O fenômeno religioso no pentecostalismo brasileiro

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO DO NORDESTE

MEMORIAL IGREJA PRESBITERIANA DA CORÉIA

O FENÔMENO RELIGIOSO NO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO

ANDRÉ ALOÍSIO OLIVEIRA DA SILVA

Teresina

2013

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ANDRÉ ALOÍSIO OLIVEIRA DA SILVA

O FENÔMENO RELIGIOSO NO PENTECOSTALISMO BRASILEIRO

Trabalho apresentado ao Rev. Jo-

sé Alex Barreto para avaliação na

disciplina Psicologia da Religião.

Teresina

2013

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RESUMO

O pentecostalismo é a principal vertente do evangelicalismo no Brasil. Diante disso,

este trabalho analisa o pentecostalismo como fenômeno religioso, examinando alguns dos

seus conceitos, descrevendo algumas de suas crenças e práticas e, finalmente, confrontando-o

biblicamente e reconhecendo-o como não bíblico.

PALAVRAS-CHAVES: Pentecostalismo; Batismo com o Espírito Santo; Glossolali-

a; Carisma.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 1

2 CONCEITOS DO PENTECOSTALISMO ..................................................... 2

3 DESCRIÇÃO DO PENTECOSTALISMO ..................................................... 3

4 CONFRONTAÇÃO DO PENTECOSTALISMO COM A BÍBLIA .................. 6

5 CONCLUSÃO ............................................................................................. 9

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 10

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1 INTRODUÇÃO

O pentecostalismo é, certamente, a principal vertente do evangelicalismo no Brasil. O

Censo de 2000 apresenta o dado de que dos 26,2 milhões de evangélicos brasileiros, 17,7 mi-

lhões são pentecostais (67%).1 Além desse fato, muitos daqueles que não são pentecostais

recebem grande influência desse movimento, de modo que o pentecostalismo é mais difundi-

do entre os evangélicos do que aparece nas estatísticas.

Diante dessa realidade, o propósito deste trabalho é analisar o pentecostalismo, parti-

cularmente o pentecostalismo clássico brasileiro, como fenômeno religioso. Inicialmente,

apresentam-se alguns conceitos do movimento pentecostal, depois, uma descrição de suas

crenças e práticas e, finalmente, uma confrontação dele com o que se entende ser o ensino

bíblico. Como o pentecostalismo clássico brasileiro é muito semelhante ao dos EUA, fenôme-

nos ocorridos lá também são utilizados para estudo neste trabalho.

1 Cf. MATOS, Alderi Souza de. O movimento pentecostal: reflexões a propósito do seu primeiro centenário.

Fides Reformata, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 23-58, jul./dez. 2006. p.23.

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2 CONCEITOS DO PENTECOSTALISMO

O fenômeno religioso pode ser conceituado, segundo a psicologia da religião, como o

comportamento humano em sua relação com o sagrado. Com essa definição, o pentecostalis-

mo clássico pode ser identificado como um fenômeno religioso.

O pentecostalismo clássico pode ser entendido como um cristianismo de experiência,

que culmina no chamado batismo com o Espírito Santo, evidenciado pelo fenômeno da glos-

solalia. Essa experiência com o Espírito, porém, deve continuar com o exercício dos carismas,

tanto em particular quanto em público.2 Uma definição de cada um desses elementos faz-se

necessária.

O batismo com o Espírito Santo é uma experiência de crise no movimento pentecostal,

semelhante à conversão, mas distinta e posterior a ela,3 na qual “uma pessoa é sobrenatural e

experimentalmente, e em plena consciência, imergida no poder do Espírito Santo, ou submer-

gida pelo seu poder”.4

Esse batismo com o Espírito Santo, por sua vez, é evidenciado pela chamada glossola-

lia, um fenômeno no qual o fiel passa a falar em línguas, o que é dito ser “uma expressão vo-

cal inspirada pelo Espírito”.5 Alguns entendem que essas línguas são idiomas humanos não

aprendidos por aquele que fala, enquanto outros entendem que é uma linguagem extática.

A experiência com o Espírito deve continuar com os carismas. A palavra “carisma”

deriva da língua grega e significa, no Novo Testamento, um dom concedido pelo Espírito, de

caráter espiritual. O pentecostalismo, porém, enfatiza especialmente aqueles dons que apre-

sentam um caráter mais sobrenatural, como o dom da cura, da profecia, das línguas e de inter-

pretação de línguas.6

Com esses conceitos bem estabelecidos, pode-se passar a uma descrição desses fenô-

menos no pentecostalismo.

2 Cf. BRUNNER, Frederick Dale. Teologia do Espírito Santo: a experiência pentecostal e o testemunho do Novo

Testamento. 3.ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p.20. 3 Cf. ibid., p.52. 4 Apud ibid., p.50. 5 Ibid., p.73. 6 Cf. ibid., p.128-134.

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3 DESCRIÇÃO DO PENTECOSTALISMO

O batismo com o Espírito Santo e as condições para seu recebimento, em termos indi-

viduais, são descritos por uma senhora chamada I. May Throop em uma carta enviada a T.B.

Barratt, pai do movimento pentecostal na Europa, no dia 28 de setembro de 1906:

Deve haver uma saída total do próprio eu, deixando tudo para Jesus [...] e apenas

deixar que Deus faça Sua preciosa vontade conosco. Depois de teres ficado plena-

mente consagrado, e de saberes que Deus purificou teu coração, então, jejua, e espe-

ra em Deus. Conserva-te numa atitude de receptividade – e o que quer que aconteça no teu corpo, continua a deixar Deus fazer o que deseja contigo, e pede que Ele as-

sim faça [...] Às vezes, ocorre uma tremedeira maravilhosa, e às vezes a língua vem

de início, como um nenê aprendendo a falar. Mas deixa Deus ter tudo – língua, mãos

e pés – o corpo inteiro apresentado a Ele, como teu culto racional! Quando o Espíri-

to Santo entrar, o saberás, porque Ele estará na tua própria carne. Sê obediente em

todos os sentidos. Sê nada – a fim de que Ele possa ser tudo em tudo.7

Essa descrição resume bem o que o pentecostal entende como a experiência do batis-

mo com o Espírito Santo. Em termos coletivos, normalmente essa experiência é buscada nas

chamadas reuniões de espera, onde a pessoa que busca a experiência é cercada por outras pes-

soas orando em voz alta e falando em línguas, o que vai sendo intensificado gradativamente,

até que o candidato à experiência receba o “batismo”.8 Uma descrição mais detalhada de uma

reunião de espera e do batismo com o Espírito Santo pode ser encontrada no seguinte excerto

do diário do autor deste trabalho, datado do dia 10 de março de 2003, que narra uma experi-

ência ocorrida dois dias antes, quando ele ainda estava ligado ao pentecostalismo:

Fomos para uma sala, onde Jéssica daria uma palavra. Após pregar sobre Romanos

12.1,2 e pedir para que escrevêssemos num papel os nossos pecados e depois o jo-

gássemos na fogueira, ela perguntou quem já tinha o Espírito Santo e os mandou pa-

ra um cômodo ao lado. Depois perguntou quem queria receber o Espírito Santo e os

mandou para o mesmo cômodo, onde já estavam os outros. Eu fiquei com medo de

ir, mas queria. Até que decidi ir. Então, começaram as orações. Todos se puseram de

joelhos e começaram a glorificar a Deus, inclusive eu. João colocou a mão sobre

mim e começou a falar em outras línguas. Eu, neste momento, senti um calor e meu

corpo começou a tremer. Mas não falava em outras línguas, estava com medo. De-

pois de algum tempo acabei falando em outras línguas e, assim, fui batizado no Es-

pírito Santo. Depois, nós, que estávamos no cômodo, fizemos um círculo, ficamos abraçados e começamos a orar, todos ajoelhados. Rosana, prima do Carlos, estava

do meu lado e começou a chorar e falar em outras línguas. Lívia estava do meu ou-

tro lado e também falava. Eu também me pus a falar. Neste momento, até os outros

adolescentes, que estavam foram da sala, sentiram o poder do Espírito, muitos foram

batizados e outros choravam. Aqueles que antes desobedeciam a Deus estavam ago-

ra o adorando! Nunca vi nada igual e não pensei que isso fosse possível. Bianca

(prima de Hélio) e Jaqueline, amiga de Bianca, também foram batizadas e onde co-

7 Apud ibid., p.87. 8 Cf. ibid., p.88,89.

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locavam a mão derramavam poder. Hélio e Rosana choraram muito. Por fim, aca-

bamos orando por quase três horas. Orei por várias pessoas, inclusive por Carlos,

que estava com medo de tudo aquilo. Falei bastante em línguas.9

A glossolalia, por sua vez, em termos práticos, envolve um movimento rápido da lín-

gua e dos lábios, que produz uma variedade de sons, muitos dos quais são sílabas que se repe-

tem. Aimee Semple McPherson, fundadora da Igreja Internacional do Evangelho Quadrangu-

lar, assim descreve a primeira vez em que falou em línguas:

Minha língua começava a movimentar-se para cima e para baixo e de um lado para o outro dentro da minha boca. Sons ininteligíveis como de lábios gaguejantes e de lín-

gua estranha, mencionados em Isaías 28.11, começaram a sair dentre meus lábios.

Esse gaguejar de várias sílabas, depois, palavras, e depois, frases conexas, continuou

por algum tempo enquanto o Espírito Santo me ensinava a submeter-me a ele.10

T.B. Barratt descreve de forma semelhante o seu falar em línguas:

[...] então, finalmente, sentei-me numa cadeira, e o tempo todo falando numa “varie-

dade de línguas” (1Co 12.10) com pequenos intervalos entre elas. Enquanto falava

algumas dessas línguas, minhas cordas vocais ficavam doloridas. Tenho certeza que

falei em sete ou oito línguas diferentes. Eram claras e nítidas; e as posições diferen-

tes da minha língua, e os tons diferentes da minha voz, e os sotaques diferentes, me fizeram entender o quanto as línguas eram diferentes entre si.11

Normalmente, as línguas faladas por diferentes pessoas em um mesmo lugar (uma i-

greja local, por exemplo) assumem características muito semelhantes.

Os carismas são exercidos, em geral, durante o culto pentecostal, que é centralizado

nos bancos, ao contrário do culto protestante histórico, centralizado no púlpito.12

O dom da cura, normalmente, é desempenhado com a imposição das mãos sobre o en-

fermo, acompanhada de uma ordem dirigida à enfermidade, para que ela deixe o corpo, em

nome de Jesus. Esse dom é normalmente exercido pelo líder da igreja, que por conta dessa

habilidade é tido em alta conta pelos fieis.

O dom da profecia ocorre quando “alguém aparentemente possuído pelo Espírito fala-

rá no vernáculo sentenças ou frases que relembram a Bíblia, geralmente palavras de exorta-

ção, e mais frequentemente com um contexto e conteúdo escatológico e até mesmo visioná-

9 SILVA, André Aloísio Oliveira da. Meu diário: volume 1. Os nomes foram alterados para preservar a identida-

de dos envolvidos. 10 Apud BRUNNER, Teologia do Espírito Santo, p.112. 11 Apud ibid., p.110,111. 12 Cf. ibid., p.121.

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rio”.13

Os pentecostais creem que, na profecia, é o próprio Espírito quem fala por meio de um

instrumento humano. Nos cultos pentecostais mais tranquilos predomina o dom da profecia,

enquanto nos mais carregados emocionalmente, as línguas.14

O exercício do dom de interpretação de línguas é semelhante ao da profecia, no senti-

do de que o intérprete “fica em pé, dirige-se à congregação de uma maneira sincera, extática,

exortativa, e de modo geral escatológica [...] é semiglossolálico e semiprofético, e sua obra

completa o dom de línguas na sua semelhança com o dom de profecia”.15

Porém, a prática

mais comum nos cultos pentecostais é que as línguas sejam faladas por várias pessoas ao

mesmo tempo, sem interpretação.

Diante de um fenômeno como o pentecostalismo, é natural que se pergunte o que a

Bíblia tem a dizer sobre ele. É disso que trata o próximo capítulo.

13 Ibid., p.129. 14 Cf. ibid., p.130. 15 Ibid, p.134.

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4 CONFRONTAÇÃO DO PENTECOSTALISMO COM A BÍBLIA

Três fenômenos do pentecostalismo foram conceituados e descritos com mais deta-

lhes: o batismo com o Espírito Santo, a glossolalia como evidência desse batismo e os caris-

mas. A proposta agora é analisar o que a Bíblia tem a dizer sobre cada um desses elementos.

O batismo com o Espírito Santo é, de fato, algo ensinado na Bíblia. João Batista e Je-

sus profetizaram a respeito dele (Mt 3.11,12; At 1.5,8) e ele se cumpriu no Dia de Pentecos-

tes, quando cento e vinte discípulos reunidos passaram a falar em outras línguas (At 1.15; 2.1-

4). Porém, ao contrário do que ensina o pentecostalismo, a Bíblia enxerga o batismo com o

Espírito como algo que é concedido a todos os cristãos (1Co 12.13) e que acontece no mo-

mento da conversão (Jo 7.37-39; At 2.38-39; 10.44-47).

As passagens de Atos usadas para embasar a interpretação pentecostal devem ser en-

tendidas dentro do seu contexto. At 2.1-4, que narra a vinda do Espírito Santo em Pentecostes,

foi uma experiência única na história da Igreja, sendo um cumprimento da profecia de Joel

sobre o derramamento do Espírito (Jl 2.28-29; At 2.16-21) e a inauguração de uma nova era

na história do povo de Deus. At 8.14-17, 10.44-47 e 19.1-7, que narram o batismo com o Es-

pírito entre samaritanos, gentios e discípulos de João Batista, respectivamente, também têm

um caráter único, representando importantes momentos históricos nos quais o evangelho dei-

xou de ser confinado ao povo judeu para ser proclamado até aos confins da terra (cf. At 1.8).

Sendo fatos históricos únicos, essas experiências não podem ser tomadas como padrões que

devem se repetir hoje. O padrão é o que se encontra no ensino de Jesus e dos apóstolos (Jo

7.37-39; At 2.38-39; 1Co 12.13). O batismo com o Espírito Santo é um dom importante de-

mais, como se percebe nas promessas de João Batista e Jesus (Mc 1.8; Lc 24.49; At 1.4-5),

para ser posterior à conversão e restrito apenas a alguns cristãos (cf. Rm 8.9).

Apesar de o falar em línguas ter ocorrido em algumas ocasiões, no momento do batis-

mo com o Espírito Santo, isso não prova que ele é a evidência desse batismo porque, como foi

observado acima, esses foram fatos históricos únicos. Além disso, o mesmo Paulo que afirma

que todos os cristãos são batizados com o Espírito Santo (1Co 12.13) também afirma que nem

todos os cristãos falam em línguas (1Co 12.30), indicando que um pode existir sem o outro.

Quanto aos carismas, eles, de fato, eram exercidos na Igreja apostólica. As línguas e-

ram idiomas humanos (At 2.6-11; 1Co 14.20,21), falados de forma inspirada pelo Espírito por

pessoas que nunca o haviam aprendido (At 2.4). Porém, ao contrário do que acontece no pen-

tecostalismo, no culto apenas dois ou três deveriam exercer o dom, um após o outro, e com

interpretação feita por outra pessoa (1Co 14.27,28). A profecia era a proclamação infalível de

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uma revelação direta da parte de Deus (At 11.27,28; 21.10,11,27-36), assim como no pente-

costalismo. A interpretação das línguas envolvia uma tradução do idioma estrangeiro falado

de forma inspirada para o idioma dos circunstantes e, dessa forma, era equivalente à profecia

(1Co 14.5). O dom da cura envolvia a restauração da saúde de um enfermo e era exercido

pelos apóstolos (At 2.43; 3.1-10; 2Co 12.12) e seus auxiliares, os evangelistas (At 8.6,7).

A questão é se esses carismas deveriam continuar presentes na Igreja no decorrer da

história. De acordo com 1Co 13.8-13, a resposta é negativa. Esse texto afirma claramente que

profecias, línguas e ciência (palavra de conhecimento, cf. 1Co 12.8), todos esses dons revela-

cionais, são parciais. Por isso, quando vier o que é perfeito ou completo (o contrário de parci-

al), esses dons cessarão. O “completo” aqui não pode ser o retorno de Cristo, pois nesse con-

texto (1Co 12-14) Paulo não menciona em nenhum momento a segunda vinda. Além disso, no

mesmo contexto (1Co 14.20), a mesma palavra para perfeito ou completo de 1Co 13.10 tem o

significado de “maduro” (cf. Hb 6.1). O “completo” está totalmente relacionado com os pró-

prios dons revelacionais que cessaram. Esses dons são uma revelação parcial, mas quando

vier a revelação completa, eles deixarão de existir, porque o seu propósito se cumprirá. Isso

aconteceu quando a revelação trazida pelas profecias, línguas e palavra de conhecimento ter-

minou de ser registrada nas Escrituras do Novo Testamento. A visão “face a face” que Paulo

menciona no v.12 não é a visão de Cristo face a face em Sua vinda, mas faz parte da ilustra-

ção do espelho, que explica a diferença entre a revelação parcial dos dons espirituais (visão

obscura, distorcida, em um espelho da época) e a revelação completa dos escritos do Novo

Testamento (visão face a face).

Além disso, alguns outros fatos provam a cessação de carismas particulares de forma

mais específica. O propósito das línguas indica que sua existência era temporária. Esse dom

tinha o propósito específico no início da Nova Aliança de sinalizar a benção do Evangelho

agora dirigido a povos de todas as línguas e a maldição ao antigo povo da aliança, Israel, que

rejeitou o Messias (1Co 14.21,22). Uma vez que esse período transicional terminou, as lín-

guas perderam a razão da sua existência. Como a existência do dom de interpretação de lín-

guas era dependente do próprio dom de línguas, uma vez que este dom deixou de existir, o

mesmo aconteceu com aquele.

Quanto à profecia, ela era exercida pelos profetas, e Paulo afirma em Ef 2.20 que os

profetas (do Novo Testamento, cf. Ef 3.5; 4.11), juntamente com os apóstolos, são o funda-

mento sobre o qual a Igreja está edificada. Como um fundamento só é lançado uma vez, agora

que a Igreja já está sendo construída sobre esse fundamento não há mais necessidade de pro-

fecias.

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Finalmente, quanto ao dom da cura, como já foi observado acima, ele era exercido

apenas por apóstolos e auxiliares seus, constituindo-se até mesmo em credenciais pelas quais

eles podiam ser conhecidos. Com a morte dos apóstolos, que também eram o fundamento da

Igreja e, portanto, não mais existem, esse dom morreu com eles.

Uma última coisa deve ser dita quanto ao fato do pentecostalismo ser um cristianismo

de experiência. A experiência é tão valorizada e enfatizada nesse movimento que, muitas ve-

zes, acaba tomando o lugar das Escrituras como fundamento para a fé. A Bíblia é clara ao se

apresentar como o único fundamento sobre o qual a fé cristã deve estar fundamentada (2Tm

3.16,17). Além disso, a fé não pode se fundamentar em experiências, porque é da natureza da

fé existir sem a experiência. Ter fé é ter certeza de coisas que se esperam e convicção de fatos

que se não veem (Hb 11.1), de tal modo que são bem-aventurados aqueles que não viram e

creram (Jo 20.29). O desejo pentecostal por experiências acaba por anular a própria fé, sem a

qual é impossível agradar a Deus (Hb 11.6).

Portanto, diante do testemunho bíblico, deve-se afirmar que o pentecostalismo não é

um fenômeno religioso que conta com o amparo divino.

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5 CONCLUSÃO

Diante dessa análise de alguns conceitos do movimento pentecostal e descrição de su-

as crenças e práticas, as quais foram confrontadas biblicamente, pode-se concluir que o pente-

costalismo, ainda que seja um fenômeno religioso, não expressa a religião bíblica.

Isso naturalmente leva à pergunta sobre qual é a origem desses fenômenos. Como se

pode perceber pela descrição do pentecostalismo, os ambientes onde ocorrem essas manifes-

tações têm um caráter altamente sugestionável e emocional, criando um ambiente favorável a

esse tipo de experiência. Portanto, a experiência pentecostal pode ser descrita como uma forte

emoção de origem puramente humana.

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUNNER, Frederick Dale. Teologia do Espírito Santo: a experiência pentecostal e o teste-

munho do Novo Testamento. 3.ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.

MATOS, Alderi Souza de. O movimento pentecostal: reflexões a propósito do seu primeiro

centenário. Fides Reformata, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 23-58, jul./dez. 2006.

SILVA, André Aloísio Oliveira da. Meu diário: volume 1.