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20 JUNHO/2006 A Lavoura FEIJÃO Com o desenvolvimento de novas cultivares e adoção de tecnologias já disponíveis espera-se incrementar o cultivo do feijão e torná-lo mais uma opção para o produtor O FEIJÃO é um dos alimentos básicos de vários povos, principalmente do brasileiro, consti- tuindo a sua principal fonte de proteína vegetal. O teor protéico encontrado nas sementes varia de 15 a 33%, sendo ainda um alimento energético com 341 cal/100 g. Desta forma, investir em pesquisas é fundamen- tal para dar sustentabilidade e suporte ao desenvolvimento da cultura no país. O Brasil é o maior produtor mundial de feijão com uma produção 2005/2006 estimada em 3.265 t, em 4.034 ha com um rendimento médio de 808 kg/ha, segundo dados da CONAB. No mesmo painel, as informações indicam que no país apenas 100 mil toneladas do que é produzido destina-se à exportação, a maior parte da produção brasileira de feijão não ultrapassa as fronteiras. Paraná, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Goiás são os maiores estados produtores. A primeira safra, conhecida como das águas, é plantada entre agosto e outubro e tem como principais produtores Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e a região de Irecê na Bahia. Já a segunda safra é plantada de abril a junho na região Sul-Sudeste, além disso, é usada como rotação para as culturas de soja e milho. No Norte, Centro-Oeste e Nordeste é a primeira e única safra do ano. Vale ressaltar, que ela representa, atualmente, 50% do total anual de feijão. A última safra é plantada em junho/julho nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia (Barreiras), sob sistema irrigado com pivô-central, atingindo alta produtividade e abastecendo o mercado na entressafra. Hoje, os produtores de feijão são classificados em pequenos - usam baixa tecnologia e têm sua renda associada às condições climáticas; e um segundo grupo, que usa produção tecnificada, plantio irrigado e alta produtividade. Em Mato Grosso do Sul encontramos os dois tipos de produtores e o cultivo do feijão comum (Phaseolus vulgaris L.) e de caupi (Vigna unguiculata). O feijão caupi “é cultivado principalmente por colonizadores nordestinos, que se estabeleceram no estado na década de 50”, explica o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, Edvaldo Sagrilo. Segundo ele, o caupi apresenta características que o torna uma alternativa atrativa para cultivo e consumo. “Do ponto de vista socio- econômico, dados mostram que a cultura é responsável pela manutenção de um O O feijão caupi tem características que o tornam uma alternativa atrativa para cultivo e consumo EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE O FEIJÃO NOSSO de cada dia

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20 JUNHO/2006 A Lavoura

F E I J Ã O

Com o

desenvolvimento

de novas cultivares

e adoção de

tecnologias já

disponíveis espera-se

incrementar o cultivo

do feijão e torná-lo

mais uma opção para

o produtor

O FEIJÃO é um dosalimentos básicosde vários povos,principalmente dobrasileiro, consti-tuindo a sua principal

fonte de proteína vegetal. O teor protéicoencontrado nas sementes varia de 15 a33%, sendo ainda um alimentoenergético com 341 cal/100 g. Destaforma, investir em pesquisas é fundamen-tal para dar sustentabilidade e suporte aodesenvolvimento da cultura no país.

O Brasil é o maior produtor mundialde feijão com uma produção 2005/2006estimada em 3.265 t, em 4.034 ha com umrendimento médio de 808 kg/ha,segundo dados da CONAB. No mesmopainel, as informações indicam que nopaís apenas 100 mil toneladas do que éproduzido destina-se à exportação, amaior parte da produção brasileira de

feijão não ultrapassa as fronteiras.

Paraná, Minas Gerais, Bahia, SãoPaulo e Goiás são os maiores estadosprodutores. A primeira safra, conhecidacomo das águas, é plantada entre agostoe outubro e tem como principaisprodutores Rio Grande do Sul, SantaCatarina, Paraná, São Paulo e a região deIrecê na Bahia.

Já a segunda safra é plantada de abrila junho na região Sul-Sudeste, além disso,é usada como rotação para as culturas desoja e milho. No Norte, Centro-Oeste eNordeste é a primeira e única safra doano. Vale ressaltar, que ela representa,atualmente, 50% do total anual de feijão.A última safra é plantada em junho/julhonos estados de São Paulo, Minas Gerais,Goiás e Bahia (Barreiras), sob sistemairrigado com pivô-central, atingindo altaprodutividade e abastecendo o mercadona entressafra.

Hoje, os produtores de feijão sãoclassificados em pequenos - usam baixatecnologia e têm sua renda associada àscondições climáticas; e um segundogrupo, que usa produção tecnificada,plantio irrigado e alta produtividade. EmMato Grosso do Sul encontramos os doistipos de produtores e o cultivo do feijãocomum (Phaseolus vulgaris L.) e de caupi(Vigna unguiculata).

O feijão caupi “é cultivadoprincipalmente por colonizadoresnordestinos, que se estabeleceram noestado na década de 50”, explica opesquisador da Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária – Embrapa,Edvaldo Sagrilo. Segundo ele, o caupiapresenta características que o tornauma alternativa atrativa para cultivoe consumo. “Do ponto de vista socio-econômico, dados mostram que a culturaé responsável pela manutenção de um

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emprego para cada hectare cultivadoanualmente. Já numa visão nutricional, osgrãos de caupi são ricos em proteínas deelevada qualidade biológica e emaminoácidos essenciais como tiamina efibras dietéticas”, enfatiza.

Pesquisas aliam aspectosprodutivos às exigênciasdo mercado

Sagrilo conduz experimentos daEmbrapa Agropecuária Oeste emChapadão do Sul, Dourados eAquidauana e revela que aUnidade da Embrapa “temdesenvolvido pesquisas que visemà identificação de variedadespromissoras para cultivo em MatoGrosso do Sul, que atendam tantoàs demandas da agricultura famil-iar como às de grandes produtoresda cultura”.

O também pesquisador daEmbrapa, mas estudioso do feijãocomum, Auro Otsubo, completa“as pesquisas buscam aliar osaspectos produtivos às exigênciasdo mercado. Temos que produzirmateriais de qualidade não só emprodutividade e tolerância a pragas, masque atendam ao gosto do consumidor”.

O feijão comum abrange cerca de70% do total produzido no Brasil. Auroé responsável por experimentos daEmbrapa Agropecuária Oeste que testam,aproximadamente, 50 materiais de feijãotipo “carioca”, “preto” e “cores”, emdiferentes condições climáticas e de solo,nos municípios de Campo Grande,Aquidauana, Anaurilândia e Dourados.Para Otsubo investir na cultura “é apostarem uma alternativa socio-econômicaviável e que se adapta aos sistemas deprodução existentes”.

Espera-se com o desenvolvimentodessas cultivares e a adoção detecnologias já disponíveis, como uso desementes de qualidade, plantio direto,adubação adequada e controle de plantasdaninhas, pragas e doenças, incrementaro cultivo do feijão em Mato Grosso do Sule, por fim, torná-lo mais uma opção parao produtor.

Perspectivasde mercadointerno e externopara o feijão

O FEIJÃO SEMPRE FEZ parte da dietados brasileiros, no entanto, nos últimos anosobserva-se uma redução constante noconsumo/per capita do produto.

Enquanto em 1975 o consumo/percapita de feijão girava em torno de 18,5 kg/hab/ano, em 2002 este consumo caiu paraaproximadamente 16,3 kg/hab/ano(-11,9%).

Este fato tem preocupado osespecialistas da cadeia produtiva do feijão.Algumas das possíveis causas desta queda doconsumo /per capita/ no Brasil estãorelacionadas com a substituição por fontesde proteína de origem animal, o êxodo ru-ral, bem como, a mudança de hábitosalimentares com o advento do ‘fast food’,além das fortes flutuações de oferta e preçose a demora para o preparo do produto (faltade praticidade).

“A cadeia produtiva do feijão está sendodesafiada a encontrar novas oportunidadesde mercado para o produto. No mercadointerno, por exemplo, poderíamos reforçaro seu valor alimentar, através de campanhasde conscientização junto aos consumidores,para estimular o consumo”, informa oeconomista Alcido Elenor Wander,pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão.

Outra opção apontada por Alcido é abusca do mercado internacional: “É umaopção mas, no entanto, não há informaçõessuficientes e confiáveis, até o momento,sobre as reais possibilidades de o Brasil vir aser um ‘player’ (destaque) importante nomercado mundial de feijão”, observa.

Os pesquisadores da Embrapa Arroz eFeijão realizaram um levantamento de dadosjunto a FAO sobre produção, comércio econsumo de feijão no Brasil e no mundo.Comparou-se o consumo per capita e aprodução de feijão nos últimos 30 anos (1975-2004) nos principais países produtores econsumidores.

A produção brasileira de feijão em grãoaumentou de 2.282,5 mil toneladas para 3.054mil toneladas (+33,8%) no período 1975-2004graças ao aumento da produtividade média de550,5 kg/ha para 757,2 kg/ha (+37,5%). Esteaumento da produtividade permitiu atender

o aumento da demanda interna,em função do crescimentopopulacional, e ainda liberouaproximadamente 112 mil hectarespara outras atividades.

Internacionalmente houveaumento moderado da área colhida(+11,5%), um aumento maiordo rendimento (+26,7%) e,conseqüentemente, um aumentoainda maior da produção (+41,3%)de feijão neste mesmo período.

Enquanto o consumo percapita dos brasileiros caiu 12% en-tre 1975 e 2002 (de 18,5 para 16,3kg/hab/ano), o consumo percapita mundial caiu 18% no mesmoperíodo, passando de 2,8 kg/anoem 1975 para 2,3 kg/ano em 2002.Apesar do constante aumento da

produção, em torno de 30%, e da redução doconsumo per capita de feijão, o Brasil aindapossui uma ampla demanda insatisfeita, que éabastecida com importações, especialmente degrão tipo preto; em valores, estas importaçõeslíquidas têm ultrapassado a margem dos US$ 20milhões anuais.

Entre os dez países com maior consumoper capita de feijão estão o Burundi, Nicarágua,Ruanda, Uganda, Quênia, Brasil, El Salvador,Cuba, Coréia do Norte e o México.

Considerando-se as importações líquidas(exportações - importações), destacam-sepaíses como a Índia, Japão, Cuba, Itália e Brasil,como os maiores compradores mundiais defeijão.

Para que o Brasil possa buscar estesmercados ele precisa, além de abastecer omercado interno, desenvolver produtos(melhoramento genético) que atendam àspreferências dos consumidores daqueles países.

Apesar da diminuição do consumo percapita e do aumento da produção, o Brasilainda importa anualmente quantidadesconsideráveis de feijão. O país precisa definirestratégias para alcançar a auto-suficiência emfeijão, sendo de crucial importância que sejamconduzidos estudos para identificar aspreferências dos consumidores de paísesimportadores como Índia, Japão, Cuba, Itália eoutros que o Brasil poderia passar a abastecerno futuro.

A produção brasileira de feijão em grão aumentou33,8% de 1975 a 2004

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