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O fazer pesquisador (a) a partir da rua: notas metodológicas de um estudo com população em situação de rua em São José dos Campos
(SP)
Marília Goulart Silva (UNIVAP)1
Lidiane Maria Maciel (UNIVAP)2
Resumo: o ensaio tem por objetivo desenvolver reflexões acerca das formas de abordagem na
pesquisa com a população em situação de rua. O trabalho apresenta uma discussão sobre
resultados de uma pesquisa empírica baseada em trabalho de campo realizada entre os anos de
2017-2018 em São José dos Campos. Nesta cidade, os “moradores de rua” são considerados um
grupo heterogêneo, que carregam a estigmatização (GOFFMAN, 1988) de serem improdutivos,
anormais, perigosos e sujos, por conta dessas rotulações eles sofrem dificuldades nas tarefas
cotidianas, a vida na rua é demasiadamente violenta. Os desafios da prática de pesquisa são
múltiplos, mas destaca-se a dificuldade da pesquisadora, para coletar os relatos e memórias no
ambiente pouco convidativos que “acolhe” a população em questão. Os entrevistados em sua
maioria foram abordados em meio às suas atividades rotineiras, e produziram seus relatos em
meio ao fluxo do caótico cotidiano.
Palavras-chave: Pesquisa qualitativa, População em Situação de Rua, Estigma, desigualdades
sociais.
Introdução
As notas metodológicas do estudo com a população em situação de rua no fazer do (a)
pesquisador (a) parte da experiência de pesquisa da primeira autora. Ela inclui parte importante
do amadurecimento processual enquanto pesquisadora da questão das desigualdades que marcam
1 Doutoranda do Programa de Planejamento Urbano e Regional - PLUR (UNIVAP/ São José dos Campos /SP). O artigo foi inspirado no trabalho de campo desenvolvido para a elaboração da pesquisa de mestrado que posteriormente orientou a atual pesquisa de doutorado em curso, ainda com a temática da população em situação de rua. 2 Professora Programa de Planejamento Urbano e Regional - PLUR (UNIVAP/ São José dos Campos /SP). A participação da co-autora na elaboração do trabalho se realiza por meio da reflexão teórico-metodológica que a experiência de campo da autora principal pode suscitar, especialmente, quando se discute a formação dos jovens pesquisadores.
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a trajetória de sujeitos em situação de rua. Interessa-se aqui o diálogo com os regimes de
sociabilidade definidos no espaço das ruas que pressupõem formas de negociação dos sentidos que
identificam personagens, pessoas e grupos em seu âmbito. Essas experiência foram longamente
debatidas com a segunda autora do artigo que propôs uma reflexão teórica sobre a ação do
fazer-se pesquisador (a) no campo de estudo/rua, uma atividade processual cujos conceitos
previamente estudados nem sempre são suficientes na orientação da pesquisa ou na
movimentação, exigindo que o pesquisador (a) aprenda com o campo, se construa com ele.
O SPG-37 da ANPOCS - Pesquisa qualitativa, desafios e potencialidades para a
investigação sociológica: subjetividade, reflexividade e o papel do (a) pesquisador(a), em sua
proposta trouxe em sua proposta elementos e reflexões que estiveram na esteira do
desenvolvimento do trabalho. As bases de sustentação teórico-metodológica do mesmo
manifestam-se sob a produção do conhecimento a partir da rua e diálogo com a tradição do
Serviço Social, sociologia e antropologia. O Assistente Social, em virtude da sua inserção
concreta por meio do atendimento rotineiro, gera uma rica contribuição para a teoria social e
abordagens metodológica (SPOSATI, 2007; PRATES, 2013, PEREIRA, 2017). Assim, para tanto
se considera que o primeiro desafio do fazer pesquisa de campo com a população em situação de
rua é conectar-se com esses outros profissionais que atuam diretamente com ela, “lidar com o
conteúdo do outro e respeitá-lo como digno de troca faz parte do princípio da interdisciplinaridade
(MENDES E ALMEIDA, 2013), destaca-se o desafio metodológico o lugar da pesquisadora no
campo como parte de uma equipe mais ampla de atendimento. Em segundo lugar, destaca-se a
escolha do lugar onde transcorre etapas como da entrevista, pois certamente gera impacto sobre
seu conteúdo (WHITE, 1976).
Na experiência das entrevistas nas ruas os resultados tanto ou mais importantes quanto em
termos de conteúdo das entrevistas foi recolher elementos postos nas “entrelinhas” das ruas ou
situações não identificáveis imediatamente. A interação ainda questionou a pesquisadora sobre os
limites da ação no campo, da produção de uma pesquisa engajada com a transformação social e da
construção de vínculo com as pessoas que se entrevistou, operou-se por meio de uma
“transferência de confiança” que trouxe uma implicação ética relevante para reflexão que busca
esclarecer o duplo papel, de pesquisadora e técnica na produção de uma pesquisa responsável.
Foram selecionados para participar diretamente da pesquisa, quatro usuários do serviço destinado
a população em situação de rua, dois do sexo masculino e duas do sexo feminino, com idade entre
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18 e 60 anos, que utilizam ou utilizaram a rua como espaço de moradia e vivência e que já
estiveram sob acompanhamento dos serviços oferecidos a população em questão.
1. Reflexões teóricas metodológicas iniciais sobre a experiência do campo
Qualquer pesquisa de campo possui complexidades específicas. A formação do
pesquisador em Ciências Humanas, em especial, em Ciências Sociais (o que inclui as Ciências
Sociais Aplicada), inicia-se por meio da disciplinarização da prática. As disciplinas de
Metodologia de Pesquisa normalmente apresentam aos discentes uma quantidades significativa de
técnicas de pesquisa que devem ser escolhidas pelos jovens pesquisadores conforme o recorte do
objeto de pesquisa e os objetivos lançados para a explicação, refutamento ou desenvolvimento da
hipótese de trabalho.
A escolha pelo trabalho de campo é desejável quando a pretensão é descer ao empírico, o
que pressupõem muitas vezes lidar com pessoas de “carne osso” e sentimentos. No entanto, da
realização da proposta a efetivação da mesma há uma série de procedimentos em que o
pesquisador ao experienciar acaba-se por se formar. Logo, ressalta-se que entre a teoria e a prática
do trabalho de campo há dificuldades consideráveis no que se refere a formação do (a)
pesquisador (a) que parece se processar apenas quando o (a) mesmo (a) se vê frente a frente com
o campo. Normalmente, as expectativas anteriormente gestadas não se efetivam ao colocar o pé no
chão, pois, o campo guarda lógicas muitas das quais diferentes daquilo que se encontra na teoria.
Exemplo significativo sobre forma-se pelo próprio campo, ou fazer-se pesquisador no
campo, é dado pela antropologia e suas anedotas de estadas entre os nativos. De Malinowski
(1920) à Geertz (1973), incluindo as abordagem mais recentes relatadas por Jeanne Favret-Saada
(1990) e Goldman (2003) que também demonstram o aprofundamento subjetivo no trabalho de
campo. Já no âmbito da sociologia, também são inúmeros os exemplos, em que se destacam os
pesquisadores da americanos da Escola de Atividade de Chicago (BECKER, 1991), Foote-White
(1963), Becker (1963), Humphreys (1963), Loic Wacquant (2002) entre outros.
Malinowski (1920) criou uma nova escola de pesquisadores ao desenvolver a “pesquisa
participante” produzida no bojo da conjuntura política da primeira Guerra Mundial. O antropólogo
sendo cidadão austro-húngaro, e estando em 1915 na Ilha Mailu na costa da Papoua Nova Guiné,
território inglês no período da Guerra, negociou sua ida para as Ilhas Trobriand, entre a Austrália e
a Nova Zelândia, onde estaria em segurança, e lá desenvolveu sua pesquisa sobre o sistema 44º Encontro Anual da ANPOCS - SPG 37- Pesquisa qualitativa, desafios e potencialidades para a investigação
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econômico do “Kula”. Geertz (1973) explica sua inserção em campo em Bali, na Indonésia, (ou
o aprofundamento do sujeito-pesquisador) após o alcance obtido por meio da participação e fuga
da polícia durante de uma briga de galos. O reconhecimento do pesquisador obtido após esse
evento permitiu a efetivação da criação de um novo quadro análitico baseado na ideia da
interpretação.
Por outro lado, tanto Jeanne Favret-Saada (1990) e Goldman (2003), relatam a perspetiva
do fazer-se subjetivamente no campo por meio da exploração dos “afetos”. Ambos os
pesquisadores, superando o debate do distanciamento necessário à produção científica relatam que
a imersão em campo pode propiciar uma experiência integrativa total, quando o pesquisador se
apropria do jogo simbólico da vida dos pesquisados de maneira despretensiosa ou racionalizada
anteriormente.
Goldman (2003) em sua pesquisa sobre o Candomblé ao realizar um “favor”, a uma de
suas interlocutoras, que consistia em levar de carro os assentamentos ( objetos rituais) de uma
filha-de-santo falecida durante os dias que transcorreram a pesquisa de campo, ouviu atabaques
tocarem enquanto esperava a interlocutora realizar o despacho no rio, ele relata dessa forma:
Senti um leve arrepio e disse a meu amigo que eu também ouvira atabaques dobrarem; ele não fez nenhum comentário e mudou de assunto. Percebi, então, que os tambores que eu ouvira simplesmente não eram deste mundo. Senti um leve arrepio e disse a meu amigo que eu também ouvira atabaques dobrarem; ele não fez nenhum comentário e mudou de assunto. Percebi, então, que os tambores que eu ouvira simplesmente não eram deste mundo. (GOLDMAN, 2003, p. 448).
Da mesma forma, Favret-saada (1990, p.160) nos ensina a partir dos estudos de bruxaria
no Bocage francês que: “ quando um etnógrafo aceita ser afetado, isso não implica identificar-se
com o ponto de vista nativo, nem aproveitar-se da experiência de campo para exercitar seu
narcisismo. Aceitar ser afetado supõe, todavia, que se assuma o risco de ver seu projeto de
conhecimento se desfazer”. A autora então, exige certa disposição do (a) pesquisador (a) para
resistir a situações de comunicação involuntárias. Aceitar-se ser afetada pelo interlocutor abre
caminhos para a reflexão posteriormente desejada.
Deixar-se levar pelo campo ou ser afetado por suas categorias, exigirá um tempo
importante de maturação do (a) pesquisador (a), como relatado similarmente por Becker (1963) no
estudo das carreiras de músicos de Jazz e usuários de maconha. Exige aprender a ser músico de
Jazz enquanto habilidade necessária a pesquisa, ou mudar-se para a vizinhança italiana como 44º Encontro Anual da ANPOCS - SPG 37- Pesquisa qualitativa, desafios e potencialidades para a investigação
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fizera Foote-white (1963), ou ainda o aprender o Boxe como fez Wacquant (2002), no intuito que
a experiência de pesquisa atingisse pelo corpo a alma, no sentido do aprendizado de um habitus
bourdieusiano necessário a reflexão sociológica.
Se é verdade, como afirma Pierre Bourdieu, que nós "aprendemos pelo corpo", e que "a ordem social inscreve-se no corpo por meio desse confronto permanente, mais ou menos dramático, mas que sempre abre um grande espaço para a afetividade, então impõe-se que o sociólogo submeta-se ao fogo da ação, in situ, que ele coloque, em toda a medida do possível, seu próprio organismo, sua sensibilidade e sua inteligência encarnadas no cerne do feixe das forças materiais e simbólicas que ele busca dissecar, que ele se arvore a adquirir apetência que tornam o agente diligente no universo considerado, para melhor penetrar até o âmago dessa "relação de presença no mundo, de estar mundo, no sentido de pertencer ao mundo, de ser possuído por ele, na qual nem o agente nem o objeto estão postos como tal e que, no entanto, os define, aos dois, como tais, e ata-os com mil laços de cumplicidade, mais fortes ainda porque são invisíveis. Isso quer dizer que os boxeadores têm, aqui, muito a ensinar sobre o boxe, é claro, mas também e principalmente sobre nós mesmos (WACQUANT, 2002, p. 12).
Desta forma, o que pretende-se destacar da literatura minimamente considerada e lançadas
aqui, é a disposição extra exigida pelas técnicas qualitativas de trabalho de campo do (a)
pesquisador (a). Por mais que ele/ela entre no cenário orientado pela reconstrução da realidade
oferecida pela teoria disponível de seu tempo, a incursão no campo será “revolucionária” se
estiver dispostos a vivenciar e aprender a ser pesquisador no campo.
2. O Fazer-se Pesquisador na Rua
Considerando toda tradição de estudos em Ciências Sociais, é sabido que o fazer do
pesquisador empírico qualitativo depende de sua inserção no território do grupo investigado. É
necessário questiona-se rotineiramente sobre as vivências ou sobre as práticas sociais dos
participantes da pesquisa. Nos casos de estudos com a população em situação de rua, a
importância do vínculo é essencial na aproximação. E ele se diferencia daquele desenvolvido no
trabalho dos serviços de assistência social. O vínculo a ser conquistado envolve o reconhecimento
do sujeito “a ser pesquisado”, como sujeitos que são, portadores de direitos e deveres, capazes de
conhecer e intervir em sua própria realidade com autonomia.
A pesquisa foi realizada ao longo de cinco meses, desde dezembro de 2017 até maio de
2018, devido às particularidades da demanda em situação de rua e a sutileza necessária na criação
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de vínculos e na reaproximação dos sujeitos da pesquisa, alguns encontros tiveram que ser
remarcados, por este motivo foram necessários cinco meses dedicados a pesquisa de campo.
Os procedimentos planejados para o desenvolvimento da pesquisa, consistiram em
encontros em locais públicos, escolhidos pelos entrevistados, no intuito de que os entrevistados
sentissem seguros estando em seu território de vivência. A partir disso, ocorreram diversos
encontros informais, que ora aconteciam em locais abertos, como parques e mesmo a esquina
próxima ao abrigo do município, ora aconteciam a mesa de um café em um supermercado.
Incorporou-se também às práticas de campo entrevistas semiestruturadas sobre suas
histórias de vida, relatando de que forma chegaram à situação de rua, suas percepções sobre as
políticas de atendimento à população em situação de rua, e o serviço oferecido. Balbina Ottoni
Vieira3, em 1970 já pontuava a importância das entrevista e considerava-a como principal meio no
estabelecimento das relações com o indivíduo, necessárias ao “tratamento social”.
Ao longo de todo esse processo, os instrumentos utilizados para a realização dos objetivos
foram: câmera fotográfica; um gravador digital de voz; um diário de campo. No diário de campo
eram feitos os registros com descrições e observações e impressões sobre o processo de todos os
encontros e entrevistas realizadas. Os registros visuais foram os procedimentos mais interessante
do processo de pesquisa, pois mesmo causando um certo estranhamento no início, trouxe também
o interesse nos sujeitos em se assistir contando suas experiências de vida, provocando algumas
reações de reconhecimento de si.
Com a autorização dos sujeitos pesquisados, fizemos fotografias e a gravação em filme de
seus relatos. Além do uso do nome próprio de cada escolhido para as entrevista, firmou-se na
perspectiva do reconhecimento do sujeito em sua subjetividade. Morin (1996), reflete sobre a
noção de um sujeito na perspectiva subjetiva, objetiva, biológica e social, simultaneamente, e esta
configuração abarca a compreensão humana, de sua identidade e cultura. A identidade do sujeito
comporta um princípio de distinção, de diferenciação e de reunificação, o que lhe possibilita a
capacidade de referir-se ao mesmo tempo a “si” (auto referência) e ao mundo exterior
(exo-referência). Assim, para referir-se a si mesmo, é preciso referir-se ao mundo externo, 3 Balbina Ottoni Vieira foi uma das primeiras assistentes sociais do Brasil a escrever sobre entrevistas. A autora se formou em 1945, na primeira escola de serviço social, e lecionou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, até sua morte em 1981. Fonte: http://servicosocialmemorialbibliografico.blogspot.com/2014/03/biografia-balbina-ottoni-vieira.html Acesso em: 11 de novembro de 2020.
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processo chamado pelo autor de auto-exo-referência que constitui a identidade subjetiva/objetiva.
O sujeito possui um caráter existencial “porque é inseparável do indivíduo, que vive de maneira
incerta, aleatória, e acha-se, do nascimento à morte, em um meio ambiente incerto, muitas vezes
ameaçador e hostil” (Morin, 2003, p. 124).
Sendo assim, os Sujeito que compuseram esta pesquisa foram: Irani, 40 anos; Maria
Aparecida, 59 anos; Roberto, 60 anos e Fábio, 37 anos. Eles trazem em suas marcações iniciais
identitárias diferentes condições. Irani aos 40 anos, que na ocasião da pesquisa, “residia” no
abrigo feminino, cursou somente até a segunda série do ensino fundamental, teve sete gestações e
todos seus filhos foram entregues para adoção. Irani ainda acumula a vivência de abrigamento
desde a infância. Que se difere de Maria Aparecida próxima dos 60, que também na ocasião
residia no abrigo feminino, porém, matinha contato com suas filhas que residem no município.
Maria Aparecida após a morte do companheiro, “caiu” (assim é a forma que Maria se refere) em
situação de rua. O mesmo é válido para Roberto, que no início da pesquisa encontrava-se em
situação de rua e no decorrer da pesquisa no abrigo destinado a idosos em situação de rua.
Roberto, nunca estudou, relatou não saber ler nem escrever, e assim como Irani, por toda sua
infância até a vida adulta, passou por abrigos institucionais. E Fábio, que aos 37 anos, possui
familiares no município, porém encontrava-se “morando” na rua pois devido ao uso de drogas a
família não o aceita em casa.
As primeiras aproximações com cada um foram inicialmente por meio de uma busca ativa
por alguns deles nas ruas do município, no caso de Fábio e Roberto, e na visita ao abrigo em que
alguns deles se encontravam, no caso de Dona Maria (com a pesquisadora a chamava) e Irani, na
intenção de retomar o vínculo já existente entre pesquisadora e usuários, uma vez que as
experiências da pesquisadora com a população em situação de rua ocorreram nos abrigos do
município, quando atuou como estagiária, agente educadora e assistente social.
Faz-se interessante observar que o termo, busca ativa, é utilizado nos textos orientadores
das políticas para indicar um caráter político das práticas no território. O sentido mais comum
atribuído a este termo é utilizado nas ações da Vigilância Epidemiológica, que significa ir em
busca de dados com o fim de identificação de doenças (BRASIL, 2001). A busca ativa também
pode ser considerada como um movimento de ir contra a corrente da demanda espontânea, no
sentido de cartografar as necessidades de determinados territórios, além de ser considerada pela
Política Nacional de Atenção Básica como uma postura pró ativa frente às dificuldades
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enfrentadas pela população. (BRASIL, 2007, p. 22). Sentido este também utilizado para acessar o
território do sujeito e estabelecer um vínculo e se integrar a seu meio cultural.
A partir dessas aproximações iniciais, cada um escolhia seu lugar de preferência para o
próximo encontro. A decisão em acatar a escolha de local pelos participantes, se deve ao fato de
que a intenção da pesquisa era retratar suas vivências em seus territórios escolhidos como “casa”,
que Guattari e Rolnik (1986), entendem que o território utilizado como espaço de vivência se
torna uma apropriação subjetiva de como se agencia o desejo nos espaços e tempos sociais.
Uma questão muito importante no processo de pesquisa, sem a qual ela não cumpre sua
finalidade: a capacidade de escuta. Escutar implica ouvir; contudo, a recíproca não é verdadeira.
Quem escuta ouve; mas quem ouve não necessariamente escuta. Daí o dito popular: “Entrou por
um ouvido e saiu pelo outro”. Sendo ouvir, uma capacidade biológica que não exige esforço do
nosso cérebro, escutar decreta trabalho intelectual, pois após ouvir há que se interpretar, avaliar,
analisar e ter uma atitude ativa.
A escuta, então, é o que torna possível a habilidade no uso das técnicas de acolhimento,
questionamento, clarificação, reflexão, exploração e aprofundamento, silêncio sensível,
apropriação do conhecimento e síntese integrativa entre tantas outras que existem e as que ainda
serão criadas. A escuta é o que possibilita a criação e estreitamento dos vínculos.
Um fato interessante durante esses encontros, foi o interesse dos demais usuários do
serviço, que frequentavam os mesmos locais que Irani, Maria Aparecida, Roberto e Fábio, se
interessaram em também contar e registrar suas histórias de vida. Pouco a pouco, mesmo tendo
somente quatro sujeitos escolhidos para pesquisa, muitos deles me procuravam para contar suas
histórias ou dividir algum acontecimento.
Frequentemente, durante nossos encontros iniciais em vias públicas, praças, marquises ou
em algum café, notei um estranhamento dos transeuntes ou de funcionários dos locais, pela
aparência dos sujeitos, seja por sua aparência ou por uma determinada moralidade que vive a
sociedade, o que os levou a uma mudança de postura para os próximos encontros, que passaram a
se apresentar de banho tomado e roupas limpas, barba feita, batom. Observação esta, realizada
pelos próprios sujeitos em questão, que relataram como a situação de rua os oprime e muitas vezes
os exclui da sociedade. O autor Taylor (1994), afirma essa opressão é a materialização em carne
do polo negativo de uma configuração moral: é, aos olhos dos outros em sociedade, encarnar o 44º Encontro Anual da ANPOCS - SPG 37- Pesquisa qualitativa, desafios e potencialidades para a investigação
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que se institui como mais degradado, sujo e indesejável. É admitir que a noção de pessoa e de
indivíduo estão interligadas, e necessariamente atravessadas pela dimensão moral, compreender
pessoas como fato moral.
Nos relatos de Irani, Maria Aparecida, Roberto e Fábio, suas relações com os moradores
próximos dos locais onde se localizavam os abrigos, e vias públicas, onde alguns deles utilizavam
como “casa” (Figura 1), também reproduziam uma multiplicidade de sentidos, que por vezes era
expressado na fala dos sujeitos com determinada aceitação e por vezes com indignação e
frustração.
Figura 1: Local situado à Avenida Nelson D’Ávila em São José dos Campos, utilizado
com “casa” por alguns indivíduos em situação de rua.
Fonte: GOULART (2018).
Durante as buscas, muitas vezes necessárias, por Fábio e Roberto e às vezes por Irani, nas
ruas do município, muitas vezes a pesquisadora enfrentou dificuldade no acesso aos locais, ou nas
informações dadas por outros indivíduos também em situação de rua, ou até mesmo o perigo
físico que muitas vezes a rua impõe a qualquer passante.
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A presença da pesquisadora entre a população em situação de rua era facilmente notada
nos espaços públicos, especialmente na esquina do álcool, como era chamada a esquina de
encontro dos usuários do Abrigo Guararapes, que nos anos de 2017 e 2018 abrigava cerca de 200
pessoas em situação de rua, de ambos os sexos e localiza-se na região central do município, pois
estes me reconheciam enquanto assistente social com quem tinha bom vínculo. E na esquina do
álcool (Figura 24) foram realizadas as melhores escutas, melhores conversas, partindo da
concepção que já estava incorporada ao território deles, que segundo Haesbaert (2004), define
como uma dimensão constitutiva da condição humana e o próprio conceito de sociedade que
significa sua espacialização, sua territorialização, pois não há como definir indivíduo, sem
inseri-los em determinado contexto geográfico. E ali, naquele território onde descobri a vontade
de alguns em ter suas histórias contadas como forma de reconhecimento enquanto cidadão.
Figura 2: A Esquina do álcool - Da esquerda para direita: Fábio, Valdirene, “Madeira”
(assim como gostava de ser chamado), Joselito e Ricardo.
Fonte: GOULART (2018).
4 Todos os sujeitos presentes na foto, autorizaram o uso de sua imagem, bem como sua divulgação.
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Por outro lado, à medida que os registros pela pesquisadora produzidos passavam a incluir
sua própria presença, isto é, desde que a presença passou a ser contada como uma participação na
vida do grupo que ali se encontrava, pelo modo como parecia ser recebida, representada, e pelos
efeitos que causava nela e no grupo, muitas vezes perpassada pelas negociações configuradas em
favores, caronas, uma camisa nova ou um auxílio em um atendimento médico e até mesmo social.
Desse modo, a pesquisadora aceitou essa relação/interpretação com as suas consequências, as
quais incluíam uma visibilidade baseada no vínculo estabelecido, ao entendimento deles, do
sentido que eu dava à minha presença, do sentido que eles davam a minha presença, de minhas
intenções.
Essa interpretação tornou a relação da pesquisadora com Irani, Maria Aparecida, Roberto
e Fábio, mais pessoal, devido ao vínculo ali construído e a aproximação cada vez maior do
território por eles vivenciado, proporcionando momentos em que eles dividiram comigo suas
experiências mais íntimas, desabafos e frustrações, e, por conseguinte, oferecia sentidos às
minhas intenções de pesquisa que as transformam em interesse por “conhecer pessoas” numa
acepção que lhe dá o senso comum, tornando-as assimiláveis no campo de interpretação dos
sujeitos pesquisados. E assim, esses sujeitos se tomavam por valorizados no interesse que
despertava no outro em que eu me constituía.
Conforme a interação da pesquisadora e eles crescia, a relação com eles passou a ter um
maior vínculo, e assim, sai do status assistente social pesquisadora e aos poucos fui me sentindo
“em casa”, embora estivéssemos na rua. Diante do vínculo estabelecido e estreitado, propus a
gravação das entrevistas e a autorização de divulgação desta, além da divulgação de seus nomes.
De início, houve uma estranheza, porém, quando viram um primeiro resultado assistindo suas
histórias sendo contadas por eles, e sabendo que suas histórias assistidas por outras pessoas, que
saberiam de suas existências e experiências, todos animaram com a proposta. Nesse sentido, a
pesquisadora aceito-se ser “perfeitamente digerível pela sociedade observada, a ponto de
viabilizar uma aceitação senão ótima pelos membros daquela sociedade, pelo menos afável, de
modo a não impedir a necessária interação” (OLIVEIRA, 1996, p. 24)
Uma das perguntas finais da pesquisadora nas gravações era sobre quais eram seus sonhos.
Pergunta essa, que mexeu muito com os sujeitos entrevistados, diante de seus históricos de vida na
rua. O último encontro com Irani, com histórico de vivência na rua e em abrigos desde a infância,
expressando seu sonho em encontrar a mãe, e de como sua vida teria sido diferente se a separação
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de sua genitora não tivesse ocorrido. Quando a pesquisadora retornou ao Abrigo para apresentar o
resultado final da pesquisa para Irani , fui surpreendida com a notícia que a mesma havia
encontrado a mãe por meio das redes sociais e tinha ido visitá-la em outro município.
Questionou-se então sobre os impactos da pesquisa qualitativa na subjetividade dos sujeitos
entrevistados ou os quais o (a) pesquisador (a) constrói sua narrativa científica. Os participantes
aos construírem suas trajetórias com a pesquisadora são afetados por suas memórias.
Os processos emocionais, afetivos, ideológicos que perpassam pelas interações sociais
entre o (a) pesquisador (a) e os sujeitos da pesquisa, mas como partícipes que ele não
necessariamente controla, dizem respeito a uma implicação já existente ou nascida na relação de
alteridade. O (a) pesquisador (a), na pesquisa de campo, deve separar o que é dele e o que é do
outro, mas esses dois elementos precisam entrar em relação, para que o conhecimento de fato se
estabeleça, pois o próprio ato reflexivo necessita da perspectiva do outro e a de si mesmo como
objetos para refletir “objetivamente” sobre a situação apresentada. Porém, não há como separar
esses elementos contidos na interação social do (a) pesquisador (a) com o seu objeto de estudo,
pois eles expressam uma marca na subjetividade humana, ao mesmo tempo em que compartilham
dos motivos para a ação.
Sendo assim, entendemos que a experiência formativa da abordagem da pesquisa não é
uma simples modalidade proposta, desde a ideia de procedimentos de investigação que envolve
métodos práticos de imersão de campo, entrevista, análise de discurso e de interação. Essa
experiência se constrói tendo como ponto de partida o posicionamento dialógico e as condições
concretas em que os sujeitos interagem, o que remete aos significados que referenciam as ações
dos sujeitos em interação, assegurado por Mead (1976), quando afirma que todo sujeito tem um
self, que nasce da interação com o outro como uma convivência cotidiana com a delimitação
intersubjetiva, moldadas por significados socioculturais, entre eles.
Considerações Finais
A discussão metodológica da pesquisa se direciona para além da aplicação de métodos e
instrumentais (“rigor científico”); a metodologia empregada pode propiciar a aproximação com a
população em estudo e contribuir com a visão acerca de sua realidade, demandas e problemáticas
que estão em análise. Portanto, para além do conteúdo em si, a aplicação de uma metodologia no
contexto de vida daqueles sujeitos traz elementos efetivos acerca de suas vivências e,
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consequentemente, a construção de suas percepções sobre os elementos que a cercam, como os
serviços que os atendem. Considera-se que as experiências realizadas mostraram as possibilidades
e os limites de uma determinada metodologia, explicitando a particularidade de nossa posição,
juntamente com as indagações acerca da aplicação desta metodologia, de suas diferenças de
compreensão e interesses envolvidos, numa negociação sempre presente para um “encontro”, para
acesso a conteúdo buscados pela pesquisa.
A oportunidade desta pesquisa possibilitou a pesquisadora principal uma reflexão
relacionada à prática com assistente social e pesquisadora, no que tece ao cuidado do tratamento
das informações colhidas durante o processo de pesquisa, quanto ao significado do território, das
escolhas, das vivências e da vida dessas pessoas que dividiram comigo suas experiências.
Proporcionou ainda um processo de formação contínuo que revela que a escuta aguçada, a
sensibilidade emocional, a capacidade de colocar-se no lugar do outro e a valorização de suas
experiências, traz a pesquisa de campo e ao pesquisador (a) a ideia defendida por Woods (1989),
de que o método de pesquisa encontra significados da realidade social construída pelos sujeitos
mesmo que sendo nos fluxos dinâmicos ou não linear dos acontecimentos, o que leva o (a)
pesquisador (a) a uma percepção de si. Diante de tal reflexão consideramos que na análise de
implicações da pesquisa a questão da relação entre o vínculo e distanciamento, do indivíduo
pesquisado, não podem ser concebidas somente como uma escolha de validade científica, pois
todos esses elementos agem independentemente de sua validade e podem ter interpretações
somente em uma perspectiva científica.
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