O Filme O Enigma de Kaspar Hauser

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Atividade 1 p. 14

O filme O enigma de Kaspar Hauser (1974), do diretor Alemo Werner Herzog revela bem que a linguagem configura-se como uma forma scio-histrica de produo de sentidos, por meio deles configuramos mundos e a realidade e nos constitumos enquanto sujeitos. O filme narra a histria de Kaspar Hauser, um indivduo a quem foi tirado o direito ao convvio social, o que no permitiu que ele desenvolvesse a linguagem e se tornasse capaz de produzir sentidos sobre si prprio e sobre o mundo. Kaspar Hauser foi abandonado por seu algoz no meio da praa de Nuremberg apenas com um bilhete na mo. Algumas pessoas tentam estabelecer comunicao com Hauser, mas no foi possvel. O personagem fora exiliado de toda experincia social e de linguagem. Portanto, no tem nenhuma compreenso das perguntas que lhes so feitas. A privao das experincias sociais s o prejudicam no aspecto da linguagem, mas tambm no aspecto fsico, pois o personagem mal se locomove e estranha muitos alimentos, j que durante muito tempo foi alimentado a po e gua.

Hauser incapaz de produzir sentidos, pois o sentido algo que construdo no jogo intersubjetivo: comer, beber, falar, interagir so aes muito custosas para o personagem devido a falta de experincia e de convvio social.

O filme nos remete ao filme De volta para o presente (1999). O filme conta a histria de Adam, um filho de um cientista que, com medo de uma bomba nuclear, esconde-se num abrigo anti-bomba com sua mulher. Nesse abrigo, concebem Adam. Trinta e cinco anos depois ele retorna a superfcie em busca de suprimentos e de uma garota e descobre um mundo totalmente novo, no qual o personagem est inteiramente deslocado, sobretudo pelas questes da linguagem. Ambos os filmes mostram que as prticas de linguagem esto intrinsicamente atreladas aos contextos sociais e histricos. As referncias de Adam so as dos pais e as do contexto scio-histrico dos anos 60, que entram em choque com o mundo dinmico e mais moderno dos anos 90. Hauser tem srios problemas para se alimentar e depois para questes bsicas do convvio social.

Falta para Hauser vrios conhecimentos sobre a linguagem para que suas trocas simblicas fossem mais efetivas. Ele desconhecia as diversas possibilidades de uso das linguagens em prticas scias, chegou a Nuremberg com o desconhecimento total sobre a cultura patrimonializada local e global e internacional. No conhecia a diversidade da linguagem, o processo de naturalizao/desnaturalizao das linguagens nas prticas sociais, o conhecimento sobre a autoria e posicionamento na realizao da prpria prtica.O filme reafirma a tese de Saussure de que a lngua um produto social. Mas avana no sentido de revelar que nas prticas de linguagem que nos constitumos enquanto sujeito e damos sentido ao mundo e realidade social. Neste sentido, podemos afirmar que ao entrarmos no jogo da interao social, l no nascimento, recebemos de herana toda uma carga de sentido com a qual atribumos significao ao mundo e a ns mesmos, por outro lado, tambm vamos dinamizando esses sentidos e produzindo novos. A grande questo de De volta para o presente justamente essa o anacronismo e o dinamismo dos sentidos. Entre a reproduo de sentidos e a mudana social. Assim ao imergirmos numa determinado lngua recebemos, revelia, todo um conjunto de regras, que devemos seguir para estabelecer o jogo interativo. Roland Bathes, por isso, afirmou que a lngua fascista, por nos obrigar a dizer. Isso ocorre a Hauser em vrios momentos, em especial recordamos a cena em que uma garotinha tenta lhe ensinar uma cano infantil. Por outro lado, a lngua expressa a dinmica social. Isso o mais difcil para Hauser, pois sua insero na linguagem e na sociedade se deu de forma abrupta e violenta, sem a devida mediao e processos pelos quais passa uma criana at tornar-se adulta.