O IMIGRANTE HAITIANO E A IGREJA ADVENTISTA DO...

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE BERNADETE ALVES DE MEDEIROS MARCELINO O IMIGRANTE HAITIANO E A IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA EM SÃO PAULO: UM ESTUDO DE CASO São Paulo 2016

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

BERNADETE ALVES DE MEDEIROS MARCELINO

O IMIGRANTE HAITIANO E A IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA EM SÃO

PAULO: UM ESTUDO DE CASO

São Paulo

2016

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Bernadete Alves de Medeiros Marcelino

O Imigrante Haitiano e a Igreja Adventista do Sétimo Dia em São Paulo: um

estudo de caso

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.

Orientadora: Ph.D. Suzana Ramos Coutinho

São Paulo

2016

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M314i Marcelino, Bernadete Alves de Medeiros

O imigrante haitiano e a Igreja Adventista do Sétimo Dia em São

Paulo: um estudo de caso / Bernadete Alves de Medeiros

Marcelino – 2016.

129 f.: il ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016. Orientador: Profª. Dra. Suzana Ramos Coutinho

Bibliografia: f. 100-121 1. Migração haitiana 2. Igreja Adventista 3. Identidade 4. Missões 5. Ação social I. Título LC BX6121

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Dedico esse trabalho a minha família, amigos e professores que me ajudaram durante o desenvolvimento dessa pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço ao Deus soberano, por ter me concedido a

oportunidade de fazer o mestrado em Ciências da Religião na Universidade

Presbiteriana Mackenzie. Um sonho realizado! Por ter me concedido saúde, força e

a motivação necessária para realizar esse trabalho. Inúmeras pessoas estiveram ao

meu lado nesse percurso, as quais, eu não poderia deixar de citar. Entre elas, o

meu esposo Emerson Marcelino e meus dois filhos, Davi M. Marcelino e Lais M.

Marcelino. Meus pais, Antônio Alves de Medeiros e Ana Alves de Medeiros. Meus

irmãos, cunhados e cunhadas, sobrinhos e amigos. Minha orientadora Ph.D.

Suzana Ramos Coutinho, por quem tenho estimável carinho e os Drs. Ricardo Bitun

e Edin Sued Abumanssur, que prontamente aceitaram participar desse momento,

contribuindo para o enriquecimento dessa pesquisa. Cito 3ainda, todos os meus

professores do curso, que de forma direta ou indireta contribuíram para o meu

crescimento intelectual e me auxiliaram em diferentes momentos, sanando dúvidas,

indicando bibliografias e disponibilizando-se para me ouvir.

Agradeço também a Universidade Presbiteriana Mackenzie e a todos os

funcionários que compõe o seu quadro administrativo. Em especial, a secretária

Dagmar Dollinger, que sempre me atendeu com muita dedicação e a tantos outros

que durante esse período, me ajudaram nesse processo. Agradeço pelas bolsas de

estudos concedidas pela Capes, pelo Mackpesquisa e pelo fundo de filantropia

Mackenzie, sem as quais, teria sido muito difícil concluir esse curso. Aos

componentes do grupo de Estudo sobre Migração, Religião e Políticas Públicas do

Mackenzie, com os quais pude aprender muito. A Igreja Adventista do Sétimo Dia,

que me concedeu o espaço para fazer essa pesquisa. Aos meus amigos haitianos,

que me receberam com tanto carinho e com os quais tive tantos momentos de

alegria. A minha professora de Música Elsa Martinelli, por ter me ajudado,

aconselhado e ouvido em tantos momentos difíceis que passei nesse período. Ao

Robson Teles (membro adventista), pela ajuda concedida no início desse trabalho. A

minha grande amiga Vânia de Oliveira que sempre me apoiou. Aos meus colegas de

classe, e em especial ao Alexandre Bueno Salomé de Souza por ter me ajudado

muito no final dessa dissertação. Por fim ao meu pastor Adailson Santos e irmãos da

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igreja em que congrego, pelo incentivo, força, conselhos e carinho prestado em todo

esse tempo.

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“Falar do Haiti e do povo haitiano exige muito cuidado e humildade. [...] ainda é muito superficial o que se sabe desse povo e desse país”. (COSTA, 2015, p. 59)

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RESUMO

Nos últimos anos, mais precisamente após a catástrofe no Haiti em janeiro de 2010,

o processo migratório haitiano para o Brasil marcou a nossa história. Frente a

escassez de políticas públicas migratórias e o consequente desamparo por parte do

Estado, a grande maioria dos imigrantes haitianos que chegavam ao país,

acabavam inevitavelmente sendo recepcionados e acolhidos por instituições de

cunho religioso, que atuaram na tentativa de suprir algumas de suas necessidades

essenciais e emergenciais. Entre essas instituições, a Igreja Adventista do Sétimo

Dia, ainda que de forma sucinta, também atuou. Em São Paulo, onde um grupo de

haitianos adventistas foi acolhido pela Instituição, uma relação entre esse imigrante

e a Igreja Adventista do Sétimo Dia foi estabelecida. Nessa relação, a identidade do

grupo haitiano adventista foi construída e estratégias missionárias e de ação social,

com vistas a alcançar outros haitianos, foram estabelecidas.

Palavras-chave: Migração Haitiana. Igreja Adventista. Identidade. Missões. Ação

Social.

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ABSTRACT

In the past couple of years, more precisely after the catastrophe in Haiti on January

2010, the Haitian migration to Brazil has marked our history. Due to the lack of better

public migration policies and the lack of support by the State, the majority of Haitian

immigrants that arrived to our country, ended up inevitably being greeted and

welcomed by religious institutions, acting in the hopes of supplying some of the

essential and urgent necessities. Among these institutions The Adventist Church of

The Seventh Day, in a lighter manner, also acted. In Sao Paulo, where a group of

Adventist Haitians was sheltered by institution, a relationship was established

between the immigrants and the Adventist Church of The Seventh Day. In such

relationship, the identity of the Haitian group was built, stablishing missionary and

social strategies with the intent of reaching other Haitians.

Key words: Haitian Migration. Adventist Church. Identity. Missions. Social Action.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1............................Foto do Projeto: Médico - Missionário Adventista no Haiti

FIGURA 2..................Foto do Centro de Influência da Igreja Adventista do Sétimo SP

FIGURA 3.............................Foto do diálogo com haitiano por meio de redes sociais I

FIGURA 4............................Foto do diálogo com haitiano por meio de redes sociais II

FIGURA 5....................Foto do grupo público de migrantes e refugiados em Manaus I

FIGURA 6..................Foto do grupo público de migrantes e refugiados em Manaus II

FIGURA 7...............................................................Foto do grupo público Investi Ayiti I

FIGURA 8..............................................................Foto do grupo público Investi Ayiti II

FIGURA 9.....Foto de Culto realizado pela comunidade étnica haitiana adventista SP

FIGURA 10..........Foto da Escola Sabatina l/grupo étnico de haitianos adventistas SP

FIGURA 11........................................................................................Foto de boletim informativo

FIGURA 12...................................................................... Foto de boletins informativos

FIGURA 13............Foto do Projeto Médico-missionário no Haiti/Atendimento médico

FIGURA 14....Foto do Projeto Médico-missionário no Haiti/Atendimento odontológico

FIGURA 15..Foto do Projeto Médico-missionário no Haiti/Atendimento Oftalmológico

FIGURA 16.......................................Foto do folder do Projeto: Instituto Base Gênesis

FIGURA 17....................................................................Foto do grupo musical haitiano

FIGURA 18.........................................................................Foto da Escola Sabatina haitiana II

FIGURA 19.................................Foto do almoço coletivo entre haitianos adventistas I

FIGURA 20................................Foto do almoço coletivo entre haitianos adventistas II

FIGURA 21...............................Foto do almoço coletivo entre haitianos adventistas III

FIGURA 22...............................Foto de culto do grupo étnico de haitianos adventistas

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FIGURA 23.....................................................................Foto de haitianos adventistas

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LISTA DE ABREVIATURAS

ASD........................................................................................Adventista do Sétimo Dia

CNIg...........................................................................Conselho Nacional de Imigração

CONARE..................................................................Conselho Nacional de Refugiados

EUA....................................................................................Estados Unidos da América

IASD.............................................................................Igreja Adventista do Sétimo Dia

IMDH................................................................Instituto Migrações e Direitos Humanos

IBGE........................................................Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

RO...................................................................................................................Rondônia

RS.....................................................................................................Rio Grande do Sul

SP..................................................................................................................São Paulo

UNASP..............................................................Universidade Adventista de São Paulo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................14

CAPÍTULO 1. CONTEXTUALIZANDO O CAMPO....................................................19

1. A História da Igreja Adventista do Sétimo Dia........................................................19

1.1. Como a IASD Surgiu...........................................................................................19

1.2. Ellen G. White e sua Importância para o Movimento Adventista........................22

1.2.1. Ellen G. White e a Formação do Pensamento Proselistista Adventista: o

Negro, o Imigrante e a Ação Missionária em Parceria com a Ação Social...............24

1.3. Dogmas, Orientações e Educação Adventista...................................................30

1.3.1. Dogmas Adventistas.........................................................................................30

1.3.2. Orientações Adventistas de Saúde e Bem-estar............................................34

1.3.3. A Educação Adventista....................................................................................35

1.4. A História da IASD no Brasil e São Paulo: Chegada e Estabelecimento............37

1.5. Uma Igreja Étnica: o Papel da IASD no Acolhimento a Grupos Étnicos em São

Paulo..........................................................................................................................39

CAPÍTULO 2 – O HAITIANO: TRAÇANDO UM PERFIL.........................................44

2.1. Chegada e Estabelecimento do Haitiano no Brasil ............................................44

2.1.2. O Haitiano Adventista no Brasil: São Paulo....................................................51

2.2. O Perfil do Imigrante Haitiano Adventista ..........................................................54

2.3. Redes de Contato e Sociabilidade ....................................................................59

2.4. As Perspectivas do Haitiano no Brasil: a Construção de um Imaginário.........64

2.4.1. Seus Desafios: Realidade Vivida, Cotidiano, Preconceitos, Racismo............66

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CAPÍTULO 3. O IMIGRANTE HAITIANO & A IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO

DIA EM SÃO PAULO.................................................................................................71

3.1. A Relação entre o Imigrante Haitiano e a IASD em São Paulo..........................71

3.1.1. O Início dessa Relação ..................................................................................71

3.2. A Formação da Comunidade Étnica Haitiana Adventista em São Paulo.........73

3.3. A Construção da Identidade da Comunidade Étnica Haitiana Adventista ........76

3.3.1. A Importância Cultural Haitiana do uso da Língua na Composição da

Identidade do Grupo Étnico Haitiano Adventista em São Paulo................................78

3.3.2. A Importância Cultural do Vodu Haitiano na Composição da Identidade do

Grupo Étnico Haitiano Adventista em São Paulo.......................................................80

3.3.3. A Importância Cultural do Papel da Mulher Haitiana na Composição da

Identidade do Grupo Étnico Haitiano Adventista em São Paulo................................82

3.3.4. Questões de Âmbito Religioso (Adventista) Importantes na Composição da

Identidade do Grupo Étnico Haitiano Adventista em São Paulo................................83

3.3.5. Discursos que Caracterizam parte da Identidade do Grupo Étnico Haitiano

Adventista em São Paulo...........................................................................................87

3.3.6. As Influências da Dinâmica Paulista na Composição da Identidade do Grupo

de Imigrantes Haitianos Adventistas em São Paulo...................................................89

3.4. Missões Adventistas, Ação Social & Haitianos..................................................91

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................100

ANEXOS..................................................................................................................122

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INTRODUÇÃO

O Haiti está “situado na parte oeste da Ilha de Hispaniola, da qual ocupa

cerca de 35% (mais precisamente 27.750 Km2). É a segunda maior ilha das

Antilhas, logo atrás de Cuba” (RODRIGUES, 2008, p.66). Estima-se que em 2010

sua população chegava a quase 10 milhões de pessoas, e ainda hoje, é considerado

“o país mais pobre do Hemisfério Ocidental” (ALVES, 2012). Reputado como país

“africano por excelência”, do negro, do vodu, do tambor, do créole (crioulo - língua

também falada no país), das cayes (casas típicas), e da revolução de negros e

escravos contra patrões brancos, um marco de liberdade, independência e orgulho

dos haitianos (GRONDIN, 1985, p. 10,11). No ano de 1794, foi o primeiro país a

acabar com a escravidão, e o segundo na América a conquistar a independência

(1804), logo atrás dos Estados Unidos da América (ALVES, 2012; COSTA, 2015, p.

59).

A sociedade haitiana é basicamente formada por duas camadas visíveis e

antagônicas. De um lado camponeses pobres e do outro, negros e mulatos

escolarizados e modelados pelo ocidente. O “abismo entre o pobre e o rico, entre o

rural e o urbano é tão profundo que não existem mais possibilidades de se tecer

uma ponte entre os dois mundos” (RODRIGUES, 2008, p.171). A cor da pele é um

fator de diferenciação no país, assim como a língua falada. “O francês é a língua

alta, utilizada na escola, na igreja, na universidade, nos discursos políticos etc.,

enquanto que o crioulo é a língua baixa, utilizada na vida quotidiana”. (RODRIGUES,

2008, p.67). O vodu, é religião franca entre os escravos africanos de diferentes

línguas e tribos, que ao invés de deixarem completamente os elementos de suas

religiões, integraram a ela outras crenças, rituais, músicas e danças de diferentes

tribos, tornando-se uma religião sincrética, um meio de conservação de valores

africanos, símbolo de unidade e diversidade do povo haitiano (GRONDIN, 1985).

A educação no país é precária, ainda no “inicio do século XX, menos da

metade dos meninos e meninas haitianas frequentavam a escola”. A ocupação dos

Estados Unidos da América (1915) trouxe promessas de integração a rede de

educação norte americana, contudo, trouxe minúsculas contribuições educacionais

para o haitiano. Hoje, quase não existem escolas públicas no país e as escolas

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particulares acabam tendo um custo extremamente alto (GENTILI, 2014; GRONDIN,

1985, p. 66 - 67;). Juntamente com a ocupação norte americana teria chegado o

protestantismo, adquirindo “uma afeição endógena sem nunca se desvincular dos

Estados Unidos” (EUA). (DORNELLAS, 2014, p.131 apud AUDEBERT, p.127). A

Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) alega ter chegado ao Haiti em (1879), por

meio de suas literaturas, e se estabelecido oficialmente em 1892 por meio do

batismo dos primeiros adventistas no país, ou seja, antes da ocupação dos EUA em

1915. Em 2008, quando a população haitiana chegava em torno de 9,1 milhões de

pessoas, a IASD já contava com mais de 328 mil haitianos adventistas, o que

equivale a quase 4% da população. Nesse mesmo ano, possuía também no país,

aproximadamente mil templos, 270 escolas de ensino fundamental, 2 escolas de

ensino médio, 1 universidade e 1 hospital. Conforme descreve a própria instituição,

devido o grande número de membros adventistas no país, muitas igrejas tinham que

realizar três ou mais cultos em um mesmo dia para acomodar todos os seus

membros (ADVENTIST WORD, 2010, p.7). Todo esse cenário apresentado

demonstra-nos um pouco do contexto cultural, social, econômico e religioso do Haiti.

No que se refere a aproximação do Brasil com esse país, é possível

considerar que esta tenha se dado de forma mais intensa a partir de 2004, quando o

Conselho de Segurança das Nações Unidas decidiu estabelecer a Mission des

Nations Unies pour La Stabilization em Haiti (Minustah), constituída por soldados de

diversos países, mas principalmente de brasileiros. Contudo, essa aproximação foi

mais intensificada a partir de 2010, quando um grande fluxo migratório de haitianos

passou a compor o cenário brasileiro, logo após uma catástrofe que ocorreu no Haiti

naquele mesmo ano. Um “terremoto de, aproximadamente, 5.9 graus na escala

Richter” que teria devastado “a capital Porto Príncipe e outras regiões no país”

(ALESSI, 2013, p.82). No quesito migratório, torna-se necessário pontuar que

migrante é toda “pessoa que se transfere de seu lugar habitual, de sua residência

comum para outro lugar, região ou país”, nessa perspectiva, temos “termos

específicos para a entrada de migrantes – Imigração – e para a saída – Emigração”

(MOZINE, FREITAS, RODRIGUES, 2012, p. 7, apud IMDH, 2012). Por isso, quando

nos referimos ao haitiano no Brasil o denominamos de imigrante.

Frente a intensa imigração haitiana para o Brasil e a ausência de políticas

públicas migratórias brasileiras, muitos desses imigrantes acabaram sendo

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recepcionados e acolhidos por instituições de cunho religioso, que mesmo sem

respaldo do Estado, procuravam atender ainda que em partes, suas necessidades

básicas e emergenciais. Diante da necessidade de entender esse processo,

inúmeras pesquisas brasileiras passaram a surgir e nelas questões políticas,

legislativas e sociais relacionadas a esse fluxo migratório começaram a ser

analisadas. No entanto, na tentativa de compreender o próprio imigrante e as

relações que este estabelecia em sua trajetória no Brasil, em um universo temático

tão abrangente, a partir das Ciências da Religião, houve a decisão de pesquisar

uma dessas relações, envolvendo o imigrante e uma instituição religiosa (IASD).

Na primeira observação do contato do haitiano com a instituição religiosa em

pauta, sem o conhecimento prévio dos pormenores desse contexto, surgiu o

questionamento se essa relação estaria sendo permeada por algum tipo de missão

evangelizadora. Em uma observação mais precisa, verificamos que nesse contexto,

o imigrante já era adepto a tal religião. Nesse caso, procuramos compreender então,

como acontecia essa relação, surgindo a pesquisa sob o tema “O imigrante haitiano

e a Igreja Adventista em São Paulo: um estudo de caso”. As escolhas metodológicas

consistiram em levantamento bibliográfico e pesquisa de campo antropológica por

meio da etnografia. Magnani (2002) observa que o método etnográfico não é uma

técnica, entretanto, utiliza-se de várias delas de acordo com as circunstâncias que

se apresentam em cada pesquisa. Também não é a obsessão por detalhes, mas a

atenção que se volta em algum momento, aos fragmentos que podem oferecer

pistas para novas compreensões. Rocha & Eckert (2008) explicam que o método

etnográfico é composto por técnicas e procedimentos de coletas de dados, que se

associam a prática do trabalho de campo a partir da convivência prolongada ou não

do pesquisador com grupo social analisado. Nessa convivência a inter-relação entre

ambos (pesquisador e pesquisados) é permeada por observação direta, conversas

formais, informais e entrevistas não-diretivas etc. É o “ver” e “ouvir” de “dentro” da

realidade estudada, que provoca no pesquisador um deslocamento de sua própria

cultura para o contexto do fenômeno analisado. A aproximação do pesquisador com

o grupo pesquisado, parte da concordância de sua presença para realização das

observações sistemáticas das práticas sociais do grupo e se desdobra em uma

relação que demanda tempo e interação. Este passa a estar presente regularmente

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e participar das rotinas do grupo, na tentativa de identificar em sua vida social,

intenções, motivações, códigos de emoções e valores morais e éticos.

A primeira aproximação com o campo ocorreu em Abril de 2015, quando

houve a solicitação ao pastor responsável pela Igreja Adventista do Sétimo Dia

central paulistana, para acompanhar o grupo de imigrantes haitianos adventistas que

se reunia em uma das dependências da igreja. Dada a permissão, passamos ao

segundo passo, que consistia nas visitações aos estudos bíblicos e cultos,

realizados aos sábados de manhã pelos imigrantes. A primeira visita foi

acompanhada por muitas surpresas. De imediato, o grupo pareceu não ficar a

vontade com a pesquisa, fator que mudou posteriormente com o passar das visitas.

A língua falada durante suas reuniões (francês e crioulo), e tantas outras

informações visuais, que a princípio, pareciam incompreensíveis, eram um desafio.

De início, houve a tentativa de contato verbal com alguns deles, mas falavam pouco

a língua portuguesa. Um detalhe que chamou a atenção nesse caso foi que no final

da pesquisa em 2016, a língua já não era um grande problema, pois a maioria já

conseguia se comunicar em português.

Na segunda visita ao grupo, durante a saída do culto, um jovem que não

estava presente na primeira visita, questionou porque tantas anotações. Este jovem

cursava o 1º ano de engenharia na Universidade Nove de Julho em São Paulo e

falava bem a língua portuguesa, por isso, houve facilidade na comunicação com ele.

Após explicação do motivo das anotações, este se prontificou a ajudar naquilo que

fosse necessário, e forneceu, inclusive, o seu e-mail1 pessoal. Nas demais visitas

realizadas ao grupo, esse jovem auxiliava a entender as dinâmicas das reuniões e

os assuntos abordados, além de ajudar durante os diálogos com alguns deles,

traduzindo o que diziam. Posteriormente, mantivemos contato com o grupo também,

por meio de redes sociais, o que facilitou a trajetória dessa pesquisa. Durante os

quase dois anos de pesquisa, muitas mudanças ocorreram no cenário desse fluxo

migratório no Brasil e consequentemente no próprio grupo. As informações

passavam por dinâmicas constantes que influenciavam diretamente os dados

coletados. Diante dos fatos, em um determinado momento, chegamos a acreditar

que o grupo pesquisado deixaria de existir no Brasil antes mesmo da conclusão

1 E-mail é um correio eletrônico disponível na internet que permite envio e recebimento de mensagens. Informações disponíveis em: <http://www.cultura.ufpa.br/dicas/net1/mailtipo.htm>. Acesso em: 01/11/2016.

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dessa pesquisa.2 Por outro lado, tais preocupações corroboraram para que o

trabalho apresentado fosse construído a partir de análises constantes, o que de

certa forma, contribui ainda mais para o seu enriquecimento.

Tendo em vista que esse trabalho visava compreender a relação entre o

imigrante haitiano e a IASD em São Paulo, procuramos iniciá-lo contextualizando o

campo (IASD), em seguida o objeto (imigrante haitiano) e por fim, a relação

imigrante X IASD. Portanto, no primeiro capítulo situamos a história da Instituição em

pauta, sua doutrina, orientações e relações estabelecidas com imigrantes em seu

trajeto na capital paulista. No segundo capítulo, abordamos sobre o imigrante

haitiano. Nele discorremos sobre o processo migratório haitiano para o Brasil,

algumas questões que o permearam e o perfil desse imigrante. No terceiro capítulo

direcionamos o foco na relação do imigrante haitiano com a IASD paulista,

retratando a construção da identidade do grupo de haitianos adventistas, missões e

ação social. Abordagens importantes de Marcelo Grondin sobre a cultura haitiana, e

de Haller E. S. Schunemann sobre a Igreja Adventista contribuíram para melhor

compreensão de muitas questões relacionadas ao tema proposto, elucidando e

respaldando parte das análises apresentadas. Acreditamos que esse trabalho torna-

se relevante, não só pelo fato de poder contribuir para compreensão, ainda que em

partes, da relação que se estabelece entre o imigrante haitiano e a IASD em São

Paulo, mas também, das inúmeras questões que envolvem essa temática. Entre

elas, o próprio processo migratório haitiano para o Brasil e o seu personagem

principal: o imigrante haitiano.

2 Em decorrência da crise econômica no Brasil durante o ano de 2016, muitos desses imigrantes saíram do país. Entre os haitianos pesquisados, pelo menos metade do grupo já havia migrado do Brasil.

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CAPÍTULO 1.

CONTEXTUALIZANDO O CAMPO

1. A História da Igreja Adventista do Sétimo Dia3

A Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) surgiu em meados do século XIX,

em meio a ocorrência de muitas mudanças sociais. Alguns personagens foram de

suma importância para que esse movimento se institucionalizasse e viesse a

crescer, dentre os quais, Ellen G. White recebe destaque. A formação dos dogmas e

orientações da igreja em pauta assumiram uma postura um tanto diferenciada de

outros movimentos protestantes até então, dando forte vazão a questões

alimentares e ao sábado como dia separado para descanso. No Brasil o movimento

se instalou e cresceu principalmente em São Paulo, onde manteve uma forte

aproximação a imigrantes na capital. Essa aproximação existe ainda nos dias atuais

e consequentemente tem se estendido ao imigrante haitiano. A partir dos fatores que

serão apresentados nesse capítulo, pretendemos contextualizar o leitor acerca do

campo de pesquisa desse trabalho e assim dar suporte para melhor compreender a

relação que o imigrante haitiano adventista estabelece com a IASD em São Paulo.

1.1. Como a IASD Surgiu

Pelo menos três movimentos religiosos, que graças a uma propagação

proselitista4 intensa acabaram se estabelecendo em diferentes países e culturas,

nasceram nos Estados Unidos durante o século XIX. “Mórmons, adventistas do

sétimo dia e testemunhas de Jeová” (CAMPOS, 2012, p.107,115 e 117). De acordo

3 Agradeço as contribuições prestadas pelos Drs. Ricardo Bitun e Edin Sued Abumanssur, durante a banca de qualificação para essa dissertação, enriquecendo grandemente o trabalho aqui apresentado. 4 Como proselitista entende-se o “esforço contínuo para converter alguém, fazendo com que essa pessoa pertença a determinada religião, seita, doutrina”. Informações obtidas em dicionário on-line de português. Disponível em:<https://www.dicio.com.br/proselitismo>. Acesso em 25/09/2016.

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com Mendes (2015, p. 18) a primeira igreja Adventista do Sétimo Dia surgiu em

Michigan, no ano de 1860. Mas, só em 21 de maio de 1863 foi oficializada, por isso,

nessa ocasião já contava com 125 igrejas5, 30 ministros e 3.500 membros

(SCHUNEMANN, 2009, p. 148; MARTINS, 2014, p. 207). Fatos interessantes

marcaram o início de sua história. Naquele período ganhava voz e popularidade

entre os evangélicos um pregador de origem batista, fazendeiro, morador de Low

Hampton por nome de William Miller (1782-1849), também conhecido como

Guilherme Miller6, que baseado em textos apocalípticos judaicos e cristãos, e mais

precisamente livros de Daniel e Apocalipse, calculou e marcou a volta de Jesus para

1843 (CAMPOS, 2012, 117 e 119). De acordo Martins (2014), as conclusões

propostas por Miller estavam na contramão do que era propagado pelas demais

denominações da época. Outros grupos evangélicos também propagavam que

Cristo voltaria, mas a maioria divulgava esse retorno para o início do milênio. Miller

por outro lado, tinha convicção de que esse acontecimento se daria por volta de

1843 e por isso dedicou-se a estudar a bíblia e propagar o resultado de suas

pesquisas aos seus vizinhos. A princípio não teve muito crédito, o que não o deixou

desanimado, pois continuou suas pesquisas (1818 – 1823). Anos mais tarde, ao

fazer sua primeira apresentação sobre o assunto, teve como resultado diversas

conversões. Os seguidores de Miller, que em 1830 já eram bastante, além de

defender que esse acontecimento se daria em 1843, criam e pregavam também que

a volta de Cristo seria visível e pessoal. Além disso, defendiam que discussões

como o sétimo dia (sábado), o estado dos mortos e a compreensão diferenciada que

tinham das profecias, eram assuntos muito importantes. Esses temas seriam

fundamentais na constituição dos dogmas da Igreja Adventista do Sétimo Dia7.

Com a expectativa de que Cristo retornaria em 1843, meios de publicações

começaram a divulgar a data, mas Cristo não veio e isso constrangeu Miller e seus

seguidores. Devido os fatos, outra data foi estipulada, e essa com mais precisão: 22

de outubro de 1844. A nova data se espalhou com muita rapidez e o movimento que

acreditava na profecia voltou a ter esperança e cresceu, mas o evento esperado,

novamente não aconteceu. Tendo em vista os fatos, a maioria dos seguidores de

5 Informações obtidas em: <http://www.iasdcentraldesantos.org/a-igreja-no-mundo/ > Acesso em: 04/05/2016. 6 Informações obtidas em:<http://sites.google.com/site/iasdonline/home/reparador/1844?mobile=true> Acesso em: 03/12/2015. 7 Informações obtidas em: <http\\: adventist.org/pt/informacoes/historia/artigo/go/0/a-igreja-adventista-do-setimo-dia-surgiu-a-partir-do-entusiasmo-religioso-do-seculo-19/>. Acesso em: 01/05/15.

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Miller ficaram frustrados e abandonaram a fé, outros porém procuraram reinterpretar

a profecia (ROSA, 2009, p. 9 –10; MARTINS, 2014, p. 206; CAMPOS, 2012, p. 117).

Alguns grupos surgiram a partir desse desapontamento. Havia aqueles que

acreditavam ter ocorrido um erro nos cálculos referentes a data. Outros, que Cristo

teria retornado de forma espiritual. Mas, um terceiro grupo, convencido de que a

data estipulada por Miller estava correta, defendia que apenas o evento estaria

errado. Nessa data, Jesus teria começado a última fase do seu ministério expiatório.

Sendo assim, 22 de outubro de 1844 marcava a passagem de Cristo para um

suposto Santuário Celestial. Uma passagem do “Santo para o Santíssimo”, conforme

relatos do Antigo Testamento sobre o ritual do tabernáculo. Ellen Gould White,

membro da Igreja metodista e integrante do último grupo, teria tido a visão de um

caminho reto e estreito ao céu, o que confirmava, conforme acreditavam a hipótese

que defendiam. Desse grupo surgiram os Adventistas do Sétimo Dia

(SCHUNEMANN, 2009, p. 50; MARTINS, 2014, p. 204).

Depois de institucionalizado, o movimento Adventista do Sétimo Dia passou a

propagar-se rapidamente pela Europa. Sua expansão missionária tornou-se oficial

em 1874 e intensificou-se anos mais tarde, tornando-se um dos movimentos de

cunho religioso com estratégia proselitista mais agressiva e intensa em nível

mundial, conforme Schunemann (2003). Em sua organização, as congregações

passaram a formar o seu alicerce e nelas representantes eram eleitos para

conferências distritais, que escolhiam delegados para conferências regionais,

europeia e finalmente mundial (GAARDER, HELLERN e NOTAKER, 2005, p. 220).

Desde o seu início o movimento procurou manter uma pregação fundante no retorno

de Cristo, na guarda do sábado e em um forte trabalho filantrópico e assistencial,

que no decorrer de sua história, deu origem a criação de diversos centros

teológicos, escolas, casas publicadoras e um corpo sacerdotal especializado

(CAMPOS, 2012, p119 -120). Segundo Rosa (2009), os membros adventistas

passaram a ser aceitos publicamente pelo batismo, a partir de uma confissão de fé

baseada no aprendizado e entendimento das Escrituras Sagradas (bíblia) de acordo

com suas crenças. São apontados como fundadores da IASD, Ellen G. White, seu

esposo James White, e Joseph Bates (SCHUNEMANN, 2009, p. 149). Mas, Ellen G.

White, além de fundadora do movimento, seria também, uma das grandes

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responsáveis por sua expansão,8 passando a adquirir grande influência entre os

adventistas (GAARDER, HELLERN e NOTAKER, 2005, p. 224).

1.2. Ellen G. White e sua Importância para o Movimento Adventista

Ellen G. White (1827-1915), nasceu em Maine, nordeste dos Estados Unidos

da América (EUA), no dia 26 de novembro de 1827. Filha de Roberto Harmom e

Eunice Harmon, Ellen G. White era irmã gêmea de Elisabete Harmon. Ainda durante

a infância, seus pais teriam mudado para a cidade de Portland, onde sofrera um

grave acidente. Ellen foi acertada com uma pedra por um colega, e ficou

inconsciente por três semanas. Aos doze anos foi batizada por um ministro

metodista e aos dezessete teve a sua primeira visão, que continuaram ocorrendo

por toda a sua vida, chegando a serem quase duas mil. Essas visões “variavam em

duração, podendo ser de menos de um minuto até cerca de quatro horas”. Escreveu

inúmeros artigos durante a sua vida, chegando a um número aproximado de 5.000

ou mais, e 49 livros.9 Segundo Campos (2012, p. 119-120), White foi aceita pelos

adventistas como profetisa e suas interpretações consideradas frutos de revelação

divina. Seus livros adquiriram ampla circulação e autoridade dentro do movimento,

os quais passaram a ser lidos e estudados pelos adventistas. Um deles com o título

de “Passos até Cristo, foi traduzido para 78 línguas e já vendeu mais de 5 milhões

de exemplares” (GAARDER, HELLERN e NOTAKER, 2005, p. 224).

White viveu em um período marcado por inúmeras inovações sociais para

aquela época, que inevitavelmente trariam suas influências na forma de pensar e

agir da escritora, consequentemente na própria IASD, tendo em vista a importância

que suas ideologias ocuparam dentro do movimento adventista. Algo interessante

merece ser destacado inicialmente. O fato de uma mulher (Ellen G. White), vivendo

em um momento histórico marcado por fortes discriminações contra o gênero

feminino, ter alcançado respeito e admiração dentro de um movimento religioso que

8Informações obtidas no site oficial da IASD, disponível em: <http://www.adventistas.org.pt/quemsomos/a-nossa-história> Acesso em: 03/05/2015. 9 Informações obtidas em : <http://centrowhite.org.br/ellen-g-white/biografia-de-ellen-g-white-1827-1915/> Acesso em: 06/04/2016.

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nascia naquela ocasião. É possível considerar que isso se deva, em partes, há

algumas discussões que estavam em alta nos Estados Unidos em relação ao papel

social exercido pela mulher no país. Naquele período, a mulher já ocupava, ainda

que discretamente, um espaço diferenciado na sociedade e já atuava frente a

trabalhos de produção intelectual, artística e científica. Havia diversas

reivindicações, questionamentos e exigências femininas como, acesso a formação

superior, voto e participação política. A discriminação era evidente, mas o sistema

capitalista, que por meio da revolução industrial evidenciava ainda mais essa

discriminação, uma vez que se utilizava da mão de obra feminina sujeitando-a a toda

sorte de exploração, também possibilitava sua movimentação na reivindicação de

direitos e mudanças no sistema que as oprimia. Existia inclusive, um movimento

feminino engajado em causas libertarias que se opunham ao escravismo (MÉNDEZ,

2004, p. 63, 67, 68; QUADROS, 2011).

A situação escravista no país naquele período também merece destaque

nesse contexto, pois de alguma forma poderia ter influenciado a maneira que White

posiciona-se com relação ao negro em seus escritos. Checco (2010) discorre que

durante boa parte do século XIX, o Sul dos Estados Unidos utilizou-se dessa mão de

obra para sustentar sua economia pautada na agricultura. Por outro lado, no Norte

do país, onde um intenso processo de industrialização estava ocorrendo, não havia

concordância com o regime adotado pelo Sul. Tendo vencido as eleições norte –

americanas no ano de 1860, Abraham Lincoln acabou promovendo resistência ao

sistema escravista (SAMPAIO, 2009, p.10), desencadeando a Guerra de

Secessão10. Baseados nesse quadro apresentado, é possível considerar a

probabilidade de que a postura de White quanto ao negro, como veremos

posteriormente, possa ter surgido a partir das ideias prevalecentes do lugar e

período em que viveu.

Uma outra questão que também chama a atenção, está relacionada ao seu

interesse pelos imigrantes. Esse interesse pode ter sido ocasionado pelas questões

sociais que permeavam os inúmeros estrangeiros que habitavam o norte dos

10 A chamada Guerra de Secessão, foi uma Guerra Civil que ocorreu nos Estados Unidos nos anos 1861 - 1865. De um lado estava os Estados do Sul que defendiam o regime escravista, e do outro os Estados do Norte (União) que defendia a abolição dos escravos. Informações obtidas em: http://m.suapesquisa.com/historia/guerra_de_secessao.htm. Acesso em 09/05/216.

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Estados Unidos na ocasião. Sua postura em relação ao negro e ao estrangeiro

serão pontuados no próximo texto.

1.2.1. Ellen G. White e a Formação do Pensamento Proselistista Adventista:

o Negro, o Imigrante e a Ação Missionária em Parceria com a Ação Social

Os escritos de Ellen G. White fornecem estratégias proselitistas e apontam o

negro e o imigrante como alvos a serem alcançados. Primeiramente destacamos

que dois processos migratórios ocorridos principalmente para o norte dos Estados

Unidos, merecem destaque quando tratamos dessa postura de White para com os

imigrantes. A imigração irlandesa e a imigração alemã. Um dos desconfortos

trazidos ao país por tais migrações, dizia respeito a religiosidade do imigrante, que

era católico. Um movimento anti-imigratório e até xenofóbico em alguns casos,

chamado de “Know Nothing” foi criado. Este fazia exigências que iam desde a

limitação da imigração, principalmente daquelas provindas de países católicos, até

exigências de 21 anos para naturalizar-se no país e restrições para atuar como

professor em escolas públicas e protestantes (CUNHA, 2012, p. 22 - 25). Tendo em

vista esse cenário, é possível correlacioná-lo aos escritos de White (2007 p. 152)

que dizem: enquanto “se executam planos para advertir os habitantes de várias

nações em terras distantes, muito tem de ser feito em favor dos estrangeiros que

vieram às praias de nossa própria terra”. A escritora ainda acrescenta: na “cidade de

Nova York, em Chicago e em outros grandes centros de população, existe vasto

elemento estrangeiro – multidões de várias nacionalidades, e quase todos

inadvertidos ainda” (p. 152). É inerente ressaltar, que curiosamente a mensagem

adventista chegou aos imigrantes. Foi inclusive por meio de imigrantes alemães

conversos ao adventismo nos Estados Unidos que a mensagem adventista chegou à

Alemanha. No Brasil, os alemães também contribuíram grandemente para o

desenvolvimento do movimento Adventista (SCHUNEMAN, 2009, p. 154, 157 - 158),

como veremos posteriormente.

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Nos escritos de White o negro também é pontuado. Levando em

consideração o cenário do norte dos Estados Unidos em relação ao negro e o

escravismo, conforme discussão anterior, reforçamos que a postura de White pode

ter sido influenciada pelas ideologias prevalecentes da época e do local em que

vivia. Ela diz: “negros, numerando milhares de milhares, devem merecer a

consideração e simpatia de todo verdadeiro e ativo crente em Cristo. [...] A verdade

tem de ser-lhes levada, eles tem alma a ser salva, assim como nós” (p. 166 – 167).

A verdade a que se refere, seria a mensagem adventista. Em um período de

grandes conflitos relacionados ao escravismo e ao negro, tal orientação parecia ser

necessária. Contudo, torna-se relevante destacar que essa postura chama a

atenção, pelo fato da pesquisa aqui abordada tratar justamente da relação da IASD

com um imigrante negro (haitiano no Brasil). Nos escritos de White relacionados ao

ato proselitista, um outro quesito merece ser destacado. A ênfase a ação social11

parar ajudar necessitados, como estratégia missionária. Ao tratar sobre o assunto

White (2007, p. 143) alega:

[devemos] alimentar o faminto, vestir o nu, cuidar das viúvas e dos órfãos, e servir ao aflito e ao abatido. [...] A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir Às necessidades físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar Às profundezas da misericórdia humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isto fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o crucificado [...].

Essa ideologia de White está presente nas estratégias missionárias da IASD,

conforme observado em pesquisa de campo e que será abordado no decorrer do

trabalho. A IASD defende acreditar que através da ação social é possível

demonstrar a religião na prática a comunidade. Compreendem, que a Bíblia Sagrada

dá ênfase ao trabalho social como parte integrante do evangelismo, auxiliando na

11 Sempre que nos referirmos a ação social nesse trabalho, estaremos nos remetendo a uma atuação em favor

de necessitados.

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transformação de vidas. Além disso, alegam que o próprio Jesus teria ensinado o

desenvolvimento dessas práticas. Além de seguirem as orientações de White.

Atualmente, a ação social da IASD acontece por meio de duas frentes principais: “a

Ação Solidária Adventista (ASA) e a Agência Adventista de Desenvolvimento e

Recursos Assistenciais (ADRA). O trabalho desenvolvido pela ASA, baseia-se em

diversas iniciativas solidárias e serviços de assistência social de cada igreja local”.12

A ADRA, é uma organização não governamental sem fins lucrativos, que tem como

objetivo a ação social. Esse orgão estaria presente em 125 países, com ênfase no

bem-estar, relações sociais, saúde e cura de enfermidades (ROSA, 2009).

Oficialmente a ADRA existe desde novembro de 1956, tendo surgido nos Estados Unidos. Mas seu “DNA” remonta a 1890, nos bairros periféricos de Chicago, quando uma série de programas assistências começou a ser implantado pela Igreja Adventista. O poder de mobilização cresceu e consolidou sua força operacional de modo que na 1º e na 2º Guerras Mundiais voluntários se reuniram para enviar suprimentos a regiões devastadas pelo conflito. [...] Atualmente, a ADRA é uma das principais organizações não-governamentais no mundo. [...] Na América do Sul, a ADRA concentra suas atividades em cinco áreas ou componentes principais, que são: Segurança Alimentar, Saúde Primária, Educação Básica, Desenvolvimento Econômico e Gestão de Emergências. (ROSA, 2009, p. 30)

No que se refere a ASA, a IASD alega que esta, constitui-se um ramo de

atividades missionárias da igreja.13 Na América do Sul, é composta por mais de 13

mil postos, que fazem manutenção de creches em bairros carentes de cidades como

São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Oferece também, instrução musical,

atividades manuais e alimentação (ROSA, 2009, p. 21 e 33). Além da ADRA e da

ASA, outros projetos sociais são pontuados pela IASD.14

12 Informações obtidas no site oficial da IASD, disponível em: <http://www.adventistas.org/pt/institucional/missao-e-servico/acao-social/> Acesso em 01/12/2015. 13 Idem 14 Inúmeros projetos sociais são apontados pela IASD, porém não coube-nos realizar uma pesquisa de campo para comprovação ou análise mais profunda da existência, abrangência ou relevância deles.

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Doação de sangue: “A juventude Adventista interage com a população da

América do Sul para uma campanha de doação de sangue” no início de cada

ano, desde 2004. O projeto denomina-se Vida por Vidas, e conta atualmente

com mais de 80 mil doadores cadastrados (Rosa, 2009, p. 24).15

Mutirão de natal: Arrecada-se alimentos, roupas, brinquedos e outras

doações para comunidades carentes e entidades de assistência social (p. 26).

Trabalho comunitário: O projeto denomina-se Saúde de Bairro em Bairro, e

leva assistência médica gratuita a comunidades carentes. A iniciativa

promove atendimento médico, odontológico, e palestras educativas sobre

saúde (p. 27).

Segurança alimentar/Agricultura: Esse trabalho é desenvolvido pela ADRA

com objetivo melhorar a qualidade de vida de agricultores e suas famílias,

ajudando a aumentar a produtividade dos cultivos, por meio de “técnicas

agropecuárias apropriadas, sementes melhoradas, diversidade de cultivos

com a estratégia de mercado, bem como o cuidado com o meio ambiente” (p.

30).

Segurança Alimentar: Programa desenvolvido no Peru, para melhoria da

saúde e nutrição infantil, com crianças menores de 3 anos e gestantes,

através da ADRA (p. 31).

Saúde Primária16: Projeto desenvolvido pela ADRA que promove prevenção e

controle de enfermidades além da promoção da saúde de populações mais

pobres e vulneráveis (p. 32).

15 No boletim informativo da IASD no bairro da Liberdade, referente ao dia 25/06/2016, havia um convite para doação de sangue relacionado ao projeto “Vida por vidas”, para o dia 02/07/2016 (conforme foto nos anexos). 16 A IASD alega que, na “Bolívia e no Peru foram feitas obras de saneamento comunitário, como poços de água, proteção de mananciais e construção de sistema de distribuição de água” (ROSA, 2009, p.32).

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Desenvolvimento econômico: Através de projetos que desenvolvem

microcréditos, a ADRA trabalha para desenvolver capacitação para atividades

que promovam geração de renda (p. 34).

Gestão de Emergência: A IASD atua na “construção de barreiras contra

enchentes, recuperação de solos aráveis, construção de abrigos, construção

e reforma de casas”. Presta também assistência psicológica pós-traumática.

(p. 35).

A proposta de White (2007, p. 143) de interligar a ação social a mensagem do

evangelho, pode ser percebida nas ações missionárias da IASD. A exemplo disso,

destacamos a sua atuação no Haiti, por meio do projeto médico-missionário. A

orientação de White (2007, p. 101) a respeito desse projeto, descreve que os

“evangelistas médico-missionários” no encontro com os doentes, devem orar por

eles e apontar-lhes a Cristo. Nesse projeto realizado pela IASD no Haiti, uma equipe

de profissionais da saúde, juntamente com outras pessoas, que mesmo não sendo

da área da saúde se disponibilizam a participar, são levados ao Haiti através de uma

agência missionária. Robson Telles17 (32 anos, gerente de planejamento e membro

adventista)18 esteve em uma dessas viagens missionárias na cidade de Hinche

(Haiti), realizada por meio da igreja de San Diego – EUA e relata-nos como funciona

esse trabalho. Devido a riqueza de detalhes que ele destacou, julgamos necessário

relatar em suas próprias palavras.

Estive lá em 2014 [...] Eu sempre tive vontade de fazer uma viagem missionária, mas nunca tinha tido oportunidade antes, por tempo, ou pela disponibilidade de acesso a informação. A igreja em San Diego, a cidade que eu morava, promove duas ações médica- missionárias ao ano: Haiti e Filipinas. Quando eu ouvi pela primeira vez, decidi me envolver. [...] Nossa igreja tem parceria com uma instituição não-governamental chamada HEF que promove viagens missionárias com outras igrejas, fazendo que haja missionários o tempo todo no Haiti. [...] Nosso grupo tinha cerca de 20 pessoas, sendo médicos, enfermeiros, estudantes de medicina, e pessoas de diferentes

17 Robson Telles autorizou que o seu nome fosse citado nessa dissertação. 18 Atualmente Robson Teles mora nos EUA, e lá teve a oportunidade de fazer uma visita ao Haiti juntamente com um grupo que iria atuar no projeto médico-missionário.

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profissões. Pessoas da nossa igreja, e de outras também. Eu era o único brasileiro lá. Eu tinha uma preocupação de ir em missões, porque eu sou da parte técnica, e eu sabia que essa viagem seria uma viagem médico missionária, então até brinquei com um dos doutores que estava organizando toda a missão. Eu disse: Mas Dr., eu só sei mexer com computador né, ele falou assim: não se preocupa não, lá tem trabalho pra todo mundo. E no final das contas foi verdade. [...] Nós utilizávamos as igrejas como consultório. Tinha a parte de dentista, nós tínhamos a parte de farmácia, nós tínhamos a parte de oftalmologia e nós tínhamos a parte médica mesmo. [...] uma coisa interessante, lá existem hospitais, que podem atender as pessoas. Só que as pessoas são tão carentes, que não tem nem dinheiro pra chegar até o hospital. Então eles ficam esperando os missionários vir nas vilas. [...] Esse médico que organiza as viagens, tem muitos contatos na faculdade adventista de medicina que fica na Califórnia, então ele consegue pegar bastante alunos de medicina, alguns são adventistas, outros não. A universidade Adventista também dá alguns incentivos para médicos que querem fazer missões. [...] As igrejas lá, geralmente, são de telhado de zinco. [...] é uma estrutura bem simples. (Robson Telles)19

(Figura 1.Foto do Projeto: Médico - Missionário Adventista no Haiti – Acervo de Robson Teles)

19 Mais imagens do Projeto Médico-missionário da IASD no Haiti em 2014, nos anexos.

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Cabe-nos ressaltar que a ênfase a ação social relacionada ao ato proselitista

sustentado por White e observado pela instituição em pauta, demonstra-nos em que

medida as ideias de White foram aceitas e respeitadas pela IASD. Essas ideias

estão presentes também em alguns dos dogmas e orientações adventistas.

1.3. Dogmas, Orientações e Educação Adventista

Nesse texto, objetiva-se contextualizar o leitor acerca dos dogmas, educação

e orientações adventistas de saúde e bem-estar, entendendo que esses assuntos

são importantes, porque compõem a própria identidade da instituição.

1.3.1. Dogmas Adventistas

A IASD defende que seus dogmas têm como princípio a Bíblia. Dogma é o

ponto “fundamental ou mais importante de uma doutrina religiosa que se apresenta

como algo indiscutível ou inquestionável”20. Os dogmas adventistas são mantidos

pela igreja por meio de 28 pontos doutrinários, os quais são ensinados aos seus fiéis

como regra de fé e prática. Rosa (2009, p. 99-103), descreve esses dogmas da

seguinte forma:

1. “As Escrituras Sagradas, [...] são a Palavra de Deus escrita”;

2. “Trindade: Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo”;

3. “Deus Pai”;

4. “Deus, o Filho Eterno”;

5. “Deus, o Espírito Santo”;

20 Informações obtidas em dicionário online de português. Disponível em <https://www.dicio.com.br/dogma/>. Acesso em: 19/10/2016.

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6. “Deus é o criador de todas as coisas e revelou nas Escrituras”;

7. “O homem e a mulher foram formados à imagem e semelhança de Deus”;

8. “Toda a humanidade está agora envolvida num grande conflito entre Cristo e

Satanás”;

9. “Na vida de Cristo, de perfeita obediência [...] em Seu sofrimento, morte e

ressurreição, Deus proveu o único meio de expiação do pecado humano, de

modo que os que aceitam essa expiação, pela fé, possam ter vida eterna”;

10. “Deus fez com que Cristo se tornasse pecado por nós, para que nEle fôssemos

feitos justiça de Deus”;

11. “A vitória de Jesus nos dá a vitória sobre as forças do mal [...]. Nesta nova

liberdade em Jesus, somos chamados a crescer à semelhança de seu caráter”;

12. “A igreja é a comunidade dos crentes que confessam a Jesus Cristo como

Senhor e Salvador”;

13. “A igreja ao longo da História, compõe-se de todos os que verdadeiramente

creem em Cristo; mas, nos últimos dias, um remanescente tem sido chamado

para guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Esse remanescente,

“anuncia a chegada da hora do juízo, proclama a salvação por meio de Cristo e

prediz a aproximação de Seu segundo advento”;

14. “A igreja é um corpo com muitos membros, chamados de toda nação, tribo,

língua e povo”;

15. “Pelo Batismo confessamos nossa fé na morte e na ressurreição de Jesus Cristo

e atestamos nossa morte para o pecado”;

16. “A Ceia do Senhor é a participação nos emblemas do corpo e do sangue de

Jesus [...] O mestre instituiu a cerimônia do lava-Pés”;

17. “Deus concede à todos os membros de sua igreja, em todas as épocas, dons

espirituais”;

18. “Esse dom é uma característica da igreja remanescente e foi manifestado no

ministério de Ellen G. White. Como a mensageira do Senhor, seus escritos são

uma contínua e autorizada fonte de verdade”;

19. “Os grandes princípios da Lei de Deus são incorporados aos Dez

Mandamentos”;

20. “O bondoso Criador, após os seis dias da Criação, descansou no sétimo dia e

instituiu o sábado para todas as pessoas, como o memorial da Criação. O quarto

mandamento da imutável Lei de Deus requer a observância”;

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21. “Somos despenseiros de Deus, responsáveis a Ele pelo uso apropriado do

tempo e das oportunidades, capacidades e posses, e das bênçãos”;

22. “Somos chamados para ser um povo piedoso, que pensa, sente e age de acordo

com os princípios do Céu”;

23. “O casamento foi divinamente estabelecido no Éden e confirmado por Jesus

como união vitalícia entre um homem e uma mulher, em amoroso

companheirismo”.

24. “Há um santuário no céu. Nele Cristo ministra em nosso favor [...]. Em 1844, no

fim do período profético dos 2,300 dias/anos, Ele iniciou a segunda e última

etapa de Seu ministério expiatório”;

25. “A segunda vinda de Cristo é a bendita segurança da igreja. A vinda do Salvador

será literal, pessoal, visível e universal”;

26. “O salário do pecado é a morte. Mas Deus, o único que é imortal, concederá vida

eterna aos Seus remidos”;

27. “O milênio é o reinado de mil anos de Cristo com Seus santos, no Céu, entre a

primeira e a segunda ressurreições. Durante esse tempo, serão julgados os

ímpios mortos”;

28. “Na Nova Terra, em que habita justiça, Deus proverá um lar eterno para os

remidos”.

Entre esses 28 pontos doutrinários, alguns merecem destaque nesse

contexto, uma vez que se referem a White. Campos (2012) reforça que as

interpretações de White são tidas pela IASD como frutos de revelações divinas.

Nos dogmas da igreja é possível verificar referência a White como mensageira do

Senhor, e aos seus escritos como fontes de verdade (Dogma 17 e 18). A instituição

defende também a concepção da existência de um remanescente fiel (dogma 13),

que segundo esta, seria a própria IASD. A característica fundamental apontada para

isso estaria relacionada ao fato de ser a instituição religiosa que além de guardar os

mandamentos (em destaque o sábado), divulga o retorno de Cristo e tem o espírito

de profecia21 (dogma 18). Nesse caso, todas as demais religiões estariam

cooperando para deterioração do mundo, pois pregam mensagens não bíblicas e se

21 Segundo a Igreja, o espirito de profecia estaria sobre Ellen G. White. A Instituição alega ser ela a mensageira escolhida pelo Senhor. Informações obtidas em: <https://setimodia.wordpress.com/2012/06/30/o-dom-profetico-e-ellen-g-white> Acesso em: 09/12/2015.

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recusam a guardar o sábado, quarto mandamento do decálogo divino registrado no

antigo testamento bíblico (CAMPOS, 2012, p.120).

Para fins explicativos do modo como os dogmas têm impactos práticos na

vida cotidiana do membro adventista, destacamos a sua relação com o sábado

(Dogma 20). Para o adventista “o sábado tem um papel central na verdadeira

adoração” (FINLEY, 2009, p. 49). Este é considerado um dia especial de comunhão,

e sua observância como um sinal distintivo da lealdade a Deus, devendo ser

observado a partir do por do sol da sexta-feira, dispensando-se das atividades

seculares para um compromisso com questões espirituais. Nesse caso, as

programações da igreja devem ser priorizadas nesse dia. Outras atividades como:

esporte, lazer, viagens, compras, estágios, cursos escolares ou até horas a mais de

sono, devem ser evitadas. Em situações de emergência, profissionais da saúde

adventistas, podem fazer atendimento, tendo como respaldo a citação bíblica que

fala sobre curar no sábado, encontrada no livro de Lucas, capítulo 14 e versículo 3,

porém, plantões rotineiros são impróprios, a não ser que sejam prestados em

hospitais adventistas.22 Observamos durante a pesquisa de campo que, o sábado é

um ponto doutrinário importante para a IASD, lembrado durante os cultos, inclusive

dos haitianos, por meio de cânticos, leituras, estudos e exposições bíblicas.

Em se tratando dos haitianos adventistas no Brasil, os efeitos práticos desse

dogma é ainda mais desafiador. O mundo do trabalho é de fundamental importância

para esse imigrante (COSTA, 2016, p. 46), contudo, se vê desafiado entre a sua fé e

as oportunidades de emprego com atividades aos sábados. Em diálogo com Emile23

(haitiano adventista), foi possível constatar que alguns deles acabam aceitando

trabalhar aos sábados, a maioria, porém recusa até conseguir um emprego que o

libere de tal exigência.24 Wilg (haitiano adventista), retratou que o haitiano adventista

entende que o sábado “é um dia de repouso, como ensina os dez mandamentos da

bíblia”. Emile acrescentou: “a cada sábado nós devemos ir a casa dEle [referia-se à

Deus] pra dar honra e louvor ao nosso Senhor Jesus, [...] o mais importante [...]

lembra para guardar o sétimo dia como um dia santo”. Conforme o relato de ambos,

22 Informações obtidas no site oficial da IASD, disponível em: <http://www.adventistas.org/pt/institucional/organizacao/declaracoes-e-documentos-oficiais/observa>. Acesso em 30/05/2016. 23 Para preservar a identidade dos imigrantes que fizeram parte dessa pesquisa, todos os nomes citados serão fictícios. 24 Informações obtidas em pesquisa de campo entre um grupo de haitianos adventistas na IASD da Liberdade em São Paulo, no dia 30 de Maio de 2015.

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percebemos que apesar de alguns trabalharem aos sábados, descansar e cultuar

nesse dia, é muito importante para todos eles. Mas, além dos dogmas da igreja,

algumas orientações de saúde e bem-estar adventistas também merecem destaque,

uma vez que se referem a questões que marcam a instituição.

1.3.2. Orientações Adventistas de Saúde e Bem-estar

Saúde e bem-estar são assuntos relevantes para a IASD, que os transmite

através de orientações que visam principalmente uma alimentação natural.25

Condenam o consumo de café, álcool, tabaco, chá, e mantêm outras regras

alimentares com base no Antigo Testamento Bíblico, vislumbrando como ideal o

vegetarianismo (GAARDER, HELLERN e NOTAKER, 2005, p. 224, 125). Rosa

(2009, p. 63 e 66) declara que a “simplicidade na alimentação é tratada pelos

adventistas com a recomendação de uma dieta vegetariana, tendo o uso equilibrado

de ovos, leite e derivados.” Nessa dieta está incluso o consumo de frutas, cereais,

legumes e verduras. Com base nessas orientações de saúde e qualidade de vida,

a IASD “administra um sistema de instituições médicas e orienta sobre um estilo de

vida que promove a saúde” que se respaldam em princípios bíblicos e nos conselhos

de Ellen G. White. Além da questão relacionada a alimentação e saúde, faz-se

necessário destacar também a educação adventista, tendo em vista sua relevância

na instituição.

25 Informações obtidas em entrevista com Robson Teles – membro adventista.

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1.3.3. A Educação Adventista

A busca por uma educação de qualidade pelos adventistas iniciou-se anos

antes da oficialização da Igreja, exatamente no ano de 1853.26 Pais cristãos e fiéis a

valores bíblicos, comprometidos com o ensino de seus filhos, sem correr o risco da

secularização, passaram a buscar uma educação integral e de qualidade (ROSA,

2009, p.46). Os adventistas acreditavam que “era preciso preservar as crianças dos

males a que estavam expostas em instituições públicas” (ATAIDES, 2011, p. 50). No

ano de 1875, conseguiram fundar a primeira instituição de nível superior em

Michigan, inicialmente chamada de Battle Creek College, e hoje conhecida como

Andrews University. A partir desse evento, a educação e instituições de ensino

adventistas não pararam mais de crescer. Na América do Sul, no ano de 2009, a

IASD já possuía mais de 867 instituições de ensino, com mais de 226 mil alunos

matriculados no ensino fundamental, médio e superior (ROSA, 2009, p. 46). “No

Brasil, as escolas e colégios adventistas chegaram praticamente junto com a

inauguração” de suas igrejas. “Em 1896, em Curitiba, começou a funcionar o Colégio

Internacional de Curitiba, sob a direção de Guilherme Stein Júnior”. Em São Paulo, a

proposta educacional adventista só surgiu 50 anos depois de outras atividades

educacionais protestantes no Estado, e de forma proselitista (MARTINS, 2014, p.

221 e 225).

Convém atentarmos para o fato de que na educação adventista a integração

entre fé e ensino vão além do discurso, e permeiam práticas pedagógicas, assim

como o ambiente e a cultura escolar, enfatiza Carvalho (2011, p. 353). É possível

considerar que por meio da educação, um estilo de vida, fé e prática é propagado.

Nesse caso, alguns alunos podem chegar a converter-se ao adventismo. Como

exemplo, Hosokawa e Schunemann (2008) ao retratar sobre a conversão dos

primeiros imigrantes japoneses à IASD no Brasil, expõe como a atuação

evangelizadora de um determinado Colégio Adventista foi fundamental para que isso

ocorresse. Na pesquisa de campo, realizada no dia 26 de Setembro de 2015, um

professor do colégio Adventista apresentou em um culto, três alunos (adolescentes)

26 Martins (2014, p.220, 221) alega que, a “área educacional não foi inicialmente uma preocupação para os ASD; a educação formal, com o estabelecimento de escolas e colégios foi o último desenvolvimento institucional da denominação”, não coube-nos porém, discutir as divergências sobre esse assunto. O apontamento pretendeu apenas informar que essas divergências existem nas informações. ASD (Adventistas do Sétimo Dia).

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que haviam declarado converter-se ao movimento, tendo sido batizados dias antes.

Robson Teles (um jovem adventista) em entrevista, alegou algo interessante

referente a sua conversão ao movimento. Ele diz:

Não sou adventista de berço. Conheci a doutrina adventista através da escola adventista, na qual estudei da primeira série até a conclusão do ensino médio. Eu sou o único adventista da minha família. Me batizei qual estava no segundo ano do colegial, com dezesseis anos. Eu nunca deixei a igreja desde então. [...] Eu não caracterizaria a educação adventista como um veículo missionário. Esse não é o foco principal. Contudo, o objetivo sempre foi educar com valores altos. Nestes valores se encontram a ajuda missionária bem como serviços a comunidade, valores éticos, cidadania, virtudes humanas (honestidade, integridade, bondade, etc., entre muitas outras). (Robson Teles)

A conversão de estudantes do colégio adventista a IASD, como verificado,

não é incomum. Nesse contexto, torna-se interessante ressaltarmos também, a

educação adventista no Haiti, uma vez que no ano de 2008 a IASD já contava com

270 escolas fundamentais, 2 escolas de ensino médio e 1 universidade no país

(ADVENTIST WORD, 2010, p.7). Levando-se em consideração o fato de existirem

poucas escolas públicas no Haiti,27 e a grande quantidade de escolas adventistas no

país, é possível considerar a possibilidade de que alguns haitianos tenham se

convertido ao movimento por esse meio, ou ao menos conhecido a instituição

através de seus colégios. Haitianos adventistas em São Paulo com quem

conversamos, porém, disseram não ter estudado no colégio adventista no Haiti

devido aos custos. No Brasil, a chegada da educação adventista como visto

anteriormente, se deu quase no mesmo período em que se estabelecia a IASD

brasileira, assunto a ser tratado no próximo texto.

27 Para mais informações sobre a educação no Haiti ver: Gentili (2014); & Grondin (1985, p. 66 - 67).

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1.4. A História da IASD no Brasil e São Paulo: Chegada e Estabelecimento

Podemos considerar que a IASD chega oficialmente ao Brasil em 1893,

através do missionário adventista Albert B. Stauffer. Mas a fé adventista, de certa

forma, já se manifestava no país por meio de uma comunidade alemã localizada

em Santa Catarina. Na Alemanha, o adventismo estava em fase crescente, uma vez

que muitos alemães que se converteram ao adventismo nos Estados Unidos

retornaram ao seu país de origem no intuito de propagar a sua fé. No Brasil, no

entanto, apesar da fé adventista ter sido primeiramente difundida entre alemães,

não chegou ao país por esses imigrantes. Por outro lado, o fato da IASD estar em

extensa difusão na Alemanha e o adventismo organizado em outras duas grandes

colonias alemãs nos Estados Unidos e Canadá, pode ter levado esses imigrantes

no Brasil, a receber a mensagem adventista com mais afinco (SCHUNEMANN,

2003; SCHUNEMANN, 2009, p 157 – 158).

Borges (2000) retrata que uma comunidade alemã encontrada por Albert B.

Stauffer, ao chegar ao Brasil, já observava o sábado como dia de descanso, tendo

recebido a mensagem adventista por meio de suas literaturas. O autor expõe os

fatos dizendo que, um imigrante alemão por nome Borchardt, residente em Santa

Catarina, depois de uma briga, resolveu fugir e embarcar para Alemanha. Na viagem

conheceu dois missionários adventistas que conversando com ele expuseram o

desejo de enviar literaturas adventistas para o Brasil. Borchardt lhes entregou o

endereço de seu padrasto luterano, Carlos Dreefke que estava no Brasil. As

literaturas que chegaram a Dreefke foram distribuídas, mas com medo de que

tivesse que pagar pelas revistas, negou-se a continuar recebendo-as. Dressler,

também alemão, sabendo que as revistas eram gratuitas, no intento de lucrar sobre

elas, aproveitou a ocasião e se responsabilizou pelos pedidos. Dressler, que era

alcoolista, acabava trocando os folhetos adventistas recebidos, reutilizados como

embrulho, por bebida alcoólica. Através desses embrulhos a mensagem adventista

foi sendo disseminada no Brasil, até que em um certo dia, um outro alemão, por

nome Guilherme Belz, ao verificar suas compras, percebeu que o papel de embrulho

estava escrito em alemão. Semanas depois teve acesso a um livro, comprado de

Dressler, que coincidentemente abordava o mesmo assunto do folheto. Guilherme

era nascido de uma família luterana e a partir do contato com a literatura adventista

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passou a observar o sábado como dia de descanso. Tempos depois, outros

participantes da comunidade em que vivia também passaram a observar o sábado.

A chegada de Stauffer ao Brasil em 1893, foi um marco para oficialização da

IASD brasileira, mas como a fé adventista ficou por alguns anos centrada entre

imigrantes alemães, não se propagou de imediato. Seyferth (2005, p. 19) alega que

no início da imigração alemã para o Brasil, os imigrantes se concentravam em

grupos familiares, isolando-se dos brasileiros. Schunemann (2009, p.154) enfatiza

que o adventismo se manteve apenas nas colônias alemãs durante anos. Fator que

pode estar relacionado justamente ao isolamento das colônias. A literatura

adventista na língua alemã parecia favorecer ainda mais esse quadro, entretanto,

aos poucos as novas comunidades foram adquirindo fiéis nativos brasileiros

(SCHUNEMANN, 2009). Em 1895, em Santa Catarina, onde havia uma grande

concentração dessas comunidades, fundou-se a primeira igreja Adventista do

Sétimo Dia no Brasil.28 Entretanto, só anos depois expandiu-se para o Estado de

São Paulo. A primeira IASD no Estado de São Paulo foi fundada em Santo Amaro

no dia 17 de janeiro de 191529 (MENDES, 2015, p. 37 - 38). O movimento cresceu

bastante no Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul entre os anos de 1919 a

1937, contudo, o seu grande desenvolvimento se deu em São Paulo, onde manteve

um foco proselitista intenso entre imigrantes, especialmente italianos, portugueses,

espanhóis e japoneses. Fator que colaborou para esse crescimento, principalmente

na capital paulista. Entre suas estratégias de crescimento, em um determinado

momento, centralizando-se no fluxo migratório nordestino para São Paulo, utilizou-se

de tendas para o evangelismo público em bairros periféricos. Resultando na

continuidade do seu crescimento e na abertura de inúmeras outras congregações

(SCHUNEMANN, 2009). Anos depois de ter chegado a São Paulo, a IASD construiu

um templo no bairro da Liberdade. Esse templo, desde a sua formação, atendeu a

diferentes grupos de imigrantes adventistas que chegavam a capital (MENDES,

2015, p. 50). Hoje, acolhem a um grupo de haitianos que professam a fé adventista.

28 Schunemann (2009, p. 158), enfatiza que a primeira IASD no Brasil surgiu em Santa Catarina no ano de em 1895. Mas, Mendes (2005, p.26), expõe que a IASD em Boa Vista do Guilherme (Lagoa dos três Cantos – RS) foi a primeira IASD fundada no Brasil (em 28 de Setembro de 1893). 29 Schunemann (2009, p. 160 – 161), alega que a organização da primeira IASD em Santo Amaro se deu em 1914 e em São Paulo, o “primeiro local de culto adventista na capital foi organizado no centro por volta de 1915”.

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1.5. Uma Igreja Étnica: o papel da IASD no Acolhimento a Grupos Étnicos em

São Paulo

Quando tratamos de uma igreja étnica na cidade de São Paulo, remetemo-

nos tão logo, a própria metrópole e seus dinamismos, bem como os fatores

migratórios relacionados a ela. A capital paulista apresenta-nos um fator

surpreendente no que diz respeito a sua ocupação territorial, número de habitantes e

economia geracional. Uma vez que esta lidera o ranking nacional nesses quesitos,

sendo inclusive, a única cidade brasileira com mais de 10 milhões de habitantes.30

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de

2015 estimava-se uma população de 11.967.825 de habitantes, vivendo em uma

área de 1.521,110 Km².31 Uma cidade que gira em torno de negócios, com um

produto Interno Bruto (PIB) de R$ 450 bi, em determinada região da capital paulista,

que se desenvolve por meio de um “fantástico movimento de segmentos

fundamentais como turismo, feiras, eventos, hotelaria, gastronomia, transporte,

cultura, lazer, esportes e todas as atividades secundárias e terciárias dessa máquina

de economia” (PEREIRA, 2013, p. 40).

Em meio a todo esse crescimento, é possível verificar em seu contexto

histórico não muito distante, a contribuição dos processos migratórios com um

relevante papel na formação da força de trabalho paulista e consequentemente do

desenvolvimento de sua economia (DEDECCA, TROVÃO & ARAÚJO, 2015, p.

133)32. Mas, o imigrante não favoreceu apenas o crescimento econômico dessa

cidade. Este, por sua vez, favoreceu também a diversidade em seus inúmeros

âmbitos. O imigrante que trouxe para a capital de São Paulo a sua força de trabalho

trouxe consigo também a sua cultura, hábitos e expressões religiosas, por vezes

diferentes, compondo uma paisagem, onde “as religiões não são apenas a resposta

funcional aos ditames infraestruturais da metrópole”. O que faz-nos conduzir a um

modelo analítico que reforça o reconhecimento da cidade com uma lógica própria,

30 Informações obtidas na Revista Exame. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/as-200-cidades-mais-populosas-do-brasil/>. Acesso em 11/111/2016. 31Informações obtidas no site oficial do IBGE. Disponível em: <htpp://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=355030>. Acesso em 22/08/2016. 32 O período a que se refere a contribuição dos processos migratórios com um relevante papel na formação da força de trabalho paulista, compreende ao século XX. “Os dados do Censo Demográfico de 2000 e 2010 demonstram que a recuperação econômica recente deixou de ser marcada por um impulso da imigração para o estado de São Paulo” (DEDECCA, TROVÃO & ARAÚJO, 2015, p. 133).

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que “inflecte sobre a prática religiosa e é afetada por suas transformações”

(ALMEIDA, 2009, p.10 - 15). A cidade não garante em si, o espaço de tolerância

para com o dissemelhante, por outro lado, propicia a convivência, compondo um

caráter cosmopolita com capacidade para aceitação daquilo que é visto ou

entendido como diferente (MAGNANI, 2009). Nesse complexo espaço da vida

urbana, nos deparamos com o estrangeiro, o diferente, que traz “seus deuses,

altares e ritos, com uma forma peculiar de venerá-los”, com expressões públicas de

culto nem sempre isentas de conflitos, no entanto, sujeitas a negociações

(MAGNANI, 2009, p. 20, 21, 22).

No início da história da IASD na cidade de São Paulo, ainda nas primeiras

décadas do século XX, embora buscasse oportunidade proselitista entre nativos,

passou a se preocupar também com os imigrantes, devido constituírem parte

significativa da população metropolitana paulista. A cidade já chamava atenção por

sua prosperidade econômica, desenvolvimento dos meios de comunicação e

crescimento das funções urbanas, enxergados como símbolos do progresso

republicano. Em meio a essa configuração a missão adventista investiu no projeto

de missões em São Paulo e prosperou. Em 1929 inaugurou a IASD no bairro da

Liberdade, importante templo da instituição em São Paulo. Nessa ocasião, 40% dos

adventistas do país já eram representados pela capital de São Paulo. Esse

relacionamento da IASD com a multiplicidade étnica da cidade trouxe como

resultado o estabelecimento de pelo menos cinco Igrejas específicas: “Igreja

Adventista Nipo-brasileira, Igreja Adventista Coreana, Sinagoga Adventista de São

Paulo (Beth B’nei Tsion), Comunidade Árabe e Igreja Adventista Hispana. Todas

essas igrejas fazem parte da Associação Paulistana” da IASD e teriam nascido

frente a duas questões básicas: “por necessidade linguístico-cultural” ou “para se

estabelecer um diálogo inter-religioso”. A instituição teria buscado atender a

diversidade étnica desses grupos, por meio de métodos de adaptação a cultura de

cada um deles (MENDES, 2015, p. 43, 45, 47 - 51).

A IASD também mantém no centro de São Paulo, um projeto que visa atender

a comunidade, incluindo grupos étnicos. Para isso criaram um centro de influência,

denominado de “Instituto Base Genesis”,33 inaugurado no dia 09 de maio de 2015,

33 A IASD mantém uma página no facebook referente ao Instituto Base Genesis, onde divulga os trabalhos comunitários realizados.

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localizado na Praça da Sé, por meio do qual objetiva-se acolher inicialmente pelo

menos 16 grupos étnicos diferentes, oferecendo cursos de capacitação profissional,

línguas, e outras atividades que envolvam aspectos físicos, emocionais e espirituais.

A instituição explica que a criação de centros de influências por parte da IASD,

baseia-se em uma visão de Ellen White e sua orientação para estabelecimento de

pequenas instalações em diversas cidades, com o propósito de ajudar a comunidade

em suas necessidades. O tamanho e formato desses centros não são importantes.

Nesse sentido, o Departamento de Missão Adventista tem se empenhado “para

estabelecer uma rede de centros de influência, autossustentáveis, em áreas urbanas

– chave” em diversos países.34 No caso de São Paulo, onde mantém uma sala no 1º

andar de um prédio localizado na Praça da Sé, declaram auxiliar atualmente em

torno de 100 famílias refugiadas da Síria com alimentação, mediação de

documentos e emprego. Alguns angolanos e haitianos também procuraram

assistência do departamento por indicação de outros que já conheceram o projeto. O

trabalho realizado conta com serviços voluntários e doações. Alegam oferecer

cursos práticos e teóricos para a comunidade com o objetivo de gerar renda como:

artesanato, libras, inglês, reforço escolar, arte, terapia para crianças, além do curso

de português para estrangeiros e outros. Em parceria com o hospital Adventista,

juntamente com professores e alunos da área de saúde da Universidade Adventista

de São Paulo (UNASP), realizarem semestralmente atendimento à população na

praça da Sé. Esse atendimento seria de medição da glicemia, aferição da pressão e

orientações de saúde. Feiras e bazares também seriam organizados para expor os

produtos e serviços realizados nesses cursos. A divulgação do projeto se dá

principalmente por meio de redes sociais. A foto a seguir ilustra a inauguração desse

projeto no Centro de São Paulo35.

34 Informações obtidas em: <http://www.adventistas.org.pt/news/centro-de-influencia-adventista-e-inaugurado-no-coracao-da-maior-metropole-brasileira#_>. Acesso em: 23/05/2016. Obtidas também em: <http://ucb.adventistas.org/missaourbana/projeto/centros-de-influencia/>. Acesso em 04/07/2016.

35 Informações obtidas em pesquisa de campo (visita ao local onde realizam o projeto Gênesis) no dia 22/09/2016.

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(Figura 2. Foto do Centro de Influência da Igreja Adventista do Sétimo SP - Disponível em <http://ucb.adventistas.org/missaourbana/wp-content/uploads/sites/32/2014/08/Centro-de-

Influencia-10.jpg>.)

Percebe-se que o envolvimento da IASD paulista com imigrantes não é

recente. Com o grande fluxo migratório de haitianos para Brasil e consequentemente

para a capital de São Paulo entre os anos de 2010 e 2015, o haitiano passou a fazer

parte desse cenário, estabelecendo uma relação com a IASD paulista. Essa relação

iniciou-se em 2010, mas com o aumento do grupo em 2014, um espaço que já era

utilizado pelo grupo para reuniões da Escola Sabatina, no mesmo endereço da IASD

Central Paulistana, foi cedido pela instituição, para que o grupo realizasse os seus

cultos também. Antes disso, cultuavam juntamente com a IASD paulista. Nessa

relação que estabeleceram com a IASD de São Paulo, a identidade do grupo passou

a ser construída e estratégias missionárias e ação social, estabelecidas. Nesse

caso, a ação social acontecia por parte da IASD entre esses imigrantes e a atuação

missionária por meio dos imigrantes haitianos adventistas entre outros haitianos com

o respaldo da instituição.36 Essa relação será analisada nesse trabalho, entretanto,

para a compreendermos, torna-se necessário entendermos primeiramente como se

36 Informações obtidas em pesquisa de campo.

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deu a imigração haitiana para o Brasil e o próprio imigrante haitiano adventista

nesse contexto.

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CAPÍTULO 2.

O HAITIANO: TRAÇANDO UM PERFIL

Tendo em vista que no primeiro capítulo contextualizamos o campo de

pesquisa, no segundo capítulo retrataremos o imigrante haitiano e parte do contexto

que permeia sua chegada ao Brasil.

2.1. Chegada e Estabelecimento do Haitiano no Brasil

É possível considerar que a aproximação do Brasil com o Haiti se deu com

mais intensidade a partir de 2004, quando o Conselho de Segurança das Nações

Unidas decidiu estabelecer a Mission des Nations Unies pour La Stabilization em

Haiti (Minustah), constituída por soldados de diversos países, mas principalmente de

brasileiros. Em 2004, o Haiti sofreu um terremoto que comoveu o mundo, mas os

países receptores de haitianos fecharam as suas portas, por outro lado o Brasil,

assumiu uma medida provisória liberando milhões para ajudar o Haiti (COSTA,

2015). No ano de 2010 o Haiti voltou a sofrer com um terremoto que arrasou o país.

Um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR),

elaborado meses depois da catástrofe no Haiti, expõe:

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) reconhece como deslocamento interno a situação no Haiti em um relatório elaborado oito meses depois da catástrofe, que contabilizou cerca de 1,3 milhões de pessoas deslocadas internamente vivendo em condições precárias nos 1.354 acampamentos e assentamentos na capital e seu entorno. Cerca de 60% da infraestrutura governamental, administrativa e econômica foi destruída. Mais de 180.000 casas desabaram ou foram danificadas e 105.000 foram completamente destruídas. Por volta de 23% de todas as escolas no Haiti foram afetadas pelo terremoto (4992 escolas), 80% das escolas

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em Porto Príncipe e 60% das escolas nos estados Sul e Oeste foram destruídas ou danificadas [...]. (MOZINE, FREITAS e RODRIGUES, 2012, p. 9 apud UNHCR, 2010)

Torna-se relevante destacar que o processo migratório haitiano decorrente

principalmente de fenômenos da natureza e questões sociopolíticas para outros

países, já ocorria há muito tempo, contudo, se levarmos em consideração os últimos

50 anos, veremos que esse processo passou por alguns momentos de mais

intensidade. Em 1960 muitos intelectuais e profissionais qualificados haitianos

migraram para outros países, ao passo que trabalhadores braçais partiam para a

República Dominicana. Diante da ditadura liderada pelo Papa Doc, François

Duvalier37, outros intelectuais acabaram deixando o país. Na década de 80 a

pobreza cresceu ainda mais no Haiti. Em decorrência disso, mais haitianos

passaram a sair do país, principalmente para a Europa e Estados Unidos, que na

ocasião buscavam mão de obra mais barata. Muitos outros, que não tinham

condições de ir para Europa ou Estados Unidos, acabaram migrando para outros

países do Caribe. Devido tais fatores e as inúmeras e decorrentes catástrofes

naturais, a situação econômica do Haiti se agravou grandemente. Com o terremoto

de 2010 a situação no país ficou ainda pior. O desejo e a necessidade de sair do

Haiti tornaram-se maior, porém, os países receptores de haitianos mantiveram suas

portas fechadas. Nesse contexto surge a grande novidade, a imigração para o Brasil

(COSTA, 2015; COSTA, 2016, p. 8 - 9).

Diante do terremoto em 2010, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva,

declarou ajuda humanitária e acolhimento aos cidadãos haitianos que migrassem

para o Brasil. (COTINGUIBA, 2014, p. 86,87 apud SILVA, 2012). Após a declaração,

o fluxo migratório de haitianos para o país foi drasticamente intensificado. De acordo

com Fernandes (2014, p. 12) a imigração não pode ser gestada “unicamente pelas

facilidades de entrada no país, como preconizam os que criticam as medidas

37 De acordo com Grondin (1985, p.43 – 44 e 47), a dinastia Duvalier imperou por muitos anos no Haiti. Duvalier era chamado de “papa doc” (papai Doutor), considerado também um “mestre manipulador da cultura”. Adotava medidas autoritárias e fascistas de dominação política: encarcerava, torturava e exilava adversários políticos.

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tomadas pelo governo brasileiro”. Nesse caso, este não seria o único motivador para

a imigração do haitiano para o Brasil. Por outro lado, a suposta imagem de um Brasil

hospitaleiro e acolhedor, estava sendo vendida e difundida, causando a ilusão de

que no Brasil o haitiano além de poder ser bem acolhido, teria mais oportunidades

do que em outros países (COSTA, 2015, P.61, 63). Na concepção de Cotinguiba

(2014, p. 86) os fatores motivacionais dessa imigração para o Brasil envolvem

inúmeras questões, além daquelas de origem política, econômicas ou relacionadas

às catástrofes naturais no Haiti. A visibilidade e o crescimento econômico do Brasil,

que na época estava em ascensão, seria um desses fatores, mas também: a

facilidade de entrar no país por fronteiras localizadas na região norte; as possíveis

ofertas de trabalho que surgiriam com a copa de 2014; as expectativas de uma vida

melhor; a questão do “endurecimento de políticas de imigração em outros países”;

outras catástrofes naturais e a possibilidade de um visto de permanência de maneira

rápida e de certa forma simples, no país. Segundo Marchini e Barros (2016, p. 90),

nesse processo deve-se atentar-se também, para as particularidades relacionadas a

história de vida de cada um desses imigrantes, bem como suas esperanças, sonhos

fragilidades e coragem. Uma vez no Brasil, o “maior objetivo parece ser o de enviar

remessas para a manutenção dos seus familiares, além de conquistar para si

próprios melhores condições financeiras”, conforme descrevem Zeni e Filippim

(2014, p. 18). No entanto, entrar no Brasil não é tão simples, a começar pelo Visto

exigido e que a princípio não era disponibilizado no Haiti pelas autoridades

consulares brasileiras (COSTA, 2015, p. 63; 2016, p. 12).

Com base na legislação e no Direito Internacional dos Refugiados, os

haitianos solicitaram refúgio ao Brasil, mas o Conare - Conselho Nacional de

Refugiados, “entendeu que o motivo apresentado pelos estrangeiros – deslocamento

por desastre natural, econômicos e sociais – não se enquadravam nas hipóteses de

perseguição elencadas pelo direito internacional” (MORAES; ANDRADE; MATTOS,

2013). O termo “refugiado” nesse contexto é limitado, uma vez que se refere apenas

àqueles que não podem retornar ao seu país ou não quer, por perseguições

relacionadas à religião, raça, nacionalidade, opinião política ou pertença a grupo

social (THOMAZ, 2013; p. 135, apud. CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO

DOS REFUGIADOS, 1951). Diante dos fatos o Conare encaminhou o caso ao

Conselho Nacional de Imigração (CNIg), que ao procurar uma solução legal para

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essa questão, concedeu um “visto humanitário de residência aos haitianos”

(MORAES; ANDRADE; MATTOS, 2013, p. 103 - 104).

Entretanto, sem a possibilidade inicial do Visto para entrar no Brasil, o

haitiano acabou criando uma rota terrestre. Nessa rota, saíam de Porto Príncipe ou

de Santo Domingo, chegavam ao Panamá onde viajavam de avião até Quito ou

Guaiaquil no Equador e de lá iam para Lima no Peru. De Lima pegavam mais um

avião para Iquitos e lá seguiam de barco até Tabatinga, no Amazonas. Essa rota foi

utilizada até 2010, mas em 2011, encontraram outra rota depois de chegar a Lima.

Em Lima embarcavam em um ônibus que passava por Cusco e chegavam a Puerto

Maldonado no Peru. De lá entravam no Brasil, alcançando Brasileia, no Acre. Alguns

também conseguiam chegar a Brasileia pela Bolívia. No início, estando no Brasil,

recebiam um Visto que girava em torno de 15 dias a três meses e meio, emitido pela

Polícia Federal e então partiam para Manaus. Porém, em alguns momentos esse

Visto quase não era mais fornecido e em decorrência disso, o número de haitianos

em Tabatinga foi aumentando, quando finalmente em 12 de Janeiro de 2012 o

“Governo emitiu a Resolução Normativa nº 97 sobre a concessão do Visto a

nacionais do Haiti”. Nesse mesmo ano foram concedidos 1200 Vistos, mas estima-

se que tenham entrado pelo Amazonas, mais de quatro mil haitianos. Em 2013

inúmeros consulados brasileiros já podiam fornecer esses Vistos e a Embaixada

Brasileira no Haiti podia liberar quantos Vistos conseguisse. Mas, o tempo de espera

aumentava cada vez mais e por isso as filas nos consulados cresciam a cada dia.

Em decorrência disso, a entrada de haitianos indocumentados pelo Amazonas

continuava se agravando. Nos primeiros dois meses de 2014 entraram pelo Acre em

torno de quinze mil haitianos (COSTA, 2015, p.63; 2016, p. 13 - 14). Os vistos

concedidos nos “estados do Acre e do Amazonas responderam por mais de 90%

das solicitações, indicando claramente os pontos de entrada mais importantes no

país”, nesse caso, em Tabatinga - Amazonas, e Brasileia no Acre (FERNANDES,

2014, p. 30). Parise (2016, p. 59) acrescenta:

Esse percurso foi gerenciado por “coiotes”, que exploravam economicamente os haitianos e desrespeitavam os direitos humanos dos mesmos, chegando, nos casos mais graves, à cárcere privado e estrupo de mulheres. A solução desta problemática exigia uma

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mudança de horizonte, envolvendo a atuação brasileira no Haiti e o diálogo com os países vizinhos para acabar com essas rotas.

Como a emissão de Vistos ampliada em Porto Príncipe no segundo semestre

de 2015, “o número de imigrantes haitianos que utilizavam a rota até o estado do

Acre começou a diminuir” (p.59). É importante ressaltarmos que o haitiano no Brasil

acabou se deparando com inúmeras questões problemáticas e uma delas dizia

respeito justamente, a ausência de políticas públicas adequadas para acolhimento e

atendimento ao imigrante. Essa carência tornou-se “um problema a ser enfrentado

pelos governos de todos os níveis: união, estados e municípios e por diferentes

atores individuais e institucionais” (ZENI e FILIPPIM, 2014, p. 19). O governo

manteve as fronteiras abertas e concedeu Visto de entrada e documentação, mas

fora isso, o imigrante teve que buscar os seus próprios meios para sobreviver no

país (COSTA, 2016, p.14 -15). Zeni e Filippim (2014), atestam também, que a

política que envolve imigração no Brasil, questiona as articulações relacionadas

entre governo, setores privados e sociedade civil, e ainda necessita de esforços,

para que o acolhimento do imigrante de fato aconteça, ainda mais, “no caso de

migrantes provindos de uma situação econômica amplamente desfavorável, como o

caso dos haitianos”.

Frente as discussões sobre a legislação referente a imigração no Brasil,

existe um consenso de que o estatuto do estrangeiro, estabelecido no período da

ditadura militar e vigente até hoje, manifesta preocupação com a segurança nacional

em detrimento a proteção dos direitos de imigrantes. Por isso, projetos de leis que

visam uma nova legislação nesse âmbito, seguem os trâmites no Congresso

Nacional atualmente (RUANO & BOTEGA, 2014, p.116). De acordo com a redação

de Rodrigues (2015) para Agência Senado, o Projeto de Lei (PLS) 288/2013, teria

sido uma dessas propostas no intento de substituir o Estatuto do Estrangeiro (Lei

6815/1980), a qual poderia trazer benefícios. Por outro lado, o pesquisador Igor

Machado (2015)38, em uma análise mais detalhada desse projeto de lei, identificou

38 Informações obtidas em: <http://jornalggn.com.br/noticia/acriminalização-do-estrangeiro-na-nova-lei-da-imigração> Acesso em: 09/12/2015. Informações obtidas também através de uma palestra ministrada por Igor Machado no curso de extensão universitária Desloca Migra Mentos Mentes no Memorial da América Latina em São Paulo, no dia 16/09/2015.

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que este, além de afirmar as diferenças, compromete os direitos humanos quando

atribui a polícia federal sua gerência. Parise (2016, p. 56) discorre sobre o assunto

da seguinte forma:

É conhecida a urgência de mudar o paradigma do marco legal passando do estatuto do estrangeiro (Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980), herança da ditadura militar, que possui uma lógica de segurança nacional, para outro baseado na plataforma de direitos humanos. Desde o início do ano de 2000, entidades da sociedade civil brasileira começaram a cobrar de maneira constante essa mudança. Em 2009, foi protocolado o Projeto de Lei, na Câmara dos Deputados, sob o número 5. 655, porém contava ainda com foco na segurança nacional, com pouca inovação e com sérias tendências seletivistas para a migração. Em julho de 2013, foi protocolado o Projeto de Lei do senador Aloysio Nunes, número 288, priorizando o ser humano ao invés da segurança nacional. Em 2013/2014, o Ministério da Justiça formulou uma Comissão de Especialistas, composta por acadêmicos de diversas áreas, que elaborou um Projeto de Lei, com tom humanista e preservando o direito de migrar, ideal para o cenário migratório brasileiro. Atualmente o projeto de Lei 288 de autoria do senado, entrou na Câmara dos Deputados com o número 2516 de 2015. Uma Comissão Especial foi constituída para proferir o parecer sobre este novo projeto de lei migratória.

Nesse cenário conturbado e em análise, com o fluxo continuo de imigrantes

haitianos para o Brasil até meados de 2015 e a ausência de políticas públicas

migratórias de acolhimento, a sociedade brasileira se viu desafiada a agir de alguma

forma para amenizar a situação. Nesse contexto, algumas instituições religiosas

acabaram exercendo um papel que caberia ao Estado.

Em São Paulo, aquela que está em mais visibilidade hoje, é a Pastoral do

Migrante. Nesse caso, falar em imigração haitiana em São Paulo significa em algum

momento, falar do trabalho que vem sendo desenvolvido pela Pastoral do Migrante.

“A Pastoral, é um dos braços da Missão Paz”. Missão Paz é o nome dado ao

composto de quatro diferentes núcleos, com distintas finalidades. Estes núcleos são:

“Casa do Migrante, Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes, Centro de

Estudos Migratórios e as paróquias Nossa Senhora da Paz, Latino Americana e

Italiana” (LUCIO, 2015, p.51). Essa entidade pertence aos missionários

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Scalabrinianos39 e atende imigrantes e refugiados desde os anos 30 do século XX

(PARISE, 2016, p. 38). Nos últimos anos, a Missão Paz têm atendido muitos

imigrantes haitianos, aos quais presta acolhimento e media alguns serviços jurídicos,

de saúde, educação, assistência social e psicológica. A Casa do Migrante recebe

diariamente imigrantes de diversos países, sendo que, a permanência destes no

local, é determinada individualmente de acordo com a necessidade de cada um.

A Casa do Migrante é um ambiente que abriga imigrantes e refugiados, por período indeterminado, até documentação e empregos serem conseguidos. Esse espaço conta com 110 leitos divididos em ala masculina e feminina, banheiros, área para as crianças e um grande espaço de confraternização. O Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes (CPMM) é o eixo legal, onde os imigrantes são atendidos por advogados e profissionais que vão regularizar a situação e depois promover encontros entre empregador e o imigrante, para tramitações de emprego.” (LUCIO, 2015, p.51)

Além do auxílio com a documentação, a Missão Paz oferece cursos, entre

eles, o curso de língua portuguesa. Arrecadam e distribuem roupas e produtos de

higiene e fazem a mediação entre empresas e os imigrantes. Essas empresas tem

procurado a Missão Paz para ofertar suas vagas. Algumas são de pequeno porte,

outras, porém grandes e conhecidas nacionalmente.40 Outras Instituições religiosas,

também acolhem e auxiliam o imigrante haitiano oferecendo apoio social de cunhos

diversos41 e apesar da “inibida” atuação de algumas delas, de certa forma, têm

tentado amenizar a emergente situação migratória no país.

39 “Os Scalabrinianos ou Missionários de São Carlos são membros da Congregação religiosa fundada por Dom João Batista Scalabrini, bispo de Piacenza, na Itália, com a finalidade de dar assistência espiritual aos migrantes”. Informações obtidas em: <https://sites.google.com/site/provinciasantacruz/os-scalabrinianos-na-historia-estigmatina-do-brasil>. Acesso em 20/10/2016. 40 Informações obtidas por meio de pesquisa de campo na Missão Paz no dia 25 de Agosto de 2015. 41 <http://noticias.gospelmais.com.br/assembleias-deus-recebem-evangelicos-refugiados-haiti-32819.html> Acesso em: 03/09/2015

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2.1.2. O Haitiano Adventista no Brasil: São Paulo

A presença do imigrante haitiano adventista em São Paulo inevitavelmente

remete-nos ao contexto histórico da própria IASD no Haiti, uma vez que muitos deles

já chegaram ao Brasil sendo membro da instituição, conforme verificamos em

pesquisa de campo, por meio de diálogo com o grupo pesquisado. A chegada da

IASD no Haiti se deu em 1879, por meio de suas literaturas. Uma das estratégias

missionárias da IASD consistia em remeter livros por terra ou mar a diversos lugares

do mundo, por meio de navios, barcos, carros de boi, lombos de burros, e até nas

costas de colportores42 (MARTINS, 2014, p. 213 apud VIEIRA, 1996, p. 133-134).

Essa mesma estratégia utilizada para com o Haiti, foi também utilizada no Brasil,

como discorremos anteriormente. John Loughborough (adventista do sétimo dia)

teria enviado para o Haiti uma caixa de literatura não endereçada a ninguém em

particular. Essa literatura chegou por meio de um navio no Cabo Haitiano e foi

entregue a um missionário episcopal da cidade, que as distribuiu entre missionários

de inúmeras denominações diferentes. Um casal batista, Henry Willians e sua

esposa, após contato com a literatura passou a observar o sábado como um dia de

descanso. Anos depois (1892) conheceram o primeiro adventista, L.C. Chadwick,

que visitava o Haiti. O casal foi batizado por ele e desde então a IASD passou a

crescer e se desenvolver no País. Conforme dados da IASD divulgados na revista

Adventist Word (2010, p. 7), em 2008, quando a população haitiana alcançava em

torno de 9,1 milhões de pessoas, a igreja já registrava mais de 328 mil haitianos

adventistas, o que equivale a quase 4% da população. Na ocasião, o movimento já

possuía mil templos, que realizavam três ou mais cultos em um mesmo dia para

acomodar todos os seus membros. Emile (haitiano adventista) alega que a igreja a

qual pertencia no Haiti, que está localizada na cidade de Porto Príncipe, possuía

mais de 500 membros. Informa também que muitos haitianos adventistas dessa

igreja migraram para o Brasil.

De forma geral, uma vez que o haitiano chega ao Brasil, a região das cidades

do Sul e Sudeste do país passam a ser almejados (MARCHINI & BARROS, 2016,

p.96). Nesse caso, destacamos a cidade de São Paulo. Baeninger (2005) alega que

42 Colportor: “Pessoa que vende ou distribui mercadorias de porta em porta, geralmente livros religiosos”. Informações obtidas em: <http://www.priberam.pt/dlpo/colportor>. Acesso em 15/11/2016.

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São Paulo mantém uma centralidade nos destinos migratórios, onde a forte relação

migração/emprego, mantida por meio das redes sociais, influenciam esses fluxos

para a metrópole43. Apesar de Marchini & Barros (2016, p. 96) não detalharem os

fatores que determinam a preferência dos haitianos pelas cidades do sul e sudeste

do Brasil, conforme alegam, podemos considerar que informações circulantes entre

esses imigrantes, sobre o desenvolvimento econômico e as grandes possibilidades

de empregabilidade nessas regiões do país, sejam as responsáveis por essa

questão.’ Mariori & Bissani (2016, p. 2015 apud CHAPECÓ MAIS, 2015), reforçam

que, a maior parte dos haitianos que entraram no Brasil pelo Acre foi acolhida em

São Paulo ou nos estados do Sul. “No município catarinense de Chapecó/SC, no

oeste do estado, os imigrantes trabalham em frigoríficos e moram nos bairros da

periferia”.

No que se refere a capital de São Paulo, foi possível constatar por meio de

diálogo com Emile44, em pesquisa de campo, algumas questões que nos levam a

refletir sobre esse assunto. Esse imigrante alega, que ao receber o visto para o

Brasil ainda no Haiti, destinou-se a capital de São Paulo, onde chegou em setembro

de 2013. Segundo ele, não tinha conhecidos ou contatos na capital, e por isso,

assim que chegou foi direcionado à Casa do Migrante no Glicério, por um outro

haitiano que encontrou ao chegar à cidade. Este permaneceu na Casa do Migrante

por 5 meses até conseguir um emprego e condições de pagar o aluguel de uma

residência para morar. A partir desse jovem, alguns contatos com outros haitianos

que conhecia e viriam ao Brasil, foram estabelecidos e em decorrência desse fator,

escolheriam a cidade de São Paulo como destino também. O que leva-nos a

considerar que esse mesmo processo pode ter ocorrido entre outros haitianos,

formando uma cadeia de informações que contribuiriam para a escolha desse

destino. Para ilustrar esse contexto, uma amiga de Emile, por nome Beta, também

haitiana, veio do Haiti para São Paulo no ano de 2015, a partir do contato com ele,

tendo as informações necessárias sobre a cidade e possibilidades de emprego e

moradia. Pouco tempo depois de ter chegado a São Paulo, conseguiu emprego em

um restaurante.

43 As redes de contato e sociabilidade entre haitianos no Brasil, serão discutidos com mais detalhes no decorrer desse capítulo. 44 Informações obtidas em entrevista com haitiano no dia 12/10/2015.

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Ao desejarem São Paulo como destino, assim que chegavam ao Brasil pela

região norte do país, após enfrentarem quase 70 horas de viagem de ônibus,

diversos haitianos desembarcavam na rodoviária da Barra Funda, em São Paulo e

eram encaminhados para a Missão Paz (MARCHINI & BARROS, 2016, p.96). A

maioria deles eram ajudados a se deslocarem para a capital paulista ainda no Acre,

mediante a falta de recursos financeiros consumidos pelos “coiotes”45 no decorrer do

trajeto, que além de explorarem e desrespeitavam os haitianos, chegando a casos

de estupros de mulheres e cárcere privado, gerenciavam a rota migratória terrestre

de entrada no Brasil (PARISE, 2016), como abordado anteriormente. A presença

desse imigrante na capital de São Paulo registrada no banco de dados da Missão

Paz, começou a ser significativa em 2010 com 28 haitianos, e foi crescendo ao

passar dos anos, sendo que em 2013 já registrava 4.642 e 1.300 no decorrer de

2014 até março de 2015.

No que se refere a religião desse imigrante, nos chama a atenção o fato de

que grande parte deles se declaram evangélicos46. Marchini e Barros (2016, p.103)

descrevem que nos dados colhidos pela Missão paz, muitos imigrantes haitianos

não preenchem o campo correspondente a religião, porém, com um cadastro

contando 6.560 imigrantes haitianos, três categorias religiosas se destacaram. “O

sistema aponta 2.149 haitianos evangélicos, 1.852 protestantes e 1.087 católicos”.

Parise (2016, p. 51) afirma que, do “ponto de vista religioso observa-se que é uma

imigração cristã, com prevalência de igrejas evangélicas”47. Em uma entrevista para

o jornal da folha de São Paulo, ele destaca que apenas 30% são católicos.48 Costa

(2016, p. 61 e 62), ao relatar a chegada dos haitianos a Manaus, acrescenta que,

inicialmente frequentavam, cantavam e até tocavam em algumas missas, e por isso,

chegou-se a acreditar que fossem católicos, mas logo perceberam que eram

pouquíssimos os católicos entre eles e que a grande maioria eram batistas e

adventistas.

45 Coiote: temo usado para designar pessoas que transportam imigrantes ilegais (sem o visto). 46Evangélico: relativo ao evangelho - “Que pertence a religião reformada” (protestante). De acordo com dicionário on-line de Português. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/evangelico/>. Acesso em 20/10/2016. 47 O texto de Parise (2016) remete-nos a compreensão de que “igrejas evangélicas”, diz respeito a denominações cristãs não católicas. 48 Informações obtidas em: <http://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/05/1633021-estou-cumprindo-uma-missão-diz-padre-que-abriga-haitianos-em-sp.shtml?mobile>. Acesso em: 09/12/2015.

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Como os haitianos não se integraram as suas igrejas correspondentes no

Brasil, como observa Costa (2016, p. 61-62), em se tratando dos haitianos

adventistas, foi possível constatar a formação de algumas comunidades étnicas

espalhadas pelo país. Em Porto Velho (RO), a IASD inaugurou no ano de 2014, o

seu primeiro templo adventista exclusivo para haitianos.49 Em 2015 inaugurou outro

templo em Cuiabá (MT).50 Em Santa Catarina, um grupo com 120 desses imigrantes

também foi formado.51 Em Goiás,52 mais um grupo com cerca de 30 haitianos e na

capital de São Paulo outro, que chegou a 90 imigrantes. Ainda na concepção de

Costa (Ibid) “as correspondentes denominações religiosas brasileiras” desses

imigrantes, não teriam feito nada para acolhê-los, ajudá-los ou integrá-los em suas

igrejas. Todavia, ressaltamos que de acordo com a pesquisa realizada, observamos

que a IASD acolheu e auxiliou muitos desses imigrantes. Na pesquisa de campo

entre os haitianos adventistas em São Paulo, verificamos que a IASD da Capital

paulista auxiliava alguns com alimentação e aulas de língua portuguesa.

2.2. O Perfil do Imigrante Haitiano Adventista

Com base no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente

aos anos de 2000 e 2010, o perfil geral do imigrante no Brasil era composto em sua

maioria por pessoas do sexo masculino, declaradas brancas, com mais de 40 anos e

sem o ensino fundamental completo (OLIVEIRA, 2014). No caso do imigrante

haitiano no Brasil, conforme dados apresentados pela pesquisa organizada por

Fernandes (2014), em 2012 a maioria deles tinham entre 25 e 34 anos de idade e

até meados de 2011, e a maioria declarava não possuir o ensino fundamental

concluído (p.33). Zeni e Filippim, (2014, p. 18) acrescentam:

49 Informações obtidas em: <htpp://noticias.gospelprime.com.br/igreja-adventista-templo-haitianos-porto-v

elho/>. Acesso em: 03/03/2015.

50 Informações obtidas em: < http://www.hipernoticias.com.br/cidades/primeira-igreja-adventista-da-comunidade-haitiana-do-centro-oeste-e-inaugurada/51081> Acesso em: 17/12/2015.

51 Informações obtidas em: <http://novotempo.com/revista/videos/igreja-no-parana-da-aulas-de-portugues-e-estudos-biblicos-para-haitianos/>. Acesso em: 08/10/2015.

52 Informações obtidas em: <http://noticias.adventistas.org/pt/noticia/cultura/133767-2/>. Acesso em: 23/05/2016.

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Quanto ao grau de escolaridade, conforme registros no Ministério do Trabalho e Emprego (2011), a maioria dos migrantes haitianos para o Brasil são homens, com idade entre 20 e 30 anos e possuem escolaridade de ensino médio e/ou fundamental incompletos. No entanto, há registros da vinda de advogados, engenheiros e enfermeiros, que, apesar de serem profissionais com formação de nível superior, buscam oportunidades de trabalho mesmo que em outro setor da economia, tais como a indústria e a construção civil. Muitos deles falam de 3 a 4 idiomas (francês, espanhol, inglês e crioulo, língua nativa do Haiti) o que tem impressionado aos empregadores, além da determinação para o trabalho que eles têm demonstrado desde a sua chegada a Chapecó.

Tendo como base os dados da pesquisa realizada em Cascavel – Paraná,

coordenada por Martins (2015, p. 13), estima-se que 89% desses imigrantes sejam

do sexo masculino, 70% com idades entre 15 - 34 anos, sendo que 20% teriam entre

15 – 24 anos e 50% teriam entre 25 – 34 anos. Mais de 50% são solteiros, em torno

de 40% possuem o ensino médio completo e 10% o ensino superior completo. Em

relação ao perfil dos imigrantes haitianos adventistas pertencentes ao grupo

pesquisado em São Paulo, algumas questões53 relacionadas a imigração haitiana

para o Brasil no decorrer dos anos de 2015 e 2016 ocasionaram mudanças no

grupo. O grupo teve um crescimento significativo até o início de 2015, mas

decresceu no final do mesmo ano até 2016, quando a pesquisa ainda estava sendo

realizada. Esse fato teria ocorrido devido a crise econômica brasileira, que por

consequência levou inúmeros haitianos a migrar do Brasil em busca de novas

oportunidades em outros países. Em decorrência desse fator, o grupo que

inicialmente era composto por 90 haitianos em 2015 só contava com 50 em junho de

2016, quando o perfil desse imigrante foi analisado. Conforme dados informados

pelo líder do grupo, a maior parte de seus componentes são homens (sexo

masculino), com idade prevalecente entre 30 - 50 anos. A maioria possui o ensino

médio completo, sendo que alguns cursam o nível superior no Brasil. Entre eles têm

algumas mulheres, adolescentes e crianças. Poucos são casados. Foi possível

observar a manifestação do desejo por parte de alguns deles de trazer familiares

53 As questões à que se refere esse parágrafo diz respeito ao crescente fluxo de imigrantes haitianos no Brasil até 2015, e a mudança desse quadro, com a saída de muitos deles para outros países iniciada no final do mesmo ano, ocasionada principalmente devido à crise econômica brasileira.

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para morar no Brasil, outros, porém têm a pretensão de sair do país em busca de

condições mais favoráveis de vida. Boa parte do grupo já teria migrado do Brasil

para outros países. O país mais almejado seria os Estados Unidos. Télémaque

(2012, p.26), expõe que:

Os Estados Unidos é disparado o principal destino dos imigrantes haitianos desde o movimento de fuga forçado pelo regime ditatorial de François Duvalier, ao final dos anos 1950. A opressão política combinada com dificuldades econômicas continuou a fornecer contingentes de imigrantes haitianos no país todo ao longo dos anos 1970, 1980, 1990 e 2000. [...] Hoje, a comunidade haitiana está estimada em mais ou menos 1 milhão de pessoas, vivendo principalmente em Nova York, Florida, Massachusetts e New Jersey. Juntos, estes quatro estados respondem por 89% da comunidade nos Estados Unidos.

Diante da brusca diminuição no número de componentes do grupo

pesquisado, e do questionamento sobre o que teria acontecido, a informação obtida

foi de que haviam migrado principalmente para os Estados Unidos. Aqueles que

estão migrando são jovens solteiros, que têm como objetivo ganhar mais dinheiro

para mandar ao Haiti. O atual preço do dólar, em decorrência da crise econômica

brasileira, seria um dos motivadores, uma vez que, estaria cada vez mais difícil

enviar dinheiro para os familiares no Haiti. Outro motivo apresentado seria o fato de

que no Brasil, teriam que investir em uma formação para ganharem salários

melhores, mas como trabalham muitas horas por dia, não disponibilizam de tempo

para dedicar-se aos estudos. Alguns alegam falta de dinheiro para esse intento,

também. Como a maioria deles são solteiros, ou não tem a família no Brasil, não

enxergam a mudança de país como um grande problema. Nesse caso, além dos

Estados Unidos, Canadá, França e Caribe são almejados pelos imigrantes haitianos

(TÉLÉMAQUE, 2012).

Jeu (haitiano, que chegou ao Brasil em 04 de janeiro de 2010), relatou sobre

o seu projeto de sair do Brasil por volta de Setembro – Outubro de 2016,

pretendendo chegar aos Estados Unidos em Janeiro de 2017. Não informou a rota

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traçada para esse intento, mas de acordo com as informações prestadas, levará em

torno de 3 meses para chegar ao seu destino. Comentou ter contato com outros

haitianos que já estão nos Estados Unidos, e segundo ele estão todos trabalhando.

Ilustrou a atual situação do imigrante haitiano no Brasil com a história real de um dos

componentes do grupo de haitianos adventistas em São Paulo, que teria ficado

desempregado no Brasil durante 1 ano, e por isso além de não conseguir mandar

dinheiro para os familiares no Haiti, recebia auxílio de outros integrantes do grupo,

com aluguel e alimentação. Acrescentou: “aqui tinha emprego para haitianos, mas

agora está ruim”.

Muitos haitianos que vieram para o Brasil estão migrando também em direção

ao Chile. Conforme informação do padre Parise prestada para a Folha de São

Paulo, divulgada no dia 08 de Maio de 2016 por Emílio Sant’ana Avener Prado, a

maioria estaria indo para o Chile e outros poucos para os Estados Unidos54. A

notícia também destaca que, a Polícia Federal teria registrado a saída de 1.372

desses imigrantes do Brasil em 2015 e 3.234 entre os meses de janeiro a abril de

2016. Esses dados nos dão uma amostra de como esse fluxo de saída tem se

intensificado. Enfatizam que o motivo dessa saída seria a crise econômica brasileira

e que para ir ao Chile, precisam sair do Brasil com uma carta convite de um

residente chileno, passagens de ida e volta e o Registro Nacional de Estrangeiro.

Esses haitianos estariam tirando cópia da carta necessária para vários outros

haitianos. “Segundo estimativa do governo chileno, hoje há cerca de 9.000 haitianos

no país. No Brasil, passam de 45 mil”. No Chile, o imigrante precisa ser convidado

pelo empregador para trabalhar e uma vez que fica desempregado, tem até 30 dias

para arrumar outro emprego e assim não se tornar imigrante ilegal no país. Os que

chegam como turistas podem receber do governo um visto de trabalho, caso seja

requerido. No rumo aos Estados Unidos, tem-se a informação de uma haitiana que

teria percorrido a rota até o Peru, de lá ao México, e por meio de um “coiote” aos

Estados Unidos. Podemos considerar a probabilidade de que esta seja uma das

rotas que outros haitianos estejam percorrendo para chegar aos Estados Unidos. Jn

(haitiano), que estava no Brasil desde junho de 2014 e migrou para os Estados

Unidos em 2016, também alega ter saído do Brasil devido à crise econômica.

54 Informações obtidas em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/05/1768958-para-fugir-da-crise-haitianos-trocam-o-brasil-pelo-chile.shtml> . Acesso em: 04/07/2016.

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Quando conversamos, havia chegado aos EUA há um mês, mas ainda estava

desempregado, conforme mostra-nos a figura a seguir.

(Figura 3. Foto do diálogo com haitiano por meio de redes sociais I - Acervo pessoal)

(Figura 4. Foto do diálogo com haitiano por meio de redes sociais II – Acervo pessoal)

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Emile (haitiano), ao falar sobre o assunto afirmou: “haitiano é assim mesmo

[...] não está bom aqui, migra para outro país”. Uma realidade que temos

presenciado, mas que não é tão simples para alguns daqueles que tem família

(cônjuge e filhos) no Brasil. Para estes, a permanência no país, pelo menos nesse

momento, acaba sendo a única alternativa.55

2.3. Redes de Contato e Sociabilidade

O contexto que envolve as redes de contato migratórios dos haitianos tem

uma forte relação com as redes sociais56. Conforme observado em pesquisa de

campo entre o grupo de imigrantes haitianos adventistas, foi possível constatar a

afinidade que muitos deles têm com facebook57 e whatsapp58, sendo estes, meios

usados também, na formação de suas redes de contato migratório. Essa

constatação se deu de duas formas: 1) por meio do diálogo com alguns haitianos do

grupo pesquisado, onde alegavam obter informações migratórias a partir do contato

estabelecido por meio de redes sociais com outros imigrantes haitianos; 2) no

próprio contato com eles através de redes sociais, inclusive com alguns que no

decorrer da pesquisa migraram para os Estados Unidos, conforme demonstrado no

texto anterior. As redes sociais são um dos meios pelos quais o contato entre seus

pares: familiares, amigos, comunidade religiosa, e outros haitianos em diferentes

países são estabelecidos. Ao falar sobre redes sociais na migração, Carleial (2004)

alega que as relações sociais surgem a partir de interesses políticos, econômicos e

religiosos, ou por laços de amizade, parentesco e vizinhança. Tais redes tendem a

“aperfeiçoar o processo migratório, controlando-o, disciplinando-o aos moldes da

economia e da sociedade, de acordo com as instituições sociais e com os valores

culturais dominantes” (p.2). Por meio dessas redes, as relações de interesse entre

55 Conforme discurso de imigrante haitiano em pesquisa de campo no dia 25 de junho de 2016. 56 “Redes Sociais são estruturas sociais virtuais compostas por pessoas e/ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns na internet”. Informações obtidas em:

<http://ogestor.eti.br/o-que-sao-redes-sociais/>. Acesso em: 10/10/2016. 57 Facebook - “uma rede social que é uma das maiores tanto em número de acesso quanto de usuários. Foi fundada em 2004 pelos, até então, estudantes universitários de Harvard: Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin, Andrew McCollum, Dustin Moskovitz e Chris Hughes”. Informações disponíveis em: <http://www.meusdicionarios.com.br/facebook>. Acesso em: 10/10/2016. 58 “Whatsapp é um software para smartphones utilizado para troca de mensagens de texto instantaneamente, além de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão a internet”. Informações obtidas em:

<https://www.significados.com.br/whatsapp/>. Acesso em: 10/10¹2016.

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os imigrantes residentes e aqueles que chegam são estabelecidas, determinando o

tipo de sociabilidade e reciprocidade que rearranjam parcerias, resignificam ações

sociais e reterritorializam os grupos sociais. Essas redes também adaptam ou

redefinem a passagem ou permanência daquele migrante ao lugar destinado.

Pouquíssimas redes são promovidas pelo governo. Algumas são políticas, outras

comerciais ou religiosas, mas em alguns casos, todas essas características se

apresentam em conjunto. De forma geral, a natureza alternativa dessas redes em

complemento a economia formal e a sociedade são típicas da migração.

De acordo com Fazito (2002), não tem como pensar em redes sociais de

migração sem relacionar a interação de seus atores, distribuídos nas respectivas

estruturas sociais as quais pertencem. As pessoas migram através de “instituições”

aparentemente “invisíveis”, formada por redes familiares ou pessoais, composta por

atores e canais físicos ou apenas subjetivos, que influenciam e facilitam uma

migração bem sucedida. Nessas redes, laços e conexões sólidas são estabelecidos,

recursos materiais, informações e pessoas são trocadas, e o fluxo é assim

estimulando e desenvolvido. Nesse caso, as pessoas, bens materiais, informações e

valores que se movimentam de um local para o outro, podem ser pensados como

fluxos conectados por um sistema com padrões, de certa forma, determinados,

porém, representados por uma estrutura de relações que podem ser constantes ou

não, previsíveis ou imprevisíveis. Redes sociais na migração, diz respeito a diversas

dimensões das relações sociais participantes do processo social da migração.

Todo processo migratório envolve relações de interesse. Relações que

determinam o tipo de sociabilidade e reciprocidade que darão significado as ações

sociais, o território dos grupos, as parcerias estabelecidas, a passagem e

permanência ou não do migrante ao lugar de destino e sua adaptação a cada

situação (CARLEIAL, 2004). O fenômeno migratório da atualidade está, portanto,

interligado a uma rede de contatos sociais constituídas de diferentes mecanismos

(RIBEIRO, 2015, p. 30). Esses grupos sociais tendem a ser fechados “impedindo a

entrada daqueles que não são identificados como semelhantes” (p.31). A pesquisa

de campo, permeada por diversos diálogos informais estabelecidos com os haitianos

sobre o assunto, possibilitou a observação de que de fato, suas relações de contato

migratório estabelecidas por meio de redes sociais, são construídas a partir de seus

pares (outros imigrantes haitianos). Todos estes, manifestando interesses comuns

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relacionados à migração, repassam rapidamente informações desse âmbito,

contribuindo para o movimento desse imigrante. Um fato curioso para reflexão nesse

contexto se refere à emigração haitiana do Brasil para o Chile. Ao precisarem da

carta convite de um residente chileno para sair do Brasil, inúmeros haitianos teriam

apresentado a cópia de uma única carta59, conforme já abordado anteriormente.

Essa questão demonstra-nos como são efetivas as trocas de informações entre eles.

Torna-se interessante ressaltar nesse contexto, que durante a pesquisa de

campo, houve a percepção de que o haitiano nem sempre conhece pessoalmente

aquele que lhe passa a informação migratória. Essa reflexão se deu a partir da

observação das trocas de diferentes contatos entre eles. Uma situação prática e real

que pode ser usada como exemplo nesse contexto, foi o contato recebido (pela

pesquisadora) através do whatsapp, de haitianos desconhecidos, durante a

pesquisa. Possivelmente, receberam o número do telefone através de haitianos com

quem houve o contato direto, mas sem prévia notificação. Alegavam querer

conversar para praticar o português e fazer amizade. Quando questionados sobre

como teriam conseguido o número do whatsapp, diziam ter recebido da própria

pesquisadora. No facebook, alguns haitianos desconhecidos também entraram em

contato. Torna-se interessante destacar tal percepção, para ressaltar que existem

trocas de contato entre eles, permitindo que a sociabilidade por meio das redes

sociais envolvam pessoas que não se conhecem pessoalmente. Essa mesma

realidade pode ser concebível no que se referem as suas redes de contato

migratório, uma vez que são realizadas também por meio de redes sociais, porém,

concentradas apenas entre os próprios haitianos. Em alguns grupos públicos do

facebook onde a participação efetiva de alguns imigrantes haitianos foi constatada,

informações migratórias postadas também foram observadas, conforme fotos a

seguir.

59 Informações obtidas em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/05/1768958-para-fugir-da-crise-haitianos-trocam-o-brasil-pelo-chile.shtml> . Acesso em: 04/07/2016.

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(Figura 5. Foto do rupo público de migrantes e refugiados em Manaus I - Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/417659001763080/?fref=ts>. Acesso 20/10/2016.)

(Figura 6. Foto do grupo público de migrantes e refugiados em Manaus II - Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/417659001763080/?fref=ts>. Acesso 20/10/2016.)

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(Figura 7. Foto do grupo público Investi Ayiti I - Disponível em: https://www.facebook.com/groups/731346740321365/?fref=ts>. Acesso em 20/10/2016.)

(Figura 8. Foto do grupo público Investi Ayiti II - Disponível em: https://www.facebook.com/groups/731346740321365/?fref=ts>. Acesso em 20/10/2016.)

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Esses grupos sociais públicos do facebook, elucidam a participação ativa dos

haitianos nas redes sociais, publicações e informações relacionadas a questões

migratórias de seu interesse. Uma outra questão em pauta e que foi perceptível

durante a pesquisa, está no fato de que nem sempre o haitiano mantém fixação

territorial caso os objetivos buscados não sejam alcançados. De acordo com

Télémaque (2012), o processo migratório haitiano é um fenômeno histórico que

envolve uma vida inteira ou temporária em outros países. Suas estratégias de

migração dependem de questões econômicas e facilidades em torno de seus ideais.

Não obstante, diante do emergente fluxo migratório haitiano para o Brasil, seguido

pela saída de muitos desses imigrantes em rumo a outros países, em um

questionamento sobre essa questão, as palavras suscitadas por um haitiano nessa

pesquisa nos levam a reflexão sobre as motivações que levaram a este cenário.

Essas palavras foram: “haitiano é assim mesmo [...] não está bom aqui, migra para

outro país”. A busca por um padrão melhor de vida, através de melhores condições

financeiras, não possível de ser alcançado no Haiti devido falta de emprego, como

alegam muitos deles, é o que dita as regras e determina para onde migrarem ou

não.

2.4. As Perspectivas do Haitiano no Brasil: A Construção de um Imaginário

O haitiano trouxe para o Brasil muitas expectativas, construídas a partir de um

imaginário permeado por diversos fatores que logo seriam desmistificados, e a luz

da realidade frustrados. Carletti (2016, p. 116), ao escrever sobre a voz do imigrante

haitiano, considera que o trabalho foi a motivação para que estes viessem para a

América do Sul. Relata que um haitiano entrevistado teria alegado ter recebido

informações de que no Brasil receberia um salário de mil dólares, e na ocasião

estava ganhando apenas mil reais. Apesar desse imigrante não relatar como havia

adquirido a informação que o levou a alimentar tais expectativas, a reflexão sobre os

pormenores de sua declaração, nos leva a identificar a frustração manifesta em seu

depoimento. Essa frustração se configura por meio das inúmeras dificuldades

enfrentadas, que vão desde os salários menores que o esperado até os entraves

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para inserção profissional. Tais quesitos tem como consequência a desilusão, por

meio da qual se dilui os seus sonhos (p.117). O relato desse haitiano leva-nos a

considerar que, o desejo de um emprego associado ao salário desejado como

promotor de melhores condições de vida alimentam sonhos e nutrem o imaginário

desse imigrante. Um outro fator observado, foi constatado em pesquisa de campo

através do diálogo com outro haitiano. Ao tratar sobre os sonhos relacionados a

vida no Brasil, apontou o fato de Dilma Rousseff, presidente do país na ocasião, ter

oferecido abrigo aos haitianos. A oferta da presidente teria despertado expectativas

de oportunidades no Brasil, motivando muitos a venderem seus bens, na tentativa

de conseguir o valor necessário e migrar para o país. Ele mesmo teria alimentado

expectativas com base nessa alegação, e por isso, ao relatar o fato mostrou-se

indignado com a realidade, que segundo ele estaria distante daquela que esperava

ou acreditava60. Costa (2015, p. 62), discorre sobre esse assunto da seguinte forma:

No início de fevereiro de 2012, a presidente Dilma visitou o Haiti e foi recebida com festa; as faixas nas ruas diziam: “Bem-vinda Dilma, esta é sua casa”. Discursando ao contingente brasileiro da Minustah e diante da comitiva que a acompanhava, ela reiterou que a presença brasileira na Minustah reflete o histórico compromisso de amizade que une os dois países – Brasil e o Haiti. Durante a mesma viagem, Dilma Rousseff afirmou que os haitianos são bem-vindos ao Brasil e que o país está aberto a receber cidadãos haitianos que optem por buscar oportunidades no Brasil [...] Não dá para negar que, no campo dos propósitos e das boas intenções, o governo brasileiro passou aos haitianos e vendeu ao mundo a imagem de um Brasil hospitaleiro e movido por sentimentos humanitários.

Ao chegar ao Brasil, frente às dificuldades encontradas a começar pela

recepção, acolhimento e demora na concessão de Vistos, logo passaram a perceber

que as expectativas até então alimentadas, eram irreais e o futuro aqui imprevisível.

Carletti (2016, p. 111 - 119), no registro de depoimentos haitianos, destaca também

desabafos relacionados a questões de diversos âmbitos, manifestando desilusões

em relação ao Brasil. Nos depoimentos, fatores como desemprego, baixo salário,

burocracia excessiva para receber alguns documentos, alto custo de moradia e 60 Diálogo com um haitiano adventista durante pesquisa de Campo no dia 13 de Junho de 2016.

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outros, são pontuados por esses imigrantes. Alessi (2013, p.85), aborda como

muitos haitianos estavam vivendo no Brasil:

Haitianos e cidadãos oriundos de outras nacionalidades encontram-se jogados em abrigos, casas de apoio, regiões de fronteiras ou até mesmo sendo explorados por brasileiros sem escrúpulos que se aproveitam da vulnerabilidade em que se encontram, que é agravada ainda mais por entraves burocráticos e falta de estrutura.

Em uma resenha das notícias sobre imigrantes haitianos no Brasil, elaborado

pelo Instituto de Migrações e Direitos Humanos (2013), foi possível verificar também

informações sobre uma “rotina de fome, falta de espaço e desilusão”, sofrida por

esses imigrantes no Brasil61. Essa triste realidade fez e faz, com que os sonhos

trazidos por esses imigrantes se percam no decorrer de sua caminhada, produzindo

frustrações e desesperanças quanto à vida no Brasil. Fato, que talvez justifique o

motivo pelo qual, muitos daqueles que vieram para o país, estejam migrando para

outros, em busca desse sonho não realizado.

2.4.1. Seus Desafios: A Realidade Vivida, Cotidiano, Preconceitos, Racismo.

Em uma análise histórico-cultural relacionada à imigração no Brasil, podemos

observar que existiram por muito tempo ideias delimitadas por preconceitos de

cunho racial, que distinguiam imigrantes desejáveis e indesejáveis no país. Nesse

caso, os desejáveis eram brancos, católicos, apolíticos e de baixo nível de

escolaridade. Por outro lado, os indesejáveis eram portadores de deficiência, idosos,

japoneses e negros. Acreditava-se que, o imigrante branco integrado a população

brasileira não branca, transformaria a sociedade trazendo desenvolvimento

61 Informações obtidas também em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/02/haitianos-vivem-rotina-de-fome-falta-de-espaco-e-desilusao-na-amazonia.html>. Acesso em 30/06/2016.

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(FIORAVANTI, 2015, p. 18). O desejo de branqueamento da população, que

favorecia a imigração branca ao Brasil, despontava-se a partir de uma política de

seleção étnica por meio de uma ideia racista, camuflada através da substituição do

termo raça por etnia (SEYFERTH, 2014, p. 41). Seus reflexos, reproduzidos

sutilmente ou não, através de posturas preconceituosas são manifestos até hoje. De

acordo com Nunes (2010), “aquilo que suscita o preconceito nos preconceituosos

não é o que o discriminado efetivamente é”, mas “o que ele representa,

principalmente, no que diz respeito a sua história”. Sendo assim os estereótipos

criados a respeito do negro, por exemplo, estão relacionados a um contexto

histórico. Esses estereótipos são pautados em questões culturais que impedem o

preconceituoso de uma auto-reflexão, agindo de forma automática. Essa tendência é

a que mais se vê na atualidade. A maior parte das pessoas condena o racismo,

contudo, a sua manifestação continua existindo, ainda que na maioria dos casos, de

forma sutil, apropriando-se de uma norma antirracista superficial. No Brasil, o

discurso de negação do racismo foi estabelecido, mas o ideal de branqueamento da

população e o mito de uma democracia racial marcam um contexto histórico

preconceituoso. Nesse cenário, encontramos o imigrante haitiano, que ao chegar ao

Brasil, frente as inúmeras dificuldades que encontra, se depara também com esse

pensamento preconceituoso e racista (FIORAVANTI, 2014). O simples fato de ser

negro no Brasil tem seus agravantes.

Em uma pesquisa realizada por Santos (2013, p.35 - 38), percebe-se que “no

Brasil, os negros correspondem a quase 100 milhões. O Censo do IBGE 2010, que

adota o critério autodeclaratório, estima em 50, 7% a população de pretos e pardos.

Somos o país com maior população negra fora da África”. Mas, boa parte dessa

população negra está exposta a condições precárias de educação, emprego e

moradia, além do fato de terem pouca presença em instâncias governamentais,

ganharem menos que os brancos e serem mais afetados por violência da polícia.

Em se tratando das mulheres negras, a situação é ainda mais agravante, pois

enfrentam uma exclusão socioeconômica e educacional ainda maior que a do

homem negro, “80% não conseguem passar da quarta série e quase 30% são

analfabetas”. Diante desse quadro, mesmo depois da garantia de inúmeros direitos,

e da estipulação do racismo como um crime inafiançável, conforme a Constituição

de 1988, a acessibilidade a cidadania plena continua sendo um sonho para muitos

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negros brasileiros, como afirma Vieira (2014, p. 56). Tendo em vista esse contexto

histórico altamente discriminatório e excludente do cenário que compõe a situação

do negro no país, é possível considerar que a vida do imigrante negro no Brasil seja

extremamente difícil. A questão no racismo no Brasil é muita problemática e requer

análises profundas – para mais, ver (JONES, 1973; & CÂNDIDO, 2002).

Um dos haitianos entrevistados nos contou uma situação que o deixou muito

constrangido. Disse que saía da Universidade no período noturno e a sua frente

duas jovens caminhavam tranquilamente. Mas, ao perceberem a presença do

imigrante, uma delas cochichou no ouvido da outra para que tomasse cuidado com a

bolsa que carregavam. Ao retratar a situação, enfatizou que sabia o motivo pelo qual

aquelas jovens teriam agido daquela forma. O fato de ele ser negro62. Podemos

considerar que aquelas jovens não tivessem o conhecimento de que o rapaz negro

fosse um estrangeiro. Nesse caso, o preconceito racista não teria partido de uma

questão xenofóbica. Por outro lado, a identificação deste, como um imigrante negro,

poderia ter suscitado também aquela atitude. Ao tratar sobre o a questão xenofóbica

e o racismo, Koltai (2008, p. 67) expõe:

[xenofobia] é um termo que vem do grego e que quer dizer “medo do estrangeiro” – a palavra xenos remetendo, em grego, tanto ao estrangeiro como ao hóspede, aquele que se acolhe e honra. A xenofobia, como medo do diferente, é de certo modo universal e tem a ver com a própria estrutura do sujeito [...] mas, para que esta se transforme em racismo ativo, é preciso um discurso que nomeie o estrangeiro a ser odiado. Esse discurso é sempre social, pois o racismo demanda a existência de um discurso que autorize a pulsão agressiva, que nomeie o bode expiatório, tornando-o inapto a qualquer identificação [...] O racismo é muito mais que mera agressividade, ele é ódio do outro [...].

Atos racistas contra haitianos puderam ser observados em atitudes de ódio e

agressão sofrida por estes e expostas pela mídia63 em 2015, quando alguns desses

62 Informações obtidas em pesquisa de campo no dia 11 de junho de 2016. 63 Mídia: “Todo o suporte de difusão de informação (rádio, televisão, imprensa, publicação na Internet, [...] etc.2 Conjunto dos meios de comunicação social”. Disponível em: < https://dicionariodoaurelio.com/midia>. Acesso em 04/11/2016.

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imigrantes, foram atacados e feridos a tiros no bairro do Glicério em São Paulo.64

Por meio de gritos os agressores alegavam que o haitiano estaria roubando o

emprego do brasileiro. Entretanto, outras notícias que expõe atos discriminatórios,

xenofóbicos e racistas, também são expostas pela mídia, como abusos sofridos,65

exploração, xenofobia66 e outros. Em contrapartida, ao mesmo tempo em que a

mídia denuncia atitudes preconceituosas a esse imigrante, acaba incorrendo

também em atitudes semelhantes, que se manifestam através da forma que expõe

suas notícias ou informações sobre estes. A exemplo disso Fioravanti (2014, p 19 -

20), discorre que a mídia demonstra o preconceito ao imigrante haitiano, quando o

trata como uma ameaça ao mercado de trabalho e ao sistema de proteção social.

Em uma análise sobre as notícias relacionadas à imigração haitiana na mídia,

utilizando-se de “uma coleção extensa de notícias veiculadas pela imprensa nos

anos de 2010, 2011, 2012 e 2013”, elaborada pelo Instituto Migrações e Direitos

Humanos (IMDH, 2013), Santos (2014, p. 47 - 52), também enfatiza e aponta como

“as informações e a construção dos saberes podem reforçar práticas xenófobas”, por

meio da forma que estas são apresentadas ou transmitidas para a sociedade. Nesse

contexto destaca algumas delas: “Acre sofre com invasão de imigrantes do Haiti”67;

“O que fazer com os imigrantes do Haiti?”68; “Estrangeiros sobrecarregam postos de

saúde em Tabatinga”69, e muitas outras. Sensacionalistas ou não, a forma que essas

informações são expostas para a sociedade, revelam justamente a ideia de um

imigrante não ideal, não desejável.

Como podemos observar, a realidade do imigrante haitiano no Brasil acaba

sendo um tanto difícil e diferente das perspectivas construídas por este antes de

chegar ao país. Essas dificuldades, bem como aquelas relacionadas à falta de

políticas públicas migratórias brasileiras, refletem diretamente na vida e cotidiano

desses imigrantes. Muitos acabam sendo respaldados por instituições religiosas, e

nesse caso, estabelecem uma relação com elas. Nesse contexto está inserida a

64 Informações obtidas em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/parlatorio/seis-imigrantes-haitianos-sao-baleados-em-sao-paulo-9027.html>. Acesso em: 08/07/2016. 65 Informações obtidas em: <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/haitianos-enfrentam-preconceito-e-abusos-no-brasil>. Acesso em 08/07/2016. 66 Informações obtidas em: <http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/11/refugiados-relatam-casos-de-exploracao-no-trabalho-racismo-e-xenofobia-no-brasil.html>. Acesso em 08/07/2016. 67 Informações obtidas também em: <http://www.defesanet.com.br/ph/noticia/4197/Acre-sofre-com-invasao-de-imigrantes-do-Haiti>. Acesso em: 30/06/2016. 68 Informações obtidas também em:< http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI208935-15223,00-O+QUE+FAZER+COM+OS+IMIGRANTES+DO+HAITI.html>. Acesso em: 30/06/2016. 69 Informações obtidas também em: <http://oglobo.globo.com/brasil/estrangeiros-sobrecarregam-postos-de-saude-em-tabatinga-3582765>. Acesso em: 30/06/2016.

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IASD, que em São Paulo acolheu um grupo de imigrantes haitianos. A relação da

IASD paulista com o haitiano será analisada no próximo capítulo.

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CAPÍTULO 3.

O IMIGRANTE HAITIANO & A IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA EM SÃO

PAULO

3.1. A Relação entre o Imigrante Haitiano e a IASD em São Paulo

Tendo contextualizando o campo e o objeto nos capítulos anteriores, este se

prestará a abordagem da relação estabelecida entre o imigrante haitiano e a IASD

em São Paulo. Uma vez que o imigrante haitiano adventista chega a capital de São

Paulo e procura a IASD paulista, uma relação entre ambos começa a ser

estabelecida. Nessa relação a identidade desse grupo de imigrantes passa a ser

construída e a ação social e missões evangelísticas percebidas. Temas a serem

abordados nesse capítulo.

3.1.1. O Início dessa Relação

Ao retratar o início da relação entre os imigrantes haitianos e a IASD em São

Paulo, é interessante relembrarmos o próprio desenvolvimento da Igreja Adventista

do Sétimo Dia na capital, uma vez que este se deu justamente mediante a relação

da instituição com diversos imigrantes, na ocasião, vislumbrando possibilidades de

conversão (HOSOKAWA & SCHUNEMANN, 2008 apud, SCHUNEMANN, 2002).

Retomamos também, que a inicial concentração da IASD entre imigrantes alemães

na região sul do país, ao chegar ao Brasil, resultou em uma certa demora para que

missionários adventistas chegassem em São Paulo, levando-os a fundar a primeira

IASD no Estado, apenas em 1915. Contudo, uma vez que se estabelecia também na

capital paulista, ao visibilizar além dos nativos, os imigrantes, que naquela ocasião já

constituía boa parte da população da cidade, passaram a desenvolver-se e crescer

na região. Nesse contexto, a fundação do templo da IASD no bairro da Liberdade

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com capacidade para acomodar 550 pessoas, também merece atenção. Isso

porque, esse templo que foi fundado pela missão adventista em 1929, serviu como

um grande suporte para acolhimento dos diversos grupos de imigrantes adventistas

que chegavam a capital e tinham no espaço, um local apropriado para execução de

suas práticas religiosas, como estudos bíblicos e cultos. A comunidade adventista

japonesa, por exemplo, já utilizava suas dependências em 1959 (MENDES, 2015).

Esse templo está localizado próximo à Rua do Glicério, onde se encontra a Casa do

Migrante (da Igreja Católica) e alguns comércios direcionados aos haitianos70. Hoje,

acolhe também o grupo de imigrantes haitianos adventistas. Ressalta-se que o

Glicério, e mais precisamente a Casa do Migrante, teria se tornado uma espécie de

“ponto de encontro entre haitianos”, por isso a facilidade de vê-los naquele local. A

aproximação do templo da IASD central paulistana no bairro da Liberdade com a

casa do Migrante, pode ter facilitado o acesso do imigrante haitiano adventista à

IASD paulista.

A relação do imigrante haitiano adventista com a IASD paulista inicia-se em

2010, ano que marca o início do fluxo migratório de haitianos para o Brasil. Os

primeiros imigrantes haitianos adventistas que procuraram a IASD da capital foram

recebidos na IASD do bairro da Liberdade. Muitos chegaram apresentando

dificuldades financeiras e segundo informações da IASD, foram auxiliados através

do departamento de Ação Solidária Adventista (ASA)71. Posteriormente, passaram a

oferecer também, aulas de língua portuguesa e almoços coletivos em cultos

evangelísticos para haitianos, conforme verificado em pesquisa de campo. Ao

passo que o fluxo migratório haitiano para o Brasil crescia, mais haitianos

adventistas chegavam a São Paulo e consequentemente o grupo de haitianos

localizado na IASD paulistana, aumentava. Os haitianos adventistas auxiliados pela

IASD local passaram a frequentar os cultos da igreja, mas a princípio realizavam a

Escola Sabatina separadamente, utilizando-se da língua francesa. Com o inevitável

crescimento do grupo, a igreja disponibilizou a eles um espaço para que pudessem

cultuar em sua própria língua. Continuaram realizando a Escola Sabatina em

Francês, porém, os cultos em crioulo (língua haitiana)72.

70 Informações obtidas em:<https://mnm152ag4.wordpress.com/2015/05/05/bairro-negro/>. Acesso em 18/07/2016. 71 Informações obtidas em:< http://novotempo.com/revista/?s=haitianos>. Acesso em: 20/07/2016. 72 Posteriormente, falaremos mais sobre a língua haitiana.

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Apesar de ser muito comum os haitianos não se integrarem as suas igrejas

correspondentes no Brasil, e priorizarem os seus próprios grupos para realização de

suas celebrações religiosas (COSTA, 2016, p. 62), como já discorrido anteriormente,

o fato de se reunirem separadamente da IASD em São Paulo para realização de

seus cultos, constitui-se uma estratégia comum da própria instituição na formação

de comunidades étnicas adventistas (MENDES, 2015). Entretanto, um fator

interessante, constatado por meio de pesquisa de campo, merece destaque.

Percebemos um distanciamento relacional muito evidente entre os haitianos

adventistas e a IASD Paulista. Durante mais de um ano de pesquisa de campo,

foram pouquíssimas as vezes em que a interação entre estes grupos foi constatada.

Uma vez que ambos se reuniam em ambientes separados e quase nunca se

relacionavam nos finais dos cultos, essa interação ocorria apenas em algumas

ocasiões isoladas, como Santa Ceia e pequenas participações musicais, por parte

do grupo musical haitiano de vozes masculinas, no culto brasileiro. Depois da

separação do grupo, um ou outro haitiano continuou cultuando por algumas vezes

com a IASD Paulista, mas, sob alegação de familiarizar-se melhor com a língua

portuguesa. No demais, essa relação só ocorria em nível institucional, por meio de

algumas ajudas sociais e estratégias missionárias, conforme será tratado no

decorrer desse capítulo. Em decorrência do isolamento desse grupo de haitianos,

mais uma comunidade étnica adventista surgiu. A comunidade étnica haitiana

adventista.

3.2. A Formação da Comunidade Étnica Haitiana Adventista em São Paulo

Todo migrante leva consigo seus costumes, identidade, ideias, cultura,

religião. Nesse processo, a religião assume um papel importante, uma vez que tem

a “capacidade de oferecer ferramentas para dar sentido aos desafios existenciais”

do migrante. No entanto, nesse contexto, existe a possibilidade de pensar na

religião, também, como um meio de integração desse migrante a nova sociedade em

que está inserindo-se (SILVA, 2015, p. 90 -91 e 99). No que se refere a imigração

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haitiana para o Brasil, retomamos a argumentação de Parise (2016, p.51)73 ao

observar que do ponto de vista religioso essa imigração é “cristã, com prevalência

de igrejas evangélicas”. Entre esses imigrantes haitianos evangélicos que chegaram

ao país, estão os adventistas, que frente a necessidade de dar continuidade a suas

práticas religiosas, ao deparar-se com experiências e vivências diferentes das suas,

em uma cultura/sociedade diferente, ainda que na mesma instituição religiosa a qual

pertencesse em seu país, tendo a oportunidade de expressar essa religiosidade em

seu próprio grupo étnico, buscou formas de fazê-lo, separando-se dos demais.

Costa (2016, p. 62) defende que esses “imigrantes não se integram com suas

igrejas correspondentes no Brasil. Eles criaram a Igreja Metodista Haitiana,

Adventista Haitiana, Batista Haitiana, Assembleia de Deus Haitiana”. Em São Paulo,

os haitianos adventistas também deram continuidade as suas práticas religiosas em

seu próprio grupo étnico. Essa questão pode levar-nos a reflexão de inúmeras

possibilidades para esse isolamento, não se restringindo apenas a uma simples

opção do imigrante, ou um padrão estabelecido pela IASD em São Paulo, conforme

discorrido no primeiro capítulo dessa dissertação. Essa reflexão pode direcionar-se

inclusive, a possibilidade de questões preconceituosas implícitas nesse contexto,

mas, que requereriam análises mais profundas, tendo em vista a abrangência em

torno desse assunto. Nesse caso, coube-nos apenas ressaltar, que o distanciamento

do membro da IASD paulista em relação ao haitiano adventista, é explícito. O

discurso da IASD profere acolhimento, mas na prática dos membros, conforme

observado em pesquisa de campo, reforça-se um afastamento. Com base no quadro

apresentado, é possível considerar que a interação religiosa do haitiano com a

instituição em pauta, quesito importante no processo de inserção do próprio

imigrante a sociedade paulista, como discorre Silva (2015), acabou não acontecendo

plenamente, uma vez que o grupo isolou-se em sua própria comunidade étnica.

De acordo com Silva & Silva (2006), o conceito de etnia teria surgido no início

do século XIX no intuito de designar características culturais de um grupo. Esse

termo, porém pode se diferenciar de grupo étnico, uma vez que no grupo étnico

existe interação entre todos os membros e na etnia, devido ao número

extremamente abrangente de pessoas que a compõe, essa interação é inexistente.

Tenchega (2010) defende de acordo com Weber (1999), que a ideia de grupos

73 Conforme discorrido no segundo capítulo dessa dissertação.

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étnicos ultrapassa as questões relacionadas apenas a cultura ou raça e nesse caso,

baseados na manutenção da diferença, estabelecem um sentimento de pertença

que os identificam como distinto dos demais. É interessante destacar, que todo

grupo étnico dá suporte para a preservação de sua cultura, justamente por meio do

reforço da diferença e da valorização do que lhe é próprio (LIMA, ÀVILA & SILVA,

2016, p.57). Como já dito anteriormente, inicialmente (desde 2010) os haitianos

adventistas em São Paulo cultuavam juntamente com a IASD paulista, mas em

junho de 2014, quando o grupo já alcançava em torno de 50 integrantes, a IASD

resolveu ceder um espaço para que o haitiano adventista pudesse exercer suas

práticas religiosas em seu próprio grupo étnico. As explicações para esse isolamento

são pautadas em questões culturais com ênfase na língua falada. A foto a seguir

ilustra um dos cultos realizados pelo grupo étnico haitiano adventista em São Paulo.

(Figura 9. Foto de culto realizado pela comunidade étnica haitiana adventista SP - Acervo pessoal)

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O grupo se desenvolveu e cresceu até meados de 2015, chegando a ter em

torno de 90 haitianos frequentes. Uma vez que o grupo passou a reunir-se

separadamente, sua identidade passou a ser construída. Assunto a ser abordado no

próximo texto.

3.3. A Construção da Identidade da Comunidade Étnica Haitiana Adventista

Falar sobre a identidade do grupo de haitianos adventistas em São Paulo não

é tarefa fácil, uma vez que aquilo que sabemos desse imigrante ainda é superficial,

demandando estudos mais profundos sobre eles por meio de múltiplas facetas que

envolvem diversas áreas do conhecimento, segundo Costa (2015, p. 59). Entretanto,

baseados no conceito de que em um contexto cultural diferente de um grupo étnico,

sempre haverá a reivindicação de uma identidade própria, que poderá pautar-se na

religião ou em costumes distintos daquela sociedade em que está inserido, conforme

Silva & Silva (2006), tentaremos compreender a construção da identidade do grupo

pesquisado.

Quando falamos de identidade nos reportamos a marcação de diferenças.

Nesse caso, identidade e diferença estão em uma relação de estreita dependência

que implicam em operações de inclusão e exclusão. Quando dizemos “o que somos”

estamos automaticamente dizendo “o que não somos”. A afirmação da identidade

delimita fronteiras e distingue quem fica dentro ou fora, incluído ou excluído, em uma

distinta separação entre “nós” e “eles” (SILVA, 2013, p. 74 e 82). Existem diferentes

formas de apropriação das noções de identidade, de acordo com Seyferth (2005, p.

21), e em uma aproximação imediata com a temática, a identidade pode ser

entendida simplesmente como “aquilo que se é”. No entanto, nessa perspectiva “a

identidade só tem como referência a si própria” (SILVA, 2013, p. 74). Por isso, na

análise identitária do grupo de imigrantes haitianos adventistas em São Paulo, o

termo “identidade” será compreendido como “o sentimento de pertencer a uma

tradição religiosa, a uma nacionalidade, a um grupo étnico ou linguístico, etc.”, como

define Rodrigues (2008, p. 25).

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Em relação a identidade no quesito étnico, Woodward (2013) considera que

esta pode ser fixa ou alternativa, mas sempre será relacional, simbólica e social,

marcada pela diferença e moldada pela cultura, que dá o sentido à experiência.

Cultura por sua vez, pode ser entendida como um “conjunto integrado de formas de

comportamentos dos membros de um grupo humano”. Esses comportamentos são

aprendidos por meio da vivência ou comunicação oral, sujeitos a normas e valores

preestabelecidos pelo próprio grupo, e se expressam nas relações entre si, com a

natureza, a família e o sobrenatural (mitos, ritos, religião), como pontua Grondin

(1985, p.9).

Tendo em vista que toda migração é produtora de identidades plurais, por

meio de um processo caracterizado por grandes desigualdades, essas identidades

acabam sendo “moldadas e localizadas em diferentes lugares e por diferentes

lugares”, como defende Woodward (2013, p. 22). O que nos leva a considerar a

identidade do grupo pesquisado como moldada e localizada, dentro de um contexto

que envolve esse imigrante, a IASD e a cidade de São Paulo. Vasconcelos (2010,

p. 40) discorre que a identidade haitiana é indissasocialvel de algumas de suas

experiências. Entre as expreriências pontuadas, cita suas heranças culturais e a

religião. Quando analisamos a identidade do imigrante haitiano adventista no Brasil

– São Paulo, percebemos por meio da pesquisa de campo, que de fato, sua

identidade é marcada pelo reforço dessas características. Entretanto, cabe-nos

ressaltar que a construção dessa identidade é inevitavelmente permeada e

influenciada, de certa forma, pelo ambiente metropolitano paulista. Nesse contexto,

ao mesmo tempo em que esse imigrante busca afirmação nacional, étnica e

religiosa (adventista), reforçando esses quesitos através do seu grupo, têm sua

identidade moldada a partir das influências que sofre de uma outra realidade, que

inevitavelmente interfere na sua cosmovisão daquilo que está a sua volta e

consequentemente na sua própria identidade.

Dantas (2010) ressalta que o imigrante traz consigo seus preceitos, cultura e

identidade, mas no encontro com a cultura do outro, passa a experimentar um

conflito interno continuo, que coloca em xeque o seu modo de ser, ver e relacionar-

se com o mundo. Essa situação traz questionamentos, sobre quem se é colocando o

migrante em uma crise e em um penoso processo de negociação da própria

identidade. Diante disso, a aproximação com o seu “semelhante”, pode despertar o

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sentimento de pertença, confirmação, e reforço de suas características culturais,

funcionando como um amenizador desses conflitos. Por isso, a grande necessidade

de estar com o seu grupo. É possível considerar também, que o outro grupo

religioso (IASD paulista), ainda que abarcado pela mesma instituição religiosa do

imigrante, ao trazer protagonistas com características culturais diferentes da sua,

pode não garantir esse mesmo sentimento de pertença, fortalecendo ainda mais a

necessidade de manutenção do grupo étnico. Conforme observado em pesquisa de

campo, percebemos que as características culturais haitianas relacionadas à língua,

o vodu e a mulher, são quesitos reforçados no grupo de haitianos adventistas em

São Paulo, bem como questões de cunho religioso relacionado à sua fé (adventista).

No entanto, as influências de sua inserção na capital paulista, bem como discursos

por parte de alguns desses haitianos, também serão analisados para uma

abordagem mais precisa do contexto que se refere à construção da identidade do

grupo.

3.3.1. A Importância Cultural Haitiana do uso da Língua na Composição da

Identidade do Grupo Étnico Haitiano Adventista em São Paulo

Algumas questões culturais reforçadas na identidade do grupo étnico de

haitianos adventistas em São Paulo, compõe um cenário que se explica mediante os

fatos que permeiam a história desse imigrante. No que diz respeito à relevância

cultural haitiana em relação à língua falada (francês e crioulo), em pesquisa de

campo, foi possível observar a tentativa de apresentar-se como um grupo que

domina o francês. Houve esforço para realização da Escola Sabatina em Francês,

por exemplo, apesar de não terem conseguido manter esse critério com a

diminuição do grupo no ano de 2016.74 Essa tentativa, pode ser compreendida como

uma forma de transmitir a imagem de um grupo com um “status elevado”, uma vez

que na cultura haitiana o uso da língua tem um papel preponderante na distinção

74 Conforme foto em anexos - boletins informativos da IASD da Liberdade referentes aos dias 26/09/2015 e 21/05/2016 - com informações relacionadas a Escola Sabatina realizada pelos haitianos.

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entre classes sociais. Para entendermos essa distinção a partir da língua, faz-se

necessário compreendermos o contexto histórico cultural que envolve esse quesito.

O crioulo haitiano foi uma língua criada pelos negros escravos no Haiti, que

oriundos de inúmeros grupos linguísticos diferentes e misturados entre si, tiveram

que desenvolver um meio para comunicar-se entre eles mesmos e com os seus

donos. Para criar o crioulo utilizaram como base o francês, língua da colônia. O

francês por sua vez, foi considerado a língua da pequena elite, em contraste ao

crioulo, usado pela enorme massa popular (GRONDIN, 1985, p.73). Rodrigues

(2008, p.67) reforça, que há resistência por parte da elite haitiana em empregar fora

do meio familiar, o crioulo falado pela população analfabeta, afirma também, que a

língua falada é um fator de diferenciação no país. O francês é considerado a língua

alta, utilizada pelas escolas, igrejas, universidades, discursos políticos etc. e o

crioulo, a língua baixa, utilizada na vida quotidiana da população. A maior parte da

população que não tem acesso à educação escolar, ou então frequentam escolas

com professores sem o domínio do francês, não falam o francês (p.83). Emile

(haitiano), em um diálogo informal, confirmou que não são todos os haitianos que

falam o francês. No grupo de haitianos adventistas em São Paulo, o francês está

presente nas revistas de estudos bíblicos ministrados na escola sabatina, nos

hinários, em algumas bíblias que utilizam, e em alguns discursos. Observamos,

porém que apesar da tentativa de uso da língua francesa em diversos momentos, o

crioulo predomina tanto nos cultos, quanto nos diálogos entre eles após os cultos.

De qualquer forma, o uso da língua francesa pelo grupo é um marcador de diferença

e caracteriza a imagem que este deseja transmitir de si mesmo, constituindo assim

parte de sua identidade. A segunda característica observada e reforçada na

identidade do grupo diz respeito ao vodu.

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3.3.2. A importância cultural do vodu haitiano na composição da identidade do

grupo étnico haitiano adventista em São Paulo

Com relação ao vodu, a identidade assumida pelo grupo étnico de haitianos

adventista em São Paulo caracteriza-se por um discurso enfático de afastamento as

suas práticas. O que não seria diferente, tendo em vista as questões históricas de

combate a este, inclusive pelo cristianismo no país. Grondin (1985) ressalta que o

vodu75 é um meio de conservação dos valores africanos do haitiano, manifestando-

se através de rituais, músicas, tambores e nomes de divindades oriundas da África.

Aspectos culturais que acabaram escapando às integrações impostas pelo

colonialismo. A origem do vodu vem do sul de Benin e era uma prática religiosa

ritualística ao deus Mahou, sob o qual se encontram outras divindades inferiores

(JOSEPH, 2014, p. 76). O vodu foi a religião franca entre os escravos africanos de

diferentes línguas e tribos, que ao invés de deixarem completamente os elementos

de suas religiões, integraram a ela outras crenças, rituais, músicas e danças de

diferentes tribos, formando uma religião sincrética, que se tornou um símbolo da

unidade e diversidade desse povo (Grondin, 1985).

Para entendimento mais especifico do que seria o vodu haitiano, iniciamos

dizendo que este é uma religião que cultua os espíritos chamados loas. Cada um

dos loas se encaixam em uma classificação, que é complexa devido a diversidade

de divindades locais e regionais existentes. Cada um desses loas tem uma moradia

específica, que pode ser em rios, mares, montanhas e árvores, têm um rito

particular e uma cor que os distinguem. Segundo as crenças em torno deles, ouvem

as orações que a eles são direcionadas pelos fiéis pedindo sua presença e vêm ao

encontro deles para ajudá-los. São protetores dos seus fiéis e os ajudam conforme

são servidos. A comunicação entre os loas e seus seguidores acontece por meio de

transes, formas humanas ou sonhos. Mas, a comunicação mais importante se dá

através dos transes por meio de encarnação ou possessão. Essa possessão é

desejada por todos os seus servidores, que a consideram como uma espécie de

proteção (GRONDIN, 1985). No entanto, além da questão religiosa, o vodu também

75 Apesar do Vodu haitiano ser de extrema relevância, debate de inúmeros congressos dos quais participei, e ter recebido o seu espaço nessa pesquisa, não coube-nos profundidade no assunto, tendo em vista que este não é foco principal dessa pesquisa.

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exerce um papel extremamente relevante na sociedade haitiana, suprindo diversas

expectativas da população. Nesse caso, através do sacerdote, que exerce papel de

confessor, médico, juiz, conselheiro individual, coletivo, político e financeiro

(JOSEPH, 2014). Mal compreendido, foi por muito tempo combatido, mas hoje pode

ser visto principalmente por meio do sincretismo com ritos católicos. Um exemplo

disso é que na “religiosidade popular que se manifesta no povo haitiano, há uma

especificidade marcante: a devoção à Maria e as festas dos padroeiros de santos

assimilados a alguns espíritos da religião vodu” (p. 75). Por outro lado, o

protestantismo no Haiti: batistas, adventistas, metodistas, pentecostais, e outros,

exigem para a conversão dos adeptos, uma rejeição total e explícita as suas

práticas. Por isso, no país, basta dizer-se “protestante para provar que se vive

totalmente afastado do vodu” (RODRIGUES, 2008, p.161).

Torna-se importante ressaltar, porém de acordo com Grondin (1985), que em

decorrência desse combate ao vodu, o seu enfraquecimento como religião nos

últimos anos foi inevitável, por outro lado, houve o seu crescimento como moral76

permeado por superstições. Tendo em vista essa questão, ressaltamos a

abordagem de Parise (2016, p. 51), ao reforçar que a prática e a sensibilidade ao

vodu estão implicitamente presente entre os haitianos. Mas, é difícil ser percebida ou

medida, uma vez que, diante do preconceito histórico sobre o assunto, não

costumam abordá-lo. Ainda assim, indiretamente, “é possível perceber os sinais

desta religiosidade de maneira especial quando alguns imigrantes experimentam

problemas de saúde”.

No contexto identitário do grupo étnico de haitianos adventistas, observamos

durante a pesquisa de campo, que todo assunto relacionado ao vodu, provoca uma

inquietação permeada por preconceito e repúdio. O vodu é entendido entre eles

como demoníaco77, contrário às disposições religiosas impostas pelo protestantismo

no Haiti. Essa repulsa explicita, característica de todo o contexto histórico abordado

anteriormente, é um marco da identidade do grupo. A terceira característica cultural

que marca sua identidade, diz respeito ao papel da mulher.

76 Entende-se como moral, preceitos que orientam as ações de indivíduos no cotidiano. Dicionário Online de Português. Disponível em <https://www.dicio.com.br/moral/>. Acesso em 09/09/2016. 77 Em diálogo com diversos haitianos adventistas sobre o vodu, observou-se que sua prática é entendida como demoníaca.

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3.3.3. A Importância Cultural do Papel da Mulher Haitiana na Composição da

Identidade do Grupo Étnico Haitiano Adventista em São Paulo

A questão que envolve a mulher haitiana na construção da identidade do

grupo étnico de haitianos adventistas também chama atenção. A mulher assume um

papel participativo no grupo, mas um aparente contrassenso permeia essa situação.

Observamos que dois contextos promovem a ação participativa da mulher no grupo:

1) o contexto cultural haitiano relacionado ao papel da mulher na sociedade; e 2) o

próprio contexto institucional da IASD. Em se tratando primeiramente do papel da

mulher no contexto institucional da IASD, devemos levar em consideração, o fato de

Ellen G. White, figura feminina adventista tão expressiva na instituição, ser um

precedente para atuação na mulher dentro do movimento. Nesse caso, de forma

geral, a mulher adventista pode exercer diferentes funções como: diaconisa,

musicista, professora de Escola Sabatina etc.78. No grupo étnico, observamos que a

mulher haitiana adventista participa nos cultos arrecadando as ofertas e ministrando

orações. Mas, o fator relacionado a cultura haitiana em relação ao papel participativo

da mulher na sociedade, é interessante e deve ser levado em consideração nesse

contexto.

Na cultura haitiana, a mulher tem uma importância que vai além do lar ou da

família e se manifesta na vida econômica, social e religiosa, inclusive, exercendo o

papel de sacerdotisa no culto vodu (GRONDIN, 1985, p.64 – 66). Por outro lado,

Rosa (2007), aponta que a desigualdade de gênero é bem significativa no país. Sem

nenhum acesso a escolarização, muitas vivem em um ciclo vicioso de pobreza e

exclusão. Embora, homens haitianos também sejam alcançados pelo mesmo grau

de desamparo social, conseguem migrar para outros países com mais facilidade que

as mulheres. Uma das causas da dificuldade feminina em relação à migração se

pauta na fragilidade das redes de solidariedade e incentivo, diferenciando-se dos

homens, que nesse quesito recebem melhor respaldo. Apenas uma minoria

consegue migrar, e desse pequeno número, a maior parte se desloca para a

República Dominicana, devido a proximidade geográfica com o Haiti.

78 Informações obtidas por meio de pesquisa de campo.

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Fora de seu país, a vida dessa mulher é muito mais difícil que a dos homens

haitianos. A começar pelas dificuldades linguísticas, uma vez que a maioria só fala o

crioulo, tornando-se um problema para sua integração em uma sociedade diferente.

Agrava-se a estas questões o fato de ter sua liberdade sexual vigiada por seus

compatriotas, que a enxergam como guardiã absoluta da nação haitiana. Durante os

dois anos de pesquisa e acompanhamento do grupo, só tivemos oportunidade de

estabelecer relacionamento com uma delas. Ainda assim, devido a dificuldade que

esta tinha com a língua portuguesa, quase não conseguimos nos comunicar. Todas

as outras nos evitavam. Essa suposta valorização X aparente desvalorização da

mulher na cultura haitiana nos chama atenção no quesito da identidade do grupo

pesquisado. Percebemos que ao mesmo tempo em que há um reforço de sua

participação ativa no grupo, a delimitação de seu espaço fica clara, quando este se

restringe apenas a algumas pequenas tarefas. A pesquisa de campo possibilitou a

observação de que havia pouquíssima participação ativa das mulheres nos cultos.

Não havia sequer, comentários por parte de algumas delas durante a Escola

Sabatina, onde em geral, os homens comentavam bastante. O que chamou nossa

atenção para uma análise mais criteriosa desse quesito. O papel da mulher nesse

grupo étnico, também marca sua identidade. Mas, assim como a posição adventista

em relação a participação ativa da mulher pode estar relacionado a postura do

grupo, outras questões adventistas também influenciam sua identidade.

3.3.4. Questões de Âmbito Religioso (Adventista) Importantes na Composição

da Identidade do Grupo Étnico Haitiano Adventista em São Paulo

Outros quesitos importantes a serem pontuados no que se refere a

construção da identidade do grupo de imigrantes haitianos adventistas em São

Paulo, se refere a questões de cunho religioso relacionados a sua fé (adventista).

Em destaque: a ênfase ao sábado como dia de descanso, conforme discutido no

primeiro capítulo; questões alimentares, uma vez que seguem as orientações

referentes a uma alimentação saudável dentro dos padrões apresentados pela

IASD, chegamos a receber do grupo, livros abordando esses critérios; a forma de

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vestir-se; e a forma de conduzir a liturgia de seus cultos seguindo um padrão, que

segundo observações em pesquisa de campo, é parecido com aqueles

estabelecidos pela IASD paulista também. Em seus cultos não usam instrumentos

musicais africanos, danças ou palmas. Ao questionar quais os instrumentos usados

no culto adventista no Haiti, Emile (haitiano) informou que usavam, por exemplo:

violão, violino, piano, teclado e instrumentos de sopro. Disse que não usavam

instrumentos musicais de percussão79 como tambores, por exemplo, devido a

semelhança com os batuques ritualísticos do vodu.

Torna-se importante ressaltar que, de acordo com Grondin (1985), o

protestantismo difundido por estrangeiros no Haiti, disseminou dogmas de uma

postura ocidental que desvalorizou costumes e estruturas tradicionais haitianas,

levando a população a uma certa identificação com o branco, o urbano, o

estrangeiro e a elite. Conforme declara Audebert (2012), citado por Dornelas (2014,

p.131), o protestantismo no Haiti, adentrou ao país por meio da ocupação norte-

americana em 1915, conquistando entre os haitianos uma afeição única, que nunca

se desvinculou aos Estados Unidos. Nesse caso, quando citamos o protestantismo

no Haiti, nos referimos também ao adventismo, conforme Rodrigues (2008, p.161).

Esse cenário nos remete novamente ao depoimento expresso por Emile (haitiano),

quando alega os motivos pelos quais não usam instrumentos de percussão nos

cultos haitianos adventistas. Tal alegação deixa clara, uma postura de rejeição a um

quesito cultural haitiano que pode se manifestar por meio da música. Qualquer

semelhança com a cultura haitiana ou africana parece ser rejeitada. A liturgia de

culto do grupo também revela essa postura.

Apesar do grupo em geral, ser muito alegre, falar e cantar alto, gesticular

bastante, e envolver momentos de confraternização e muitos cânticos em seus

cultos, estes se desenvolvem com certa formalidade, o que implica em liturgia pré-

estabelecida, com começo, meio e fim, e inibição de formas mais espontâneas de

suas expressões religiosas, assumindo uma postura um tanto comedida em todo o

seus rituais. Esse culto compõe-se de: uma chamada a adoração, leitura bíblica,

cânticos, oração, ministração da palavra, hino e oração final. A primeira oração do

culto inicia-se e termina com um corinho, cantado de joelhos. Os cânticos do hinário

são entoados em francês, mas, um grupo de vozes masculinas, apresenta outros 79 “Instrumentos de percussão são aqueles que necessitam ser percutidos (batidos), agitados, raspados ou friccionados para que produzam os sons”. Informações obtidas em: <http://musicabrasilis.org.br/instrumentos/familia/instrumentos-de-percussao>. Acesso em: 26/10/2016.

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hinos em diferentes línguas também, como: crioulo, português e inglês, além do

francês. Os homens estão sempre vestidos de social, e as mulheres não usam joias

ou maquiagem, e em sua maioria, estão sempre com vestidos bem comportados.

Haitiano adventista não usa sequer aliança de compromisso, suas justificativas para

isso se pautam na compreensão bíblica que têm sobre o assunto, e que se

diferencia dos adventistas brasileiros.

Todos os sábados pela manhã realizam a Escola Sabatina. A Escola Sabatina

“é um setor da IASD” “que funciona como o principal sistema de educação e

capacitação religiosa da igreja adventista mundial.”. Atende aos membros

adventistas semanalmente, tratando de ensinamentos bíblicos e princípios da igreja

(Rosa, 2009, p. 62). Na Escola Sabatina o grupo de haitianos utiliza uma revista

trimestral de estudos bíblicos e a aula é ministrada por um componente do grupo,

que conta com a participação da plateia para as respectivas questões e comentários

sobre a lição atribuída. Essa lição é trimestral, com um tema central e subtemas que

são estudados a cada sábado, sendo que no último sábado de cada trimestre, fazem

uma revisão de conteúdo. A foto a seguir ilustra a Escola Sabatina realizada entre

eles.

(Figura 10. Foto da Escola Sabatina l/grupo étnico de haitianos adventistas SP. Foto tirada em

pesquisa de campo no ano de 2015.)

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Eles não têm um pastor haitiano, e, portanto, o responsável pelo grupo é o

mesmo pastor da instituição brasileira local80, por outro lado, um haitiano com o

oficio de ancião, exerce o papel de líder entre eles. Na IASD, aqueles que recebem

o ofício de ancião tornam-se responsáveis por boa parte da administração da igreja,

mas sob as orientações gerais do pastor. Na sua ausência ou solicitação, lideram e

partilham também a responsabilidade dos cultos e ministram a Santa Ceia. Pregam

regularmente e buscam outros pregadores, convocam e presidem a comissão da

igreja em reuniões administrativas e organizam visitas aos membros da igreja, em

especial aqueles que não estão frequentando regularmente. Além disso, fazem a

supervisão geral das finanças e exercem responsabilidade para com os

departamentos da igreja81. Esses critérios estabelecidos abrangem o papel exercido

pelo haitiano com oficio de ancião, dentro do grupo.

Foi possível verificar que alguns haitianos também exercem o ofício de

diácono. Com relação ao diaconato, a instituição explica que a palavra “diácono”

deriva da palavra grega diakonos, que significa assistente, ministro, servo. A

designação para o diaconato se dá por meio de eleição e tem um tempo

determinado. Eles devem ser ordenados por um pastor com credencial vigente da

instituição e essa ordenação deve ser realizada na presença da igreja, mediante a

exposição do oficio bíblico referente ao diaconato e das qualidades necessárias para

o pretendente exercer esse serviço, concluída por uma oração com imposição de

mãos. Se transferido de igreja, o diácono pode continuar exercendo o seu ofício sem

necessidade de nova ordenação, mas se expirar o tempo determinado para esse

serviço, deve ser reeleito pela igreja. Aos diáconos compete: ajudar nas reuniões e

cultos dando boas vindas aos visitantes e direcionando-os aos acentos; visitar os

membros; realizar os preparativos para as cerimônias batismais; auxiliar na

cerimônia de lava-pés prevendo os objetos necessários para tais realizações; cuidar

dos doentes, mantendo a igreja informada sobre suas necessidades; e cuidar da

conservação da propriedade da igreja.82 Nesse caso, as atribuições dos haitianos

com ofício de diácono se restringem ao seu próprio grupo. Todas essas

80 O colégio Adventista onde os haitianos se reúnem fica ao lado de uma IASD, nesse caso, o pastor da igreja é responsável pelo grupo. 81 downloads.adventistas.org/pt/associacao-ministerial/.../ppt-2-guia-para-anciaos

82 Informações obtidas no site da IASD, disponível em: <http://iasdjardimeldorado.org.br/pagina.php?id=12>. Acesso 10/10/2016.

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características demonstra-nos parte da identidade construída e apresentada pela

comunidade haitiana adventista. Entretanto, alguns discursos por parte de

componentes do grupo nos chamam a atenção nesse contexto, e por isso também

serão abordadas.

3.3.5. Discursos que Caracterizam parte da Identidade do Grupo Étnico

Haitiano Adventista em São Paulo

Durante a pesquisa de campo, diversos momentos de dialogo informal com os

haitianos adventistas do grupo pesquisado foram possíveis. Em uma análise dos

discursos proferidos por parte de alguns deles, mas que tinham a pretensão de

representar a fala do próprio grupo chamou a atenção durante a pesquisa e serão

analisados dentro do contexto que se refere a identidade do imigrante haitiano

adventista em São Paulo. Entre esses discursos, dois deles foram selecionados e

serão mais bem analisados nesse contexto.

Vasconcelos (2010, p. 40) ao tratar sobre a identidade haitiana, discorre que

uma das principais virtudes desse povo, se traduz no fato de carregarem a vontade

e a distinção de um homem livre e soberano, não submisso frente ao outro. O que

de fato foi observado na identidade do grupo pesquisado por meio de alguns de

seus discursos. Em um deles, comentado em partes, no segundo capitulo dessa

dissertação, onde disctuia-se a saída de muitos imigrantes haitianos do Brasil

mediante crise econômica no país, vefiricamos uma posição que tenta traduzir um

pensamento do grupo. A fala do haitiano é a seguinte: “haitiano é assim mesmo [...]

não está bom aqui, migra para outro país”. Primeiramente, pontuamos que, esse

discurso inevitavelmente remete-nos a própria história do haitiano, marcada por

fortes questões que envolvem os processos migratório no Haiti.

A migração haitiana é um fenômeno histórico que ocorreu pela primeira vez

em decorrência da necessidade de mão de obra, ainda no final do século XIX, rumo

a Cuba (TÉLÉMAQUE, 2012, p.21). Posteriormente outros processos migratórios

para Bahamas, Miami, Martinica, Guadalupe e Guiana, foram realizados com a

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mesma intenção. Uma vez que esses processos migratórios se intensificavam, a

elite haitiana também passou a migrar, entretanto, com destinos diferentes,

direcionados principalmente ao Canadá, França e Estados Unidos (p. 23). Com o

passar dos anos os haitianos já imigravam para diversas partes do mundo: América,

Europa, África, Ásia e Oriente Médio (p.25). Esse contexto histórico migratório

haitiano tão recorrente para tantas partes do mundo pode ser um dos fatores

geradores do discurso desse haitiano. Mas, uma outra realidade, ainda que

implícita, pode ser também, originadora desse discurso. Nesse caso, uma outra

questão muito mais profunda pode tornar-se perceptível, apresentando-se

justamente dentro do quesito discorrido por Vasconcelos (2010) em relação a

identidade haitiana. O fato, de carregarem a vontade e a distinção de um homem

livre e soberano, não submisso frente ao outro. O discurso do haitiano pesquisado,

nos remete a compreensão de uma identidade marcada por um certo

“empoderamento” que envolve o ser “livre” para transitar por onde quiser (qualquer

país), quando quiser. Essa qualidade pode nos levar ainda, a reflexão de um

suposto protesto, a um regime escravista historicamente sofrido por este povo,

inconsciente talvez, mas que se expressa por meio de seu discurso.

Ainda nessa mesma linha de raciocínio, analisamos outro discurso proferido

por outro haitiano, mas que pretendia também, retratar uma posição do próprio

grupo em relação a um outro assunto. O diálogo referia-se as ações sociais de

assistência aos haitianos realizadas no Brasil, quando um deles foi direto e enfático:

“haitiano não gosta de ser ajudado! Haitiano vem para trabalhar!”. Esse discurso, ao

mesmo tempo em que surpreende, mostrando uma certa indignação por parte desse

haitiano frente ao assunto, perceptível no momento do diálogo, transmite-nos uma

ideia de que para o haitiano, o brasileiro tem uma visão inconsistente quanto a eles.

A visão de que o haitiano precisa de ajuda, quando na verdade querem que

enxerguemos a capacidade que estes têm para desempenhar um bom trabalho e

alcançar recursos por meio de méritos próprios. Mais uma vez, o fato de carregarem

a vontade e a distinção de um homem livre e soberano, não submisso frente ao

outro, conforme Vasconcelos (Ibid), se manifesta nesse discurso. Essas

características compõe parte da identidade do grupo, marcando também suas

diferenças. Contudo, uma outra observação deve ser levada em consideração, a

influência da cidade de São Paulo na constituição da identidade do grupo.

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3.3.6. As Influências da Dinâmica Paulista na Composição da Identidade do

Grupo de Imigrantes Haitianos Adventistas em São Paulo

Ao observar a cidade de São Paulo, fica evidente que as correntes

migratórias deixaram marcas em sua paisagem, cultura e dinâmica (MAGNANI,

2009). Mas, podemos considerar que a cidade também deixa sua marca no

imigrante. Magnani (2002) afirma que grandes cidades produzem comportamentos e

determinam estilos de vida. Dantas (2010) por sua vez, alega que no contexto

migratório, só o fato de ir morar em uma outra cultura, implica em rupturas (deixa-se

família, trabalho, amigos etc.), que proporcionam uma crise de adaptação e

negociação dos próprios valores, afetando e influenciando na construção de sua

identidade. A identidade desse imigrante torna-se menos fixa e mais plural. Temos

aqui dois pressupostos que podem dialogar entre si: 1) as mudanças causadas no

imigrante decorrente de seu processo de adaptação ao novo contexto cultural em

que está inserido; e 2) as influências da cidade (centro urbano, metrópole) no

comportamento e estilo de vida de seus moradores.

No contexto do grupo de imigrantes haitianos adventistas na cidade de São

Paulo, as mudanças relacionadas ao seu processo de adaptação à capital paulista

foram inevitáveis. Percebemos que a própria dinâmica da cidade, influenciou a

identidade do grupo, refletindo-se em sua forma de relacionar-se entre eles. Além do

fato das grandes cidades produzirem comportamentos que determinam estilos de

vida, como alega Magnani (2002), os padrões de sociabilidade e relacionamento

entre os moradores desses centros urbanos se difere de outros contextos

(MAGNANI, 2009, p.21). Cabe-nos expor, que a pesquisa levou-nos a consideração

de que a sociabilidade do grupo em São Paulo é diferente daquela manifesta entre

membros das comunidades adventistas no Haiti. Um detalhe relevante observado

refere-se ao fato de que alguns componentes do grupo se conheciam apenas de

vista, pois não sabiam o nome um do outro. Assim que acabava o culto, todos se

dispersavam rapidamente, indo embora. Alguns iam acompanhados, outros não. Em

decorrência desse fator, acabava havendo pouquíssima interação entre eles depois

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de suas reuniões83. Torna-se importante destacar que essa mesma realidade foi

observada na IASD paulista local.

Mediante o questionamento de como eram suas interações na comunidade

adventista no Haiti, expuseram que tinham o costume de levar visitantes (amigos,

conhecidos e familiares) nos cultos de sábado pela manhã, depois serviam um

almoço comunitário e passavam juntos o restante do dia. Talvez isso não fosse uma

realidade presente em todos os cultos, mas a alegação desse imigrante deixa

explicito, que havia forte interação dentro de sua comunidade religiosa no Haiti.

Essa premissa pode ter sido, inclusive, um dos motivos84 que teria levado a

realização de almoços coletivos nos cultos evangelísticos do grupo, verificados no

início da pesquisa em 2015, e não mais evidenciados em 2016.

Magnani (2002) observa que existe uma dicotomia no cenário das grandes

metrópoles no que se refere ao indivíduo. De um lado o discurso do senso comum à

cerca da solidão que envolve o homem nos grandes centros urbanos, apontando

que o indivíduo está só, mesmo estando em meio à multidão. “Ele cruza diariamente

com centenas de pessoas que não conhece. Essas pessoas vivem no mesmo meio,

mas não convivem. A mesma metrópole produz as massas e isola o indivíduo”. Do

outro lado, os contatos significativos no trabalho, lazer, práticas religiosas,

associativas etc., que podem ser percebidos por meio da simples atitude de

acompanhar uma pessoa que vive na cidade em seus trajetos habituais, demonstra-

nos que na verdade, esse indivíduo não está sozinho (p.17). O fato de alguns

desses haitianos estarem no grupo, mas aparentemente não estarem “integrados”

ao grupo, uma vez que não estabelecem relação interpessoal com os seus

membros, parece nos colocar diante da dicotomia apresentada por Magnani. De um

lado sozinhos, vivendo no mesmo meio, mas não convivendo com aqueles que

fazem parte desse meio, como aponta o senso comum em relação aos

relacionamentos na cidade. Do outro lado, a possibilidade de interações e

relacionamentos interpessoais em um contexto que não pôde ser abarcado pela

83 Observou-se maior interação apenas em almoços coletivos que eram realizados em cultos evangelísticos. Pontua-se, porém que esse almoço era raramente realizado (fotos nos anexos). 84 Outro motivo relacionado a realização desses almoços coletivos serão discutidos posteriormente no texto Religião & Ação Social: IASD & Haitianos, nesse mesmo capítulo.

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pesquisa em pauta. O que poderia nos levar a considerar, se de fato estão sozinhos

ou não.

Ressaltamos, que a falta de interação observada no contexto do grupo não se

aplica a sua totalidade, uma vez que alguns deles mantêm essa relação

interpessoal, no entanto, demonstra-nos em que medida uma característica

impregnada no senso comum das grandes cidades se aplica a essa situação em

particular, ainda que em um contexto de grupo étnico, onde presumidamente

espera-se interação entre seus membros, como expõe Silva & Silva (2006) ao falar

sobre etnia. Nesse sentido, podemos pensar na cidade, não apenas como um pano

de fundo, mas uma variável independente, que interfere sobre as práticas e rotinas

religiosas (ALMEIDA, 2009, p. 30 e 31). A rotina religiosa que proporciona uma forte

interação entre os membros da comunidade adventista no Haiti, como alegou o

haitiano, acaba sendo diferente daquela observada nesse grupo em São Paulo, uma

vez que não possibilita essa mesma interação. Por fim, levando em consideração o

quadro geral apresentado, pode-se considerar que a construção da identidade do

grupo, ao mesmo tempo em que se manifesta pelo reforço de algumas de suas

diferenças culturais, religiosas (adventista) e alguns discursos, acaba sendo

percebida também, pela influência da dinâmica paulista, revelando-se em sua forma

de relacionar-se com a sua própria comunidade étnica. Na relação que se

estabelece entre o imigrante haitiano e a IASD paulista, essa identidade do grupo foi

construída, contudo, missões e ação social, também foram percebidas, e por isso

serão discorridas nos próximos textos.

3.4. Missões Adventistas, Ação Social & Haitianos

Na relação entre o imigrante haitiano adventista e a IASD paulista, estratégias

foram estabelecidas para que, por meio de missões, outros haitianos fossem

alcançados pela Instituição. O termo “missão”, como pontua Bornholdt (2004, p. 91)

ao discorrer sobre o assunto na concepção de Bosch (2002), tem sido

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tradicionalmente usado como: “a) propagação da fé; b) expansão do reino de Deus;

c) conversão dos pagãos e d) fundação de novas igrejas”. Esse termo teria sido

usado até o século XVI, para referir-se a doutrina da Trindade, que segundo observa

a autora, seria uma doutrina que diz respeito ao “envio do Filho pelo Pai e do

Espírito Santo pelo Pai e Filho”. Os Jesuítas teriam sido “os primeiros a usá-lo em

termos de difusão da fé cristã entre pessoas, inclusive protestantes, que não eram

membros da Igreja Católica”. Entretanto, o termo foi vinculado a ideologia de

expansão colonial, ocupação de território, conquista de diferentes religiões e outros

fatores nessa mesma direção. Teologicamente, o termo também se direcionou a

diversos conceitos. Bornholdt (2004, p. 92) acrescenta:

[teologicamente] mais adequados, mas segundo Bosch também

ambíguos em sua manifestação [...] como a) o da conversão, que

enfatiza o valor da decisão e compromisso social (porém tende a

limitar o reino de Deus às almas salvas), b) o motivo escatológico,

que fixa os olhos das pessoas no reinado de Deus como realidade

futura, esquecendo exigências dessa vida; c) o motivo da instalação

das igrejas, que acentua a necessidade de reunir uma comunidade de

pessoas comprometidas (mas passa a identificar reino de Deus com

Igreja) e d) o motivo filantrópico, pelo qual a igreja é desafiada a

buscar justiça no mundo.

Diante de tantos conceitos relacionados ao mesmo termo, Bornholdt (Ibid),

discorre que Bosch (2002) teria reconhecido, que só era possível formular

aproximações, do que realmente pudesse significar “missão”. Entre as concepções

teológicas apresentadas por Bosch (2002, p.26) e citadas por Bornholdt (2004, p. 92

e 93), uma delas nos chamam a atenção: o fato de que a “missão inclui a

evangelização como uma de suas dimensões essenciais”. Como evangelização,

entende-se o ato de proclamar salvação em Jesus Cristo àqueles que não acreditam

nele, propondo arrependimento dos pecados, perdão e conversão.

Segundo Stott (2008) a Comissão de Missões Mundiais não teria distinguido

em sua constituição os termos missão e evangelismo, designando ambos como a

promoção da proclamação do evangelho de Cristo ao mundo, com intento de que o

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homem creia e seja salvo. Na sua perspectiva, porém a missão inclui além destes,

outros critérios. Com base em uma visão mais antiga e tradicional de missão, fazer

missões consistia exclusivamente de evangelização. Por isso, o missionário era visto

e entendido como um pregador do evangelho (p. 15). Essa visão tradicional, apesar

de antiga, continua viva, proporcionando um suposto contato com um mundo ímpio,

por meio de incursões evangelísticas que acontecem ocasionalmente. Nesse caso, o

imaginário apocalíptico torna-se natural. É como se mundo fosse um edifício em

chamas, e a única obrigação cristã girasse em torno de montar uma operação de

resgate o mais rápido possível, ou antes, que seja tarde demais. “Jesus está

voltando a qualquer momento”. Com esse raciocínio não existem razões para alterar

as estruturas sociais, uma vez que esta já está condenada e se aproxima da

destruição final. A esperança única para o ser humano seria “nascer de novo”,

entregando-se a Cristo (p.16).

No entanto, em oposição a esse conceito de missão que consiste apenas em

evangelização, apresenta-se uma visão ecumênica desde meados da década de 60

e expõe um outro papel da igreja na missão que Deus lhe confiou. Nessa missão, a

igreja deve apontar para as obras que Deus realizou na história do mundo e

descobrir o que Ele ainda está fazendo. A igreja deve servir o mundo conforme suas

necessidades sociais atuais. Em resumo, nessa visão ecumênica, estabelece-se o

Shalon (paz) de Deus ao Mundo.

Porém, em discordância também, dessa forma de entender “missão”, Stott

(2008) reforça que de acordo com os apóstolos, a paz que Jesus dá é mais

profunda, abrangendo a comunhão com Deus e com outras pessoas. Missão se

refere ao povo de Deus redimido e a tarefa para qual ele envia seu povo a realizar.

Nesse caso, conclui que a visão ecumênica sobre missão, ultrajada somente pela

preocupação social, não deixa espaço para o evangelismo (p. 17-19). Diante de tais

questões sobre o termo “missão” e a necessidade de o contextualizarmos nesse

trabalho, o compreenderemos a partir da definição atribuída por Stott (2008, p.107),

como “um amável serviço que Deus envia seu povo ao mundo para realizar”. Ele

ainda acrescenta:

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devido à aterradora perdição do homem, há uma urgência premente quanto a nossa tarefa evangelística. A natureza da “evangelização” é uma fiel proclamação das boas novas. O “diálogo” é a sua etapa preliminar necessária, visto que o ouvir precisa preceder a proclamação, e a “salvação”, que é seu objetivo, é a liberdade por meio de Cristo, com inolvidáveis implicações sociais, em antecipação à escatológica “liberdade da glória”, quando Deus fará novas todas as coisas. (STOTT, 2008, p. 107).

Nessa concepção, missão “inclui tanto evangelização quanto ação social”

(Ibid). Nesse caso, a concepção de Stott (2008) parece concordar em partes, com

um dos conceitos teológicos sobre missão, pontuados por Bosch (2002, p.26) e

citadas por Bornholdt (2004, p. 92 e 93), sobre o fato desta incluir “a evangelização

como uma de suas dimensões essenciais”. Entretanto, Stott (2008) não a delimita

apenas a evangelização, esta deve vir sempre acompanhada da ação social.

Conceito que parece se aproximar do entendimento que observamos na IASD em

relação ao assunto. A instituição alega compreender que missões não significa

apenas compartilhar a história ou conhecimento de Jesus, mas aliviar o sofrimento

das pessoas. Defendem também, que a Bíblia Sagrada dá ênfase ao trabalho social

como parte integrante do evangelismo.85 Sendo assim, por vezes, a ação

missionária da IASD estará vinculada a alguma ação social.

Levando em consideração todos esses fatores, fazer missões torna-se uma

tarefa permeada por estratégias, e estas, parecem ser “um elemento - chave para o

avanço do evangelho” (TUCKER, 2010, p. 533). A IASD declara entender que deve

“comunicar a todas as pessoas o evangelho eterno do amor de Deus” e por isso,

denomina-se proclamadora da reconciliação na morte de Cristo, do seu retorno e da

Lei dos Dez Mandamentos (ROSA, 2009, p. 10). Para cumprir essa missão dispõe

de estratégias que vinculam o evangelismo a ação social ou a ação social ao

evangelismo. White (2007, p. 57), escritora e profetisa adventista, orienta a IASD a

85 Informações obtidas no site oficial da IASD, disponível em: <https://www.adventist.org/pt/servico/missionarios/> Acesso em: 13/09/2015.

13 Informações obtidas em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/is/53> Acesso em 28/07/2015.

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partir de seus escritos, alegando que o êxito em missões torna-se possível por meio

de esforços coletivos. Sendo assim, a ação missionária da igreja envolve a todos os

seus membros e constitui-se uma parte essencial da instituição.

Na relação entre o imigrante haitiano adventista e a IASD em São Paulo,

estabeleceu-se uma estratégia missionária para alcançar outros imigrantes haitianos

na capital. Nesse contexto, em uma parceria entre a IASD local e a comunidade

étnica haitiana adventista, esse imigrante evangelizava outros haitianos trazendo-os

aos cultos e a IASD local oferecia um almoço coletivo. Durante o ano de 201586, em

todos os cultos que estivemos presentes havia visitantes. Em sua maioria

adventistas que estavam chegando ao Brasil. Outros, porém eram haitianos não

evangélicos ou de outras denominações, convidados por integrantes do grupo. Em

um único culto evangelístico foi possível presenciar até 20 haitianos não adventistas.

O trabalho evangelístico entre haitianos em São Paulo, que era estrategicamente

realizado pelo próprio imigrante haitiano adventista, é um fator interessante a ser

analisado. Hesselgrave (1995) ao falar sobre comunicação missionária em um

contexto cultural diferente, expõe:

O comunicador missionário deve encarar a cultura com a máxima seriedade. Uma vez que os receptores decodificarão a mensagem dentro da estrutura da realidade fornecida pela própria cultura deles, o missionário precisa codificar sua mensagem tendo em mente essa realidade. Sob o aspecto daquela parte da cultura com que ora nos ocupamos, a comunicação da maioria das pessoas está circunscrita à perspectiva gerada por sua própria cosmovisão. (HESSELGRAVE, 1995, p. 218)

Nesse caso especifico, entre a IASD e imigrantes haitianos em São Paulo,

como o comunicador missionário é o próprio haitiano adventista, a mensagem

transmitida acaba se enquadrando na cosmovisão cultural do receptor, evitando-se

conflitos de ordem relacionadas a compreensão do que está sendo propagado.

Segundo informações do Pastor da Igreja Local brasileira (IASD central paulistana),

86 Em decorrência da saída de muitos haitianos do Brasil no ano de 2016, as visitas por parte de outros haitianos a comunidade étnica haitiana adventista diminuiu extremamente.

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adquiridas em pesquisa de campo no início do ano (2015), o grupo havia trabalhado

com um projeto denominado “Um mais um”, em que cada haitiano adventista se

incumbia de levar um outro haitiano para participar de seus cultos. Diante desses

fatores, a evangelização do imigrante haitiano, que acontecia por meio do próprio

haitiano adventista, se estabelecia como uma estratégia missionária. Apesar do

empenho evangelístico do grupo, que perdurou intensamente no ano de 2015,

decaindo, porém em 201687, decorrentes de fatores anteriormente abordados, não

observamos novos conversos ao adventismo entre eles88 durante a pesquisa

realizada. Nesse contexto de evangelismo, seguido pelo almoço coletivo oferecido

para o imigrante, se estabelece um exemplo da ação evangelística da igreja em

parceria com a ação social. Por outro lado, a ação social da IASD paulistana para

com o imigrante haitiano, se estabeleceu desde a sua chegada a São Paulo.

Conforme declaração do pastor responsável pela IASD central paulistana em

entrevista para o canal adventista da Revista Novo Tempo89, dede o início de

2010, com o grande fluxo migratório de haitianos para o Brasil e consequentemente

para São Paulo, a IASD paulista, em uma atitude de acolhimento, passou a

recepcionar o imigrante haitiano adventista que a procurava, suprindo-lhes algumas

de suas necessidades emergenciais. No início de 2015, quando a pesquisa de

campo estava sendo realizada, boa parte dos imigrantes haitianos adventistas

integrantes do grupo estava empregada. Naquela ocasião, ao questionarmos se

eram auxiliados de alguma forma pela IASD, poucos aceitavam falar sobre o

assunto. Alguns alegavam, antes mesmo de responder qualquer pergunta

relacionada a esse contexto, que não necessitavam da ajuda da Igreja. Por diversos

momentos, houve a percepção de que alguns deles se incomodavam com o fato de

tratarmos sobre essas questões, como abordamos anteriormente, por meio de uma

frase citada por um deles (haitiano), no texto que se refere a identidade do grupo

(“haitiano não gosta de ser ajudado! Haitiano vem para trabalhar!”). Contudo, os

almoços coletivos oferecidos pela IASD, aulas de língua portuguesa e a ajuda

prestada pelo Centro de Influência da IASD paulista, puderam ser constatados

87 Conforme abordado no segundo capítulo dessa dissertação, no ano de 2016, devido à crise econômica brasileira, muitos desses imigrantes foram para outros países. 88 O aumento do grupo se deu apenas, em decorrência dos imigrantes haitianos adventistas que chegavam à São Paulo. 89 Para mais ver vídeo publicado pela Revista Novo Tempo. Disponível em: <novotempo.com/revista/videos/serie-comunidades-etnicas-haitianos>. http://novotempo.com/revista/?s=haitianos>. Acesso em: 20/07/2016

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durante a pesquisa de campo. Nesse caso porém, nem sempre vinculado a missões

evangelísticas, uma vez que os haitianos ajudados eram, em sua grande maioria,

adventistas. A atuação da IASD, bem como de outras instituições religiosas que

procuraram acolher o imigrante haitiano no Brasil, foi perceptível e se apresentou,

frente a ausência de políticas públicas migratórias brasileiras, como um meio de

suprir algumas necessidades decorrentes desse fluxo migratório para o país.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse trabalho, pudemos compreender a relação entre o imigrante haitiano e

a IASD em São Paulo. Foi possível verificar que nessa relação a identidade do

grupo étnico de haitianos adventistas foi construída e missões e ação social foram

estabelecidas. Tendo partindo da apresentação do contexto histórico da IASD, na

pretensão de contextualizar o campo analisado, verificamos que a instituição surgiu

nos Estados Unidos durante o século XIX, e teve como marco inicial fatores

interessantes (as profecias de Guilherme Miller sobre o retorno de Cristo), que

influenciaram a sua doutrina e a sua forma de relacionar-se com o mundo, na

intenção de transmitir-lhe a sua mensagem escatológica. Foi possível perceber que

essa mensagem escatológica, em parceria com a ação social que visa auxílio aos

necessitados, possibilitou que a instituição se desenvolvesse em diversos países,

entre os quais muitos são pobres, como por exemplo, o Haiti, de onde os imigrantes

haitianos adventistas em São Paulo, procederam. Também foi possível entender a

importância que os escritos de Ellen G. White, uma das fundadoras da instituição, na

formação de parte do pensamento e posturas adventistas. Foi perceptível também, a

proporção em que esses escritos viabilizaram e motivaram o alcance proselitista de

estrangeiros/imigrantes por parte da instituição desde o seu início. Reflexos

observados inclusive, nos resultados de crescimento e desenvolvimento da IASD

paulista, onde diferentes imigrantes constituíram parte de sua história.

Na abordagem que realizamos em relação ao imigrante haitiano adventista,

como forma de contextualizar o objeto de pesquisa, foi possível discorrer sobre a

imigração haitiana para o Brasil e algumas questões que a permearam. Nesse

contexto, percebemos que o imigrante haitiano trouxe consigo muitos sonhos e

expectativas, mas que a luz da realidade vivida no país, foram logo frustrados. Se

viu desamparado pelo Estado frente à ausência de políticas públicas migratórias, foi

alvo de preconceito, racismo, xenofobia, e exposição negativa por parte da mídia.

Humilhação, frustração e desilusão que diante de uma crise econômica brasileira,

motivaram ainda mais, muitos desses imigrantes a direcionarem-se para outros

países. No entanto, em meio a esse cenário, ficou evidente a atuação de algumas

entidades religiosas na busca de recepcionar e acolher esse imigrante. Essas

instituições prestaram atendimento ao haitiano que chegava ao Brasil em algumas

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de suas necessidades mais emergentes, como abrigo e alimentação, além de

mediar questões relacionadas à documentação, emprego e outras. De forma mais

discreta, porém pertinente, identificamos também, a atuação da IASD em diferentes

partes do Brasil, nesse mesmo intento, inclusive em São Paulo, onde uma relação

entre o imigrante haitiano adventista e a IASD paulista foi estabelecida.

Após compreensão do campo e do objeto de pesquisa, debruçando-se

finalmente sobre a relação entre esse imigrante e a Instituição em pauta,

percebemos a construção da identidade do grupo étnico de haitianos adventistas,

marcada por questões culturais, religiosas (adventista), discursos direcionados e

influências da metrópole paulistana. Observamos também que estratégias

missionárias e ações sociais (de ajuda a necessitados) foram estabelecidas na

tentativa de alcançar outros haitianos. Nesse contexto, a pesquisa de campo foi

essencial, uma vez que possibilitou observações e reflexões não abrangidas pelo

referencial bibliográfico, através do contato direto com o próprio imigrante. Por meio

desse contato, percebemos que nas estratégias missionárias estabelecidas, o

próprio imigrante era portador da mensagem adventista, possibilitando que esta se

enquadrasse na cosmovisão cultural do receptor, evitando-se conflitos de ordem

relacionadas a compreensão do que estava sendo propagado. Esse fato poderia ter

contribuído de forma relevante para o crescimento do grupo. Contudo, apesar do

grande número de visitantes haitianos aos cultos do grupo étnico haitiano adventista,

não observamos novos adeptos ao adventismo entre eles durante a pesquisa

realizada.

Em relação a ação social no intuito de auxiliar necessitados, constatamos que

esta é uma parceira da ação missionária por parte da igreja em pauta e manifestou-

se também no processo de evangelização ao imigrante haitiano, onde almoços

coletivos eram oferecidos após cultos evangelísticos. Todas essas questões

analisadas fazem parte da temática que abrange a relação entre o imigrante haitiano

e a IASD em São Paulo, permitindo considerar em que medida a relação imigrante

versus religião são pertinentes na análise que envolve processos migratórios. Enfim,

esperamos que as considerações realizadas nesse trabalho possam contribuir com

outras pesquisas nessa mesma perspectiva.

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<http://exame.abril.com.br/brasil/as-200-cidades-mais-populosas-do-brasil/>. Acesso

em 11/111/2016.

<http://www.priberam.pt/dlpo/colportor>. Acesso em 15/11/2016.

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ANEXOS

(Figura 11. Foto de boletim informativo - distribuído pela IASD no dia 25/06/2016)

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(Figura 12. Foto de boletins informativos - distribuídos pela IASD nos dias

26/09/2015 e 21/05/2016)

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(Figura 13. Foto do Projeto Médico-missionário no Haiti/Atendimento médico - Acervo de Robson Teles)

(Figura 14. Foto do Projeto Médico-missionário no Haiti/Atendimento odontológico – Acervo de Robson Teles)

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(Figura 15. Foto do Projeto Médico-missionário no Haiti/Atendimento Oftalmológico – Acervo de Robson Teles)

(Figura 16. Foto do folder do Projeto: Instituto Base Gênesis – Acervo pessoal)

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(Figura 17. Foto do grupo musical haitiano – Acervo pessoal)

(Figura 18. Foto da Escola Sabatina haitiana II – Acervo pessoal)

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(Figura 19. Foto do almoço coletivo entre haitianos adventistas I – Acervo pessoal)

(Figura 20. Foto do almoço coletivo entre haitianos adventistas II – Acervo pessoal)

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(Figura 21. Foto do almoço coletivo entre haitianos adventistas III – Acervo pessoal)

(Figura 22. Foto de culto do grupo étnico de haitianos adventistas – Acervo pessoal)

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(Figura 23. Foto de haitianos adventistas – Acervo pessoal)