O GRAU DE DESENVOLVIMENTO RURAL EM GOIÁS: ÍNDICE DE POPULAÇÃO (IPOP)

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O GRAU DE DESENVOLVIMENTO RURAL EM GOIÁS: ÍNDICE DE POPULAÇÃO (IPOP) Edilson G. Aguiais 1 Murilo J. S. Pires 2 A finalidade desta investigação é calcular um Índice de População Rural (IPOP) para os municípios do Estado de Goiás, no interregno censitário 1996-2000. Para tanto, a idéia defendida é que o estado apresenta uma estrutura rural heterogênea onde coexistem áreas com notável grau de desenvolvimento da população rural em contraste outras que apresentam baixo dinamismo. Para a realização do objetivo proposto no trabalho utilizou-se os recursos técnicos da pesquisa bibliográfica e documental e adotou-se o método analítico descritivo. Os resultados encontrados demonstram que, no período analisado, o estado apresentou de modo geral baixo nível de desenvolvimento rural. No entanto, percebe-se que a região Centro-Sul apresentou maiores valores para o IPOP em comparação à região Centro-Norte, o que demonstra que o processo de modernização do campo aconteceu de forma mais efetiva nesta porção do território. Palavras-chave: Desenvolvimento, Desenvolvimento Rural, Goiás. 1 Economista, Aluno-Especial no Mestrado em Agronegócios da Universidade Federal de Goiás – UFG e Conselheiro do CORECON – 18º Região/GO. End. Eletrônico <[email protected]> 2 Doutor em Economia pela Universidade de Campinas (UNICAMP), Pesquisador do IPEA, Conselheiro do CORECON – 18º Região/GO e professor na Faculdade Alfredo Nasser

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A finalidade desta investigação é calcular um Índice de População Rural (IPOP) para os municípios do Estado de Goiás, no interregno censitário 1996-2000. Para tanto, a idéia defendida é que o estado apresenta uma estrutura rural heterogênea onde coexistem áreas com notável grau de desenvolvimento da população rural em contraste outras que apresentam baixo dinamismo. Para a realização do objetivo proposto no trabalho utilizou-se os recursos técnicos da pesquisa bibliográfica e documental e adotou-se o método analítico descritivo. Os resultados encontrados demonstram que, no período analisado, o estado apresentou de modo geral baixo nível de desenvolvimento rural. No entanto, percebe-se que a região Centro-Sul apresentou maiores valores para o IPOP em comparação à região Centro-Norte, o que demonstra que o processo de modernização do campo aconteceu de forma mais efetiva nesta porção do território.

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O GRAU DE DESENVOLVIMENTO RURAL EM GOIÁS: ÍNDICE

DE POPULAÇÃO (IPOP)

Edilson G. Aguiais1

Murilo J. S. Pires2

A finalidade desta investigação é calcular um Índice de População Rural (IPOP) para os municípios do Estado de Goiás, no interregno censitário 1996-2000. Para tanto, a idéia defendida é que o estado apresenta uma estrutura rural heterogênea onde coexistem áreas com notável grau de desenvolvimento da população rural em contraste outras que apresentam baixo dinamismo. Para a realização do objetivo proposto no trabalho utilizou-se os recursos técnicos da pesquisa bibliográfica e documental e adotou-se o método analítico descritivo. Os resultados encontrados demonstram que, no período analisado, o estado apresentou de modo geral baixo nível de desenvolvimento rural. No entanto, percebe-se que a região Centro-Sul apresentou maiores valores para o IPOP em comparação à região Centro-Norte, o que demonstra que o processo de modernização do campo aconteceu de forma mais efetiva nesta porção do território.

Palavras-chave: Desenvolvimento, Desenvolvimento Rural, Goiás.

1 Economista, Aluno-Especial no Mestrado em Agronegócios da Universidade Federal de Goiás – UFG e Conselheiro do CORECON – 18º Região/GO. End. Eletrônico <[email protected]>

2 Doutor em Economia pela Universidade de Campinas (UNICAMP), Pesquisador do IPEA, Conselheiro do CORECON – 18º Região/GO e professor na Faculdade Alfredo Nasser

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INTRODUÇÃO

Apesar de o Brasil apresentar uma população predominantemente urbana onde

apenas 20% reside em áreas rurais (IBGE, 2000), a grande maioria do território

continua a ser rural e com grande potencial agrícola. Após a inserção do fenômeno

globalização em todas as esferas econômicas, o rural passa a ter um novo papel na

sociedade contemporânea. Neste novo contexto, este espaço deixa de ser considerado

apenas fonte fornecedora de produtos agrícolas e adquire uma nova característica

fundamental: passa então a existir uma integração gradativa e contínua entre os espaços

urbanos e rurais formando uma espécie de cadeia de interdependências que passa a ser o

objeto central dos estudos rurais.

Esta nova configuração, que liga a urbanidade e a ruralidade, passa a comportar

as particularidades do campo e da cidade. A este espaço de integração urbano-rural é

dado o nome de “espaço local” onde existe a interpolação destes dois planos. Sobre este

assunto WANDERLEY (2001) afirma que não existe uma diluição de nenhum dos

pólos (urbano e rural) e sim a criação de redes que em muitos planos reiteram e

viabilizam as particularidades de cada espaço. Deste modo, o desenvolvimento de um

espaço local não deve supor o fim de suas “ruralidades” e sim a incorporação do

desenvolvimento rural ao desenvolvimento local.

O desenvolvimento de cada região está diretamente ligado com o grau de

inserção desta economia no mercado. Para corrigir estas assimetrias a mediação do

Estado é fundamental, com vistas a dar consistência ao movimento. Deste modo, “o

estudo das desigualdades de renda no Brasil aponta de forma sistemática um elevado

grau de desigualdade regional” (PAES & SIQUEIRA, 2008). Em um estudo feito sobre

a realidade da Suécia, CECCATO & PERSON (2002) concluíram que o nível de

integração da economia depende do desempenho de cada região. Assim, regiões com

maior dinamismo tendem a se incluir nos ramos das atividades privadas ao passo que

áreas com menor dinamismo se apóiam nas atividades públicas (FAVARETO, 2006).

No Brasil, os diferentes níveis de desenvolvimento não são identificáveis apenas

entre as federações mas também entre diferentes regiões de uma mesma Unidade

Federativa. Deste modo, regiões dotadas de menor dinamismo passam a depender mais

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diretamente do apoio estatal enquanto outras, mais dinâmicas, se integram ao fenômeno

capitalista de mercado.

Para mensurar o grau de desenvolvimento das regiões rurais, que é medido pelo

Índice de Desenvolvimento Rural (IDR), este trabalho se propõe a demonstrar os

resultados obtidos para o Índice de População (IPOP) dos municípios de Goiás a partir

da metodologia desenvolvida por Kageyama (2004), adaptada por Correa, Silva &

Neder (2007) e aplicada por Aguiais (2009). Este índice, que compõe por média simples

o IDR, abarca as características populacionais rurais, tais como densidade demográfica,

migração, população rural, etc.

Desta forma, esta pesquisa tem como pergunta norteadora a seguinte

problemática: Como está configurado o desenvolvimento rural nos municípios de Goiás

no interregno censitário de 1996/2000, medido pelo Índice de População - IPOP? Para

tanto, o objetivo geral desta investigação é verificar o grau de desenvolvimento rural

dos municípios de Goiás no interregno censitário de 1996/2000, através de um dos seus

indicadores (IPOP).

Esta pesquisa justifica-se em diversos âmbitos: primeiramente, pela escassez de

estudos e pesquisas realizadas abordando este enfoque para o Estado de Goiás. Em

segundo lugar, pela importância que o Estado de Goiás adquiriu no cenário nacional

principalmente após a década de 1970/80 (Pires, 2008) quando a política econômica

nacional voltou-se para a exportação de suas principais culturas3 (Aguiar, 2007).

Por fim, por fornecer informações sobre o desenvolvimento rural goiano a fim

de oferecer subsídios teóricos e empíricos para os formuladores de políticas para este

Estado que “tem se inserido no contexto nacional com um padrão agrícola que estimula

a consolidação de uma agricultura moderna e empresarial com fortes vínculos com os

mercados nacionais e internacionais” (Pires, 2008, p.2). Estas informações vêm

colaborar com as políticas futuras pois “não se faz política sem teoria: decisões públicas

e privadas conseqüentes e eficazes são sempre ancoradas em um quadro de referência

organizado e coerente” (Castro, 2005, p. 12).

Adota-se como hipótese de trabalho que o Estado de Goiás apresenta “ilhas”

com notável grau de desenvolvimento rural em contraste com outras que apresentam

3 Como a exploração agrícola goiana após o ciclo do ouro se deu na forma de complementaridade com a pecuária, somente eram produzidas culturas de consumo interno tais como milho, feijão e arroz (AGUIAR, 2007).

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baixo dinamismo sendo, portanto, dependentes de políticas específicas voltadas para o

desenvolvimento destas áreas. Tal hipótese encontra fundamentação no trabalho de

Filippi (2006) que afirma que o desenvolvimento rural no Brasil não foi diferente do

processo econômico geral sendo, portanto, desigual e excludente.

Num enfoque regional e tratando o caso especifico de Goiás, Pires (2008)

apresenta a região Centro-Sul de Goiás como dotada de um dinamismo próprio, o que

promoveu “uma intensificação em seu processo de modernização econômica que

favoreceu a penetração das principais unidades de processamento agroindustrial dos

complexos grãos, carnes, lácteo e sucroalcooleiro dos complexos agroindustriais

nacionais” (Pires, 2008, p.4).

ASPECTOS METODOLÓGICOS

A metodologia da pesquisa deve ser abordada como um conjunto de métodos e

técnicas a serem desenvolvidas buscando atingir os objetivos inicialmente propostos.

Deste modo, esta investigação se encaixará na abordagem qualitativa da pesquisa.

Segundo Pádua (1996), “a pesquisa qualitativa preocupa-se com o significado dos

fenômenos e processos sociais e tem como objetivo esclarecer situações, trazer uma

conscientização dos problemas e proporcionar meios e estratégias de solução” (Pádua,

1996, p. 31).

A primeira parte desta pesquisa dedicou-se a realização de uma Pesquisa

Bibliográfica, a qual “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído

principalmente de livros e artigos científicos” (Gil, 2002, p.56). De acordo com Pádua

(1996) a pesquisa bibliográfica é a que permite ao pesquisador acessar o que se tem

produzido e registrado perante o tema a que se dispõe pesquisar. Desta maneira, foi

realizada uma revisão bibliográfica da literatura que trata a temática do

desenvolvimento rural regional. O enfoque foi baseado nos autores: Veiga (2002),

Favareto (2006), Abramovay (1992), Kageyama (2004), Faria (2006), Pires (2008),

Estevam (1998), dentre outros.

A segunda etapa foi destinada à Pesquisa Documental que “vale-se de materiais

que não receberam tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com

os objetivos da pesquisa. Entre esses materiais estão os dados censitários, os

documentos oficiais (...)” (Gil, 2002, p.57). Adotou-se como documentos os dados do

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Censo Demográfico (2000 e 1991) obtidos através do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE).

Quanto aos objetivos, esta pesquisa se caracteriza como descritiva, pois “tem

como objetivo primordial a descrição das características de determinadas populações”

(Gil, 2002, p.42). Sendo assim, a terceira etapa do trabalho faz a análise descritiva dos

dados coletados por meio da pesquisa documental à luz do referencial teórico.

Metodologicamente, e com o intuito de delimitar as regiões de estudo, seguindo

a proposta apresentada por Pires (2008), o estado de Goiás foi dividido em duas

macrorregiões: Centro-Sul e Centro-Norte. Esta divisão foi feita seguindo

rigorosamente a resolução - PR nº 11 de 05/06/90 do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE.

Figura 1. Divisão Regional do Estado de Goiás

Fonte: Pires (2008)

Assim, adotou-se as microrregiões de Ceres, Anápolis, Iporá, Anicuns, Goiânia, Sudoeste de

Goiás, Vale Rio dos Bois, Meia Ponte, Pires do Rio, Catalão e Quirinópolis como pertencentes à região

Centro-Sul do Estado. Do mesmo modo, as microrregiões de São Miguel do Araguaia, Rio Vermelho,

Aragarças, Porangatu, Chapada dos Veadeiros, Vão do Panamá e Entorno de Brasília foram

caracterizadas como região Centro-Norte.

A extração, montagem e manipulação dos dados foram realizadas por meio do

Pacote Estatístico STATA, versão 9.0 ao passo que os mapas foram plotados utilizando-

se o software Arcviews, versão 3.2.

Os dados secundários utilizados para o cálculo dos indicadores que formam, por

média simples, o IPOP foram retirados basicamente de quatro banco de dados. A

primeira fonte foi o Censo Demográfico (2000), onde se utilizou dados da base

“universo” e, em grande parte, dados do “Microdados”. Foram utilizados também os

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Microdados do Censo Demográfico (1991) para calcular a variação da população rural

no período de estudo. Cabe ressaltar que estes valores foram devidamente ponderados

segundo os pesos fornecidos pelo IBGE.

Os dados levantados foram compilados buscando a consolidação por município,

abordando somente a “área rural” do mesmo segundo os critérios do IBGE4, mesmo

cientes que esta definição administrativa não capta a totalidade do meio rural no Brasil.

Para o efeito de não contaminação das análises descritivas e gráficas, foram

retirados os municípios considerados como outliers, ou seja, aqueles que foram criados

posteriormente à realização do último Censo Demográfico e, portanto, ainda não

codificados pelo IBGE5.

A metodologia adotada é baseada nos trabalhos de Corrêa, Silva e Neder (2008)

que, adaptando uma metodologia criada por Kageyama (2004), construíram um

indicador para levantar o nível de Desenvolvimento Rural de cada um dos municípios

das regiões Nordeste e Sul do Brasil. Os resultados foram obtidos pela aplicação da

metodologia acima referenciada por Aguiais (2009), no cálculo do Índice de

Desenvolvimento Rural para cada município do Estado de Goiás.

Assim, conforme esta metodologia, o Índice de População – IPOP, que procura

mensurar o dinamismo populacional do município em estudo, é obtido a partir da média

aritmética simples de quatro variáveis: a) densidade demográfica; b) variação da

população entre 1991 e 2000; c) proporção da população rural em termos da população

residente no município e; d) proporção da população rural que não morou sempre no

município. Esta última variável busca evidenciar o poder de atração do município sendo

que, quanto maior a proporção de pessoas vindas de outro município, maior a

capacidade de atração em termos de oportunidades.

Quadro 1. Descrição das variáveis - IPOP

Indicador Descrição da Variável Base de Dados Utilizada

4 Segundo o IBGE “rural é a área externa ao perímetro urbano de um distrito, composta por setores nas seguintes situações de setor: rural de extensão urbana, rural-povoado, rural-núcleo, rural-outros aglomerados, rural-exclusive aglomerados” (IBGE, 2002, p. 66).5 Desta forma, para as análises desenvolvidas no presente estudo, foram considerados 241 municípios sendo, portanto, excluídos da análise os municípios de Campo Limpo de Goiás, Gameleira de Goiás, Ipiranga de Goiás e Lagoa Santa. Além destes, foi excluído o município de Valparaíso pois o mesmo não possui população rural.

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Índice de População (IPOP) =

(a + b + c + d) /4

a) Densidade demográfica

(padronizada)*IBGE (Disponível no site)

b) Variação da população rural

entre 1991 e 2002 (padronizada)

Censos Demográficos IBGE

(2000 e 1991) – Microdados

c) Proporção da população rural

no municípioIBGE (Disponível no site)

d) Proporção da população rural

que não morou sempre no

município (migração)

Censo Demográfico IBGE

(2000) – Microdados

* a padronização foi utilizada para fazer uma transformação algébrica para que o índice varie entre zero e um. Esta transformação é quociente (valor da variável – mínimo)/(máximo – mínimo).

Fonte: Correa, Silva & Neder (2008).

A partir dos resultados obtidos através do cálculo das váriáveis já descritas anteriormente,

obteve-se o valor dos Índices de População (IPOP’s) de cada um dos municípios do Estado de Goiás.

Assim, os valores para o IPOP variam no intervalo entre 0 e 1, sendo que, quanto mais próximo de 1,

maior o nível de desenvolvimento da população rural.

Assim, a classificação se deu da seguinte forma:

Tabela 1. Tabela de resultado dos indicadores

Total de Municípios

QuartisClassificação dos

intervalos

Número de municípios

Até 1º quartil "Muito Baixo"Até 2º quartil "Baixo"Até 3º quartil "Médio"Até 4º quartil "Alto"

Fonte: Correa, Silva e Neder (2007).

Segundo demonstrado na Tabela 1, cada um dos municípios foi categorizado em quatro níveis de

IPOP: (i) “Muito Baixo”: no qual estão contidos os municípios com valor abaixo do primeiro quartil; (ii)

“Baixo”: contendo os municípios com valores entre o 1º quartil e a mediana; (iii) “Médio”: contendo os

municípios com valores entre a mediana e o terceiro quartil e; (iv) “Alto”: representando os municípios

com valores entre o 3º quartil e o maior valor observado.

RESULTADOS: ÍNDICE DE POPULAÇÃO – IPOP

O objetivo desta parte do trabalho é apresentar os resultados referentes ao Índice

de População (IPOP), que busca mensurar o dinamismo populacional rural e abrange

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dados sobre a) densidade demográfica da população; b) a variação da população rural

(entre 1991 e 2000); c) proporção da população rural no município; e d) proporção das

pessoas que não morou sempre no município.

Assim, pelos dados apresentados na Tabela 2, percebe-se que os valores

medianos para o IPOP em ambas as regiões se comportaram de forma relativamente

homogênea (0,19 para porção Centro-Sul e 0,20 para o Centro-Norte). Do mesmo

modo, os valores mínimos e máximos de IPOP são menores para a região Centro-Sul

em comparação aos apresentados pelo Centro-Norte.

Tabela 2. Resultado do IPOP

IPOP Média Mínimo MáximoRegião Centro - Sul 0,1915 0,0779 0,3669Região Centro - Norte 0,2040 0,1019 0,4202

Fonte: Tabulação própria, a partir dos dados gerados.

A classificação dos municípios segundo níveis de desenvolvimento auxilia no momento da

análise dos resultados. Portanto, observa-se que a partir dos resultados percentis dos índices a

classificação para os municípios ficou conforme demonstrado na Tabela 3.

Tabela 3. Distribuição do IPOP

Total de Municípios

QuartisClassificação dos

intervalosIntervalos de

IPOP

241

Até 1º quartil "Muito Baixo" 0.078 - 0.166Até 2º quartil "Baixo" 0.166 - 0.221Até 3º quartil "Médio" 0.221 - 0.297Até 4º quartil "Alto" 0.297 - 0.420

Fonte: Tabulação própria, a partir dos dados gerados.

Os valores apresentados na Tabela 3 referem-se à divisão e classificação dos resultados em

quatro níveis de desenvolvimento rural. Assim, percebe-se que o IPOP para a população do Centro-Norte

e do Centro-Sul apresentam-se fortemente concentrados nos níveis “muito baixo” ou “baixo”, conforme

demonstrado abaixo.

Tabela 4. Divisão dos resultados do IPOP por regiões

IPOP Muito Baixo Baixo Médio AltoRegião Centro-Sul 35% 39% 23% 3%Região Centro Norte 26% 35% 36% 4%

Fonte: Tabulação própria, a partir dos dados gerados.

Com efeito, observa-se que 4% dos municípios situados na região Centro-Norte apresentaram

valor “alto” de IPOP, enquanto a região Centro-Sul apresenta 3% na mesma situação. Quando se observa

os níveis “baixo” e “muito baixo”, percebe-se que a região Centro-Sul responde por 74% dos municípios

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ao passo que a região Centro-Norte apresenta 60%. Assim, percebe-se que os municípios da porção

Centro-Norte do estado apresentam maiores valores de IPOP, no entanto, verifica-se que a região Centro-

Norte do estado apresenta uma maior população rural em comparação ao Centro-Sul. Estes resultados

podem ser mais bem visualizados conforme demonstrados no mapa abaixo.

Figura 2. Índice de População – IPOP

Go50munMuito BaixoBaixoMédioAlto

300 0 300 600 Kilometers

N

EW

S

Índice de População - IPOP

Fonte: Elaboração do autor

A partir dos resultados obtidos percebe-se que o Estado de Goiás ainda apresenta valores muito

baixos de IPOP. Considerando que, conforme a metodologia, quanto mais próximo de 1,00 for o

resultado, maior é o desenvolvimento da região, observa-se que o valor máximo deste indicador para os

municípios de goianos está situado num nível muito baixo (0,42). Este resultado mostra o baixo

dinamismo da população rural e se dá em parte pela baixa densidade demográfica na maioria dos

municípios do estado aliada a heterogeneidade regional da população rural.

Deste modo, pelos resultados obtidos entende-se que o Índice de População para

o Estado de Goiás (conforme os critérios definidos na metodologia) apresentou maior

concentração nos níveis “muito baixo” e “baixo”. Com isto, infere-se que o dinamismo

populacional no período (que é medido pelo IPOP) é não apresentou grande dinamismo.

Com efeito, os dados que versam sobre a densidade demográfica, população

rural entre 1991-2000 os valores para os municípios de Goiás encontram-se no nível

“muito baixo”, em praticamente em todo o estado. As exceções ficam por conta da

Região Metropolitana de Goiânia6 e Anápolis além de algumas áreas do entorno de

6 Que compreende os municípios de Goiânia, Abadia de Goiás, Aparecida de Goiânia, Aragoiânia, Bela Vista de Goiás, Goianápolis, Goianira, Hidrolândia, Nerópolis, Santo Antonio de Goiás, Senador Canedo e Trindade conforme Lei Complementar nº 27 de 30 de dezembro de 1999.

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Brasília. Entende-se, portanto, que estes dados corroboram com as idéias apresentadas

por Aguiais (2009) onde mostra-se historicamente que a população tendeu a migrar

principalmente para áreas onde havia maior nível de industrialização e a urbanização.

Quando se observa a variação da população rural percebe-se que os municípios

do Centro-Norte apresentaram maior variação nesta população rural. Com efeito, há

indícios que as pessoas que perderam as suas propriedades rurais pelo processo de

modernização do campo acabaram se deslocando para os principais centros industriais e

urbanos do estado em busca de emprego e renda.

Embora possa ser observado que alguns municípios da região Centro-Sul

apresentem valores médios de variação da população rural no período de estudo

verifica-se que estes são os municípios que apresentam maior índice mecanização na

atividade agrícola tendo, portanto, provocado intensa migração da população.

Do mesmo modo, os resultados sobre a migração, ou seja, sobre as pessoas que

não residiram sempre no município demonstram que a maior parte do estado situa-se

nos níveis “médio” e “alto”, o que confirma os fluxos de migração que houve no

período de modernização da agricultura.

O próximo item observado se refere à proporção da população rural-urbana onde

verifica-se que a região Centro-Norte apresenta grande parte dos valores entre “médio”

e “alto”, demonstrando que a população nesta região ainda está fortemente presente no

meio rural. Este resultado pode ser atribuído, conforme defendido por Pires (2008),

devido à fraca incorporação de progresso técnico ocorrido nesta região que, se deu

principalmente na região Centro-Sul e ligada aos programas de financiamento estatais.

CONCLUSÕES

O objetivo geral deste trabalho foi entender como se objetivou o

desenvolvimento rural nos municípios de Goiás no interregno censitário de 1996/2000,

medido pelo Índice de População- IPOP. A hipótese adotada para este trabalho afirma

que Goiás apresenta “ilhas” com notável grau de desenvolvimento rural em contraste

com outras que apresentam baixo dinamismo.

Como resultado da modernização do campo em Goiás, que é apresentada pela

literatura e evidenciada pelos resultados do capítulo anterior, percebe-se mais intensa

migração da população do meio rural para as regiões mais urbanizadas e

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industrializadas (Goiânia e Anápolis). Este fenômeno dá origem a uma persistente

diminuição na população rural ao passo que ocorre o aumento das taxas de urbanização

nas cidades mais industrializadas. Com efeito, pelos resultados encontrados percebe-se

ainda que os frutos da modernização da agricultura, que é o estopim para o

desenvolvimento rural, podem ser observados com mais intensidade na região Centro-

Sul do estado ao passo que a porção Centro-Norte do território não foi influenciada

fortemente por este processo de modernização do campo. Isto se deu porque a região

Centro-Norte do estado não esteve fortemente ligada ao processo de modernização que

acontecia no meio rural. Como este processo se deu ancorado nas linhas de

financiamento estatais os produtores descapitalizados não tiveram acesso a estas fontes

de recursos, as regiões mais integradas ao comércio exportador obtiveram estes

benefícios com maior intensidade.

Deste modo, conforme resultados apresentados, devido a menor incorporação do

progresso técnico nas atividades agrícolas, a região Centro-Norte apresenta fortes

indícios de que a sua exploração agropecuária permanece baseada nos métodos

tradicionais utilizando-se de mão de obra familiar, baixa incorporação de inovações

químicas e mecânicas além do manejo de culturas voltadas para o consumo interno. No

entanto, deve ser ressaltado que, por não ser objeto deste estudo, este item não abordado

visto que demandariam outras pesquisas. Por outro lado, a região Centro-Sul do estado

volta-se, sobretudo para culturas de “exportação” (setor agroindustrial do mercado

interno e externo) com crescente incorporação de progresso técnico, utilizando-se de

fertilizantes, defensivos agrícolas e intensa mecanização da atividade agrícola.

Assim, conclui-se que no Brasil, o processo de desenvolvimento econômico que

ocorreu de forma extremamente desigual faz com que coexistam situações rurais

extremadas. Devido à existência de estruturas arcaicas convivendo com estruturas

modernas percebe-se que, em algumas regiões do país, o desenvolvimento rural já está

bastante avançado ao passo que em outras este processo praticamente inexiste.

Portanto, entende-se que o desenvolvimento rural é resultado de fatores internos

e externos ao meio rural. Assim, os fatores externos estão ligados à ampliação do acesso

da população rural a bens de consumo equiparado aos citadinos que, aliados à

globalização, crises de emprego, etc. confirmam os efeitos das novas relações

econômicas no rural. Por outro lado, os fatores internos que advêm da modernização da

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agricultura, por meio da incorporação de progresso técnico às atividades agrícolas,

trouxeram “ares de modernidade” para o meio rural.

No entanto, seguindo o que ocorreu no desenvolvimento da economia do país, o

processo desenvolvimento no meio rural também se deu de forma desigual e fortemente

excludente. Com efeito, as características de heterogeneidade típicas das economias

subdesenvolvidas também estão presentes no meio rural criando duas regiões distintas

no mundo rural: uma moderna e outra atrasada. As regiões modernas apresentam grande

dinamismo e, como tal, possuem grande parte das características demonstradas pelo

desenvolvimento rural. As regiões atrasadas, por menos incorporadas a este processo de

desenvolvimento, podem apresentar poucas ou nenhuma das características que definem

este novo momento.

Em Goiás os resultados obtidos pelo cálculo do Índice de População - IPOP

confirmam a hipótese deste trabalho pois verifica-se que a região Centro-Sul apresentou

maior nível de desenvolvimento vis-à-vis a porção Centro-Norte do território. Este

resultado se dá porque houve menor penetração da modernização do campo na região

Centro-Norte em comparação ao Centro-Sul do estado.

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