do quequalqueroutro.Tambmnoporqueumprincpionosfoiensinadoque,parans,eleexprimeaverdade,masporquerecebeuasanodaconcordncia.

    Naposioemquenosencontramos,arecebercomunicaesdepertodemil centros espritas srios, disseminados pelos mais diversos pontos da Terra,achamonos em condies de observar sobre que princpio se estabelece aconcordncia.EssaobservaoquenostemguiadoathojeeaquenosguiaremnovoscamposqueoEspiritismoterdeexplorar.Porque,estudandoatentamenteascomunicaes vindas tantodaFranacomodoestrangeiro,reconhecemos,pelanaturezatodaespecialdasrevelaes,queeletendeaentrarporumnovocaminhoeque lhe chegou omomento de dar um passo para diante.Essas revelaes, feitasmuitas vezes com palavras veladas, ho freqentemente passado despercebidas amuitosdosqueas obtiveram.Outros julgaramseosnicosapossulas.Tomadasinsuladamente, elas, para ns, nenhum valor teriam somente a coincidncia lhesimprimegravidade.Depois,chegadoomomentodeserementreguespublicidade,cadaumselembrardehaverobtidoinstruesnomesmosentido.Essemovimentogeral,queobservamoseestudamos,comaassistnciadosnossosguiasespirituais,quenosauxiliaajulgardaoportunidadedefazermosounoalgumacoisa.

    EssaverificaouniversalconstituiumagarantiaparaaunidadefuturadoEspiritismo e anular todas as teorias contraditrias. A que, no porvir, seencontrarocritriodaverdade.OquedeulugaraoxitodadoutrinaexpostaemOLivro dos Espritos e em O Livro dos Mdiuns foi que em toda a parte todosreceberamdiretamentedosEspritosaconfirmaodoqueesseslivroscontm.SedetodososladostivessemvindoosEspritoscontradizla,jdehmuitohaveriamaquelas obras experimentado a sorte de todas as concepes fantsticas. Nem

  • 17 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    mesmooapoiodaimprensaassalvariadonaufrgio,aopassoque,privadascomoseviramdesseapoio,nodeixaramelasdeabrircaminhoedeavanarceleremente.quetiveramodosEspritos,cujaboavontadenoscompensou,comotambmsobrepujou o malquerer dos homens. Assim suceder a todas as idias que,emanandoquerdosEspritos,querdoshomens,nopossamsuportaraprovadesseconfronto,cujaforaaningumlcitocontestar.

    SuponhamosprazaaalgunsEspritosditar,sobqualquerttulo,umlivroemsentido contrrio suponhamos mesmo que, com inteno hostil, objetivandodesacreditar a doutrina, a malevolncia suscitasse comunicaes apcrifas queinfluncia poderiam exercer tais escritos, desde que de todos os lados osdesmentissemosEspritos?comaadesodestesquesedevegarantiraquelequequeiralanar,emseunome,umsistemaqualquer.Dosistemadeumsaodetodos,medeia a distncia que vai da unidade ao infinito. Que podero conseguir osargumentos dos detratores, sobre a opinio dasmassas, quandomilhes de vozesamigas,provindasdoEspao,sefaamouviremtodososrecantosdoUniversoenoseiodasfamlias,ainfirmlos?Aesserespeitojnofoiateoriaconfirmadapelaexperincia? Que feito das inmeras publicaes que traziam a pretenso dearrasaroEspiritismo?Qualaque,sequer,lheretardouamarcha?Atagora,noseconsideraaquestodessepontodevista,semcontestaoumdosmaisgraves.Cadaumcontouconsigo,semcontarcomosEspritos.

    Oprincpio da concordncia tambmumagarantia contra as alteraesquepoderiamsujeitaroEspiritismosseitasquesepropusessemapoderarsedeleemproveitoprprioeacomodlovontade.Quemquerquetentassedesvilodoseuprovidencialobjetivo,malsucedidoseveria,pelarazomuitosimplesdequeosEspritos,emvirtudedauniversalidadedeseusensinos,farocairporterraqualquermodificaoquesedivorciedaverdade.

    De tudo isso ressalta uma verdade capital: a de que aquele que quisesseoporsecorrentedeidiasestabelecidaesancionadapoderia,certo,causarumapequena perturbao local e momentnea nunca, porm, dominar o conjunto,mesmonopresente,nem,aindamenos,nofuturo.

    Tambm ressalta que as instrues dadas pelosEspritos sobre os pontosainda no elucidados da Doutrina no constituiro lei, enquanto essas instruespermanecereminsuladasqueelasnodevem,porconseguinte,seraceitassenosobtodasasreservaseattulodeesclarecimento.

    Daanecessidadedamaiorprudnciaemdarlhespublicidadee,casosejulgue conveniente publiclas, importa no as apresentar seno como opiniesindividuais,mais oumenos provveis, porm, carecendo sempre de confirmao.Essaconfirmaoqueseprecisaaguardar,antesdeapresentarumprincpiocomoverdade absoluta, amenos se queira seracusado de leviandade ou de credulidadeirrefletida.

    Com extrema sabedoria procedem os Espritos superiores em suasrevelaes. No atacam as grandes questes da Doutrina seno gradualmente, medida que a inteligncia se mostra apta a compreender verdade de ordemmaiselevada e quando as circunstncias se revelam propcias emisso de uma idianova. Por isso que logo de princpio no disseram tudo, e tudo ainda hoje nodisseram, jamais cedendo impacincia dos muito afoitos, que querem os frutos

  • 18 AllanKardec

    antesdeestaremmaduros.Fora,pois,suprfluopretenderadiantarseaotempoqueaProvidnciaassinouparacadacoisa,porque,ento,osEspritosverdadeiramentesriosnegariamoseuconcurso.OsEspritoslevianos,poucosepreocupandocomaverdade, a tudo respondem da vem que, sobre todas as questes prematuras, hsemprerespostascontraditrias.

    Osprincpiosacimanoresultamdeumateoriapessoal:soconseqnciaforada das condies emqueosEspritos semanifestam. evidente que, se umEspritodizumacoisadeum lado,enquantomilhesdeoutrosdizemo contrrioalgures,apresunodeverdadenopodeestarcomaquelequeonicoouquaseonicodetalparecer.Ora,pretenderalgumterrazocontratodosseriatoilgicoda parte dosEspritos,quanto daparte dos homens.OsEspritos verdadeiramenteponderados, se no se sentem suficientemente esclarecidos sobre uma questo,nuncaaresolvemdemodoabsolutodeclaramqueapenasatratamdoseupontodevistaeaconselhamqueseaguardeaconfirmao.

    Por grande, bela e justa que seja uma idia, impossvel que desde oprimeiromomentocongreguetodasasopinies.Osconflitosquedadecorremsoconseqncia inevitvel domovimento que se opera eles somesmo necessriosparamaiorrealcedaverdadeeconvmseproduzamdesdelogo,paraqueasidiasfalsas prontamente sejam postas de lado. Os espritas que a esse respeitoalimentassem qualquer temor podem ficar perfeitamente tranqilos: todas aspretenses insuladas cairo, pela fora mesma das coisas, diante do enorme epoderosocritriodaconcordnciauniversal.

    No ser opinio de um homem que se aliaro os outros, mas vozunnime dos Espritos no ser um homem, nem ns, nem qualquer outro quefundaraortodoxiaespritatampoucoserumEspritoquesevenhaimporaquemquer que seja: ser a universalidade dos Espritos que se comunicam em toda aTerra,porordemdeDeus.EsseocarteressencialdaDoutrinaEspritaessaasuafora,asuaautoridade.QuisDeusqueasualeiassentasseembaseinamovveleporissonolhedeuporfundamentoacabeafrgildeums.

    Diante de to poderoso arepago, onde no se conhecem corrilhos, nemrivalidades ciosas, nem seitas, nem naes, que viro quebrarse todas asoposies,todasasambies,todasaspretensessupremaciaindividual quenosquebraramos ns mesmos, se quisssemos substituir os seus decretos soberanospelas nossas prprias idias. S Ele decidir todas as questes litigiosas, imporsilnciosdissidnciasedarrazoaquematenha.Diantedesseimponenteacordode todas as vozes doCu, que pode a opinio de umhomemou de umEsprito?Menosdoqueagotadguaqueseperdenooceano,menosdo queavozdacrianaqueatempestadeabafa.

    A opinio universal, eis o juiz supremo, o que se pronuncia em ltimainstncia. Formamna todas as opinies individuais. Se uma destas verdadeira,apenas temna balana o seu peso relativo. Se falsa, no pode prevalecer sobretodas as demais. Nesse imenso concurso, as individualidades se apagam, o queconstituinovoinsucessoparaoorgulhohumano.

    Jsedesenhaoharmoniosoconjunto.Estesculonopassarsemqueeleresplandeaemtodooseubrilho,demodoadissipartodasasincertezas,porquantodaqui at l potentes vozes tero recebido a misso de se fazerem ouvir, para

  • 19 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    congregar os homens sob a mesma bandeira, uma vez que o campo se achesuficientemente lavrado. Enquanto isso se no d, aquele que flutue entre doissistemasopostospodeobservaremquesentidoseformaaopiniogeralessaseraindicaocertadosentidoemquesepronunciaamaioriadosEspritos,nosdiversospontosemquesecomunicam,eumsinalnomenoscertodequaldosdoissistemasprevalecer.

    IIINOTCIASHISTRICAS

    Para bem se compreenderem algumas passagens dos Evangelhos,necessrio se faz conhecer o valor de muitas palavras neles freqentementeempregadasequecaracterizamoestadodoscostumesedasociedadejudianaquelapoca.Jnotendoparansomesmosentido,essaspalavrasforamcomfreqnciamalinterpretadas, causando isso uma espcie de incerteza. A inteligncia dasignificaodelasexplica,aodemais,overdadeirosentidodecertasmximasque,primeiravista,parecemsingulares.

    Escr ibas Nome dado, a princpio, aos secretrios dos reis de Jud e a certosintendentes dos exrcitos judeus. Mais tarde, foi aplicado especialmente aosdoutores que ensinavam a lei deMoiss e a interpretavam para o povo. Faziamcausa comum com os fariseus, de cujos princpios partilhavam, bem como daantipatia que aqueles votavam aos inovadores. Da o envolvlos Jesus nareprovaoquelanavaaosfariseus.

    EssniosouesseusTambmseitajudiafundadacercadoano150antesdeJesusCristo, ao tempo dos macabeus, e cujos membros, habitando uma espcie demosteiros,formavamentresiumacomoassociaomoralereligiosa.Distinguiamsepeloscostumesbrandoseporausterasvirtudes,ensinavamoamoraDeuseaoprximo,aimortalidadedaalmaeacreditavamnaressurreio.Viviamemcelibato,condenavam a escravido e a guerra, punham em comunho os seus bens e seentregavam agricultura. Contrrios aos saduceus sensuais, que negavam aimortalidade aos fariseus de rgidas prticas exteriores e de virtudes apenasaparentes,nuncaosessniostomarampartenasquerelasquetornaramantagonistasaquelas duas outras seitas. Pelo gnero de vida que levavam, assemelhavamsemuitoaosprimeiroscristos,eosprincpiosdamoralqueprofessavam induzirammuitaspessoasa suporqueJesus,antesdedarcomeosuamissopblica, lhespertenceracomunidade.certoqueelehdetlaconhecido,masnadaprovaquese lhe houvesse filiado, sendo, pois, hipottico tudo quanto a esse respeito seescreveu2.

    Far iseus (do hebreu parush, diviso, separao) A tradio constitua parteimportante da teologia dos judeus. Consistia numa compilao das interpretaes

    2 AmortedeJesus,supostamenteescritaporumessnio,obrainteiramenteapcrifa,cujonicofimfoiservirdeapoioaumaopinio.Elatrazemsimesmaaprovadasuaorigemmoderna.

  • 20 AllanKardec

    sucessivamente dadas ao sentido das Escrituras e tornadas artigos de dogma.Constitua,entreosdoutores,assunto dediscussesinterminveis,asmaisdasvezessobresimples questesdepalavrasoudeformas,nognerodasdisputas teolgicasedas sutilezas da escolstica da IdadeMdia. Da nasceram diferentes seitas, cadaumadasquaispretendiateromonopliodaverdade,detestandoseumassoutras,comosiacontecer.Entreessasseitas,amaisinfluenteeraadosfariseus,quetevepor chefe Hillel 3, doutor judeu nascido na Babilnia, fundador de uma escolaclebre, onde se ensinava que sse devia depositar f nasEscrituras. Sua origemremontaa180ou200anosantesdeJesusCristo.Osfariseus,emdiversaspocas,foramperseguidos,especialmentesobHircanosoberanopontficeereidosjudeus,AristbuloeAlexandre, rei daSria.Este ltimo, porm, lhes deferiuhonras erestituiuosbens,desortequeeles readquiriramoantigopoderioeo conservaramat runadeJerusalm,noano70daeracrist,pocaemquese lhesapagouonome,emconseqnciadadispersodosjudeus.

    Tomavamparteativanascontrovrsiasreligiosas.Serviscumpridoresdasprticas exteriores do culto e das cerimnias cheios de um zelo ardente deproselitismo, inimigos dos inovadores, afetavam grande severidade de princpiosmas, sob as aparncias de meticulosa devoo, ocultavam costumes dissolutos,muitoorgulhoe,acimade tudo,excessivansiadedominao.Tinhamareligiomais comomeio de chegarem a seus fins, do que como objeto de f sincera. Davirtude nada possuam, alm das exterioridades e da ostentao entretanto, porumaseoutras,exerciamgrandeinflunciasobreopovo,acujosolhospassavamporsantascriaturas.DaoseremmuitopoderososemJerusalm.

    Acreditavam, ou, pelo menos, fingiam acreditar na Providncia, naimortalidadedaalma,naeternidadedaspenasenaressurreiodosmortos. (Cap.IV,n4.)Jesus,queprezava,sobretudo,asimplicidadeeasqualidadesdaalma,que,nalei,preferiaoesprito,quevivifica,letra,quemata,seaplicou,durantetodaasua misso, a lhes desmascarar a hipocrisia, pelo que tinha neles encarniadosinimigos.Essaarazoporqueseligaramaosprncipesdossacerdotesparaamotinarcontraeleopovoeeliminlo.

    NazarenosNomedado,naantigalei,aosjudeusquefaziamvoto,ouperptuooutemporrio, de guardar perfeita pureza. Eles se comprometiam a observar acastidade, a absterse de bebidas alcolicas e a conservar a cabeleira. Sanso,SamueleJooBatistaeramnazarenos.

    Maistarde,osjudeusderamessenomeaosprimeiroscristos,poralusoaJesusdeNazar.

    Tambm foi essa a denominao de uma seita hertica dos primeirossculos da era crist, a qual, domesmomodoque os ebionitas, de quemadotavacertosprincpios,misturavaasprticasdomoisasmocomosdogmascristos,seitaessaquedesapareceunosculoquarto.Por tageiros Eramosarrecadadoresdebaixacategoria, incumbidosprincipalmentedacobranadosdireitosdeentradanascidades.Suasfunescorrespondiammais

    3NoconfundiresseHillelquefundouaseitadosfariseuscomoseuhomnimoqueviveuduzentosanosmais tarde e estabeleceu os princpios religiosos e sociais de um sistema todo de tolerncia e amor,sistemahojeconhecidoporHilelismo. AEditoradaFEB,1947.

  • 21 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    oumenos dos empregados de alfndega e recebedores dos direitos de barreira.Compartilhavamdarepulsaquepesavasobreospublicanosemgeral.Essaarazoporque,noEvangelho,sedeparafreqentementecomapalavrapublicandoaoladodaexpressogentedemvida.Talqualificaonoimplicavaadedebochadosouvagabundos.Eraumtermodedesprezo,sinnimodegentedemcompanhia,genteindignadeconvivercompessoasdistintas.PublicanosEramassimchamados,naantigaRoma,oscavalheirosarrendatriosdas taxas pblicas, incumbidos da cobrana dos impostos e das rendas de todaespcie,queremRomamesma,quernasoutraspartesdoImprio.Eramcomoosarrendatriosgeraisearrematadoresdetaxasdoantigo regime naFranaequeaindaexistemnalgumasregies.Osriscosaqueestavamsujeitosfaziamqueosolhossefechassemparaasriquezasquemuitasvezesadquiriameque,dapartedealguns,eramfrutosdeexaesedelucrosescandalosos.Onomedepublicanoseestendeumais tarde a todos os que superintendiam os dinheiros pblicos e aos agentessubalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido pejorativo, para designar osfinancistaseosagentespoucoescrupulososdenegcios.Dizseporvezes:vidocomoumpublicano, rico comoumpublicano, comrefernciaa riquezas demauquilate.

    De toda a dominao romana, o imposto foi o que os judeus maisdificilmenteaceitarameoquemaisirritaocausouentreeles.Danasceramvriasrevoltas,fazendosedocasoumaquestoreligiosa,porserconsideradacontrriaLei.Constituiuse,mesmo,umpartidopoderoso,acujafrentesepsumcertoJud,apelidadooGaulonita,tendoporprincpioonopagamentodoimposto.Osjudeus,pois,abominavamaestee,comoconseqncia,atodososqueeramencarregadosdearrecadlo,dondeaaversoquevotavamaospublicanosdetodasascategorias,entreosquaispodiamencontrarsepessoasmuitoestimveis,masque,emvirtudedas suas funes, eram desprezadas, assim como os que com elas mantinhamrelaes,osquaisseviamatingidospelamesmareprovao.Osjudeusdedestaqueconsideravamumcomprometimento tercomelesintimidade.

    SaduceusSeitajudia,queseformouporvoltadoano248antesdeJesusCristoecujonomelheveiododeSadoc,seufundador.Nocriamnaimortalidade,nemnaressurreio,nemnosanjosbonsemaus.Entretanto,criamemDeusnada,porm,esperando aps amorte, s o serviam tendo em vista recompensas temporais, aoque, segundo eles, se limitava a providncia divina. Assim pensando, tinham asatisfaodossentidosfsicosporobjetivoessencialdavida.QuantosEscrituras,atinhamse ao texto da lei antiga. No admitiam a tradio, nem interpretaesquaisquer.ColocavamasboasobraseaobservnciapuraesimplesdaLeiacimadasprticas exteriores do culto. Eram, como se v, os materialistas, os destas e ossensualistas da poca. Seita pouco numerosa, mas que contava em seu seioimportantespersonagensesetornouumpartidopolticoopostoconstantementeaosfariseus.

    Samar itanosApsocismadasdeztribos,Samariaseconstituiuacapitaldoreinodissidente de Israel. Destruda e reconstruda vrias vezes, tornouse, sob osromanos, a cabea da Samaria, uma das quatro divises da Palestina. Herodes,

  • 22 AllanKardec

    chamado o Grande, a embelezou de suntuosos monumentos e, para lisonjearAugusto,lhedeuonomede Augusta, emgrego Sebaste.

    OssamaritanosestiveramquaseconstantementeemguerracomosreisdeJud.Aversoprofunda,datandodapocadaseparao,perpetuouseentreosdoispovos,queevitavam todasas relaes recprocas.Aqueles,para tornaremmaioraciso e no terem de vir a Jerusalm pela celebrao das festas religiosas,construram para si um templo particular e adotaram algumas reformas. SomenteadmitiamoPentateuco,quecontinhaaleideMoiss,erejeitavamtodososoutroslivrosqueaesseforamposteriormenteanexados.Seuslivrossagradoseramescritosem caracteres hebraicos da mais alta antigidade. Para os judeus ortodoxos, eleseram herticos e, portanto, desprezados, anatematizados e perseguidos. Oantagonismodasduasnaes tinha,pois,por fundamentonicoadivergnciadasopinies religiosas se bem fosse amesma a origemdas crenas de uma e outra.Eramosprotestantes dessetempo.

    Ainda hoje se encontram samaritanos em algumas regies do Levante,particularmenteemNabluseemJafa.ObservamaleideMoisscommaisrigorqueosoutrosjudeusesentresicontraemalianas.

    Sinagoga(dogregosynagog,assemblia,congregao)UmnicotemplohavianaJudia,odeSalomo,emJerusalm,ondesecelebravamasgrandescerimniasdoculto.Osjudeus,todososanos,liamemperegrinaoparaasfestasprincipais,comoasdaPscoa,daDedicaoedosTabernculos.Porocasiodessas festasqueJesus tambmcostumava ir l.Asoutrascidadesnopossuam templos,mas,apenas, sinagogas: edifcios onde os judeus se reuniam aos sbados, para fazerpreces pblicas, sob a chefia dos ancies, dos escribas, ou doutores daLei.Nelastambm se realizavam leituras dos livros sagrados, seguidas de explicaes ecomentrios,atividadesdasquaisqualquerpessoapodiaparticipar.Por issoqueJesus, sem ser sacerdote, ensinava aos sbados nas sinagogas. Desde a runa deJerusalm e a disperso dos judeus, as sinagogas, nas cidades por eles habitadas,servemlhesdetemplosparaacelebraodoculto.

    Terapeutas (do grego therapeutai, formadode therapeuein, servir, cuidar, isto :servidores de Deus, ou curadores) Eram sectrios judeus contemporneos doCristo,estabelecidosprincipalmenteemAlexandria,noEgito.Tinhammuitarelaocom os essnios, cujos princpios adotavam, aplicandose, como esses ltimos, prticadetodasasvirtudes.Eramdeextremafrugalidadenaalimentao.Tambmcelibatrios, votados contemplao e vivendo vida solitria, constituam umaverdadeira ordem religiosa. Flon, filsofo judeu platnico, de Alexandria, foi oprimeiroafalardosterapeutas,considerandoosumaseitadojudasmo.Eusbio,S.Jernimo e outros Pais da Igreja pensam que eles eram cristos. Fossem tais, oufossem judeus, o que evidente que, do mesmo modo que os essnios, elesrepresentamotraodeunioentreoJudasmoeoCristianismo.

  • 23 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    IVSCRATESEPLATO,PRECURSORESDAIDIACRISTEDO ESPIRITISMO

    Do fato de haver Jesus conhecido a seita dos essnios, fora errneoconcluirsequeasuadoutrinahauriuaelenadessaseitaeque,sehouveravividonoutromeio,teriaprofessadooutrosprincpios.Asgrandesidiasjamaisirrompemde sbito. As que assentam sobre a verdade sempre tm precursores que lhespreparamparcialmenteoscaminhos.Depois,emchegandootempo,enviaDeusumhomemcomamissoderesumir,coordenarecompletaroselementosesparsos,dereunilosemcorpodedoutrina.Dessemodo,nosurgindobruscamente,aidia,aoaparecer,encontraespritosdispostosaaceitla.Taloquesedeucomaidiacrist,quefoipressentidamuitossculosantesdeJesusedosessnios,tendoporprincipaisprecursoresScratesePlato.

    Scrates, como o Cristo, nada escreveu, ou, pelomenos, nenhum escritodeixou.ComooCristo,teveamortedoscriminosos,vtimadofanatismo,porhaveratacadoascrenasqueencontraraecolocadoavirtuderealacimadahipocrisiaedosimulacro das formas por haver, numa palavra, combatido os preconceitosreligiosos. Do mesmo modo que Jesus, a quem os fariseus acusavam de estarcorrompendo o povo com os ensinamentos que lhe ministrava, tambm ele foiacusado, pelos fariseus do seu tempo, visto que sempre os houve em todas aspocas,porproclamarodogmadaunidadedeDeus,daimortalidadedaalmaedavidafutura.AssimcomoadoutrinadeJesussaconhecemospeloqueescreveramseus discpulos, da de Scrates s temos conhecimento pelos escritos de seudiscpuloPlato.Julgamosconvenienteresumiraquiospontosdemaiorrelevo,paramostraraconcordnciadelescomosprincpiosdoCristianismo.

    AosqueconsideraremesseparaleloumaprofanaoepretendamquenopodehaverparidadeentreadoutrinadeumpagoeadoCristo,diremosquenoerapagadeScrates,poisqueobjetivavacombateropaganismoqueadeJesus,maiscompletaemaisdepuradadoqueaquela,nadatemqueperdercomacomparaoqueagrandezadamissodivinadoCristonopodeserdiminudaque,aodemais,tratasedeumfatodaHistria,queaningumserpossvelapagar.Ohomemhchegadoaumpontoemquea luzemergepor simesmadesob oalqueire.Eleseachamaduro bastante para encarla de frente tanto pior para os que no ousemabrir os olhos. Chegou o tempo de se considerarem as coisas de modo amplo eelevado,nomaisdopontodevistamesquinhoeacanhadodosinteressesdeseitasedecastas.

    Almdisso,estascitaesprovaroque,seScratesePlatopressentiramaidiacrist,emseusescritostambmsenosdeparamosprincpiosfundamentaisdoEspiritismo.

    RESUMODADOUTRINADESCRATESEDEPLATO

    I.Ohomemumaalmaencarnada.Antesdasuaencarnao,existiaunidaaostiposprimordiaisdasidiasdoverdadeiro,dobemedobelosepara

  • 24 AllanKardec

    se deles, encarnando, e, recordando o seu passado, mais ou menosatormentada pelodesejodevoltaraele.

    Nosepodeenunciarmaisclaramenteadistinoeindependnciaentreoprincpio inteligente e o princpio material. , alm disso, a doutrina dapreexistnciadaalmadavaga intuioqueelaguardadeumoutromundo,aqueaspira da sua sobrevivncia ao corpo da sua sada do mundo espiritual, paraencarnar,edasuavoltaaessemesmo mundo,apsamorte.,finalmente,ogrmendadoutrina dosAnjosdecados.

    II. A alma se transvia e perturba, quando se serve do corpo paraconsiderarqualquerobjetotemvertigem,comoseestivessebria,porquese prende acoisas que esto, por sua natureza, sujeitas amudanasaopassoque,quandocontemplaasuaprpriaessncia,dirigeseparaoquepuro,eterno,imortal,e,sendoeladessanatureza,permanecealigada,portantotempoquantopossa.Cessamentoosseustransviamentos,poisqueestunidaaoqueimutveleaesseestadodaalmaquesechamasabedoria.

    Assim,iludeasimesmoohomemqueconsideraascoisasdemodoterraaterra,dopontodevistamaterial.Paraasapreciarcomjusteza,temdeasverdoalto,isto , do ponto de vista espiritual.Aquele,pois, que est de posseda verdadeirasabedoria,temdeisolardocorpoaalma,paravercomosolhosdoEsprito.oqueensinaoEspiritismo.(Cap.II,n5.)

    III.Enquantotivermosonossocorpoeaalmaseacharmergulhadanessacorrupo, nunca possuiremos o objeto dos nossos desejos: a verdade.Comefeito,ocorponossuscita milobstculospelanecessidadeemquenosachamosdecuidardele.Aodemais,elenosenchededesejos,deapetites,de temores, de mil quimeras e de mil tolices, de maneira que, com ele,impossvelsenostornaserajuizados,sequerporuminstante.Mas,senonospossvelconhecerpuramentecoisaalguma,enquantoaalmanosestligadaaocorpo,deduasuma:oujamaisconheceremosaverdade,ousaconheceremosapsamorte.Libertosdaloucuradocorpo,conversaremosento,lcitoesperlo,comhomensigualmentelibertoseconheceremos,por ns mesmos, a essncia das coisas. Essa a razo por que osverdadeirosfilsofosseexercitamemmorrereamorteno selhesafigura,demodonenhum,temvel.

    Est a o princpio das faculdades da alma obscurecidas por motivo dosrgoscorporaiseodaexpansodessas faculdadesdepoisdamorte.Mas trataseapenasde almasjdepuradasomesmonosedcomasalmas impuras.(OCueoInferno, 1Parte,cap.II2Parte,cap.I.)

    IV.A alma impura, nesse estado, se encontra oprimida e se v de novoarrastadaparaomundovisvel,pelohorrordoqueinvisveleimaterial.

  • 25 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    Erra, ento, dizse, em torno dos monumentos e dos tmulos, junto aosquaisjsetmvistotenebrososfantasmas,quaisdevemserasimagensdasalmas que deixaram o corpo sem estarem ainda inteiramente puras, queainda conservamalguma coisa da formamaterial, o que faz que a vistahumanapossaperceblas.Nosoasalmasdosbonsso,porm,asdosmaus, que se vem foradas a vagar por esses lugares, onde arrastamconsigoapenadaprimeiravidaquetiverameondecontinuamavagaratque os apetites inerentes forma material de que se revestiram asreconduzamaumcorpo.Ento,semdvida,retomamosmesmoscostumesqueduranteaprimeiravidaconstituamobjetodesuaspredilees.

    Nosomenteoprincpiodareencarnaoseachaaclaramenteexpresso,mastambmoestadodasalmasque semantmsobojugodamatriadescritoqualomostra oEspiritismo nas evocaes.Mais ainda: no tpico acima se diz que areencarnaonumcorpomaterialconseqnciadaimpurezadaalma,enquantoasalmas purificadas se encontram isentas de reencarnar. Outra coisa no diz oEspiritismo, acrescentando apenas que a alma, que boas resolues tomou naerraticidade e que possui conhecimentos adquiridos, traz, ao renascer, menosdefeitos,maisvirtudeseidiasintuitivasdoquetinhanasuaexistnciaprecedente.Assim, cada existncia lhe marca um progresso intelectual e moral. (O Cu e oInferno, 2Parte: Exemplos.)

    V.Apsanossamorte,ognio(daimon,demnio),quenosforadesignadoduranteavida,levanosaumlugarondese renemtodososque tmdeser conduzidos ao Hades, para serem julgados. As almas, depois dehaveremestadonoHadesotemponecessrio,soreconduzidasaestavidaemmltiploselongosperodos.

    a doutrina dos Anjos guardies, ou Espritos protetores, e dasreencarnaes sucessivas, em seguida a intervalos mais ou menos longos deerraticidade.

    VI.OsdemniosocupamoespaoqueseparaocudaTerraconstituemolaoqueuneoGrandeTodoasimesmo.Noentrandonuncaadivindadeemcomunicaodiretacomohomem,porintermdiodosdemniosqueos deuses entram em comrcio e se entretm com ele, quer durante aviglia,querduranteosono.

    A palavra daimon, da qual fizeram o termo demnio, no era, naantigidade, tomada m parte, como nos tempos modernos. No designavaexclusivamenteseresmalfazejos,mastodososEspritos,emgeral,dentreosquaisse destacavamosEspritos superiores, chamados deuses, e osmenos elevados, oudemnios propriamente ditos, que comunicavam diretamente com os homens.Tambm o Espiritismo diz que os Espritos povoam o espao que Deus s secomunica com os homens por intermdio dos Espritos puros, que so osincumbidosdelhetransmitirasvontadesqueosEspritossecomunicamcomeles

  • 26 AllanKardec

    duranteavigliaeduranteosono.Ponde,em lugardapalavrademnio,apalavraEspritoetereisadoutrinaespritapondeapalavra anjoetereisadoutrinacrist.

    VII. A preocupao constante do filsofo (tal como o compreendiamScratesePlato)adetomaromaiorcuidadocomaalma,menospeloquerespeitaaestavida,quenoduramaisqueuminstante,doquetendoemvistaaeternidade.Desdequeaalmaimortal,noserprudentevivervisandoeternidade?

    OCristianismoeoEspiritismoensinamamesmacoisa.

    VIII. Se a alma imaterial, temde passar, aps essa vida, a ummundoigualmente invisvel e imaterial, do mesmo modo que o corpo,decompondose,voltamatria.Muitoimporta,noentanto,distinguirbema almapura, verdadeiramente imaterial, que se alimente,comoDeus,decincia e pensamentos, da almamais oumenos maculada de impurezasmateriais,queaimpedemdeelevarseparaodivinoearetmnoslugaresdasuaestadanaTerra.

    Scrates e Plato, como se v, compreendiamperfeitamente os diferentesgrausdedesmaterializaodaalma.Insistemnadiversidadedesituaoqueresultapara elas da sua maior ou menor pureza. O que eles diziam, por intuio, oEspiritismooprovacomosinmerosexemplosquenospesobasvistas.(OCueoInferno,2Parte.)

    IX. Se amorte fosse a dissoluo completa do homem,muito ganhariamcomamorteosmaus,poisseveriamlivres,aomesmotempo,docorpo,daalmaedosvcios.Aquelequeguarneceraalma,nodeornatosestranhos,mascomosquelhesoprprios,sessepoderaguardartranqilamenteahoradasuapartidaparaooutromundo.

    Equivaleissoadizerqueomaterialismo,comoproclamarparadepoisdamorteonada,anulatodaresponsabilidademoralulterior,sendo,conseguintemente,umincentivoparaomalqueomautemtudoaganhardonada.Somenteohomemque se despojou dos vcios e se enriqueceu de virtudes, pode esperar comtranqilidadeodespertarnaoutravida.Pormeiodeexemplos,quetodososdiasnosapresenta,oEspiritismomostraquopenoso,paraomau,opassardestaoutravida,aentradanavidafutura.(OCueoInferno, 2Parte,cap.I.)

    X.Ocorpoconservabem impressososvestgiosdoscuidadosdeque foiobjeto e dos acidentes que sofreu. Dse omesmo com a alma.Quandodespidadocorpo,elaguarda,evidentes,ostraosdoseucarter,desuasafeieseasmarcasquelhedeixaramtodososatosdesuavida.Assim,amaior desgraa que pode acontecer ao homem ir para o outromundocoma alma carregada de crimes.Vs,Clicles, que nem tu, nemPlux,nemGrgiaspodereisprovarquedevamos levaroutravidaquenosseja

  • 27 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    tilquandoestejamosdooutrolado.Detantasopiniesdiversas,anicaque permanece inabalvel a de quemais vale receber do que cometerumainjustiaeque,acimadetudo,devemoscuidar,nodeparecer,masde ser homem de bem. (Colquios de Scrates com seus discpulos, napriso.)

    Deparasenosaquioutropontocapital,confirmadohojepelaexperincia:odequeaalmanodepuradaconservaasidias,astendncias,ocartereaspaixesquetevenaTerra.Nointeiramentecristestamxima:maisvalereceberdoquecometerumainjustia?OmesmopensamentoexprimiuJesus,usandodestafigura:Sealgumvosbaternumaface,apresentailheaoutra.(Cap.XII,nos 7e8.)

    XI.Deduasuma:ouamorteumadestruioabsoluta,oupassagemdaalmaparaoutrolugar.Setudotemdeextinguirse,amortesercomoumadessas rarasnoitesquepassamossemsonhoesemnenhumaconscinciadensmesmos.Todavia,seamorteapenasumamudanademorada,apassagemparaolugarondeosmortossetmdereunir,quefelicidadeadeencontrarmos laqueles a quemconhecemos!Omeumaior prazer seriaexaminardepertooshabitantesdessaoutramoradaedistinguirl,comoaqui,osquesodignosdosquesejulgamtaisenooso.Mas,tempodenos separarmos, eu para morrer, vs para viverdes. (Scrates aos seusjuzes.)

    SegundoScrates,osqueviveramnaTerraseencontramapsamorteesereconhecem. Mostra o Espiritismo que continuam as relaes que entre eles seestabeleceram, de tal maneira que a morte no nem uma interrupo, nem acessaodavida,masumatransformao,semsoluodecontinuidade.HouvessemScratesePlatoconhecidoosensinosqueoCristodifundiuquinhentosanosmaistardeeosqueagoraoEspiritismoespalha,enoteriamfaladodeoutromodo.Noh nisso, entretanto, o que surpreenda, se considerarmos que as grandes verdadessoeternasequeosEspritosadiantadoshodetlasconhecidoantesdeviremTerra,paraondeastrouxeramqueScrates,Platoeosgrandesfilsofosdaquelestempos bem podem, depois, ter sido dos que secundaramo Cristo na suamissodivina,escolhidosparaessefimprecisamenteporseacharem,maisdoqueoutros,emcondiesdelhecompreenderemassublimesliesque,finalmente,podedarse faam eles agora parte da pliade dos Espritos encarregados de ensinar aoshomensasmesmasverdades.

    XII. Nunca se deve retribuir com outra uma injustia, nem fazer mal aningum,sejaqualforodanoquenoshajamcausado.Poucos,noentanto,sero os que admitam esse princpio, e os que se desentenderem a talrespeito nadamais faro, semdvida, do que sevotaremuns aos outrosmtuodesprezo.

    No est a o princpio de caridade, que prescreve no se retribua omalcomomaleseperdoeaosinimigos?

  • 28 AllanKardec

    XIII. pelos frutos que se conhece a rvore. Toda ao deve serqualificada pelo que produz: qualificla de m, quando dela provenhamaldeboa,quandodorigem aobem.

    Estamxima:Pelosfrutosqueseconhecearvore,seencontramuitasvezesrepetidatextualmentenoEvangelho.

    XIV.Ariquezaumgrandeperigo.Todohomemqueamaa riquezanoamaasimesmo,nemaoqueseuamaaumacoisaquelheaindamaisestranhadoqueoquelhepertence. (Cap.XVI.)

    XV. As mais belas preces e os mais belos sacrifcios prazem menos Divindade do que uma alma virtuosa que faz esforos por se lheassemelhar.Gravecoisaforaqueosdeusesdispensassemmaisatenosnossasoferendas,doquenossaalmasetalsedesse,poderiamosmaisculpados conseguir que eles se lhes tornassem propcios. Mas, no:verdadeiramentejustose retossosoosque,por suaspalavraseatos,cumpremseusdeveresparacomosdeuseseparacomoshomens.(Cap.X,nos 7e8.)

    XVI.Chamohomemviciosoaesseamantevulgar,quemaisamaocorpodoqueaalma.OamorestportodaparteemaNatureza,quenosconvidaao exerccio da nossa inteligncia at no movimento dos astros oencontramos.oamorqueornaaNaturezadeseusricostapeteseleseenfeita e fixamorada onde se lhe deparem flores e perfumes. ainda oamorquedpazaoshomens,calmaaomar,silncioaosventosesonodor.

    O amor, que h de unir os homens por um lao fraternal, umaconseqnciadessateoriadePlatosobreoamoruniversal,comoleidaNatureza.Tendo dito Scrates que o amor no nem um deus, nem ummortal,mas umgrande demnio, isto , um grande Esprito que preside ao amor universal, essaproposiolhefoiimputadacomocrime.

    XVII.Avirtude no pode ser ensinada vempor domdeDeus aosque apossuem.

    quase a doutrina crist sobre a graamas, se a virtude um dom deDeus,umfavore,ento,podeperguntarseporquenoconcedidaatodos.Poroutrolado,seumdom,carecedemritoparaaquelequeapossui.OEspiritismomaisexplcito,dizendoqueaquelequepossuiavirtudeaadquiriuporseusesforos,em existncias sucessivas, despojandose pouco a pouco de suas imperfeies. AgraaaforaqueDeusfacultaaohomemdeboavontadeparaseexpungirdomalepraticarobem.

  • 29 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    XVIII. disposio natural em todos ns a de nos apercebermos muitomenosdosnossosdefeitos,doquedosdeoutrem.DizoEvangelho:Vedesapalhaqueestnoolhodovossoprximoeno

    vedesatravequeestnovosso.(Cap.X,nos 9e10.)

    XIX. Se os mdicos so malsucedidos, tratando da maior parte dasmolstias, que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, no seachandootodoembomestado,impossvelqueumapartedelepassebem.

    O Espiritismo fornece a chave das relaes existentes entre a alma e ocorpoeprovaqueumreageincessantementesobreooutro.Abre,assim,novasendaparaaCincia.Comolhemostraraverdadeiracausadecertasafeces,facultalheos meios de as combater. Quando a Cincia levar em conta a ao do elementoespiritualnaeconomia,menosfreqentesseroosseusmausxitos.

    XX.Todososhomens,apartirda infncia,muitomais fazemdemal,doque debem.

    EssasentenadeScratesfereagravequestodapredominnciadomalnaTerra, questo insolvel sem o conhecimento da pluralidade dos mundos e dadestinao do planeta terreno, habitado apenas por uma frao mnima daHumanidade. Somente o Espiritismo resolve essa questo, que se encontraexplanadaaquiadiante,noscaptulosII,IIIeV.

    XXI.Ajuizadosers,nosupondoquesabesoque ignoras.

    Issovaicomvistasaosquecriticamaquilodequedesconhecematmesmoos primeiros termos. Plato completa esse pensamento de Scrates, dizendo:Tentemos,primeiro,tornlos,seforpossvel,maishonestosnaspalavrassenooforem,nonospreocupemoscomelesenoprocuremossenoaverdade.Cuidemosdeinstruirnos,masnonosinjuriemos.assimquedevemprocederosespritascomrelaoaosseuscontraditoresdeboaoumf.RevivessehojePlatoeachariaascoisasquasecomonoseutempoepoderiausardamesmalinguagem.TambmScrates toparia criaturas que zombariam da sua crena nos Espritos e que oqualificariamdelouco,assimcomo aoseudiscpuloPlato.

    Foi por haver professado esses princpios que Scrates se viuridicularizado,depoisacusadodeimpiedadeecondenado abebercicuta.Tocertoque,levantandocontrasiosinteresseseospreconceitosqueelasferem,asgrandesverdadesnovasnosepodemfirmarsemlutaesemfazermrtires.

  • 30 AllanKardec

    CAPTULOI

    NO VIM DESTRUIR A LEI

    ASTRSREVELAES:MOISS,CRISTO,ESPIRITISMO. ALIANADACINCIAEDARELIGIO

    INSTRUODOSESPRITOS

    ANOVAERA

    1.Nopenseisqueeutenhavindodestruiraleiouosprofetas:noosvimdestruir,mascumprilos:porquanto,emverdadevosdigoqueocueaTerra no passaro, sem que tudo o que se acha na lei estejaperfeitamentecumprido,enquantoresteumnicoiotaeumnicoponto.

    (S.MATEUS,5:17e18.)

    MOISS

    2. Na leimoisaica, h duas partes distintas: a lei deDeus, promulgada nomonteSinai,ealeiciviloudisciplinar,decretadaporMoiss.Umainvarivelaoutra,apropriada aoscostumeseaocarterdopovo,semodificacomotempo.

    AleideDeusestformuladanosdezmandamentosseguintes:

    I.EusouoSenhor,vossoDeus,quevostireidoEgito,dacasadaservido.Notereis,diantedemim,outrosdeuses estrangeiros. Nofareisimagemesculpida,nemfiguraalgumadoqueestemcimadocu,nemembaixonaTerra,nemdoquequerqueestejanasguassobaterra.Noosadorareisenolhesprestareiscultosoberano4.

    4 AllanKardeccitaapartemaisimportantedo primeiromandamento,edeixadetranscreverasseguintesfrases:...porqueeu,oSenhorvossoDeus,souDeuszeloso,quepunoainiqidadedospaisnosfilhos,na terceiraenaquartageraesdaquelesquemeaborrecem,eusodemisericrdiaatmilgeraesdaquelesquemeamameguardamosmeusmandamentos.(xodo,20:5e6.)NastraduesfeitaspelasIgrejasCatlicaeprotestantes,essapartedomandamentofoitruncadaparaharmonizlacomadoutrinada encarnao nica da alma. Onde est na terceira e na quarta geraes, conforme a traduo

  • 31 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    II.Nopronunciareisemvoonome doSenhor, vossoDeus.

    III.Lembraivosdesantificarodiadosbado.

    IV.Honraiavossopaieavossame,a fimdeviverdes longo temponaterraqueoSenhor vossoDeusvosdar.

    V.Nomateis.

    VI.Nocometaisadultrio.

    VII.Noroubeis.

    VIII.Nopresteistestemunhofalsocontraovossoprximo.

    IX.Nodesejeisamulherdovossoprximo.

    X. No cobiceis a casa do vosso prximo, nem o seu servo, nem a suaserva, nem o seu boi, nem o seu asno, nem qualquer das coisas que lhepertenam.

    detodosostemposedetodosospasesessaleietem,porissomesmo,carterdivino.TodasasoutrassoleisqueMoissdecretou,obrigadoqueseviaaconter,pelotemor,umpovodeseunaturalturbulentoeindisciplinado,noqualtinhaeledecombaterarraigadosabusosepreconceitos,adquiridosduranteaescravidodoEgito.Paraimprimirautoridadessuasleis,houvedelhesatribuirorigemdivina,conforme o fizeram todos os legisladores dos povos primitivos. A autoridade dohomem precisava apoiarse na autoridade de Deus mas, s a idia de um Deusterrvel podia impressionar criaturas ignorantes, em as quais ainda poucodesenvolvidosseencontravamosensomoraleosentimentodeumajustiareta.evidentequeaquelequeinclura,entreosseusmandamentos,este:Nomatareisno causareis dano ao vosso prximo, no poderia contradizerse, fazendo da

    BrasileiradaBblia,aVulgata Latina (intertiametquartamgenerationem),atraduodeZamenhof (enla tria kaj kvara generacioj),mudaram o texto para at ter ceirae quar ta geraes. Esses textostruncados queaparecem na traduo da IgrejaAnglicana, naCatlica de Figueiredo, naProtestante deAlmeida e outras, tornam monstruosa a justia divina, pois que filhos, netos, bisnetos, tetranetosinocentesteriamdesercastigadospelopecadodospais,avs,bisavs,tetravs.FoiumainfeliztentativadeacomodaodaLeividanica. AEditor adaFEB,1947.

    O texto certoque,pormercdeDeus, j est reproduzidopelasedies recentssimasaquenosreferimostraduesBrasileiraedeZamenhof,queconferemcomS.Jernimo,mostraqueaLeiensina veladamentea reencarnao eas expiaes e provas.Naprimeirae na segundageraes, comocontemporneos de seus filhos e netos, oEspritoculpadoainda no reencarnou,mas,um poucomaistardena terceira equartageraes j elevoltoue recebeas conseqncias de suas faltas.Assim,oculpadomesmo,enooutrem,pagasuadvida.

    Logo, temse de excluir a 1 e 2 geraes e expressar na 3 e 4, como realmente ooriginal.

    Achamos conveniente acrescentar aqui esta nota, para facilitar a compreenso do estudiosoqueconfronteasuatraduodaBbliacomacitaodoMestre. AEditoradaFEB,1947.

  • 32 AllanKardec

    exterminaoumdever.Asleismoisaicas,propriamenteditas,revestiam,pois,umcarteressencialmentetransitrio.

    OCRISTO

    3. Jesus no veio destruir a lei, isto , a lei de Deus veio cumprila, isto ,desenvolvla,darlheoverdadeirosentidoeadaptlaaograudeadiantamentodoshomens.Porisso,quesenosdepara,nessalei,oprincpiodosdeveresparacomDeus e para com o prximo, base da sua doutrina. Quanto s leis de Moiss,propriamente ditas, ele, ao contrrio, as modificou profundamente, quer nasubstncia, quer na forma. Combatendo constantemente o abuso das prticasexteriores e as falsas interpretaes, por mais radical reforma no podia fazlaspassar,doqueasreduzindo aestanicaprescrio:AmaraDeusacimadetodasascoisas e o prximo como a simesmo, e acrescentando: a esto a lei toda e osprofetas.

    Por estas palavras: O cu e a Terra no passaro sem que tudo estejacumpridoatoltimoiota,quisdizerJesussernecessrioquealeideDeustivessecumprimentointegral,isto,fossepraticadanaTerrainteira,emtodaasuapureza,comtodasassuasampliaeseconseqncias.Efetivamente,dequeserviriahaversidopromulgadaaquelalei, seeladevesseconstituirprivilgiodealgunshomens,ou,sequer,deumnicopovo?Sendo filhosdeDeustodososhomens,todos,semdistinonenhuma,soobjetodamesmasolicitude.

    4.Mas, o papel de Jesus no foi o de um simples legisladormoralista, tendo porexclusivaautoridadeasuapalavra.Cabialhedarcumprimentosprofeciasquelheanunciaram o advento a autoridade lhe vinha da natureza excepcional do seuEspritoedasuamissodivina.ElevieraensinaraoshomensqueaverdadeiravidanoaquetranscorrenaTerraesimaquevividanoreinodoscusvieraensinarlhesocaminhoqueaessereinoconduz,osmeiosdeelessereconciliaremcomDeusedepressentiremessesmeiosnamarchadascoisasporvir,paraarealizaodosdestinos humanos. Entretanto, no disse tudo, limitandose, respeito a muitospontos,a lanarogrmendeverdadesque, segundoeleprprioodeclarou,aindano podiam ser compreendidas. Falou de tudo, mas em termos mais ou menosimplcitos.Paraserapreendidoosentidoocultodealgumaspalavrassuas,mistersefazia que novas idias e novos conhecimentos lhes trouxessem a chaveindispensvel, idias que, porm, no podiam surgir antes que o esprito humanohouvesse alcanado um certo grau de madureza. A Cincia tinha de contribuirpoderosamenteparaaeclosoeodesenvolvimentode taisidias. Importava,pois,darCinciatempoparaprogredir.

    OESPIRITISMO

    5.OEspiritismoacincianovaquevemrevelaraoshomens,pormeiodeprovasirrecusveis,aexistnciaeanaturezadomundoespiritualeassuasrelaescomo

  • 33 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    mundo corpreo. Ele nolomostra, nomais como coisa sobrenatural, porm, aocontrrio, comoumadas foras vivas e sem cessar atuantes daNatureza, como afonte de uma imensidade de fenmenos at hoje incompreendidos e, por isso,relegadosparaodomniodo fantsticoedomaravilhoso.aessasrelaesqueoCristo alude em muitas circunstncias e da vem que muito do que ele dissepermaneceuininteligveloufalsamenteinterpretado.OEspiritismoachavecomoauxliodaqualtudoseexplicade modofcil.

    6. A lei doAntigo Testamento teve emMoiss a sua personificao a doNovoTestamento temnanoCristo.OEspiritismoa terceirarevelaoda leideDeus,mas no tem a personificla nenhuma individualidade, porque fruto do ensinodado,noporumhomem,simpelosEspritos,que soasvozesdoCu, emtodosospontosdaTerra,comoconcursodeumamultidoinumerveldeintermedirios.,de certa maneira, um ser coletivo, formado pelo conjunto dos seres do mundoespiritual, cada um dos quais traz o tributo de suas luzes aos homens, para lhestornarconhecido essemundoeasortequeosespera.

    7.AssimcomooCristodisse:Novimdestruiralei,pormcumprila,tambmoEspiritismo diz: No venho destruir a lei crist, mas darlhe execuo. NadaensinaemcontrrioaoqueensinouoCristomas,desenvolve,completaeexplica,emtermosclaroseparatodagente,oquefoiditoapenassobformaalegrica.Vemcumprir,nos tempospreditos,oqueoCristoanunciouepreparararealizaodascoisas futuras. Ele , pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente oanunciou,regeneraoqueseoperaepreparaoreinodeDeusna Terra.

    ALIANADACINCIAEDARELIGIO

    8.ACinciaeaReligiosoasduasalavancasdaintelignciahumana:umarevelaasleisdomundomaterialeaoutraasdomundomoral.Tendo,noentanto,essasleisomesmoprincpio,queDeus, nopodemcontradizerse.Sefossemanegaoumadaoutra,umanecessariamenteestariaemerroeaoutracomaverdade,porquantoDeusnopodepretenderadestruiodesuaprpriaobra.Aincompatibilidadequesejulgouexistirentreessasduasordensdeidiasprovmapenasdeumaobservaodefeituosaedeexcessodeexclusivismo,deumladoedeoutro.Daumconflitoquedeuorigemincredulidadeeintolerncia.

    So chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo tm de sercompletados em que o vu intencionalmente lanado sobre algumas partes desseensino tem de ser levantado em que a Cincia, deixando de ser exclusivamentematerialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religio,deixandodeignorarasleisorgnicaseimutveisdamatria,comoduasforasqueso, apoiandose uma na outra e marchando combinadas, se prestaro mtuoconcurso.Ento,nomaisdesmentidapelaCincia,aReligioadquiririnabalvelpoder, porque estar de acordo com a razo, j se lhe no podendo mais opor airresistvellgicadosfatos.

  • 34 AllanKardec

    A Cincia e a Religio no puderam, at hoje, entenderse, porque,encarando cada umaas coisas do seu ponto de vista exclusivo, reciprocamente serepeliam.Faltavacomqueencherovazioqueasseparava,umtraode unioqueasaproximasse. Esse trao de unio est no conhecimento das leis que regem oUniversoespiritualesuasrelaescomomundocorpreo,leistoimutveisquantoas que regem o movimento dos astros e a existncia dos seres. Uma vezcomprovadaspelaexperinciaessasrelaes,novaluzsefez:afdirigiuserazoestanadaencontroudeilgiconaf:vencidofoiomaterialismo.Mas,nisso,comoemtudo,hpessoasqueficamatrs,atseremarrastadaspelomovimentogeral,queasesmaga,setentamresistirlhe,emvezdeoacompanharem.todaumarevoluoquenestemomentoseoperaetrabalhaosespritos.Apsumaelaboraoqueduroumaisdedezoitosculos,chegaelasuaplenarealizaoevaimarcarumanovaeranavidadaHumanidade.Fceis sodepreverasconseqncias:acarretarparaasrelaessociaisinevitveismodificaes,squaisningumterforaparaseopor,porqueelasestonosdesgniosdeDeusederivamdaleidoprogresso,queleideDeus.

    INSTRUESDOSESPRITOS

    ANOVAERA

    9. Deus nico e Moiss o Esprito que Ele enviou emmisso para tornloconhecidonosdoshebreus,como tambmdospovospagos.OpovohebreufoioinstrumentodequeseserviuDeusparaserevelarporMoissepelosprofetas,easvicissitudesporquepassouessepovodestinavamseachamaraatenogeraleafazercairovuqueocultavaaoshomensadivindade.

    Os mandamentos de Deus, dados por intermdio de Moiss, contm ogrmendamaisamplamoralcrist.OscomentriosdaBblia,porm,restringiamlhe o sentido, porque, praticada em toda a sua pureza, no na teriam entocompreendido.Mas,nemporissoosdezmandamentosdeDeusdeixavamdeserumcomo frontispcio brilhante, qual farol destinado a clarear a estrada que aHumanidadetinhadepercorrer.

    AmoralqueMoissensinoueraapropriadaaoestadodeadiantamentoemqueseencontravamospovosqueela sepropunharegenerar,eessespovos, semiselvagens quanto ao aperfeioamento da alma, no teriam compreendido que sepudesseadoraraDeusdeoutromodoquenopormeiodeholocaustos,nemquesedevesseperdoarauminimigo.Notveldopontodevistadamatriaemesmododasartesedascincias,aintelignciadelesmuitoatrasadaseachavaemmoralidadeeno se houvera convertido sob o imprio de uma religio inteiramente espiritual.Eralhesnecessriaumarepresentaosemimaterial,qualaqueapresentavaentoareligiohebraica.Osholocaustoslhesfalavamaossentidos,domesmopassoqueaidiadeDeuslhesfalavaaoesprito.

    OCristo foi o iniciador damais pura, damais sublimemoral, damoralevanglicocrist, que h de renovar o mundo, aproximar os homens e tornlosirmosquehdefazerbrotardetodososcoraesacaridadeeoamordoprximo

  • 35 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    eestabelecerentreoshumanosumasolidariedadecomumdeumamoral,enfim,quehdetransformaraTerra,tornandoamoradadeEspritossuperioresaosquehojeahabitam.aleidoprogresso,aqueaNaturezaestsubmetida,quesecumpre,eoEspiritismo aalavancadequeDeusseutilizaparafazerqueaHumanidadeavance.

    Sochegadosostemposemquesehodedesenvolverasidias,paraquese realizemos progressos que esto nos desgnios deDeus.Tmelas de seguiramesma rota que percorreram as idias de liberdade, suas precursoras. No seacredite,porm,queessedesenvolvimentoseefetuesemlutas.Noaquelasidiasprecisam,paraatingiremamaturidade,deabalosediscusses,afimdequeatraiama ateno dasmassas.Umavez isso conseguido, a beleza e a santidade damoraltocaroosespritos,queentoabraaroumacinciaque lhesdachavedavidafutura e descerra as portas da felicidade eterna. Moiss abriu o caminho Jesuscontinuou a obra o Espiritismo a concluir. Um Esprito israelita. (Mulhouse,1861)

    10. Um dia, Deus, em sua inesgotvel caridade, permitiu que o homem visse averdade vararas trevas.Esse dia foi o do advento doCristo.Depois da luz viva,voltaramastrevas.Apsalternativasdeverdadeeobscuridade,omundo novamenteseperdia.Ento,semelhantementeaosprofetasdoAntigoTestamento,osEspritosse puserama falar e a vos advertir.Omundo est abalado em seus fundamentosreboarotrovo.Sedefirmes!

    OEspiritismode ordemdivina,poisqueseassentanasprprias leisdaNatureza, e estai certos de que tudo o que de ordem divina tem grande e tilobjetivo. O vossomundo se perdia a Cincia, desenvolvida custa do que deordemmoral,masconduzindovosaobemestarmaterial,redundavaemproveitodoesprito das trevas. Como sabeis, cristos, o corao e o amor tm de caminharunidosCincia.OreinodoCristo,ah!Passadosquesodezoitosculoseapesardosanguedetantosmrtires,aindanoveio.Cristos,voltaiparaoMestre,quevosquersalvar.Tudofcilquelequecreamaoamoroenchedeinefvelalegria.Sim,meusfilhos,omundoestabaladoosbonsEspritosvolodizemsobejamentedobraivosrajadaqueanunciaatempestade,afimdenoserdesderribados,isto,preparaivosenoimiteisasvirgensloucas,queforamapanhadasdesprevenidaschegadadoesposo.

    A revoluo que se apresta antes moral do que material. Os grandesEspritos, mensageiros divinos, sopram a f, para que todos vs, obreirosesclarecidoseardorosos,faaisouviravossavozhumilde,porquantosoisogrodeareiamas,semgrosdeareia,noexistiriamasmontanhas.Assim,pois,queestaspalavrasSomospequenoscareamparavsdesignificao.Acadaumasuamisso,acadaumoseutrabalho.Noconstriaformigaoedifciodesuarepblicae imperceptveis animlculos no elevam continentes? Comeou a nova cruzada.Apstolosdapazuniversal,quenodeumaguerra,modernosSoBernardos,olhaiemarchaiparafrentealeidosmundos adoprogresso.Fnelon.(Poitiers,1861)11.SantoAgostinhoumdosmaioresvulgarizadoresdoEspiritismo.Manifestasequase por toda parte. A razo disso, encontramola na vida desse grande filsofocristo. Pertence ele vigorosa falange dos Pais da Igreja, aos quais deve acristandade seus mais slidos esteios. Como vrios outros, foi arrancado ao

  • 36 AllanKardec

    paganismo,oumelhor,impiedademaisprofunda,pelofulgordaverdade.Quando,entregueaosmaioresexcessos, sentiuemsuaalmaaquelasingularvibraoqueofezvoltarasiecompreenderqueafelicidadeestavaalhures,quenonosprazeresenervantesefugitivosquando,afinal,noseucaminhodeDamasco,tambmlhefoidado ouvir a santa voz a clamarlhe: Saulo, Saulo, por que me persegues?exclamou:MeuDeus!MeuDeus!perdoaime,creio,soucristo!Edesdeento setornouumdosmaisfortessustentculosdoEvangelho.Podemlerse,nasnotveisconfissesqueesseeminenteespritodeixou,ascaractersticase,aomesmotempo,profticas palavras que proferiu, depois da morte de Santa Mnica: Estouconvencidodequeminhamemevirvisitaredarconselhos,revelandomeoquenos espera na vida futura. Que ensinamento nessas palavras e que retumbanteprevisodadoutrinaporvindoura!Essaarazoporquehoje,vendochegadaahorade divulgarse a verdade que ele outrora pressentira, se constituiu seu ardorosodisseminador e, por assim dizer, se multiplica para responder a todos os que ochamam. Erasto, discpulodeS.Paulo.(Paris,1863)

    Nota Darse venha Santo Agostinho demolir o que edificou?Certamentequeno.Comotantosoutros,elevcomosolhosdoespritooquenoviaenquantohomem.Liberta,suaalmaentrevclaridadesnovas,compreendeoqueantes no compreendia. Novas idias lhe revelaram o sentido verdadeiro dealgumassentenas.NaTerra,apreciavaascoisasdeacordocomosconhecimentosque possua desde que, porm, uma nova luz lhe brilhou, pde aprecilasmaisjudiciosamente. Assim que teve de abandonar a crena, que alimentara, nosEspritosncubosescuboseoantemaquelanaracontraateoriadosantpodas.AgoraqueoCristianismose lhemostraem todaapureza,podeele, sobrealgunspontos,pensardemododiversodoquepensavaquandovivo,semdeixardeserumapstolo cristo. Pode, sem renegar a sua f, constituirse disseminador doEspiritismo, porque v cumprirse o que fora predito. Proclamandoo, naatualidade, outra coisa no faz seno conduzirnos a uma interpretao maisacertada e lgica dos textos. O mesmo ocorre com outros Espritos que seencontramemposioanloga.

  • 37 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    CAPTULOII

    MEU REINO NO DESTE MUNDO

    AVIDAFUTURA AREALEZADEJESUS OPONTODEVISTA

    INSTRUODOSESPRITOS

    UMAREALEZATERRESTRE

    1. Pilatos, tendo entrado de novo no palcio e feito vir Jesus suapresena, perguntoulhe: s o rei dos judeus? Respondeulhe Jesus:Meureinonodestemundo.Seomeureinofossedestemundo,aminhagentehouveracombatidoparaimpedirqueeucassenasmosdosjudeusmas,omeureinoaindanoaqui.

    DisselheentoPilatos:s,pois,rei?Jesuslherespondeu:Tuo dizes sou rei no nasci e no vim a este mundo seno para dartestemunho da verdade. Aquele que pertence verdade escuta aminhavoz.

    (S.JOO,18:33,36e37.)

    AVIDAFUTURA

    2.Poressaspalavras,Jesusclaramenteserefere vidafutura,queeleapresenta,emtodasascircunstncias,comoametaaqueaHumanidadeirterecomodevendoconstituir objeto das maiores preocupaes do homem na Terra. Todas as suasmximas se reportam a esse grande princpio. Com efeito, sem a vida futura,nenhumarazodeserteriaamaiorpartedosseuspreceitosmorais,dondevemqueosquenocremnavidafutura,imaginandoqueeleapenasfalavanavidapresente,nooscompreendem,ouosconsiderampueris.

  • 38 AllanKardec

    Essedogmapode,portanto,sertidocomooeixodoensinodoCristo,peloquefoicolocadonumdosprimeiroslugaresafrentedestaobra.queeletemdeseropontodemiradetodososhomensselejustificaasanomaliasdavidaterrenaesemostradeacordocomajustiadeDeus.

    3. Apenas idias muito imprecisas tinham os judeus acerca da vida futura.Acreditavamnosanjos,considerandoosseresprivilegiadosdaCriaonosabiam,porm,queoshomenspodemumdiatornarseanjosepartilhardafelicidadedestes.Segundo eles, a observncia das leis de Deus era recompensada com os bensterrenos,comasupremaciadanaoaquepertenciam,comvitriassobreosseusinimigos. As calamidades pblicas e as derrotas eram o castigo da desobedinciaquelasleis.Moissnopuderadizermaisdoqueissoaumpovopastoreignorante,queprecisavasertocado,antesdetudo,pelascoisasdestemundo.Maistarde,Jesuslherevelouquehoutromundo,ondeajustiadeDeussegueoseucurso.esseomundoqueeleprometeaosquecumpremosmandamentosdeDeuseondeosbonsacharosuarecompensa.AoseureinolqueeleseencontranasuaglriaeparaondevoltariaquandodeixasseaTerra.

    Jesus, porm, conformando seu ensino com o estado dos homens de suapoca,nojulgouconvenientedarlhesluzcompleta,percebendoqueeles ficariamdeslumbrados, visto que no a compreenderiam. Limitouse a, de certo modo,apresentaravidafuturaapenascomoumprincpio,comoumaleidaNaturezaacujaao ningum pode fugir.Todo cristo, pois, necessariamente cr na vida futuramas, a idia quemuitos fazem dela ainda vaga, incompleta e, por issomesmo,falsa em diversos pontos. Para grande nmero de pessoas, no h, a tal respeito,mais do que uma crena, balda de certezaabsoluta, donde as dvidas emesmo aincredulidade.

    O Espiritismo veio completar, nesse ponto, como em vrios outros, oensinodoCristo,fazendooquandooshomensjsemostrammadurosbastanteparaapreenderaverdade.ComoEspiritismo,avidafuturadeixadesersimplesartigodef, mera hiptese tornase uma realidade material, que os fatos demonstram,porquantosotestemunhasocularesosqueadescrevemnassuasfasestodaseemtodas as suas peripcias, e de tal sorte que, alm de impossibilitarem qualquerdvida a esse propsito, facultam mais vulgar inteligncia a possibilidade deimaginla sob seu verdadeiro aspecto, como toda gente imagina um pas cujapormenorizada descrio leia. Ora, a descrio da vida futura tocircunstanciadamentefeita,sotoracionaisascondies,ditosasouinfortunadas,da existncia dos que l se encontram, quais eles prprios pintam, que cada um,aqui,a seumaugrado,reconheceedeclaraa simesmoquenopodeserdeoutraforma,porquanto,assimsendo,patenteficaaverdadeirajustiadeDeus.

    AREALEZADEJESUS

    4.Quenodestemundoo reinodeJesus todoscompreendem,mas, tambmnaTerranotereleumarealeza?Nemsempreottulodereiimplicaoexercciodopodertemporal.Dseessettulo,porunnimeconsenso,atodoaqueleque,peloseu

  • 39 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    gnio,ascendeprimeiraplananumaordemdeidiasquaisquer,atodoaquelequedomina,oseusculoeinfluisobreoprogressodaHumanidade.nessesentidoquese costuma dizer: o rei ou prncipe dos filsofos, dos artistas, dos poetas, dosescritores,etc.Essarealeza,oriundadomritopessoal,consagradapelaposteridade,no revela,muitas vezes, preponderncia bemmaior do que a que cinge a coroareal? Imperecvel a primeira, enquanto esta outra joguete das vicissitudes asgeraesque sesucedemprimeirasempreabendizem,aopassoque,porvezes,amaldioamaoutra.Esta,aterrestre,acabacomavidaarealezamoralseprolongaemantmo seu poder, governa, sobretudo, aps amorte.Sob esse aspecto no JesusmaispoderosoreidoqueospotentadosdaTerra?Razo,pois,lheassistiaparadizeraPilatos,conformedisse:Sourei,masomeureinonodestemundo.

    OPONTODEVISTA

    5.A idia clara e precisa que se faa da vida futura proporciona inabalvel f noporvir, f que acarreta enormes conseqncias sobre a moralizao dos homens,porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vidaterrena.Paraquemsecoloca,pelopensamento,navidaespiritual,queindefinida,a vida corprea se torna simples passagem, breve estada num pas ingrato. Asvicissitudesetribulaesdessavidanopassamdeincidentesqueelesuportacompacincia, por sablas de curta durao, devendo seguirselhes um estado maisditoso.mortenadamaisrestardeaterradordeixadeseraportaqueseabreparaonadaetornaseaquedparaalibertao,pelaqualentraoexiladonumamansodebemaventuranaedepaz.Sabendotemporriaenodefinitivaasuaestadanolugarondeseencontra,menosatenoprestaspreocupaesdavida,resultandolhedaumacalmadeespritoquetiraquelamuitodoseuamargor.

    Pelosimplesfatodeduvidardavidafutura,ohomemdirigetodososseuspensamentosparaavidaterrestre.Semnenhumacertezaquantoaoporvir,dtudoaopresente.NenhumbemdivisandomaispreciosodoqueosdaTerra,tornasequalacrianaquenadamaisvalmdeseusbrinquedos.Enohoquenofaaparaconseguir os nicos bens que se lhe afiguram reais. A perda domenor deles lheocasiona causticante pesar um engano, uma decepo, uma ambio insatisfeita,umainjustiadequesejavtima,oorgulhoouavaidade feridossooutros tantostormentos,quelhetransformamaexistncianumapereneangstia, infligindoseele,desse modo, a si prprio, verdadeira tortura de todos os instantes. Colocando opontodevista,deondeconsideraavidacorprea,nolugarmesmoemqueeleaseencontra,vastasproporesassumetudooqueorodeia.Omalqueoatinja,comoobemquetoque aosoutros,grandeimportnciaadquireaosseusolhos.quelequeseacha no interior de uma cidade, tudo lhe parece grande: assim os homens queocupemasaltasposies,comoosmonumentos.Subaele,porm,aumamontanha,elogobempequenoslheparecerohomensecoisas.oquesucedeaoqueencaraavida terrestre do ponto de vista da vida futura a Humanidade, tanto quanto asestrelas do firmamento, perdese na imensidade. Percebe ento que grandes epequenos esto confundidos, como formigas sobre um montculo de terra queproletrios e potentados so da mesma estatura, e lamenta que essas criaturas

  • 40 AllanKardec

    efmerasatantascanseirasseentreguemparaconquistarumlugarquetopoucoaselevarequeportopoucotempoconservaro.Daseseguequeaimportnciadadaaosbensterrenosestsempreemrazoinversadafnavidafutura.

    6. Se toda a gente pensasse dessa maneira, dirseia, tudo na Terra periclitaria,porquanto ningum mais se iria ocupar com as coisas terrenas. No o homem,instintivamente,procuraoseubemestare,emboracertodequesporpoucotempopermanecernolugaremqueseencontra,cuidadeestaraomelhorouomenosmalquelhesejapossvel.Ningumhque,dandocomumespinhodebaixodesuamo,no a retire, para seno picar.Ora, o desejo do bemestar fora o homema tudomelhorar,impelidoquepeloinstintodoprogressoedaconservao,queestnasleis da Natureza. Ele, pois, trabalha por necessidade, por gosto e por dever,obedecendo,dessemodo,aosdesgniosdaProvidnciaque,para tal fim,opsnaTerra.Simplesmente,aquelequesepreocupacomofuturonoligaao presentemaisdoque relativaimportnciaefacilmenteseconsoladosseus insucessos,pensandonodestinoqueoaguarda.

    Deus, conseguintemente,no condena os gozos terrenos condena, sim, oabusodessesgozosemdetrimentodascoisasdaalma.Contrataisabusosquesepremunemos que a si prprios aplicam estas palavras de Jesus:Meu reino nodestemundo.Aquelequese identificacomavida futuraassemelhaseao ricoqueperdesememooumapequenasoma.

    Aquelecujospensamentosseconcentramnavidaterrestreassemelhaseaopobrequeperdetudooquepossuiesedesespera.

    7.OEspiritismodilata o pensamento e lhe rasgahorizontes novos.Emvez dessaviso,acanhadaemesquinha,queoconcentranavidaatual,quefazdoinstantequevivemosnaTerranicoefrgileixodoporvireterno,ele,oEspiritismo,mostraqueessa vida no passa de um elo no harmonioso e magnfico conjunto da obra doCriador.Mostraasolidariedadequeconjugatodasasexistnciasdeummesmoser,todososseresdeummesmomundoeosseresdetodososmundos.Facultaassimumabaseeumarazodeserfraternidadeuniversal,enquantoadoutrinadacriaoda almapor ocasio do nascimento de cada corpo torna estranhos uns aos outrostodososseres.Essasolidariedadeentreaspartesdeummesmotodoexplicaoqueinexplicvelseapresenta,desdequeseconsidereapenasumponto.Esseconjunto,aotempodoCristo,oshomensnooteriampodidocompreender,motivoporqueelereservouparaoutrostemposofazloconhecido.

    INSTRUESDOSESPRITOS

    UMAREALEZATERRESTRE

    8.QuemmelhordoqueeupodecompreenderaverdadedestaspalavrasdeNossoSenhor:Omeureinonodestemundo?OorgulhomeperdeunaTerra.Quem,pois,compreenderiaonenhumvalordosreinosdaTerra,seeuonocompreendia?Quetrouxe eucomigodaminharealezaterrena?Nada,absolutamentenada.E,como

  • 41 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    queparatornarmaisterrvelalio,elanemsequermeacompanhouatotmulo!Rainhaentreoshomens,comorainhajulgueiquepenetrassenoreinodoscus!Quedesiluso!Quehumilhao,quando,emvezdeserrecebidaaquiqualsoberana,viacimademim,masmuitoacima,homensqueeujulgavainsignificanteseaosquaisdesprezava,pornoteremsanguenobre!Oh!Como entocompreendiaesterilidadedashonrasegrandezasquecomtantaavidezse requestam naTerra!

    Para se granjear um lugar neste reino, so necessrias a abnegao, ahumildade,acaridadeemtodaasuacelesteprtica,abenevolnciaparacomtodos.Nosevosperguntaoquefostes,nemqueposioocupastes,masquebemfizestes,quantaslgrimasenxugastes.

    Oh! Jesus, tu o disseste, teu reino no deste mundo, porque precisosofrerparachegaraocu,deondeosdegrausdeumtronoaningumaproximam.Aele s conduzemas veredasmais penosas da vida. Procurailhe, pois, o caminho,atravsdasurzesedosespinhos,noporentreasflores.

    Corremoshomensporalcanarosbensterrestres,comoseoshouvessemde guardar para sempre. Aqui, porm, todas as iluses se somem. Cedo seapercebemelesdequeapenasapanharamumasombraedesprezaramosnicosbensreaiseduradouros,osnicosquelhesaproveitamnamoradaceleste,osnicosquelhespodemfacultaracessoaesta.

    Compadeceivosdosquenoganharamoreinodoscusajudaioscomasvossas preces, porquanto a prece aproxima do Altssimo o homem o trao deunio entre o cu e a Terra: no o esqueais. UmaRainha de Frana. (Havre,1863)

  • 42 AllanKardec

    CAPTULOIII

    H MUITAS MORADAS NA CASA DO MEU PAI

    DIFERENTESESTADOSDAALMANAERRATICIDADE DIFERENTESCATEGORIASDEMUNDOSHABITADOS DESTINAODATERRA.CAUSASDASMISRIAS

    TERRENAS

    INSTRUESDOSESPRITOS

    MUNDOSINFERIORESEMUNDOSSUPERIORES MUNDOSDEEXPIAESEDEPROVAS MUNDOSREGENERADORES PROGRESSODOSMUNDOS

    1. No se turbe o vosso corao Credes em Deus, crede tambm emmim.HmuitasmoradasnacasademeuPaiseassimnofosse,jeuvoloteriadito,poismevouparavosprepararolugar.Depoisquemetenhaidoequevoshouverpreparadoolugar,voltareievosretirareiparamim,afimdequeondeeuestiver,tambmvsaestejais.

    (S.JOO,14:1a3.)

    DIFERENTESESTADOSDAALMANAERRATICIDADE

    2.AcasadoPaioUniverso.Asdiferentesmoradassoosmundosquecirculamno espao infinito e oferecem, aos Espritos que neles encarnam, moradascorrespondentesaoadiantamentodosmesmosEspritos.

    Independentedadiversidadedosmundos,essaspalavrasdeJesustambmpodem referirse ao estado venturoso ou desgraado do Esprito na erraticidade.Conformeseacheestemaisoumenosdepuradoedesprendidodoslaosmateriais,variaro ao infinito o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, assensaesque experimente,aspercepesque tenha.Enquantounsnosepodem

  • 43 OEVANGELHOSEGUNDOOESPIRITISMO

    afastardaesferaondeviveram,outrosseelevamepercorremoespaoeosmundosenquantoalgunsEspritosculpadoserramnastrevas,osbemaventuradosgozamderesplendenteclaridadeedoespetculosublimedo Infinito finalmente,enquantoomau, atormentado de remorsos e pesares,muitas vezes insulado, sem consolao,separado dos que