O INCÊNDIO DO CHIADO NOS JORNAIS€¦ · atravessam mesmo esta rua. Os telhados são bocas de...

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Fórum Picoas Auditório | Altice 25 de outubro de 2018 Incêndios em Estruturas. Aprender com o passado.” O INCÊNDIO DO CHIADO NOS JORNAIS A NARRATIVA DE UMA CATÁSTROFE

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Fórum Picoas Auditório | Altice 25 de outubro de 2018

“Incêndios em Estruturas. Aprender com o passado.”

O INCÊNDIO DO CHIADO NOS JORNAIS

A NARRATIVA DE UMA CATÁSTROFE

Incêndios em Estruturas. Aprender com o passado

OBJETIVOS

• Que histórias foram contadas?• Qual o papel dos jornalistas na construção doacontecimento?

• Que impacto teve esse acontecimentomediatizado na forma como leitores, ouvintese espectadores o preservaram na memória?

ESPREITAR OS BASTIDORES DA COBERTURA MEDIÁTICA

NOTÍCIAS COMO CONSTRUÇÃO DA REALIDADE NOTÍCIAS COMO NARRATIVAS

PROCEDIMENTOS PROFISSIONAIS DE SELEÇÃO, ORGANIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E EXPLICAÇÃO

FONTES LINHA EDITORIAL GATEKEEPING VALORES

NOTÍCIA

Incêndios em Estruturas. Aprender com o passado

O INCÊNDIO DO CHIADO:ELEVADO GRAU DE NOTICIABILIDADE

• Rutura com a normalidade e a ro/na• Atualidade• Proximidade• Relevância• Inesperado

Incêndios em Estruturas. Aprender com o passado

OS MEDIA PORTUGUESES NA DÉCADA DE 80

• Período de mudança: destatização e privatização;

• TV pública (RTP)• 1980: TV a cores• 1987: fundação da Agência LUSA• 1988: nasce a TSF• 1988: fundação de O Independente• 1990: fundação de O Público

As chamas saem dos Armazéns Grandella. Sãoaltas, altíssimas. Sobem Rua do Carmo acima,atravessam mesmo esta rua. Os telhados sãobocas de fogo, os bombeiros já cá estão masacho que vão ser precisos bastante mais. Istoestá um verdadeiro braseiro. É o Grandella, é oChiado, é toda a Rua do Carmo em perigo. Maisuma explosão. Não é a primeira: houve váriasdesde que aqui estou. Isto é assustador (Robyapud Vilela, 2016: 216).

Havia um carro de feixes hertzianos que estava aser experimentado e tinha sido compradooriginalmente para o futebol. A RTP não tinhatradição de cobertura em direto. Eramrelativamente mal vistos, consideravam [osdiretos] dispendiosos, despesistas e excêntricos(Mário Crespo à Agência LUSA)

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IMPACTO MEDIÁTICO DOINCÊNDIO DO CHIADO

• Entre 25 e 31 de agosto de 1988: 211 páginasdedicadas ao incêndio;

• 21 primeiras páginas;• Capa da Revista do Expresso de dia 26 de agosto e do

“Correio de Domingo”, suplemento do Correio daManhã de 28 de agosto.

• Diário de Lisboa e o Diário de Notícias tiveram mesmoduas edições a 25 de agosto que esgotaram.

• O Independente, semanário então muito recente, fezpela primeira vez uma primeira página a cores

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IMPACTO MEDIÁTICO DOINCÊNDIO DO CHIADO

• Abundam as fotografias em todas as publicações

• Há, inclusive, reportagens exclusivamente fotográficas

Ao longo dos dois últimos dias, a equipa de repórteres fotográficosdo Correio da Manhã desenvolveu um trabalho incansável, para daraos leitores do jornal a melhor imagem dos trágicos acontecimentosdo Chiado. Aqui ficam os nomes dos homens que, quer no ar, querem terra, trouxeram até aos leitores a reportagem doacontecimento: (...) (CM, n.º3415, 27/08/1988, p. 7).

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IMPACTO MEDIÁTICO DOINCÊNDIO DO CHIADO

• 273 peças, distribuídas por diversos génerosjornalísticos;

• Predomínio da notícia e da reportagem (78%das peças produzidas), embora também setenha publicado crónica, artigos de opinião eoutros (entrevistas, cartas, revista deimprensa, cartoon, etc.)

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IMPACTO MEDIÁTICO DOINCÊNDIO DO CHIADO

• Tema da imprensa internacional

“Portugal na ‘primeira’ da imprensa mundial’ (CM, 26/08/88, p. 13)

“Uma notícia importante na grande Imprensa europeia” (DN, 27/08/88, p.9)

“Jornais ingleses comentam futuro do Chiado” (DL, 27/08/88, p. 28)

No estrangeiro, o incêndio no Chiado foi notícia,

nomeadamente no noticiário da TVE1, em

Espanha, que abriu à tarde com imagens do fogo.

Dezenas de jornalistas espanhóis e estrangeiros

residentes em Madrid voaram para Lisboa. A

delegação da agência Lusa em Madrid funcionou

todo o dia como centro de informação para os

media espanhóis. As rádios interromperam as

emissões quando chegaram as primeiras notícias.

A agência francesa AFP e a norte-americana AP

também noticiaram o incêndio, bem como o The

New York Times (Lusa).

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Número de peças noticiosas dedicadas ao incêndio do Chiado

NOTÍCIA REPORTAGEM

DN 41 10DL 67 13CM 34 11EXP 9 10IND 12 7TOTAIS 163 51

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SUBTEMAS DAS PEÇASSUBTEMAS N.º de peças %

Apoio às vítimas 24 11,2%Causas do incêndio 11 5,1%Combate ao fogo 28 13%Prejuízos Humanos 24 11,2%

Prejuízos Materiais 20 9,3%Prejuízos Patrimoniais 19 8,8%

Reações 39 18,2%Reconstrução 23 10,7%Outros 59 27,5

TOTAIS 214 100%

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A NARRATIVA

• Deflagração do incêndio;

• O combate;

• As consequências (destruição e prejuízos);

• O rescaldo e o apoio às víGmas;

• A invesGgação;

• A reconstrução.

Milhares de bombeiros com centenas de viaturase auxiliados por meios aéreos combatiam, ao fimda manhã – apesar de o sinistro ter sido já dadocomo praticamente controlado – o pavorosoincêndio que deflagrou pouco depois das cincoda manhã nos Armazéns Grandella, praticamentefalidos e cujo proprietário tinha sido libertadohoras antes do incêndio, depois de ter sidoacusado pela polícia de burla ao fisco e de fogoposto. As chamas tinham provocado, até aofecho desta edição, um morto e vários feridos(16) – um número de vítimas baixo mas sópossível porque se trata de uma zonapredominantemente comercial e porque o fogocomeçou e alastrou antes da abertura das lojas.Mas – drama, catástrofe – foi o facto de não tersido possível salvar uma boa parte da baixahistórica de Lisboa. Para tanto, terá contribuídoem boa parte a atual arquitetura da Rua doCarmo e as inerentes dificuldades no acesso dosbombeiros ao local onde as chamas se iniciaram.Uma responsabilidade ainda não apurada naíntegra mas sem resposta do presidente daCâmara de Lisboa, Krus Abecassis. As suasdeclarações, até agora, vão no sentido de que arecuperação não será possível sem um projetoglobal (...) (DL, 25/08/88, 1.ª ed., p. 1).

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AS PERSONAGENS

• i) os bombeiros – quer como personagemcoletiva, quer individual – é o grupo queassume protagonismo no maior número depeças, o que sucede geralmente na coberturade catástrofes desta natureza;

• ii) o incêndio, o Chiado e Lisboa são os trêsprotagonistas que ocupam o lugar dedestaque seguinte.

ADEUS CHIADOLISBOA DORMIA

VELHO CHIADO

VENTRE ESVAZIADO E NEGRO DOS PRÉDIOS

O CORAÇÃO DE LISBOA

A ALMA DO CHIADO

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O ENQUADRAMENTO

A tragédia consumou-se. O Chiado ardeu. Umcerto Chiado que é parte da memória doLisboeta, dos últimos 200 anos. Coabitam agora,paredes meias, os escombros de duas tragédias,ainda que de proporções diferentes: as ruínas doCarmo e a zona onde passeou Eça de Queirós, eque é legada, intacta, à posteridade, nasmagníficas páginas dos seus romances (DN,26/08/88, p. 10)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS• Cunha, A.; Ricardo, F.; Pratas, J. C. & Ochôa, R. (2013). O Grande Incêndio do Chiado 1988. Lisboa:

CML / Tinta da China.• Figueira, J. (2012). O essencial sobre a imprensa portuguesa (1974-2010). Coimbra: Angelus Novus.• Lopes, J. M. A. & Cunha, L. (2016). “Incêndios urbanos na zona antiga da Figueira da Foz. Uma

contribuição para avaliação da suscetibilidade, da vulnerabilidade e do risco”. In: Lourenço, L. (Coord.). Geografia, Paisagem e Riscos. Livro de Homenagem ao Prof. Doutor António Pedrosa. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, pp. 283-302.

• Martins, P. (2018). O Bairro dos jornais. As histórias que marcaram o Bairro Alto e os seus jornais. Lisboa: Quetzal Editores.

• RTP, https://arquivos.rtp.pt/conteudos/1988-incendio-no-chiado/• RTP, “Agora nós” http://media.rtp.pt/agoranos/artigos/grande-incendio-no-chiado-aconteceu-ha-

29-anos• Serra, P. (2006). “Cataclismos e catástrofes: reflexões acerca da relação entre sistema político e

sistema mediático”. In: Biblioteca Online de Ciências da Comunicação http://www.bocc.ubi.pt/pag/serra-paulo-cataclismos-catastrofes.pdf (consultado em 26 de julho de 2018).

• Serrano, R. et al. “Expresso 40 anos: Portugal era um país cor de cinza” http://expresso.sapo.pt/site_expresso_40_anos/expresso-40-anos-portugal-era-um-pais-cor-de-cinza=f777971#gs.G1wf_mI

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CORPUS DE ANÁLISE

• Correio da Manhã, 1988 (26/08 a 31/08)• Diário de Lisboa, 1988 (25/08 a 31/08)• Diário de Notícias, 1988 (26/08 a 31/08)• Expresso, 1988 (28/08 e 3/09)• O Independente, 1988 (27/08 e 2/09)

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Muito Obrigada

Ana Teresa PeixinhoFLUC | CEIS20