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v.28 n.6 2017
Luciano Slovinscki
Alan Alves-Brito
O experimento da borracha quntica: uso de analogias para
o entendimento do quntico pelo clssico
ISSN 2448-0606
2
Textos de Apoio ao Professor de Fsica, v.28, n.6, 2017. Instituto de Fsica UFRGS
Programa de Ps Graduao em Ensino de Fsica Mestrado Profissional em Ensino de Fsica
Editores: Marco Antonio Moreira Eliane Angela Veit
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Setor Tcnico da Biblioteca Professora Ruth de Souza Schneider
Instituto de Fsica/UFRGS
S634e Slovinscki, Luciano O experimento da borracha quntica: uso de analogias para o entendimento do quntico pelo clssico [recurso eletrnico] / Luciano Slovinscki, Alan Alves-Brito. Porto Alegre: UFRGS, 2017. 108 p. ; il. (Textos de apoio ao professor de fsica / Marco Antonio Moreira e Eliane Angela Veit, ISSN 2448- 0606; v. 28, n.6)
1. Educao 2. Ensino de fsica 3. Ensino mdio 4.
mecnica quntica I. Alves-Brito, Alan II. Ttulo III. Srie.
TEXTOS DE APOIO AO PROFESSOR DE FSICA IF-UFRGS L. SLOVINSCKI e A. ALVES-BRITO v.28 n.6 2017
3
SUMRIO
APRESENTAO ....................................................................................................................................5
REFERENCIAIS TERICOS ...................................................................................................................7
PROPOSTA DIDTICA ............................................................................................................................9
Primeiro Encontro: Contextualizao histrica e bases do surgimento da Mecnica Quntica no
sculo XX .............................................................................................................................................. 13
Segundo Encontro: Discusses a respeito da luz: onda ou partcula?................................................. 25
Terceiro Encontro: A Mecnica Quntica: principais conceitos e curiosidades ................................... 41
Quarto Encontro: A borracha quntica: discusso e apresentao do experimento ............................ 57
Quinto Encontro: Contextualizao do mundo quntico que nos rodeia .............................................. 73
APNDICES .......................................................................................................................................... 87
Apndice A Guia da Aula 1 ............................................................................................................ 87
Apndice B Guia da Aula 2 ............................................................................................................ 89
Apndice C Guia da Aula 3 ............................................................................................................ 91
Apndice D Guia da Aula 4 ............................................................................................................ 93
Apndice E Teste Inicial ................................................................................................................. 95
Apndice F Teste Final .................................................................................................................. 97
REFERNCIAS ................................................................................................................................... 101
TEXTOS DE APOIO AO PROFESSOR DE FSICA ........................................................................... 103
TEXTOS DE APOIO AO PROFESSOR DE FSICA IF-UFRGS L. SLOVINSCKI e A. ALVES-BRITO v.28 n.6 2017
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TEXTOS DE APOIO AO PROFESSOR DE FSICA IF-UFRGS L. SLOVINSCKI e A. ALVES-BRITO v.28 n.6 2017
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APRESENTAO
Caro(a) Professor(a),
A presente proposta educacional foi planejada para preencher uma lacuna deixada pelos atuais
currculos escolares e livros didticos. Voc, que to bem conhece seus alunos, sabe das suas
aspiraes e anseios por uma educao mais contextualizada e prxima do momento em que vivemos.
A nossa to querida Fsica, que fascina a todos ns desde sempre, infelizmente no soa da mesma
maneira maioria dos estudantes, que, por sua vez, sentem-se distantes dos contedos discutidos em
sala de aula, e principalmente da Fsica de fronteira, aquela hoje praticada pela comunidade cientfica.
A consequncia imediata deste cenrio um desinteresse cada vez maior dos estudantes pela rea
de Cincias da Natureza, o que acaba por refletir numa baixa procura por cursos superiores desta rea
do conhecimento, principalmente as licenciaturas, onde se verificam altas taxas de evaso e abandono.
No intuito de fomentar um maior interesse pela Fsica, e aproximar nossos alunos de um mundo
que no pode mais ser separado dos avanos tecnolgicos proporcionados pela Mecnica Quntica,
que esta proposta foi pensada. Nela, os conceitos bsicos da Mecnica Quntica so discutidos,
qualitativamente, atravs de experimentos reais e virtuais, sempre com a finalidade de desvendar e
revelar aos alunos as ideias que esto neles contidos. O debate ocorre dentro de um contexto histrico,
iniciando com as discusses a respeito da natureza da luz, do sculo XVII, e indo at a consolidao
da teoria quntica, em meados de 1930. Alm disso, sempre que possvel, so estabelecidas conexes
entre as teorias quntica e clssica, atravs do uso de analogias. O pice desta proposta ocorre no
quarto encontro, com a apresentao do experimento da borracha quntica, cujos resultados clssicos
servem como excelente anlogo interpretao quntica.
As simulaes computacionais aqui sugeridas so disponibilizadas on-line, gratuitamente,
atravs do endereo eletrnico da Universidade do Colorado na internet, havendo tambm a
possibilidade de serem instaladas no seu computador. Devido complexidade dos temas tratados,
percebeu-se, durante a aplicao do projeto, que essas simulaes, juntamente com os experimentos
reais, se tornaram instrumentos de apoio essenciais para uma melhor compreenso dos conceitos por
parte dos alunos, e acredita-se que essas ferramentas de ensino auxiliaram sobremaneira o processo
de aprendizagem dos estudantes, segundo o referencial terico de Ausubel, adotado nesta proposta.
Dessa forma, espera-se que este produto educacional sirva de base a uma aprendizagem
pautada na atribuio de significados aos conhecimentos que os estudantes viro a adquirir. J voc,
colega professor, pode encontrar nesta obra todos os assuntos necessrios ao tratamento dos diversos
temas aqui sugeridos, alm de indicaes de leituras complementares, a fim de tornar sua aula cada
vez mais atrativa aos olhos dos estudantes.
Boa sorte!
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REFERENCIAIS TERICOS
A abordagem de conceitos de Fsica Quntica no Ensino Mdio requer um cuidado todo
especial do professor, uma vez que tais temas so extremamente abstratos e de difcil compreenso
por parte dos estudantes.
De modo a atenuar esses problemas, esta proposta educacional baseada na teoria da
Aprendizagem Significativa de Ausubel1, segundo a qual todo conhecimento , por definio,
significativo. O conceito de aprendizagem significativa diz que uma nova informao s far realmente
sentido se puder ser ancorada a outra que j faa parte do arcabouo cognitivo do sujeito. Segundo
Ausubel, o estudante s consegue reter para si informaes que faam algum sentido ou que possuam
algum significado, e s retida de forma eficiente se puder ser conectada a algum outro conhecimento
preexistente. Ou seja, o fator decisivo para a aprendizagem depende do que o estudante j conhece.
Essa bagagem intelectual foi chamada por Ausubel de subsunor. Como os conceitos de Fsica
Quntica no esto presentes na estrutura cognitiva dos estudantes, esta proposta educacional
utilizar os conceitos clssicos como subsunores, ligando os novos conhecimentos a estes atravs de
analogias entre o clssico e o quntico.
Ausubel tambm define o conceito de aprendizagem mecnica, que a falta de interao do
novo conhecimento com algum j existente, devendo ser evitada sempre que possvel. Essa nova
informao armazenada de modo arbitrrio, sem nenhuma ligao com algum subsunor particular.
A no interao entre esses conhecimentos pode resultar na falta de significao do novo
conhecimento. A simples memorizao de frmulas ou conceitos serve como exemplo de
aprendizagem mecnica. No tocante Mecnica Quntica, a falta de subsunores especficos requer
especial ateno quanto ao tratamento de seus temas, a fim de que os riscos de ocorrncia de
aprendizagem mecnica sejam atenuados.
Ainda de acordo com Ausubel, para que a aprendizagem significativa ocorra, outras condies
devem ser satisfeitas. Uma delas que o estudante incorpore sua estrutura cognitiva o conhecimento
de um modo que no seja arbitrrio ou literal. Quando isso acontece, esse conhecimento dito
potencialmente significativo. Outra condio descrita como a disposio do estudante em aprender o
que se pretende ensinar. Se o indivduo se sentir obrigado a reter aquele conhecimento, a
aprendizagem ser meramente mecnica. O aluno precisa reconhecer a significncia daquele
conhecimento para poder tom-lo para si de forma significativa. E esse, talvez, seja o principal papel
do professor em sala de aula: despertar o aluno para que reconhea a relevncia daquilo que pretende
ensinar. Assim, espera-se que o aluno, baseado no experimento da borracha quntica aqui proposto,
desenvolva uma compreenso mnima, porm ampla, dos conceitos mais importantes e interessantes
que cercam a Mecnica Quntica, e dessa forma possa perceber que as tecnologias que o cercam,
quase que na sua totalidade, tm seus princpios fundamentados nos conceitos estudados nesta
proposta.
1 David Paul Ausubel (1918-2008), psiquiatra norte-americano, contribuiu com vrios estudos na rea da educao,
que culminaram com a teoria da Aprendizagem Significativa.
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Uma vez que os conceitos de Fsica Quntica so extremamente abstratos e carregados de
um formalismo matemtico que foge ao domnio dos estudantes, este produto educacional se utiliza do
conceito da Transposio Didtica de Chevallard2, que trata da distncia e das modificaes sofridas
por um saber entre a sua concepo e insero na sala de aula, dentro dos diversos nveis de ensino.
A anlise de como se d a transformao de um conceito dentro dos nveis dos saberes o foco do
trabalho de Chevallard. Para ele, um conceito, quando transposto, passa por severas modificaes,
mas mantm semelhanas com a ideia original, apesar de adquirir significados prprios do ambiente
escolar. Assim, Chevallard espera que os saberes, no contexto do ensino, no sejam meras
simplificaes dos saberes iniciais, mas sim novos saberes capazes de responder aos domnios da
cincia e da sala de aula.
Chevallard classifica os saberes em trs nveis bsicos. O Saber Sbio, concebido sob os
pilares das cincias por cientistas e pesquisadores, pertence sociedade especializada daquela rea
de conhecimento, pois suas especificidades e particularidades so intrnsecas quela comunidade. O
Saber a Ensinar, resultado de uma transposio de algum conceito do Saber Sbio para o ambiente
escolar de algum nvel do ensino, adquire um carter didtico e materializado em forma de livros
didticos, por exemplo. E o Saber Ensinado, carregado de um didatismo prprio, que a maneira como
o Saber Sbio se apresenta aos estudantes na sala de aula, moldado pela dinmica da sala de aula,
onde ocorre nova transposio. O estudante dar um significado prprio quele conceito, e esse
significado depender principalmente dos conceitos anteriormente presentes em sua estrutura
cognitiva, segundo a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel.
Segundo Chevallard, o sucesso para a transposio de um conceito depende de uma srie de
fatores. O conceito deve ser consensual e relevante perante sua comunidade cientfica e a sociedade.
Alm disso, deve ser capaz de gerar exerccios e outras formas de avaliao, e criar uma identidade
prpria dentro do ambiente escolar. Esse conjunto de caractersticas d a dimenso do que
necessrio para que um conhecimento seja transposto do Saber Sbio, passando pelo Saber a Ensinar,
e desembocando no Saber Ensinado, de maneira eficaz. A Mecnica Quntica se encaixa parcialmente
nessas condies. Sua relevncia perante a sociedade e a comunidade da Fsica indiscutvel. No
entanto, ainda no est inserida no contexto escolar, carecendo de uma maior ateno, principalmente
de ns, docentes.
Este produto educacional pretende aliar a ideia da transposio didtica de Chevallard teoria
de aprendizagem significativa de Ausubel. Entende-se, aqui, que ambas as teorias so necessrias e
fundamentais introduo de tpicos de FMC, mais especificamente sobre os princpios da Mecnica
Quntica, no Ensino Mdio. A transposio didtica dos conceitos de Mecnica Quntica se faz
necessria para que estes se adequem ao nvel intelectual do aluno, que dentro da sua estrutura
cognitiva, deve dar algum significado a esse novo conhecimento, se possvel conectando-o a algum
conhecimento preexistente. E espera-se que essa conexo seja facilitada pelo uso de analogias.
2 Yves Chevallard, matemtico francs, publicou diversas obras sobre educao, e destacou-se pela proposio da
teoria da Transposio Didtica.
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PROPOSTA DIDTICA
Esta proposta didtica foi planejada para acontecer em 5 encontros porque entende que,
apesar do tempo ser insuficiente para que sejam tratados todos os temas ligados ao assunto, o que
se pode obter, numa viso otimista, levando-se em considerao os extensos currculos frente
pequena carga horria da disciplina de Fsica, na poro final do Ensino Mdio. Alguns dos assuntos
aqui relacionados so apenas mencionados, no sendo discutidos pela absoluta restrio quanto ao
tempo de aula.
Os encontros foram estruturados dentro de um contexto lgico, a fim de apresentarem uma
significncia ao aluno, comeando com uma parte inicial introdutria onde, via de regra, so revisitados
conceitos tratados em encontros anteriores, seguido de um desenvolvimento, desmembrado em
diversos temas, e finalizando com uma pequena concluso. Alguns encontros dispem ainda de um
apndice, cuja finalidade exemplificar ou comentar aspectos do encontro. Todos os encontros contm
ferramentas de apoio ao ensino, como sugestes de experimentos virtuais (simulaes
computacionais), experimentos reais e vdeos explicativos. A Tabela 1 resume esta proposta
educacional, trazendo os principais conceitos clssicos e qunticos trabalhados em cada encontro.
En
co
ntr
o
Tema
Principais conceitos trabalhados em aula
Mecnica Clssica Mecnica Quntica
1
Contextualizao histrica e bases do
surgimento da Mecnica Quntica no sculo XX
Teoria corpuscular da luz Teoria ondulatria da luz
Radiao do corpo negro Quantizao da energia de
Planck
2 Discusses a respeito da luz: onda ou partcula?
Ondas e suas propriedades Teoria corpuscular de Newton
Teoria ondulatria de Huygens
Efeito fotoeltrico
3 A Mecnica Quntica: principais conceitos e
curiosidades -
Dualidade onda-partcula Efeito Compton
Ondas de matria Princpio da incerteza
4
A borracha quntica: discusso e
apresentao do experimento
-
Mecnica quntica: funo de onda, estado, superposio de
estados, probabilidade, medio, colapso da funo de
onda
5 Contextualizao do
mundo quntico que nos rodeia
-
Tunelamento quntico Emaranhamento quntico
Computao quntica Supercondutividade
Tabela 1: resumo dos conceitos clssicos e qunticos tratados em cada encontro. FONTE: o autor.
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J a Tabela 2 especifica as principais analogias e experimentos sugeridos em cada encontro. E
nco
ntr
o
Mecnica Clssica (MC)
Analogias
Mecnica Quntica (MQ)
Conceitos Experimentos Conceitos Experimentos
1
Teoria corpuscular da
luz -
A luz como partcula
(MC)
Radiao do corpo negro
Espectro de emisso de um
corpo negro (EV3)
Teoria ondulatria da
luz -
A luz como onda (MC)
Quantizao da energia de Planck
Emisso / absoro de energia por
tomos (EV)
2
Ondas e suas propriedades
Reflexo, refrao, difrao,
interferncia (ER, EV) e polarizao (ER) da luz
Ondas eletromagnticas
X Ondas na
superfcie de um lquido e numa
corda (MC)
Efeito fotoeltrico Efeito
fotoeltrico (EV) Teoria
corpuscular de Newton
-
Teoria ondulatria de
Huygens
Dupla-fenda de Young
(EV)
3 - -
O fotn como partcula
(MQ)
Dualidade onda-partcula
Experimento de dupla-fenda c/ partculas (EV)
Efeito Compton -
A partcula como onda (MQ)
Ondas de matria
Experimento de Davisson-Germer
(EV)
Princpio da incerteza
Experimento sobre modelos do tomo de H
(EV)
(Continua na prxima pgina)
3 EV: Experimento virtual; ER: Experimento real.
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11
En
co
ntr
o
Mecnica Clssica (MC)
Analogias
Mecnica Quntica (MQ)
Conceitos Experimentos Conceitos Experimentos
4 - - Gato de
Schrdinger (MQ)
Mecnica Quntica: funo de onda, estado, superposio de
estados, probabilidade,
medio, colapso da funo de
onda
Experimento de dupla-fenda c/
partculas (EV)
Experimento da borracha
quntica (ER)
5 - -
Poo de potencial finito
X Energia potencial
gravitacional (MQ)
Tunelamento quntico
Tunelamento quntico
(EV)
Emaranhamento quntico
-
Supercondutividade
-
Tabela 2: Resumo dos conceitos, experimentos e analogias tratados em cada encontro. FONTE: o autor.
Caso o usurio deste produto educacional opte por seguir a metodologia aqui adotada, ainda
so disponibilizados, no Apndice Final, os Testes Inicial e Final utilizados quando da aplicao do
projeto, que se encontra refletido nesta proposta. Neles, o professor poder verificar a necessidade de
reforar ou estruturar alguns dos subsunores contidos na estrutura cognitiva dos estudantes, e
comparar as informaes prestadas por eles quando do preenchimento dos Testes Inicial e Final.
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Primeiro Encontro: Contextualizao histrica e bases do surgimento da Mecnica Quntica
no sculo XX
TEMPO SUGERIDO
90 minutos (2 horas-aula)
Atividade inicial (30 min, opcional)
Aplicao de um teste, a fim de verificar quais conceitos (subsunores) que sero trabalhados nesta proposta educacional esto presentes na estrutura cognitiva dos alunos. Uma sugesto de teste encontra-se no Apndice Final
INTRODUO
Os modelos corpuscular e ondulatrio e as discusses a respeito da natureza da luz
A Fsica, ao fim do sculo XIX, tinha um panorama bem definido. Suas diversas reas de
concentrao estavam quase que esgotadas. A Mecnica tinha seus pilares estabelecidos por Isaac
Newton4 desde o sculo XVII. A teoria era bem aceita, apesar de apresentar alguns problemas, como
o tempo como referencial absoluto (ideia modificada pela teoria da relatividade restrita de Albert
Einstein5 em 1905). A Termodinmica ainda se encontrava em desenvolvimento (na verdade ainda se
encontra, como vrios outros campos da Fsica e da cincia como um todo), mas j tinha bases bem
estabelecidas atravs das ideias de Joule, Kelvin, Clausius, Gibbs, Boltzmann e outros, e no gerava
grandes contradies ou discusses a respeito de sua validade. E a tica, que por muito tempo era
entendida como um campo parte, foi abrangida pela explicao clssica do eletromagnetismo, atravs
das equaes de James Clerk Maxwell6.
Particularmente dentro desse campo de estudo, a tica, ocorreram diversas discusses no
decorrer da histria, principalmente no tocante natureza da luz. Historicamente, duas grandes
correntes divergiam sobre a descrio dos fenmenos luminosos: uma delas entendia a luz como sendo
um grande aglomerado de pequenas partculas. Outra, mais moderna, explicava o fenmeno como
tendo origem ondulatria.
A teoria corpuscular surgiu ainda na Idade Antiga, entre os sculos V e III a.C., com os filsofos
gregos. Dentre outras discusses, havia o entendimento por parte de figuras como Plato e Aristteles
de que a luz era composta de pequenas partculas, assim como a matria. poca, os fenmenos
4 Isaac Newton (1643-1727), fsico e matemtico ingls, dentre outras especialidades, idealizador da Mecnica
Clssica, tambm conhecida como Mecnica Newtoniana, e do clculo diferencial.
5 Albert Einstein (1879-1955), fsico alemo, desenvolveu trabalhos em diversas reas da Fsica. Formulou a teoria
da relatividade e foi premiado com o Nobel de Fsica em 1921 pela explicao do efeito fotoeltrico.
6 James Clerk Maxwell (1831-1879), fsico e matemtico escocs, formulou a teoria moderna do Eletromagnetismo
Clssico. Seus trabalhos serviram de base ao desenvolvimento da Teoria da Relatividade e da Mecnica Quntica.
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luminosos eram pouco compreendidos, de forma que a maior discusso girava em torno dos chamados
raios luminosos. Uma vertente de pensadores afirmava que eles eram percebidos pelos olhos,
enquanto outra via alegava que esses raios eram produzidos por eles. Essa questo sobre a natureza
da viso s foi esclarecida mais de um milnio depois, com os argumentos de Al-Hazen7. A teoria
corpuscular, no entanto, permaneceu sem ser comprovada ou combatida at o sculo XVII, quando
Newton props a formalizao matemtica da teoria corpuscular, de maneira coerente com as leis que
regiam sua Mecnica. O conceito bsico de Newton a respeito da luz era de que a mesma era composta
por um fluxo contnuo de pequenas partculas, cujas aes respeitavam as mesmas leis que
governavam todos os corpos massivos. Com isso, Newton conseguia explicar, ao seu modo, algumas
propriedades da luz, como a refrao e a reflexo.
Nesse mesmo perodo da histria, comeou a ganhar fora outra vertente de pensamento que
tambm se dispunha a explicar a natureza da luz. Christiaan Huygens8, props uma explicao para
os fenmenos da reflexo, refrao e difrao baseado na teoria ondulatria. Por serem
contemporneos, Newton e Huygens puderam confrontar suas ideias e aprofundar seus estudos na
rea, que permaneceram em relativo p de igualdade por aproximadamente um sculo. Foi quando,
em 1800, Thomas Young9 props o famoso experimento da dupla-fenda. Essa constatao cientfica
retomou as discusses a respeito da natureza da luz, uma vez que forneceu considerveis indcios de
que ela possua caractersticas de onda. No obstante, na segunda metade do sculo XIX, Maxwell
props suas equaes para o eletromagnetismo clssico, e provou que a velocidade de propagao
de uma onda eletromagntica no vcuo equivale velocidade de propagao da luz, corroborando
ainda mais a teoria ondulatria. As Equaes 1 a 5 expressam a constatao de Maxwell. A velocidade
c com que uma onda eletromagntica se desloca dada pela Equao 1. Essa velocidade uma
constante no vcuo, pois o resultado do produto de duas outras constantes, 0 e 0, respectivamente
a permissividade eltrica e a permeabilidade magntica do vcuo.
= 1
0 0 [1]
Sendo os valores de 0 8,85 1012 /, e 0 1,25 10
6 /, tem-se:
1
8,85 1012 / 1,25 106 / . [2]
Reescrevendo a Equao 2 em termos das unidades de farad (F) e henry (H), tem-se:
7 Abu Ali al-Hasan Ibn Al-Haitham (965-1038), fsico e matemtico rabe. Apesar de pouco conhecido, prestou
uma inestimvel contribuio cincia no estudo dos fenmenos ticos e na elaborao do mtodo cientfico,
durante a Idade Mdia.
8 Christiaan Huygens (1629-1695), fsico e matemtico holands. Se notabilizou pelos estudos relacionados
natureza da luz, particularmente por defender a teoria ondulatria para a explicao dos fenmenos luminosos.
9 Thomas Young (1773-1829), fsico e mdico britnico. Provou, atravs do experimento da dupla-fenda, que a
luz se comportava como uma onda.
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15
1
8,85 1012
1,25 106
[3]
1
1,11 1017 2/2 [4]
3,0 108/. [5]
Com a comprovao de que a luz se deslocava na mesma velocidade de uma onda
eletromagntica, a teoria ondulatria ganhou ainda mais argumentos a favor, sobrepujando a teoria
corpuscular naquele momento da histria. Assim, esse cenrio se manteve praticamente inalterado at
o fim do sculo XIX.
DESENVOLVIMENTO
Parte 1 O problema da radiao do corpo negro
No entanto, a teoria eletromagntica de Maxwell mostrava-se incompleta, pois apesar de
integrar a eletricidade e o magnetismo, at ento estudados separadamente, e de descrever e prever
com perfeio vrios fenmenos ligados a estes temas, no conseguia dar conta de alguns problemas,
que sero listados mais adiante. Uma parte dos fsicos da poca no se importava com isso, achando
que esses problemas no eram da teoria em si, mas sim do aparato experimental utilizado para verific-
los. Outros at levavam esses problemas em considerao, mas no se atinham a eles, acreditando
que mais cedo ou mais tarde a soluo apareceria. J uma pequena parcela de pesquisadores no
aceitava aquele cenrio, e tentava resolver esses problemas a qualquer custo.
Um dos problemas apresentados pela teoria eletromagntica era a falta de uma explicao
para a chamada radiao do corpo negro. Um corpo negro ideal um corpo hipottico que emite (ou
absorve) radiao eletromagntica em todos os comprimentos de onda, de forma que toda a radiao
incidente completamente absorvida, e em todos os comprimentos de onda e todas as direes a
mxima radiao possvel para a temperatura do corpo emitida. Ele tambm recebe essa
denominao por sua capacidade de absorver toda a radiao que nele incide, pois assim parece negro
viso humana. O problema relacionado radiao emitida por um corpo negro consiste na
discordncia entre o modelo previsto pela teoria eletromagntica e o constatado experimentalmente. A
Figura 1 apresenta alguns resultados experimentais, comparados previso terica segundo a
chamada lei de Rayleigh-Jeans, que se baseava na teoria eletromagntica clssica.
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Figura 1: resultados experimentais e terico para diversas curvas de temperatura de um corpo negro10.
O grfico apresentado pela Figura 1 traz a intensidade de emisso (ou emissividade),
representada no eixo vertical, em funo do comprimento de onda da radiao, constante do eixo
horizontal. Nele, as linhas coloridas mostram o comportamento experimental observado para algumas
temperaturas, que em baixas intensidades ou maiores comprimentos de onda at se aproximam do
resultado terico, representado pela curva preta. No entanto, esta mesma curva preta sinaliza o
comportamento terico esperado para uma temperatura de 5000K, onde a intensidade da radiao
emitida pelo corpo tende ao infinito, e que definitivamente no condiz com o observado
experimentalmente. Ou seja, a teoria eletromagntica apresentava uma grave falha. Nota-se que,
conforme a temperatura do corpo aumenta, os picos das curvas de intensidade deslocam-se para
comprimentos de onda cada vez menores, at que a curva se torna uma exponencial, pelo modelo
terico. Esse resultado terico ficou conhecido como a catstrofe do ultravioleta.
A fim de explorar melhor o tema, sugere-se a utilizao de uma simulao computacional sobre
o espectro de emisso de um corpo negro.
SIMULAO COMPUTACIONAL 1
Espectro de emisso de um corpo negro11
Descrio sumria: simulao que permite verificar como se d a distribuio da
intensidade de radiao de um corpo, numa determinada temperatura, em funo dos seus diversos
comprimentos de onda. Ou seja, ela mostra a curva espectral de um corpo, baseado em sua
temperatura.
10 Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_negro#/media/File:Corpo_negro.svg, adaptada.
11 Disponvel em https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/blackbody-spectrum. Acesso em 03/02/17.
(Lei de Rayleigh-Jeans)
https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/blackbody-spectrum
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17
Possibilidades educacionais: a simulao possibilita que se insira uma temperatura
qualquer, em escala absoluta, e automaticamente ajusta a curva espectral num grfico que mostra seu
comportamento. Existem algumas temperaturas predefinidas de corpos como o Sol, uma lmpada
incandescente, um forno e a Terra, mas qualquer temperatura pode ser inserida de forma manual ou
com o auxlio de um boto. Dependendo da temperatura escolhida, h a necessidade de se ajustar a
escala do grfico atravs de botes existentes em ambos os eixos. Por fim, no alto, um mostrador exibe
qual a percepo visual da cor predominante atribuda temperatura escolhida.
Figura 2: simulao computacional sobre o espectro de emisso de um corpo negro. FONTE: captura de tela.
Forma de utilizao: a simulao permite a visualizao da curva de emisso de um
corpo negro, com especial nfase aos picos de emisso. Como o corpo negro emite em toda a faixa do
espectro eletromagntico, os picos sinalizam a faixa de frequncias onde ocorrem as maiores taxas de
emisso. Assim, se o pico de emisso estiver na faixa do visvel, o olho humano ser sensibilizado por
todas as frequncias relacionadas s cores que se pode perceber, e tem-se a percepo da cor branca,
como mostra a Figura 2. Conforme o pico se afasta em direo a maiores comprimentos de onda
(infravermelho), passa-se a perceber apenas comprimentos de onda correspondentes cor vermelha,
mas caso o pico rume na direo oposta (ultravioleta), a cor percebida ser a violeta. Quando o pico
de emisso estiver afastado da faixa do visvel, nenhuma cor percebida pelo olho. importante que
o aluno entenda que qualquer corpo se comporta (aproximadamente) como um corpo negro, porque a
ele est relacionada uma temperatura, e isso faz com que o mesmo emita radiao. Como exemplo,
com o auxlio de um termmetro infravermelho, possvel estipular-se a temperatura de alguns corpos
Seletor de temperatura
Mostrador
da cor
associada
temperatura
Ajuste de zoom
Ajuste de zoom
Curva espectral
associada ao corpo
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18
presentes na sala de aula, como mesas, paredes, e o prprio corpo humano. A seguir, essas
temperaturas podem ser inseridas na simulao, que por sua vez ir gerar as curvas dos espectros de
emisso desses corpos. Como essas temperaturas variam entre 300K e 400K, os picos de emisso se
encontraro dentro da faixa do infravermelho e bastante distantes da faixa do visvel, corroborando o
fato de que o olho humano no sensibilizado por radiaes com essa frequncia. Aqui, como forma
de contextualizao da aula, pode-se explorar o funcionamento dos aparelhos de viso noturna, que
trabalham nessa faixa do espectro. A fim de diversificar os exemplos, pode-se convidar os alunos a
preencher a duas ltimas colunas da Tabela 3, constante do Guia da Aula 1.
Corpo Temperatura12
(K13) Comprimento de
onda (nm) Faixa do espectro
eletromagntico (pico)
Terra 300 ~ 12000 IV
Forno 660 ~ 9000 IV
Filamento lmpada 3000 ~ 1000 IV
Sol 5700 ~ 550 Visvel
Lava 1300 ~ 2500 IV
Gigante Vermelha 4500 ~ 650 Visvel
Gigante Azul 20000 ~ 200 UV
An Branca 25000 ~ 100 UV
An Marrom 2000 ~ 1500 IV
N (lquido) 75 ~ 40000 IV
He (lquido) 4 ~ 700000 Limite IV - micro-ondas
He (slido) 1 ~ 3000000 Micro-ondas
Tabela 3: exemplos de corpos negros, com respectivas temperaturas, comprimentos de onda e faixa do EEM ao qual pertencem. As duas ltimas colunas devem ser preenchidas pelos alunos. FONTE: o autor.
DESENVOLVIMENTO
Parte 2 Planck e a quantizao da energia
Um dos pesquisadores que no se contentava com o panorama da Fsica do fim do sculo XIX,
onde haviam poucas perguntas sem resposta, era Max Planck14. Planck chegou a ser aconselhado a
12 As temperaturas do Sol e das outras estrelas referem-se superfcie das mesmas.
13 A escala kelvin (K) base do Sistema Internacional, tambm chamada de temperatura absoluta. Para convert-
la em graus Celsius (C), necessrio somar 273,15 temperatura kelvin em questo.
14 Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947), fsico alemo. Seu trabalho inaugurou o ramo da Fsica Quntica.
Por sua imensa colaborao, foi premiado com o Nobel de Fsica em 1918.
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19
no se dedicar Fsica, uma vez que, pelo entendimento da poca, quase tudo na rea j havia sido
descoberto, restando apenas o preenchimento de alguns buracos na teoria (um deles, a radiao do
corpo negro). Assim, Planck se debruou justamente sobre este problema. Aps vrias tentativas
frustradas de resolver a questo, ele, numa atitude quase que desesperada, props que a energia
associada a um corpo negro no poderia variar de maneira contnua, mas sim assumir determinados
valores estabelecidos por uma simples Equao matemtica (Equao 6) que ajustava a curva de
temperaturas do modelo terico com os dados obtidos experimentalmente.
= [6]
Na Equao 6, a energia E proporcional frequncia f, ajustada por uma constante obtida
experimentalmente por Planck. Essa constante foi batizada em homenagem a ele, e seu valor =
6,626 1034 2/.
Um exemplo da quantizao proposta por Planck pode ser visualizado ao se analisar o espectro
de emisso de um tomo. A Figura 3 traz o espectro de emisso de alguns elementos qumicos, que
se encontram na faixa do espectro eletromagntico visvel.
Figura 3: espectro de emisso de diferentes elementos qumicos15.
O que se percebe, analisando a Figura 3, que diferentes elementos apresentam diferentes
linhas de emisso. O espectro, ento, pode ser interpretado como sendo a impresso digital de um
elemento qumico. Todos os tomos de um determinado elemento apresentam um mesmo espectro de
emisso, de modo que a anlise do espectro de emisso de um corpo desconhecido pode determinar
a composio qumica do corpo. O aparelho que realiza esse tipo de anlise chamado espectrmetro,
que ser melhor discutido no Apndice 1.
15 Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/quimica/espectros-emissao-absorcao-leis-kirchhoff.htm.
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20
Mas no que consiste a emisso de luz por um corpo? Basicamente, da excitao dos seus
tomos, que a energizao dos mesmos, fazendo com que seus eltrons transitem entre suas rbitas
permitidas.
Aqui recomenda-se a utilizao de outra simulao computacional, a fim de ilustrar e
exemplificar o processo de emisso e absoro de energias por um tomo. A simulao sugerida a
que mostra como funcionam as lmpadas de descarga (tambm conhecidas como lmpadas
fluorescentes).
SIMULAO COMPUTACIONAL 2
Lmpadas de nenio e outras lmpadas de descarga 16
Descrio sumria: a simulao permite entender como o funcionamento de uma
lmpada de descarga, atravs do bombardeamento, por eltrons, de tomos de um gs rarefeito,
encapsulados numa ampola. No entanto, de especial interesse entender a maneira como ocorre a
emisso e a absoro de energias por este tomo.
Figura 4: simulao computacional sobre lmpadas de nenio e outras lmpadas de descarga. FONTE: captura de tela.
16 Disponvel em https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/discharge-lamps. Acesso em 03/02/17.
Escolha do
elemento
Espectro de emisso
do elemento
Fton emitido
pelo tomo
Diagrama dos
nveis de energia
do tomo
tomo
https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/discharge-lamps
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Possibilidades educacionais: entender o funcionamento de uma lmpada de descarga
apenas uma das possibilidades da simulao. Mais do que isso, ela propicia o entendimento da forma
como se d a emisso de ftons pelos tomos, atravs da transio dos estados de energia do tomo.
Existe a possibilidade de simular o comportamento de um ou vrios tomos, de se visualizar um
espectrmetro que conta individualmente os ftons emitidos, e de perceber como se d a transio
entre os nveis de energia de um tomo, atravs de um diagrama. Ainda pode-se escolher entre tomos
de hidrognio, mercrio, sdio e nenio, que iro gerar diferentes linhas espectrais e,
consequentemente, radiaes de diferentes frequncias.
Forma de utilizao: a simulao uma tima maneira de, num curto intervalo de
tempo, tentar fazer com que os alunos percebam como se d o processo de emisso e absoro de
ftons pelos tomos, atravs da excitao dos mesmos. Essa tarefa pode parecer bastante difcil, pois
talvez os alunos no possuam os subsunores necessrios para tal. Ento, a estratgia aqui sugerida
optar por uma explicao sumria do fenmeno a partir da visualizao da simulao. A compreenso
desse conceito importante, pois contextualiza a noo de quantizao da energia proposta por
Planck. O aluno deve entender que a emisso de um fton de certa frequncia corresponde a uma
determinada energia, e que essas energias so bem determinadas e correspondem s transies entre
os estados possveis para o tomo.
CONCLUSO
As energias so discretas
A teoria de Planck foi revolucionria para a Fsica da poca, e considerada o marco inicial da
Mecnica Quntica. Dentre vrias implicaes, a mais dramtica que as energias associadas s
partculas no podiam mais ser contnuas, ou seja, assumir qualquer valor. De agora em diante, as
energias deveriam ser mltiplas de um valor h, a Constante de Planck, e entendidas como sendo
compostas de pequenos pacotes, que mais tarde foram denominados quanta (plural de quantum, que
em latim significa quantidade). Isso causou um grande mal-estar entre os fsicos da poca, que ficaram
extremamente incomodados com a explicao proposta por Planck. Na verdade, nem mesmo Planck
sabia como explicar sua soluo, chagando a dizer que a teoria era um ato de desespero. Essa
explicao s veio em 1905, com a resposta de Einstein para outro problema da poca: o efeito
fotoeltrico, conceito discutido na proposta do Segundo Encontro.
APNDICE 1
As linhas espectrais
As linhas do espectro de emisso ou absoro de um material podem ser entendidas como a
impresso digital daquela substncia. A visualizao de tais linhas realizada atravs de um
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22
eletroscpio, aparelho de simples funcionamento que pode ser encontrado sem grande dificuldade em
laboratrios de fsica, caso a escola possua um. A Figura 5 traz o esquema de funcionamento
simplificado de um eletroscpio. A luz emitida por uma fonte passa por uma pequena fenda, cuja
finalidade estreitar o feixe luminoso. Este feixe ento encontra um prisma, que por sua vez tem a
funo de difratar o j estreito feixe. Por fim, o resultado projetado em um anteparo, onde a
visualizao das linhas espectrais facilitada.
Figura 5: esquema de um espectroscpio simples17.
Diferentes materiais apresentam diferentes linhas espectrais, como bem mostrou a figura 3.
Alm disso, como discutido anteriormente, todo corpo pode ser aproximado a um corpo negro, com
maior ou menor eficincia. Assim, todo corpo pode emitir e absorver radiao eletromagntica. Dessa
forma, todo corpo possui um espectro de emisso e um espectro de absoro bem definidos, de forma
que o conjunto de linhas espectrais desses dois espectros compreende todos os comprimentos de onda
do espectro eletromagntico. A Figura 6 exemplifica tal situao, mostrando apenas a faixa do espectro
visvel.
Figura 6: exemplos de espectros de emisso e absoro18.
17 Fonte: http://alunosonline.uol.com.br/quimica/espectros-dos-elementos.html.
18 Fonte: http://ies.rosachacel.colmenarviejo.educa.madrid.org/luz/?p=408.
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23
Pode-se observar, na Figura 6, que corpos que se aproximam de um corpo negro ideal
conseguem emitir radiao numa ampla faixa do espectro, como o caso da lmpada. Um gs
aquecido por sua vez, consegue emitir radiao em apenas alguns comprimentos de onda, e seu
espectro de emisso ser bastante discreto. J o mesmo gs, resfriado, absorve radiao com os
mesmos comprimentos de onda na qual emite. O conjunto de linhas espectrais de emisso e absoro
contemplam toda a faixa do espectro visvel, podendo-se entender como sendo uma um negativo da
outra. Por outro lado, Planck props uma equao (Equao 6) que estabelecia uma relao direta
entre energia e frequncia da radiao, algo indito at ento. O que se sabia, poca, era que a
energia se relacionava com a temperatura, como mostra a Equao 7, onde a constante de
Boltzmann19, e T a temperatura da amostra.
= [7]
Igualando as equaes 6 e 7, chega-se Equao 8, onde pode-se perceber que a frequncia
da radiao emitida por um corpo negro diretamente proporcional sua temperatura.
= [8]
Como a frequncia e o comprimento de onda so grandezas inversamente proporcionais, ento
os maiores comprimentos de onda esto associados s menores frequncias, e vice-versa. Assim,
analisando a faixa visvel do espectro eletromagntico, percebe-se que s menores temperaturas esto
associados os maiores comprimentos de onda (faixa prxima ao vermelho), ao passo que as maiores
temperaturas correspondem aos menores comprimentos de onda (faixa prxima ao violeta). Essas
duas cores delimitam os extremos do espectro eletromagntico visvel. Comprimentos de onda
menores j comeam a se localizar na regio do ultravioleta, e os maiores, na regio do infravermelho.
A Figura 7 mostra um esquema com as diversas faixas que compem o espectro eletromagntico.
Figura 7: faixa do espectro eletromagntico, com nfase no espectro visvel ao homem20.
19 A constante de Boltzmann uma constante que relaciona a temperatura e a energia das molculas. Foi
determinada experimentalmente pelo fsico austraco Ludwig Eduard Boltzmann (1844-1906) e seu valor
experimental atual = 1,38 1023 /.
20 Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Espectro_vis%C3%ADvel.
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25
Segundo Encontro: Discusses a respeito da luz: onda ou partcula?
TEMPO SUGERIDO
90 minutos (2 horas-aula)
INTRODUO
O entendimento da luz ao fim do sculo XIX
Voltando ao final do sculo XIX, praticamente no havia mais dvidas de que a luz se
comportava como uma onda. A prpria Fsica, inclusive, era considerada quase que totalmente
explorada, motivo este que tornava a rea de estudo pouco atraente s mentes da poca.
Mas por que, exatamente, a luz era entendida como uma onda? A explicao para esta questo
vinha da comparao da luz com outros meios, j que a luz exibia comportamento semelhante a estes
meios que apresentavam caractersticas ondulatrias, como por exemplo, a gua. Sendo assim, deve-
se explorar antes as principais caractersticas de uma onda, o que ser feito a seguir.
DESENVOLVIMENTO
Parte 1 A luz como uma onda
Existem vrias definies cabveis para uma onda. Entre elas, pode-se afirmar que uma onda
uma perturbao oscilante que se propaga em um meio, de maneira peridica, onde h somente o
transporte de energia, numa espcie de movimento harmnico simples. Ondas podem ocorrer em
meios onde haja matria (ondas mecnicas) ou no (ondas eletromagnticas e gravitacionais). So
exemplos de ondas mecnicas as que ocorrem na superfcie dos lquidos (mares, lagos, etc.), nos
gases (som) e nos slidos (ondas ssmicas).
A principal caracterstica de uma onda (que inclusive intrnseca e no se altera) a sua
frequncia (), e depende unicamente da fonte que a gerou. A frequncia de uma onda indica o nmero
de vezes que a oscilao ocorre em um determinado intervalo de tempo. Quando esse intervalo
equivale a um segundo, a unidade do Sistema Internacional (SI) relacionada a esta grandeza fsica
denominada hertz (Hz), em homenagem ao fsico alemo Heinrich Hertz21.
Outra caracterstica de uma onda o comprimento de onda (), que a distncia entre dois
pontos iguais e consecutivos de uma onda, normalmente duas cristas ou dois vales. A magnitude de
uma onda chamada amplitude (), e o tempo necessrio para que ocorra uma oscilao completa
dito perodo (). A Figura 8 traz algumas dessas caractersticas citadas.
21 Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894), fsico alemo. Deu grande contribuio no estudo do eletromagnetismo,
particularmente ao corroborar o trabalho de Maxwell.
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26
Figura 8: representao esquemtica de uma onda22.
Quanto direo de vibrao, uma onda dita longitudinal quando a oscilao ocorre na
mesma direo da propagao da onda, como as ondas sonoras. Quando a vibrao ocorre
perpendicularmente direo de propagao da onda, essa chamada transversal. Como exemplo de
ondas transversais tem-se as ondas na superfcie de um lquido, em uma corda ou as ondas
eletromagnticas. A Figura 9 mostra as possveis direes de vibrao de uma onda.
Figura 9: direes de vibrao de uma onda23.
J quanto direo de propagao, uma onda pode ser unidimensional, quando se desloca
em uma dimenso (ondas em uma corda), bidimensional, quando se desloca em duas dimenses
(ondas na superfcie de um liquido), ou tridimensional, quando se desloca nas trs dimenses espaciais
(ondas sonoras e ondas eletromagnticas).
A seguir sero abordadas e explicadas as principais propriedades das ondas, que viro servir
de subsdio aos fenmenos aqui estudados, mais particularmente aos fenmenos clssicos e seus
anlogos qunticos, quando da apresentao do experimento da borracha quntica, no Quarto
Encontro.
Reflexo: o fenmeno que ocorre quando uma onda encontra um obstculo e no
consegue transp-lo. Nesse caso, a onda refletida na mesma direo que se propagava (Figura 10),
caso a direo de propagao seja perpendicular ao obstculo. Quando a direo de propagao
formar qualquer outro ngulo com o obstculo, ento o ngulo de reflexo ser sempre igual ao ngulo
de incidncia.
22 Fonte: https://brainly.com.br/tarefa/1174883.
23 Fonte: http://www.explicatorium.com/cfq-8/caracteristicas-das-ondas.html, adaptada.
Direo de propagao
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27
Figura 10: reflexo de uma onda24.
Refrao: propriedade que descreve o fenmeno que ocorre quando uma onda passa
de um meio para outro, de caractersticas distintas do inicial. A onda refratada, devido mudana do
meio, tem sua velocidade e comprimento alterados, a fim de que a frequncia permanea a mesma
(da a frequncia ser uma caracterstica imutvel numa onda). A Figura 11 representa como ocorre a
refrao numa corda de diferentes densidades, onde um pulso incidente sofre processos de reflexo e
refrao simultneos.
Figura 11: refrao de uma onda numa corda de diferentes densidades25.
Difrao: capacidade que uma onda possui de contornar obstculos. Uma barreira (ou
o oposto, uma fenda) qualquer dita obstculo para uma onda quando seu tamanho for comparvel
ao comprimento da onda que nele incide (ou pelo menos da mesma ordem de grandeza). Se essa
barreira ou fenda forem muito maiores ou menores que o comprimento da onda, a difrao no ocorrer,
ou ento ser atenuada.
Figura 12: diversas configuraes possveis para o fenmeno da difrao26.
24 Fonte: http://ww2.unime.it/weblab/awardarchivio/ondulatoria/ondas.htm.
25 Fonte: http://alunosonline.uol.com.br/fisica/refracao-ondas-uma-corda.html.
26 Fonte: http://alunosonline.uol.com.br/fisica/difracao.html.
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28
A Figura 12 traz algumas configuraes possveis para o fenmeno. Na imagem superior
esquerda, tem-se um obstculo (fenda) muito largo para a onda incidente, logo a difrao mnima. J
nas figuras ao lado, a fenda da mesma ordem de grandeza do comprimento de onda. Assim, a
difrao ocorre de modo mais pronunciado. Percebe-se, ainda, que o obstculo funciona como uma
nova fonte daquela onda, mantendo as caractersticas da mesma.
Nas imagens abaixo observa-se outra peculiaridade das ondas: a capacidade de contornar
objetos, que tambm funcionam como obstculos. Assim, quanto mais o comprimento de onda se
aproximar do tamanho do obstculo, mais contundente ser o fenmeno da difrao. A Figura 13 traz
um esquema de como ondas de rdio, de grande comprimento de onda (entre 1m e 1 km), conseguem
contornar grandes obstculos, como montanhas. Pode-se perceber que a antena localizada no prdio
recebe o sinal da onda graas capacidade que a mesma tem de difratar.
Figura 13: difrao de ondas de rdio27 (contorno de obstculos).
Interferncia: a adio ou subtrao das amplitudes de duas ou mais ondas,
resultando numa onda superposta. A amplitude final depender da fase das ondas iniciais. Se as ondas
estiverem em fase, ento a interferncia dita construtiva. Caso as ondas encontrem-se em fases
opostas, tem-se a interferncia destrutiva. Qualquer outra combinao resultar numa onda com
amplitude intermediria. A Figura 14 exemplifica as duas primeiras situaes descritas.
Figura 14: interferncia construtiva e destrutiva28.
27 Fonte: http://www.ibytes.com.br/a-difracao-das-ondas-eletromagneticas-devido-a-obstaculos.
28 Fonte: https://alemdainercia.wordpress.com/2016/02/16/fisica-moderna-interferencia-e-difracao-de-luz.
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29
J a Figura 15 mostra o padro de interferncia gerado por duas fontes de ondas (pontos
escuros) na superfcie de um lquido. Conforme se afastam das fontes, as ondas comeam a formar
um padro intercalado de interferncias construtivas e destrutivas. Esses padres so de especial
interesse nessa proposta educacional, principalmente quando da abordagem do experimento da
borracha quntica.
Figura 15: interferncia de ondas na superfcie de um lquido29.
Polarizao: trata-se da ordenao da direo de oscilao no plano perpendicular
direo de propagao de uma onda. Uma onda no polarizada pode oscilar em qualquer direo no
plano perpendicular direo de propagao. Ao passar por um filtro, chamado filtro polarizador, a
onda passar a oscilar em apenas uma direo. A Figura 16 mostra uma pessoa balanando uma
corda, de forma a gerar ondas circulares, cuja direo de propagao vai da pessoa parede. Como a
onda circular, ela oscila em todas as direes possveis. No entanto, no caminho da onda h um filtro
polarizador orientado verticalmente. Assim, ao passar pelo filtro, a onda passa a oscilar apenas na
direo vertical, pois as outras direes de oscilao no so mais permitidas.
Figura 16: polarizao de ondas em uma corda30.
Como forma de ilustrar as principais propriedades das ondas, indica-se aqui a seguinte
estratgia: caso a escola possua um laboratrio de Fsica, sugere-se que tais propriedades sejam
demonstradas de maneira experimental numa cuba dgua, de forma que os alunos verifiquem
29 Fonte: http://eppursimuove.ugr.es/Top10Physics/InterferenciaLuz/InterferenciaLuz.html.
30 Fonte: http://soumaisenem.com.br/fisica/oscilacoes-ondas-optica-e-radiacao/ondas-fenomenos, adaptada.
Interferncia
construtiva
Interferncia
destrutiva
Direo de propagao
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30
inicialmente um experimento real. Aps isso, pode-se utilizar uma simulao computacional, onde as
mesmas propriedades podem ser observadas num experimento virtual. A inteno de tal metodologia
mostrar ao estudante que uma simulao computacional pode ser confivel, pois o resultado o
mesmo que quando verificado num experimento real. Assim, a simulao aqui sugerida a que trata
da interferncia de ondas.
SIMULAO COMPUTACIONAL 3
Interferncia de ondas 31
Descrio sumria: apesar do ttulo aparentemente restringir seu uso, a simulao
permite visualizar no s o fenmeno da interferncia de ondas, mas tambm a refrao e a reflexo
de ondas na gua, em ondas sonoras e ondas luminosas, facilitando a percepo desses fenmenos
por parte dos estudantes.
Figura 17: simulao computacional sobre interferncia de ondas. FONTE: captura de tela.
Possibilidades educacionais: a simulao se comporta exatamente como se fosse uma
cuba dgua, onde boa parte dos fenmenos ondulatrios podem ser visualizados. Uma barreira pode
ser estabelecida para que se perceba a reflexo, assim como um obstculo com uma fenda pode
simular a refrao. Estabelecendo um obstculo com duas fendas, visualiza-se a interferncia. Ainda
31 Disponvel em https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/wave-interference. Acesso em 03/02/17.
Meios de
propagao
Configurao
dos obstculos
Medidor de
amplitudes
Parmetros da onda
Obstculo
https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/wave-interference
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31
possvel modificar a frequncia e amplitude das ondas, bem como os parmetros dos obstculos, como
largura e distncia das fendas e a posio da barreira. Pode-se, tambm, medir a amplitude das ondas
atravs de um nvel. Aqui j se consegue estabelecer uma analogia entre ondas mecnicas e ondas
eletromagnticas, um dos propsitos deste produto educacional.
Forma de utilizao: a simulao permite, de forma coerente, que se compare os
resultados obtidos numa cuba dgua, montada para a aula caso a escola possua o aparato
experimental, com os auferidos atravs de meios computacionais. Desse modo, a simulao transmitir
confiana aos estudantes, que podero comparar os resultados reais e virtuais, e verificar que ambos
se aproximam bastante. Alm do mais, os alunos podem perceber a manifestao dos diversos
fenmenos ondulatrios estudados na aula, comparando os resultados experimentais na gua, com
ondas sonoras e com luz, e perceber que so semelhantes. Por fim, devem entender a importncia dos
fenmenos no contexto histrico que culminou com o triunfo da teoria ondulatria sobre a teoria
corpuscular nas discusses a respeito da natureza da luz entre os sculos XVII e XIX.
DESENVOLVIMENTO
Parte 2 A predominncia da teoria ondulatria
Retomando o contexto histrico analisado, a luz era entendida como uma onda ao final do
sculo XIX porque apresentava todas as propriedades descritas na Parte 1, do mesmo modo que uma
onda se comportava na superfcie de um lquido. Tal constatao foi obtida pois os dois fenmenos
eram anlogos.
Entretanto, de acordo com a discusso iniciada no Primeiro Encontro, a teoria ondulatria no
era a nica que se dispunha a descrever os fenmenos luminosos. A teoria corpuscular, sob a efgie
de Newton desde o incio do sculo XVIII, tambm tentava descrever a luz de maneira coerente com a
Mecnica Clssica.
A explicao de Newton para a reflexo da luz era bastante simples. Por entender que a luz
era composta de um fluxo de partculas, ele afirmava que a reflexo nada mais era que a coliso elstica
dessas partculas com uma superfcie, onde o ngulo de incidncia era igual ao ngulo de reflexo,
situao condizente com sua Mecnica. J a refrao da luz envolvia uma mudana do meio de
propagao. No caso analisado na Figura 18, a luz est passando do meio 1, o ar, para o meio 2, um
lquido. Como o lquido possui densidade maior (molculas mais prximas) que o ar, segundo a
Mecnica Newtoniana, a luz deve ter sua velocidade aumentada nessa mudana de meio, assim como
acontece com o som. Dessa forma, segundo Newton, a velocidade da luz num lquido deveria ser maior
do que no ar. Tal ideia, poca, no era passvel de constatao cientfica, uma vez que os meios
existentes para a aferio dessas velocidades eram extremamente rudimentares, ficando a teoria em
compasso de espera para uma posterior comprovao.
Paralelemente a Newton, Huygens tambm propunha uma explicao para tais fenmenos,
mas baseado na teoria ondulatria. A reflexo era entendida quase que da mesma maneira que a teoria
TEXTOS DE APOIO AO PROFESSOR DE FSICA IF-UFRGS L. SLOVINSCKI e A. ALVES-BRITO v.28 n.6 2017
32
corpuscular. Uma onda se desloca at encontrar um obstculo que no pode ser transposto pela
mesma. Assim, essa onda refletida pelo obstculo, sendo o ngulo de reflexo igual ao ngulo de
incidncia.
Figura 18: explicao dos fenmenos da reflexo e refrao segundo Newton32.
Figura 19: explicao dos fenmenos da reflexo e refrao segundo Huygens33.
Por outro lado, a explicao para a refrao era completamente discordante da teoria
corpuscular. J era sabido, poca, que uma onda, ao passar de um meio menos denso (ar) para um
mais denso (lquido), tinha seu comprimento de onda diminudo, como mostra o esquema da Figura 19.
A Equao 9 relaciona as grandezas velocidade, comprimento de onda e frequncia de uma onda.
= [9]
32 Fonte: MXIMO e ALVARENGA, p. 230-231, 2014, adaptada.
33 Fontes: http://raiosinfravermelhos.blogspot.com.br/2013/08/reflexao-de-ondas-em-sununga.html e
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/refracao-ondas.htm, adaptadas.
v2 > v1
REFRAO
SEGUNDO
NEWTON
REFLEXO
SEGUNDO
NEWTON
REFLEXO SEGUNDO HUYGENS REFRAO SEGUNDO HUYGENS
onda
incidente
onda
refletida
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33
Como a frequncia a nica grandeza que permanece constante na mudana de meio, e era
constatado que o comprimento de onda diminua, ento, pela Equao 10, obrigatoriamente a
velocidade tambm deveria diminuir na mesma proporo, a fim de manter a frequncia da onda
inalterada.
=
[10]
Assim, na explicao do fenmeno da refrao, havia uma discordncia entre as teorias
corpuscular e ondulatria, principalmente quanto velocidade que a luz adquiria na mudana de meio.
Enquanto Newton afirmava que a mesma deveria aumentar, Huygens assegurava que a velocidade
deveria diminuir. Como a medio de tal grandeza, com uma preciso mnima, era impossvel para a
poca, as teorias permaneceram em p de igualdade at o incio do sculo XIX.
Foi quando, em meados de 1800, Thomas Young props um experimento que pretendia
investigar o comportamento da luz quando submetida a um determinado arranjo. Young fez passar luz
solar por um pequeno orifcio, e na sequncia por outros dois de mesmo tamanho. O resultado dessa
experincia foi a formao, num anteparo existente retaguarda do arranjo experimental, de um padro
conhecido como franjas de interferncia. A Figura 20 mostra um esquema da experincia de dupla-
fenda de Young.
Figura 20: representao esquemtica da experincia de dupla-fenda de Young34.
Young percebeu que esse padro de franjas mostrava a intensidade luminosa em cada ponto
do anteparo. Em alguns pontos, a intensidade era mxima (franjas claras), enquanto que em outros era
mnima (franjas escuras). Tal padro de intensidades se verifica tambm quando o experimento
montado utilizando ondas na superfcie de um lquido. Com isso, Young props que os fenmenos
ondulatrios se manifestavam na luz de maneira anloga ao observado na superfcie dos lquidos. De
fato, pode-se constatar a veracidade dessa afirmao comparando as Figuras 21, que traz uma
simulao computacional da verso simplificada do experimento da dupla-fenda, juntamente com um
grfico da distribuio da intensidade luminosa no anteparo, e 22, que traz outra simulao
computacional, esta do fenmeno da interferncia de ondas formadas na superfcie do lquido, junto a
medidores do nvel da gua em determinados pontos do lquido. Pode-se perceber que h uma
34 Fonte: https://www.if.ufrgs.br/tex/fisica-4/lista1.htm, adaptada.
Franjas de
interferncia
destrutiva
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34
distribuio dos nveis dgua, ora de grande amplitude, ora de amplitude zero, que se aproxima
bastante da distribuio de intensidades luminosas da Figura 21, corroborando a constatao de
Young.
Figura 21: interferncia com ondas luminosas, gerada pela Simulao Computacional 3. FONTE: captura de tela.
Figura 22: interferncia com ondas na gua, gerada pela Simulao Computacional 3. FONTE: captura de tela.
Franjas de
interferncia
Grficos de intensidade
com diferentes
amplitudes, que
demonstram fenmeno
da interferncia
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35
O trabalho de Young foi fundamental para a consolidao da teoria ondulatria. Como
consequncia, o modelo corpuscular comeou a ser abandonado, pois no conseguiu oferecer uma
explicao consistente para os fenmenos da difrao e interferncia.
No entanto, a prova cabal veio mais de meio sculo depois. Jean Foucault35, conseguiu realizar
medies consistentes e que no deixaram dvida de que a luz se movia mais rapidamente no ar do
que num lquido. Essa prova, fornecida por Foucault, provocou o abandono total da teoria corpuscular,
pois mostrou que, com relao natureza da luz, Newton estava equivocado e o modelo proposto por
Huygens era o correto.
DESENVOLVIMENTO
Parte 3 Einstein e o efeito fotoeltrico
A evidncia provida por Foucault encerrou temporariamente uma das maiores discusses da
histria da Fsica. No bastasse isso, a segunda metade do sculo XIX foi marcada por um destacado
desenvolvimento cientfico, em grande parte catapultado pelo furor da Segunda Revoluo Industrial,
que se iniciava na mesma poca. Com a consolidao da teoria eletromagntica de Maxwell, a Fsica
Clssica era considerada um terreno quase que completamente explorado, sem grandes desafios a
serem alcanados. William Thomson36 chegou a dizer que a Fsica era um cu azul com duas pequenas
nuvens37 no horizonte, tamanha era a confiana depositada na teoria clssica.
Uma dessas nuvens dizia respeito ao espectro de emisso de radiao de um corpo negro,
cuja observao experimental no correspondia ao previsto pela teoria clssica. Essa questo foi
respondida pela proposta da quantizao da energia de Planck. Entretanto, um outro resultado
experimental tambm no estava totalmente de acordo com a teoria clssica. Esse experimento era
conhecido como efeito fotoeltrico, observado inicialmente por Alexandre Becquerel38 em 1839, e
confirmado por Hertz, em 1887.
O efeito fotoeltrico consiste, basicamente, na emisso de eltrons por algum material
(normalmente um metal) quando sobre este incidida uma radiao especfica. O Eletromagnetismo
Clssico previa alguns pontos que no eram observados experimentalmente:
segundo a teoria clssica, qualquer radiao que incidisse sobre o material deveria
ejetar eltrons deste. Na verdade, ocorria que apenas radiaes a partir de uma determinada frequncia
35 Jean Bernard Lon Foucault (1819-1868), fsico e astrnomo francs. Reconhecido por seus experimentos que
visavam aferir a velocidade da luz, e pelo pndulo de Foucault, que demonstrou o efeito de rotao da Terra.
36 William Thomson (1824-1907), fsico e matemtico britnico. Tambm conhecido como Lorde Kelvin,
desenvolveu a escala absoluta de temperatura, que acabou batizada em sua homenagem.
37 As nuvens a que Kelvin se referia eram inconsistncias na Fsica Clssica que acabaram por resultar na teoria
da relatividade, de Einstein, e no desenvolvimento da Mecnica Quntica.
38 Alexandre-Edmond Becquerel (1820-1891), fsico francs. Conduziu estudos introdutrios sobre o efeito
fotoeltrico, alm de contribuir nos campos da luminescncia e fosforescncia.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Luminesc%C3%AAnciahttps://pt.wikipedia.org/wiki/Fosforesc%C3%AAncia
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(chamada frequncia de corte) conseguiam ejetar eltrons do material. Diferentes materiais possuam
diferentes frequncias de corte;
qualquer metal ejetaria eltrons, desde que os tomos pudessem armazenar uma certa
energia da onda incidente para faz-lo, o que demandaria algum tempo. Maiores intensidades de
radiao exigiriam uma menor quantidade de tempo, e vice-versa. No entanto, verificava-se que,
quando o material ejetava eltrons, esse processo se deva de modo instantneo, no dependendo do
tempo ou da intensidade da radiao que nele incidia;
a corrente eltrica estabelecida dependia da intensidade da radiao que incidia na
placa. Essa observao era prevista e fazia sentido segundo a teoria clssica.
Em 1905, Einstein, apoiado principalmente na proposta da quantizao da energia de Planck
(apresentada 5 anos antes), e baseado em estudos paralelos na rea, sugere que a radiao tambm
deveria ser quantizada. Ou seja, ela no mais contnua, mas sim formada de pequenos pacotes de
energia, que mais tarde foram batizados de ftons (smbolo ). Dessa forma, a radiao no pode mais
ser entendida apenas como uma onda. Ela , segundo Einstein, composta de pequenos corpsculos,
cada um possuidor de uma energia dada pela Equao 11, onde h a constante de Planck e f a
frequncia do fton. Com isso, a teoria corpuscular, abandonada h quase um sculo, acaba por
ressurgir atravs da ideia revolucionaria de Einstein. Esse, talvez, seja um dos motivos pelos quais sua
proposta para a quantizao da luz no tenha sido aceita de imediato, e que fez Einstein vencedor do
Prmio Nobel de Fsica apenas 16 anos depois, em 1921.
= (energia de um fton) [11]
Alm disso, Einstein afirma que, na interao entre ftons e eltrons, um fton pode interagir
apenas com um eltron, na proporo de um para um. O fton ainda transmite toda sua energia ao
eltron, no existindo a possibilidade de repassar apenas parte dela.
Com essas simples ideias, Einstein conseguiu resolver todas as inconsistncias apresentadas
pela teoria clssica na descrio do efeito fotoeltrico. A existncia de uma frequncia de corte
justificada pelo fato de cada frequncia da radiao incidente corresponder a uma energia bem definida,
conforme mostra a Equao 11. Assim, para que ocorra o fenmeno, a energia oferecida pelo fton
durante sua interao com o eltron deve ser maior que a energia que mantm o eltron ligado rede
cristalina. Essa energia de ligao foi chamada de funo trabalho (), e o produto da constante de
Planck pela frequncia de corte do material, ou seja:
= 0 (funo trabalho) [12]
A questo da existncia de um tempo mnimo, necessrio para que os tomos pudessem
armazenar uma certa energia para ejetarem eltrons, tambm refutada por Einstein. Como a
absoro da energia do fton pelo eltron se d de maneira instantnea, havendo energia suficiente
nessa interao, a ejeo do eltron tambm ocorre instantaneamente.
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Baseado no princpio da conservao da energia, Einstein postulou que se a energia
transmitida por um fton for maior que a funo trabalho do material, ento haver a ejeo de um
eltron, de modo que a diferena entre a energia do fton e a funo trabalho do material equivaler
energia cintica que o eltron dever adquirir. Matematicamente, isso equivale a
= = + [13]
onde
=1
22. [14]
A energia cintica de que trata a Equao 14 a energia cintica mxima que um eltron pode
adquirir ao ser ejetado, desde que ele se encontre na camada mais superficial do metal. Eltrons que
no estejam na superfcie tambm podero ser ejetados. Neste caso, demandaro de uma quantidade
de energia maior para sua ejeo, adquirindo uma menor energia cintica.
Por fim, de acordo com a teoria proposta por Einstein, a intensidade da radiao est ligada
quantidade de ftons, enquanto que a frequncia da radiao se relaciona com a energia desses ftons.
Assim, uma maior intensidade da radiao acarreta um acrscimo na corrente eltrica que se
estabelece durante o efeito fotoeltrico. J os eltrons ejetados de um material, submetidos a radiaes
de diferentes frequncias, adquirem maior energia cintica quanto maior for a frequncia da radiao
incidente.
A fim de gerar uma maior compreenso do efeito fotoeltrico por parte dos alunos, sugere-se
que seja apresentada aos mesmos a simulao computacional que trata do fenmeno.
SIMULAO COMPUTACIONAL 4
Efeito fotoeltrico 39
Descrio sumria: a simulao permite uma completa e ampla visualizao do efeito
fotoeltrico, experimento que dificilmente encontrado em laboratrios de escolas de nvel mdio e
fundamental, mas que largamente empregado em solues tecnolgicas do nosso cotidiano.
Possibilidades educacionais: a simulao bastante didtica, pois mostra de maneira
simples, porm coerente, a interao que ocorre entre a radiao e a matria. Uma placa metlica
bombardeada com ftons, resultando na ejeo de eltrons, que por sua vez podem ser direcionados
por um campo eltrico. Tambm possvel simular efeitos e diferenas quando se altera a intensidade
da radiao e o seu comprimento de onda. Ainda pode-se mudar o material do alvo, escolhendo entre
seis metais diferentes. A velocidade dos eltrons pode ser alterada atravs de um ajuste no potencial
do circuito que ora se estabelece. Por fim, so gerados grficos que ajudam a entender o porqu de
39 Disponvel em https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/photoelectric. Acesso em 03/02/17.
https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/photoelectric
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haver uma frequncia de corte, alm de auxiliarem a visualizao do comportamento de variveis como
corrente, intensidade e frequncia da radiao, entre outros.
Figura 23: simulao computacional sobre o efeito fotoeltrico. FONTE: captura de tela.
Forma de utilizao: a simulao considerada fundamental para o entendimento do
efeito fotoeltrico por parte dos alunos, principalmente pelo fato de ser extremamente didtica. Ela
permite que os estudantes possam compreender as falhas da teoria clssica, que tentava descrever o
fenmeno. A partir do fracasso da Fsica Clssica, pode-se trabalhar as ideias propostas por Einstein
para a soluo do problema, deixando a teoria de quantizao da luz bastante clara aos alunos. Como
forma de explorar ainda mais os conceitos, sugere-se que os alunos preencham a Tabela 4, que consta
do Guia da Aula 2.
Elemento Funo trabalho
() (eV) Frequncia de
corte () (Hz) Comprimento de
onda (nm) Faixa do
espectro EM
Sdio 2,28 5,51 1014 544 Visvel
Zinco 4,3 1,04 1015 288 UV
Cobre 4,7 1,14 1015 263 UV
Platina 6,35 1,54 1015 195 UV
Clcio 2,9 7,01 1014 427 Visvel
Magnsio 3,68 8,90 1014 337 Visvel
Tabela 4: funo trabalho, frequncia de corte e outros parmetros de diversos metais. As trs ltimas colunas devem ser preenchidas pelos alunos. FONTE: o autor.
Placa
metlica
Eltrons ejetados
Ajustes da radiao
Grficos
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CONCLUSO
A luz tambm quantizada
Na parte inicial deste encontro entendeu-se, pelos exemplos demonstrados e pela analogia
estabelecida, que a luz se comportava como uma onda, motivo pelo qual a teoria ondulatria
sobrepujou a corpuscular, e veio a se tornar o modelo adotado para a explicao da natureza da luz a
partir do incio do sculo XIX.
No entanto, problemas na teoria eletromagntica clssica, discutidos e analisados ao fim desse
mesmo sculo, foraram a adoo de um novo entendimento desses problemas, modificando
profundamente a viso da Fsica como um todo. A ideia da quantizao da luz proposta por Einstein
(baseada na quantizao da energia de Planck) s pode ser aceita se a radiao for entendida como
composta de pequenos pacotes de energia, os ftons.
Apesar de completamente contraditrias, as duas teorias conseguem descrever, isoladamente
e de maneira razovel, o comportamento dos fenmenos luminosos. Assim sendo, a luz deve ser
entendida como onda ou partcula? A resposta mais coerente diz que a luz ora onda, ora partcula,
dependendo da maneira como for analisada.
Esse e outros comportamentos estranhos da luz so preditos pela Mecnica Quntica, e sero
abordados no prximo encontro.
APNDICE 2
Uma nova ordem de grandeza para a energia: o eltron-volt
Como as energias envolvidas nas transies eletrnicas e interaes entre ftons e eltrons
so extremamente pequenas, houve a necessidade de se criar e adotar uma nova unidade de medida
para essas energias. Assim, designou-se o eltron-volt (eV), que por definio a quantidade de
energia cintica ganha por um eltron, quando acelerado no vcuo pela diferena de potencial eltrico
de um volt. Em unidades do Sistema Internacional (SI), um eltron-volt corresponde a 1 = 1,602
1019.
Alguns exemplos:
1) Qual a energia de um fton de = 500 ?
Um fton com este comprimento de onda encontra-se na faixa da luz visvel do espectro
eletromagntico, na transio entres as cores verde e azul. Relacionando a Equao 7, sobre a energia
de um fton, com a Equao 6, onde a velocidade tratada a da luz, tem-se que
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40
= =
Mas o produto uma constante, e equivale a
= 1240
Assim, a energia do fton
=1240
500 = ,
2) Um fton de = 200 consegue produzir o efeito fotoeltrico numa placa de zinco ( =
4,3 )? Caso positivo, com que velocidade o eltron ejetado da placa?
Massa do eltron: = 9,109 1031
=
=
1240
200 = 6,2
Como a energia do fton maior do que a funo trabalho do material, o efeito fotoeltrico
ocorrer. A velocidade do eltron ejetado dada pela diferena entre as energias fornecidas pelo fton
e a funo trabalho do material, ou seja
= = 6,2 4,3 = 1,9 .
Utilizando a Equao 10, pode-se calcular a velocidade do fton a partir da energia cintica
adquirida pelo mesmo
=1
22 =
2
= 2 1,9 1,602 1019 /
9,109 1031 , /
Como a velocidade do eltron ejetado muito menor que a velocidade da luz, no existe a
necessidade de se considerar fatores relativsticos nesse resultado.
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Terceiro Encontro: A Mecnica Quntica: principais conceitos e curiosidades
TEMPO SUGERIDO
90 minutos (2 horas-aula)
INTRODUO
Pequena reviso
No final do sculo XIX, o panorama da Fsica se mostrava pouco atrativo quando em
comparao a outras reas do conhecimento, tamanha era a confiana depositada na teoria
eletromagntica clssica. Essa teoria descrevia a realidade de modo quase perfeito, no fosse pela
falha na explicao do espectro de emisso de um corpo negro. Os resultados experimentais no
retratavam a previso terica, de modo que essa inconsistncia foi denominada catstrofe do
ultravioleta, j que a curva terica da emissividade de um corpo negro tendia ao infinito conforme a
frequncia da radiao emitida aumentava, como visto no Primeiro Encontro, segundo a Figura 1. Para
tentar resolver esse problema, em 1900 Planck props uma soluo matemtica que ajustava a curva
terica aos dados experimentais, sem, no entanto, conseguir explicar exatamente o fenmeno fsico
que existia por detrs disso. Esse ajuste ficou conhecido como a quantizao da energia. Em outras
palavras, o corpo negro podia emitir radiao apenas em determinadas frequncias (espectro de
emisso discreto), e no mais de modo contnuo.
Outro ponto da teoria clssica no esclarecido totalmente era o efeito fotoeltrico, tema
abordado no Segundo Encontro. Havia o entendimento apenas parcial do fenmeno. No se sabia, por
exemplo, porque somente radiaes com determinadas frequncias provocavam a ejeo de eltrons
de um material, normalmente um metal. Einstein, inspirado por Planck, consegue responder essas
questes em aberto sugerindo um novo modelo para a compreenso do efeito: a luz deveria ser
quantizada, assim como ocorria com a energia de um corpo negro. A quantizao da luz provocou a
formalizao de um novo modelo, na qual a radiao no mais considerada como algo continuo, mas
sim formada por pequenos pacotes de energia, denominadas ftons. A teoria corpuscular, ento
abandonada h quase um sculo, ressurgia atravs do trabalho de Einstein. Entendendo o fton como
uma partcula, segundo ele, bastava que a radiao incidente fosse mais energtica que a fora de
ligao entre os eltrons e o material (funo trabalho) para que ocorresse o efeito fotoeltrico. Se essa
condio fosse satisfeita, o eltron era ejetado com uma energia cintica igual diferena entre as
energias de ligao e do fton incidente.
Esses fatos surgiam, no incio do sculo XX, como indcios de que a natureza da luz era
diferente daquilo que se pensava at ento, e esses indcios comearam a se avolumar. Entretanto, as
ideias revolucionrias apresentadas por Planck e Einstein no agradaram, de imediato, a comunidade
cientfica da poca. Pelo contrrio. Diversos fsicos passaram a concentrar seus esforos em tentativas
de refutar tais teorias que, apesar de aparentarem estar corretas sob o ponto de vista dos pressupostos
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bsicos de Planck e Einstein, iam na contramo da concepo geral da Fsica da poca. Outra parcela
de pesquisadores se mostrou sensvel aos novos conceitos, e da mesma maneira, se debruaram
sobre essas ideias na tentativa de comprov-las. Em ambos os casos, seja para refutao ou
comprovao, a prova cabal viria apenas pela via experimental, uma vez que, como mencionado, as
novas teorias no apresentavam erros conceituais aparentes.
DESENVOLVIMENTO
Parte 1 A luz como partcula
O primeiro grande ponto de divergncia remeteu antiga discusso sobre qual teoria descrevia
corretamente a luz e a radiao como um todo. Em determinado momento, a luz se comportava como
onda. Logo a seguir, se manifestava como partcula, dependendo da forma como era interpretada ou
medida. Esse comportamento estranho da radiao passou a ser conhecido como dualidade onda-
partcula. A escolha dessa nomenclatura se deu pelo fato de que nenhuma das duas teorias, ondulatria
e corpuscular, conseguia explicar a radiao de forma completa. Assim, entendeu-se naquele momento
que a luz se comportava de maneira dual, e necessitava de uma explicao mais ampla, que abarcasse
todas as suas facetas.
Em 1916, Einstein props que um fton deveria possuir momentum linear. Ele baseou-se na
equao que determina a energia total de uma partcula, fruto de um de seus trabalhos apresentados
em 1905, a mais tarde denominada Teoria da Relatividade Restrita.
2 = ()2 + (2)2. [15]
A Equao 15 diz que a energia total de uma partcula a soma das parcelas do momentum
linear () e da energia de repouso (2) dessa partcula, onde e referem-se, respectivamente, ao
momentum linear e massa de repouso da partcula. Quando aplicada a um fton, cuja massa de
repouso zero, a Equao 15 se reduz a
= . [16]
Mas a energia de um fton dada pelo produto (Equao 11). Assim, reorganizando as
equaes 11 e 16, e combinando com a Equao 10, onde a velocidade envolvida a da luz, tem-se a
equao do mdulo do momentum de um fton:
=
=
. [17]
Coube a Arthur Compton40, em 1923, apresentar um experimento baseado no fenmeno de
difrao de raios X, que comprovaria que o fton possui momentum linear. O resultado desse
40 Arthur Holly Compton (1892-1962), fsico norte-americano. Participou ativamente do desenvolvimento da
Mecnica Quntica, particularmente no estudo da interao entre radiao e matria, o que lhe rendeu o Prmio
Nobel de Fsica de 1927.
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experimento ficou conhecido como efeito Compton. O experimento consistia, basicamente, em
bombardear um alvo de grafite com raios X produzidos por uma fonte, e observar como se dava o
espalhamento dessa radiao segundo alguma direo. A Figura 24 mostra um esquema do
experimento de Compton.
Figura 24: representao esquemtica da experincia de espalhamento de raios X de Compton41.
Do ponto de vista clssico, a explicao para o espalhamento de raios X no algo complicado
de se entender. Sob a perspectiva da luz como onda, os eltrons que compem a matria atingida por
algum campo eletromagntico (nesse caso, os raios X) entram em movimento oscilatrio de frequncia
igual ao do campo incidente, passando a atuar como emissores de radiao, naquela frequncia.
Assim, sob esse aspecto, as frequncias e os comprimentos de onda das radiaes incidente e
espalhada seriam iguais. No entanto, no foi isso que Compton observou. Ele percebeu que
posicionando o sensor em diferentes direes, conforme se aumentava o ngulo do espalhamento,
comeavam a aparecer picos da radiao espalhada, detectados pelo sensor, com comprimentos de
onda diferentes do feixe incidente. A Figura 25 mostra alguns resultados experimentais obtidos por
Compton, para diferentes ngulos de espalhamento. Pode-se perceber que, conforme o ngulo de
espalhamento aumenta, a diferena entre os picos tambm aumenta.
Figura 25: resultados experimentais obtidos por Compton para diferentes ngulos de espalhamento42.
Compton interpretou o aparecimento desse outro pico de radiao, de comprimento de onda
maior que a radiao incidente, como a transferncia de energia e momentum de um fton de raio X
para um eltron estacionrio do alvo de car