O FENÔMENO TWEEN: As formações discursivas através da imprensa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO COMUNICAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEAS PROF.ª ITANIA GOMES ADALTON DOS ANJOS ANDRÉ CERQUEIRA BÁRBARA LISIAK EGIDEILSON SANTANA KARINA COSTA O FENÔMENO TWEEN: As formações discursivas através da imprensa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAFACULDADE DE COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO E CULTURA CONTEMPORÂNEASPROF.ª ITANIA GOMES

ADALTON DOS ANJOSANDRÉ CERQUEIRA

BÁRBARA LISIAKEGIDEILSON SANTANA

KARINA COSTA

O FENÔMENO TWEEN:As formações discursivas através da imprensa

Salvador2010.1

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1. INTRODUÇÃO

O termo tween foi utilizado pela primeira vez em 1987, no artigo Marketing and

Media Decisions para descrever produtos para crianças entre 9 e 15 anos com

características próprias (Cook e Kaiser, 2003). A combinação da palavra between

("entre" em inglês) e teens (adolescentes) refere-se a uma faixa etária identificada entre

os adolescentes e as crianças. Essa parcela da população hoje dispõe de produtos

específicos, além de ter grande importância para o mercado de bens culturais.

     De acordo com um artigo de Linda Simpson, publicado na revista Adolescence,

em 1998, esses consumidores estão preocupados com estilos, marcas e tecnologias.

Ainda segundo Simpson, eles são muito velhos para Ronald McDonald e muito jovens

para terem as chaves do carro, em referência aos adolescentes americanos que podem

dirigir aos 16 anos. As grandes corporações investem em produtos específicos para este

público, com direito a pesquisas realizadas para identificar as características e gostos

dos tweens, inclusive no Brasil, onde a fábrica de brinquedos da Estrela, por exemplo,

faz pesquisas trimestrais com grupos entre 9 e 12 anos. 

     Logo após o surgimento do termo tweens, outras publicações estudaram o poder

de consumo deste grupo. Cuneo A. (apud. Simpson 1998), em 1989, em Targeting

tweens: Madison Avenue's call of the child, afirma que os pré-adolescentes compraram

e influenciaram na movimentação de cerca de 50 bilhões de dólares naquele ano e, por

isso, foram reconhecidos pelo marketing como um público a ser sensibilizado.

     Os tweens surgiram em um contexto de alterações na vida familiar, entre elas a

saída cada vez mais intensa das mães para o mercado de trabalho nos anos 90 e o

aumento do número de familias com pais separados. Com essas transformações,

maiores poderes e responsabilidades passaram a ser entregues aos tweens cada vez mais

cedo.

     No Brasil, a população de pré-adolescentes é de 15 milhões de pessoas, segundo

pesquisa da Kids Experts, de 2009. Essa geração, que nasceu em meio a uma sociedade

conectada pela Internet e desenvolveu outras formas de se relacionar com o mundo,

vive um momento de passagem da infância para a adolescência em que a principal

marca são as intensas transformações biológicas.

    Everardo Rocha, em Tempos de juventude: ontem e hoje, as representações do

jovem na publicidade e no cinema (2009), ao falar da adolescência como um rito de

passagem entre a criança e a idade adulta, nos faz refletir sobre a intensidade das

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transformações que acontecem na transição anterior, da criança ao adolescente e da

ideia de juventude, que segundo o autor, produz gostos e costumes.

     No caso dos tweens, os gostos e valores produzidos e resignificados se

aproveitam deste contexto social atual. Buscando a ideia das palavras-chave, proposta

por Raymond Williams, para explicar o contexto social que favorece a formação

discursiva em torno dos pré-adolescentes, selecionamos as seguintes palavras: internet,

educação, família e consumo. A internet é o meio onde há a circulação dos produtos,

valores e comportamentos dos tweens, sobretudo com as redes sociais e o

compartilhamento de arquivos.  A educação, que antes partia da família, escola e igreja,

hoje concorre com a mídia e a internet; estas nem sempre estão em consonância com os

valores das instituições anteriores. A questão da dinâmica familiar, que antecipa

determinadas responsabilidades para este grupo, que reconhece e passa a ser

reconhecido como personagens que detém poderes. E o consumo de bens culturais que

movimenta toda a criação de novos valores para os tweens e está em total acordo com a

sistema econômico atual.

     Por isso, aqui nos propomos analisar, a partir das perspectivias dos Estudos

Culturais, os discursos sobre os tweens presentes em matérias das revistas Veja, Época,

e Atrevidinha, do jornal Folha de São Paulo, críticas de filmes do site Uol, do programa

Vitrine e a busca pela origem do uso do termo na academia. O suporte utilizado para a

pesquisa foi a internet, através dos mecanismos de busca do Google e no Portal de

Periódicos da Capes, onde recolhemos as principais informações sobre o tema, além de,

após definirmos nosso objetivo e o corpus, também pesquisamos através das matérias e

críticas culturais dos produtos voltados para os tweens nos sites de cada veículo

selecionado.

3. ANÁLISE  

3.1 Atrevidinha

No editorial da revista Atrevidinha, a definição é que “A leitora é a menina que

transita entre esses dois mundos: ela adora cores, flores, bichinhos, ao mesmo tempo em

que começa a querer copiar a maquiagem...”

    Na definição do projeto, assim como na definição do público alvo, já podemos

começar a problematizar algumas questões. Percebemos que, a princípio, a Atrevidinha

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considera a criança como aquele indivíduo que gosta de cores, flores e bichinhos,

elementos característico da infância ocidental, enquanto que, em um certo momento,

essa mesma criança passa a se interessar por maquiagem, moda, televisão, etc. Podemos

partir da problematização sobre como a relação dessa transição da infância para a pré-

adolescência imbrica elementos ligados à sociedade do consumo.

     A representação do pré-adolescente, alguém que transita entre duas faixas

classificatórias, mas, ao mesmo tempo, não é uma nem outra, nos traz a questão

principal de nosso objeto de estudo. Por que se faz necessária a criação da pré-

adolescência? Podemos exemplificar essa discussão com o novo fenômeno infanto-

juvenil, muito recorrente em matérias da Atrevidinha, o cantor norte amerciano Justin

Bieber. Bieber canta músicas derivadas do Hip Hop norte americano, um gênero

musical ligado ao consumo massivo e, principalmente, às questões de relaçoes de poder

e status social. Ao criar o produto Bieber, os produtores nos mostram que encontraram

na faixa etária da pré-adolescência um grande mercado consumidor.

     Com relação ao discurso, a publicação mescla um conjunto de gírias informais,

retiradas, também, do modo de se falar na internet, com uma linguagem jornalística. Os

temas mais comuns são relacionamentos, música, seriés de TV, novelas, cinema e

escola. Há, também, uma erotização sutil e velada no discurso da revista. Porém, as

questões de identidade (Canclini) e representação (Hall) são as mais revelevantes.

Identidades criadas a partir da influência de varios meios e culturas, inseridas em uma

lógica comercial hegemônica (Williams) que se vê necessitada -interessada- a abarcar a

faixa etária dos chamados pré-adolescentes, representando-os enquanto seres de “entre-

lugares” (Said).

3.2 Veja

     Segundo a revista, a classificação dos tweens “vem” da própria faixa etária entre

8 e 12 anos, indivíduos que consomem feito gente grande, que são conectados à

internet, às novidades tecnológicas, mais precoces que seus pais, com vontade de

afirmar sua identidade, mas sem a rebeldia adolescente, a vontade de romper com a

obediência familiar. Tem grande força de opinião em casa e na hora das compras, com

alto poder de compra, é “influente, decidido e adulado”. Mas possuem vergonha dos

“pais controladores”, de não querer a presença deles na frente dos amigos.

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            O que levaria a essa situação hoje, como foi colocado nas matérias, seria ter um

maior conhecimento e amadurecer bem antes por desde cedo viajar muito, ter contato

com tecnologia – crescer já com a existência dessas “modernidades”. Inclusive, o

computador é uma das prioridades para essa faixa etária, mais até que a televisão. Dessa

forma, pode-se fazer uma ligação com Foucault, em que o discurso, a representação e o

conhecimento são construídos historicamente, dependente de um contexto histórico

específico. Além disso, através das práticas sociais (que no caso dos tweens seria o uso

da tecnologia, o consumo, etc.), vincula-se sentido, ou seja, a construção de aspectos

discursivos através da prática, que legitimariam a existências e as características dessa

faixa etária.

            Há referências ao tween como proveniente da classe média, sempre relacionando

com o consumo, com aversão àquilo que é classificado como infantil. Certas

características se aproximam das dos adolescentes, como as festas com horário mais

avançado, mas ainda permanece detalhes infantis, como a presença de brinquedos,

inclusive podendo até ter “recaída” para brincar. 

            Os tweens tem preocupação com a imagem, incluindo os meninos, e influenciam

nas mudanças de certas marcas. É o caso da Zorba, que viu a rejeição do público pelo

nome da linha Zorbinha, que dava um ar infantil, e rebatizou com o nome Zorba Kids.

Outras marcas como Spezzato, Zion Girl e Mixed também criaram linhas específicas

para pré-adolescentes, principalmente pelo poder de compra deles, de buscar sempre

produtos novos. Além disso, as marcas estão sempre atentas em fazer pesquisas junto ao

público para saber o que querem, quem são. Mas a revista coloca que os tweens não são

necessariamente condicionados pela publicidade: contestam e mudam de gosto

facilmente.  

            Em relação a programas e artistas, os tweens tem uma cultura pop à parte, capaz

de gerar seus próprios astros, além do sucesso também ser relacionado com o poder de

consumo dessa faixa, por exemplo, de em 2006 ter movimentado 36 bilhões de dólares

nos Estados Unidos. A TV e a Internet aparecem como formas de atingir esse público,

como no caso do seriado iCarly, que já promoveu concursos de vídeos para seus

espectadores, que poderiam aparecer no programa entre os clipes escolhidos. E há uma

mudança de consumo de produtos, de desenhos infantis para seriados, porém continua

associado a uma variedade de produtos como brinquedos, roupas, jogos, acessórios e

outros produtos, além de alcançar fama antes de chegar à TV aberta. 

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Assim como acontece com a moda, os programas são feitos a partir de pesquisas,

resultando em comédias amenas, com traço moderno, mas em busca do ideal “família”

(valorização de ideais longe de apelo sexual, mas com mensagens positivas), com

intuito educacional, para agradar pais e filhos. 

            Nas matérias que abordam adaptações de sucessos americanos, há o exemplo da

versão brasileira de High School Musical com mudanças como o “futebol no lugar do

basquete”, porém ainda é forte o modo de fazer norte americano, só afirmando que o

ritmo e a amizade mais profundos do que na versão original. O que se coloca como ir

mais além do primeiro filme. Como Canclini afirma: "Hoje a identidade, mesmo em

amplos setores populares, é poliglota, multiétnica, migrante, feita com elementos

mesclados de várias culturas." Assim, tanto questões locais como as "universais"

apresentadas nesses produtos, influenciaram no modo como os tweens seriam

caracterizados.

3.3 Folha de São Paulo

     As matérias que citam os pré-adolescentes no jornal também apresentam o

consumo como justificativa da criação deste novo grupo. João Freire afirma que “a

‘nova geração’ passou a ser conceituada e assediada, pelos agentes do mercado, como

um público-alvo crucial. Formas e locais de entretenimento, roupas, comidas e bebidas

confeccionadas especificamente para satisfazer as “necessidades” dos adolescentes se

expandiam com notável pujança, promovendo uma redefinição do conceito de lazer.”

(Freire, 2007). Nas matérias da Folha esse assédio é apresentado claramente, como na

matéria “TV paga é 'berço' de fenômenos entre crianças e adolescentes”, que traz, entre

outros desenhos e filmes, séries a exemplo de Hi Five, Lazytown, Charlie & Lola,

Backyardigans, Hannah Montana e Camp Rock. De acordo com os dados apresentados

no decorrer do texto, a popularização desses desenhos, seriados e filmes foi possível

devido ao aumento da penetração da TV paga no Brasil. “Em 2003, quando voltou a

crescer, eram 3,5 milhões de domicílios, hoje são mais de 5,5 milhões, 80% da classe

AB.” E os canais direcionados aos tweens são os mais populares. 

Existem, porém, as questões de apropriação para pensar consumo cultural ativo

em que não só a economia explica a relação. A criação do grupo dos pré-adolescentes é

também reforçada pela utilização de outro viés, a questão educacional e a relação dos

tweens com os seus pais dentro de casa, como na matéria Papel dos pais na vida dos

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filhos muda na pré-adolescência, da seção de Educação da Folha Online. O repórter

inicia o texto narrando episódios de “micos” para informar que a principal característica

dos pré-adolescentes, neste sentido, é a vergonha dos pais. Na matéria, ele traz falas de

adultos e seus respectivos filhos contando situações em que, por exemplo, os amigos de

uma menina chamaram ela de “filhinha de papai” porque a mãe foi buscá-la em uma

festa.

Para acalmar os pais que não entendem esse “afastamento repentino” a matéria

traz uma terapeuta, que afirma que “essas atitudes não significam vergonha do pai e da

mãe e sim medo de sentir diminuído por mostrar que ainda é dependente”. Ela ainda

completa dizendo que este “é o conflito entre o querer ser adulto e a impossibilidade de

deixar de ser criança”, o que reforça a idéia que o próprio nome do grupo herda da

palavra between, como foi apresentado na introdução deste trabalho. Nesta matéria, não

se fala de idade para a pré-adolescência, mas os terapeutas afirmam que esse quadro se

acentua quando as crianças entram na quinta série. No caso das meninas, mais

especificamente, a justificativa é de que “isso acontece porque hoje as garotas fazem

questão de lutar pela sua autonomia desde cedo”, o que vai de acordo com as outras

falas dos pré-adolescentes, em que palavras como "liberdade" e "vergonha" geralmente

aparecem relacionadas a roupas ou relacionamentos afetivos, como as primeiras

paixões. 

     Canclini, quando discute identidade, afirma que "a criação, difusão e recepção

acontece hoje de modo desterritorializado." Nas críticas dos filmes tweens da Folha de

São Paulo é possível observar que as produções são importadas do exterior e

incorporadas à programação das televisões no Brasil. Assim como foi possível notar na

adaptação de High School Musical para o Brasil e na aproximação dos personagens do

HQ Luluzinha dos hábitos do seu público, o repórter afirma que os programas infantis

estão substituindo os desenhos animados pelas “novelinhas”e os produtos apresentados

como filmes e DVDs de shows implicam numa megaprodução que tende a aumentar o

número de produtos relacionados aos personagens e a interação entre o público tween e

os atores (“Canais pagos investem em megashows com personagens da TV”). Outro

aspecto que se destaca nas críticas é a utilização de referências e elementos pop para

compor os personangens. O desenho Mighty B! traz piadas nonsense como as

apresentadas em Bob Esponja misturadas com elementos lúdicos. De acordo com a

crítica da Folha, as crianças entre nove e dez anos ainda recorrem à fantasia para encarar

o mundo real ou as agruras de ser pré-adolescente.

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     Outra parte do texto mostra que essas produções que são em maioria norte

americanas, estão começando a ser produzidas na América Latina: "Tem também

Karku, a primeira novela teen exibida no Nickelodeon, do Chile. No próximo ano,

estréiam uma trama da Venezuela e outra realizada na Argentina. E já está nos planos a

produção de uma novela no Brasil", o que reforça a idéia de “cinema-

mundo”, explicado por Canclini (1999, p. 169) como sendo “narrativas espetaculares

[...] para todos os espectadores, independentemente de seu nível cultural, educacional,

econômico, da história do seu país ou regime político em que vivem”.

3.4 Época

Na revista, pesquisadores de público e produtores apresentam os tweens como

um público pouco interessado em conflitos entre pais e filhos, nem grandes decepções

amorosas e, também, não têm interesse em questões ligadas à sexualidade.

Apresentando os produtos que caem no gosto tween como aqueles que têm

abordagens superficiais com valorização da frivolidade e dos valores predominantes das

matrizes culturais do mundo ocidental, esses produtos recriam histórias de “um mundo

simples, jovem e perfeito”. Em alguns momentos, fala-se em histórias “higienizadas”,

por deixarem de fora aspectos reiterados em narrativas sobre a juventude como rebeldia,

sexo e drogas. A crítica coloca em destaque a frivolidade e o conservadorismo como

pontos-chaves para a interpretação do público tween. Tais pontos seriam importantes,

uma vez que os produtos usados como exemplos são, dentro do recorte feito pelo

jornalista e das fontes entrevistadas, aprovados pelos pais da faixa etária especificada.

Permitindo, segundo a crítica, que para além da audiência, esse público tenha mais

liberdade de consumo, comprando os produtos derivados dos seriados e dos artistas e

indo aos grandes shows, por exemplo.

   Considerado na publicação como a personificação dos tweens, o grupo musical

Jonas Brothers apresentam  determinadas  características admiradas pelo público tween,

segundo a revista. Eles resguardam a castidade, gostam das aulas, respeitam os pais, são

solidários e protegem o meio ambiente. Em números,  são comparados aos Beatles,

superando os The Jackson 5, Back Street Boys e N'Sync. Ao que parece, essa tendência

da Disney de produzir ídolos bons moços e boa moças vem desde Branca de Neve e os

Sete Anões (1937), atualmente passaram pela personificação puritana da cantora

Britney Spears e estão, também, em Mylei Cyrus e nos Jonas Brothers.

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   Afora o comportamento conservador, consumista, que busca a independência em

diversos aspectos da vida social,  o conceito de tweens partiria de um processo de

formação de um discurso de empoderamento, a partir daquilo que João Freire Filho nos

fala desse conceito, enquanto uma consciência social, um modo de auto-afirmação,  que

consideramos sempre necessários aos processos de circulação de poder nessas relações

microsociais entre pais e filhos, entre os amigos de escola, e macrosociais, como

aquelas que ocorrem entre consumidores e produtores, dentro da perspectiva

foucaultiana. Buscando sempre se auto-afirmarem como indivíduos que já saíram da

infância e que estão chegando à adolescência. A crítica ressalta o comportamento

considerado precoce dessa faixa etária, uma vez que o tween tem uma característica

forte que é a independência na  prática do consumo. Escolhem suas roupas, lugares para

viajar, participam das decisões da família e têm veneração pelo universo adolescente, o

pós-criança.

“Os tweens correspondem ao que o criador da psicanálise, Sigmund Freud, chamou de “latência”, a fase pré-puberdade em que as crianças ainda não estão sob efeito dos hormônios que as tornarão rebeldes e criativas, atiradas e rápidas. Em geral, os tweens sublimam seus impulsos em conquistas criativas e cognitivas, mas ainda admiram seus pais. Críticos afirmam que o fenômeno tween é criado artificialmente, e não corresponde a uma etapa natural da vida humana. Pode ser. Mas também se pode argumentar que a adolescência foi fabricada – na maioria das sociedades ao longo da história humana, pulava-se da infância à vida adulta apenas com um rito de passagem. E não há hoje quem duvide da adolescência. Ao contrário, ela se tornou a fase mais glamorizada da vida.” (ÉPOCA. 2009)

 3.5 Site Uol e Vitrine

     Os números expressivos do High School Musical foram responsáveis pela

adaptação do musical para outros países, segundo os críticos de sites de notícias do Uol.

Argentina, México e Brasil tiveram suas versões específicas de High School Musical. A

versão brasileira foi a que mais sofreu adaptações, segundo os críticos do filme, mas o

modelo básico – música, dança, adolescentes cantores, prática de esportes, fama e o

ambiente escolar – foi mantido.

     De modo geral, as produções seriadas para os tweens seguem um mesmo padrão

utilizando os recursos do “cinema-mundo”. Por conta desta estrutura de produção

transnacional, associada a um maior potencial de compartilhamento de informações

com os diversos meios de comunicação, os pré-teens brasileiros se identificam e adotam

alguns valores e comportamentos presentes em séries como Hannah Montana, iCarly ou

High School Musical.

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     Contudo, não se pode acreditar que o multiculturalismo explica todas as

apropriações dos pré-adolescentes. Se assim fosse, não existiriam as diferenças

culturais. Canclini (1999) traz a ideia de "nivelamento cultural” para dizer que os

hábitos culturais se convergem, entretanto as diferenças entre os níveis de vida se

preservam. Portanto, as produções culturais têm que lidar com essa constante tensão

entre o que é da ordem das matrizes culturais específicas de cada povo em seu contexto

histórico e o que é intercultural e hibridizado.

     Na adaptação brasileira de High School Musical, as críticas ressaltam dois

aspectos: a inferioridade técnica em relação às outras adaptações e ao filme original,

além dos aspectos que deram ao musical características brasileiras. A história, que se

passa no Rio de Janeiro, com os estudantes que jogam futsal, além das músicas e

coreografias baseadas em ritmos de nossa matriz cultural, utilizou algumas referências e

valores que compõem a identidade cultural dos brasileiros, baseados no público

previsto.

     Outro tipo de adaptação foi a da HQ Luluzinha, que inicialmente produzida para

o público infantil, passou por uma transformação para atender os pré-adolescentes. Com

isso, uma transformação estética dos personagens também foi realizada a fim de

contextualizá-los ao momento histórico atual e de situá-los em relação às idades.

     Na reportagem exibida pelo programa Vitrine, da TVE, em 2009, além de serem

mostradas as transformações estéticas, físicas e psicológicas dos personagens e as

mudanças na forma de contar a história, que passou a ser seriada, ficou claro em uma

das sonoras que o autor das HQs entende que seu público está mais velho, inserido em

um contexto cultural diferente, como pontuamos neste trabalho e, por isso, ele precisa

negociar de outra forma com este público.

     A narrativa seriada do HQ da Luluzinha tem semelhanças com a telenovela, que

utilizando algo de nossa matriz cultural: o melodrama. Barbero (2006), ao propor o

deslocamento dos meios a mediação e pensar a partir da perspectiva dos formatos

culturais para entender a constituição da cultura de massa, compreende que é na

mediação que os meios de comunicação e a recepção dialogam. Neste momento, o

contexto familiar e a temporalidade trocam, partilham e negociam sentidos. As

modificações feitas pelos produtores do HQ Luluzinha, portanto, buscam adequar os

personagens ao contexto atual e assim cooptar e vencer a resistência dos seus públicos.

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     Além disso, no blog, Twitter e Orkut, os personagens se “transportam” para a

Internet e interagem com os seus fãs, os convidando para a compra dos próximos

exemplares.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

     O contato com os discursos dos pais, tweens e empresas foram feitos a partir dos

discursos colocados pela imprensa analisada.    

O grupo verificou que não há um questionamento social dessa faixa etária, já

que na maioria das vezes o discurso apresentado somente acontece em torno do

consumo proveniente de uma faixa social específica, como foi especificado na Folha de

São Paulo e Na Veja, classes A e B.

    Em momento algum o termo pré-adolescente foi discutido no contexto das

"classes baixas". A partir da análise feita, percebe-se que uma formação discursiva em

torno do fenômeno tween está sendo propagada pelos textos jornalísticos. Nossas

pesquisas apontam que o termo, cuja origem está ligada ao marketing, tem como

discurso hegemônico o fator econômico. 

   Apesar do viés do consumo ser o eixo mais forte na discussão, é possível

entender o fenômeno tween como resultante de uma grande estrutura em que cada

elemento é de extrema importância para a criação da ideia do grupo que chamamos hoje

de pré-adolescentes. A utilização de novas tecnologias reforça a comunicação entre as

crianças que, juntas, desenvolvem uma linguagem e compartilham seus gostos e

afinidades sem a antiga mediação das estruturas de formação, como, por exemplo, a

escola. A estrutura familiar também participa da delimitação deste espaço e da

configuração deste grupo específico entre crianças e adolescentes; a maneira como os

meios divulgam os produtos e a perspectiva de cada veículo com o que é infantil e o que

é adolescente. 

     Mesmo que o termo tenha surgido na perspectiva do marketing e do consumo,

pelo discurso das matérias e das críticas culturais apresentadas, percebemos aqui que

outras ferramentas e estruturas estão fortemente envolvidas na composição e na

manutenção do termo e na ideia que se tem sobre os tweens.

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OBJETOS DA ANÁLISE:

Revista Atrevidinha

http://atrevidinha.uol.com.br/atrevidinha/beleza-idolos/67/justin-bieber-conheca-o-

novo-queridinho-da-musica-americana-154232-1.asp

http://atrevidinha.uol.com.br/atrevidinha/beleza-idolos/0/justin-bieber-confessa-que-

tambem-leva-castigo-174077-1.asp

http://atrevidinha.uol.com.br/atrevidinha/beleza-idolos/0/o-bieber-esta-no-google-

177254-1.asp

http://atrevidinha.uol.com.br/atrevidinha/beleza-idolos/72/justin-bieber-apaixone-se-

tambem-pelo-cantor-teen-mais-pop-164816-1.asp

Revista Veja

http://veja.abril.com.br/260203/p_084.html

http://veja.abril.com.br/200906/p_110.html

http://veja.abril.com.br/230507/p_122.shtml

http://veja.abril.com.br/240107/p_110.html

http://veja.abril.com.br/270509/p_170.shtml

http://veja.abril.com.br/030210/reproducao-infiel-p-105.shtml

http://veja.abril.com.br/agencias/ae/diversao/detail/2010-01-27-830729.shtml

http://veja.abril.com.br/090708/p_130.shtml

http://veja.abril.com.br/101007/p_130.shtml

http://veja.abril.com.br/020408/p_080.shtml

http://veja.abril.com.br/190809/conectada-comportada-p-136.shtml

Page 13: O FENÔMENO TWEEN: As formações discursivas através da imprensa

Folha de São Paulo

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u711438.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u710362.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u709117.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u683619.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u665003.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u465508.shtml

Revista Época:

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI15116-15228,00-

AS+LICOES+DE+HIGH+SCHOOL+MUSICAL.html

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI73176-15220,00-

A+NOVA+CARA+DA+GERACAO+TWEEN.html

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI20180-15225,00.html

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI12432-15220,00-

MILEY+DE+TODAS+AS+MASCARAS.html

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI58496-15228,00-

E+TAO+CARETA+QUE+VIROU+VANGUARDA.html

Site Uol e programa Vitrine

http://cinema.cineclick.uol.com.br/criticas/ficha/filme/high-school-musical-o-desafio/

id/2386

http://cinema.cineclick.uol.com.br/criticas/ficha/filme/a-saga-crepusculo-lua-nova/id/

2332

http://cinema.cineclick.uol.com.br/criticas/ficha/filme/hannah-montana-o-filme/id/2143 

http://cinema.cineclick.uol.com.br/criticas/ficha/filme/high-school-band/id/2231

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http://www.tvcultura.com.br/vitrine/programas/24055/35673

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Jesús Martín. Dos meios às mediações. Comunicação, Cultura e Hegemonia, 4ª, Rio de

Janeiro, ed.UFRJ, 2006, pg. 11-21

CANCLINI, Nestor García. "As identidades como espetáculo multimídia" in

Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização, Rio de Janeiro,

Editora da UFRJ, 2005, 107-116.

COOK, Daniel. e KAISER, Susan. "Betwixt and Be Tween: Age Ambiguity and the

Sexualization of the Female Consuming Subject" Paper presented at the annual

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