O Funcionalismo

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O funcionalismo Na teoria sociológica funcionalista, os meios de comunicação de massa figuram como um subsistema do sistema complexo que forma a sociedade como um todo. De acordo com De Fleur, o estrutural funcionalismo americano está inserido em uma tradição de pensamento em que a sociedade é abordada como um organismo – uma estrutura fundamenta a estabilidade da sociedade. Tal perspectiva, que remonta a Platão, tem um momento importante durante o período de surgimento das ciências sociais. Presente no pensamento de intelectuais como Saint-Simon (1760-1825), Auguste Conte (1798-1857) e Herbert Spencer (1820-1903), tal concepção é levada a cabo por Émile Durkheim, ao final do século XIX. A perspectiva da sociedade como um sistema, em que as partes tendem a manter um equilíbrio, está presente nas reflexões do estrutural funcionalismo. O comportamento familiar, as actividades económicas, as actividades políticas, a magia e a religião, como actividades repetitivas, são organizadas em uma estrutura. Cada uma dessas actividades repetitivas tem uma função na manutenção da estabilidade ou do equilíbrio da estrutura social. As actividades repetitivas e padronizadas constituem, portanto, subsistemas, estruturados em um todo, em um sistema social. Cada subsistema cumpre a sua função se satisfizer uma necessidade do sistema. Vejamos, por exemplo, a questão da manutenção do esquema de valores de uma sociedade. Suponhamos que o subsistema das comunicações de massa reforça, em alguma medida, os modelos de comportamento existentes no sistema social, no que se refere à manutenção do seu esquema de valores. Nesse caso, é possível considerar que o subsistema das comunicações de massa cumpre a sua função na manutenção do equilíbrio do sistema.

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O funcionalismoNa teoria sociolgica funcionalista, os meios de comunicao de massa figuram como um subsistema do sistema complexo que forma a sociedade como um todo. De acordo com De Fleur, o estrutural funcionalismo americano est inserido em uma tradio de pensamento em que a sociedade abordada como um organismo uma estrutura fundamenta a estabilidade da sociedade. Tal perspectiva, que remonta a Plato, tem um momento importante durante o perodo de surgimento das cincias sociais. Presente no pensamento de intelectuais como Saint-Simon (1760-1825), Auguste Conte (1798-1857) e Herbert Spencer (1820-1903), tal concepo levada a cabo por mile Durkheim, ao final do sculo XIX. A perspectiva da sociedade como um sistema, em que as partes tendem a manter um equilbrio, est presente nas reflexes do estrutural funcionalismo.O comportamento familiar, as actividades econmicas, as actividades polticas, a magia e a religio, como actividades repetitivas, so organizadas em uma estrutura. Cada uma dessas actividades repetitivas tem uma funo na manuteno da estabilidade ou do equilbrio da estrutura social. As actividades repetitivas e padronizadas constituem, portanto, subsistemas, estruturados em um todo, em um sistema social. Cada subsistema cumpre a sua funo se satisfizer uma necessidade do sistema.Vejamos, por exemplo, a questo da manuteno do esquema de valores de uma sociedade. Suponhamos que o subsistema das comunicaes de massa refora, em alguma medida, os modelos de comportamento existentes no sistema social, no que se refere manuteno do seu esquema de valores. Nesse caso, possvel considerar que o subsistema das comunicaes de massa cumpre a sua funo na manuteno do equilbrio do sistema.8.1 - Os imperativos funcionaisPara a teoria estrutural-funcionalista, existe uma lgica que regulamenta os fenmenos sociais, a qual constituda pelas prprias relaes de funcionalidade do sistema. As relaes de funcionalidade propiciam a soluo de determinados imperativos funcionais, que so problemas que devem ser parcialmente resolvidos para que o sistema mantenha-se estvel ou em equilbrio. E justamente a aco social, proveniente dos subsistemas e dos indivduos, estruturados em um sistema total, que permite a satisfao das necessidades dos imperativos funcionais.De acordo com Wolf, os imperativos funcionais so os seguintes:a) a manuteno do modelo e o controle das tenses o sistema social possui mecanismos de socializao que activam o processo pelo qual os modelos culturais so interiorizados na personalidade dos indivduos;b) a adaptao ao ambiente para sobreviver, cada sistema social deve se adaptar ao seu ambiente social (um exemplo de funo que soluciona o problema da adaptao a diviso do trabalho, que se baseia no fato de que nenhum indivduo poder desempenhar simultaneamente todas as tarefas que precisam ser realizadas para a sobrevivncia do sistema social);c) a perseguio do objectivo cada sistema social tem vrios objectivos a alcanar, susceptveis de ser realizados mediante esforos de carcter cooperativo (como a defesa do prprio territrio e o incremento da produo);d) a integrao as partes que compem o sistema devem estar interligadas, deve existir fidelidade entre os elementos de um sistema e fidelidade ao prprio sistema no seu conjunto. Para contrariar as tendncias desagregadoras, necessrio que haja mecanismos que sustentem a estrutura fundamental do sistema.A satisfao dos imperativos funcionais depender ento de aces realizadas pelos subsistemas. Cada subsistema composto por todos os aspectos da estrutura social que colaboram para a satisfao de um dos quatro problemas funcionais fundamentais (imperativos funcionais). Caso uma estrutura actue em sentido contrrio, impedindo a satisfao de um dos problemas funcionais fundamentais, ela estar sendo disfuncional.Tambm importante observar que as funes so consequncias objectivas da aco, enquanto os propsitos so consequncias subjectivas da aco. Quando o estrutural-funcionalismo refere-se s funes, est tratando tanto as funes quanto as aces a elas relacionadas, assim como as consequncias que estas desencadeiam, como fenmenos objectivos.Uma aco de um subsistema, ao satisfazer a necessidade de um dos imperativos funcionais e contribuir para a manuteno do sistema social como um todo, pode, ao mesmo tempo, actuar directamente sobre outros subsistemas, realizando uma funo indirecta. As funes indirectas no satisfazem directamente uma necessidade do sistema e no atuam directamente na resoluo de um dos problemas fundamentais (imperativos funcionais).Se as funes so desejadas e reconhecidas, elas so consideradas funes manifestas. Aquelas funes que, por sua vez, no so reconhecidas nem conscientemente desejadas so consideradas funes latentes.Dentro dessas complexas relaes, comum que mais de um subsistema esteja apto a resolver um dos quatro imperativos funcionais. Existem diversas alternativas funcionais para a resoluo de cada um dos problemas fundamentais (imperativos funcionais).E, finalmente, chega-se ao ponto fundamental: quais so as funes sociais exercidas pelo subsistema constitudo pelos meios de comunicao de massa?8.2 A teoria funcionalista da comunicao de massasPara C. Wright Mills, as relaes complexas entre os meios de comunicao de massa e a sociedade podem ser inventariadas da seguinte maneira:O objectivo articular, nomeadamente, 1. as funes e 2. as disfunes3. latentese 4. manifestasdas transmisses5. Jornalsticas6. informativas7. culturais8. de entretenimentorespeitantes9. sociedade10. aos grupos11. ao indivduo12. ao sistema cultural(WOLF, 1999, p. 67.)O inventrio das funes relaciona-se com quatro tipos de fenmenos comunicativos diferentes: a) a existncia do sistema global dos mass media numa sociedade; b) os tipos de modelos especficos de comunicao ligados a cada meio de comunicao particular (imprensa, rdio etc.); c) a ordem institucional e organizativa em que os vrios mass media operam; d) as consequncias que derivam do fato de a principal actividade de comunicao se desenvolver atravs dos mass media. (WOLF, 1999, p. 67.)8.2.1 - As funes do subsistema mass mediaPara a tradio funcional-estruturalista as funes dos meios de comunicao de massa podem ser relativas sociedade, ou extradas a de partir uma anlise que aborde os meios em si, independentes da ordem institucional, da estrutura social e econmica na qual esto inseridos ou ainda, levando-se em conta justamente a ordem institucional e proprietria dos prprios meios:1 - No que tange sociedade, duas funes so consideradas:1.1 Pode alertar os cidados em caso de ameaas ou perigos imprevistos1.2 Fornece instrumentos para se executar certas actividades quotidianas institucionalizadas na sociedade, como, por exemplo, as trocas econmicas, etc (WOLF, 1999, p.60).2 - Uma anlise voltada para o indivduo e para a mera existncia (WOLF, 1999, p.60) dos meios, indica trs funes:2.1 - Os indivduos e os grupos veiculados pelos mass media ganham prestgio e projeco social.2.2 Aqueles que j desfrutam de uma posio social privilegiada aumentam o seu prestgio com o apoio dos meios de comunicao de massa.2.3 Reforo de normas sociais, antes mantidas pelas relaes tpicas de sociedades no massificadas, como por exemplo, as relaes face a face. Os meios de comunicao de massa reforam as normas sociais, denunciando seus desvios opinio pblica.3 - Anlise que considera a insero dos mass media no contexto de uma determinada estrutura econmica e social3.1 - Por serem sustentados pelas grandes empresas exercem funes tais como a contribuio para o conformismo social. Lazarsfeld e Merton em Comunicao de massa, gosto popular e aco social organizada (ROSENBERG; BERNARD WHITE; DAVID MANNING (Org.), 1973, p. 231-253) comentam que os efeitos dos meios de comunicao de massa variam de acordo com o sistema de propriedade e de controle:Destarte, considerar os efeitos sociais dos meios de comunicao norte-americanos equivale a tratar, apenas, dos efeitos desses meios enquanto empresas de propriedade dirigidas pela motivao do lucro. do conhecimento geral que esta circunstncia no constitui um factor inato ao carcter tecnolgico dos meios de comunicao de massa. Na Inglaterra, por exemplo, para no falar da Unio Sovitica, para quaisquer fins e objectivos, o rdio de propriedade do Estado, sendo controlado e administrado pelo governo (ROSENBERG; BERNARD WHITE; DAVID MANNING (Org.), 1973, p. 242).Os autores comentam que na maioria dos meios de comunicao de massa no so os receptores que sustentam as empresas, so os anunciantes, As grandes empresas financiam a produo e a distribuio dos meios de comunicao de massa.Afinal de contas, quem paga ao flautista, em geral, d o tom (ROSENBERG; BERNARD WHITE; DAVID MANNING (Org.), 1973, p. 242).3.2 Resistncia s crticas feitas baixa qualidade dos produtos veiculados pelos meios de comunicao de massa.

8.2.3 - As disfunes do subsistema mass mediaPara Lazarsfeld e Merton as funes de atribuio de status e de reiterao das normas sociais no a tarefa mais difcil para aqueles que comandam os meios de comunicao de massa. As disfunes, como a disfuno narcotizante, que tem passado desapercebidas ou Pelo menos no tem sido alvo de ateno manifesta e, aparentemente, no tem sido utilizada de maneira sistemtica, para servir a determinados objectivos planejados (ROSENBERG; BERNARD WHITE; DAVID MANNING (Org.), 1973, p. 240).Ao recorrerem, em larga medida, aos meios de comunicao de massa, os norte-americanos podem ento acompanhar a evoluo do mundo. Satisfeito com seu auto nvel de informao, o cidado acaba por no perceber sua recusa em tomar decises e agir (ROSENBERG; BERNARD WHITE; DAVID MANNING (Org.), 1973, p. 241). Esta sua relao secundria, passiva com a realidade poltica, acaba por substituir uma possvel postura mais activa, ele Acaba confundindo conhecer os problemas do momento com fazer algo a seu respeito.Informado, o cidado se sente realizado politicamente, sendo que a realizao em poltica jamais poderia ser reduzida esfera da informao. por esta razo que os autores consideram os meios de comunicao de massa como narcotizantes sociais mais respeitveis e mais eficientes ROSENBERG; BERNARD WHITE; DAVID MANNING (Org.), 1973, p. 241).

8.2.4 - Usos das funes e funes dos usos - a hiptese dos usos e gratificaesPelo que foi visto at aqui, certo, no mbito das teorias administrativas (hipodrmica, emprica experimental, emprica de campo e funcionalista) que os mass mdia tem seus efeitos, provocam algo na audincia. No novidade ento perguntar o que os mass media fazem s pessoas, mas sim o que que as pessoas fazem com os mass media.Apesar de admitir a falta de autonomia do receptor e a assimetria da sua relao com o receptor, a tradio funcional-estruturalista considera o destinatrio como um sujeito comunicativo a ttulo inteiro (WOLF, 1999, p. 64).