O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.
Transcript of O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.
![Page 1: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/1.jpg)
O IMAGINÁRIO SATÍRICOO IMAGINÁRIO SATÍRICO(1)(1)
![Page 2: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/2.jpg)
T R O V A D O R I S M O
![Page 3: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/3.jpg)
GUILLAUME IX (1071-1127), O TROVADOR
![Page 4: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/4.jpg)
Palavra
Música
Emoção
![Page 5: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/5.jpg)
(séculos XII, XIII e XIV)
Trovadorismo galego-português
Dom Dinis (1261-1325)
Cancioneiros:
• da Ajuda
• da Vaticana
• da Biblioteca Nacional
![Page 6: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/6.jpg)
Cantigas de Escárnio
Sátira indireta (encoberta)
Humor e ironia
Ambiguidade
Subentendidos
![Page 7: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/7.jpg)
Vej' eu as gentes andar revolvendo e mudando aginha os corações do que põen antre si as nações; e já m'eu aquesto vou aprendendoe ora cedo mais aprenderei:a quen poser preito, mentir-lho-ei, e assi irei melhor guarecendo. Ca vej' eu ir melhor ao mentireiroc'ao que diz verdade ao seu amigo;e por aquesto o jur' e o digoque já mais nunca seja verdadeiro;mais mentirei e firmarei log'al:a quen quer'oje ben, querrei-lhe mal,e assi guarrei come cavaleiro.
Pois que meu prez nen mia onra non crece,por que me quígi teer à verdade,vede-lo que farei, par car(i)dade,pois que vej' o que m' assi acaece:mentirei ao amigo e ao senhor,e poiará meu prez e meu valorcon mentira, pois con verdade dece.
Pero Mafaldo
![Page 8: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/8.jpg)
Ũa dona, non digu' eu qual, non agùirou ogano mal polas oitavas de Natal: ia por sa missa oir, e (ouv') un corvo carnaçal, e non quis da casa sair. A dona, mui de coraçon, oira sa missa, enton, e foi por oir o sarmon, e vedes que lho foi partir: ouve sig' un corv' acaron, e non quis da casa sair.
A dona disse:—Que será? E i o clérigu' está já revestid' e maldizer-m'-á, se me na igreja non vir. E diss' o corvo: quá, (a)cá, e non quis da casa sair. Nunca taes agoiros vi, dês aquel dia que naci; com' aquest' ano ouv' aqui; e ela quis provar de s'ir, e ouv' un corvo sobre si, e non quis da casa sair.
João Airas de Santiago
![Page 9: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/9.jpg)
Humor e ironia
Cantigas de Maldizer
Sátira direta (aberta)
Temática escabrosa
Linguagem obscena
![Page 10: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/10.jpg)
Luzia Sánchez, jazedes en gran falha
comigo, que non fodo mais nemigalha
dua vez; e, pois fodo, se Deus mi valha,
fiqu'end'afrontado ben por tecer dia.
Par Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia,
se eu foder-vos podesse, foder-vos-ia. [...]
D. João Soares Coelho
![Page 11: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/11.jpg)
H U M A N I S M O
Transição da Idade Média ao Renascimento
Crise do Feudalismo
Crise da Igreja católica
Crise da Escolástica
Início do Absolutismo
Prosperidade da burguesia
Início do Mercantilismo
![Page 12: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/12.jpg)
Revalorização da Antiguidade greco-latina
Estudos de grego e de latim
Valorização da natureza
Valorização do homem
Consciência crítica
Consciência histórica
H U M A N I S M O
![Page 13: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/13.jpg)
Dante Alighieri(1265-1321)
Grandes Humanistas
![Page 14: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/14.jpg)
Francesco Petrarca(1304-1374)
Grandes Humanistas
![Page 15: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/15.jpg)
Erasmo de Roterdam(1467-1536)
Grandes Humanistas
![Page 16: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/16.jpg)
Thomas More(1478-1535)
Grandes Humanistas
![Page 17: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/17.jpg)
Nicolau Maquiavel(1469-1527)
Grandes Humanistas
![Page 18: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/18.jpg)
Gil Vicente(1465?-1537?)
Grandes Humanistas
![Page 19: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/19.jpg)
AUTO DA BARCA DO INFERNOAUTO DA BARCA DO INFERNO(1517)(1517)
![Page 20: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/20.jpg)
O Inferno, c. 1520. Anônimo. Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa
![Page 21: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/21.jpg)
Cena 1: Diabo e Companheiro
Cena 2: FidalgoCena 2: Fidalgo
![Page 22: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/22.jpg)
Cena 3: Onzeneiro
Cena 4: Joane, o parvo
Cena 5: Sapateiro
![Page 23: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/23.jpg)
Cena 6: Frade
Cena 7: Brísida Vaz, a alcoviteira
Cena 8: Judeu
![Page 24: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/24.jpg)
Cena 9: Corregedor
Cena 10: Procurador
Cena 11: Enforcado
![Page 25: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/25.jpg)
Cena 12: Quatro cavaleiros cruzados
![Page 26: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/26.jpg)
GÊNERO: Auto de moralidade
Sátira alegórica Mescla de elementos sacros e profanos
CENÁRIO: unidade de espaço
Cais da vida eterna Duas embarcações ancoradas
TEMPO: unidade de tempo
PERSONAGENS
Alegóricas (personificação de idéias) Típicas (representação de tipos sociais)
Intervalo entre marés
![Page 27: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/27.jpg)
ESTRUTURA GÓTICA
12 cenas justapostas Não há unidade de ação
TEMÁTICA: a morte e o juízo final
LÍNGUA E LINGUAGEM
Português quinhentista Castelhano Saiguês Latim macarrônico Variantes linguísticas adequadas aos tipos sociais Teatro poético:
Versos redondilhos maiores Estrofes rimadas Ritmo fluente
![Page 28: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/28.jpg)
FIDALGO — Porém, a que terra passais?DIABO — Pera o inferno, senhor.FIDALGO — Terra é bem sem sabor.DIABO — Quê! E também cá zombais?FIDALGO — E passageiros achais
pera tal habitação?DIABO — Vejo-vos eu em feição
pera ir ao nosso cais. FIDALGO — Parece-te a ti assi.DIABO — Em que esperas ter guarida?FIDALGO — Que leixo na outra vida
quem reze sempre por mi.DIABO — Quem reze sempre por ti?
Hi hi hi hi hi hi hi!E tu viveste a teu prazer,cuidando cá guarecer,porque rezam lá por ti?
![Page 29: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/29.jpg)
Embarca, ou embarcai,que haveis d’ ir à derradeira.Mandai meter a cadeira,que assi passou vosso pai.
FIDALGO — Quê, quê, quê! E assi lhe vai?DIABO — Vai ou vem, embarcai prestes:
segundo lá escolhestes,assi cá vos contentai.
Pois que a morte já passastes,haveis de passar o rio.
FIDALGO — Não há aqui outro navio?DIABO — Não, senhor, que este fretastes,
e já quando expirastes,me tínheis dado sinal.
FIDALGO — Que sinal foi esse tal?DIABO — Do que vós vos contentastes.
![Page 30: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/30.jpg)
FIDALGO — A est’ outra barca me vou.Ó da barca! Pera onde is?Ah, barqueiros, não m’ ouvis?Respondei-me! Oulá, ou!Pardeus, aviado estou:quant’ a isto é já pior.Que gericocins, salvanor!Cuidam cá que sou eu grou!
ANJO — Que mandais?FIDALGO — Que me digais,
pois parti tão sem aviso,se a barca do Paraísoé esta em que navegais.
ANJO — Esta é; que demandais?FIDALGO — Que me leixeis embarcar:
sou fidalgo de solar,é bem que me recolhais.
![Page 31: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/31.jpg)
ANJO — Não se embarca tiranianeste batel divinal.
FIDALGO — Não sei porque haveis por malque entre minha senhoria.
ANJO — Pera vossa fantesiamui estreita é esta barca.
FIDALGO — Pera senhor de tal marcanão há aqui mais cortesia?
Venha prancha e atavio:levai-me desta ribeira.
ANJO — Não vindes vós de maneirapera ir neste navio.Ess’ outro vai mais vazio,a cadeira entrará,e o rabo caberá,e todo vosso senhorio.
![Page 32: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/32.jpg)
Vós ireis mais espaçoso,com fumosa senhoria,cuidando na tirania,do pobre povo queixosoe porque de generosodesprezastes os pequenosachar-vos-eis tanto menosquanto mais fostes fumoso.
![Page 33: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/33.jpg)
AUTO DE INÊS PEREIRAAUTO DE INÊS PEREIRA(1523)(1523)
![Page 34: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/34.jpg)
TEMPOEm torno de 1523Cena 1 a 18: entardecer de um dia qualquerCena 19: salto temporal. Após o casamento, o Escudeiro parte para a guerraCena 22: salto de três meses. Inês fica viúva do Escudeiro e aceita Pero Marques
ESPAÇOCidade de Tomar, ao norte do RibatejoCasa de Inês Pereira (do lado de fora e na sala)Caminho para a ermida do Ermitão, em que se atravessa um rio
FARSA DE INÊS PEREIRA (1523)“Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube”
![Page 35: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/35.jpg)
FARSA DE INÊS PEREIRA (1523)“Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube”
PERSONAGENS TÍPICAS(representam os grupos sociais a que pertencem) Inês Pereira (jovem pequeno-burguesa) Mãe (de Inês) Lianor Vaz (casamenteira) Pero Marques (2º marido: o “asno”) Latão e Vidal (judeus casamenteiros) Escudeiro Brás da Mata (1º marido: o “cavalo”) Moço (Fernando, criado do Escudeiro) Ermitão (falso monge) VizinhosGÊNERO: Farsa (peça humorística)LÍNGUA Português quinhentista coloquial e popular (exceto as falas do Ermitão) Castelhano (falas do Ermitão)TEMÁTICA O casamento por interesse A dissolução moral da sociedade: “os fins justificam os meios”
AÇÃO: um ato com 30 cenas enredadas (começo, meio e fim)LINGUAGEM Teatro poético: Versos redondilhos maiores Estrofes rimadas Ritmo fluente Falas moduladas conforme os padrões linguisticos sociais Realismo Espírito crítico
![Page 36: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/36.jpg)
[Pero Marques chega à casa de Inês e diz:] Pero: Folguei ora de vir cá. Eu vos escrevi de lá Uma cartinha, senhora Mãe: Tomais aquela cadeira. Pero: E que vai aqui uma destas?Inês: Ó Jesu! Que João das bestas! Olhai aquela canseira! [Assentou-se com as costas para elas e diz:] Pero: Eu cuido que não estou bem...Mãe: Como vos chamais, amigo?Pero: Eu Pero Marques me digo, Como meu pai que Deus tem: Faleceu – perdoe-lhe Deus! – Que fora bem escusado, E ficamos dois eréus, Porém meu é o morgado.
![Page 37: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/37.jpg)
Mãe: De morgado é vosso estado! Isso viria dos céus!Pero: Mais gado tenho eu já quanto, E o maior de todo o gado, Digo maior algum tanto. E desejo ser casado, Prouvesse ao Espírito Santo, Com Inês; que eu me espanto Quem me fez seu namorado. Parece moça de bem, E eu de bem er também, Ora vós er ide vendo Se lhe vem melhor ninguém, E segundo o que entendo. Cuido que lhe trago aqui Pêras de minha pereira – hão de estar na derradeira – Tende ora, Inês, per i.
![Page 38: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/38.jpg)
Inês: Hei isso de ter na mão?Pero: Deitai as peias no chão.Inês: As perlas para enfiar Três chocalhos e um novelo, E as peias do capelo: E as pêras onde estão? Pero: Nunca tal me aconteceu: Algum rapaz mas comeu; Que as meti no capelo, E ficou aqui o novelo, E o pente não se perdeu: Pois trazia-as de boa mente. Inês: Fresco vinha aí o presente Com folhinhas borrifadas!
![Page 39: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/39.jpg)
Pero: Não, que elas vinham chantadas Cá em fundo, no mais quente. Vossa mãe foi-se? Ora bem! Só nos deixou ela assi? Cant’eu quero me ir daqui, Não diga algum demo alguém... Inês: Vós que me havíeis de fazer Nem ninguém que há de dizer? Oh galante despejado!Pero: Se eu fora já casado, Doutra arte havia de ser, Como homem de bom recado. Inês: Quão desviado este está! Todos andam por caçar Suas damas sem casar, E este, tomade-o lá!
![Page 40: O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O.](https://reader031.fdocumentos.com/reader031/viewer/2022012922/552fc114497959413d8c7572/html5/thumbnails/40.jpg)
Pero: Vossa mãe é lá no muro?Inês: Minha mãe, a vós seguro, Que ela venha cá dormir. Pero: Pois, senhora, que quero-me ir Antes que venha o escuro.Inês: E não cureis mais de vir. Pero: Virá cá Lianor Vaz. Veremos que lhe dizeis.Inês: Homem, não aporfieis, Que não quero nem me praz; Ide casar a Cascais!Pero: Não voz anojarei mais, Ainda que saiba estalar; E prometo não casar Até que vós não queirais.