O Feminino Em O Gebo e a Sombra1
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8/20/2019 O Feminino Em O Gebo e a Sombra1
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Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea II – Trabalho FinalProfessora Dra. Ana Isabel Vasconcelos
Mestranda: Dina Carvalho AparícioAno Letivo: 2010/2011
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O Feminino em O Gebo e a Sombra, de Raul Brandão
Segundo Pedro Calafate, Raul Brandão carateriza-se por ser um escritor de «vincado
pendor introspetivo, herdeiro do pessimismo decadentista da geração de 1890» e a sua obra
«abarca […] a dinâmica finissecular, na continuidade de Schopenhauer e de Hartmann, abrindo-
se à problemática existencial, que viria a marcar […] o pensamento europeu do séc. XX,
sobretudo na linha de Camus» (2000: 391). Neste sentido, deteta-se na sua obra a crítica à
industrialização, que contribuiu para a destruturação dos valores tradicionais com que sempre
se identificou, tal como a consequente busca do indivíduo pela sua verdade existencial e uma
premente preocupação com a questão social, a “consciência dramática da miséria que
transforma o homem num farrapo» (ibid., 392). A miséria surge como o resultado da dissolução
de valores, confrontando o indivíduo com a amargura e a dor que lhe exigem a «coragem
heroica» de lutar, num misto de espanto e pavor, contra «o absurdo da existência», em que
acaba por descobrir a tragédia existencial de «um ser dividido entre máscaras e a autenticidade
do ser» (id.). Deparamo-nos, na obra brandoniana, com personagens divididas entre um «eu
abissal», aquilo que as faz reagir e agir contra a acomodação às regras sociais – a Existência -, e
a Vida, feita de dor, de sonho e de desgraça, «de que emerge o absurdo que só pela morte pode
ser abolido» (ibid., 396-397). A honra / dever e o homem profundo entram em conflito e, como
é visível em O Gebo e a Sombra (1923), o homem reconhece que é preciso desafiar o
convencionalmente correto para descer ao «abismo de si próprio» e entender «a consciência
trágica da irredutível oposição entre a existência e a vida abissal, e, por isso, mais verdadeira»
(ibid., 397). A vida não pode ser um aglomerado de hábitos e insignificâncias e, por isso, o
indivíduo abre-se ao espanto1 e ao sonho, as pontes para a interrogação e a descoberta.
De forma inovadora e surpreendente, numa época em que a mulher assumia pouco ou
nenhum relevo social e quanto mais baixo o seu estatuto, maior a sobrecarga a todos os níveis –
familiar, emocional, pessoal, social, físico - Raul Brandão, trouxe para a literatura a figura
1 A propósito do «espanto» em Raul Brandão, Pedro Calafate (2000. 393), atribui-lhe uma «conotação de surpresa e de
assombro perante o que está para lá da aparência das coisas e dos homens», interpenetrando-se «com o sentimento do abstido,nomeadamente com o maior dos absurdos que é a morte».
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feminina, valorizando-a e solidarizando-se com ela no «drama de se nascer mulher»2, aspeto
para o qual contribuíram os laços com as figuras preponderantes da sua vida – a mãe, que lhe
ensinou o sonho e o invisível, e a velha criada Maria Emília, que lhe transmitiu o calor humano e
a ternura, essenciais para o desenvolvimento de uma sensibilidade pouco usual numa épocamarcadamente impessoal e patriarcal. Contudo, Raul Brandão, reconheceu o valor devido à
mulher e, nas suas Memórias, são diversos os momentos em que se detém na descrição da
mulher como uma «presença amorosa que cobre os filhos, aquece a vida, sufoca poços de
gritos», expressando a sua revolta e o remorso pela forma como a mulher é (mal)tratada numa
sociedade que privilegia o homem como ser superior, ao mesmo tempo que denuncia o
(auto)sacrifício feminino que a leva a perder a dignidade humana, pelo homem e para o homem.
O que distingue a mulher do homem é a sua capacidade de amar, «porque o amor nunca mais seapaga – talvez porque a luz seja a única realidade do mundo» (BRANDÃO, R., 2010, III: 48), luz
que lhe foi transmitida tanto pela mãe como pela velha criada, a respeito de quem se
questiona: «Que é que nós lhe demos para assim nos amar? Sofrimento, trabalho até cair
exausta de dedicação. E ela deu-nos à vida e a alegria. Mancou e riu até ao fim. […] E no fim
morreu ainda servindo-nos e com estas palavras na boca: - Levo-vos no coração!» (ibid., 50).
Perante este relevo atribuído à mulher, partilhamos a opinião de Luísa Dacosta, quando
afirma a significância da existência de três figuras femininas em O Gebo e a Sombra: «Trêsdolorosos dramas de frustração: - pelo amor – Sofia, pelo sonho- Doroteia, pelo ódio –
Candidinha. E que seja através desses dramas que a peça se ilumina de uma tragédia maior»
(1967: 13).
Atentemos, agora, em cada uma destas mulheres, a fim de definir o seu drama, de forma
a, no final, as podermos incluir num ciclo de «tragédia maior» que as ultrapassa
individualmente, mas que se estende à própria condição feminina e à humanidade de quem é
geradora.
Sofia, sobrinha e nora do Gebo, presença silenciosa, mas que tudo parece abarcar, é um
exemplo de autossacrifício, pois, com todas as suas cismas e frustrações, contribui para aquecer
e iluminar o lar, assumindo uma atitude protetora e de desvelo para com o Gebo, de quem é
cúmplice no conhecimento da verdade sobre João, acarinhando-o e tranquilizando-o, o que se
torna percetível pela sua preocupação em falar-lhe ternamente e preparar-lhe comodidades (o
2 Sobre este assunto, leia-se SILVA, Susana Serra (2011) – “Sonhos e ideais de vida”, in História da Vida Privada em Portugal. A
Época Contemporânea [Direção de José Mattoso e Coordenação de Irene Vquinhas], Lisboa, Temas e Debates / Círculo deLeitores, pp. 382-427).
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lume e o café) que o reconfortem depois de um dia difícil de trabalho – carinhos de filha, numa
casa onde o filho é uma sombra. A sua cumplicidade é evidente nas estratégias que concebem
para proteger Doroteia da verdade sobre o filho. Enquanto Doroteia se refugia no sonho, na
ilusão, Sofia, sempre prestável e ativa nas tarefas do lar, abafa as lágrimas para proteger asogra que, no início da peça, a trata com frieza («Nem chorar podemos eu e o velho para que
vivas iludida. Ainda ele anda, trabalha, esquece, mas eu fico aqui horas e horas a cismar.» -
56)3. Contudo, não concorda que o Gebo alimente esta ilusão, porque viver no engano, no
refúgio, no sonho, é um risco, embora também ela se sinta intrigada com a vida miserável de
João – cujos pormenores desconhece, mas intui («Porque é que o mal o atrai e porque é que a
sua miséria me atrai também? Para que vive um vida de desgraça, de dor e de fome?... Há
muitas coisas que eu queria saber e discutir e não me atrevo.» - 61). Sente o «espanto», que afaz cismar na desgraça, revelando a sua inocência, mas, em simultâneo, uma tendência inata
para a problematização («Talvez seja mal, mas queria compreender o que é essa vida horrível e
porque é que ele, sabendo que faz mal… - id.). Quando Doroteia se aproxima, mais
carinhosamente, do Gebo, para que ele lhe alimente o sonho, Sofia retira-se com discrição,
sempre a cismar e finge não ouvir a aversão que a sogra nutre por ela, por, egoisticamente,
pensar que ela ocupou o lugar do filho na sua casa e no coração do Gebo. O medo apodera-se
dela, porque pressente a «sombra», a chegada de João, que virá confrontá-la com outros
problemas. O Gebo conforta-a e reconhece todo o seu valor - «Minha pobrezinha, tão calada e
tão triste, e sempre num subterrâneo a tecer. Eu bem te conheço… Exaltada! Tão exaltada!...
Mas calas, tudo, escondes tudo» (p.74) – como uma Penélope que faz e desfaz o seu trabalho,
numa espera infinita e indefinida. É então que chega João e retoma o seu lugar de marido e
filho…
Com a chegada de João, sobressai, no II Ato, a atitude mais dinâmica de Doroteia, menos
deprimida, animada a receber Chamiço e Candidinha para o serão. A sua felicidade é evidente efaz crer que o filho enriqueceu - o café que partilha equivale a um ritual de celebração, de
felicidade e de abundância. A conversa do serão centra-se nos temas da revolta e do crime, nas
formas de fugir a uma existência amorfa e sem significado. Doroteia bebe as palavras do filho,
pois identifica-se com aquilo que ele diz, enquanto Sofia se horroriza com o relato da sua
vivência – «eu e o desespero, só eu e o negrume» (p. 87) - e Candidinha ouve-o « fascinada».
Percebemos que aquele serão, em que chove como no «dilúvio universal», adquirirá o
3 BRANDÃO, Raul (s/d) – O Avejão e O Gebo e a Sombra, notas de BASTOS, Glória e VASCONCELOS, Ana Isabel, Porto, Porto
Editora. Todas as citações da obra, terão como referência esta mesma edição.
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significado destruidor e (re)construtor do dilúvio – o efeito das palavras de João tem o efeito da
purificação e do renascimento pela água. Só Doroteia parece não querer entender a mensagem
das conversas («Mas que é? Que não entendi?» - p. 89) e, quando no final do serão, fica sozinha
com o filho, fala-lhe à sensibilidade, ao sentimento, como mãe, confessando-lhe toda a suaangústia e o medo que as suas palavras lhe provocaram. Procura nele a fisionomia do passado,
como a Mãe, descrita por Eugénio de Andrade4, que guarda sempre na memória a imagem do
filho que criou, mas que, ao crescer, seguiu o seu caminho e se tornou um ser independente e
diferente. Aflige-se, porque não encontra essa outra fisionomia que guardou e alimentou
durante tantos anos. Tal como no poema referido, também João sente que traiu a mãe, pois a
ele também lhe «custa a encontrar a outra fisionomia, a outra que vi sempre e com quem lidei
sempre» (p. 94), mas sente o amor da mãe e é esse mesmo amor, o laço indestrutível eincondicional, que a faz pressentir que ele «é um desgraçado» e a existência sombria que ele
tem vivido. Também para João, a mãe foi o refúgio nos «dias de desgraça», a lembrança do
carinho, do calor, mas nem isso o resgatou do abismo («Eu, também, nunca te esqueci. Mesmo
nos dias mais aziagos te via e ouvia. Às vezes falavas-me como de um fundo de um sepulcro…
Quem estava morto era eu.» - p. 95). Para a proteger, aconselha-a a não querer vê-lo como ele
é e não quer continuar a conversa, apesar da sua insistência. Como a mãe que acolhe de braços
abertos, recebe um abraço «com grande ternura» - prova física do laço inquebrável - e diz-lhe
que lhe pôs o «xale na cama» como que para aquecer o seu menino.
Em Sofia, o regresso de João não trouxe o retomar de uma eventual intimidade perdida,
mas a consciencialização da realidade. Recusa-se a ouvi-lo e manda-o calar. Com terror, ouve-o
dizer: «Vocês vivem como cegos e há outra coisa – há outros vivos. Trabalhar, anh, e ser o Gebo!
Ser o Gebo! Antes viver num espanto e depois morrer. Olha como eu tenho as mãos frias…» (p.
98). Frias de morte, de crime, iluminadas pela claridade da vela que se estende à compreensão
de Sofia, que está no limite da sua resistência e ameaça gritar – sabe que ele vai roubar odinheiro e fazer com que aquela família, de quem ela é o verdadeiro pilar, perca tudo – até a
honra! Depois do roubo, de novo cúmplice do Gebo para proteger Doroteia, acaba por aceder a
esconder a verdade à sogra («Mas então o nosso dever é ser pobres, é ser desgraçados toda a
vida? É sacrificarmo-nos sempre? Eu não posso? Eu sufoco! O melhor é confessar-lhe tudo.
Batemos-lhe ali à porta e gritamos: - O teu filho…» - p. 104). O grito parece-lhe a forma de se
libertar daquele ciclo vicioso de mentira que, em vez de os ajudar a fugir à desgraça, mais os
afunda nela. A vontade de gritar é o grito interior que a faz sentir a mudança em si própria -
4 “Poema à Mãe”
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«Talvez ele tenha razão, e talvez de quem eu tenha mais medo é de mim própria» (p. 108) – e
todas as interrogações que surgem em catapulta e não lhe dão sossego. Depois da prisão do
Gebo, é Sofia quem assume o governo da casa. Continua a sacrificar-se, a ser o pilar da família,
para não deixar a sogra morrer à fome. Percebemos, no IV Ato, pelo diálogo entre Sofia eCandidinha que o marido a maltrata e não a valoriza, aparecendo em casa apenas «para levar
algum trapo para o prego», denúncia explícita da situação das mulheres pobres da época.
Candidinha, cuja pobreza e carência já se percebera no serão do «dilúvio universal», em
que admirara a maleta do dinheiro e imaginara quantas sedas e vestidos se podiam comprar,
alerta Sofia para o facto de estar a consumir a sua mocidade inutilmente («Quem é pobre é para
o que nasce. Depois vem a velhice e ainda é pior. E se a gente pede pão dão-nos escárnio. Eu
ainda tenho experiência da vida e é o que me vale…» - p. 117). Conta-lhe, então, o que é ser
eternamente pobre e caminhar para a velhice. Confessa-lhe o ódio visceral e a inveja que sente
por quem lhe faz caridade, por isso se alegra quando há «uma desgraça numa casa». A voz da
sua experiência exprime a revolta contra a desigualdade social («Eu que nunca comi à minha
vontade e que ando vestida de trapos quando nasci para trazer sedas como as outras?» - id.).
Por isso, usa máscaras, finge, colabora no jogo a que a humanidade se sujeitou a si própria
(«Nós que nascemos para a desgraça temos de nos sujeitar, e aos ricos deve-se obediência. São
eles que podem tudo e que dispõem de tudo.» - id.). Subtendemos que, fora disto, só amarginalidade é a solução. Alerta Sofia para não confiar em João, para lhe mentir, e a rapariga,
que ainda mantém a sua integridade, através da fidelidade a um marido que não a respeita, não
a quer ouvir. Candidinha, ao ser expulsa por João, enfrenta-o, argumentando que é «uma
pessoa de consideração», dando, com este exemplo, uma lição prática a Sofia e comprovando
que não tem medo de um homem, que, apesar de pobre, não é submissa.
Aproxima-se a libertação do Gebo e Doroteia, que também começou a cismar , reconhece,
por fim o valor de Sofia e afirma que «suspeitava de tudo, […] tinha adivinhado tudo» (p. 120).
Reconhece-a como a verdadeira filha que ela sempre fora e que se agarrara às ilusões para não
deixar morrer o sonho. O fingimento, a mentira e o sonho foram o que a manteve viva. A
catarse que se operou nela, percebendo o sofrimento que causara aos seres que mais lhe
queriam, faz com que assuma uma postura humilde e receba o Gebo de braços abertos,
pedindo-lhe perdão («Meu homem! […] Queria pedir-te perdão.» - p. 122). Surpreendidas com a
mudança de atitude do Gebo – um Gebo que viveu a vida dos verdadeiros desgraçados e se
confrontou com a Vida - «Doroteia e Sofia olham-se com terror » e «Sofia aproxima-se de
Doroteia», gestos significativos que indiciam a união das duas mulheres numa desgraça comum –
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todas as estratégias utilizadas para assegurarem alguma estabilidade familiar, mesmo na
pobreza, mas de acordo com a conveniência social, saíram goradas. O Gebo tornou-se como o
filho, aproximou-se dele, pois, agora, partilham experiências e vivências comuns. Todo o
sofrimento, todo o sacrifício, todas as lágrimas e dores - «Foi tudo inútil! Foi tudo inútil!» (p.123).
Estas três mulheres, nesta peça, não se pretendem representar como mulheres isoladas,
mas as diversas facetas da vivência da Mulher: - Sofia, a jovem, movida pelo amor aos tios e
sogros que a criaram e a um marido que não a respeita, mas a quem ela é fiel; Doroteia, a
mulher madura, a esposa que despreza o marido, porque prefere o filho – um filho cuja vida e
paradeiro desconhece, mas no qual depôs todas as expetativas e sonhos de uma vida mais feliz;
Candidinha, a velha, próxima da morte purificadora, que, depois de tanta fome, desilusão e
desgraça, nada teme e, após uma vida de miséria, passou a viver alimentada pelo ódio às
desigualdades, personificadas pelos que lhes dão uma côdea e lhe fazem caridade. Todas elas
frustradas, porque todas elas são mulheres, não só pelos condicionamentos socioculturais, mas
porque a mulher é a Mãe da Humanidade, é aquilo que ainda resta de sensível, de sofredor e
que ainda poderá purificar o Homem, esforçando-se por resgatá-lo da «tragédia maior» que é a
Vida, a Existência.
A Mulher é a companheira inseparável do Homem, aquela que o aproxima do divino, que o
purifica e apazigua («[…] quero dizer-te que te devo o melhor da vida. Foste tu que me
desvendaste o amor, que eu desconhecia. A bondade e a ternura, que eu desconhecia. […] O
amor cru em mim […] criaste-o, e […] nas tuas mãos, se transformou em sentimento religioso.»
BRANDÃO, R., 2010: II, 4).
Esta peça, profundamente dialógica com as Memórias do autor, traduz o sentimento de
sagrado que ele atribui à Mulher, idêntico ao sentimento telúrico de Miguel Torga:
Nas mãos das mulheres até as coisas vulgares se fazem na aldeia – cozer o pão, lançar a teia –
assumem um caráter sagrado. Elas passam desconhecidas e dispõem dum poder extraordinário.
Mantêm a vida ordenada com um sorriso tímido. A mulher está mais perto que nós da Natureza e de
Deus. Cada vez me aproximo mais de ti. O que há de puro em mim a ti o devo. És limpidez e ternura
(ibid., 8).
Depois desta citação, resta-nos concluir que, com esta peça, Raul Brandão pretendia,
provavelmente, alertar-nos para a «tragédia maior» da indefinição do ser, após um mundo queperdera a inocência e sacrificara, sobretudo, as mulheres que, ainda no tempo da harmonia,
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eram sacrificadas. Será a «tragédia maior» o ciclo vicioso e inútil do sofrimento da Mãe da
Humanidade que põe em risco a perdição do ser humano? Acreditamos que sim, pois, tal como
afirma o autor, «A mulher […] comunica ao lar a ternura com que os pássaros aquecem o ninho.
Sua vida dá luz, para alumiar os outros» (id.). Se a Mulher não brilhar, quem indicará caminhosà Humanidade?
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BIBLIOGRAFIA ATIVA
BRANDÃO, Raul (s/d) – O Avejão e O Gebo e a Sombra, notas de BASTOS, Glória e VASCONCELOS,Ana Isabel, Porto, Porto Editora.
BIBLIOGRAFIA PASSIVA
BRANDÃO, RAUL (2010) – Memórias – I, Braga, Edições Vercial.
BRANDÃO, RAUL (2010) – Memórias – II, Braga, Edições Vercial.
BRANDÃO, RAUL (2010) – Memórias – III, Braga, Edições Vercial.
CALAFATE, Pedro (2000) – História do Pensamento Filosófico Português, Vol. V, Tomo I, Lisboa,
Caminho, pp. 391-401.
DACOSTA, Luísa (1967) – “A Mulher na sua Obra”, in, Comércio do Porto, 14 de Março, Porto, p.
13.
SILVA, Susana Serra (2011) – “Sonhos e ideais de vida”, in História da Vida Privada em Portugal. A Época Contemporânea [Direção de José Mattoso e Coordenação de Irene
Vaquinhas], Lisboa, Temas e Debates / Círculo de Leitores, pp. 382-427).