O Gênero Textual Artigo Científico: Estratégias de organização · 1 Adriano Ribeiro da Costa O...

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Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Centro de Artes e Comunicação – CAC Departamento de Letras Programa de Pós-graduação em Letras Mestrado em Lingüística O Gênero Textual Artigo Científico: Estratégias de organização Adriano Ribeiro da Costa Recife/PE 2003

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Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Centro de Artes e Comunicação – CAC

Departamento de Letras Programa de Pós-graduação em Letras

Mestrado em Lingüística

OO GGêênneerroo TTeexxttuuaall AArrttiiggoo CCiieennttííffiiccoo:: EEssttrraattééggiiaass ddee oorrggaanniizzaaççããoo

Adriano Ribeiro da Costa

Recife/PE 2003

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Adriano Ribeiro da Costa

OO GGêênneerroo TTeexxttuuaall AArrttiiggoo CCiieennttííffiiccoo:: EEssttrraattééggiiaass ddee oorrggaanniizzaaççããoo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Lingüística, sob orientação do Prof. Dr. Luiz Antônio Marcuschi.

Recife/PE 2003

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Adriano Ribeiro da Costa

OO GGêênneerroo TTeexxttuuaall AArrttiiggoo CCiieennttííffiiccoo:: EEssttrraattééggiiaass ddee oorrggaanniizzaaççããoo

Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, e aprovada na data a seguir notificada. Recife, 17 de outubro de 2003. BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Luiz Antônio Marcuschi – UFPE

Prof. Dra. Dóris de Arruda C. da Cunha – UFPE

Prof. Dra. Marianne C. B. Cavalcante – UFPB

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EEPPÍÍGGRRAAFFEE

“É impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é

impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Em outros termos, [...] a

comunicação verbal só é possível por algum gênero textual”.

“Gêneros são formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em

textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos”.

“Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma lingüística e

sim uma forma de realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais

particulares”.

(Marcuschi, 2002b: 22, 25, 29)

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DDEEDDIICCAATTÓÓRRIIAA

A Deus, meu criador, pela sua preciosa graça em minha vida, dando-me

inteligência e força de vontade para ver realizado mais um de meus sonhos.

A minha mãe, por sempre ter lutado para garantir minha formação acadêmica,

mesmo quando não podia.

A minha esposa, pela sua chegada em minha vida.

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AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

A Deus, primeiramente, por ter-me dado serenidade nos momentos difíceis e força

de vontade para chegar até o final de mais um degrau de minha vida acadêmica;

Aos professores do curso de Mestrado em Lingüística da UFPE, pelos

ensinamentos e pelo convívio acadêmico;

Ao Prof. Dr. Luiz Antônio Marcuschi, pela preciosa orientação, por suas sugestões,

críticas, paciência e encorajamento;

À Profª. Dra. Marianne Cavalcante, orientadora de curso, por suas valiosas

sugestões e encaminhamentos, e por sua humanidade profissional;

À Profª. Dra. Maria da Piedade M. de Sá, pelas oportunas e enriquecedoras

sugestões na ocasião da pré-banca;

Ao CNPq, pela concessão de bolsa de estudo;

A Eraldo e Diva, por sempre terem me atendido muito bem na secretaria do

Programa de Pós-graduação em Letras;

Aos colegas do curso de Mestrado, pela enriquecedora convivência e pelo apoio;

À Profª. Márcia Mendonça, da graduação em Letras da UFPE, minha orientadora

no curso de Especialização em Língua Portuguesa na Faculdade de Formação de Professores

de Nazaré da Mata – FFPNM/UPE, pelo seu incentivo e orientação ao ingresso no Mestrado;

A meus pais, Luiz Ribeiro da Costa e Maria José Francisca da Silva, por tudo em

minha vida;

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A minha esposa Vanessa Estevam de Oliveira Costa, pela sua compreensão dos

vários momentos de silêncio e isolamento que a realização deste trabalho exigia, e pela

paciência nos momentos de estresse;

Finalmente, a meus colegas e amigos, pelos meus momentos de ausência durante

todo o curso.

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RREESSUUMMOO

Esta dissertação tem como objetivo descrever e analisar o gênero textual Artigo Científico, apontando as diferenças e semelhanças de estruturas textuais e estratégias discursivas entre os artigos analisados. Para tanto, fez-se a análise de um corpus constituído de cinco artigos da revista Investigações: Lingüística e Teoria Literária, do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, publicados entre os anos de 1989 e 2001. Partindo-se da posição de que os gêneros são eventos comunicativos caracterizados por um conjunto de propósitos comunicativos (função) e por serem tipos relativamente estáveis de enunciados (estrutura), a hipótese considerada é que a estrutura do artigo científico é condicionada à função social do mesmo. A pesquisa orientou-se em estudos realizados sobre artigo científico, na área de Metodologia Científica, e sobre gêneros e tipos textuais, na Lingüística Textual; especificamente os trabalhos de Bakhtin ([1979] 2000, [1929] 2002), Swales (1990), Bhatia (1993), Bronckart (1999), Marcuschi (2000, 2001, 2002a, 2002b) e Koch (2000, 2001 2002); abordando os itens domínio discursivo, modalidade, conteúdo temático, construção composicional e estilo verbal. Observou-se, na análise, que: 1) os artigos pertencem ao domínio discursivo científico e aos gêneros secundários (modalidade escrita); 2) os artigos apresentam conteúdos temáticos diferentes, predominando os do tipo artigo de análise; 3) os artigos apresentam formas diferentes de textualização do conteúdo temático, porém contêm uma estrutura básica, consistindo de: título, nome do autor, introdução, corpo do artigo, conclusão e referências bibliográficas; e seqüência textual expositiva como predominante; 4) embora os conteúdos temáticos sejam apresentados de forma específica em cada artigo, os autores lançam mão dos mecanismos de textualização e mecanismos enunciativos (estilo verbal), porém usando-os de forma peculiar.

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AABBSSTTRRAACCTT

This thesis has as purpose to describe and to analyze the textual genre Paper, pointing out the differences and similarities of textual structures and discursive strategies between the papers analyzed. To achieve this objective, we analyzed five issues of papers, from the magazine "Investigações: Lingüística e Teoria Literária", of the Pos-graduation Program in Letters from Federal University of Pernambuco – UFPE, published between the years from 1989 to 2001. Starting from the assertion that genres are communicative events characterized by a set of communicative purposes (function) and by being relatively stable types of enunciates (structure), the considered hypothesis is that the structure of the paper is conditioned to its social function. The research had orientation in studies realized about paper in the area of Scientific Methodology, and about textual genres and types, in Textual Linguistics, specifically the works of Bakhtin ([1979] 2000, [1929] 2002), Swales (1990), Bhatia (1993), Bronckart (1999), Marcuschi (2000, 2001, 2002a, 2002b) and Koch (2000, 2001, 2002); dealing with the items discursive domain, modality, thematic contents, structure and verbal style. We verified, in the analysis, that: 1) the papers belong to the scientific discursive domain and to the secondary genres (written modality); 2) the papers have different thematic contents, predominating the analyzing papers; 3) the papers have different forms of textualization of the thematic contents, but they have a basic structure, consisting of: title, author's name, introduction, body of the paper, conclusion and bibliographic references; and expositive textual sequence as predominant; 4) although the thematic contents are presented with specific form in each paper, the authors use mechanisms of textualization and enunciative mechanisms (verbal style), but using them with peculiar form.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................................11

CAPÍTULO I: AS CATEGORIAS GÊNERO E TIPO TEXTUAIS....................................17 1.1 Gênero textual..............................................................................................................18 1.1.1 Os gêneros textuais segundo Bakhtin...........................................................................................19 1.1.2 Os gêneros textuais segundo Bronckart........................................................................................22 1.1.3 Os gêneros textuais segundo Marcuschi.......................................................................................24 1.1.4 Os gêneros textuais segundo Swales..........................................................................................26 1.1.5 Os gêneros textuais segundo Bhatia...........................................................................................27

1.2 Tipo textual................................................................................................................32

CAPÍTULO II: ARTIGOS CIENTÍFICOS..........................................................................34 2.1 Conceituação..............................................................................................................35 2.2 Caracterização............................................................................................................35 2.3 Histórico do Artigo Científico....................................................................................36 2.4 Classificação dos Artigos Científicos.........................................................................38 2.4.1 Argumento teórico......................................................................................................................39 2.4.2 Artigo de análise.........................................................................................................................39 2.4.3 Artigo classificatório..................................................................................................................39

2.5 Superestrutura dos Artigos Científicos......................................................................39 2.6 Seqüências textuais dos Artigos Científicos..............................................................46 2.6.1 Seqüência argumentativa.............................................................................................................46 2.6.2 Seqüência expositiva.....................................................................................................................47 2.6.3 Seqüência narrativa....................................................................................................................48 2.6.4 Seqüência descritiva...................................................................................................................49 2.6.5 Seqüência dialogal......................................................................................................................50

2.7 Os mecanismos de textualização................................................................................50 2.7.1 Mecanismos de conexão..............................................................................................................51

2.7.1.1 Articuladores de conteúdo proposicional.......................................................................52 2.7.1.2 Articuladores enunciativos ou discursivo-argumentativos.............................................52

2.7.2 Mecanismos de coesão nominal..................................................................................................53 2.7.3 Mecanismos de coesão verbal.....................................................................................................55

2.7.3.1 As abordagens da temporalidade..................................................................................55 2.7.3.2 As abordagens da aspectualidade...................................................................................56

2.8 Mecanismos enunciativos...........................................................................................57 2.8.1 Vozes...........................................................................................................................................57

2.8.1.1 Tipos de vozes..................................................................................................................60 2.8.2 Modalizações..............................................................................................................................61

CAPÍTULO III: ANÁLISE DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS..............................................63 3.1 Domínio discursivo e modalidade..............................................................................64 3.2 Conteúdo temático: macroestrutura...........................................................................64 3.3 Construção composicional..........................................................................................66 3.3.1 Superestrutura.............................................................................................................................66 3.3.2 Infra-estrutura: seqüência textual.................................................................................................72

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3.4 Estilo verbal..................................................................................................................77 3.4.1 Conexão...................................................................................................................77 3.4.2 Coesão nominal.......................................................................................................84 3.4.3 Coesão verbal..........................................................................................................91 3.5 Mecanismos enunciativos...........................................................................101 3.5.1 Vozes.....................................................................................................................101 3.5.2 Modalizações.........................................................................................................104 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................110 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................114 ANEXOS Anexo A – A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários. Anexo B – O funcionamento polifônico da argumentação. Anexo C – O Bal Masqué das intenções. Anexo D – A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa. Anexo E – Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de português.

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IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

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A Lingüística Textual, ramo recente da Lingüística, surgiu na década de 60, na Europa,

ganhando projeção a partir dos anos 70. Seu surgimento teve como objetivo ir além do estudo da frase, ou

seja, seu objetivo era o estudo do texto – unidade lingüística hierarquicamente superior à frase.

Conforme Conte (1977 apud Koch, 1997, p. 68-70), a Lingüística Textual apresenta três

momentos fundamentais na passagem da teoria da frase à teoria do texto: o da análise transfrástica, o das

gramáticas textuais e o da teoria do texto. Essa distinção, segundo Conte, não é de ordem cronológica, mas,

de ordem tipológica. Porém, Koch defende que existe uma cronologia envolvida nessa sucessão.

No primeiro momento, surgiu a necessidade de ultrapassar os limites da frase. Houve, então,

a necessidade de se encontrar regras para o encadeamento das frases, seguindo os métodos da análise frasal,

apenas ampliando-os para dar conta de pares ou seqüências maiores do que as frases. O estudo parte ainda de

enunciados ou seqüências de enunciados em direção ao texto. Esse primeiro momento deu um passo à frente ao

superar os limites da frase, porém não significa que se tenha chegado a uma abordagem autônoma do texto

ou que se tenha elaborado um modelo teórico que garantisse um tratamento por igual dos fenômenos

analisados. Viu-se que essa forma de lingüística da frase ampliada era insatisfatória, sendo por essa razão

abandonada.

O segundo momento foi os das Gramáticas Textuais, cujo objetivo era a reflexão a respeito dos

fenômenos que não eram explicados pela Gramática Frasal, fenômenos tais como a co-referência,

pronominalização, a seleção dos artigos, a ordem das palavras no enunciado, a relação tópico-comentário, a

entonação, as relações entre sentenças não ligadas por conjunção, a concordância dos tempos verbais etc.

O método ascendente de estudo – da frase ao texto – foi abandonado. Partindo-se do texto – unidade mais

altamente hierarquizada – para se chegar às unidades menores através da segmentação, para, assim, fazer a

classificação dessas unidades. Portanto, o texto era visto como uma entidade do sistema lingüístico, cujas

estruturas deveriam ser determinadas pelas regras de uma Gramática do Texto. As tarefas da Gramática do

Texto eram verificar o que faz com que um texto seja um texto, levantar critérios para a delimitação de

textos, diferenciar as várias espécies de textos. Porém, viu-se que, com o passar dos anos, era inviável a

elaboração de “gramáticas” do texto, nos moldes das gramáticas da frase.

A fase da Teoria do texto tinha por proposta a investigação da constituição, do funcionamento,

da produção e da compreensão dos textos. A grande mudança é que os textos passam a ser estudados dentro

de seu contexto pragmático. O âmbito de investigação se estende do texto ao contexto (conjunto de

condições – externas ao texto – da produção, da recepção e da interpretação do texto).

Nestes últimos anos, após os estudos sobre coesão e coerência textuais na década de 80, e os

estudos, na área da cognição, sobre questões relativas ao processamento textual (produção e compreensão),

à memória, aos sistemas de conhecimentos ativados no processamento textual, às estratégias

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sóciocognitivas e interacionais nele envolvidas, entre outras, na década de 90, a ênfase está nos estudos

das tipologias de textos e dos gêneros textuais, revelando-se um campo bastante frutífero.

Em relação aos estudos das tipologias e dos gêneros textuais, Marcuschi (2002a, p. l, 2) faz duas

distribuições importantes: l- distribuição dos autores por interesses globais, 2- distribuição por filiações

teóricas.

l - Distribuição dos autores por interesses globais:

Os autores nessa distribuição são organizados em três categorias globais, sem preocupação

com parentescos teóricos, tratando-se de uma distribuição intuitiva e não teórica. São elas:

a- Autores que desenvolvem tipologias e analisam tipos textuais: os autores trabalham só os tipos

textuais, dedicando-se especialmente à análise da modalidade escrita e, particularmente, a questões de

lingüística do texto, enfatizando mais o aspecto intralingüístico. Assim, são visões marcadamente mais

formais e estruturais;

b- Autores que desenvolvem análises de gêneros textuais: a principal preocupação não está com

classificações nem tipologias, mas com a análise de gêneros. Eis algumas tendências: a perspectiva

sistêmico-funcional; a Escola de Sidney, com interesses voltados para o ensino de segunda língua; a

Escola Norte-americana, com uma análise de gêneros voltada mais para a questão social, as relações de

poder e os problemas vinculados à história dos gêneros e seus papéis na sociedade;

c- Autores que refletiram sobre os tipos e os gêneros numa correlação entre ambos: esse grupo

distingue-se nitidamente dos anteriores por dois aspectos: l- não fazem tipologias stricto sensu; 2-

não fazem análise de gêneros no sentido da Escola de Sidney ou da Escola Americana. Estão mais

diretamente ligados a alguma das escolas de AD ou Cognição ou LT.

2 - Distribuição por filiações teóricas:

Neste grupo, há cinco tipos de classificações conforme as perspectivas teóricas. São elas:

a- Tipologias funcionais: baseiam-se nas funções do discurso. Como exemplos, tem-se: Karl Bühler e Roman

Jakobson;

b- Tipologias enunciativas: baseiam-se nas condições de enunciação e organização do discurso, por

exemplo: Émile Benveniste e em parte Jean-Paul Bronckart;

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c- Tipologias cognitivas: baseiam-se em aspectos da organização cognitiva. Como, por exemplo, Teun

Van Dijk e Jean-Michel Adam;

d- Tipologias sócio-interacionistas: baseadas na visão sócio-interativa de linguagem, como Mikhail

Bakhtin;

e- Tipologias baseadas no contínuo lingüístico: situam os gêneros no contínuo da relação fala-escrita,

como Douglas Biber e Luiz Antônio Marcuschi.

Assim, atualmente, o objeto de estudo da Lingüística Textual passou da palavra ou frase isolada

para o texto, mais especificamente, para o estudo dos gêneros textuais. Dessa forma, este trabalho está voltado

para o estudo de gênero textual, especificamente, para o gênero Artigo Científico. A escolha desse gênero se

deu por sua produção ser uma atividade bastante freqüente na graduação – Ensino Superior.

O objetivo desta investigação é descrever e analisar o gênero textual Artigo Científico,

apontando as diferenças e semelhanças de estruturas textuais e estratégias discursivas entre esses

textos; contribuindo, assim, teoricamente para o estudo dos gêneros textuais dentro da Lingüística Textual.

O trabalho orienta-se em estudos sobre os artigos científicos na área da Metodologia

Científica; e estudos dos gêneros e tipos textuais na área da Lingüística Textual.

O corpus analisado, neste estudo, constitui-se de cinco artigos científicos publicados na

revista Investigações: Lingüística e Teoria Literária, do Programa de Pós-graduação em Letras da UFPE;

que foi lançada em 1989, com o objetivo de divulgar trabalhos de pesquisas em andamento no referido

programa, bem como apresentar os resultados de pesquisas concluídas nas áreas de Lingüística e Teoria

Literária, por docentes e discentes do programa e por especialistas de outras universidades. Atualmente, a

revista está em seu 15° número. Eis os artigos:

Artigo 1: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários, Francisco Gomes de Matos, 1989, p. 19-23,

v. 1.

Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação, Ingedore G. Villaça Koch, 1994, p. 31-36, v. 4.

Artigo 3: O Bal Masqué das intenções, Yaracylda Farias, 1997, p. 55-70, v. 7

Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa, Maurício

Silva, 1999, p. 149-164, v. 9.

Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de

português, Angela Paiva Dionísio, 2001, p. 233-245, v. 13 e 14.

A escolha do corpus foi feita sob a observação dos seguintes critérios: deveriam ser na área de

lingüística, por pertencerem ao domínio do analista e para servirem de referência para os alunos de graduação

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do curso de Letras nas suas investidas na produção desse gênero; e deveriam pertencer a momentos diferentes,

para que se tivesse uma visão melhor do objeto de estudo; não se trata de uma visão efetivamente diacrônica,

pois o espaço de tempo entre eles não é muito grande.

A análise feita desses artigos seguiu a orientação proposta por Bhatia sobre o estudo de gêneros

(1993, p. 22-37):

1- Situou-se o gênero num contexto;

2- Investigou-se a literatura existente;

3- Refinou-se a análise situacional/contextual;

4- Selecionou-se o corpus;

5- Estudou-se o contexto situacional;

6- Selecionou-se os níveis de análise lingüística do gênero;

7- Obteve-se informações de especialistas para a análise do gênero.

Após essa etapa, e baseado principalmente nas teorias de Bakhtin, Bronckart e Marcuschi,

analisou-se os artigos sob os seguintes aspectos:

1- Domínio discursivo e modalidades: oral e escrito.

2- Conteúdo temático: macroestrutura;

3- Construção composicional: a) superestrutura; b) infra-estrutura: seqüências textuais;

4- Estilo verbal: a) mecanismos de textualização: conexão, coesão nominal e coesão verbal; b)

mecanismos enunciativos: vozes e modalizações.

A pesquisa foi prioritariamente qualitativa, com levantamentos dos itens acima elencados.

Em seguida à análise dos artigos sob esses aspectos, comparou-se os mesmos e apresentou-se

os resultados da análise.

O trabalho está estruturado em três capítulos, assim distribuídos:

- Capítulo 1: As categorias gênero e tipo textuais – aborda a teoria sobre gêneros, na

visão de Bakhtin, Bronckart, Marcuschi, Swales e Bhatia, e tipos textuais, na visão de

Marcuschi e Bronckart, com o objetivo de dirimir a confusão entre essas duas categorias,

servindo de base teórica para a descrição e análise dos Artigos Científicos.

- Capítulo 2: Artigos Científicos – trata da conceituação, caracterização, do histórico e

classificação do gênero Artigo Científico. Também há a descrição detalhada desse gênero,

baseada nos seguintes níveis de análise: superestrutura, seqüências textuais, mecanismos

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de textualização (conexão, coesão nominal e coesão verbal) e mecanismos

enunciativos (vozes e modalizações).

- Capítulo 3: Análise dos Artigos Científicos – apresenta a análise dos artigos selecionados

para o corpus, baseada nos seguintes tópicos: Domínio discursivo e modalidade;

conteúdo temático: macroestrutura; construção composicional: superestrutura e infra-

estrutura: seqüência textual; estilo verbal: conexão, coesão nominal e coesão verbal; e

mecanismos enunciativos: vozes e modalizações.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO II

AASS CCAATTEEGGOORRIIAASS GGÊÊNNEERROO EE TTIIPPOO TTEEXXTTUUAAIISS

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Os textos apresentam diferenças no tocante ao assunto (macroestrutura), às

expressões lingüísticas (estilo verbal) e, principalmente, à organização global (superestrutura). Por causa

disso, classificar os textos não é uma tarefa tão simples como parece. A dificuldade de classificação,

segundo Bronckart (1999), deve-se, principalmente, à existência de muitos critérios para definir um

gênero.

Além disso, os textos dificilmente apresentam características de uma só classe. É raro

encontrar textos puros, ocorre a heterogeneidade, ou seja, a interpenetração de vários tipos de texto.

Nesse caso, deverá ser adotado o critério da dominância; isso significa que, se o texto apresenta mais

características de um texto narrativo do que um descritivo, o mesmo será classificado como narrativo

(TRAVAGLIA apud Mendonça, 1997, p. 30).

Também há confusão entre os conceitos das categorias gênero e tipo textuais.

Marcuschi (2000, p. 7) faz a distinção entre classificação e tipologia. A primeira se refere a classes de

textos, que “distribui gêneros textuais enquanto artefatos lingüisticamente realizados, mas de

natureza sócio-comunicativa e sempre concretos”. A segunda se refere aos tipos de textos, i. e., “um

conjunto limitado, teoricamente definido e sistematicamente controlado de formas abstratas e não

artefatos materiais”.

Neste capítulo, pretende-se fazer uma exposição teórica sobre gênero e tipo textuais,

buscando-se, em primeiro lugar, dirimir a confusão entre essas duas categorias; e, em segundo lugar, servir

como base teórica para a descrição e análise dos artigos científicos. Essa teorização está centrada nos

estudos de Bakhtin ([1979] 2000, [1929] 2002), Swales (1990), Bhatia (1993), Bronckart (1999) e

Marcuschi (2000, 2001,2002a, 2002b).

11..11 GGêênneerroo tteexxttuuaall

Hoje em dia há diversos trabalhos sobre gêneros textuais, e a maioria deles remete a

Bakhtin. Foi a partir dos estudos desse autor (nos anos 50) que a lingüística veio a se interessar

pelo assunto; antes eram estudos literários e retóricos que se interessavam pelos gêneros.

Bakhtin propõe uma teoria baseada nos usos da linguagem. Ele se opõe à visão tradicional

da teoria da comunicação, que excluía o interlocutor, rejeita o enfoque monológico e mostra que o papel

do interlocutor é tão ativo quanto o do locutor no processo de comunicação. Assim, para ele, há

uma relação direta entre o papel do locutor e o do interlocutor, pois ambos emitem e compreendem

enunciados.

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A teoria de Bakhtin sobre os gêneros está baseada nessa sua concepção dialógica da linguagem.

Seu posicionamento sobre as teorias lingüísticas predominantes na época se encontra na obra Marxismo e

filosofia da linguagem, que alicerça a teoria dos gêneros, contida no livro Estética da criação verbal.

A concepção de língua de Bakhtin vai de encontro às tendências à que ele chamada de

subjetivismo idealista (posição adotada por filósofos como Humboldt (1995), psicólogos como Wundt

(1927), lingüistas como Vossler (1920) e teóricos da literatura como Croce (1920)) e objetivismo abstrato

(representado principalmente por Saussure). Este centra-se na forma, eliminando o caráter social da

língua, i. e., a língua é independente da consciência individual, é um fato externo ao indivíduo. Aquele

defende o posicionamento de que a língua se realiza na fala individual e seu caráter é monológico, i. e., a

língua estaria sempre em criação e retrataria o mundo em que o indivíduo se afigura (visão individualizada do

mundo).

Bakhtin se opõe ao subjetivismo idealista por este negar o caráter social e

antropológico da língua. Para ele, o centro da enunciação está situado no meio social, sua criação é

histórica. Já a oposição ao objetivismo abstrato se dá por este excluir o falante do sistema. Assim, a

concepção da primazia do sujeito como indivíduo e da língua como simples código é inaceitável para Bakhtin.

Ao contrário das duas correntes acima, a concepção de língua de Bakhtin é baseada no

dialogismo, na interação humana; i. e., a língua é construída no dia-a-dia, num contexto social, no diálogo

entre os indivíduos pertencentes a uma mesma esfera social; como ele mesmo afirma:

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações (grifos do autor). A interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 2002, p. 123).

A partir dessa breve apreciação da concepção de língua de Bakhtin, fica mais claro

a compreensão da noção de gênero e tipo textuais, que virá em seguida.

11..11..11 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo BBaakkhhttiinn11

Conforme Bakhtin ([1979] 2000, p. 279), cada esfera da atividade humana elabora um variado

número de gêneros, que refletem as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas.

Esses gêneros distinguem-se uns dos outros por seu conteúdo temático (assunto gerado numa esfera

discursiva com suas realidades sócio-culturais), estilo verbal (recursos lexicais, fraseológicos e

1 Na realidade , Bakhtin não adota essa terminologia. Ele formula sua teoria sob a denominação de Gênero do discurso. Porém, por uma questão de uniformidade terminológica, adota-se aqui a classificação Gênero textual.

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gramaticais) e por sua construção composicional (a forma, que torna possível o reconhecimento do

gênero, embora não defina a sua completude). Essas três dimensões, apesar de possuírem

características específicas, fundem-se compondo o gênero. Portanto, são indissociáveis e não há

predomínio de uma sobre a outra.

Essa diversidade de gêneros é determinada pelas várias formas típicas de dirigir-se a

alguém e as diversas concepções do destinatário. E a escolha de um gênero é determinada pela esfera

discursiva, as necessidades da temática, o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou

intenção do locutor. Assim, os gêneros textuais são tipos relativamente estáveis de enunciados que

cada esfera de utilização da língua elabora; e essa estabilidade relativa torna os gêneros passíveis de

mudança ao longo do processo histórico-social. E eles são imprescindíveis à comunicação humana, como

afirma Bakhtin (p. 302) “se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se

tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos

enunciados, a comunicação seria quase impossível”.

Para Bakhtin, os gêneros têm as mesmas propriedades do enunciado; por isso ele ora se

refere a enunciado, ora a gênero. E para ele, os enunciados (gêneros) apresentam cinco características

constitutivas:

1- São delimitados pela alternância dos sujeitos falantes: como ocorre naturalmente nos diálogos, e

também nos gêneros escritos, porém, não de forma natural. Neste caso, o produtor imagina prováveis

perguntas do interlocutor com suas respectivas respostas, visando suprir a ausência do interlocutor

imediato. Assim, essa delimitação é dada pela resposta do interlocutor presente (real) ou ausente

(fictício);

2- Têm acabamento específico: esse acabamento é determinado por três fatores: a) tratamento

exaustivo do objeto do sentido – varia conforme as esferas da comunicação verbal, ocorrendo com

mais freqüência nos gêneros padronizados ao máximo, em que a criatividade é quase inexistente; do

que nos gêneros utilizados nas esferas criativas; b) o intuito, o querer-dizer do locutor – favorece o

reconhecimento do acabamento do enunciado pelo interlocutor; c) as formas típicas de estruturação do

gênero do acabamento – dependem da esfera da comunicação verbal, do tema, das circunstâncias,

da posição social e do relacionamento pessoal dos participantes da comunicação;

3- São marcados pela intenção do locutor: essa intenção revela o propósito discursivo do locutor, projeta

as marcas da individualidade de alguém que defende um ponto de vista ao se envolver com um tema;

4- Intertextualidade: os enunciados mantêm relações dialógicas com o que vem antes e com o que vem

depois. Numa interação verbal, retoma-se enunciados de outros, mesmo que não seja explicitamente;

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21

5- Têm um destinatário: isso influencia na escolha, por parte do locutor, do gênero, dos procedimentos

composicionais e dos recursos lingüísticos.

Bakhtin distingue dois tipos de gêneros textuais: o primário (simples) e o secundário

(complexo). O primeiro diz respeito aos gêneros que se apresentam em uma comunicação verbal

espontânea; enquanto que o segundo tipo se relaciona aos gêneros que aparecem em uma comunicação

cultural mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita.

Considerando o exposto acima, pode-se apontar os seguintes componentes como importantes na

construção das bases sócio-interativas da teoria bakhtiniana dos gêneros:

- Cada esfera de atividade humana elabora tipos relativamente estáveis de enunciados,

denominados gêneros do discurso ou gêneros textuais;

- Os gêneros caracterizam-se pelo conteúdo temático, pelo estilo e pela construção

composicional;

- A variedade de gêneros é praticamente infinita e eles são heterogêneos;

- Os gêneros textuais dividem-se em gêneros primários, produzidos em situação espontânea

com inserção imediata na realidade social, e gêneros secundários, que surgem em situações

culturais mais complexas;

- Os gêneros caracterizam-se como tipos de enunciados particulares, concretos, relacionados a

diferentes esferas da atividade e da comunicação;

- O enunciado é a unidade real da comunicação verbal. A fala só existe na realização

concreta dos enunciados de um indivíduo em situação de comunicação;

- Entre estilo e gênero observa-se um vínculo indissolúvel, orgânico, de modo que estilo

é estilo de um gênero numa esfera da atividade humana.

Assim, a contribuição de Bakhtin em relação aos gêneros textuais está exatamente em

considerá-los como uma criação de indivíduos que pertencem a uma determinada esfera de comunicação,

que compartilham objetivos comuns. Esses objetivos comuns se revelam nos gêneros, que podem pertencer

à modalidade oral ou à escrita. Dessa forma, a classificação de textos orais e escritos como

pertencentes a um determinado gênero é determinada pelo objetivo comunicativo de cada esfera

de atividade. E como essas esferas têm objetivos distintos no decorrer dos tempos, os gêneros têm

caráter não estático; por isso, a visão de Bakhtin sobre a análise de gêneros não é dogmática,

normativa, mas descritiva. Em outras palavras, para Bakhtin, a estrutura social da qual fazem parte os

interlocutores é uma fonte criadora de gêneros. E as especificidades de cada esfera de comunicação

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são reveladas na superfície lingüística destes. Essa posição não dogmática é adotada aqui para a

descrição do gênero Artigo Científico.

A contribuição de Bakhtin é essencialmente de natureza teórica, por isso tem-se a

necessidade de buscar em outros autores subsídios para a análise do gênero que será feita aqui.

11..11..22 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo BBrroonncckkaarrtt

A noção de gênero de Bronckart é fundamentada em princípios formulados por vários

autores, dentre os quais está Bakhtin (2000). Bronckart (1999, p. 91) afirma que a situação de ação

de linguagem se refere às propriedades dos mundos formais, entendidos esses mundos como os

mundos físicos, social e subjetivo, que podem exercer influência sobre a produção textual. Essa situação de

ação de linguagem pode ser tanto externa como interna. A primeira seria as características dos

mundos formais, tais como uma comunidade de observadores poderia descrever. A segunda seria

as representações sobre esses mesmos mundos, tais como um agente as interiorizou. E é realmente esta

segunda situação que influi sobre a produção de um texto empírico, i. e., de um gênero.

As relações entre uma situação e um texto empírico nunca podem apresentar um caráter de

dependência direta ou mecânica. Primeiro, porque não se tem acesso às representações

específicas que o produtor do texto dispõe sobre si mesmo; segundo, porque, ainda que se dispusesse de

um conhecimento exaustivo da situação de ação interiorizada pelo produtor, isso não permitiria, de

forma alguma, que se pudesse prever o conjunto das características do texto empírico produzido.

Como afirma Bronckart (1999, p. 92), para produzir um texto, o produtor deve mobilizar

algumas de suas representações sobre os mundos. Essa mobilização é feita em duas direções distintas:

em relação ao contexto de produção textual e em relação ao conteúdo temático ou referente.

O contexto de produção se refere ao conjunto dos parâmetros que podem exercer uma

influência sobre a forma como um texto é organizado. Esses fatores se referem ao mundo físico e ao mundo

social e ao subjetivo.

No primeiro caso, todo texto é o resultado de um ato realizado em um contexto “físico”

(no espaço e no tempo). Esse mundo físico é definido por quatro parâmetros: l- lugar de produção (lugar

físico onde o texto é produzido); 2- o momento de produção (a extensão do tempo durante a qual o texto

é produzido); 3- o emissor (a pessoa que elabora o texto, ou na modalidade oral ou na modalidade

escrita); 4- o receptor (a(s) pessoa(s) que recebe(m) concretamente o texto).

No segundo caso, todo texto é inscrito no quadro das atividades de uma formação social, que

implica o mundo social e o subjetivo. Esse mundo sócio-subjetivo é decomposto em quatro parâmetros:

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l- lugar social: em que modo de interação o texto é produzido; 2- a posição do emissor: que papel

social o emissor desempenha na interação em curso; 3- a posição social do receptor: papel social

atribuído ao receptor do texto; 4- objetivo da interação: que efeito o enunciador quer produzir no

destinatário através do texto.

Já o conteúdo temático de um texto se refere ao conjunto de informações que nele são

explicitamente apresentadas. Esses conhecimentos variam em função da experiência e do nível de

desenvolvimento do produtor.

Tanto o contexto de produção quanto o conteúdo temático integram a noção de ação de

linguagem, que consiste em identificar os valores precisos que o produtor atribui a cada um dos

parâmetros do contexto aos elementos do conteúdo temático mobilizado. Assim, a ação de linguagem seria

uma base de orientação a partir da qual o produtor deve tomar um conjunto de decisões. E uma dessas

decisões que o produtor toma é a escolha do gênero de texto que lhe parece o mais adequado e eficaz em

relação à sua situação de ação específica.

Segundo Bronckart, o gênero está intrinsecamente ligado à dimensão sócio-histórica da

língua. Em decorrência de necessidades específicas, os indivíduos, que se reúnem em grupos sociais em

função de objetivos comuns, elaboram textos, que são construídos tendo como suporte os gêneros

disponíveis. E, por causa de características diferentes dos indivíduos (grau de instrução, classe social, faixa

etária, profissão etc.), os textos se manifestam de forma variada; daí porque estes apresentam características

relativamente estáveis.

O quadro teórico dos gêneros proposto por Bronckart compreende três níveis de análise: l-

infra-estrutura: (plano geral: conteúdo temático; tipos de discurso2: discurso teórico, narração etc.;

seqüências: narrativa, explicativa etc.); 2- mecanismos de textualização (conexão: conjunções, advérbios

ou locuções adverbiais, grupos preposicionais e segmentos de frases; coesão nominal: hiperônimo,

expressões definidas, mesmo item lexical etc.; coesão verbal: tempos verbais); 3- mecanismos

enunciativos (distribuições de vozes: vozes do autor, sociais etc.; modalizações: lógicas, deônticas etc.).

Esses níveis serão explicados detalhadamente no próximo capítulo.

2 Bronckart distingue entre tipo de discurso e seqüência. Para ele, “a noção de tipo de discurso designa segmentos que o texto comporta. [...] podemos distinguir um segmento de discurso teórico de um segmento de narração, no interior do qual são encaixados segmentos de discurso interativo [...] a noção de seqüência [...] designa modos de planificação mais convencionais ou, mais especificamente, modos de planificação de linguagem que se desenvolvem no interior do plano geral de texto (seqüências narrativas, explicativas, argumentativas, etc.)” (1999, p. 120-121). Aqui não irá se fazer a distinção entre tipo de discurso e seqüências. Ir-se-á considerar apenas a noção de seqüência, por serem marcadamente mostradas no texto, e também por o gênero Artigo Científico ser composto basicamente do segmento de discurso teórico.

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Pode-se observar que a visão de Bronckart dos gêneros se aproxima das idéias de Bakhtin,

pois o princípio fundamental do sócio-interacionismo é o lugar e o meio em que os indivíduos interagem

socialmente; característica presente na teoria daquele.

O mérito do trabalho realizado por Bronckart sobre os gêneros foi de natureza empírica,

e não só teórica; ao contrário de Bakhtin, cujo trabalho é essencialmente teórico. Bronckart desenvolve

uma análise que focaliza os tipos de seqüências textuais e, por meio delas, as regularidades dos

parâmetros lingüísticos de textualização e os mecanismos enunciativos, que caracterizam os

gêneros textuais. Porém, ele vai além dos constituintes internos dos textos, pois considera também o

contexto, as situações de produção e o efeito que eles exercem sobre seus receptores.

11..11..33 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo MMaarrccuusscchhii

Para Marcuschi (2002b, p. 22), é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum

gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Assim, a

comunicação verbal só é possível por algum gênero textual. E para ele, “gêneros são formas

verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de

práticas sociais e em domínios discursivos específicos” (p. 25). Os gêneros são diversos, tais como:

telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula,

notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, instrução de uso etc. Assim,

existem tantos gêneros textuais quantas as situações sociais convencionais onde são usados em

suas funções também convencionais.

Os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia,

porém não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. Para Marcuschi (2002b, p.

29), “quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma lingüística e sim uma

forma de realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares”. Essa

visão privilegia não o aspecto formal e estrutural da língua, mas sim sua natureza funcional e interativa.

Marcuschi (2000, p. 118-122) propõe uma abordagem dos gêneros textuais por domínio

discursivo e modalidades. O domínio discursivo seria “uma esfera social ou institucional

(religiosa, jurídica, jornalística, política, industrial, familiar, lazer etc.) na qual se dão práticas que

organizam formas de comunicação e respectivas estratégias de compreensão”. Esses domínios

discursivos seriam responsáveis pela produção de modelos de ação comunicativa que se estabilizam e

se transmitem de geração para geração com propósitos e efeitos definidos e claros. Eis os domínios

discursivos citados por Marcuschi: científico, jornalístico, religioso, saúde, comercial, industrial,

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instrucional, jurídico, publicitário, lazer, interpessoal, militar e ficcional. Quase todos os domínios

discursivos apresentam mais gêneros da modalidade escrita que na oral, com exceção do domínio

discursivo religioso.

Para Marcuschi, seria impossível se comunicar sem ser por algum gênero textual situado em

algum domínio discursivo, cujo objetivo é funcionar como enquadre global da superordenação

comunicativa, subordinando práticas sócio-discursivas orais e escritas que resultam nos gêneros que

circulam nesses domínios.

Quanto às modalidades, os gêneros podem ser expressos na modalidade oral e escrita.

Para Marcuschi (2001, p. 37), porém, “as diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum

tipológico das práticas sociais da produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos opostos”.

Assim, a visão dele da relação fala e escrita não é dicotômica. Ele afirma que:

O contínuo dos gêneros textuais distingue e correlaciona os textos de cada modalidade (fala e escrita) quanto às estratégias de formulação que determinam o contínuo das características que produzem as variações das estruturas textuais discursivas, relações lexicais, estilo, grau de formalidade etc., que se dão num contínuo de variações, surgindo daí semelhanças e diferenças ao longo de contínuos sobrepostos. (p. 42)

Exemplificando, poderia haver gêneros escritos com características da fala, como uma carta

pessoal; ou gêneros orais com características próprias da escrita, como uma conferência universitária

preparada com cuidado.

Graficamente, tem-se:

Fonte: Gráfico 3, Marcuschi (2001, p. 41)

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Assim, na visão de Marcuschi, tanto a fala como a escrita apresentam um

continuum de variações, e a comparação deve tomar como critério básico de análise não uma visão

dicotômica estrita, mas uma relação fundada no continuum dos gêneros textuais.

A perspectiva de Marcuschi sobre os gêneros baseia-se na situação de interação, nos

participantes e no propósito comunicativo dos textos; para ele, as situações de interação favorecem a

constituição dos gêneros. Assim, pode-se afirma que a teoria dele é também sócio-interativa,

coadunando-se com a perspectiva de Bakhtin.

11..11..44 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo SSwwaalleess

Conforme Swales (1990, p. 33), a noção de gênero, atualmente, não se vincula

especificamente à literatura, mas é usada para referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer

tipo, falado ou escrito, com ou sem aspirações literárias.

A concepção de gênero de Swales é baseada em cinco características centrais (p. 45-57):

1- Um gênero é uma classe de eventos comunicativos. Num evento comunicativo, a língua representa

um papel significativo e indispensável. Ele é visto como compreendendo não só o discurso em si e

seus participantes, mas também o papel desse discurso e o contexto de produção e recepção,

incluindo associações históricas e culturais;

2- O critério principal que torna uma coleção de eventos comunicativos um gênero é um certo

conjunto partilhado de propósitos comunicativos. Essa característica é baseada na adoção de

que os gêneros são, exceto alguns casos interessantes e excepcionais, veículos comunicativos para

a execução de objetivos;

3- Exemplares ou instâncias de gêneros variam em sua prototipicidade. Os gêneros

apresentam formas diferentes e específicas que distinguem um gênero do outro;

4- A base lógica subjacente a um gênero estabelece restrições admissíveis em termos de seu

conteúdo, posição e forma;

5- Uma nomenclatura dos gêneros por uma comunidade de discurso é uma importante fonte de

instrução.

Baseado nessas cinco características, Swales (p. 5 8), apresenta sua concepção de gênero da

seguinte maneira:

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Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos cujos membros partilham um dado conjunto de propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros especialistas da comunidade de discurso e com isso constituem a base lógica para o gênero. Essa base modela a estrutura esquemática do discurso, influencia e condiciona a escolha do conteúdo e do estilo. O propósito comunicativo é tanto um critério privilegiado como um critério que opera para atingir o escopo de um gênero tal como aqui grosseiramente concebido e enfocado em ações retóricas comparáveis. Em aditamento ao propósito, os exemplares de um gênero exibem vários padrões de similaridade em termos de estrutura, estilo, conteúdo e audiência pretendida. Se todas as expectativas de probabilidade mais altas forem realizadas, o exemplar será visto como protótipo pelos membros da comunidade de discurso. Os nomes dos gêneros herdados e produzidos pelas comunidades de discurso e importados por outras constituem valiosas comunicações etnográficas, mas que tipicamente necessitam de avaliação posterior.

Assim como Bakhtin, Swales reconhece que existe uma variedade de gêneros, e que estes

variam bastante devido a diferentes parâmetros. Os gêneros variam de acordo com a complexidade de

propósito retórico; o grau de preparo exigido para sua produção; a natureza dos meios de transmissão,

que pode ser falado ou escrito; a tecnologia utilizada; a audiência pretendida. Essa variação não é só

dentro de uma cultura, mas entre culturas; por isso, para Swales, não há uma classificação

universalmente válida dos gêneros. Isso vem ratificar a posição de Bakhtin, vista acima, que afirma que

os gêneros são relativamente estáveis e sócio-historicamente definidos.

11..11..55 OOss ggêênneerrooss tteexxttuuaaiiss sseegguunnddoo BBhhaattiiaa

Bhatia parte da definição de gênero proposta por Swales, comentando alguns aspectos

dessa conceituação, para, em seguida, dar sua própria definição.

Um gênero é um evento comunicativo caracterizado por um conjunto de propósitos comunicativos mutuamente reconhecidos pelos membros da comunidade profissional ou acadêmica na qual ele regularmente ocorre. Na maioria dos casos, ele é altamente estruturado e convencionalizado com restrições quanto às contribuições admissíveis em termos de suas intenções, forma, posição e valor funcional. As restrições, no entanto, são muitas vezes exploradas pelos especialistas da comunidade discursiva para conseguir intenções particulares no quadro dos objetivos socialmente reconhecíveis. (1993, p. 13)

Segundo Bhatia (1993, p. 13-15), há vários aspectos dessa definição que precisam de mais

explanação:

1- Um gênero é um evento comunicativo reconhecível, caracterizado por um conjunto de propósitos

comunicativos identificados e mutuamente reconhecidos pelos membros da comunidade

profissional ou acadêmica em que ele regularmente ocorre: Embora haja um número de outros

fatores, como conteúdo, forma, audiência pretendida, meio ou canal, que influenciam a natureza e a

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construção de um gênero, ele é primariamente caracterizado pelos propósitos comunicativos que

pretende preencher. Esse conjunto de propósitos comunicativos é que molda o gênero e lhe dá uma

estrutura interna. Assim, qualquer grande mudança nos propósitos comunicativos nos dá um gênero

diferente;

2- Um gênero é, na maioria dos casos, um evento comunicativo altamente estruturado e

convencionalizado: Membros especialistas de qualquer comunidade profissional ou acadêmica estão

geralmente familiarizados não só com os objetivos comunicativos de sua comunidade, mas

também com a estrutura dos gêneros em que eles regularmente participam como parte de seus

trabalhos diários. Assim, é o resultado cumulativo de sua longa experiência e/ou treinamento

dentro da comunidade especializada que molda o gênero e lhe dá uma estrutura interna

convencionalizada;

3- Vários gêneros apresentam restrições quanto às contribuições admissíveis em termos de suas

intenções, forma, posição e valor funcional: Isso significa que embora o autor tenha muita liberdade

para usar recursos lingüísticos, ele deve obedecer a certas práticas padrões dentro dos limites de um

gênero particular;

4- Essas restrições são freqüentemente exploradas pelos especialistas da comunidade

discursiva para conseguir intenções particulares dentro do quadro dos propósitos

socialmente reconhecidos: Os membros da comunidade profissional ou acadêmica têm maior

conhecimento dos propósitos convencionais, construção e uso de gêneros específicos do que os

não-especialistas. Isso porque autores especialistas de gênero freqüentemente parecem ser mais

criativos no uso dos gêneros que são familiares do que aqueles que não pertencem à comunidade

especializada.

Bhatia reconhece que a definição de Swales sobre gênero é interessante por oferecer

uma boa fusão de fatores lingüísticos e sociológicos, porém afirma que Swales falha por não levar em

consideração os fatores de natureza psicológica, que desempenham um papel significativo na

concepção de gênero como um processo social dinâmico, ao invés de uma concepção estática.

Após essa análise, Bhatia (1993, p. 16) dá a sua própria definição de gênero: “Gênero é

uma instância de uma realização bem sucedida de um propósito comunicativo específico usando um

conhecimento convencionalizado dos recursos lingüísticos e discursivos.”

Levando em consideração que cada gênero estrutura as experiências ou realidades do mundo

numa forma particular, Bhatia reconhece que a mesma experiência ou realidade do mundo pode ser

exposta em gêneros diversos, mas isso será feito em cada gênero de modo muito diversificado.

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Para Bhatia (1993, p. 16-22), há três orientações para a análise de gêneros do ponto de

vista da análise da variação funcional da linguagem: a lingüística, a sociológica e a psicológica.

O ponto de vista lingüístico enfatiza a análise das variedades em registros, porém esse tipo

de análise revela muito pouco da verdadeira natureza dos gêneros e dos propósitos sociais.

A análise sociológica dos gêneros permite compreender como um gênero particular

define, organiza e finalmente comunica a realidade social. Esse aspecto enfatiza que o texto em si não é

objeto autônomo, funcionando e contendo em si todos os sentidos, é para ser olhado como um processo

de negociação no contexto de emissão como papéis sociais, propósitos do grupo, preferências

profissionais e organizacionais e pré-requisitos, e até coação cultural.

A análise psicológica dos gêneros é basicamente de natureza psicolingüística. O aspecto

psicolingüístico de análise de gênero revela a organização cognitiva, típica de áreas particulares de

investigação, enquanto os aspectos táticos de descrição de gênero enfatizam as escolhas estratégicas

individuais feitas pelo autor para executar sua intenção.

Para a análise dos gêneros, Bhatia (1993, p. 22-37) propõe o seguinte método, baseado

em sete passos:

1- Situar o gênero de texto num contexto situacional: É necessário situar o gênero

intuitivamente num contexto situacional levando em consideração as experiências anteriores, as pistas

internas no texto e o conhecimento de mundo. Isso inclui a experiência prévia do produtor e o

conhecimento de disciplina especializada bem como das convenções comunicativas tipicamente

associadas com o gênero;

2- Investigar a literatura existente: Quando o analista pertence ao grupo profissional que utiliza o

gênero, isso favorece o estudo; quando não, o melhor é recorrer à literatura sobre o gênero. Isso

inclui, entre outras coisas, a literatura sobre: l- Análise lingüística do gênero em questão ou outra

relacionada; 2- Ferramentas, métodos ou teorias de análises lingüística/discursiva/gênero que

poderão ser relevantes para esta situação; 3- Opinião de especialistas, livros, manuais etc.

relevantes para a comunidade de fala em questão; 4-Discussão da estrutura social, interação

histórica, crenças, objetivos etc., da comunidade profissional ou acadêmica que usa o gênero em

questão;

3- Refinar a análise situacional/contextual: Tendo intuitivamente situado o texto grosseiramente

num quadro situacional/contextual, é necessário refinar tal análise da seguinte forma: l- Definindo o

autor do texto, a audiência, seu relacionamento e seu objetivo; 2-Definindo o histórico sócio-

cultural, filosófico e/ou ocupacional da comunidade na qual o discurso acontece; 3- Identificando

o cruzamento de textos vizinhos e tradições lingüísticas que formam o pano de fundo para este

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gênero particular; 4- Identificar a realidade tópica/subjetiva/extra-textual que o texto está

tentando representar, trocar ou usar e o relacionamento do texto com essa realidade;

4- Selecionar um corpus: Para selecionar o tipo e tamanho certos do corpus é necessário: 1-Definir

bem o gênero que se está trabalhando para que ele possa ser distinguido de outros gêneros

similares ou relacionados com ele. A definição pode ser baseada nos propósitos comunicativos,

no contexto situacional no qual ele é geralmente usado, e em algumas características textuais

distintivas do gênero ou alguma combinação disso; 2- Ter certeza de que os critérios para decidir se

um texto pertence a um gênero específico estão claramente estabelecidos; 3- Decidir sobre os

critérios para uma seleção adequada dos corpus para os propósitos específicos;

5- Estudar o contexto situacional: Um bom analista de gênero esforça-se por estudar o contexto

institucional, incluindo o propósito do gênero, as regras e convenções (lingüística, social, acadêmica,

profissional) que governam o uso da língua em tal situação institucional;

6- Níveis de análise lingüística: O analista de gênero decide em que nível(s) as mais distintivas

e significativas características da língua ocorrem, e conclui a análise apropriada, que pode

concentrar em um ou mais dos seguintes três níveis de realização lingüística:

a) Nível l - Análise de traços léxico-gramaticais: Um texto pode ser quantitativamente

analisado estudando as características específicas da língua que são predominantemente usadas

na variedade a que o texto pertence. Isso é geralmente feito empreendendo uma análise estatística do

corpus usado de uma amostra da variedade em questão;

b) Nível 2 - Análise de padrões textuais ou textualização: Este item da análise lingüística dá

atenção ao aspecto tático do uso convencional da língua, especificando o caminho que os

membros de uma comunidade particular de fala fixa valores restritos para vários aspectos do uso da

língua quando operando num gênero particular;

c) Nível 3 - Interpretação estrutural do gênero textual: Esse item dá atenção a aspectos

cognitivos de organização da língua. Especialistas parecem ser bastante consistentes na forma como

organizam suas mensagens num gênero particular, e a análise da organização estrutural do gênero

revela a intenção comunicativa em áreas específicas de investigação;

7- Informação de especialistas para a análise de gênero: O analista checa suas descobertas com as reações

de um informante especialista que, geralmente, é um membro praticante da comunidade na qual o

gênero é rotineiramente usado. A reação do especialista confirma suas descobertas, traz validade para

suas percepções e acrescenta a realidade psicológica à sua análise.

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31

Para a escolha de um informante especialista apropriado para a análise de um gênero

particular, Selinker (1979 apud Bhatia, 1993, p. 35-36) menciona algumas características que deveriam ser

procuradas. O informante especialista, se possível, deveria: 1- Ser um competente e treinado membro

especialista da comunidade na qual o gênero em estudo é rotineiramente usado; 2- Ter tato para a

linguagem especializada e também ser preparado para falar sobre ela abertamente, quando questionado

sobre vários aspectos do gênero em estudo; 3- Ser capaz de explicar claramente o que ele acredita que os

membros especialistas da comunidade fazem quando exploram a língua para cumprir seus objetivos

genéricos.

Essas são apenas algumas dicas que podem ajudar o analista a planejar e organizar as sessões de

discussão com o informante especialista.

Esses sete passos poderão ser adotados na totalidade ou parcialmente, ao se proceder uma

análise de qualquer gênero.

Os gêneros textuais, portanto, são entendidos aqui como não sendo formas estruturais

estáticas e definidas de uma vez por todas, coadunando-se com a visão dos autores vistos acima. Eles são

dinâmicos, de complexidade variável e não se sabe ao certo se é possível contá-los todos, pois como são

sócio-históricos e variáveis, não há como fazer uma lista fechada.

A análise do gênero Artigo Científico que será feita posteriormente está baseada nas visões

sobre gêneros abordadas acima. Assim, unindo os níveis de análise proposta por Bakhtin (conteúdo

temático, construção composicional e estilo verbal), por Marcuschi (domínio discursivo e modalidades:

oral e escrita) e por Bronckart (infra-estrutura: plano geral: conteúdo temático, seqüências; mecanismos de

textualização: conexão, coesão nominal e coesão verbal; mecanismos enunciativos: vozes e modalizações), tem-

se os seguintes níveis de análise adotados:

1- Domínio discursivo;

2- Modalidades: a) Oral e b) Escrita;

3- Plano geral: Conteúdo temático;

4- Construção composicional: a) Superestrutura textual e b) Infra-estrutura: Seqüências textuais;

5- Estilo verbal: a) Mecanismos de textualização: Conexão, Coesão nominal e

Coesão verbal; b) Mecanismos enunciativos: Vozes e Modalizações.

Esses níveis de análise serão melhores detalhados no próximo capítulo.

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32

55..11 TTiippoo tteexxttuuaall

Conforme Marcuschi (2000, p. 18), a categoria tipo textual é construto teórico que abrange,

em geral, de cinco a dez categorias, designadas narração, argumentação, exposição, descrição, injunção

e diálogo. Esse agrupamento é de natureza lingüística. Fazendo a distinção entre tipo, gênero e

evento lingüístico, Marcuschi (p. 21) afirma que “um tipo textual é constructo ideal que se identifica

no contexto de uma tipologia textual que pretende determinar estruturas lingüísticas e formais que

constituem esses tipos”.

Esses tipos textuais são estratégias utilizadas para organizar os gêneros, muitas vezes

independentemente das funções comunicativas destes. Assim, com freqüência, um único texto

contém mais do que um desses tipos. Por exemplo, uma carta pessoal pode conter trechos narrativos (um

histórico do que a pessoa que escreve tem feito recentemente), trechos descritivos (como é o lugar onde

está morando), trechos procedimentais (instruções para alguém enviar-lhe dinheiro), trechos

exortativos (incentivando um irmão, digamos, a uma determinada conduta) e mesmo trechos

argumentativos (defendendo uma determinada perspectiva ou visão de alguma coisa).

A tipologia textual é considerada por Marcuschi como um aspecto fundamental dos

estudos lingüísticos, pois possibilita a análise dos gêneros sob o aspecto lingüístico.

Não há uma tipologia textual única, porém, restringir-se-á à tipologia em que podem ser

analisados os aspectos lingüísticos, como é o caso da tipologia de Adam (1992), citado por Bronckart

(1999, p. 218). Esta será detalhada no próximo capítulo, no item “Seqüências textuais dos Artigos

Científicos”.

Pode-se concluir que os tipos textuais referem-se a aspectos intrínsecos aos textos e realizam-

se sempre de modo heterogêneo, por meio dos gêneros, e são dependentes do contexto de

comunicação em que ocorrem – não têm existência real.

Esquematicamente, tem-se a seguinte distinção entre gênero e tipo:

TIPOS TEXTUAIS 1. constructos teóricos definidos por propriedades lingüísticas intrínsecas; 2. constituem seqüências lingüísticas ou seqüências de enunciados e não são textos empíricos; 3. sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por

GÊNEROS TEXTUAIS 1. realizações lingüísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas; 2. constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas; 3. sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas

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aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal;____________________________ 4. designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição.

determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função; 4. exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete [...] etc.

Fonte: Marcuschi, 2002, p. 23.

Assim, as distinções do tipo textual seriam lingüísticas e estruturais, enquanto que as do

gênero textual seriam funcionais e pragmáticas.

O estudo das características dos vários tipos de textos, para Van Dijk (1989), é uma

necessidade, a fim de que os aprendizes desenvolvam as habilidades de ler e escrever dentro de

contextos diversos e, portanto, atendendo a objetivos e intenções diferentes. Para tanto, deve-se

proceder à análise dos tipos textuais de cada gênero de texto.

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34

CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII

AARRTTIIGGOOSS CCIIEENNTTÍÍFFIICCOOSS

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35

Os textos produzidos em contexto acadêmico, chamados de textos científicos, subdividem-

se em muitos gêneros (monografias, dissertações, teses, etc.), e um desses gêneros é o artigo científico.

Neste capítulo, pretende-se fazer uma descrição detalhada desse gênero, baseada nos níveis de

análise esboçados no capítulo anterior. Para tanto, primeiramente, ir-se-á fazer a conceituação, caracterização,

histórico e classificação do gênero artigo científico; em segundo lugar, far-se-á a descrição da superestrutura e

seqüências textuais dos artigos científicos, i. e., da construção composicional, como também dos

mecanismos de textualização (conexão, coesão nominal e coesão verbal) e dos mecanismos enunciativos

(vozes e modalizações), ou seja, do estilo verbal desse gênero.

22..11 CCoonncceeiittuuaaççããoo

“Os artigos científicos são resultados de estudos completos de um dado objeto de pesquisa. Não

chegam a constituir-se em matéria para dissertações, teses ou livros. Apresentam as pesquisas

realizadas e são publicados em revistas ou periódicos especializados” (MARCANTONIO, 1993, p. 71).

Segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 238), os artigos científicos são pequenos estudos,

porém completos, que tratam de uma questão verdadeiramente científica, mas que não se constituem em

matéria de um livro.

Os artigos científicos distinguem-se dos diferentes tipos de trabalhos científicos (monografias,

teses, dissertações etc.) pela sua reduzida dimensão e conteúdo. Seu propósito é comunicar os resultados de

pesquisas, idéias e debates de uma maneira clara, concisa e fidedigna; servir de meio de comunicação e de

intercâmbio de idéias entre cientistas da sua área de atuação e levar os resultados do teste de uma

hipótese, provar uma teoria (tese, trabalho científico).

22..22 CCaarraacctteerriizzaaççããoo

Segundo Lakatos e Marconi (1996, p. 198), o texto científico, neste caso o artigo científico, deve

obedecer a algumas regras:

Os trabalhos científicos devem ser elaborados de acordo com normas preestabelecidas e com fins a que se destinam. Serem inéditos ou originais e contribuírem não só para a ampliação de conhecimentos ou a compreensão de certos problemas, mas também servirem de modelo ou oferecem subsídios para outros trabalhos.

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Dentro dessa perspectiva, Leibruder (2000, p. 230), afirma que os textos de

divulgação científica estão fundamentados nas convenções lingüísticas próprias ao texto científico,

como por exemplo: o emprego de uma linguagem objetiva, concisa e formal; o padrão lexical

(nominalizações, vocabulário técnico e emprego de verbos na 3ª pessoa do singular, acrescido da

partícula “se” (índice de indeterminação do sujeito), ou na lª pessoa do plural (sujeito universal,

ocasionando o apagamento do sujeito). Semelhantemente também, os artigos científicos apresentariam

essas características.

Para Leibruder, esses índices de impessoalidade são considerados como mecanismos

argumentativos, objetivando provar a veracidade e legitimidade do discurso proferido, como também

uma forma de afastamento do “eu” e de neutralidade, resultando em uma espécie de inquestionabilidade

do discurso proferido. Porém, é falsa essa impressão de neutralidade passada no discurso científico,

pois a escolha do tema e a forma como o texto será construído prova a existência de um sujeito do

discurso.

Assim, para a construção da discursividade, a subjetividade é um fator extremamente

relevante. Benveniste (1991, p. 286), autor adotado para a concepção de subjetividade, define esta

como a “capacidade do locutor em se propor como sujeito”. Esse se propor como sujeito não significa

que o autor do texto o produzirá sem seguir padrões ou regras típicas desse ato, mas que pertence a

ele a escolha do tema sobre o qual escreverá, os autores que fundamentarão seu texto etc.

Essa subjetividade será apresentada nos artigos científicos através das modalizações e das

citações, esta é uma forma “camuflada” de apresentar a subjetividade do autor e garantir a

cientificidade de seu texto; pois, num texto científico não se deve, pelo menos superficialmente, ser

subjetivo. Assim, as citações seriam um tipo de corroboração ao que é afirmado por aqueles que não

têm, ou têm pouca autoridade no assunto sobre o qual escrevem.

A questão sobre citações e modalizações será melhor explicada no item sobre

mecanismos enunciativos, no subitem “Vozes” e “Modalizações”, respectivamente.

22..33 HHiissttóórriiccoo ddoo AArrttiiggoo CCiieennttííffiiccoo

Swales (1990, p. 110-117) apresenta um breve histórico do artigo científico (AC) nos

últimos 300 anos, dando uma visão diacrônica, a fim de provar que, como todos os gêneros vivos, o

AC está continuamente se modificando.

Segundo Swales, o AC surgiu, na forma embrionária, com o estabelecimento do primeiro

periódico científico, “The Philosophical Transactions of the Royal Society”, em 1665. O

desenvolvimento do AC se deu a partir das cartas informativas que os cientistas trocavam entre si.

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Os primeiros AC tinham a forma da primeira pessoa como nas cartas, e alguns até possuíam

saudações. Como o periódico Transactions e as revistas subseqüentes começaram a assumir um papel

de prover um ambiente regular para discussão, isso fez surgir um novo gênero, distinto da origem dessas

cartas, chamado AC.

No início, os AC eram narrativas extensas de experimentos científicos. E a

utilização da pessoa (lª singular/1ª plural) é um resquício daquela origem histórica de relatos pessoais.

Conforme Bazerman (1983, p. 16-17 apud Swales, 1990, p. 113), no final do século

XVIII, uma reconfiguração do AC começa a se estabelecer.

Na medida em que os fenômenos começam a ser tratados como mais problemáticos, os artigos passam a tomar uma organização diferente, abrindo com uma introdução aos fenômenos problemáticos, freqüentemente substanciada com a história de um experimento que não saiu de acordo com as expectativas. Com o problema estabelecido, o artigo deveria descrever cronologicamente uma série de experimentos almejados para chegar ao fundo do mistério. Transições entre cada dois experimentos poderiam desenhar conclusões do experimento prévio e apontar para a razão ou a necessidade do subseqüente. Na continuidade altamente desenvolvida observamos o experimentador chegar gradualmente a uma compreensão adequada do fenômeno, que deveria ser relacionado numa síntese conclusiva ou explanação dos fenômenos como nas investigações de Hewinson sobre a natureza do sangue (60: 368-830).

Já os AC do século XX apresentam algumas diferenças dos AC do século XVIII; entre

elas, uma aproximação decididamente mais eventual à literatura antecedente.

Eis algumas características que diferenciam os AC anteriores dos de hoje:

1- Extensão dos AC: De 1893 para 1900, a extensão média dos artigos caiu de 7.000 para 5.000

palavras. Com poucas flutuações, eles continuaram com aproximadamente 5.000 palavras até

1940. Em 1980, a extensão dos AC cresceu para aproximadamente 10.000 palavras. Atualmente, os

AC se tornaram mais compactos;

2- Referências: Entre 1890-1980, as referências eram de aproximadamente 10 por AC, mas raramente se

relacionavam com descobertas específicas ou com os tópicos específicos investigados pelos

autores. Em 1910, o número de referências tinha se tornado rigorosamente reduzido, mas as poucas que

permaneceram eram todas recentes, tinham datas e relevância direta com a pesquisa em foco. Daí em

diante, o número de referências tem se multiplicado;

3- Características sintáticas e lexicais: Não houve muita variação no tamanho das frases, que tinham

em média 25 palavras. As sentenças relativas diminuíram em freqüência, enquanto que as

sentenças nominais e as subordinadas temporal e causal se tomaram mais freqüentes. No nível lexical,

os conteúdos das sentenças principais se tornaram mais abstratos. Mudanças significantes na função do

verbo principal também ocorreram – a voz passiva deu lugar à voz ativa;

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4- Material não-verbal: Durante o período, houve uma diminuição no número de figuras e no número e

tamanho das tabelas. Por outro lado, houve um crescimento no número e na complexidade de gráficos

e equações;

5- Organização: Antes de 1950, apenas 50% dos artigos eram formalmente divididos em seções

tituladas; depois de 1950, os títulos das seções se tornaram uma característica regular. Desde então, as

seções de discussão e conclusão se tornaram mais comuns e cresceram em tamanho e complexidade. Já

as seções de método e aparato geralmente diminuíram.

Vale salientar que essas eram as características para os artigos da área de física, química,

matemática e biologia.

22..44 CCllaassssiiffiiccaaççããoo ddooss AArrttiiggooss CCiieennttííffiiccooss

O conteúdo dos artigos científicos pode abranger os mais variados aspectos: pode versar sobre

um estudo pessoal, uma descoberta, ou dar um enfoque contrário ao já conhecido; oferecer

soluções para questões controvertidas; abordar aspectos secundários, levantados em alguma pesquisa,

mas que não seriam utilizadas na mesma etc. Em geral, apresenta temas ou abordagens novas, atuais,

diferentes. Assim, de uma forma geral, existem duas categorias de artigos científicos: l- Artigos Científicos

Originais: Informam sobre os resultados de pesquisa obtidos, descrevem métodos, técnicas e processos,

apresentam novas idéias, etc. Um texto pertence a esta categoria quando: Contribui para ampliar

consideravelmente o conhecimento ou a compreensão de um problema (informações

primárias); está redigido de tal maneira que um pesquisador competente possa repetir os

experimentos, observações, cálculos ou raciocínios teóricos do autor e julgar as suas conclusões

e a precisão de seu trabalho. Alvos: Revistas, Conferências, Simpósios. 2- Artigos de Revisão: É um

estudo sobre um determinado assunto, em que são reunidas, analisadas e discutidas as informações já

publicadas. Os autores mais criativos deste tipo de estudo em geral o complementam com um número

considerável de informações primárias (originais). O autor deve ter em conta todos os trabalhos

publicados que fizeram avançar o tema e os que o teriam feito avançar se tivessem sido considerados.

Alvos: Publicações internas, Inícios de Projetos de Pesquisa, ACM Computing Suveys.

Segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 240), quanto à análise do conteúdo, os artigos

podem ser classificados em: argumento teórico, artigo de análise e artigo classificatório.

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22..44..11 AArrgguummeennttoo tteeóórriiccoo

Nesse artigo são apresentados argumentos favoráveis ou contrários a uma opinião. Primeiro,

enfoca-se um dado argumento e depois os fatos que possam prová-lo ou refutá-lo. O desenrolar da

argumentação leva a uma tomada de posição.

Por ser uma forma de documentação difícil, o artigo argumento teórico é

empregado, geralmente, por especialistas experientes. Requer pesquisa profunda e intensa para coletar

dados válidos e suficientes.

22..44..22 AArrttiiggoo ddee aannáálliissee33

O autor, nesse caso, faz análise de cada elemento constitutivo do assunto e sua relação

com o todo.

A análise engloba: descrição, classificação e definição do assunto, tendo em vista a

estrutura, a forma, o objetivo e a finalidade do tema. Entra em detalhes e apresenta exemplos.

22..44..33 AArrttiiggoo ccllaassssiiffïïccaattóórriioo

Nesse artigo, o autor procura classificar os aspectos de um determinado assunto e explicar

suas partes. Inicialmente, faz-se a divisão do tema em classes, com suas características

principais. Depois, apresenta-se definição, descrição objetiva e análise.

O artigo classificatório é o mais útil, dentre as formas de documentação técnica.

22..55 SSuuppeerreessttrruuttuurraa ddooss AArrttiiggooss CCiieennttííffiiccooss

Os textos apresentam características próprias, ditadas pela natureza do evento. Entre

essas características estão a estrutura do evento e o estilo. Segundo Coracini (1991), o texto científico é

dirigido ao grupo de especialistas na área, pressupondo um público que conhece a matéria, os

métodos utilizados usualmente na área e que se interessa pela pesquisa a ser relatada. Assim, esse fator é

3 Não é muito comum, na literatura moderna, encontrar um artigo totalmente analítico.

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decisivo na superestrutura do texto científico (estrutura do evento), além de repercutir na seleção lexical

e nas estruturas sintáticas (estilo).

Van Dijk (1992) afirma que os textos se diferenciam entre si não apenas por suas diferentes

funções comunicativas e sociais, mas também porque possuem diversos tipos de construção, i. e., as

superestruturas. Essas superestruturas apresentam duas características básicas: funcionam como

arcabouços ou esquemas vazios de conteúdo, preenchidos apenas quando de sua realização concreta; não

são esquemas rígidos.

Conforme Van Dijk (1989), a estrutura básica do texto científico possui uma

justificativa, a colocação do problema, uma solução e uma conclusão. Para a explicação do problema,

levantam-se hipóteses e sugerem-se expectativas (predições). A comprovação das expectativas só é

possível após o resultado dos testes experimentais. Só depois da comprovação é que se pode

chegar às conclusões. E é baseada nessas conclusões que se pode confirmar ou não as hipóteses, e

demonstrar se foi encontrada uma explicação adequada (solução) às observações originais.

Conforme Gomes (2000, p. 72), os artigos científicos teriam sua estrutura-padrão alicerçada

por cinco pilares básicos: contextualização; apresentação do estudo; metodologia; resultados obtidos ou

prováveis; e o ponto de vista.

1- Contextualização: contém informações que são usadas para situar o leitor no contexto em que está

inserido o tema central do texto. Nos artigos científicos, a seção contextualização estaria sob

designações como justificativa, colocação do problema e hipóteses. A intenção do autor nessa seção é

destacar a relevância e fundamentar o estudo apresentado;

2- Apresentação do estudo: contém dados sobre o(s) estudo(s) enfocado(s), consiste num breve relato

sobre uma pesquisa, uma experiência ou uma nova técnica já desenvolvida ou em desenvolvimento. É

nessa seção que, em geral, são encontradas respostas para as perguntas-chave: quem?, para quê?, o quê?,

quando?, que se referem, respectivamente, aos participantes, aos objetivos, ao assunto e ao período de

realização ou previsão do trabalho;

3- Metodologia: contém informações sobre o método de trabalho para o desenvolvimento do estudo

apresentado. Às vezes, nessa seção, há uma grande preocupação com a exposição de todas, ou quase

todas, as etapas da investigação;

4- Resultados: contém os resultados de estudos concluídos ou resultados parciais ou predições, no

caso de as pesquisas ainda estarem em desenvolvimento;

5- Ponto de vista: contém, explicita ou implicitamente, o ponto de vista do autor sobre o assunto

tratado. Essa seção pode vir inserida em outras seções, muitas vezes de forma implícita, o que a

faz permear praticamente todo o texto. A identificação do ponto de vista é feita observando o

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conteúdo em si e as marcas lingüísticas que indicam a presença da subjetividade do autor, como

os modais, as perguntas retóricas, os quantificadores, os superlativos e alguns verbos e advérbios.

Esquematicamente, tem-se:

Fonte: Gomes, 2000, p. 72.

Uma estrutura bastante simples de um artigo científico deve conter, conforme

Marcantonio (1993, p. 71), uma introdução, um corpo do trabalho ou texto propriamente dito, conclusão

ou resultados, indicação das referências e a bibliografia em geral.

Segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 239), o artigo científico apresenta as seguintes

partes:

1 Preliminares:

a) Cabeçalho – título (e subtítulo) do trabalho: O objetivo é dar a conhecer ao leitor o conteúdo

essencial do artigo; deve espelhar o foco de atenção do artigo; deve ser adequado e conciso. Não se

deve sobrecarregá-lo com o seguinte: Informações expressas em forma de abreviaturas (exceto

quando universalmente conhecidas ou nomes de projeto); informações entre parênteses; fórmulas

gráficas ou caracteres desconhecidos no idioma utilizado na revista; referências bibliográficas.

Quando necessário, colocar, no fim do título, símbolo indicativo sobre as condições em que

este trabalho foi feito. O símbolo remete para o rodapé da primeira página, onde aparece a explicação

necessária;

CONTEXTUALIZAÇÃO

APRESENTAÇÃO DO ESTUDO

METODOLOGIA

RESULTADOS

PONTO DE V I STA

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b) Autor(es): A ordem dos autores na autoria do artigo é feita de comum acordo. Em geral, quem

escreve a parte principal do artigo deve vir em primeiro lugar; quem apenas supervisionou o

trabalho todo, fica no final.

c) Credenciais do(s) autor(es);

d) Local de atividade: Endereço(s) deve(m) aparecer de acordo com o veículo de publicação.

2 Sinopse:

O objetivo do resumo não é servir de introdução ou de apresentação do conteúdo na ordem

em que eles aparecem. É um parágrafo composto de frases coerentes com os objetivos

pretendidos e as conclusões alcançadas no artigo; agregar, sem sobrecarregar demais, todo o tipo de

informação nova, mas relevante, que contenha o artigo.

Conforme Bhatia (1993, p. 78), o resumo contém informação sobre os seguintes aspectos

da pesquisa que ele descreve: l- O que o autor fez?; 2- Como o autor fez?; 3- O que o autor encontrou?;

4- O que o autor concluiu?

Essas quatro perguntas se relacionam aos seguintes quatro movimentos (moves):

1- Introduzir propósitos: Dá uma indicação precisa da intenção do autor, tese ou hipótese que forma a

base da pesquisa. Pode também incluir as metas ou objetivos da pesquisa ou o problema que o autor

deseja manipular;

2- Descrever metodologia: O autor dá uma boa indicação do projeto experimental, incluindo informações

sobre os dados, processos ou método(s) usados e, se necessário, o escopo da pesquisa;

3- Sumariar resultados: O autor menciona suas observações e descobertas e também sugere soluções do

problema, posto no primeiro movimento (move);

4- Apresentar conclusões: O objetivo é interpretar resultados e fazer inferências. Inclui alguma

indicação das implicações das presentes descobertas.

Quanto ao conteúdo, o resumo deve incluir, de forma detalhada mas sucinta, os resultados e

conclusões do artigo, ajustando-se ao espaço a ele destinado. Deve, adicionalmente, indicar dentro dos

limites, todo tipo de informação nova, mas relevante, que contenha o artigo.

O resumo tem duas finalidades principais: Proporcionar aos leitores informações suficientes que

lhes permitam julgar se é conveniente fazer uma leitura aprofundada do texto. Acelerar a atividade dos

serviços de uma biblioteca ou de rede de prestação eletrônica de serviços bibliográficos.

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Recomenda-se um resumo com 200 a 250 palavras, respeitando os limites impostos

pela publicação. E qualquer que seja o idioma em que esteja escrito o artigo original (exceto inglês),

recomenda-se publicar o resumo também em inglês, para facilitar sua difusão internacional.

3 Corpo do artigo4:

a) Introdução: apresentação do assunto, objetivo, metodologia, limitações e proposições. Um leitor deveria

obter a idéia principal do artigo pela primeira página, ou seja, pelo resumo e pela seção introdutória.

Deve, de preferência, receber um nome diferente de Introdução, que focalize a área de estudo. Deve

explicar adequadamente o problema, para o qual se deve apresentar uma solução;

b) Texto: exposição, explicação e demonstração do material; avaliação dos resultados e comparação

com as obras anteriores;

c) Comentários e conclusões: inferência, baseada e fundamentada no texto, de forma resumida.

Deve apresentar as conclusões tiradas do trabalho desenvolvido e apresentar sugestões de trabalhos

futuros e problemas ainda não resolvidos. Esta seção deve iniciar com uma breve sentença introdutória

amarrando a seção com o problema declarado na introdução. É desejável acrescentar uma sentença ou

duas sobre tais limitações (se não resolvido por inteiro), como, por exemplo, pelo método usado ou

pela amplitude do estudo. Conclusões devem ser escritas de maneira a ser compreensível para alguém

que não tenha lido o corpo do trabalho. Como regra geral, não se deve incluir argumentos na

declaração de uma conclusão. Se argumento ou justificativa são necessários, eles deveriam estar

em texto precedente ou em discussão que acompanhe a conclusão. Não se deve incluir também

material novo nas conclusões: todo material do qual conclusões e recomendações são derivadas

deveria estar no corpo do artigo.

4 Parte referencial:

a) Bibliografia;

b) Apêndices ou anexos (quando houver necessidade);

c) Data5

Segundo Swales (1990, p. 133-174), existe um grande número de propostas para a análise da

superestrutura do AC; dentre elas, estão as seguintes propostas, a de Stanley (1984), que propõe uma

4 A divisão do Corpo do artigo pode sofrer alterações, de acordo com o texto, e ser subdividido em mais itens. Todavia, não convém que os artigos sejam muito divididos, para que o leitor não perca a seqüência. 5 Importante para savalguardar a responsabilidade de quem escreve um artigo científico, em face da rápida evolução da ciência e da tecnologia e demora de certas editoras na publicação de trabalhos.

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estrutura Problema-solução; Bruce (1983) sugere o formato Introdução-Método-Resultados-Discussão,

que segue um ciclo lógico de uma investigação indutiva; Hill et al apresenta uma superestrutura no

formato de um relógio de areia, representado no diagrama a seguir.

Fonte: Hill et al (1982) apud Swales (1990, p. 134).

Embora esse diagrama seja derivado de dois artigos da área de Psicologia, Swales afirma

que um AC “faz a transição do campo geral ou do contexto do experimento para o experimento

específico pela descrição de uma inadequação em investigações prévias que motivam o presente

experimento” (p. 133). O diagrama acima serve bem para o modelo chamado IMRD (Introdução-

Método-Resultado-Discussão).

A seção introdução normalmente inclui uma revisão de pesquisas anteriores. Uma possível

perspectiva é ver essa seção como textos problema-solução. Essa posição é adotada por Zappen (1983

apud Swales, 1990, p. 138). A análise de Introdução de Zappen segue esta série de subcontextos:

objetivo, capacidade atual, problema, solução e critérios de avaliação.

Swales apresenta um modelo alternativo de introdução, chamado de “Create a Research

Space – CARS” (Criando um Espaço de Pesquisa), o qual apresenta 3 estágios (moves), que

desempenham funções retóricas diversas. Esses movimentos ou estágios formam conjuntos que

constroem a estrutura da introdução; internamente, cada movimento pode abrigar alguns passos

(steps) opcionais. Em cada um desses movimentos, há formas típicas de enunciados que concretizam os

passos.

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Fonte: Swales (1990, p. 141), Figura 10.

Comparado com o modelo de Zappen, o Movimento l abarcaria o objetivo e a

capacidade atual, o Movimento 2 estaria relacionado com o problema e o Movimento 3, com a solução e

os critérios de avaliação.

O modelo proposto por Swales reflete a necessidade de a comunidade restabelecer um olhar

sobre seu campo de trabalho e construir nichos ecológicos de investigação.

Já a seção Método consiste simplesmente numa descrição detalhada ou sumária dos

passos a serem seguidos e levanta a metodologia, as teorias possíveis ou os experimentos; ocupando não

mais que alguns parágrafos. Essa seção pode ser recolocada para o final do AC. A seção Resultados

descreve o processo de manipulação dos dados obtidos da seção Método e faz só limitadas declarações

sobre os testes estatísticos.

E a seção Discussão faz explanações das descobertas estatísticas e também muitas

declarações sobre as descobertas da pesquisa. Belanger (1932), apud Swales (1990, p. 171), afirma que

a estrutura desta seção está mais correlacionada com o número e o tipo de perguntas da pesquisa

situada na seção Introdução dos AC.

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22..66 SSeeqqüüêênncciiaass tteexxttuuaaiiss ddooss AArrttiiggooss CCiieennttííffiiccooss

Os tipos textuais constituem os elementos fundamentais da infra-estrutura geral dos

textos. Esta é responsável pela organização seqüencial ou linear do conteúdo temático –

representações ou conhecimentos relativos a um dado tema, ou melhor dizendo, da

macroestrutura. As macroestruturas que o autor dispõe simultaneamente na memória desenvolvem-

se em várias formas de organização linear, denominadas superestruturas.

Adam (1992 apud Bronckart 1999, p. 218) propõe uma teorização da organização dos textos

– superestruturas – baseada na noção fundamental de seqüência. Para ele, as seqüências são

protótipos, modelos abstratos de que os produtores e receptores de textos disporiam, definíveis, ao

mesmo tempo, pela natureza das macroposições que comportam e pelas modalidades de articulação

dessas macroproposições em uma estrutura autônoma. Adam distingue cinco tipos básicos de

seqüências: narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa e dialogal. Um texto pode conter uma,

várias ou todas as seqüências ao mesmo tempo.

Conforme Bronckart (1999, p. 233), as seqüências constituem o produto de uma

reestruturação de um conteúdo temático já ordenado na memória do autor na forma de

macroestruturas. Essa reorganização resulta de uma decisão do autor, orientada pelas

representações que o mesmo tem dos destinatários e do fim que persegue. Assim, as seqüências

têm um estatuto fundamentalmente dialógico, constituindo modalidades particulares de planificação do

conteúdo temático.

De acordo com os tipos de artigos científicos, podem ser encontradas neles as

seguintes seqüências textuais: argumentativa, expositiva ou explicativa, descritiva e, mais raramente,

narrativa – esta só figura nos artigos científicos quando são usadas como exemplo ou argumentos para

defender determinada tese.

As seqüências textuais seriam o que Marcuschi define como seqüências de tipos textuais,

na seção “As categorias gênero e tipo textuais” vista anteriormente. Trata-se de um aspecto que torna o

texto tipologicamente heterogêneo.

22..66..11 SSeeqqüüêênncciiaa aarrgguummeennttaattiivvaa

Conforme as abordagens de Apothéloz, Borel, Grize e Toulmin (apud Bronckart, 1999, p.

226), o raciocínio argumentativo implica, primeiramente, a existência de uma tese, admitida

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supostamente, sobre um dado tema. Sobre o pano de fundo dessa tese, são propostos dados novos, que são

objetos de inferências, que orientam para uma conclusão ou nova tese. O protótipo da seqüência argumentativa

apresenta quatro fases:

1- Premissas: propõe-se uma constatação de partida;

2- Argumentos: elementos que orientam para uma conclusão provável; podendo ser

elementos apoiados por lugares comuns, regras gerais, exemplos, etc.;

3- Contra-argumentos: operam uma restrição em relação à orientação argumentativa e

que podem ser apoiados ou refutados por lugares comuns, exemplos, etc.;

4- Conclusão: integra os argumentos e contra-argumentos.

Essas fases podem ocorrer ou não em sua totalidade. Algumas podem ser deixadas implícitas.

Porém, o nível de entrelaçamento dessas fases acarreta uma menor ou maior complexidade da seqüência

argumentativa.

22..66..22 SSeeqqüüêênncciiaa eexxppoossiittiivvaa

O pensamento expositivo ou explicativo origina-se na constatação de um fenômeno

incontestável (BRONCKART, 1999, p. 228). Difere da seqüência argumentativa por, exatamente, partir de

uma tese aceita, em geral, por todos; requerendo apenas um desenvolvimento destinado a responder as

questões que coloca ou às contradições aparentes que poderia suscitar.

O protótipo da seqüência expositiva apresenta quatro fases:

1- Constatação inicial: introduz um fenômeno não contestável (objeto, situação,

acontecimento, ação, etc.);

2- Problematização: é explicitada uma questão da ordem do porquê ou do como,

eventualmente associada a um enunciado de contradição aparente;

3- Resolução: introduz os elementos de informações suplementares capazes de responder às

questões colocadas;

5- Conclusão-avaliação: reformula e completa eventualmente a constatação inicial.

Na estrutura expositiva, não é dada muita atenção ao tempo, como também aos agentes das

ações não tão relevantes em relação à organização dos componentes. A ênfase é temática. Sua organização se

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dá através de componentes ligados entre si por várias relações lógicas: premissa e conclusão, problema e

solução, tese e evidência, causa e efeito, analogia, comparação, definição e exemplo. Além disso, são mais

raros os marcadores da presença de um sujeito enunciador e de sinais que indicam avaliações.

22..66..33 SSeeqqüüêênncciiaa nnaarrrraattiivvaa

Os textos narrativos são formas básicas globais muito importantes da comunicação textual.

Como textos narrativos, faz-se referência, em primeiro lugar, às narrações que se produzem na

comunicação cotidiana. A estrutura narrativa é caracterizada pela marcação temporal cronológica, além

do destaque dado aos agentes das ações. Na narrativa, predominam as ações, sendo que as descrições

de situações e estados lhe são subordinadas.

Só se pode falar de seqüência narrativa quando cada história contada mobilize personagens

implicados em acontecimentos organizados no eixo do sucessivo e for sustentada por um processo de

intriga (BRONCKART, 1999, p. 219).

Para Labov e Waletzky (1967), há três tipos de narrativa: narrativa mínima (há apenas uma

juntura temporal), narrativa completa (possui começo, meio e fim, porém só relata a trama sem emitir

uma opinião sobre ela) e narrativa plenamente desenvolvida (introduz um comentário que expressa um

ponto de vista do narrador ou de outra personagem sobre os acontecimentos).

Para eles, a estrutura de uma narrativa completa se constituiria das seguintes seções:

orientação, complicação, avaliação, resolução e coda. Mais tarde, Labov (1972), acrescentou o elemento

resumo, totalizando 6 seções.

1- Resumo: sintetiza a história em uma ou duas orações e serve para despertar o interesse da

audiência, através de frases exclamativas, de expressões emotivas e de enfáticos juízos de

valor;

2- Orientação: um estado de coisas é apresentado, estado esse que pode ser considerado

equilibrado, não em si mesmo, rnas, na medida em que a seqüência da história vai nele

introduzir uma perturbação. Aqui o narrador informa sobre o tempo, o lugar, os personagens

e a situação inicial.;

3- Complicação: introduz exatamente essa perturbação e cria uma tensão. É o núcleo da

narrativa, pois sem ela não existe história. A partir da complicação, são desencadeados os

acontecimentos (ações);

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4- Avaliação: revela a importância do episódio narrado, geralmente expressa em

comentários, opiniões, reflexões e ponderações sobre os acontecimentos vivenciados

pelo narrador ou por outra pessoa. É o meio usado pelo narrador para indicar a razão de ser

da narrativa;

5- Resolução: indica o fim da narrativa, i. e., é o desenlace dos acontecimentos. Tem como

objetivo maior satisfazer a expectativa do ouvinte quanto ao desfecho da história;

6- Coda: marca o fim da narração e é separada da resolução por uma juntura temporal, é

uma espécie de arremate da narrativa.

22..66..44 SSeeqqüüêênncciiaa ddeessccrriittiivvaa

A seqüência descritiva apresenta a particularidade de ser composta de fases que não se

organizam em uma ordem linear obrigatória, mas que se combinam e se encaixam em uma ordem hierárquica

ou vertical (BRONCKART, 1999, p. 222).

A seqüência descritiva apresenta três fases:

1- Ancoragem: o tema da descrição é, mais freqüentemente, assinalado, geralmente por

uma forma nominal ou tema-título, introduzido no início, no meio ou no final da seqüência;

2- Aspectualização: os diversos aspectos do tema-título são enumerados. O tema é

decomposto em partes, às quais são atribuídas propriedades;

3- Relacionamento: os elementos descritivos são assimilados a outros, por meio de operações

de caráter comparativo ou metafórico.

Essas fases se encaixam e se combinam numa ordem hierárquica e não,

necessariamente, numa ordem linear obrigatória.

A estrutura descritiva tem uma orientação não agentiva, atemporal e uma estrutura não precisa.

Nela estão presentes vários efeitos descritivos: um efeito de listagem, um efeito de qualificação e um efeito de

particularização de objeto tematizado.

Bronckart afirma que o comportamento dos segmentos chamados injuntivos seguem as

mesmas fases das seqüências descritivas; porém, por causa de sua dimensão dialógica, ele concede o

estatuto específico denominado de injuntivo, instrucional ou procedimental a esses segmentos.

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22..66..55 SSeeqqüüêênncciiaa ddiiaallooggaall

A seqüência dialogal tem a particularidade de se concretizar só nos segmentos de discursos

interativos dialogados, que são estruturados em turnos de fala (BRONCKART, 1999, p. 230). Esses

discursos só acontecem quando os interactantes estão de fato engajados em uma conversação e que seus

enunciados respectivos são determinados mutuamente. Esses segmentos de textos co-produzidos devem

constituir um todo coerente.

Adam (1992, p. 145-168 apud Bronckart, 1990, p. 231) propõe um protótipo de seqüência

dialogal organizado em três níveis encaixados:

1- Nível supraordenado: constituído de três fases gerais:

a) Fase de abertura: de caráter fático, em que os interactantes se contactam, segundo os ritos e usos da

formação social onde estão inseridos;

b) Fase transacional: o conteúdo temático da interação verbal é co-construído;

c) Fase de encerramento: põe fim, explicitamente, à interação. É de caráter fático também.

2- Nível 2: cada uma das três fases gerais pode ser decomposta em unidades dialogais ou trocas.

3- Nível 3: cada intervenção pode ser decomposta em atos discursivos (enunciados que realizam um

ato de fala determinado).

Conforme Bronckart, as seqüências descritas acima podem aparecer combinadas de várias

formas nos tipos de discurso. Essa afirmação vem ratificar a posição de Marcuschi (2000), que ressalta o

caráter heterogêneo dos gêneros textuais.

22..77 OOss mmeeccaanniissmmooss ddee tteexxttuuaalliizzaaççããoo

Conforme Bronckart (1999, p. 259), um texto empírico constitui um todo coerente, uma unidade

comunicativa articulada a uma situação de ação e destinada a ser compreendida e interpretada como tal por

seus destinatários. E são exatamente os mecanismos de textualização juntamente com os

mecanismos enunciativos (que se verá adiante) que conferem essa coerência geral.

Os mecanismos de textualização contribuem para o estabelecimento da coerência temática, e

estão articulados à linearidade do texto, ou seja, à progressão do conteúdo temático, tal como é

apreensível no nível da infra-estrutura. Os mecanismos de textualização são realizados por diversas unidades

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lingüísticas, que são designadas pela expressão genérica de marcas de textualização. Essas marcas de

textualização são concretamente observáveis nas frases ou na junção das frases e, em geral, exercem um papel

na organização dessas unidades sintáticas locais.

Os mecanismos de textualização são agrupados em três conjuntos: a conexão, a coesão

nominal e a coesão verbal.

22..77..11 MMeeccaanniissmmooss ddee ccoonneexxããoo

A função desses mecanismos é marcar as grandes articulações da progressão temática, i. e.,

as relações existentes entre os diferentes níveis de organização de um texto. Sua realização é feita pelos

organizadores textuais, que podem ser aplicados às transições entre seqüências textuais, entre frases de uma

seqüência ou às articulações mais locais entre frases. No primeiro caso, os organizadores textuais assumem

uma função de segmentação; no segundo caso, de demarcação ou balizamento; no terceiro caso, de

empacotamento. Também esses organizadores podem articular duas ou várias frases sintáticas em uma só

frase gráfica, exercendo uma função de ligação (justaposição, coordenação) ou de encaixamento

(subordinação) (BRONCKART, 1999, p. 264-268).

Os organizadores textuais podem ser agrupados em quatro categorias principais: a- advérbios ou

locuções adverbiais com caráter transfrástico; b- um subconjunto de sintagmas preposicionais; c- as

conjunções ou locuções coordenativas; d- as conjunções ou locuções subordinativas.

Os organizadores textuais do tipo a) e b) podem marcar a segmentação, o balizamento

e o empacotamento; os do tipo c), o empacotamento e/ou ligação e, às vezes, balizamento; os do tipo d), o

encaixamento.

Para Koch (2001, p. 62-70; 2002, p. 133-141), o encadeamento de segmentos textuais (a

conexão) é estabelecido por meio de recursos lingüísticos que se denominam Articuladores Textuais (os

organizadores textuais de Bronckart), que permitem estabelecer relações semânticas e/ou discursivas entre

orações, enunciados ou seqüências maiores do texto.

O encadeamento por conexão é obtido por meio de conjunções, advérbios sentenciais e

outras palavras (ou expressões) de ligação, cujo objetivo é estabelecer diversos tipos de relações semânticas

e/ou pragmáticas entre orações, enunciados ou partes do texto,

De acordo com o tipo de relação que exercem, os articuladores podem ser divididos

em três grandes classes: os de conteúdo proposicional, os enunciativos ou discursivo-argumentativos

e os meta-enunciativos. Estes comentam, de alguma forma, a própria enunciação, e serão vistos no item

“Mecanismos enunciativos”.

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22..77..11..11 AArrttiiccuullaaddoorreess ddee ccoonntteeúúddoo pprrooppoossiicciioonnaall

Os articuladores de conteúdo proposicional podem marcar relações espácio-temporais e

lógico-semânticas. Estas são obtidas através de conectores ou juntores de tipo lógico. As relações lógico-

semânticas podem ser de:

a- relação de condicionalidade – é expressa pela conexão de duas orações, a primeira (oração

antecedente) é introduzida pelo conector “se” ou similar; a segunda (oração conseqüente), por

“então”, que geralmente vem implícito;

b- relação de causalidade – é expressa pela conexão de duas orações, uma é a causa que acarreta a

conseqüência contida na outra;

c- relação de mediação - expressa por meio de duas orações, numa das quais se explicitam o(s) meio(s)

para chegar a um determinado fim expresso na outra;

d- relação de disjunção - é expressa por meio do conectivo “ou”. Pode ser tanto de tipo lógico quanto

discursivo;

e- relação de temporalidade - por meio da conexão de duas orações, localizam-se no tempo, relacionando-

os uns aos outros, ações, eventos, estados de coisas do “mundo real” ou a ordem em que se teve percepção

ou conhecimentos deles;

f- relação de conformidade - é expressa pela conexão de orações em que se mostra a conformidade

do conteúdo de uma com algo asseverado na outra;

g- relação de modo - expressa-se, numa das orações, o modo como se realizou a ação ou evento contido

na outra.

22..77..11..22 AArrttiiccuullaaddoorreess eennuunncciiaattiivvooss oouu ddiissccuurrssiivvoo--aarrgguummeennttaattiivvooss

Já os articuladores enunciativos ou discursivo-argumentativos marcam as relações discursivas ou

argumentativas, que são obtidas pelos encadeamentos de tipo discursivo. Tais encadeamentos são

responsáveis pela estruturação de enunciados em textos, por meio de encadeamentos sucessivos, sendo

cada enunciado resultante de um ato de fala distinto. Assim, esses encadeadores podem ocorrer entre

orações de um mesmo período, entre dois ou mais períodos e, também entre parágrafos de um texto. As

principais relações são:

a- conjunção – efetua-se através de operadores que ligam enunciados que constituem argumentos

para uma mesma conclusão (também, além de, ainda etc.);

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b- disjunção argumentativa – disjunção de enunciados que possuem orientações discursivas diferentes e

resultam de dois atos de fala distintos, em que o segundo procura provocar o leitor/ouvinte para

levá-lo a modificar sua opinião ou, simplesmente, aceitar a opinião expressa no primeiro;

c- contrajunção – por meio da qual se contrapõem enunciados de orientações argumentativas diferentes;

d- explicação ou justificativa – quando se encadeia, sobre um primeiro ato de fala, outro ato que justifica ou

explica o anterior;

e- comprovação – em que, através de um novo ato de fala, acrescenta-se uma possível comprovação

da asserção apresentada no primeiro;

f- conclusão – introduz-se um enunciado de valor conclusivo em relação a dois (ou mais) atos de fala

anteriores que contém as premissas;

g- comparação – expressa uma relação de inferioridade, superioridade ou igualdade entre um termo

comparante e um termo comparado;

h- generalização/extensão – em que o segundo enunciado exprime uma generalização do fato contido no

primeiro, ou uma amplificação da idéia nele expressa;

i- especificação/exemplificação – em que o segundo enunciado particulariza e/ou exemplifica uma

declaração de ordem mais geral no primeiro;

j- contraste – em que o segundo enunciado apresenta uma declaração que contrasta com a do primeiro,

produzindo um efeito retórico;

k- correção/redefïnição – quando, através de um segundo enunciado, se corrige, suspende ou redefine o

conteúdo do primeiro, se atenua ou reforça o comprometimento com a verdade do que foi veiculado ou,

ainda, se questiona a própria legitimidade de sua enunciação.

22..77..22 MMeeccaanniissmmooss ddee ccooeessããoo nnoommiinnaall

Os mecanismos de coesão nominal marcam relações de dependência e/ou

descontinuidade entre dois subconjuntos de constituintes internos às estruturas de frase. Eles têm a

função de introduzir os temas e/ou personagens novos (função de introdução), de um lado, e a de

assegurar sua retomada ou sua substituição no desenvolvimento do texto (função de retomada). Essa

realização é feita por unidades chamadas anáforas (BRONCKART, 1999 p. 268-271).

A coesão nominal é feita por duas categorias de anáforas, a- anáforas pronominais,

pronomes pessoais, relativos, demonstrativos, possessivos, reflexivos e elipse, b- anáforas nominais,

sintagmas nominais de diversos tipos.

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A função de introdução é, em geral, realizada por um sintagma nominal indefinido;

a função de retomada, pelas diversas anáforas pronominais, sintagmas nominais definidos, “definidos

marcados” ou “possessivos”.

A coesão nominal, para Koch (2002, p. 79), é feita pelo processo de referenciação,

entendendo a referenciação como uma atividade discursiva, considerada como o resultado da operação

que se realiza quando se usa um termo ou se cria uma situação discursiva referencial para designar,

representar ou sugerir algo. Nesse caso, as entidades são vistas não como objetos-do-mundo, mas

como objetos-de-discurso.

Koch (2002, p. 83) elenca os seguintes princípios de referenciação envolvidos na

construção de um modelo textual: ativação, reativação e desativação.

Na ativação, um referente textual ainda não mencionado é introduzido, passando a preencher

um nódulo na rede conceitual do modelo de mundo textual. Na reativação, um nódulo já introduzido é

de novo ativado na memória de curto termo6, por meio de uma forma referencial, de modo que o

referente textual permanece em foco. E na desativação, há uma ativação de um novo nódulo,

deslocando-se a atenção para um outro referente textual e desativando-se, assim, o referente que

estava em foco anteriormente. A ativação se refere à função de introdução e a reativação, à de

retomada, se comparada com a proposta de Bronckart.

A referenciação seria responsável, então, pela progressão do texto, considerando que um texto

não se constrói somando elementos novos com outros já postos em etapas anteriores (continuidade

progressiva linear), como se o texto fosse processado numa soma progressiva de partes, mas numa

oscilação entre vários movimentos: um para frente (projetivo) e outro para trás (retrospectivo),

representáveis parcialmente pela catáfora e anáfora. Assim, a progressão textual se dá baseada no já

dito, no que será dito e no que é sugerido; co-determinando-se progressivamente.

Koch (2001, p. 45-48; 2002, p. 85-106) enumera as seguintes estratégias de coesão

nominal (referenciação):

1- Expressões ou grupos nominais definidos: formas lingüísticas constituídas, no mínimo, de um

determinante (definido ou demonstrativo), seguido de um nome. A escolha de determinada

descrição definida pode revelar ao leitor as opiniões, crenças e atitudes do produtor do texto,

auxiliando-o na construção do sentido;

2- Nominalizações trata-se de formas nominalizadas (nomes deverbais), através das quais se remete ao verbo

e argumentos da oração anterior;

6 Memória de curto termo (MCT): memória de capacidade limitada, onde as informações são mantidas durante um curto lapso de tempo (KOCH, 2002, p. 38).

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3- Expressões sinônimas ou quase-sinônimas;

4- Nomes genéricos;

5- Hiperônimos ou indicadores de classe;

6- Mesmo item lexical, com ou sem mudança de determinante;

7- Anáfora indireta: consiste no emprego de expressões definidas anafóricas, sem referente explícito no

texto, mas inferível a partir de elementos nele explícitos;

8- Elipse;

9- Hipônimos;

10- Pronomes.

22..77..33 MMeeccaanniissmmooss ddee ccooeessããoo vveerrbbaall

Os mecanismos de coesão verbal asseguram a organização temporal e/ou hierárquica

dos processos (estados, acontecimentos ou ações) verbalizados no texto e são essencialmente realizados

pelos tempos verbais, i. e., sintagmas verbais. Os constituintes desses sintagmas verbais contribuem para

a expressão de relações temporais, de matizes aspectuais, e de algumas modalizações. As duas primeiras

contribuem para a manutenção da coerência temática de um texto; a última, para a coerência pragmática ou

interativa. Por isso, os valores de modalizações serão vistos no tópico dedicado aos mecanismos enunciativos

(BRONCKART, 1999, p. 273-274).

Bronckart (p. 275-284) distingue dois tipos de abordagens em relação ao papel dos

verbos para manutenção da coesão: a temporalidade e a aspectualidade.

22..77..33..11 AAss aabboorrddaaggeennss ddaa tteemmppoorraalliiddaaddee

Os valores da temporalidade são expressos pelos determinantes dos verbos (tempos

verbais), eventualmente em interação com alguns subconjuntos de advérbios. O valor de um tempo verbal

resulta de uma decisão de codificação da relação estabelecida entre “o momento do processo”, de um

lado, e ou o “momento da produção” ou o “momento de referência psicológica”, do outro.

Com base nisso, pode-se identificar quatro funções de coerência verbal:

a- Temporalidade primária: o processo é diretamente relacionado ou com um dos eixos de referência, ou

com a duração associada ao ato de produção;

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b- Temporalidade secundária: consiste em situar um processo em relação a um outro processo.

Assim, um processo é apresentado como anterior, simultâneo ou posterior a um outro;

c- Contraste global: séries isotópicas de processos são distinguidas, sendo uma delas colocada em

primeiro plano e as outras, em segundo;

d- Contraste local: consiste em apresentar um processo como um quadro sobre o qual se destaca,

localmente, um outro processo.

22..77..33..22 AAss aabboorrddaaggeennss ddaa aassppeeccttuuaalliiddaaddee

Aspecto ou aspectualidade é a expressão de uma propriedade interna ou não relacional

do processo (sua duração, freqüência, grau de realização, etc.), expressa pelos constituintes do

sintagma verbal. As duas funções principais da aspectualidade são: a expressão dos tipos de

processo e a expressão dos graus de realização do processo (significado correspondente ao significante

que constitui o lexema verbal).

Os tipos de processo (ou tipos de verbos) são as classes gerais (estado, ação, relação etc.)

de significados dos verbos. Os tipos de processos são representados respectivamente pelas seguintes

classes de verbos: l- verbos de estados: remetem a processos estáveis, excluindo qualquer forma de

mudança (ser, saber etc.); 2- verbos de atividade: remetem a processos dinâmicos, durativos e não

resultativos: escrever, andar, dançar, etc.); 3-verbos de realização, remetem a processos dinâmicos,

durativos e resultativos (fumar, correr, etc.); 4- verbos de acabamento, remetem a processos dinâmicos,

não durativos e resultativos (cair, saltar, chegar). Aqui, faz-se a diferença apenas de verbos estáticos e

dinâmicos (verbos de atividade, verbos de realização e verbos de acabamento) para o presente trabalho, o

que é suficiente.

Os processos dinâmicos (traduzidos por verbos de atividade, de realização ou de

acabamento), por sua vez, podem distinguir três graus de realização: l- inconcluso: o processo pode ser

tomado no curso de seu desenvolvimento; 2- concluso: o processo pode ser tomado no fim de seu

desenvolvimento; 3- realização total: o processo pode ser tomado na totalidade de seu desenvolvimento.

O grau de realização total é marcado pelo emprego dos tempos simples: presente, futuro

simples, passado simples, etc.; o inconcluso é inferível a partir de algumas ocorrências de tempos

simples, particularmente do imperfeito; e o concluso é marcado pelas ocorrências dos tempos

compostos, quando não estiverem em uma relação de dependência sintática com as formas simples.

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22..88 MMeeccaanniissmmooss eennuunncciiaattiivvooss

Os mecanismos enunciativos contribuem para a manutenção da coerência pragmática

(interativa) do texto, i. e., para o esclarecimento dos posicionamentos enunciativos e traduzem as diversas

avaliações sobre alguns aspectos do conteúdo temático, que visam a orientar a interpretação do texto de

seus destinatários. O primeiro se refere ao posicionamento enunciativo do autor e às vozes presentes no

texto; o segundo, à marcação das modalizações (BRONCKART, 1999, p. 130).

22..88..11 VVoozzeess

A primeira noção do fenômeno “Vozes” apareceu, de forma implícita, em Bakhtin com “La

Poétique de Dostoievski”, ao tratar do “romance polifônico”. O sentido de voz em Bakhtin é de ordem

metafórica, tratando-se da memória semântico-social depositada na palavra, e que em todo

discurso são percebidas vozes, pois tudo o que é dito por um enunciador não pertence só a ele.

A presença de vozes num mesmo texto é chamada de dialogismo por Bakhtin (2002),

polifonia para Ducrot (1987) e intertextualidade para Kristeva (1974). A noção de polifonia de Ducrot e

de intertextualidade de Kristeva surgiram a partir da noção de dialogismo de Bakhtin.

Dialogismo para Bakhtin (2002) é o princípio constitutivo da linguagem e a condição de

sentido do discurso. Esse dialogismo ocorre na interação verbal estabelecida pelo enunciador e enuciatário, no

espaço do texto, seja escrito ou oral. Ou seja, os textos escritos ou orais são constituídos a partir de outros

textos, contendo não só o discurso do próprio autor, mas também o discurso de outras pessoas. Essa noção

de dialogismo vem de encontro à concepção de Saussure de língua como um sistema monológico.

Segundo Ducrot (1987), a polifonia designa “as diversas perspectivas, pontos de vista ou

posições que se representam nos enunciados”. Ducrot considera dois tipos de polifonia: a- quando, no

mesmo enunciado, se tem mais de um locutor, i. e., intertextualidade explícita; b- quando, no mesmo

enunciado, há mais de um enunciador, recobrindo a intertextualidade implícita, sendo, porém, mais

ampla.

Em relação aos fenômenos polifônicos, Koch (2000, p. 51) afirma que eles podem ser

classificados conforme a atitude de adesão ou não do locutor à perspectiva polifonicamente introduzida em:

1) Casos de adesão: a- pressuposição, encenam-se dois enunciados, um responsável pelo pressuposto, e

o outro, pelo conteúdo posto, com que o locutor se identifica; b- certos tipos de parafraseamento, c-

argumentação por autoridade, encenam-se a voz de um enunciador a partir da qual o locutor,

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58

identificando-se com ele, argumenta. Pode ser obtida por: 1-enunciados conclusivos: nos quais se

argumenta a partir de uma mesma premissa polifonicamente introduzida no discurso; 2- certos

enunciados introduzidos por “não só... mas também”; 3- certos enunciados em que ocorre o uso

“metafórico” do futuro do pretérito;

2) Casos de não adesão: a- negação, b- enunciados introduzidos por “ao contrário”, “pelo contrário”; c-

aspas de distanciamento, d- détournement: alteração, na forma e/ou no conteúdo de provérbios,

slogans ou frases feitas, a título lúdico, com o objetivo de captação ou, mais freqüentemente, de

subversão; e- contrajunção: consiste na introdução da perspectiva de um outro enunciador, ao qual

se opõe o segundo enunciador, com o qual o locutor se identifica; f- certos enunciados comparativos, g-

discurso indireto livre.

Para Kristeva (1974), a intertextualidade significa que todo texto pressupõe a existência

prévia de outros textos, de forma que os textos se relacionam entre si na forma de redes intertextuais. A

intertextualidade pode ser em sentido amplo (heterogeneidade constitutiva) ou em sentido restrito

(heterogeneidade mostrada).

Segundo Koch (2000, p. 47-50), a intertextualidade em sentido amplo é uma condição de

existência do próprio discurso, podendo ser aproximada do que se denomina interdiscurso na Análise do

Discurso. Já a intertextualidade em sentido restrito diz respeito “à relação de um texto com outros textos

previamente existentes, i. e., efetivamente produzidos”.

Koch considera os seguintes tipos de intertextualidade em sentido restrito:

a) De conteúdo X de forma/conteúdo: a primeira ocorre entre textos científicos de uma mesma área ou

corrente do conhecimento, que se servem de conceitos e expressões comuns, entre matérias de jornais,

no mesmo dia ou no período de tempo em que dado assunto é enfocado etc.; a segunda, quando o

autor de um texto imita ou parodia a linguagem de determinado escritos ou de um dado segmento da

sociedade;

b) Explícita X implícita: a primeira ocorre quando há citação da fonte do intertexto, como no discurso

relatado, nas citações e referências, nos resumos, resenhas e traduções etc.; a segunda ocorre sem citação

expressa da fonte, cabendo ao interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto,

como nas alusões, na paródia, em certos tipos de paráfrase e de ironia;

c) Das semelhanças X das diferenças: na primeira, o texto incorpora o intertexto para seguir sua

orientação argumentativa e, com freqüência, para apoiar nele a argumentação. Na segunda, o

texto incorpora o intertexto para ridicularizá-lo, mostrar sua improcedência ou, pelos menos, colocá-lo

em questão;

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59

d) Com intertexto alheio, próprio ou atribuído a um enunciador genérico.

Koch (2000, p. 50) afirma que todas essas manifestações da intertextualidade apontam-na

como fator relevante na construção da coerência textual. Porém, aqui, abordar-se-á apenas a intertextualidade

explícita, em forma de citação, por ela ser uma das características do texto científico, neste caso, do artigo

científico; pois, pela natureza desse gênero, não se pode dizer algo sem fundamentação, por isso há a

necessidade de se recorrer a outros textos.

A presença do discurso do outro (citação), segundo Bakhtin (2002), pode ocorrer, basicamente,

de duas formas: direta e indireta.

O discurso direto (DD) é entendido “pelo falante da língua como a enunciação de uma outra

pessoa, completamente independente na origem, dotada de uma construção completa [...]” (p. 144). É

um discurso interativo secundário encaixado em outro tipo de discurso, i. e., no discurso principal. É uma

transcrição literal das palavras do autor-fonte. Em geral, é introduzido por verbos dicendi.

Prefere-se esse tipo de discurso nos textos científicos, pois permite mais fidelidade

às palavras do autor-fonte. Porém, a segurança da exatidão das citações diretas é ilusória, pois o

indivíduo que cita pode utilizar-se de alguns mecanismos para apresentar sua impressão sobre o que é

citado, como os verbos dicendi. Assim, esse tipo de citação pode ser manipulado conforme as intenções

do autor do texto. É o que afirma Maingueneau (2001, p. 141), “[...] o DD não pode, então, ser

objetivo: por mais que seja fiel, o discurso direto é sempre apenas um fragmento de texto

submetido ao enunciador do discurso citante, que dispõe de múltiplos meios para lhe dar um enfoque

pessoal.”

Já o discurso indireto (DI) “ouve de forma diferente o discurso de outrem; ele integra

ativamente e concretiza na sua transmissão outros elementos e matizes que os outros esquemas deixam

de lado.” (BAKHTIN, 2002, p. 159). Isso significa que esse tipo de discurso pode criar diferentes

efeitos de sentido, eliminando, por exemplo, os elementos emocionais ou afetivos presentes no

discurso direto. No discurso indireto, não há a reprodução literal do discurso-fonte.

Como se pode perceber, tanto no discurso direto como no indireto é revelada a opinião

do autor-produtor de um texto sobre o que está produzindo. Essa afirmação é a mesma de

Marcuschi (1981, p. 01): “ao se reproduzir as opiniões de alguém, procede-se a uma nova seleção de

termos e a outra construção sintática que as do autor. Embora esse processo aparente certa inocência,

não impede a possibilidade de distorção ou interferência no discurso relatado.” Assim, pode-se afirma que

a transmissão do discurso de outras pessoas é tanto uma estratégia discursiva como textual.

Como se pode notar, a intertextualidade e a polifonia são fenômenos afins, porém Koch (p.

57) afirma que não há coincidência total entre esses fenômenos. Para ela, o conceito de polifonia recobre

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o de intertextualidade. Assim, todo caso de intertextualidade é um caso de polifonia, não sendo, porém,

verdadeiro o oposto: há casos de polifonia que não podem ser vistos como manifestações de

intertextualidade. Porém, para esta pesquisa, adota-se o termo “vozes” tanto para a polifonia quanto para

a intertextualidade; pois, como se viu, não há uma sistematização apropriada para distinguir esses dois

fenômenos. Alguns fenômenos vistos acima são classificados tanto como polifonia quanto

intertextualidade.

22..88..11..11 TTiippoo ddee vvoozzeess

Bronckart (1999, p. 130) afirma que é o autor, à primeira vista, que assume ou toma

posição sobre o que é enunciado, ou que, ao contrário, atribui explicitamente essa responsabilidade

a outros. Assim, o autor seria, aparentemente, responsável pela escolha do conteúdo temático a ser

semiotizado, pelo modelo de gênero próprio a uma determinada situação de comunicação, pela

seleção e organização das seqüências textuais, e pelo gerenciamento dos diversos mecanismos de

textualização, etc.; i. e., seria autor aquele que é responsável pela totalidade das operações que darão ao

texto seu aspecto definitivo.

Assim, o autor seria aquele que está na origem do texto, pelo qual é responsável, porém

não seria o único responsável pelo que é enunciado. São as vozes que assumem a responsabilidade do

que é enunciado.

Bronckart (p. 130-131) afirma que, num texto, há três subconjuntos de vozes que podem ser

expressas: a voz do autor, as vozes sociais e a das personagens.

A voz do autor, presentes nas glosas (comentário e explicação do dizer do autor), é oriunda

diretamente da pessoa que produz o texto e que intervém, para comentar ou avaliar alguns aspectos do

que é enunciado. As vozes sociais são as vozes de outras pessoas ou de instituições humanas exteriores

ao conteúdo temático do texto, porém são mencionadas como instâncias externas avaliadoras de alguns

aspectos desse conteúdo. E as vozes de personagens, feitas através do discurso direto e indireto, são

aquelas de pessoas ou de entidades humanizadas que estão diretamente implicadas no percurso

temático.

Essas vozes podem ser encontradas isoladas ou juntas num texto, dando a este um caráter

polifônico, onde várias vozes são ouvidas num só texto.

Conforme Cunha (2001, p. 166), “o estudo das vozes permite compreender o diálogo

entre os diferentes discursos que constituem o texto e entre os sujeitos que se confrontam nesse

espaço interlocutivo”. Assim, é por meio das formas marcadas e não mostradas de dialogismo que a

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61

posição e os pontos de vista do enunciador do discurso atual, o grau de distância ou de adesão dos

discursos dos enunciadores citados ou mencionados, e os lugares ocupados por eles são percebidos.

22..88..22 MMooddaalliizzaaççõõeess

As modalizações são as avaliações formuladas sobre alguns aspectos do conteúdo temático.

Elas contribuem para o estabelecimento de sua coerência pragmática ou interativa e para orientar o

destinatário na interpretação de seu conteúdo temático (BRONCKART, 1999, p. 330). As modalizações

são realizadas por unidades ou conjuntos de unidades lingüísticas chamadas de modalidades. As

modalidades seriam representadas por tempos do verbo no futuro do pretérito, auxiliares de

modalizações (poder, querer, ser necessário, ser preciso, dever etc.), subconjunto de advérbios

(certamente, sem dúvida, talvez etc.), certas frases impessoais (é evidente que..., é possível que...) etc.

Bronckart (p. 330-336) apresenta quatro funções de modalização, inspirado na teoria

dos três mundos herdada de Habermas (1987): modalizações lógicas, deônticas, pragmáticas e

modalidades apreciativas.

As modalizações lógicas consistem em uma avaliação de alguns elementos do conteúdo

temático, que são apresentados como fatos certos, possíveis, prováveis, improváveis, necessários etc.

As modalizações deônticas avaliam alguns elementos do conteúdo temático, à luz dos valores

sociais, apresentando-os como (socialmente, permitidos, proibidos, necessários, desejáveis etc.). As

modalizações pragmáticas introduzem um julgamento sobre uma das facetas da responsabilidade de

um personagem em relação ao processo de que é agente, e atribuem a esse agente intenções, razões,

capacidade de ação. Já as modalidades apreciativas avaliam, de forma subjetiva, alguns aspectos

do conteúdo temático, apresentando-os como bons, maus, estranhos, infelizes, etc., do ponto de vista

da instância avaliadora.

As modalizações lógicas e deônticas podem ser traduzidas por uma ou outra das unidades

de marcação. A apreciativa é, marcada, preferencialmente por advérbios ou orações adverbiais; e a

pragmática, pelos auxiliares de modo, em sua forma estrita ou ampliada.

Conforme Ilari (1992, p. 217), a modalização é “uma avaliação prévia do falante sobre o

conteúdo da proposição que ele vai veicular, decorrendo daqui suas decisões sobre afirmar, negar,

interrogar, ordenar, permitir, expressar a certeza ou dúvida sobre esse conteúdo etc.”. Para tanto,

a modalização movimenta diferentes recursos lingüísticos, dentre eles: l- os modos verbais; 2- os verbos

auxiliares como dever, poder, querer e os verbos como achar, crer, acreditar; 3- adjetivos, sós ou em

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expressões como “é possível”, “é claro”, “é desejável”; 4- advérbios como possivelmente, exatamente

etc.; 5- sintagmas preposicionados em função adverbial, como “na verdade”, “em realidade” etc.

Ilari (1992, p. 222-223) distingue três tipos de modalização: a epistêmica, a deôntica

e a afetiva. Essa classificação equivale, respectivamente, às modalizações lógica, deôntica e

apreciativas, na terminologia de Bronckart, vista acima.

Os modalizadores epistêmicos expressam uma avaliação sobre o valor de verdade e as

condições de verdade da proposição. Ilari divide esses modalizadores em três subclasses: os asseverativos,

os quase-asseverativos e os delimitadores.

Os asseverativos indicam que o falante considera verdadeiro o conteúdo da

proposição, apresentado por ele como uma afirmação ou uma negação que não dão margem a dúvidas,

constituindo-se numa necessidade epistêmica. Como exemplo, temos os seguintes asseverativos: a-

afirmativos: realmente, evidentemente, naturalmente, obviamente etc.; b- negativos: de jeito nenhum,

de forma alguma.

Os quase-asseverativos indicam que o falante considera o conteúdo da proposição quase

certo, próximo à verdade, como uma hipótese que depende de confirmação, e por isso mesmo ele se

furta “a toda responsabilidade sobre a verdade ou a falsidade da proposição”. Exemplo: talvez, assim,

possivelmente, provavelmente, eventualmente.

Os modalizadores deônticos, por sua vez, indicam que o falante considera o

conteúdo da proposição como um estado de coisas que deve, que precisa ocorrer obrigatoriamente,

como exemplo; obrigatoriamente, necessariamente etc. Já os modalizadores afetivos verbalizam as

reações emotivas do falante em face do conteúdo proposicional, deixando de lado quaisquer

considerações de caráter epistêmico ou deôntico. Ilari distingue dois tipos de modalizadores afetivos: a-

subjetivos. expressam uma predicação dupla, a do falante em face da proposição e a da própria

proposição, como em felizmente, curiosamente, espontaneamente etc.; b- intersubjetivo: expressam

uma predicação simples, assumida pelo falante em face de seu interlocutor, a propósito da

proposição, como em sinceramente, francamente etc.

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63

CCAAPPÍÍTTUULLOO IIIIII

AANNÁÁLLIISSEE DDOOSS AARRTTIIGGOOSS CCIIEENNTTÍÍFFIICCOOSS

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64

Este capítulo tem como objetivo fazer a análise dos artigos: l- A gramática e as decisões

lingüísticas dos usuários; 2- O funcionamento polifônico da argumentação; 3- O Bal Masqué das intenções;

4- A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa; 5- Formas de

referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de português, baseada

nos seguintes níveis de análise: l- Domínio discursivo e modalidade; 2- Conteúdo temático:

macroestrutura; 3- Construção composicional: a) superestrutura e b) infra-estrutura: seqüência textual; 4-

Estilo verbal: a) mecanismos de textualização: conexão, coesão nominal e coesão verbal e b) mecanismos

enunciativos: vozes e modalizações.

A análise que será feita dos artigos não tem o objetivo de criticar nem de endossar a posição dos

autores, mas de apenas expor.

33..11 DDoommíínniioo ddiissccuurrssiivvoo ee mmooddaalliiddaaddee

Como já era de se esperar, os artigos analisados pertencem ao domínio discursivo científico.

Quanto à modalidade, os artigos pertencem aos gêneros secundários (escrita), e estariam no

nível mais alto em relação ao diagrama de Marcuschi (2001, p. 41), ou seja, os mesmos possuem mais

características da escrita do que da fala. Isso acontece porque eles são produzidos no domínio discursivo

científico, que busca a objetividade, através de uma linguagem mais objetiva, concisa, padrão, etc.

33..22 CCoonntteeúúddoo tteemmááttiiccoo:: mmaaccrrooeessttrruuttuurraa

Artigo 1: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários.

Este artigo é do tipo argumento teórico, pois enfoca um dado argumento e depois os fatos que

possam prová-lo ou refutá-lo. Esse argumento é a defesa da posição de que uma gramática do usuário teria

a difícil, mas necessária missão de ajudar o falante/escritor a transformar-se de dependente em decisor

lingüístico; isso dentro de uma pedagogia da libertação lingüística.

Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação.

Este artigo é do tipo artigo de análise, pois analisa cada elemento constitutivo do assunto e sua

relação com o todo. A análise consiste na investigação de alguns mecanismos que evidenciam que o

discurso é por natureza polifônico, especificamente o funcionamento polifônico da argumentação.

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Artigo 3: O Bal Masqué das intenções.

Este artigo é do tipo artigo de análise. Ele analisa os aspectos pelos quais o locutor implica o

interlocutor, impondo-lhe sua opinião, declarando sua posição face a sua própria opinião ou a desvinculação

do locutor e do interlocutor no ato de locução. Esses recursos são utilizados como instrumentos de persuasão.

Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa.

Este artigo é do tipo artigo de análise. Ele analisa o combate de Lima Barreto contra o

poder da linguagem – dominação lingüística – sob a forma de “correção de linguagem”, através de

uma ideologia lingüística presente em sua produção literária, por meio de um discurso metalingüístico. Esse

ideário lingüístico consiste na afirmação de Lima Barreto como um escritor que fez do desvio da

norma lingüística vigente uma de suas principais bandeiras estéticas.

Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de

português.

Este artigo é do tipo artigo de análise, pois faz a análise de cada elemento constitutivo

do assunto e sua relação com o todo. Essa análise consiste na investigação das formas de referenciação aos

autores utilizados e as formas de citação do discurso do outro na construção da fundamentação dos textos

acadêmicos produzidos por alunos/professores de português; visando instrumentalizar os alunos

universitários na produção de textos escritos acadêmicos por parte dos professores de língua portuguesa.

Quadro 1: Conteúdo temático: macroestrutura

Tipos

Artigo Argumento Teórico

Artigo de Análise

Artigo Classificatório

Artigo 1

X

——

——

Artigo 2

——

X

——

Artigo 3

——

X

——

Artigo 4

——

X

——

Artigo 5

——

X

——

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66

Como se pode observar no quadro acima, houve preferência, por parte dos

autores, pelo artigo de análise (quatro). Houve apenas uma ocorrência do artigo argumento teórico, e

nenhuma do artigo classificatório.

33..33 CCoonnssttrruuççããoo ccoommppoossiicciioonnaall

33..33..11 SSuuppeerreessttrruuttuurraa

Artigo 1: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários.

Este artigo apresenta a seguinte superestrutura:

1- Preliminares:

a) Título: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários;

b) Autor: Francisco Gomes de Matos.

2- Resumo: este artigo não apresenta resumo nem abstract.

3- Corpo do artigo:

a) Introdução: Nessa seção, encontram-se a colocação do problema, o objetivo e a limitação. Não há

metodologia.

Na colocação do problema, contida no primeiro parágrafo e na primeira parte do segundo,

o autor apresenta a questão da elaboração de gramáticas centradas nas intenções, nos interesses e nas

necessidades dos usuários do português como língua materna.

O objetivo é apresentado no final do segundo parágrafo. O autor afirma que o objetivo

é evidenciar a importância da gramática do usuário como transformadora do falante/escritor

dependente em decisor lingüístico; isso dentro de uma pedagogia da libertação lingüística.

A limitação do assunto é feita no último parágrafo da seção Introdução, enfocando a

descrição e explicitação das etapas interrelacionadas no processo decisório no qual o usuário de língua

materna está engajado, e a ajuda a estudantes a descobrirem, compreenderem e a resolverem seus problemas

de comunicação oral e escrita.

b) Texto: A apresentação do estudo é feita sob os itens “Gramática cognitiva e decisores lingüísticos”,

“Estratégias em um processo decisório: o que o usuário se perguntaria”, “O usuário independente,

tradutor de prescrição em descrição e decisão”, e “O lingüista e a formação dos gramáticos escolares”.

c) Conclusão: É posta sob o título “Conclusão à espera de continuadores: da teoria à praxis decisória”.

Nessa seção, o autor expõe seu ponto de vista quanto ao assunto tratado. Para ele, as gramáticas de uso

deveriam partir do princípio de que o usuário tem o direito de tomar decisões lingüísticas no momento em

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que interage com outros usuários da língua. Além disso, enfatiza que é de competência do lingüista ajudar o

autor de material didático e do professor de português a criarem condições favoráveis ao

desenvolvimento da auto-confiança lingüística dos alunos.

4- Parte referencial: A seção referências bibliográficas é composta de seis títulos, quatro da década de 80,

uma da de 70 e outra da de 60.

Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação.

Este artigo apresenta a seguinte superestrutura:

1- Preliminares:

a) Título: O funcionamento polifônico da argumentação;

b) Autor: Ingedore G. Villaça Koch;

c) Local de atividade: Unicamp.

2- Resumo: o presente artigo não apresenta resumo nem abstract.

3- Corpo do artigo:

a) Introdução: esta seção não vem especificada como tal, mas pode-se inferir que ela se encontra no

primeiro e segundo parágrafos. No primeiro parágrafo, é feita a colocação do problema, que consiste na

afirmação de que todo discurso é por natureza polifônico. No segundo parágrafo, se encontra o objetivo do

artigo: a discussão do funcionamento polifônico na argumentação; e a metodologia: a partir de certos

mecanismos exemplares desse funcionamento;

b) Texto: a apresentação do estudo é feita nos itens “Introdução de uma perspectiva que é também a do

locutor e a partir da qual ele argumenta” e “Incorporação de perspectivas às quais o locutor não adere e,

portanto, contra as quais argumenta”. Na apresentação do estudo, a autora expõe os mecanismos polifônicos

que o produtor de texto usa como mecanismos de adesão à sua posição, concordando ou discordando do

discurso do outro por ele utilizado;

c) Conclusão: nessa seção, a autora apresenta seu ponto de vista, que consiste na afirmação de que todo

texto é polifônico (perpassado por vozes de diferentes enunciadores), ora concordantes, ora

dissonantes, confirmando assim que o fenômeno “argumentação” é essencialmente polifônico.

4- Parte referencial: é composta pelas referências bibliográficas, que contêm 14 títulos,

pertencendo à década de 80, na sua maioria.

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Artigo 3: O Bal Masqué das intenções.

Este artigo apresenta a seguinte superestrutura:

1- Preliminares:

a) Título: O Bal Masqué das intenções;

b) Autor: Yaracylda Farias.

2- Resumo: aqui a autora apresenta a posição defendida e o objetivo do trabalho. Este resumo não segue

os quatros movimentos propostos por Bhatia. Logo após, são apresentadas as palavras-chave. Não

há o resumo em língua estrangeira.

3- Corpo do artigo:

a) Introdução: não vem explícita com esse título, mas pode-se identificá-la, a partir da leitura, nos três

primeiros parágrafos.

No primeiro parágrafo e na metade do segundo, está a colocação do problema, que consiste

na afirmação de que o “Eu” que fala no discurso publicitário nem sempre é o “Eu” que diz, sendo a

soma do publicitário que elabora o texto, o fabricante que o aprovou, os actantes da ficção e as

projeções do “eu” dos consumidores.

O objetivo da autora é exposto no terceiro parágrafo, consistindo na demonstração da

maneira pela qual o locutor implica o interlocutor impondo-lhe a sua opinião, como ele declara a sua

posição face a sua própria opinião ou a desvinculação do locutor e do interlocutor no ato de

locução.

A limitação do assunto (o estudo dos atos alocutivo, elocutivo e delocutivo do autor) e

a metodologia (a partir de exemplos dados em frases extraídas de periódicos franceses) são

apresentadas no terceiro parágrafo.

b) Texto: a apresentação do assunto é feita a partir do quarto parágrafo em diante, sob os itens “Modalidade

delocutiva”, “Alocutiva: Modalidades do fazer agir, e Modalidades do fazer dizer”; “elocutiva”.

c) Conclusão: é feita sob o item “Reflexões finais”. Aqui a autora expõe seu ponto de vista, que consiste

em afirmar que a publicidade tem como objetivo reavivar o conflito dos indivíduos na sociedade

atual: a necessidade de socialização e de fortalecimento em grupos de interesses comuns, e por outro lado, o

desejo de ser único e especial.

Após a conclusão, há a seção “Notas”, que consiste na ampliação e explicação de alguns itens

vistos no decorrer da apresentação do assunto.

4- Parte referencial:

a) Apêndices: tradução dos exemplos em francês utilizados no artigo;

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b) Referências bibliográficas: composta de sete títulos, um da década de 60, dois da de 70, um da década de 80

e três da de 90.

Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa.

Este artigo apresenta a seguinte superestrutura:

1- Preliminares:

a) Título: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a língua portuguesa;

b) Autor: Maurício Silva;

b) Local de atividade: Universidade Santo Amaro (SP).

2- Resumo: após as preliminares, é apresentado o resumo tanto na língua portuguesa como na língua inglesa

(Abstract). Há também o item Key Words no final das notas, contendo uma lista de cinco palavras-chave

que auxiliam o leitor na apreensão do conteúdo do artigo, ou sintetizam as idéias-chave do autor.

3- Corpo do artigo:

a) Introdução: embora não venha explicitamente marcada pelo seu título, infere-se, pela sua leitura, que a

parte situada entre o Abstract e o tópico Ideário Lingüístico e Discurso se trata da Introdução, onde se

encontram a apresentação do assunto, do objetivo, da metodologia, das limitações e proposições.

Na apresentação do assunto, contida nos parágrafos l e 2 e o primeiro período do parágrafo 3, o

autor apresenta a questão das discussões sobre os estudos destinados à análise da língua portuguesa, ocorridos

no século XIX, principalmente, na segunda metade do século; acarretando uma série de abordagens inéditas

a partir de então, por grandes estudiosos da língua, como Celso Cunha, Mattoso Câmara, entre outros.

Afirma que, além da contribuição de especialistas sobre a língua portuguesa, houve também contribuição de

alguns escritores dedicados à arte de ficção. Além de escritores como José de Alencar, Monteiro Lobato,

Gonçalves Dias etc., destaca-se a figura do romancista Lima Barreto.

Após a apresentação do assunto, segue-se o objetivo, no segundo período em diante do

parágrafo três. O autor afirma que o objetivo do trabalho é depreender a formação de um ideário lingüístico

de Lima Barreto a partir da abordagem do discurso metalingüístico empregado por Lima.

O parágrafo quatro destina-se à metodologia. Seu fundamento metodológico genérico

encontra-se na interseção interdisciplinar entre literatura e lingüística. No segundo período, o autor afirma

que, especificamente, a base teórica se apoiará tanto na historiografia lingüística quanto na análise do discurso.

Levando em consideração o dito na metodologia, o autor limita e propõe uma abordagem

historiográfica desse assunto.

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70

b) Texto: depois da Introdução, segue-se o texto propriamente dito, ou seja, o desenvolvimento,

intitulado de Ideário Lingüístico e Discurso. Aí são feitas a exposição, a explicação e demonstração do

material; avaliação dos resultados e comparação com obras anteriores;

c) Conclusão: nessa parte, são apresentadas as inferências, baseadas e fundamentadas no texto. O autor

afirma que Lima Barreto lutava contra o domínio da elite através da linguagem, por meio de seu ideário

lingüístico contido em suas obras.

4- Parte referencial:

a) Bibliografia: nessa seção, intitulada de Notas pelo autor, são apresentadas as relações das obras de onde

foram retiradas as citações que percorrem todo o artigo e que serviram de referencial teórico para o autor.

Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de

português.

Este artigo apresenta a seguinte superestrutura:

l - Preliminares:

a) Título: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de

português;

b) Autor: Angela Paiva Dionísio.

2- Resumo: este artigo apresenta o abstract, no início, e o resumo, no final. Não possui palavras-

chave.

3- Corpo do texto:

a) Introdução: apesar de não vir expressa com essa designação, pode-se localizá-la do primeiro

ao sexto parágrafo.

No primeiro parágrafo, encontra-se a colocação do problema, que consiste na

afirmação de que cabe aos professores de língua portuguesa em qualquer instância de ensino assegurar

aos alunos condições de produção de textos escritos.

O objetivo se encontra na primeira parte do segundo parágrafo, e consiste na

investigação das formas de referenciação aos autores utilizados e as formas de citação do discurso do

outro na construção da fundamentação teórica dos textos acadêmicos produzidos por alunos/professores

de português.

A metodologia é apresentada a partir do segundo parágrafo, com a descrição do corpus,

até o sexto parágrafo, com a descrição de como os alunos utilizaram os mecanismos de referenciação a

autores nos seus próprios textos.

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71

A limitação do assunto se encontra no final do sexto parágrafo. A autora afirma que só vai

se ater à noção de intertextualidade no sentido restrito do tipo explícita, i. e., aquela em que ocorrem

citações da fonte do intertexto.

b) Texto: a apresentação do estudo é feita a partir do parágrafo sétimo sob os itens “A

referenciação com a função de introduzir autores estudados” e “A referenciação com a função de retomar

os autores mencionados”, onde são discutidas essas duas formas de referenciação nos textos produzidos

pelos alunos.

c) Conclusão: nessa seção, a autora apresenta seu ponto de vista em relação ao que foi tratado no texto,

que consiste na afirmação de que: “como alunos de Letras ainda não estabelecem uma interação

entre teoria e análise, como professores de Letras sabem que precisam estabelecer esta interação,

falta-lhes, porém, domínio dos mecanismos textuais peculiares ao discurso do expor”.

4 Parte referencial: a referência bibliográfica é composta de nove títulos, um pertencente a década de

60, outro a de 2000, e o restante à década de 90.

Quadro 2: Construção composicional: superestrutura

Partes

Artigo 1

Artigo 2

Artigo 3

Artigo 4

Artigo 5

Título

X

X

X

X

X

Autor

X

X

X

X

X

Credencial

——

——

——

——

——

Preliminares

Local de atividade

——

X ——

X ——

Vernáculo

——

——

X

X

X

Inglês

——

——

——

X

X Si

nopse

Palavras-chave

——

——

X

X

——

Introdução

X

X

X

X

X

Texto

X

X

X

X

X

Corpo do

trabalho

Conclusões

X

X

X

X

X

Bibliografia

X

X

X

X

X

Apêndice

——

——

X

——

——

Anexos

——

——

——

——

——

Parte

referencial

Datas

——

——

——

——

——

Pelo quadro, observa-se que os cincos artigos apresentam os seguintes elementos em

comum: 1- Preliminares: título, autor; 2- Corpo do artigo: introdução, texto e conclusão; 3- Parte

referencial: bibliografia. Assim, pode-se dizer que essa é a estrutura mínima/padrão dos artigos

científicos.

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72

Além desses itens, o artigo 2 apresenta o local de atividade. O artigo 3 apresenta o resumo

em vernáculo, as palavras-chave e apêndice7. Já o artigo 4 apresenta o local de atividade, resumo

em vernáculo e em língua inglesa e palavras-chave em inglês (esse é o artigo mais completo dentre

os cinco). E, por fim, o artigo 5, que apresenta o resumo em vernáculo e em língua inglesa.

Nenhum dos artigos apresentou a credencial do autor, anexos e datas. O artigo l foi o

único que apresentou só a estrutura mínima de um artigo. E nenhum dos artigos apresentou todos

os itens do quadro acima, i. e., a estrutura completa.

Em relação ao artigo argumento teórico (artigo 1), os artigos de análise

apresentaram mais itens.

3.3.2 Infra-estrutura: seqüência textual Artigo 1: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários.

Há, neste artigo, uma mesclagem do protótipo da seqüência argumentativa com a expositiva. O

autor parte da premissa, localizada na segunda parte do segundo parágrafo, de que uma gramática do

usuário teria a difícil, mas necessária missão de ajudar o falante/escritor a transformar-se de

dependente em decisor lingüístico (p. 19), e diz em que patamar estão esses estudos: “estamos engatinhando

na concepção e produção de gramáticas que contribuam para a eficácia comunicativa dos usuários” (p. 20).

Após a colocação da constatação de partida, o autor usa a terceira fase da seqüência

expositiva, i. e., a resolução, para defender sua posição. Ele não usa argumentos nem contra-argumentos, que

seriam a segunda e a terceira fases da seqüência argumentativa.

Primeiro, o autor usa uma lista de procedimentos necessários para tornar o usuário da língua um

decisor lingüístico (resolução 1) (p. 21). Após essa primeira resolução, ele põe a segunda resolução, que possui

duas etapas: l- Conscientizar o usuário que pode optar por uma ou outra forma de dizer algo, descobrindo e

usando a alternativa mais adequada; 2- Propor ao professor que adote uma postura humanista construtivista na

forma de avaliar uma redação ao invés da forma dicotômica certo ou errado.

A terceira resolução dada pelo autor em defesa de sua posição é a conscientização do papel do

lingüista contemporâneo na ajuda do preparo dos autores de gramáticas pedagógicas para

contribuírem para o desenvolvimento da confiança e da competência sociopragmática dos usuários de

língua materna (p. 22).

7 Apesar de a autora de intitulado a tradução dos exemplos de anexo, o nome devido deveria ser apêndice, pois se trata de texto produzido pela própria autora, e não de texto de outros autores.

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73

Após essa série de resoluções, o autor chega à conclusão, afirmando e corroborando

a sua posição. O autor conclui dizendo que “uma gramática para o usuário de língua portuguesa parte do

princípio de que toda pessoa tem o direito de tomar decisões lingüísticas – ser um decisor lingüístico – ao

interagir com outros usuários da mesma língua” (p. 22, 23).

Como pode-se observar, este artigo apresenta a mesclagem da seqüência

argumentativa com a expositiva, apresentando o seguinte protótipo: l- Premissa; 2-Resolução: l, 2 e

3; 3- Avaliação.

Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação.

Este artigo possui uma seqüência expositiva.

Primeiro, é apresentada a constatação inicial, o discurso é por natureza polifônico (p. 31). Não é

uma tese a ser defendida, mas uma verdade incontestável, como a autora mesmo afirma: “Constitui

hoje quase um truísmo dizer que o discurso é por natureza polifônico”.

Após a constatação inicial, a autora põe a problematização: “a discussão do

funcionamento polifônico da argumentação, através do exame de alguns mecanismos exemplares

desse funcionamento” (p. 31).

Depois da problematização, há a resolução, na qual a autora utiliza dois recursos para responder

à questão colocada sobre o funcionamento polifônico do discurso. O primeiro está no item “Introdução de uma

perspectiva que é também a do locutor e a partir da qual ele argumenta”, i. e., argumentação por

autoridade, em que a autora distingue dois tipos de argumentação por autoridade: a autoridade polifônica

e o arrazoado por autoridade; ambas utilizadas para, a partir delas, argumentar-se a favor de determinada

posição (p. 31, 32). O segundo recurso está no item “Incorporação de perspectivas às quais o locutor não

adere e, portanto, contra as quais argumenta”, em que a autora discute os mecanismos utilizados pelo

produtor de texto, que se utiliza do discurso alheio para rebatê-lo, a fim de dar sustentação a sua posição

diante de um determinado assunto, problema etc. Esse segundo recurso é obtido através dos seguintes

mecanismos: a) operadores que pertencem ao paradigma do mas ou do embora, b) operadores como ao

contrário, pelo contrário, c) enunciadores comparativos de igualdade; d) aspas de distanciamento; e)

détournement; f) paródia; g) ironia etc. (p. 32-35).

Após a resolução, é posta a conclusão-avaliação, na qual a autora expressa seu ponto de

vista em relação à constatação inicial, afirmando que, de fato, “todo texto é perpassado por vozes de

diferentes enunciadores, ora concordantes, ora dissonantes, o que faz com que se caracterize o fenômeno da

linguagem humana – e, portanto, o da argumentação – como essencialmente polifônico”. Assim, a autora

reformula e complementa a constatação inicial.

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74

Artigo 3: O Bal Masqué das intenções.

Este artigo é composto pela seqüência expositiva.

Na fase inicial, a autora introduz uma constatação de partida: “Na comunicação publicitária, o

‘eu’ que fala nem sempre é o ‘eu’ que diz, tratando-se antes de uma entidade prismática contendo em

suas faces o publicitário que elaborou o texto, o fabricante que o aprovou, os actantes da ficção e as

projeções do ‘eu’ dos consumidores” (p. 55); “a publicidade joga com este delírio do ‘eu’, propondo ao

indivíduo ser igual a tantos outros que desejam – ou ‘necessitam de’ – prestígio, tranqüilidade, conforto,

segurança, beleza etc.” ; “ou seja, como, na publicidade, a posição e o comportamento dos sujeitos da

enunciação servem de instrumentos de persuasão” (p. 55, 56).

Após a constatação inicial, há a problematização, onde é explicitada uma questão da ordem do

como: l- Como o locutor implica o interlocutor impondo-lhe a sua opinião; 2-Como ele declara a sua posição

face a sua própria opinião; 3- ou a desvinculação do locutor e do interlocutor no ato de locução (p. 56). Isso é

feito através de comentário e exemplificação de cada tipo de ato.

Após a Problematização, há a fase da Resolução, na qual são introduzidos os elementos

capazes de responder às questões colocadas. A Resolução é posta, comentada e exemplificada nas três

divisões do corpo do artigo: l- Modalidade delocutiva; 2- Alocutiva; e 3- Elocutiva. A autora não usa contra-

argumentos para provar sua posição.

Finalmente, após a Resolução, há a conclusão, na qual a autora afirma “a publicidade

reaviva o conflito dos indivíduos na sua afirmação na sociedade atual, que consiste, por um lado, na

necessidade de socialização e de fortalecimento em grupos de interesses comuns, e por outro lado, no

desejo de ser único e especial” (p. 66).

Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa.

Este artigo é constituído pela seqüência expositiva.

Na primeira fase, o autor propõe uma constatação de partida: “A ideologia lingüística

presente na produção literária de Lima Barreto, por meio de um discurso metalingüístico” (p. 151), i.

e., o autor irá falar sobre o poder da linguagem. Essa ideologia consiste na afirmação de Lima Barreto como

escritor que fez do desvio da norma lingüística vigente (preservada pelo conservadorismo da Academia

Brasileira de Letras) uma de suas principais bandeiras estéticas. Isso não era uma atitude acomodada de

isolamento, mas um combate fervoroso contra toda forma de dominação lingüística (p. 153).

Para provar sua posição, o autor lança mão da fase Resolução, encontrada no item “Ideário

lingüístico e discurso”, que é o combate de Lima Barreto contra o poder lingüístico sob a forma de “correção

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75

de linguagem”, que é desdobrada em três categorias conceituais: o preciosismo gramatical, o purismo e o

academicismo estético (p. 153). Isso é feito através de comentários extraídos de obras de Lima Barreto, a

fim de provar seu posicionamento lingüístico.

No caso do preciosismo gramatical, Lima Barreto adota a posição de uma relativa flexibilidade

no uso da linguagem, um reconhecimento de equivalências e variantes; i. e., ele era um defensor da liberdade

gramatical (p. 155).

No purismo, a posição de Lima Barreto era o combate contra aqueles que procuravam

ditar regras para um pretenso bom uso da linguagem. Sua posição é que a boa linguagem era aquela que

conseguisse a transmissão de idéias profundas, preferencialmente de cunho social, com simplicidade e clareza

(p. 156).

Já na questão do academicismo estilístico, Lima Barreto coloca sob suspeita a validade da

linguagem imposta pela tradição acadêmica, que acaba falseando a realidade.

Outra informação utilizada na comprovação da posição do autor é uma das propostas

apresentadas por Lima Barreto, que consiste na revalorização de uma tradição lingüística, entendida

como, primeiro, a recuperação de um discurso fundador de nossa nacionalidade; segundo, a idéia de

liberdade lingüística.

Na “conclusão-avaliação”, o autor afirma que a luta de Lima Barreto contra os cânones

lingüísticos de sua época apresenta propostas com forte apelo nacionalista; e que a posição deste em relação

à língua é que ela “se afirma como uma incontestável expressão do poder constituído”.

Assim, ele vai de encontro a tudo aquilo que a estética oficial representava e,

principalmente, ao poder político-social que essa retórica simbolizava de modo tão substantivo, ao

usar uma linguagem marcada pelo desleixo intencional (p. 160, 161).

Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de

português.

Este artigo faz a análise do problema posto pela autora. Portanto, seu objetivo é expor os

resultados da análise. Assim, a seqüência textual é a expositiva.

Em relação à seqüência expositiva, há a constatação inicial, em que a autora afirma que

“entrelaçar as diversas leituras, os diversos autores e diversos pontos de vista no seu próprio texto é uma

atividade que exige dos alunos compreensão dos textos de base e gerenciamento de estratégias de escrita

específicas, tais como os mecanismos enunciativos e os mecanismos coesivos” (p. 236). Não se trata de uma

tese que será defendida, mas de um fenômeno não contestável.

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76

Após a constatação inicial, a autora coloca a problematização, que consiste na

afirmação de que “a referenciação a autores é, portanto, um mecanismo de coesão nominal com as

funções de introduzir o(s) autor(es) e de assegurar sua retomada ou substituição no decorrer do texto”

(p. 236).

Em seguida à problematização, há a resolução, na qual a autora introduz as

informações suplementares que respondem às questões colocadas. Isso é feito nos itens “a

referenciação com a função de introduzir autores estudados” e “a referenciação com a função de retomar

os autores mencionados”. No primeiro, a autora constata que os alunos, ao apresentarem o

conteúdo temático por meio da referenciação intertextual, atribuíram diretamente a responsabilidade

das informações a terceiros (p. 236). Para expor esse fato, a autora, por meio de uma tabela (Tabela 1),

enumera os mecanismos textuais com função de introduzir os autores em relação aos gêneros

abordados (resenhas, artigos científicos., monografias), utilizados pelos alunos. Após a tabela, há uma

série de exemplos e comentários que se referem a cada item mencionado nela.

No segundo item, a autora expõe como foi feita, por parte dos alunos, a

referenciação com a função de retomar os autores mencionados, nos três gêneros analisados. Isso é feito

através de uma tabela (Tabela 2). Após essa tabela, a autora exemplifica como esse tipo de

referenciação foi feito (p. 241).

Além dessa tabela, há uma outra (Tabela 3), na qual a autora expõe o uso dos verbos

dicendi encontrados nos gêneros abordados. Após essa tabela, há a explicação de seu conteúdo (p. 243).

Após a resolução, há a conclusão-avaliação, na qual a autora retoma e completa a

constatação inicial, afirmando que “os alunos de Letras ainda não estabelecem uma integração entre

teoria e análise, e os professores de Letras sabem que precisam estabelecer esta interação, falta-

lhes, porém, domínio dos mecanismos textuais peculiares ao discurso do expor” (p. 244).

Quadro 3: infra-estrutura: seqüência textual

Artigo 1

Artigo2

Artigo 3

Artigo 4

Artigo 5

Premissas

X

——

——

——

——

Argumentos

——

——

——

——

——

Contra-argumentos

——

——

——

——

—— S

eqüência

argumentativa

Conclusão

——

——

——

——

——

Constatação inicial

——

X

X

X

X

Problematização

——

X

X

X

X

Resolução

X

X

X

X

X S

eqüência

expositiva

Conclusão/avaliação

X

X

X

X

X

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77

Ancoragem

——

——

——

——

—— Aspectualização

——

——

——

——

——

Seqüência

descritiva

Relacionamento

——

——

——

——

——

Situação inicial

——

——

——

——

——

Complicações

——

——

——

——

——

Açõcs

——

——

——

——

——

Resoluções

——

——

——

——

——

Seqüência

narrativa

Situação final

——

——

——

——

——

F. abertura

——

——

——

——

——

F. Transacional

——

——

——

——

——

Nível 1:

supraor

denado

F. Encerramento

——

——

——

——

——

Nível 2 ——

——

——

——

——

Seqüência dialogal

Nível 3

——

——

——

——

——

Como se pode observar, a seqüência predominante dos artigos é a expositiva. Nenhum

dos artigos apresentou seqüências descritivas, narrativas ou dialogais.

Todos os artigos de análise apresentaram a seqüência expositiva. Um fato

interessante ocorreu com o artigo argumento teórico (artigo 1); a mesclagem das seqüências

argumentativa e expositiva, dando surgimento a uma nova seqüência, pode-se assim dizer, a seqüência

argumentativo-expositiva, que apresenta as seguintes fases: premissas, resolução e conclusão-avaliação.

33..44 EEssttiilloovveerrbbaall 33..44..11 CCoonneexxããoo

Será dado um exemplo para cada tipo de relação de conexão. Sendo assim, a

exemplificação não tem por objetivo ser exaustiva.

Artigo 1: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários.

Este artigo apresenta as seguintes relações de conexão: condicionalidade (l

ocorrência), mediação (6 ocorrências), disjunção (3 ocorrências), temporalidade (8 ocorrências),

conformidade (2 ocorrências), conjunção (7 ocorrências), contrajunção (3 ocorrências),

explicação/justificativa (3 ocorrências), conclusão (3 ocorrências) e especificação/exemplificação (3

ocorrências).

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78

“[...] propor ao educando (seu próximo lingüístico) que se estabeleça uma hierarquia de

problemas redacionais: mais sérios, mais ou menos sérios e menos sérios ou, se preferir-se outra

terminologia usada em lingüística educacional, erros de gravidade máxima, média e mínima,

segundo o efeito na compreensão da mensagem.” (par. 9, p. 22: relação de condicionalidade)

“As bases teóricas de uma gramática para o usuário (assim preferimos denominá-la, para

salientar seu benefício) [...].” (par. 3, p. 19: relação de mediação)

“Assim, em vez de pensar ou dizer ‘isso é errado’ [...].” (par. 8, p. 22: relação de disjunção)

“Nosso interesse pela problemática da elaboração de gramáticas centradas nas intenções [...]

data de 1997, quando preparamos um Posfácio ao Dicionário de Lingüística e Gramática

[...].” (par. l, p. 19: relação de temporalidade)

“Coube-nos ministrar a disciplina Gramática II que, de comum acordo com os alunos, se

caracterizou por enfoque funcional-comunicativo, logo direcionado para uma gramática do tipo

reflexivo, como destaca Corblin (1988).” (par. 4, p. 20: relação de conformidade)

“Como ajudar alguém, particularmente um estudante, a descobrir, compreender e a resolver seus

problemas de comunicação oral e escrita [...].” (par. 4, p. 20: relação de conjunção)

“[...] insistimos que uma gramática do usuário teria a difícil, mas necessária missão de ajudar o

falante/escritor a transformar-se de dependente em decisor lingüístico.” (par. 2, p. 19: relação

de contrajunção)

“O último dos vinte e quatro verbetes acrescentados àquela obra recebeu a designação de

Gramática do Usuário, por acreditarmos que tal instrumento descreveria e explicaria as opções

lingüísticas [...]” (par. l, p. 19: relação de explicação)

“A formação de usuários como decisores lingüísticos pressupõe a capacidade de traduzir

atitudes rígidas, absolutistas em flexíveis, relativistas. Assim, em vez de pensar ou dizer 'isso

está errado', o usuário confiante pensaria ou diria 'Que outras opções você conhece para

isso?’” (par. 8, p. 22; relação de especificação e de conclusão)

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79

Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação.

Este artigo apresenta as seguintes relações de conexão: condicionalidade (4

ocorrências), mediação (9 ocorrências), disjunção (4 ocorrências), temporalidade (l ocorrência),

conformidade (5 ocorrências), conjunção (15 ocorrências), contrajunção (4 ocorrências),

conclusão (3 ocorrências), comparação (3 ocorrências), especificação/exemplificação (3

ocorrências), contraste (l ocorrência) e correção/redefinição (3 ocorrências).

“Em todos esses casos, tem-se a ‘intertextualidade das semelhanças’, no dizer de SANTANA

(1985), que coincide com o que GRÉSILLON & MAINGUENEAU (1984) entendem por

‘captação’, que é o que ocorre, também, quando se argumenta, por exemplo, a partir de

provérbios ou frases feitas, ou se intertextualiza com outros autores para produzir efeitos de sentido

próximos.” (par. 8, p. 32: relação de conformidade, de temporalidade, de exemplificação e de

mediação)

“Os enunciados que contêm mas e seus similares, bem como aqueles que contêm operadores do

paradigma do embora, permitem introduzir, num de seus membros, a perspectiva que não é – ou não

é apenas – a do locutor [...]”. (par. 14, p. 33: relação de conjunção e de disjunção)

“Consiste em utilizar citações, referências a autores famosos e/ou especialistas em dado

assunto, por exemplo, para assentar nelas uma argumentação, recurso extremamente comum no

discurso científico – mas não só nele, evidentemente.” (par. 9, p. 32: relação de contraste)

“[...] todo texto é perpassado por vozes de diferentes enunciadores, ora concordantes, ora

dissonantes, o que faz com que se caracterize o fenômeno da linguagem humana – e,

portanto, o da argumentação – essencialmente polifônico.” (par. 27, p. 35: relação de

conclusão)

“Trata-se, em grande número de casos, da voz da sabedoria popular (como quando se

argumenta a partir de provérbios e ditos populares)” (par. 6, p. 31: relação de comparação)

“[...] que são permutáveis do ponto de vista sintático, mas não do ponto de vista

argumentativo. No caso do comparativo de igualdade, se o primeiro membro da comparação for o

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80

tema, a argumentação ser-lhe-á favorável [...]”. (par. 20, p. 34: relação de contrajunção e de

condicionalidade)

“Constitui hoje quase um truísmo dizer que o discurso é por natureza polifônico, que nele se

apresentam, ou melhor, representam pontos de vista diferentes, isto é, que outras vozes ou a

perspectiva do Outro permeiam aquilo que dizemos.” (par. l, p. 31: relação de correção e de

redefinição)

Artigo 3: O Bal Masqué das intenções.

Este artigo apresenta as seguintes relações de conexão: mediação (3 ocorrências),

disjunção (18 ocorrências), temporalidade (2 ocorrências), conformidade (3 ocorrências),

conjunção (13 ocorrências), contrajunção (11 ocorrências), exemplificação/justificativa (4

ocorrências), conclusão (l ocorrência) e especificação/exemplificação (6 ocorrências).

“O enunciante pode camuflar sua autoridade ausentando-se, fingindo um ‘não saber’ para

requisitar a opinião do interlocutor.” (par. 17., p. 62: relação de mediação)

“A publicidade joga com este delírio do ‘EU’, propondo ao indivíduo ser igual a tantos outros que

desejam – ou ‘necessitam de’ – prestígio, tranqüilidade, conforto, segurança, beleza, etc. Um ‘EU’

coletivo mas ao mesmo tempo singularizado, pois, a ele foi dirigido o comercial. Segundo

CHARAUDEAU (1983:118), um receptor individual [...].” (par. 2, p. 55-56: relação de disjunção, de

contrajunção, de explicação e de conformidade)

“Enquanto ‘TU’ é sempre convocado a agir ou dizer nas publicidades, o ‘EU’ pouco se

manifesta e quando isto acontece, o fato se dá por mais um efeito de máscara.” (par. 22, p. 64:

relação de conjunção e de temporalidade)

“Na modalidade injuntiva, típica do fazer agir, há o ‘EU’ que sabe ou pode mais que o ‘TU’ e por

isso se permite dar ordens diretas.” (par. 15, p. 61: relação de conclusão)

“As asserções surgem como verdade geral, sem que haja necessidade de um sujeito que

testemunhe a seu favor.” (par. 7, p. 57: relação de especificação)

Page 82: O Gênero Textual Artigo Científico: Estratégias de organização · 1 Adriano Ribeiro da Costa O Gênero Textual Artigo Científico: Estratégias de organização Dissertação

81

Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua

Portuguesa.

Este artigo apresenta as seguintes relações de conexão: condicionalidade (4

ocorrências), mediação (7 ocorrências), disjunção (3 ocorrências), conjunção (26 ocorrências),

contrajunção (12 ocorrências), explicação/justificativa (8 ocorrências), conclusão (7

ocorrências), comparação (l ocorrência), especificação/exemplificação (16 ocorrências) e

correção/redefinição (l ocorrência).

“Se fôssemos, contudo, analisar mais detidamente o contexto lingüístico em que Lima

Barreto viveu e produziu suas obras [...]” (par. 6, 152: relação condicionalidade, de

contrajunção e de conjunção)

“[...] questões que, na aparência, são puramente lingüísticas, mas na verdade extrapolam tal

perspectiva, já que a lingüística do discurso esforça-se [...]” (par. 5, p. 151: relação de

explicação)

“Aqui, tal conceito perde sua significação mais propriamente literária, para revestir-se de um

sentido mais ligado à idéia de expressão lingüística destinada a uma finalidade artística. [...]

Enfim, uma linguagem acadêmica.” (par. 23, p. 157: relação de mediação e de conclusão)

“Perseguido pelos gramáticos, que insistiam em apontar incorreções em seus escritos, Lima

Barreto parecia agir ora com desprezo, ora com ironia, diante dos ataques sofridos.” (par. 10, p.

153: relação de disjunção)

“[...] em primeiro lugar, Lima Barreto busca uma saída na idéia de recuperação de um

discurso fundador de nossa nacionalidade, o que, no limite, pode ser entendido tanto com

uma tentativa utópica de ressurgimento do tupi-guarani quanto como a defesa de uma

linguagem verdadeiramente brasileira [...]” (par. 27, p. 158: relação de comparação)

“Por outro, não nos podemos esquecer de que, como sugere algumas práticas estabelecidas

pela Análise Discurso [...]” (par. 5, p. 151: relação de especificação)

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82

“Evidentemente, não se trata aqui de um sentido clássico de tradição, isto é, um conjunto de

procedimentos virtualmente legados a gerações posteriores [...]” (par. 27, p. 158: relação de

redefinição)

Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e

professores de português.

Este artigo apresenta as seguintes relações de conexão: condicionalidade (l

ocorrência), mediação (3 ocorrências), disjunção (4 ocorrências), temporalidade (6 ocorrências),

conformidade (3 ocorrências), conjunção (14 ocorrências), contrajunção (5 ocorrências),

explicação/justificativa (7 ocorrências), conclusão (5 ocorrências),

especificação/exemplificação (8 ocorrências) e correção/redefinição (7 ocorrências).

“Se a unidade-fonte não existe, como ativar mecanismos anafóricos?” (par. 12, p. 238: relação de

condicionalidade)

“Para finalizar este item, farei uma breve consideração sobre adequação aos gêneros textuais

[...]” (par. 16, 240: relação de mediação)

“Fato que, por um lado, reforça a natureza polifônica da linguagem, visto que há no mesmo

enunciado mais de um locutor (na terminologia de Ducrot (1984) ou há realização de

intertextualidade explícita (na terminologia de Koch (1997))” (par. 15, p. 239: relação de

explicação e de disjunção)

“após a leitura e discussão dos livros Neologismo: criação lexical, de Ieda Maria Alves e

Empréstimos Lingüísticos, de Nelly Carvalho, ambos publicados pela Ática, elaborar uma

resenha crítica, como ‘exercícios de compreensão e crítica’.” (par. 3, p. 234: relação de

temporalidade)

“Foram empregados 54 verbos nas resenhas, 14 verbos nos artigos e 45 verbos nas

monografias. Apenas 3 verbos foram utilizados nos 3 gêneros, conforme demonstra a tabela 3.”

(par. 23, p. 243: relação de conjunção e de conformidade)

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83

“Apesar de empregarem a mesma forma dos artigos, ou seja, autor + data da publicação da obra, as

monografias apresentam uma estrutura enunciativa em que a introdução do autor precede ou

segue a citação do discurso deste [...]” (par. 14, p. 239: relação de contrajunção e de redefinição)

“Entrelaçar as diversas leituras, os diversos autores e diversos pontos de vista no seu próprio texto é

uma atividade que exige dos alunos compreensão dos textos de base e gerenciamento de estratégias

de escrita específicas, tais como os mecanismos enunciativos e os mecanismos coesivos. A

referenciação a autores é, portanto, um mecanismo de coesão nominal [...]” (par. 7, p. 236: relação

de especificação e de conclusão)

Quadro 4: Conexão: articuladores de conteúdo proposicional

Relações de:

Artigo 1

Artigo 2

Artigo 3

Artigo 4

Artigo 5

Total

Condicionalidade

1

4

——

4

1

10

Causalidade

— —

——

——

——

——

——

Mediação

6

9

3

7

3

28

Disjunção

3

4

18

3

4

32

Temporalidade

8

1

2

——

6

17

Conformidade

2

5

3

——

3

13

Modo

——

——

——

——

——

——

Com relação aos articuladores de conteúdo proposicional, no artigo argumento

teórico, a predominância é dos articuladores que indicam temporalidade. Não houve ocorrência

de articuladores de causalidade.

Nos artigos de análise 2 e 4, a predominância é dos articuladores que indicam

mediação. Em ambos, não houve ocorrência de articuladores de causalidade e de modo.

No artigo de análise 3, a predominância é dos articuladores que indicam disjunção;

enquanto que no 5, os que indicam temporalidade.

Quadro 5: conexão: articuladores enunciativos ou discursivo- argumentativos

Relações de:

Artigo 1

Artigo 2

Artigo 3

Artigo 4

Artigo 5

Total

Conjunção

7

15

13

26

14

75

Disjunção argumentativa

——

——

——

——

——

——

Contrajunção

3

4

11

12

5

35

Explicação/justificativa

3

——

4

8

7

22

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84

Comprovação

——

——

——

——

——

——

Conclusão

3

3

1

7

5

19

Comparação

——

3

——

1

4

Generalização/extensão

——

——

——

——

——

——

Especifïcação/exemplificação

3

10

6

16

8

43

Contraste

——

1

——

——

——

1

Correção/redefinição

——

3

——

1

7

11

Com relação aos articuladores enunciativos ou discursivo-argumentativos, a

predominância tanto no artigo argumento teórico quanto nos artigos de análise são os

articuladores que indicam relação de conjunção. E, em nenhum dos artigos, houve a ocorrência

dos articuladores que indicam disjunção argumentativa, comprovação e generalização/extensão.

33..44..22 CCooeessããoo nnoommiinnaall

A análise dos mecanismos de coesão não é exaustiva, priorizou-se um item,

chamado de série anafórica principal, que está diretamente ligado ao assunto de cada artigo. Todas

as retomadas ao longo dos artigos se referem a essa série anafórica.

Artigo 1: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários.

A série anafórica principal é a expressão nominal definida “gramáticas centradas nas

intenções, nos interesses e nas necessidades dos usuários do português como língua materna”,

presente na seção “Introdução”, e retomada ao longo do texto por: expressão quase-sinônima (2

ocorrências), expressão nominal definida (2 ocorrências) e expressão nominal indefinida (1

ocorrência).

“Nosso interesse pela problemática da elaboração de gramáticas centradas nas intenções, nos

interesses e nas necessidades dos usuários do português como língua materna data de 1977,

quando preparamos um Posfácio ao Dicionário de Lingüística e Gramática do inesquecível

Pai da Ciência da Linguagem no Brasil.” (par. l, p. 19: introdução da série anafórica principal

por uma expressão nominal definida)

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85

“As bases teóricas de uma gramática para o usuário (assim preferimos denominá-la, para

salientar seu benefício) receberam, em 1986, uma dimensão psicológica, até então pouco

explorada [...].” (par. 2, p. 19: retomada da série anafórica por expressão quase-sinônima)

“Iniciada a era das gramáticas teóricas de base cognitiva, como o quase-tratado do lingüista norte-

americano Langacker (1987), ainda estamos engatinhando na concepção e produção de gramáticas

que contribuam para a eficácia comunicativa dos usuários.” (par. 4, p. 20: retomada por

expressão nominal definida)

“Uma gramática para o usuário de língua portuguesa parte do princípio de que toda

pessoa tem o direito de tomar decisões lingüísticas [...].” (par. 11, p. 22-23: retomada por

expressão nominal indefinida)

Além dessa série anafórica principal, há outra diretamente relacionada ao tema. A

introdução da série anafórica “as opções lingüísticas de que poderiam dispor os usuários” se

encontra também na seção “Introdução”, e é retomada por: grupo nominal definido (9

ocorrências), grupo nominal indefinido (l ocorrência) e expressão quase-sinônima (l ocorrência).

“O último dos vinte e quatro verbetes acrescentados àquela obra recebeu a designação de

Gramática do Usuário, por acreditarmos que tal instrumento descreveria e explicaria as opções

lingüísticas de que poderiam dispor os usuários de português e os possíveis efeitos dessas

decisões.” (par. l, p. 19: introdução da segunda série anafórica por expressão nominal definida)

“[...] explicitamos algumas das características distintivas de uma terceira espécie de produto, desta

vez primordialmente voltado para o processo decisório do usuário.” (par. 2, p. 19: retomada por

grupo nominal definido)

“A formulação apresentada é propositadamente extensa, para que se tenha uma idéia dos

múltiplos aspectos de uma atividade decisória [...].” (par. 6, p. 21: retomada por grupo

nominal indefinido)

“Uma gramática para o usuário de língua portuguesa parte do princípio de que toda pessoa tem o

direito de tomar decisões lingüísticas [...].” (par. 111, p. 22-23: retomada por expressão

quase-sinônima)

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86

Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação.

A série anafórica principal (o funcionamento polônico da argumentação) se

encontra na seção “Introdução”, e é retomada por: grupo nominal definido (l ocorrência).

“Pretendo aqui discutir o funcionamento polifônico da argumentação [...].” (par. l, p. 31:

introdução por grupo nominal definido)

“[...] através do exame de alguns mecanismos exemplares desse funcionamento.” (par. l, p. 31:

retomada por grupo nominal definido)

No parágrafo 2, há uma desativação da série anafórica principal e uma ativação da

segunda série anafórica relacionada à primeira. Ela é retomada por: expressão nominal

definida (25 ocorrências), nome genérico (l ocorrência), hipônimo (8 ocorrências) e elipse (6

ocorrências).

“[...] através do exame de alguns mecanismos exemplares desse funcionamento.” (par. l, p. 31:

introdução da segunda série anafórica por expressão nominal definida)

“Tem-se aqui o que Ducrot (1980, 1984) denomina argumentação por autoridade. Ducrot

distingue dois tipos de argumentação por autoridade: a autoridade polifônica e o

‘arrazoado’ por autoridade.” (par. 3, p. 31: retomada por hipônimo e por expressão nominal

definida)

“Os casos citados neste item, a par de vários outros, configuram a ‘intertextualidade das

diferenças’ (SANTANA, 1985) [...].” (par. 23, p. 34: retomada por nome genérico)

“∅∅∅∅ Trata-se, em grande número de casos, da voz da sabedoria popular [...].” (par. 6, p. 31:

retomada por elipse).

Artigo 3: O Bal Masqué das intenções.

Há, neste artigo, duas séries anafóricas principais que serão retomadas ao longo do

texto. A primeira delas inicia-se na “Introdução” (o discurso publicitário), e é retomada por:

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87

expressão sinônima (4 ocorrências), grupo nominal definido (2 ocorrências), hipônimo (2

ocorrências), mesmo item lexical (l ocorrência) e nome genérico (6 ocorrências).

“Palco de ilusões, camuflagens e manipulações, o discurso publicitário dilui, pluraliza ou

explicita o ‘EU’, conforme as intenções do comunicante.” (par. l, p. 55: introdução por grupo nominal

definido)

“Na comunicação publicitária, o ‘EU’ que fala nem sempre é o ‘EU’ que diz [...].” (par. l, p. 55:

retomada por expressão sinônima)

“A publicidade joga com este delírio do ‘EU’, propondo ao indivíduo ser igual a tantos outros

que desejam [...].” (par. 2, p. 55: retomada por grupo nominal definido)

“Um ‘EU’ coletivo mas ao mesmo tempo singularizado, pois, a ele foi dirigido o comercial.” (par. 2,

p. 56: retomada por hipônimo)

“Levando-se mais adiante este estudo, seria possível observar não somente os limites e

transgressões no uso das palavras, como também a camuflagem dos sujeitos do discurso

publicitário.” (par. 4, p. 56: retomada por mesmo item lexical)

“Observa-se que o discurso citado é a categoria de discurso reportado mais freqüente nas

publicidades analisadas.” (par.9, p. 58: retomada por nome genérico)

A outra série anafórica (comunicante) diretamente relacionada ao tema se encontra

também introduzida na seção “Introdução”. Não há necessariamente uma desativação da primeira

série anafórica, mas um intercalamento, em que ora há referência à primeira série, ora à segunda.

Ela é retomada por: expressão quase-sinônima (l ocorrência), expressão sinônima (19 ocorrências),

pronome (3 ocorrências), nome genérico (2 ocorrências), grupo nominal definido (14

ocorrências), elipse (l ocorrência) e expressão nominal indefinida (l ocorrência).

“Palco de ilusões, camuflagens e manipulações, o discurso publicitário dilui, pluraliza ou

explicita o ‘EU’, conforme as intenções do comunicante.” (par. l, p. 55: introdução da

segunda série anafórica por nome genérico)

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88

“Levando-se em consideração a análise dos sujeitos da enunciação proposta por este autor (1992:

578-631); é possível demonstrar como, na comunicação publicitária, a posição e o

comportamento destes servem de instrumentos de persuasão.” (par. 2, p. 56: retomada por

expressão quase-sinônima e por pronome)

“A maneira pela qual o locutor implica o interlocutor impondo-lhe a sua opinião [...].” (par. 3, p. 56:

retomada por expressão sinônima (locutor))

“O sujeito apresenta a opinião do outro de várias maneiras [...].” (par. 8, p. 57: retomada por nome

genérico)

“Na modalidade do fazer agir [...], a superioridade do locutor aparece em casos onde ele figura

como o bom doador ou conselheiro que adverte [...].” (par. 13, p. 60: retomada por grupo

nominal definido)

“∅∅∅∅ Camaleão por excelência, ora é a ‘mulher fatal’ que representa o ideal de muitas mulheres [...].”

(par. 21, p. 64: retomada por elipse)

“[...] homodiegese e heterodiegese são recursos freqüentemente usados fazendo surgir um

narrador-Deus, que tudo sabe, que tudo vê (enunciação delocutiva) mas não se identifica ou um

sujeito testemunhal que comunica com o consumidor potencial (enunciador).” (par. 27, p. 66:

retomada por expressão nominal indefinida)

Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa.

A série anafórica principal (a concretização de idéias lingüísticas limabarretianas) é

iniciada na seção “Introdução”. Ela é retomada por: expressão nominal indefinida (2

ocorrências) e expressão nominal definida (3 ocorrências).

“[...] de um lado, no que se refere à práxis literária do romancista carioca, pode-se tentar

estudar – sob vários aspectos – a concretização de idéias lingüísticas na ficção

limabarretiana, trabalho já realizado em diversos momentos de nossos estudos críticos; de outro

lado, no que diz respeito a formulações teóricas da linguagem, pode-se tentar depreender a

formação de um ideário lingüístico de Lima Barreto a partir da abordagem do discurso

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89

metalingüístico empregado pelo mesmo.” (par. 3, p. 151: introdução da série anafórica por

grupo nominal definido, e retomada por expressão nominal indefinida)

“Especificamente, contudo, a base teórica do mesmo apoiar-se-á tanto na Historiografia

Lingüística, enfatizando a história externa da língua a partir da perspectiva limabarretiana

(ideário lingüístico).” (par. 4, p. 151: retomada por expressão nominal definida)

A partir do parágrafo 9, há uma desativação da série anafórica principal, e há uma

ativação dos itens (o preciosismo gramatical, o purismo lingüístico e o academicismo

lingüístico) que se referem a essa série. Eles são retomados por: mesmo item lexical (6

ocorrências), grupo nominal indefinido (6 ocorrências), pronome (6 ocorrências), grupo

nominal definido (11 ocorrências), hipônimo (l ocorrência) e expressão sinônima (2 ocorrências).

“[...] opondo-se visceralmente a pelo menos três categorias conceituais articuladas à questão da

língua: o preciosismo gramatical, o purismo lingüístico e o academicismo estilístico.” (par.

9, p. 153: introdução dos itens da segunda série anafórica por grupo nominal definido)

“No que diz respeito ao preciosismo gramatical, pode-se afirmar sem receio que este foi um

dos temas mais caros à pena engajada de Lima Barreto [...].” (par. 10, p. 153: retomada por

mesmo item lexical)

“[...] gramático do jornal O Globo, obsessivamente preocupado com a correção gramatical –

mas uma correção que tem como referência o mais castiço emprego da língua.” (par. 15, p.

154-155): retomada por expressão sinônima e por grupo nominal indefinido)

“Conceito muito próximo do de preciosismo gramatical, o purismo lingüístico assume um

feitil um pouco mais generalizante; enquanto aquele pode ser entendido como a utilização da

língua a partir de preceitos gramaticais específicos (norma) [...].” (par. 18, p. 155-156:

retomada por pronome)

“Nesse sentido, Lima Barreto pode ser considerado a primeira dissidência e resistência ao

purismo prevalente na passagem do século [...].” (par. 19, p. 156: retomada por grupo

nominal definido)

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90

“[...] o romancista carioca inaugura não apenas um discurso de contestação dos preceitos

lingüísticos sustentados pela Academia [...].” (par. 30, p. 160: retomada por hipônimo).

Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e

professores de português.

A série anafórica principal (as formas de referenciação aos autores utilizados) inicia-

se na seção “Introdução” e é retomada por: grupo nominal definido (17 ocorrências), expressão

nominal indefinida (l ocorrência), expressão quase-sinônima (3 ocorrências), hipônimo (13

ocorrências), mesmo item lexical (l ocorrência), elipse (3 ocorrências) e pronomes (8 ocorrências).

“Esta comunicação tem como objetivo investigar, em textos acadêmicos [...] produzidos por

alunos/professores de português, as formas de referenciação aos autores utilizados [...].” (par.

2, p. 234: introdução da série anafórica principal por grupo nominal definido)

“Um traço comum às produções analisadas consistia na obrigatoriedade de uso da voz da

ciência, através da menção de autores estudados com as funções de (i) atribuir credibilidade aos

argumentos apresentados [...] e (ii) demonstrar a realização das leituras previamente indicadas

pela professora [...].” (par. 5, p. 235: retomada por expressão nominal definida e por grupo nominal

definido)

“Apesar de empregarem a mesma forma dos artigos [...], as monografias apresentam uma

estrutura enunciativa em que a introdução do autor precede ou segue a citação do discurso deste,

quer em forma de citação quer como paráfrase:” (par. 14, p. 239: retomada por expressão

nominal indefinida)

“Nas resenhas, cinco foram os procedimentos de referência na introdução dos autores:” (par.

10, p. 237: retomada por expressão quase-sinônima)

“[...] como procedem alunos e professores de Letras ao empregarem mecanismos enunciativos?

[...] A tabela l demonstra as formas de referenciação encontradas e revela uma considerável

redução destas formas no processo de escrita acadêmico.” (par. 9, p. 236: retomada por hipônimo e

por mesmo item lexical)

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91

“Até o momento, tratamos do funcionamento dos mecanismos enunciativos, aqueles que

contribuem para a coerência pragmática ou interativa do texto, e que no nosso caso ∅∅∅∅

desempenham a função de introdução da unidade-fonte, isto é, dos autores estudados.” (par. 18, p.

240-241: retomada por pronome e por elipse).

Quadro 6: Coesão nominal

Recursos

Artigo 1

Artigo 2

Artigo 3

Artigo 4

Artigo 5

Total Expressão ou grupo nominal

definido

13

27

17

15

18

90

Expressão ou grupo nominal indefinido

2

——

1

8

1

12

Nominalização

——

——

——

——

——

—— Expressão sinônima ou quase-

sinônima

3

——

24

2

3

32

Nome genérico

——

1

9

——

——

10 Hipônimo

——

8

2

1

13

24 Mesmo item lexical

——

——

1

6

1

8 Anáfora indireta

——

——

——

——

——

—— Elipse

——

6

1

——

3

10 Hiperônimos

——

——

——

——

——

—— Pronomes

——

——

3

6

8

17

A predominância no artigo argumento teórico foi das expressões e grupos nominais

definidos.

Com exceção do artigo de análise 3, a predominância também foi das expressões e

grupos nominais definidos. Naquele, a predominância foi das expressões sinônimas e quase

sinônimas.

Não houve ocorrência das nominalizações, das anáforas indiretas e de hiperônimos

nos artigos.

O que menos ocorreu nos artigos foi o uso do mesmo item lexical.

33..44..33 CCooeessããoo vveerrbbaall

A análise dos verbos como mecanismos de textualização não será feita exaustivamente,

por ser considerada desnecessária para este estudo. Além disso, em se tratando da questão da

temporalidade, não serão tratadas as funções de temporalidade secundária e contraste local, por

serem muito pontuais.

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92

Só serão analisados os verbos que estejam em um dos tempos verbais, deixando de

lado os verbos no infinitivo, gerúndio e particípio.

Será dado um exemplo de cada ocorrência verbal.

Artigo l: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários.

Na seção introdução, houve predominância do pretérito perfeito (11 ocorrências). Esse

tempo dá um caráter de anterioridade do momento do processo em relação ao momento de produção.

Como em:

“Nosso interesse pela problemática da elaboração de gramáticas centradas nas intenções, nos

interesses e nas necessidades dos usuários do português como língua materna data de 1977, quando

preparamos um Posfácio ao Dicionário de Lingüística e Gramática do inesquecível Pai da Ciência

da Linguagem no Brasil.” (par. l, p. 19)

No corpo do artigo, o tempo predominante é o presente (14 ocorrências), que

confere aos processos verbais uma validade geral.

“A formação de usuários como decisores lingüísticos pressupõe a capacidade de traduzir atitudes

rígidas, absolutistas em flexíveis, relativistas.” (par. 8, p. 22)

Ambos os tipos de processos estão presentes: o estável (4 ocorrências) e o

dinâmico (9 ocorrências). E o grau de realização desses processos é o de realização total.

“Iniciada a era das gramáticas teóricas de base cognitiva, com o quase-tratado do lingüista norte-

americano Langacker (1987), ainda estamos engatinhando na concepção e produção de gramáticas

que contribuam para a eficácia comunicativa dos usuários.” (o primeiro é estático; o segundo,

dinâmico) (par. 5, p. 20)

Na seção conclusão, o tempo predominante é também o presente (5 ocorrências). Esses

verbos indicam que pertencem ao processo dinâmico e que o grau de realização é o de realização

total.

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93

“A complexidade da tarefa aguarda pesquisadores que aprofundem a problemática sugerida neste

breve artigo.” (par. 12, p. 23)

Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação.

Na seção “Introdução”, houve a predominância do presente (5 ocorrências), que dá

um caráter de simultaneidade entre o momento de produção e o momento do processo expresso

pelo verbo. O processo marcado nesses verbos é o dinâmico, com exceção do “é”, que é estático. O

grau de realização dos verbos é o de realização total.

“Constitui hoje quase um truísmo dizer que o discurso é por natureza polifônico, que nele se

apresentam, ou melhor, representam pontos de vista diferentes, isto é, que outras vozes ou a

perspectiva do Outro permeiam aquilo que dizemos.” (o ‘é’ é estático, enquanto os demais

são dinâmicos) (par. l, p. 31)

No corpo do artigo, o tempo predominante também é o presente (71 ocorrências),

conferindo aos processos verbais uma validade geral.

“O ‘arrazoado por autoridade’ (raisonnement par autorité) é o mecanismo largamente descrito

em manuais de retórica e de argumentação sob o nome de recurso à autoridade. Consiste em

utilizar citações, referências a autores famosos e/ou especialistas em dado assunto [...].” (par.

9, p. 32).

Além do presente, há o tempo futuro (8 ocorrências), que confere um valor de

posteridade do processo em relação ao momento de produção.

“Vamos tratar aqui dos recursos de linguagem que permitem introduzir polifonicamente a

perspectiva do Outro.” (par. 12, p. 33)

O processo predominante dos verbos é o dinâmico, porém há ocorrências do

estático. O grau de realização é o de realização total.

“Os enunciados comparativos, como afirma VOGT (1977, 1980), têm caráter argumentativo por

excelência, e, segundo a estrutura argumentativa, analisam-se sempre em tema e comentário,

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94

que são permutáveis do ponto de vista sintático, mas não do ponto de vista argumentativo.” (o

‘são’ é estático, enquanto que os demais são dinâmicos) (par. 17, p. 34)

Na conclusão, o tempo predominante também é o presente (4 ocorrências), com

exceção de “foi”, que confere um valor de anterioridade do processo em relação ao momento de

produção.

“Por tudo o que foi aqui discutido, confirma-se que, do ponto de vista da construção dos

sentidos, todo texto é perpassado por vozes de diferentes enunciadores, ora concordantes, ora

dissonantes, o que faz com que se caracterize o fenômeno da linguagem humana – e,

portanto, o da argumentação – como essencialmente polifônico.” (par. 24, p. 35)

O processo predominante também é o dinâmico, com exceção de “foi” e “é”. E o

grau de realização dos verbos é o de realização total.

Por o artigo no todo apresentar predominante o tempo presente, isso confere aos

processos verbalizados a que se aplica uma validade geral, independente de qualquer

temporalidade particular. Também, por só apresentar o tempo presente basicamente, não há a

função de contraste global entre os processos verbais.

Artigo 3: O Bal Masqué das intenções.

Na seção introdução, houve a predominância do presente (16 ocorrências), que dá

um caráter de simultaneidade entre o momento de produção e o momento do processo

expresso pelo verbo, como em:

“Levando-se em consideração a análise dos sujeitos da enunciação proposta por este autor

(1992:578-631); é possível demonstrar como, na comunicação publicitária, a posição e o

comportamento destes servem de instrumentos de persuasão.” (par. 2, p. 56)

O processo marcado na maioria dos verbos é o dinâmico, porém há o processo

estático em: é; são. O grau de realização é o de realização total.

Houve também o pretérito perfeito simples (3 ocorrências) e pretérito composto (l

ocorrência), que dá um caráter de anterioridade do momento do processo em relação ao

momento de produção.

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95

“[...] tratando-se antes de uma entidade prismática contendo em suas faces o publicitário que

elaborou o texto, o fabricante que o aprovou, os actantes da ficção e as projeções do “eu” dos

consumidores.” (par. l, p. 55)

“Os exemplos são dados em francês por terem sido extraídos de periódicos franceses, porém, a

tradução dos mesmos aparecem nos anexos.” (par. 3, p. 56)

No corpo do artigo, o tempo predominante é o presente (89 ocorrências).

“Na modalidade do fazer agir (ver Charaudeau, 1992:579-598), a superioridade do locutor

aparece em casos onde ele figura como o bom doador ou conselheiro que adverte, que

indica o produto, ou como chefe que ordena algo ao interlocutor.” (par. 13, p. 60)

Aparece também o futuro (5 ocorrências), dando um caráter de posteridade do

momento do processo em relação ao momento de produção.

“Mas, obviamente, o interlocutor não responderá por estar ausente, e, generosamente, o

locutor oferece-lhe os argumentos para sua resposta, pedindo cumplicidade do interlocutor de

maneira velada.” (par. 17, p. 62)

Na conclusão, há também o presente (13 ocorrências).

“Como na literatura, os pontos de vista são variados, homodiegese e heterodiegese são

recursos freqüentemente usados fazendo surgir um narrador-Deus, que tudo sabe, tudo vê

(enunciação delocutiva) mas não se identifica ou um sujeito testemunhal que comunica com o

consumidor potencial (enunciador).” (par. 27, p. 66)

O processo observado na maioria dos verbos dessa seção é o dinâmico, mas

também há o estático (são). O grau de realização é o de realização total.

Não há a ocorrência da função de contraste global, pois todas as seções

apresentam o presente como tempo predominante. A presença desse tempo, além de dar um

caráter de simultaneidade entre o momento de produção e o momento do processo, confere

uma validade geral aos processos verbalizados a que se aplica.

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96

Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa.

Na seção “Introdução”, há a predominância do presente (28 ocorrências), dando

um caráter de simultaneidade do momento do processo em relação ao momento de produção.

“É inegável que o século XIX – sobretudo sua segunda metade – marca um avanço

considerável nos estudos destinados à análise da Língua Portuguesa em geral, e particularmente,

de sua relação com a realidade cultural brasileira.” (par. l, p. 150)

O processo marcado nos verbos dessa seção é, predominantemente, o dinâmico,

exceto “é”, “são”, que são estáticos. O grau de realização dos processos é o de realização total.

Há também o pretérito (7 ocorrências), que dá um caráter de anterioridade do

momento do processo em relação ao momento de produção.

“Entre tantos literatos preocupados com a utilização e o desenvolvimento de nossa língua,

podemos destacar a figura de Lima Barreto, romancista que soube como poucos empregar sua

pena em favor de uma série de questões sociais, mas que também se voltou com desusada

pertinácia para a problematização do português [...].” (par. 3, p. 150)

O processo nesses verbos no pretérito é o dinâmico, e o grau de realização, o de

realização total.

Além do presente e do pretérito, há o futuro (3 ocorrências), que dá um caráter de

posteridade do momento do processo em relação ao momento de produção.

“Especificamente, contudo, a base teórica do mesmo apoiar-se-á tanto na Historiografia

Lingüística, enfatizando a história externa da língua a partir da perspectiva limabarretiana

(ideário lingüístico), quanto na Análise do Discurso, já que tentaremos observar os

posicionamentos explícitos de Lima Barreto [...].” (par. 4, p. 151)

No corpo do artigo, a predominância é o presente (83 ocorrências).

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97

“Um exemplo dessa atitude é o tratamento que Lima Barreto dá a algumas de suas

personagens, particularmente os gramáticos, constantemente ridicularizados pelo romancista, como

no caso do Capitão Felino, mestre-escola e redator de jornal no conto A Nova Califórnia [...].”

O processo observado na maioria dos verbos dessa seção é o dinâmico, mas há

também o estático, como em: é, são, estão, parece. O grau de realização dos processos é o de

realização total.

Nessa seção, há também a presença do pretérito (43 ocorrências).

“Para Lima Barreto, a boa linguagem, na verdade, era aquela que conseguisse, com

simplicidade e clareza, transmitir idéias profundas, de preferência de cunho marcadamente social,

como o autor defendeu na teoria e realizou na prática.” (par. 21, p. 156)

O processo observado na maioria dos verbos é, predominantemente, o dinâmico,

porém há ocorrência do estático, com em: foi, parecia, era. O grau de realização é o inconcluso

– pretérito imperfeito, e o de realização total – pretérito perfeito.

Além do presente e do pretérito, há o futuro (9 ocorrências).

“Desse modo, o romancista carioca revela-se, desde o princípio, um autor particularmente

sensível ao poder coercitivo da linguagem culta, o que o levaria a se afirmar como um

escritor que fez do desvio da norma lingüística vigente uma de suas principais bandeiras

estéticas.” (par. 9, p. 153)

Na conclusão, o tempo predominante é o presente (8 ocorrências).

“A luta de Lima Barreto contra os cânones lingüísticos de sua época representam um

primeiro passo rumo às conquistas modernistas no campo da linguagem, já que o romancista

carioca inaugura não apenas um discurso de contestação dos preceitos lingüísticos sustentados

pela Academia, mas também ensaia uma prática literária que, incontestavelmente, irá abrir caminho

para a longa marcha rebelde e iconoclasta dos primeiros modernistas.” (par. 30, p. 160)

Há também o pretérito (5 ocorrências).

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98

“Assim, ao empregar uma linguagem marcada pelo desleixo intencional, Lima Barreto estaria indo

não apenas contra tudo aquilo que a estética oficial representava, mas principalmente contra o

poder político-social que essa retórica simbolizava de modo tão substantivo.” (par. 32, p. 161)

Além do presente é pretérito, há o futuro (4 ocorrências).

“Nesse contexto, a figura de Lima Barreto se destaca exatamente por se tratar de um autor

que, sem ser especialista no assunto, logrou antecipar – prática e teoricamente – uma série de

questões polêmicas que seriam, logo em seguida, aprofundadas e, não poucas vezes, levadas

ao paroxismo.” (par. 31, p. 160)

O processo da maioria dos verbos nessa seção é o dinâmico, exceto “sejam;

seriam; estaria”, que são estáticos.

Sendo o tempo presente predominante neste artigo, isso confere aos processos

verbalizados a que se aplica uma validade geral, independentemente de qualquer temporalidade

particular.

Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e

professores de português.

Na seção “Introdução”, há a predominância do presente (29 ocorrências), que dá um

caráter de simultaneidade entre o momento de produção e o momento do processo expresso

pelo verbo.

“É tarefa dos professores de língua portuguesa em qualquer instância de ensino assegurar aos alunos

condições de produção de textos escritos. Na instância universitária esta tarefa se traduz em

instrumentalizar os alunos [...] no âmbito da escrita acadêmica.” (par. l, p. 233)

O processo observado na maioria dos verbos dessa seção é o dinâmico, mas há

também o estático, como: é, são, seja. O grau de realização do processo é o de realização total.

Há também pretéritos perfeito (2 ocorrências) e imperfeito (4 ocorrências).

“Esses textos foram escritos em situação de avaliação de conteúdo e de forma, no ano de 1999.”

(par. 2, p. 234)

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99

“Um traço comum às produções analisadas consistia na obrigatoriedade de uso da voz da

ciência, através da menção de autores estudados com as funções de (i) atribuir credibilidade aos

argumentos apresentados [...] e (ii) demonstrar a realização das leituras previamente indicadas

pela professora [...].” (par. 5, p. 235)

O pretérito dá um caráter de posteridade do momento do processo em relação ao

momento de produção. O processo observado nos verbos são o dinâmico (foram, consistia) e

o estático (eram, era). O grau de realização são o de realização total (pretérito perfeito) e o

inconcluso (pretérito imperfeito).

Há também o futuro (3 ocorrências), dando um caráter de posteridade do momento

do processo em relação ao momento de produção.

“[...] os autores dos textos analisados serão denominados de ‘aluno-autor’ e os autores citados nos

textos daqueles serão denominados simplesmente de ‘autor’.” (par. 4, p. 235)

No corpo do artigo, os tempos mais presentes são o presente (72 ocorrências) e o

pretérito (31 ocorrências).

“O número de paráfrase é bem inferior ao de citações nas monografias. Fato que, por um lado,

reforça a natureza polifônica da linguagem, visto que há no mesmo enunciado mais de um locutor

[...], assegurando um posicionamento pessoal, pois a tais enunciados não se seguem comentários

avaliativos.” (par. 15, p. 239)

“Constatamos dois fatos com relação a este aspecto: (i) os elogios recaíram sobre o autor e não

sobre a obra e (ii) das duas obras resenhadas só recebeu elogios uma delas [...].” (par. 16, p. 240)

Em relação ao presente, o processo predominante é o dinâmico, mas houve

também o estático, como em: é, são, estão. O grau de realização é o de realização total. Já o

processo predominante dos verbos no pretérito é o dinâmico, exceto "foram". O grau de

realização do processo é o de realização total (pretérito perfeito) e o inconcluso (pretérito

imperfeito).

Além do presente e pretérito, há o futuro (4 ocorrências), que confere um caráter de

posteridade do processo em relação ao momento de produção.

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100

“Será o nível de domínio da escrita acadêmica por parte dos professores de língua suficiente para

uma prática pedagógica?” (par. 15, p. 239)

Na conclusão, há também a dominância do presente (8 ocorrências).

“Para finalizar, vejamos como os alunos-autores retomam os autores pesquisados e

mencionado na fundamentação teórica no momento das análises dos dados.” (par. 26, p. 244)

O processo observado nos verbos dessa seção é o dinâmico, e o grau de realização do

processo é o de realização total.

Há também o pretérito (3 ocorrências).

“Nos artigos não houve nenhuma menção aos autores citados: faziam referência aos

conteúdos temáticos, mas não lhes atestavam autoria.” (par. 26, p. 244)

Quadro 7: Coesão verbal

Tempos

Presente

Pretérito

Futuro

Artigo 1

19

11

_____

Artigo 2

80

1

8

Artigo 3

118

4

5

Artigo 4

119

55

16

Artigo 5

109

40

7

Total

445

111

36

A predominância foi do tempo presente, tanto no artigo argumento teórico quanto nos

artigos de análise. Apenas aquele não utilizou o tempo futuro.

Essa predominância se deu exatamente por o presente ser o tempo que confere aos

processos verbalizados a que se aplica uma validade geral.

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101

33..55 MMeeccaanniissmmooss eennuunncciiaattiivvooss 33..55..11 VVoozzeess

A análise da marcação das vozes dos artigos analisados será feita por parágrafo. Se em

um parágrafo só ocorrer, por exemplo, a voz do autor, conta-se como uma única ocorrência.

Será dado apenas um exemplo de cada tipo de vozes em cada artigo.

Artigo l: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários.

Neste artigo, estão presentes as seguintes vozes: voz do autor (12 ocorrências) e

vozes sociais (2 ocorrências).

“O incentivo para prosseguirmos na exploração dessa gramática, verdadeiramente a serviço dos

usuários, surgiu durante o Curso de especialização em língua portuguesa, oferecido pelo Mestrado

em Letras e Lingüística da UFPE.” (par. 4, p. 20) (voz do autor)

“A idéia, embrionária há 12 anos, só começaria a germinar em 1985, em artigo no qual, a partir

de uma distinção entre gramática centrada no sistema e gramática orientada para os usos do sistema

(Gagné, 1983) [...].” (par. 2, p. 19) (voz social)

A partir do parágrafo 6, a voz do autor não é marcada por verbos na primeira

pessoal do plural, mas é inferível através de conteúdo do discurso sobre o tema.

Pode-se observar que este artigo apresenta pouca intertextualidade tanto marcada como

não marcada, dando a impressão que o discurso do artigo tem origem exclusivamente no autor; i.

e., as idéias dos artigos pertencem ao autor, não havendo pessoas que comunguem de seu discurso.

Isso é ratificado na bibliografia, onde 50% das referências pertencem ao próprio autor.

Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação.

Neste artigo, o posicionamento enunciativo é marcado pelas seguintes vozes: voz do

autor (l ocorrência) e vozes sociais (7 ocorrências).

“Pretendo aqui discutir o funcionamento polifônico da argumentação, através do exame de alguns

mecanismos exemplares desse funcionamento.” (par. 2, p. 31) (voz do autor)

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102

“Em todos esses casos, tem-se a ‘intertextualidade das semelhanças’, no dizer de SANTANA

(1985), que coincide com o que GRÉSILLON & MAINGUENEAU (1984) entendem por

‘captação’, que é o que ocorre, também, quando se argumenta, por exemplo, a partir de

provérbios ou frases feitas, ou se intertextualiza com outros autores para produzir efeitos de sentido

próximos.” (par. 8, p. 32) (voz social)

Nota-se que, ao contrário do primeiro artigo, este é constituído em torno das vozes dos

outros – vozes sociais –, utilizadas para exemplificar e corroborar a tese de que o discurso é

essencialmente polifônico.

Artigo 3: O Bal Masqué das intenções.

Este artigo apresenta as seguintes vozes: voz do autor (21 ocorrências) e vozes

sociais (4 ocorrências).

“A maneira pela qual o locutor implica o interlocutor impondo-lhe a sua opinião (ato

locutivo), como ele declara a sua posição face a sua própria opinião (ato elocutivo) ou a

desvinculação do locutor e do interlocutor no ato de locução (ato delocutivo) são aspectos

analisados neste trabalho que reúne as reflexões da autora, após um ano de pesquisa realizada no

Leitorado de Francês da UFPE.” (par. 3, p. 56) (voz do autor)

“Esta modalidade (alocutiva) é de todas a mais polêmica, segundo afirma Charaudeau

(1983:60), porque contém a marca explícita do interlocutor (TU destinatário) e, como todo

procedimento linguageiro que implica um ‘TU’, é ao mesmo tempo reveladora da atitude do sujeito

enunciante.” (par. 11, p. 59) (voz social)

Pode-se observar que este artigo apresenta vozes sociais e voz do autor, esta, por sua

vez, apropria-se daquelas com o objetivo de dar sustentação a posição do autor.

Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa.

Este artigo apresenta as seguintes vozes: voz do autor (29 ocorrências) e vozes

sociais (10 ocorrências).

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103

“A partir desse entrecho, pode-se concluir que, para Lima Barreto, o emprego da linguagem requer,

antes de mais nada, uma relativa flexibilidade, um reconhecimento de equivalências e variantes,

numa clara percepção de fatos lingüísticos que só seriam unanimemente aceitos quase meio

século depois, com os irretorquíveis avanços da Sociolingüística.” (par. 16, p. 155) (voz do autor)

“Como sugeriu Ledo Ivo em seu arguto estudo, Lima Barreto ‘demonstrou que o domínio de certos

homens sobre os seus semelhantes se processa através da diferenciação lingüística e da lei gramatical

(...) examinou e interrogou o problema da linguagem e da gramática tornadas instrumentos de

classe, de repressão e opressão, e destinadas a não permitir que os homens se exprimam plenamente,

e convivam harmoniosamente, mas a impedir que o façam.” (par. 32, p. 160 e 161) (voz social)

Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e

professores de português.

Este artigo apresenta as seguintes vozes: voz do autor (19 ocorrências) e vozes

sociais (12 ocorrências).

“Refiro-me, especialmente, a produção de resenhas, artigos científicos e monografias, por serem

exigências freqüentes no contexto universitário.” (par. l, p. 233) (voz do autor)

“Ao distinguir polifonia de intertextualidade, Koch (1997:56) afirma que ‘na intertextualidade, a

alteridade é necessariamente atestada pela presença de um intertexto’ (...) em se tratando de

polifonia, basta que a alteridade seja encenada, isto é, incorporam-se ao textos vozes de

enunciadores reais os vituais [...].” (par. 6, p. 235) (voz social)

Quadro 8: Mecanismos enunciativos: vozes

Tipo

Voz do autor

Vozes sociais

Vozes das personagens

Artigo 1

12

2

——

Artigo 2

1

7

——

Artigo 3

21

4

——

Artigo 4

29

10

——

Artigo 5

19

12

——

Total

82

35

——

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104

Observa-se pelo quadro que tanto o artigo argumento teórico quanto os artigos de

análise, com exceção do artigo 2, deram preferência a voz do autor. Nenhum dos tipos de artigos

apresentou vozes das personagens.

A predominância da voz do autor nos artigos indica que eles, apesar de serem

também constituídos com vozes sociais, através da intertextualidade explícita (citação),

possuem um caráter próprio, baseados nas convicções do autor, i. e., não é um amontoado de citações

aleatórias.

33..55..22 MMooddaalliizzaaddoorreess

Aqui serão mostradas as ocorrências dos recursos utilizados para marca as

modalizações por parte dos autores dos artigos. Para isso, dar-se-á um exemplo de cada

mecanismo utilizado pelos autores.

Artigo l: A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários.

Neste artigo, as modalizações foram feitas através dos seguintes recursos: advérbios

(11 ocorrências), locução adverbial (2 ocorrências), auxiliar modal (l ocorrência) e verbos no futuro

do pretérito (7 ocorrências). Eis um exemplo de cada recurso utilizado:

“Podemos exemplificar tal estado de coisas, no plano aplicativo, construindo uma lista

detalhada de estratégias envolvidas no complexo processo lingüístico decisório ativado

cognitivamente por um usuário, ao se deparar com o problema de optar por uma dentre

diversas variantes de uso.” (par. 5, p. 20)

O autor faz a delimitação do ativamento do processo lingüístico decisório por um

usuário por meio de um advérbio.

“Esse traduzir a informação científica em dados acessíveis a leigos é outro problema que precisa

ser enfrentado com seriedade pelos responsáveis por um comunicar conhecimentos científicos de

maneira eficaz: saber, enfim, fazer tradução em sua própria língua.” (par. 6, p. 21)

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A evidência subjetiva do tratamento dado à informação científica é marcada por

locuções adverbiais.

“Do mesmo modo, um professor resistente à relatividade dos usos poderia corrigir a redação de um

aluno com base na dicotomia do certo ou errado, em lugar de, numa perspectiva humanística

construtiva, propor ao educando (seu próximo lingüístico) que se estabeleça uma hierarquia de

problemas redacionais [...].” (par. 9, p. 22)

A possibilidade da avaliação do professor é marcada por verbo auxiliar de

modalização.

“[...] insistimos que uma gramática do usuário teria a difícil, mas necessária missão de ajudar o

falante/escritor a transformar-se de dependente em decisor lingüístico.” (par. 2, p. 19)

A possibilidade de uso da gramática é marcada por verbo no futuro do pretérito.

Artigo 2: O funcionamento polifônico da argumentação.

Neste artigo, as modalizações foram feitas através dos seguintes elementos:

advérbio (21 ocorrências), locução adverbial (l ocorrência) e auxiliar modal (5 ocorrências).

“Constitui hoje quase um truísmo dizer que o discurso é por natureza polifônico, que nele se

apresentam, ou melhor, representam pontos de vista diferentes [...].” (par. l, p. 31)

A autora declara a certeza em relação ao discurso ser polifônico através de um

advérbio.

“O ‘détournement’ resulta, freqüentemente, de alterações na forma de um provérbio, slogan ou frase

feita cm o intuito de produzir alterações de sentido – em geral, para veicular o sentido oposto

àquele do enunciado original.” (par. 24, p. 34)

A origem do “détournement” é introduzida por meio de uma locução adverbial.

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“Na autoridade polifônica, representam-se no discurso outras ‘vozes’ – que podem ser a da ‘vox

populi’, do saber comum, a de um enunciador genérico ou indeterminado, a do próprio interlocutor

ou de determinado grupo [...].” (par. 4, p. 31)

A autora marca a possibilidade dos tipos de vozes presentes no discurso através de um

auxiliar modal.

Artigo 3: O Bal Masqué das intenções.

Neste artigo, as modalizações foram feitas através dos seguintes recursos:

advérbios (10 ocorrências), locução adverbial (3 ocorrências), auxiliar modal (7 ocorrências) e frases

impessoais (3 ocorrências).

“Locutor e interlocutor podem vir ocultos na pergunta, mas aparecem explicitamente em outro

enunciado da publicidade.” (par. 17, p. 62)

A autora marca a maneira de o locutor e interlocutor aparecerem na pergunta da

publicidade através de um advérbio.

“Enquanto ‘TU’ é sempre convocado a agir ou dizer nas publicidades, o ‘EU’ pouco se

manifesta e quando isto acontece, o fato se dá por mais um efeito de máscara. Em geral, o ‘EU’

explícito é o de um actante (o herói) que na publicidade dá seu testemunho de mundo, conta sua

aventura e, por vezes, revela seus sentimentos, anseios, etc.” (par. 22, p. 64)

A possibilidade da pessoa do “EU” na publicidade é marcada por locução

adverbial.

“Na tentativa de implicar o interlocutor, o locutor pode tanto demonstrar superioridade,

julgando, advertindo, autorizando, interpelando, aconselhando, sugerindo e/ou ordenando [...], como

fazer apelo à ‘superioridade’ do interlocutor, usando este recurso apenas como estratégia através de

um pedido ou uma pergunta [...].” (par. 12, p. 59 e 60)

A autora marca a possibilidade da posição do locutor na implicação do interlocutor

por meio de um auxiliar de modalização.

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“Na modalidade delocutiva, é possível observar esta ausência de sujeito emissor e receptor através

das seguintes estratégias [...].” (par. 6, p. 56)

Aqui a possibilidade da demonstração da ausência do emissor e receptor na

modalidade delocutiva é marcada por frase impessoal.

Artigo 4: A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua

Portuguesa.

Neste artigo, as modalizações foram feitas pelos seguintes recursos: advérbios (33

ocorrências), locução adverbial (11 ocorrências), auxiliar modal (17 ocorrências) e frases

impessoais (4 ocorrências).

“Nesse sentido, podemos dizer que a manutenção de um padrão lingüístico culto ficava a cargo

principalmente da Academia Brasileira de Letras [...].” (par. 7, p. 152)

O autor declara a incumbência da manutenção do padrão culto da língua por meio de um

advérbio.

“Perseguido pelos gramáticos, que insistiam em apontar incorreções em seus escritos, Lima Barreto

parecia agir ora com desprezo, ora com ironia, diante dos ataques sofridos.” (par. 10, p. 153)

O autor delimita o modo de agir de Lima Barreto através de advérbios.

“Parece não ter havido nada mais ofensivo, mais exasperador para Lima Barreto do que

essas infrutíferas tentativas de domar a língua literária, atitude que ele não ousou atacar em

mais de uma oportunidade.” (par. 21, p. 156)

A incerteza em relação à atitude provocada em Lima Barreto pelas formas de

domar a língua é marcada por auxiliar de modalização.

“É certo que, muitas vezes, essa atitude mais parecia despeito, traduzido em passagens

confessionais que facilmente nos deixam desconfiados de sua sinceridade e isenção.” (par. 10, p. 153)

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108

O autor declara a certeza em relação à determinada atitude de Lima Barreto através

de frase impessoal.

Artigo 5: Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e

professores de português.

Neste artigo, as modalizações foram feitas através dos seguintes elementos:

advérbio (15 ocorrências), locução adverbial (2 ocorrências) e auxiliar modal (5 ocorrências).

“Refiro-me, especialmente, a produção de resenhas, artigos científicos e monografias, por serem

exigências freqüentes no contexto universitário.” (par. l, p. 233)

Neste caso, a autora faz a delimitação da produção acadêmica através de um

advérbio.

“Foram analisadas 27 resenhas, 27 artigos e 06 monografias, sendo as duas primeiras

produções realizadas em dupla e a última individualmente.” (par. 2, p. 234)

Aqui a autora faz a delimitação da produção das resenhas, artigos e monografias

através de uma locução adverbial e um advérbio.

“No caso das resenhas, deveria os alunos-autores, de acordo com definição técnica, tecer elogios

aos méritos da obra, desde que sinceros.” (par. 16, p. 240)

A autora declara o que seria desejável por partes dos alunos-autores na produção de

suas resenhas por meio de um verbo de modalização.

Quadro 9: Mecanismos enunciativos: modalizações

Recursos

Artigo 1

Artigo 2

Artigo 3

Artigo 4

Artigo 5

Total

Advérbio

11

21

10

33

15

90

Locução adverbial

2

1

3

11

2

18

Auxiliar modal

1

5

7

17

5

35

Frases impessoais

——

——

3

4

——

7

Verbos no futuro do pretérito

7

——

——

——

——

7

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109

Observa-se pelo quadro que tanto o artigo argumento teórico como os artigos de

análise marcam as modalizações, preferencialmente, através dos advérbios. Outros recursos

utilizados por eles são as locuções adverbiais e os auxiliares de modalização.

O artigo argumento teórico não utilizou frases impessoais como recurso de

modalização. Já os artigos de análise não utilizaram verbos no futuro do pretérito; apenas o artigo

argumento teórico o fez.

Em suma, em relação aos artigos científicos, pode-se dizer que os mesmos têm um

estrutura básica que os distingue de outros gêneros científicos, como por exemplo a

monografia, dissertação etc. A estrutura básica de um artigo científico é composta de: l-

Preliminares: título, autor; 2- Corpo do artigo: introdução, texto e conclusão; 3- Parte

referencial: bibliografias. Essa superestrutura é composta predominantemente por seqüência

expositiva ou argumentativa.

Os artigos científicos são construídos não só com os mecanismos de textualização

(conexão, através dos articuladores de conteúdo proposicional; coesão nominal e coesão

verbal), mas principalmente com os mecanismos enunciativos, através das vozes e modalizações.

Tanto as vozes quanto as modalizações recebem destaque especial. Através

daquelas o autor expressa no seu texto os discursos dos outros (vozes sociais), a fim de

corroborar seu ponto de vista (voz do autor). As vozes sociais são marcadas através da

intertextualidade explícita, por meio das citações. Enquanto através das modalizações, o autor deixa

claro no texto as avaliações que faz ao conteúdo temático, por meio de advérbios, locuções

adverbiais, auxiliar modal, frases impessoais e verbos no futuro do pretérito.

Apesar de os artigos científicos apresentarem essas características, o que vai

distingui-los de outros gêneros científicos não é somente isso, mas seu propósito comunicativo –

comunicar os resultados de pesquisas, idéias e debates de uma maneira clara, concisa e fidedigna;

servindo de meio de comunicação e de intercâmbio entre cientistas da sua área de atuação. Pois,

tanto a dissertação como a tese podem apresentar as mesmas características dos artigos científicos,

mas seus propósitos são outros.

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CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS FFIINNAAIISS

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111

O presente trabalho teve por objetivo central fazer a descrição e a análise do

gênero Artigo Científico, querendo saber como se dava a relação entre a estrutura e a função

dos artigos. Assim, com um corpus formado de 5 artigos publicados na revista Investigações:

Lingüística e Teoria Literária, procurou-se identificar algumas características desses textos,

apontando as diferenças e semelhanças estruturais e estratégias discursivas entre eles.

Aqui assumiu-se a posição de que os gêneros são eventos comunicativos

caracterizados por um conjunto de propósitos comunicativos (função) e por serem tipos

relativamente estáveis de enunciados (estruturas). Tomando por base esse pressuposto,

acredita-se que a estrutura dos Artigos Científicos é condicionada à sua função social.

A análise dos dados ratificou, como era de se esperar, que os artigos pertencem ao

domínio discursivo científico e à modalidade escrita. Por pertencerem a esse domínio, os

artigos apresentam mais traços da escrita do que da fala. Alguns desses traços são: o uso do

português padrão, com observância às regras gramaticais dessa variante; linguagem objetiva,

concisa; vocabulário técnico etc.

Como se viu, os artigos apresentam conteúdo temático diferente, predominando os

artigos de análise. A textualização desse conteúdo é feita de forma particular em cada artigo,

porém os artigos apresentam uma estrutura básica, constituindo-se de: preliminares: título,

autor; corpo do artigo: introdução, texto e conclusão; parte referencial: referências

bibliográficas. Alguns artigos apresentam resumo, abstract, local de produção, palavras-chave

(Key words), apêndice e anexos. Essa rigidez de estrutura decorre exatamente da função dos

Artigos Científicos, que devem ser elaborados conforme normas preestabelecidas e com fins a que

se destinam, a fim de garantir a cientificidade do assunto abordado.

A seqüência textual predominante nos artigos é a expositiva. Em um dos artigos

(artigo teórico) ocorreu um fato interessante: a mesclagem da seqüência argumentativa com a

expositiva.

A análise dos dados também revelou que, quanto ao estilo verbal, os artigos

apresentam tanto mecanismos de textualização quanto mecanismos enunciativos, porém

usados de forma particular pelos autores.

Quanto aos mecanismos de textualização, os artigos apresentam elementos de

conexão, coesão nominal e coesão verbal. Em relação à conexão, os artigos apresentam tanto os

articuladores de conteúdo proposicional quanto articuladores enunciativos ou discursivo-

argumentativos. A predominância foi a dos articuladores que indicam disjunção e os que

indicam conjunção. Em relação à coesão nominal, houve predominância do uso das

expressões e grupos nominais definidos. E, em relação à coesão verbal, a predominância

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temporal foi do presente do indicativo, conferindo aos processos verbais uma validade geral; e o tipo

de processo (tipo de verbo) predominante foi o dinâmico e o grau de realização, o de realização

total.

Quanto aos mecanismos enunciativos, houve a ocorrência tanto de vozes como de

modalizações, que mostram exatamente a posição dos autores dos artigos em relação ao

conteúdo dos mesmos. A ocorrência predominante do fenômeno vozes é a intertextualidade

explícita, feita através de citações; por serem as citações uma das características dos textos

científicos, utilizadas para dar sustentação à teoria dos autores. Os tipos de vozes presentes nos

artigos foram as vozes sociais e a voz do autor. Já, em relação às modalizações, houve a

predominância dos advérbios nas avaliações formuladas pelos autores sobre alguns aspectos do

conteúdo temático. Mas houve também a ocorrência de auxiliares modais, locução adverbial e

frases impessoais. A modalização predominante é a do tipo lógico, que consiste numa avaliação de

alguns elementos do conteúdo temático, apresentados como fatos certos, possíveis, prováveis etc.

Isso se dá pelo tipo de conteúdo temático e, principalmente, por os artigos tratarem de assuntos

objetivamente, tentando excluir a subjetividade.

Assim, reafirmar aqui que a estrutura dos Artigos Científicos é condicionada à sua função

social é repetir o óbvio a essas alturas. Porém, tal afirmação vem ratificar a posição dos autores

mencionados:

O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas [da atividade humana], não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal [...], mas também, e sobretudo por sua construção composicional (BAKHTIN, [1979] 2000, p. 279). Os textos são produtos da atividade de linguagem em funcionamento permanente nas formações sociais: em função de seus objetivos, interesses e questões específicas, essas formações elaboram diferentes espécies de textos, que apresentam características relativamente estáveis [...] (BRONCKART, 1999, p. 137). [...], gênero do (de) discurso é uma forma textual concretamente realizada e encontrada como texto empírico. [...] São formas textuais estabilizadas, histórica e socialmente situadas. Sua definição não é lingüística, mas de natureza sócio-comunicativa (MARCUSCHI, 2000, p. 18). Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos cujos membros partilham um dado conjunto de propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros especialistas da comunidade de discurso e com isso constituem a base lógico do gênero. Essa base lógica modela a estrutura esquemática do discurso [...] (SWALES, 1990, p. 58). Um gênero é um evento comunicativo caracterizado por um conjunto de propósitos comunicativos mutuamente reconhecidos pelos membros da comunidade profissional ou acadêmica na qual ele regularmente ocorre. Na maioria dos casos, ele é altamente estruturado e convencionalizado com restrições quanto às contribuições admissíveis em termos de suas intenções, forma, posição e valor funcional [...] (BHATIA, 1993, p. 13).

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Como aplicabilidade, o objetivo deste trabalho foi, em conseqüência da descrição do

gênero Artigo Científico, oferecer orientações aos universitários da graduação (ou ao público

interessado) para sua empreitada na produção desse gênero em sua vida acadêmica. Para alcançar

esse objetivo, partiu-se da analogia da afirmação que Kleiman (1999, p. 9) faz: “o desvendamento

do processo do ato de ler aprimora a própria capacidade de leitura do leitor, visto que, ao tornar

o processo conhecido, estar-se-á construindo as bases para uma atividade de metacognição, ou

seja, de reflexão sobre o próprio saber”. Assim, o desvendamento das estratégias de organização

do Artigo Científico é de suma importância, pois aprimora a própria capacidade de produção do

produtor desse gênero.

Tentou-se fazer aqui uma descrição do gênero Artigo Científico, oferecendo aos

universitários algumas orientações que o auxiliassem em seu empreendimento em relação à

produção desse gênero. Algumas orientações, porque se acredita que a descrição feita aqui não é a

única e nem, tampouco, a mais completa e melhor caminho para a produção de Artigos

Científicos. É mais uma ajuda ao produtor. Além disso, o produtor deverá ter em mente, que

apenas o fato de ele ter em mãos a descrição desse gênero não o habilitará a produzir

eficazmente um Artigo Científico; pois não se trata de fórmula mágica. É necessário também leitura

de vários artigos e muito treino. É o casamento do exposto aqui com a prática de produção textual

que o universitário conseguirá bons frutos.

A obra aqui apresentada não tem a pretensão de ser "o" paradigma para o processo

de produção textual de Artigos Científicos; no entanto, é válida, considerando o esforço que se

traduz em apresentar aos alunos universitários e leitores interessados algumas estratégias para a

produção desse gênero.

Espera-se que os leitores tirem o melhor proveito deste estudo, e que haja

interessados em dar continuidade ao estudo do gênero Artigo Científico.

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RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS

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AANNEEXXOOSS

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AANNEEXXOO AA –– A gramática e as decisões lingüísticas dos usuários.

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AANNEEXXOO BB –– O funcionamento polifônico da

argumentação.

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AANNEEXXOO CC –– O Bal Masqué das intenções.

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AANNEEXXOO DD –– A linguagem do poder e o poder da linguagem: Lima Barreto e a Língua Portuguesa.

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AANNEEXXOO EE –– Formas de referenciação a autores em textos acadêmicos produzidos por alunos e professores de português.

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