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8 r-o, -.---- o Interaccionismo Simbólico no Século xx a Emergência da Teoria Social Empírica KEN PLUMMER . ",- A teoria da interacção simbólica tem sido, desde sempre, o corpo e a alma da sociologia norte-americana . T. R Young, «Symbolic lnteractional Theory: Hard Times and Hard Tomatoes» De uma forma discreta, o interaccionismo simbólico tem sido, ao longo do século xx, uma das correntes sociológicas de maior longevidade. Com fases de crescimento e outras em que teve a sua morte anunciada, a sorte desta corrente teórica tem variado bastante no decurso das inúmeras transformações por que passou ao longo do processo de adaptação ao mundo circundante. Enquanto alguns dos seus críticos mais recentes falam do «envelhecimento do interaccionismo simbólico» (Saxton, 1989); outros referem um «rejuvenescimento do inte- raccionismo simbólico» (Stryker, 1987); há também quem fale do «triste ocaso, do misterioso desaparecimento e do glorioso triunfo do interaccionisrno simbólico» (Fine, 1993); enquanto outros, ainda, se referem a esta corrente como o arauto da teoria social pós-moderna. Em qualquer dos casos, ainda hoje nos deparamos com teorias interaccionistas que assumem uma multiplicidade de formas que vão da «sociologia do quotidiano» à «sociologia do absurdo», da «sociologia criativa» à sociologia interpretativa, existencial, fenomenológica e «pós-blume- riana» (veja-se Denzin, 1992, p. xiv; Fine, 1990). O meu objectivo, ao longo deste capítulo, será o de traçar um/esboço dos vários destinos que esta corrente teórica heterogénea conhe- ceu ao longo do século xx. lnteraccionismo Simbólico: Imagens, Histórias e Temas Não obstante as diferenças que possam existir entre si, a maior parte das sociologias interaccionistas simbólicas resultam da interligação de quatro temas fundamentais. O pri- meiro destes sugere que os mundos distintamente humanos não são só mundos materiais e objectivos, mas também mundos fortemente simbólicos. Na verdade, para os interaccionis- tas, aquilo que distingue o ser humano dos restantes animais é a sua comg!~ .•~!Hjdade p~e_g~~~.pj._§imJ~ºl!;l§.."qlJ.e:,.Uv~,·:PtJ:illite.m;<gD?q*jLWXgJÚgqriaJé;wn~t,Ç~4tNJ:",ª"e;ingi.J)qldas '>,-!1~ªS,,;-S9E}}±ru,<3~J.P. Uma preocupação-chave da sociologia interaccio~ist.a tem que ver com a forma como o ser humano leva a cabo a tarefa de construção de Significados: como _' •.••~_~:.> .~.. • -•••~ -_._.~'~.;. ;.r '"=- .," .•....•__~.,.- "'. ~ ,~. ,/,_. ,., ... ~" '_",' ,",' .' . -'.: ..,':.',',-" .~~.--.:.:~ ,;:' ...; ~': '.- - .0"0", __ o:;

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Sociologia

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8r-o, -.----

o Interaccionismo Simbólicono Século xx a Emergência

da Teoria Social Empírica

KEN PLUMMER

. ",- A teoria da interacção simbólica tem sido, desde sempre, o corpo e a alma da sociologia norte-americana .

T. R Young, «Symbolic lnteractional Theory: Hard Times and Hard Tomatoes»

De uma forma discreta, o interaccionismo simbólico tem sido, ao longo do século xx,uma das correntes sociológicas de maior longevidade. Com fases de crescimento e outras emque teve a sua morte anunciada, a sorte desta corrente teórica tem variado bastante no decursodas inúmeras transformações por que passou ao longo do processo de adaptação ao mundocircundante. Enquanto alguns dos seus críticos mais recentes falam do «envelhecimento dointeraccionismo simbólico» (Saxton, 1989); outros referem um «rejuvenescimento do inte-raccionismo simbólico» (Stryker, 1987); há também quem fale do «triste ocaso, do misteriosodesaparecimento e do glorioso triunfo do interaccionisrno simbólico» (Fine, 1993); enquantooutros, ainda, se referem a esta corrente como o arauto da teoria social pós-moderna. Emqualquer dos casos, ainda hoje nos deparamos com teorias interaccionistas que assumem umamultiplicidade de formas que vão da «sociologia do quotidiano» à «sociologia do absurdo»,da «sociologia criativa» à sociologia interpretativa, existencial, fenomenológica e «pós-blume-riana» (veja-se Denzin, 1992, p. xiv; Fine, 1990). O meu objectivo, ao longo deste capítulo,será o de traçar um/esboço dos vários destinos que esta corrente teórica heterogénea conhe-ceu ao longo do século xx.

lnteraccionismo Simbólico: Imagens, Histórias e Temas

Não obstante as diferenças que possam existir entre si, a maior parte das sociologiasinteraccionistas simbólicas resultam da interligação de quatro temas fundamentais. O pri-meiro destes sugere que os mundos distintamente humanos não são só mundos materiais eobjectivos, mas também mundos fortemente simbólicos. Na verdade, para os interaccionis-tas, aquilo que distingue o ser humano dos restantes animais é a sua comg!~ .•~!Hjdadep~e_g~~~.pj._§imJ~ºl!;l§.."qlJ.e:,.Uv~,·:PtJ:illite.m;<gD?q*jLWXgJÚgqriaJé;wn~t,Ç~4tNJ:",ª"e;ingi.J)qldas

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226 - O PROBLEMA DA RELAÇÃO MICRO-MACRO

n~~~~,"~,Dé2J~:éEE~~~z ..~2~.._~<;?~~g~",~9.:P9.?,,~",~D?:B~~,~~~~~_~.4.~Ji~Üm9~os ~ossos s!:n-cim..Elffi§,~~çro~ç§,~J.g§J19§,s.9$,ÇQJnPQnêm.e,QE~~.~_a.:,~,~S>,~~.,S~E~~~_~~fi,!:~?~.as.situações eIl1.que~~~~~~2!Y.i~~~,~~~~SBY~!X~ffi~.~.,,~~.•visão da ordem social mais vastá:prodUZímofi'êla-tos explicativos das nossas acções e das nossas vidas; como é que, Ui!~illtçJ&,ç~P~.Q.!U,91.2J!FrOS,es~~}g~Sê4?,~,~~QJ?Krm~Jl~Dtf",m~.Q~.S9JJ§J;I.WQQ§,,"•.ç,QroQ-,~iQ.ll!~!R1!!~gos-0,~~_~":f.~E,r.e.,~~os,alil:raêIõ,S..epconsequeP,t~m~L1t~9.~.Y~Qlld-~m.;:~lf,ªy'~~g~encontros. No mundo do interaccioriista0~gI?:}!!.::i2~rr!;BS~c~",~!~JiW"sjlTIutável.Ele é antes algo em ~oPs~E~l1lll~~~9.1.!~~E~sntee, em última análise) amb!guo. Mesmo que regufârmente possamos criar significados relati-

~-~w.~.v.-i:;-~j..,.· .•..•~".~~.,.•••~t"(.'~:"l-'.~ ••

vamente êstáveis, rotineiros e partilhados, estes encontram-se sempre abertos a reavaliações eaos subsequentes ajustamentos.

Isto remete-nos para o segundo tema: o da ideia de pr.9~C;~o.Sempre e em todos os luga-res, as vidas, as situações e mesmo as socie~des ~1\i~iJ1L~L~~i<;!;c;~:~~~.~~:P,,~~~~~,~~!fo~-mandq-se. Este processo constante leva os mteracciorustas a focar .a sua atenção nas êstraté-gias .4.~.<!9}lisiçãode um sentido de eu, de d~e.g.y'q!yj~~!!~9,,ªt~FJ;I9g;;;]I~:'atãfus'táffiento

~'-> ~" .•j'~-"""Y""-~"""~""""";~":J""""""",.,vP-··"~dk.,·, ..,,;;·.··...""'';'d''''''''''''",.,..,,,,.,,..,;;.;'''';'::.r.:'' "s'''d'''''''"''''O"'''J''";'''''''"'';'''''~'''''"'''=;'''''''daos outros, ue organIZaçao ua noçao e tempo, e negoClaçao ua or em, e construçao e""Õvi'li72ções.Trata-se de uma visão bastante dinâmica do mundo social, na qual o ser humano,permanentemente envolvido nos seus afazeres,vai compondo linhas de actividade articuladasentre si e construindo a sociedade por intermédio das interacções que daí resultam.

E ei~-nos chega<ros~aõréicê;íiô"g''''r~dê''tema:'õdâ' lnterâ2ça"';;'õ~"O"'focoda atençâ o em todo~~.::,." ••• >.,..,

o trabalho interaccionista não incide nem sobre o indivíduo, nem sobre a sociedade per se,

~:1~c:~~;~t~.~~:'~A~~;~~;;~~~~~ã~~Ti~2:;1~t~~ii~~t~~{~s~[;;:~~~I~~~~era; seus conceitos -..- o eu- implica que a ideia d<::put[f! esteja sempre presente: não nos épCiSsÍveles[aI="~"s~s~'Cõn~?ss~próprios. Todas as su;;;Tae1~~3ê;1i~~ítorn'J21earêS'sublinhameste outro soêlTque'êõIÍstmtemente se impõe junto do indivíduo: a própria noção de indi-víduo é, na verdade, construída através do outro. No seu âmago, o interaccionismo interessa-se em compreender como é que as2~<,;~~l~m;~~ig,ª.;~"j.!,g:!J~»(Becker, 1986).

O quarto tema prende-se com o seu envolvimento no mundo empírico, Ao contrário demuitas outras teorias sociológicas, capazes de se elevar até às constelações da abstracção teó-rica, o interaccionismo simbólico permanece com os pés assentes na terra. A teoria interac-cionista é capaz de guiar o estudo de todo e qualquer aspecto da vida social, no entanto, tudoo que vem a ser descoberto é sempre objecto de investigação empírica. Mas, em princípio, osinteraccionistas podem inspeccionar e explorar qualquer aspecto do mundo social. ConformeBlumer coloca esta questão (1969, p. 47):

o interaccionismo simbólico é uma abordagem terra-a-terra do estudo científico da vida dos agru-pamentos humanos e das condutas respectivas. O seu universo empírico é o mundo natural da vida e daconduta dos grupos. Inscrevendo as suas problemáticas nesse mundo natural onde conduz a investigação,produz interpretações a partir desse mesmo estudo naturalístico. Se pretende estudar um dado comporta-mento religioso ritual, irá, efectivamente, até ao local onde se praticam os cultos que lhe dão origem,observando atentamente os seus protagonistas nas suas práticas quotidianas. Se pretende estudar movi-mentos sociais, investigará cuidadosamente a carreira, a história e a vida do movimento concreto em aná-lise. Se quer estudar o modo como os adolescentes consomem drogas, integra-se na sua vida real, obser-

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vando e analisando aí as modalidades de consumo em causa. E procede da mesma forma relativamente aqualquer outra matéria que prenda a sua atenção. Posto isto, verifica-se que o seu posicionamenro meto-dológico passa por um exame directo do mundo empírico.

Todos estes temas se misturam. Os próprios significados são processos interactivos -emergem da interacção. O eu é um processo constnúdo com base em encontros e caracteri-zado pelos seus significados mutáveis. Os objectos sociais asswnem o seu significado de acordocom a forma como são manipulados no contexto das acções colectivas. Os agrupamentossociais são incessantemente envolvidos em processos de negociação de significados. As socie-dades são constnúdas através de interacções simbólicas entre o eu e os outros. Só no mundoempírico concreto, que se abre à observação, podem o eu, o encontro, o objecto social ou osignificado ser investigados. Existe, pois, por detrás das sociologias interaccionistas simbólicas,um persistente imaginário de símbolos, processos, interacções e familiaridade íntima.

Histórias Controversas

Na tentativa para delinear a história do interaccionismo simbólico ao longo desteúltimo século, espero iniciar o leitor na obra de alguns dos principais autores e ideias destatradição teórica, sendo o meu propósito claramente sinóptico e cronológico. Existe actual-mente wn importante número de versões da história do interaccionismo simbólico que nosprovam que este é um domínio controverso onde é difícil alcançar o consenso. Denzin(1992, p. 8), provavelmente o expoente máximo desta teoria na actualidade, sugeriu recen-temente urna história em seis fases que se estendem desde o estabelecimento do «cânone»,entre 1890 e 1932, avançando através de outras fases, até à mais recente, a da «diversidadee da nova teoria: 1981-1990». No entanto, a sua proposta de periodização resulta algo arbi-trária, existindo muitas outras tentativas para produzir cronologias que não coincidem comesta. Isto não constitui motivo para surpresa, pois se o mundo é como os interaccionistas orepresentam, então podemos asswnir que (1) o interaccionismo simbólico não tem um sig-nificado fixo, (2) que as «teses»sobre a sua natureza e origens se podem transformar com otempo e se encontram, efectivamente, abertas a urna (re)negociação, e que (3) o seu «signi-ficado» depende, na verdade, das definições produzidas pelos outros significantes, em cujainteracção o seu sentido se forma.

Assim, as próprias origens e história da teoria são, elas mesmas, urn domínio contes-tado. Durante muito tempo, ensinou-se aos estudantes de sociologia que George HerbertMead foi o fundador do interaccionismo nos anos 1920. Mas o termo, propriamente dito,só foi cunhado por Herbert Blume; em 1937, no decurso de umpequeno artigo retrospec-

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teoria e Blumer como seu fundador. No entanto, fazê-lo representaria uma simplificaçãogrosseira de um problema de comunicação complexo e falsearia a própria teoria interaccio-nista simbólica. Isto porque para alguns o seu fundador é Robert Park (Strauss e Fischer,1978). Para outros é, de uma forma mais genérica, a EscóT;-a~~êl-;:iCâgo(joas, 1987). Paraoutros ainda é possível encontrar as suas origens nwnt~~pó-bâStantêmais remoto: com afi-

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nidades num retorno aos filósofos gregos da era clássica, a Heraclito, ao nominalismo esco-lástico do século XI ou, mais recentemente - há uns meros 200 anos -, aos moralistasescoceses ou à «Escola do senso comum da filosofia moral», conforme se encontra patenteno trabalho de David Hume e Adam Smith. Para eles a «sociedade é, necessariamente, amatriz a partir da qual a mente humana adquire a inteligência e os sentimentos morais»,desenvolvendo uma perspectiva rudimentar do processo de adopção de papéis sociais, do eue da mente (Shott, 1976). Todavia, parece pouco provável que muitos dos primeiros inte-raccionistas americanos tenham sido particularmente influenciados por esta literatura.

Quando chegamos aos desenvolvimentos mais recentes, o «significado» do interaccio-nismo simbólico não se torna mais claro. Durante várias décadas após a cunhagem do termopor Blumer, a.,sua ~~~~~!~.,e~~~~,l~E:~~,..e9,g,~~~$!2,;Howard Becker, um dos maisproeminentes mteracclOnistas contemporâneos, pôde alirmar ter estado em Chicago no finalda década de 1940 e no início da de 1950, sem, na altura, ter conhecido verdadeiramente otermo. De forma mais incisiva, o relato de Manford Kuhn sobre as principais tendências nointeraccionismo simbólico entre 1937 e 1964 - a que chama a «idade da inquirição» -refere «uma enorme profusão de subteorias, em cuja variedade de nomes nem sempre seincluía o interaccionismo simbólico» e lista, de entre estas, as teorias dos papéis sociais, dosgrupos de referência, do eu, a teoria interpessoal, as teorias da linguagem e da cultura e a teo-ria da percepção pessoal. Por alturas de 1970, quando numerosos manuais e artigos já tinhamsido publicados e o termo «interaccionismo simbólico» se encontrava plenamente estabele-cido, Meltzer, Petras e Reynolds (1975) introduzem a sua própria classificação de escolas, hojeem dia, largamente citada, dividindo-as em quatro correntes principais (Chicago, Iowa, Dra-matúrgica e Etnometodológica), tentando assim impor a um conjunto ae -té6ríaS1ietérogé-"lleãS'ulii"'@;~ra;-ôr(fêll~rltóque pode bem nunca ter existido:.Agg:~lf1:q~,Çhi<:agoé sim-

~~*~-t~fzfIkd~~~~I~:~tt~4~~~0r}~::s~~~~:;:~!~=â~~::~escola positivista, associada a Manford Kuhn, na Universidade de Iowa; no entanto, ambasas escolas reclamavam ser interaccionistas simbólicas. Apesar das controvérsias, nem a dra-1!.l~~~".~"~~~Çiç>.:ttiu~J.,-m;~._~__e~ometodologia _de qar~~e.l poderiam ser tão facilmentei;;:tt'gradas nesta família teófiêa--=::~uma"êõrrt;rà1iéS'em Dllililieim e a outra com raízes emParsons. Qualquer tentativa para produzir uma história do interaccionismo simbólico noséculo XX será consequentemente parcial e selectiva.

Primeiros Tempos: os Alicerces do Pensamento Interaccionista

Encarado como um domínio alargado do pensamento, pode encontrar-se no interac-cionismo simbólico alguma afinidade com um certo número de tradições intelectuais, mui-tas das quais emanadas - ou pelo menos residentes - na sociedade norte-americana.(É interessante que apenas exista um número muito reduzido de interaccionistas a trabalharfora dos Estados Unidos e do Canadá.) Conforme Shaskolsky (1970, p. 20) sublinhou:

o interaccionismo simbólico representa uma tentativa legítima para racionalizar, num sistema filosó-

fico distintivo, alguns dos mais subtis aspectos da sociedade norte-americana - aquilo que a um nível mais

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coloquial é conhecido como o american way 01 life e que, enquanto tal, se caracteriza pelo respeito pelo indi-

víduo e por uma crença na transformação gradual, com vista a dar uma resposta às necessidades flutuantes

da sociedade. Intrínsecas a esta teoria são o sentido de fluidez e a ênfase que atribui [...] às relações interpes-

soais flexíveis, enquanto base pata compreender os mecanismos de funcionamento da sociedade.

Há muitos dos pensadores iniciais que podem ser vistos como tendo contribuído paraa fundação do interaccionismo simbólico, existe, porém, um que não pode deixar de ser aquireferido. Charles Horton Cooley (1864-1929) foi membro da primeira geração de sociólo-gos americanos e um dos precursores do interaccionismo simbólico (teoria que então aindanão recebera esta designação). O seu trabalho era diferente do da maioria dos seus pares.Onde a grande maioria destes pioneiros defendia o darwinismo social, Cooley professavaum tipo de evolucionismo menos mecânico; onde a maioria adoptava uma posição refor-mista, inspirada com frequência na religião, Cooley era mais artístico e romântico; onde amaioria pretendia fazer da sociologia uma ciência rigorosa e objectiva, Cooley era um idea-lista mais preocupado com a introspecção e a imaginação - um dos primeiros «sociólogoshumanistas». Ele pretendia abolir os dualismos sociedade/indivíduo e corpo/mente - pers-pectivando as suas interligações como um todo funcional orgânico. O problema de raiz dasciências sociais residia para ele nas «relações mútuas entre o indivíduo e a ordem social, decomo a sociedade faz o homem e o homem faz a sociedade» (jandy; 1942). E, contudo, «avida da mente é, essencialmente, uma vida de relações» - imaginando imaginações.

Dois dos seus conceitos captaram a atenção interaccionista. O primeiro foi o conceitode «personalidade espelhos", no qual um sentido do eu se «espelha» e reflecte, através dosoutros, uma ideia que será bastante desenvolvida por James e Mead. O segundo é o de«grupo primário» - caracterizado pela interacção «íntima, face a face» - que, para Coo-ley, se opunha ao conceito de «grupo nucleado» (o qual será, posteriormente, designado porgrupo secundário).

Não obstante a importância de Cooley, é no trabalho dos pragmatistas norte-america-nos que a herança intelectual-chave deve ser procurada. Paul Rock (1979) demonstrou comclareza, na sua análise das raízes filosóficas do interaccionismo, que a sua fundação dimana,no essencial, de uma amálgama contraditória de pragmatismo e formalismo (ambos comraízes no pensamento europeu).

A Herança Pragmatista

O mais significativo alicerce intelectual do interaccionismo simbólico é, sem dúvida, opragmatismo: ele abarca a totalidade desta tradição. O prª-&~tisrp.o_~a,Jil~Q,fifl,çs;u,trª,LdaAmérica, d~ne;!ll!~_I~i~iJª"3,,,-Ç~~ 4.<:,ye~_dadesfundadoras fu..!1Q.~~gt~.§;,}r~.L~PJt~aa

~~~~i~::~~~~~!!~~~~~irâJliJr~;:.t:té ~~aª,"çm;,t~rJJlqS;"~)iW$,,Ç.Q,P§Ç.q!!~».si~.o9~,Y~9ro~tilitário. Trata-se de uma linha depensamento filosófico bastante terra-a-terra quesurge'Oiiuma época de mudança social ace-

* Looking g/ass se/f no original. (N do n

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lerada e que, curiosamente, vem a ser revitalizada no fim do século xx, pelos trabalhos deRichard Rorty, Giles Dunn e Cornell West (por ex. Dunn, 1992; Joas, 1993). Nela se pro-cura unificar o pensamento racional e os métodos lógicos com as actividades práticas e osapelos à experiência.

George Herbert Mead (1863-1931) é um dos nomes mais citados quando se fala da liga-ção entre o interaccionismo e o pragmatismo. Mind, Self, and Society, texto póstumo publi-cado em 1934, é uma obra de charneira na qual se transmitem muitas das ideias-chave tra-balhadas pelo interaccionismo: o forte enraizamento na sociedade da análise da experiência;a importância da linguagem, dos símbolos e da comunicação na vida dos grupos humanos;a forma como as nossas palavras e acções desencadeiam respostas nos outros mediante pro-cessos de adopção de papéis; a natureza reflexiva da personalidade; ou a centralidade do«acto», Unindo tudo isto encontramos o seu grande compromisso face ao papel da ciêncianos assuntos humanos; «o método científico [...] mais não é do que uma forma de inteli-gência parcial, altamente desenvolvida», «é o método do progresso social». Defendendo umaposição que foi algumas vezes designada por «relativismo objectivo», Mead referiu-se à «rea-lidade objectiva das perspectivas». São possíveis inúmeras versões da realidade, dependendodo ponto de vista adoptado na sua construção. A história, por exemplo, é sempre uma nar-rativa do passado, construída a partir do presente de alguém. Do mesmo modo, qualquerautor ou teoria permanecem abertos a múltiplas e diferentes interpretações e reinterpreta-ções. Fine e Kleinrnan, por exemplo, discutiram num intrigante artigo de 1986 o «"verdadeiro"significado de Mead», sugerindo que Mead pode ser visto como interaccionista simbólico,behaviorista social, psicofuncionalista, fenomenólogo, corporativista liberal, pragmatista, neo--kantiano, monista, idealista, hegeliano, realista, nominalista, estruturalista e empirista. Seráque o verdadeiro George Herbert Mead poderia, por favor, avançar?

No entanto, limitar a nossa atenção a Mead é um procedimento enganador, pois existem,pelo menos, três outros pragmatistas cujas obras tiveram impacto nas ideias interaccionistas:James (1842-1910), Dewey (1859-1952) e Peirce (1839-1914). As suas obras são muito dife-rentes, sendo possível antever nas suas diferenças algumas das futuras controvérsias intelectuaisque irão surgir no seio do interaccionismo: Peirce e Dewey são frequentemente vistos comorealistas, enquanto James e Mead são considerados nominalistas. James, por exemplo, apro-xima-se da fenomenologia, ao passo que Peirce defende uma prática realista na análise dos sig-nos. Com efeito, Charles Sanders Peirce é um dos fundadores da semiologia e o seu trabalhosegue, geralmente, linhas de orientação distintas das da corrente interaccionista principal.

Quaisquer que sejam as diferenças entre eles, todos abraçaram o pragmatismo. Fre-quentemente, esta distintiva filosofia norte-americana é grosseiramente deturpada - comosucede na filosofia do capitalismo de mercado, onde todas as ideias têm que ser ou úteis outer «valor financeiro». Isto, como reconheceu o próprio James, constitui uma séria distorção.O pragmatismo acolhe uma enorme multiplicidade de posições, mas no seu âmago podesugerir-nos três coisas. Em primeiro lugar, adverte-nos para a importância da sobreposiçãodo concreto e do particular, ao abstracto e universal. Assim, James afirma em Pragmatism(Perry, 1935, vol. 2, p. 315): «Malditos sejam os grandes impérios, incluindo o do absoluto[...] dêem-me os indivíduos e as suas esferas de actividade», enquanto Cooley (1956, pp. 36--7) anuncia em Human Nature and the Social Order: «Um indivíduo isolado é uma abstrac-

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ção desconhecida da experiência, tal como acontece com a sociedade, quando encarada comoalgo separado dos indivíduos. O que é real é a vida humana.» Com a importante excepção dePeirce, nenhum dos outros autores pragmatistas era entusiasta da construção de sistemas filo-sóficos ou - correspondentemente - da persecução de essências platónicas. Como diz Rorty(1982, p. 162): <A minha primeira caracterização do pragmatismo é a de que este é simples-mente um antiessencialismo, aplicado a noções como a "verdade", o "conhecimento", a "lin-guagem', a "moralidade" e a outros objectos semelhantes da teorização filosófica»

Consequentemente, temos em segundo lugar que a procura da «verdade» é indefensável,embora a busca de verdades e significados seja uma tarefa necessária e possível. As verdadessão concebidas em termos dos efeitos sensíveis produzidos pela linguagem, elas dependem do«auxílio que nos dão no estabelecimento de relações satisfatórias com outros domínios danossa experiência». Na sua expressão mais crua, temos o famoso dictum de W I. Thomas-«quando alguém define situações como reais, estas tomam-se reais nas suas consequências».De uma forma menos aforística, Peirce coloca isto na sua celebrada «máxima pragmática».

Considerem-se quaisquer efeitos que concebivelmente possam ter as implicações práticas que atribuí-mos ao objecto da nossa percepção. Então, a forma como concebemos essesefeitos constituirá a totalidadeda nossa concepção do objecto [...] A concepção total de [uma] qualidade, tal como qualquer outra, residena concepção dos seus efeitos. (Citado em Scheffier, 1974, pp. 77-8.)

E, em terceiro lugar, tal como foi já indicado, a posição pragmatista evita os dualismosfilosóficos, não existindo espaço na teoria para o divórcio entre o conhecedor e o conhecido,o sujeito e o objecto ou o criado e o determinado. Através de um enfoque no concreto, osintermináveis dualismos do pensamento filosófico ocidental podem, simplesmente, sertranscendidos.

o Fonnalismo e o Legado de Simmel

Uma segunda tradição intelectual com um importante papel na formação do interac-cionismo, pode ser encontrada na preocupação de Simmel com as formas. Georg Simmel(1858-1918) escreveu breves ensaios, vinhetas da vida social, ricos e texturados na sua por-menorização da ordem microscópica do social, mas, no seu todo, muito pouco sistemáticose inacabados. De qualquer modo, Simmel antecipa, em grande medida, muitos dos escritosinteraccionistas mais tardios. O âmbito das questões que coloca é vasto e variado: das obrassobre Kant e Goethe, passando pelos estudos sobre a arte e a cultura, até às suas importan-tes análises da religião, do dinheiro, do capitalismo, dos géneros, dos grupos, do urbanismo,da moral idade ou mesmo do amor - todos se integram nos seus muitos tópicos. O por-menor, e não a generalização abstracta, teve uma importância fundamental no trabalho deSimmel, uma vez que este defendia que, na medida em que não era possível apreender otodo ou a totalidade em si mesmos, qualquer fragmento de estudo podia permitir ao inves-tigador uma apreensão do todo.

A sua muito característica sociologia distingue a forma do conteúdo e aspira à realizaçãode um corte transversal, através da rniríade de experiências sociais contrastantes, como meio

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de penetrar nas formas subjacentes à associação humana: o conflito e a acomodação, a defe-rência e a hierarquia, o prendimento e a degradação. Ela procura capturar as «formas» que seencontram por detrás da vida social e proporcionar uma «geometria da vida social». Nos seusoriginais escritos, Simmel fez uma distinção entre os «conteúdos» da vida social (a guerra, osexo, a educação, a política) e as «formas» (como por exemplo, o conflito) que atravessam essesmesmos conteúdos e através das quais a vida social é padronizada. O conflito, enquantoforma, pode ser identificado em diversas situações, tais como a guerra, o amor ou a política ecertas características comuns podem ser aí encontradas. Assim, enquanto os «conteúdos»variam, as «formas» emergem como características organizadoras da vida social. De entre asformas centrais no pensamento de Simmel, destacam-se o significado dos números no ali-nhamento dos grupos (o indivíduo isolado, o par, o trio, etc.), os padrões de sobreordenaçãoe de subordenação, as relações de grupo (conflitos, competições, alianças), as identidades e ospapéis (o estrangeiro, o pobre), as revelações (segredos, sociedades secretas) e a avaliação (pre-ços, trocas). Em certo sentido, o trabalho de Simmel constitui uma forma elementar de teo-ria estrutural, podendo ser encarado como algo parcialmente oposto às raízes pragmáticas dointeraccionismo. No entanto, conforme demonstrarei mais adiante neste capítulo, no decursoda história do interaccionismo houve uma preocupação importante com as formas, pois nocentro da empresa interaccionista encontra-se a demanda das formas da interacção social.Assim, dispersos pelas suas análises, encontramos um conjunto de micro-conceitos, tais comoos de carreira, mundo social, personalidade, estigma, contexto de percepção, enredo,mudança de status, estratégia, papel, comportamento colectivo, perspectiva, desempenho,trabalho emocional, e assim por diante. Estes talvez não sejam exactamente o que Simmeltinha em mente, mas não deixam de nos proporcionar articulações inteligíveis que atraves-sam diversos campos substantivos e trazem luz aos processos subjacentes em operação, atra-vés dos quais a interacção é alcançada.

o Apogeu Interaccionistar a Sociologia de Chicago em Acção

As tradições da filosofia pragmatista e da teoria formalista convergem na sociologiaempírica da Escola de Chicago: em grande medida, através da obra de Robert E. Park (1864--1944) - ele próprio um estudioso da obra de Simmel, que vem a tomar-se director dodepartamento e, para alguns, no verdadeiro fundador do interaccionismo simbólico. Parklevou para Chicago a preocupação, quer com o estudo da riqueza do mundo empírico, talcomo este se revela na cidade, quer com a detecção de «padrões» na vida urbana (Mathews,1977).

Nas quatro primeiras décadas do século xx, a sociologia de Chicago dominou a sociolo-gia norte-americana. Ela marca profundamente o advento da sociologia moderna, tendocomo teoria implícita o interaccionismo. Foi em Chicago que se estabeleceu o primeirodepartamento de sociologia (fundado, em 1892, por Albion Small), surgindo com ele a pri-meira grande revista sociológica, o American [ournal of Sociology (em 1895), a AmericanSociological Association, em 1905, o primeiro importante manual universitário intituladolntroductíon to the Science ofSociology (em 1921), obra da autoria de Robert Park e E. Burgess,bem como um número significativo de programas de doutoramento e uma importante série

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de monografias de investigação. A sociologia de Chicago encontrava-se firmemente empe-nhada na realização de um trabalho directo no terreno e no estudo do mundo empírico, oque contrastava com as tendências mais abstractas, sistematizadoras e teóricas tanto dos soció-logos norte-americanos que a precederam, como dos que se lhe sucederam. Foi aí que Tho-mas e Znaniecki escreveram The Polish Peasant in Europe andAmerica, uma das obras do iní-cio do século XX que mais marcou a sociologia norte-americana, actualmente negligenciadacom demasiada prontidão. Foi aí que Park disse aos seus alunos «vão e sentem-se nos átriosdos hotéis de luxo e na entrada das pensões baratas; sentem-se nos sofás da Costa Douradae nos catres dos bairros pobres; sentem-se nos salões de orquestra e nos teatros burlescos.Em resumo, vão e gastem o fundilho das calças a fazer verdadeira investigação» (Bulmer,1984, p. 97). Foi aí que a cidade irrompeu viva, como um «laboratório social» e como um«mosaico de mundos sociais» que aguardavam uma investigação detalhada. E foi também aíque surgiu uma torrente de estudos de caso clássicos, onde obras como The Gang de Trasher,The Jack Roller de Shaw, The Hobo de Anderson, The Go/d Coast and the Slum de Zorbaughe The Ghetto de Wirth, mais não são do que meros exemplos (veja-se Faris, 1970). Dignosde uma nota particular foram o desenvolvimento da observação participante e do método deestudos de caso. É esta preocupação com a teoria empírica que continua a permear a escritainteraccionista e a torna, possivelmente, na única teoria empírica importante do século xx.As fundações do interaccionismo estão assentes numa observação naturalista directa domundo empírico. Há uma preocupação persistente com as questões do método (veja-seHarn-mersley, 1989). Trata-se de um aspecto que, no final do século, continua a fazer parte do inte-raccionismo, embora actualmente se tenha tornado num problema bastante mais complexo(veja-se Denzin, 1991; 1992).

Nos anos 1930, Herbert Blumer (1900-86) levou tudo isto bem mais longe. Tendoestudado na Universidade de Chicago, irá continuar o trabalho lectivo de George HerbertMead, substituindo-o, após a sua morte no início da década de 1930, nas cadeiras por queera responsável. A ele se deve a cunhagem do termo interaccionismo simbólico e a sua maispersistente preocupação foi a conversão da sociologia num estudo terra-a-terra da vida dosgrupos. A sua posição encontra-se patente de uma forma clara na sua mais importante obra:Symbolic lnteractionism (1969).

Com efeito, é Blumer quem providencia o «cânone- interaccionista mais frequente-mente referido, pelo que vale a pena citá-lo. Sugere-nos que esta teoria se encontra COllS-

truída em torno de três premissas básicas:

A primeira premissa é a de que os seres humanos agem em relação às coisas, com base nos significados

que estas têm para eles [...] A segunda premissa é a de que o significado de tais coisas deriva ou emerge da

interacção social entre o indivíduo e os seus pares. A terceira premissa é a de que estes significados são mani-

pulados e transformados por intermédio de um processo interpretativo utilizado pelo indivíduo para lidar

com as coisas com que se depara. (1969, p. 2)

Estas premissas são de grande importância para a condução do trabalho de campo, tão cen-tral nesta perspectiva teórica, embora dificilmente constituam urna «teoria» elaborada. Noentanto, Blurner repudiava as teorizações abstractas. Não lhe agradava a tendência dos sociólo-

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gos para analisar fenómenos que não tinham testemunhado em primeira mão e alimentava umaaversão particular pelas teorias macrossociológicas abstractas. Em alternativa, defendia umametodologia que permitisse explorar e examinar a rica variedade da experiência social tal comoera vivida, que possibilitasse a construção de conceitos sensibilizáveis a partir da experiência, queproduzisse teorias fundadas directamente no mundo empírico e que controlasse a relevânciades-sas teorias através de um continuado retorno ao mundo empírico. Em termos concretos, osmeios de comunicação de massas, a moda, os comportamentos colectivos, as relações indus-triais, as relações raciais e o estudo de histórias de vida constituíram os seus principais objectosde interesse. Convém ainda clarificar que, embora tenha escrito bastante acerca de Mead, Blu-mer não se limita a ser um intérprete da sua obra, é também um pensador original. Beckerobservou que «poucos sociólogos ficaram insensíveis ao seu pensamento», pois Blumer não sófoi um crítico sério de muito do que estava errado nas teorias e métodos sociológicos do seutempo, como também fomentou com o seu trabalho um posicionamento teórico axiomático--dedutivo em relação à acção colectiva. Com efeito, há indícios de que, depois da sua morte em1987, a obra de Blumer se encontra perto de ser considerada um dos principais legados inte-lectuais da sociologia americana. (O seu trabalho é homenageado numa edição da revistaSymbo-lie lnteraction [1988], publicada pouco depois da sua morte.)

No início da década de 1980, surgem duas importantes obras que reconstruíram esta his-tória inicial do interaccionismo em Chicago, levando em conta o papel que nela é desempe-nhado por Blumer. A primeira, intitulada The Making ofSymbolic lnteractionism, foi escritapor Paul Rock, um destacado interaccionista britânico, e sugeria que «o interaccionismopodia ser utilmente explicado sob a forma de uma amálgama da sociologia formal de Simmele de uma epistemologia pragmatista» (Rock, 1979, p. 28). Esta é a linha de argumentaçãoque esbocei no início deste capítulo. No segundo estudo, porém, J. David Lewis e RichardL. Smith desenvolveram uma abordagem mais controversa. Intitulada American Sociology andPragmatism: Mead; Chicago Sociology and Symbolic lnteractionism, esta obra, oriunda da desig-nada escola interaccionista ,de Illinois, apresenta-nos uma «história revisionista», na qual osautores argumentam que «apesar dos interaccionistas simbólicos remeterem as raízes do inte-raccionismo simbólico blumeriano para Mead, uma análise dos textos mostra que Blumer eMead nem sequer pertencem ao mesmo campo metateórico» (Lewis e Smith, 1980, p. 25).Procurando situar as raízes do interaccionismo, não só filosoficamente, mas também combase nas listas bibliográficas do curso e nos contactos que estabeleceram em Chicago, nos anos1920 e 1930, Lewis e Smith concluem que Mead era um realista (próximo de Peirce),enquanto Blumer era um nominalista (mais próximo do pragmatismo de James e Dewey).Blumer, é sugerido, reconstruiu o interaccionismo de um modo muito mais individualista esubjectivo do que aquele que seria encontrado no trabalho de Mead. As críticas e os debatesque se seguiram à publicação desta última obra deram lugar a um conjunto de polémicas,cuja discussão não cabe aqui nestas páginas (Plurnrner, 1991, vol. 1, 3.a parte).

A Continuação do Compromisso em Meados do Século: a Marcha dos Interaccionistas

No início dos anos 1950, a «sociologia de Chicago» estava em declínio. Park morrera,Burgess tinha-se reformado e Blumer mudara-se para a Califórnia. No entanto, as tradições

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do interaccionismo simbólico continuaram vivas durante o período de expansão que aquidesignámos por «a idade da inquirição». Num importante artigo revisionista, publicado em1964, Manford Kuhn (o putativo líder da escola científica interaccionista de Iowa), numaretrospectiva dos vinte e cinco anos que o precederam, identifica uma série de desenvolvi-mentos conceptuais importantes que vão da teoria dos papéis sociais à «teoria da linguageme da cultura» (Kuhn, 1964). E dois anos antes, uma original colecção de ensaios, editada porArnold Rose, dava conta do alargado conjunto de trabalhos de investigação então em cursono quadro daquela tradição em crescimento, no qual eram contemplados domínios tão diver-sos, como os que vão da sociologia da família e do trabalho, até à sociologia do desvio sociale da saúde (Rose, 1962). Assim, em meados do século xx, vemos com clareza que, quer teó-rica, quer empiricamente, o interaccionismo simbólico tinha deixado as sua marcas. Não háespaço numa breve retrospectiva como esta para dar conta de todas as suas tendências e desen-volvimentos. Algumas foram recentemente identificadas como uma Segunda Escola de Chi-cago (Fine, 1995). Seleccionaremos arbitrariamente dois influentes autores que estiveramligados a esta última - Becker e Goffman - e uma evolução do interaccionismo a que esti-veram ligados: a etnometodologia. Becker é um autor que se tornou conhecido principal-mente pela abordagem, partindo de uma perspectiva interaccionista, do problema do desviosocial; Goffman, o grande dissidente da ortodoxia interaccionista, tornou-se indiscutivel-mente no mais eminente «microssociólogo» do século XX; e a etnometodologia - conhecidapor um vasto conjunto de designações - evoluiu de forma a tornar-se numa tradição maior,dotada da sua própria autonomia.

Becker

Nascido em Chicago, onde estudou e trabalhou a maior parte da sua vida, Howard S.Becker doutorou-se em 1951 com uma tese sobre o professor do ensino oficial de Chicago.Um pouco mais tarde, realizou um estudo sobre um grupo ocupacional constituído poruma banda de músicos de salão de dança, também envolvidos no consumo de drogas.Quando foi publicado, Outsiders (1963) estabeleceu Becker como um dos mais destacadosteóricos do desvio social, defensor da perspectiva teórica da rotulagem*. Teorizações da pro-blemática do desvio social aparecem apenas em poucas teorias da corrente sociológica prin-cipal (temos Merton, com a sua teoria da anomia, por exemplo), mas, em geral, são total-mente negligenciadas. Ora, Becker aplicou as preocupações interaccionistas ao estudo dodesvio social, apresentando-o como um acto colectivo que envolve quem o define num pro-cesso que forma os seus próprios resultados - incluindo identidades, culturas e legislações.O desvio era um processo simbólico que envolvia a construção e a aplicação de símbolos des-viantes. E este era o prenúncio, quer da teoria da rotulagem, quer daquela que mais recente-mente ficou a ser conhecida como a «teoria do construtivismo social» (veja-se Plummer,1991). No entanto, apesar da proeminência de Becker no campo da teoria do desvio social,muito do seu trabalho continuava a evidenciar preocupações bastante mais amplas com aproblemática da cultura: no trabalho (conforme sucede com o seu estudo de uma escola

* Labeling tbeory no original. (N do T)

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médica, intitulado Boys in White), na arte (no seu Art Worlds) e na cultura de um modo geral(Becker e McCall, 1990). Tendo revelado um interesse constante pelo estudo dos princípiosda organização social e das formas como as pessoas continuam a «fazer coisas juntas», Bec-ker recomendava, constantemente, o rigor metodológico na condução do trabalho decampo e no estudo directo dos grupos. Porém, à imagem da maioria dos interaccionistas,não utilizava nunca uma metodologia fixa, consubstanciada em «fórmulas» - em trabalhosposteriores, por exemplo, ele foi pioneiro na utilização da fotografta na teoria sociológica(Becker, 1981). (Becker discute a evolução do seu pensamento numa entrevista com BobMullan [1987].)

Goffinan

Erving Goffman (1922-1982) foi pioneiro na aplicação da perspectiva dramatúrgica àsociologia. AB influências em Goffman são muitas. Após ter concluído a licenciatura emToronto, Goffman prosseguiu com os seus estudos de doutoramento em Chicago no finalda década de 1940, onde vem a sofrer a influência do trabalho desenvolvido por interaccio-nistas simbólicos como, por exemplo, Everett Hughes e Herbert Blumer. Existiram, porém,outras influências que tiveram o efeito de colocar Goffman numa posição diferente, senãomesmo única. A mais evidente destas encontramo-la no trabalho dos neodurkheimianos,especialmente no de Warner e na sua preocupação com o simbólico e o ritual na vida quoti-diana (semelhante àquela que se pode encontrar em Shils e Banfield). No início da década de1950, Goffman realizou o seu primeiro trabalho de campo importante nas ilhas Shetney, naEscócia (vivia, então, em Edimburgo), onde efectua as primeiras observações da vida quoti-diana que irão conduzi-lo à elaboração da influente obra The Presentation ofSelfin EverydayLife* (1959) e ao esboço da sua grelha de análise dramatúrgica. Analisa a vida social atravésda metáfora do teatro, interessando-se pela forma como os indivíduos desempenham papéise gerem as impressões que de si próprios transmitem uns aos outros em diferentes cenários(administração de impressões). Nesta obra é revelada a persistente preocupação de Goffmancom a ordem da interacção - aquilo que as pessoas fazem na presença dos outros.

Nas suas duas obras seguintes, o interesse dramatúrgico mantém-se, mas aplicado agoraao campo do desvio social. Stigrna (1961) continua a ser um trabalho em moldes simmelia-nos, oferecendo-nos uma análise formalista das características daqueles que experimentamsituações de estigrnatização, ao passo que Asylums (1963) se refere ao trabalho de campo rea-lizado no interior de um hospital psiquiátrico e traça a carreira moral de um doente mental.Com base neste estudo de caso, Goffman desenvolve um relato mais genérico do modo defuncionamento das instituições totais. Ambos os trabalhos, uma Vf2 mais, vieram a revelar--se bastante influentes no desenvolvimento da teoria da rotulagem.

Muitos dos seus trabalhos posteriores - incluindo Encounters, Behavior in Public Pla-cese Relations in Public- prosseguem com a sua análise dramatúrgica e providenciaram umdicionário de novos conceitos (miniconceitos, como um comentado r lhes chamou) que nos

* Tradução portuguesa: Goffinan, E., A apresentação do Eu na uida de todos osdias. Relógio d'Água: Lisboa, 1993.(N do T)

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permitem compreender os minuciosos aspectos da interacção face a face. Tais conceitos têminfluenciado toda uma geração de académicos interessados em estudar a vida quotidiana.Porém, no final da década de 1960, o trabalho de Goffman apresentava sinais evidentes doseu interesse crescente pela fenomenologia e pela sociolinguística. Assim, em Frame Analysisdeparamos com uma tentativa para retratar a organização da consciência e em Forms ofTalk,uma viragem linguística explícita.

Apesar dos seus muitos seguidores, a obra de Goffman permanece única nos anais dasociologia. Ele quebrou todas as regras: as suas fontes eram obscuras; o seu trabalho no ter-reno parece ser mínimo - agradando-lhe mais o romance e a biografia do que a observa-ção científica. O seu estilo não era o de um relato científico, mas sim o de um ensaísta e oseu trabalho era frustrantemente assistemático. O principal contributo de Goffman resideno facto dele nos ter mostrado a profunda complexidade que caracteriza a forma como, atra-vés da multiplicidade das interacções humanas, as sociedades se organizam. Para nos ajudara compreendê-lo, desenvolveu nos seus escritos um grande número de conceitos, desfiandoa aridez de uma sociologia metodologicamente sofisticada, mas a que faltava a substância.Tentou demonstrar que a ordem da interacção era a ponte entre os níveis micro e macro daanálise sociológica, um desafio mais tarde retomado pelo trabalho de Randall Collins(1983). Goffman morreu em 1982. O seu último artigo, «The Interaction Order» (1983),apresenta um sumário das suas ideias principais.

Etnometodologia

Uma outra tradição emergente, muitas vezes associada (erradamente) ao interaccio-nismo, carece de menção no presente capítulo: a da etnometodologia. Apesar das frequen-tes tentativas para casar esta tradição com o interaccionismo simbólico, ela é vista por algunscomo uma sociologia distintiva e alternativa que realça as lógicas e os procedimentos usadosnos vulgares encontros do dia-a-dia para conferir significado à vida quotidiana. Lida com oproblema clássico da sociologia - como é que a existência da sociedade é possível? como épossível a ordem social? - e argumenta que a ordem é algo obtido pelas pessoas nas suasactividades diárias. As mais compreensivas ideias de Garfinkel não derivaram de Mead, dospragmatistas ou da Escola de Chicago, mas sim, em última análise, de uma crítica a Parsonse de uma inflexão na direcção de Schutz e da fenomenologia; Os etnometodologistas estu-dam aquilo a que Boden chamou «o mundo tal como acontece». Ela argumenta, na suasinopse deste campo teórico, que «em lugares e momentos determinados, os indivíduosfazem o que fazem para serem razoáveis e eficazes e fazem-no por razões predominantementepráticas, subordinados às inevitáveis condições locais de conhecimento, de acção e de dis-ponibilidade de recursos materiais» (Boden, 1990, p. 189).

A etnometodologia é, pois, o estudo dos métodos (ou das lógicas), através dos quais aspessoas conferem sentido às suas vidas quotidianas: ela procura descrever e explicar as regras,as estruturas e os processos que permitem conduzir a vida social. Partindo, em primeiro lugar,da linguagem, inspira-se na fenomenologia e na semiologia para estudar as formas implícitasde ordenação do mundo social, formas essas assumidas e muitas vezes dadas como adquiri-das. Encara a totalidade do mundo social mais como um tópico de investigação do que como

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um acervo de recursos utilizáveis na busca de explicações. Por exemplo, ao abordar o pro-blema do suicídio, o etnometodologista preocupa-se mais em perceber a forma como as pes-soas juntam e organizam as suas ideias e noções acerca daquele fenómeno (como tópico), doque com o estudo do próprio suicídio em si (enquanto recurso).

O termo «etnornetodologia» foi cunhado por Harold Garfinkel no decurso de umainvestigação de 1954, relativa ao processo de tomada de decisões por parte de um júri de tri-bunal. A tarefa de Garfinkel consistia em entrevistar os jurados acerca das decisões que toma-vam e procurar estabelecer uma correspondência entre as suas respostas e os procedimentosque tinham lugar no tribunal. Aos poucos, começou a tomar consciência de que havia neces-sidade de estudar os «métodos» através dos quais os jurados tomavam as suas decisões comunsdo dia-a-dia - evocando ideias como as de justiça, verdade, evidência, ete. Que métodos uti-lizavam na tarefa de conhecer o mundo (Garfinkel, 1967)? Outros interessavam-se pelos pro-cessos através dos quais eram produzidas estatísticas: mediriam elas um evento real, ou limi-tar-se-iam a medir o trabalho das agências produtoras de estatísticas?

Muitos sociólogos rejeitaram por completo a etnometodologia, mas, mesmo assim, elatornou-se numa disciplina alternativa relativamente próspera, com os suas publicações, con-ferências e centros de excelência próprios. Algum do criticismo sociológico baseava-se naignorância ou em preconceitos: temos, por exemplo, a perspectiva frequentemente defen-dida de que a etnometodologia não passava de um ramo do movimento hippie californianodos anos 1960, ou que esta era uma abordagem demasiado subjectiva. Esta segunda crítica,em particular, é bastante frágil, uma vez que a etnometodologia reclama ser a mais objectiva,científica e «externa» das perspectivas. Há, porém, uma crítica - a de que a etnometodolo-gia negligencia as questões relativas à estrutura social, à história e à política -. que deve serconsiderada de forma mais séria.

A etnometodologia defende que toda a sociologia é sociologia popular (folk sociology),trabalhando a partir das suas próprias assunções, ete. Se a tarefa consistia em estudar a lógicapela qual a vida social podia ser construída, então o próprio acto de estudar, de escrever e defazer sociologia, podia, em si próprio, ser analisado, pela sua lógica inerente. A sociologia tor-nou-se numa «disciplina popular» e era ela própria um objecto a investigar. Isto representoupara ela um balde de água fria. Ao ser exposta, toda a sociologia se tornava suspeita, pelo quenão é de estranhar o facto de a etnometodologia ter suscitado tantas críticas provenientes docampo da sociologia, uma vez que constituía uma ameaça para as próprias fundações daqueladisciplina.

o Momento Crítico: Uma Viragem na Sorte

O interaccionismo simbólico foi, no decurso da década de 1960, uma teoria bastanteinfluente, antes de mais nada, em virtude das críticas que tece à ascendente teoria parso-niana, tendo também ajudado a reformular o pensamento num número significativo decampos de inquirição da sociologia (designadamente nos domínios do desvio social, da

. sociologia ocupacional, da sociologia da educação, da sexualidade e da medicina). A partirde meados da década de 1960, começaram a surgir manuais e compêndios a um ritmo cres-cente, facto que ajudou a estabelecer e, efectivamente, a consolidar as bases da corrente inte-

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raccionista como uma espécie de nova ortodoxia, pelo menos no campo da psicologia socialsociológica (um exemplo mais recente pode encontrar-se em Herman e Reynolds [1994].)No entanto, como sucede com qualquer ortodoxia, esta convidava à crítica e, no início dadécada de 1970, o interaccionismo encontrava-se debaixo do fogo cruzado de críticas impla-cáveis. Numa influente obra retrospectiva da teoria sociológica, os Mullins (1973) podiamdizer (p, 98):

É claro que as ideias originais que se desenvolveram no seio do interaccionismo simbólico, como as dasociologia americana convencional, chegaram, intelectual e socialmente, ao fim do seu percurso. Alguns auto-res interaccionistas permanecem activos, publicando trabalhos e, enquanto corrente teórica da psicologiasocial, o interaccionismo simbólico ainda mantém a sua respeitabilidade. No entanto, como produtor demudanças, como orientação geral da sociologia e como oposição constante do funcionalismo estrurural, che-gou ao fim da linha.

Embora, em 1983, esta posição tenha sido ligeiramente modificada, os sinos dobravama finados. Uma litania de bem conhecidos fracassos foi colocada à sua porta. Acusado de serindividualizante e subjectivo em vez de estrutural e objectivo, o interaccionismo simbólico eraconsiderado relativista em extremo, metodologicamente desnorteado e confuso nas suas con-ceptualizações, especialmente do eu. Em simultâneo, era acusado de ser excessivamente volun-tarista e excessivamente determinista. Aqueles que possuíam uma inclinação mais psicológica,sugeriam-nos que esta orientação teórica negligenciava tanto a vida emocional como o incons-ciente (que outra sociologia é disto acusada?), enquanto os sociólogos estruturalistas defen-diam que ela era incapaz de lidar com as questões do poder, da estrutura, da economia e dahistória. Muitos sugeriam que o interaccionismo se encontrava excessivamente preocupadocom o transitório, o episódico, o marginal e o exótico - negligenciando áreas completas davida dos grupos. E, para cúmulo, era ainda encarado como ideologicamente problemático,uma vez que, dependendo do ponto de vista do crítico, ou era demasiado conservador oudemasiado liberal. Dada a magnitude desta investida (discutida em Meltzer, Petras e Reynolds[1975], discussão mais tarde aprofundada por Denzin [1992]), não nos surpreende que noinício da década de 1970 os Mullins pudessem anunciar a morte do interaccionismo.

No entanto, tratou-se de um enterro prematuro. Ao mesmo tempo que muitas das preo-cupações iniciais se transformavam em ortodoxias maduras, devidamente codificadas em tex-tos, compêndios, retrospectivas e declarações programáticas, verificava-se também que umaresposta bastante séria era dada aos ataques dos críticos. Com efeito, a investida crítica dadécada de 1970, pode bem ser vista como prenúncio de um processo de inovação e renova-ção radicais que iria ter lugar entre os interaccionistas. É que, na mesma altura em que estasseparações e ataques ocorriam, o interaccionismo simbólico era, finalmente, «institucionali-zado». Aquilo que inicialmente começou por ser apenas um pequeno simpósio, realizado em1974 em casa de Gregory P.Stone (e no qual participaram, entre outros, o próprio Blumer eCarl Couch [Iowa], Norman Denzin [Illinois], Peter Hall [Missouri], Harvey Faberman[Stony Brook], David Maines e R S. Perinbanayagam [Hunrerj), acaba por levar ao estabe-lecimento da Sociedade para o Estudo da Interacção Simbólica (SSS1), com as suas própriasconferências, revistas e um boletim informativo. Este simpósio marcou, portanto, o início de

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uma nova fase, radicalmente distinta, no desenvolvimento desta corrente teórica, que nasce apartir de uma «cultura fortemente oral», no decurso das primeiras cinco décadas deste século,passa por uma «idade da inquirição» e por um período de crítica nas décadas intermédias, até,finalmente, ter chegado ao tempo da sua instirucionalização e possível revitalização. E assimse foi entrando, de forma progressiva, na «era pós-blumeriana» (Fine, 1990).

Ao longo deste período mais recente verifica-se que há uma grande dose de produti-vidade. Contrariando a previsão dos Mullins, os interaccionistas recuperam as suas forças, nãosó para demonstrar as falhas dos seus críticos, mas também para forjar novas linhas de inves-tigação, novos conceitos e novos métodos. Esta renovação, porém, abarcará várias tradiçõesconcorrentes. Já não mais se pode falar da divisão simples entre a Escola de Chicago e a Escolade Iowa - sendo a primeira mais naturalista e humanística e a segunda a mais científica equantitativa - pois, actualmente, o campo diversificou-se por muitos e distintos rebentos.Assim, ternos alguns interaccionistas que se exprimem num tom ortodoxo, rigorosamente«científico»; outros que procuram uma disciplina humanista, mas, mesmo assim, científica; eoutros ainda que consideram a «ciência» como um objecto central nas suas investidas críticas,enveredando por um caminho que conduz ao mundo da «teoria pós-moderna». Alguns con-tinuam a sublinhar que a incorporação da «estrutura» é vital para o trabalho interaccionista;outros desenvolvem novos conceitos para estabelecer a ponte entre o micro e o macro;enquanto alguns rebeldes são bem capazes de negar, no seu todo, a existência de uma ordemsocial mais vasta. Alguns permanecem puristas, apegando-se à ortodoxia dos escritos interac-cionistas tradicionais, mas outros há que enveredam pelas mais recentes correntes intelectuaiseuropeias: Habermas é cooptado, Foucault encadeado, Derrida absorvido, Baudrillard utili-zado, Kohut assimilado e Giddens relacionado. O pensamento interaccionista contemporâ-neo não se encontra, pois, limitado por nenhuma posição única, seguindo antes por inúme-ras vias distintas. Gary Alan Fine, numa importante retrospectiva (1990) consegue citarinteraccionistas durkheimianos, simmelianos, weberianos, marxistas, pós-modernos, fenome-nologistas, feministas radicais, semiologistas e cornportamentalistas (p. 120). De igual modo,têm sido apresentadas, noutros lugares, longas listas de autores e de obras interaccionistas (ex,Adler, Adler e Fontana, 1987; Denzin, 1992, p. xix). No futuro, será talvez melhor falar de«sociologias interaccionistas» no plural, reconhecendo a existência destas posições divergentes.

O campo contemporâneo dos estudos interaccionistas encontra-se, assim, em fermenta-ção. Continua a existir uma linha de orientação que observa de perto e em primeira mão avida quotidiana: a qual será talvez melhor designada por sociologia do quotidiano - poisé essa a sua principal preocupação (Adler, Adler e Fontana, 1987). Alguma desta investigaçãoempírica conduziu à abertura de novos e importantes campos de inquirição: são exemplos odesenvolvimento de uma sociologia das emoções (Kemper, 1990), a criatividade da análiseconversacional (Boden, 1990), o enfoque na lógica dos media e na forma como as audiênciasos acolhem (Altheide, 1991), o estudo dos movimentos sociais ou o ressurgimento da «teo-ria dos problemas sociais».Também se tem verificado urna crescente percepção das afinida-des entre a análise interaccionista e os cultural studies: com efeito, alguns dos primeiros traba-lhos interaccionistas - o de Blumer sobre o cinema, por exemplo - anteciparam umnúmero significativo de preocupações-chave dos actuais cultural studies (Blumer, 1933; Bec-ker e McCall, 1990; Denzin, 1992).

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o melhor exemplo de fermento empírico é, provavelmente, a sociologia das emoções.No final da década de 1970, o interaccionismo foi acusado de «negligenciar as emoções» (ape-nas, suspeito, no caso das sociologias). Esta transformou-se em ainda mais uma das objecçõesnormalmente levantadas ao interaccionismo. No entanto, tal pretensão já deixou se ser sus-tentáveL O estudo que abriu o caminho foi, certamente, The Managed Heartde Adie Hochs-child. Um estudo ostensivamente empírico sobre as hospedeiras do ar, onde se demonstra queuma das competências centrais para o desempenho dessa função era a capacidade para nego-ciar as emoções. Este já não é um trabalho vulgar, como o que podíamos encontrar no pas-sado. Em vez disso, «actualmente, o estilo emocional da prestação do serviço já se tomounuma parte integrante do próprio serviço» (Hochschild, 1983, p. 5). Existem, agora, muitasocupações que exigem um «trabalho emocional», questão a partir da qual o problema maisgeral da gestão das emoções se toma visível - os modos como algumas são mantidas sobcontrole, cuidadosamente apresentadas, intencionalmente «forçadas» ou engenhosamentedisfarçadas. A emoção deixou, assim, de ser algo que surge autonomamente em nós, e que édo domínio dos psicólogos; ela é antes algo que emerge na interacção, resultando, muitasvezes, de um trabalho de elaboração. Expressões como «não me posso permitir mostrar dema-siada emoção», «eu tento ser feliz», «permiti-me um bom choro», «eu não estou preparadopara me apaixonar novamente» mostram tais processos em operação. O estudo de Hochs-child conferiu, portanto, à emoção o seu próprio lugar na análise sociológica, apesar de tercrescido a partir de um trabalho empírico, como acontece com frequência em muitas das teo-rizações interaccionistas.

O contributo desta autora não é, porém, único. Um certo número de interaccionistasabordou este problema nos últimos anos e trata-se de uma matéria negligenciada com exces-siva frequência pela teoria sociológica. Para alguns, a tarefa tem sido a abordagem de emoçõesconcretas, tais como a vergonha (Scheff, 1988) ou o desgosto (Lofland, 1985). Outros têmtido a preocupação de circunscrever as características genéricas da emoção - regras para a suaadministração - ou de elaborar abordagens narrativas da mesma. Outros têm-se interessadopela universalidade das emoções, enquanto outros ainda têm-se focado nas suas muito espe-cíficas propriedades concretas - aproximando-se da experiência vivida (Kemper, 1990).

Ao longo da última década, verificou-se, pois, um avanço real neste domínio. Noentanto, trata-se de um avanço teórico que é contingente sobre o trabalho empírico. Existe,tal como sucedeu ao longo de toda a história do interaccionismo, um forte interesse em evi-tar que a teoria se divorcie das actividades práticas da vida quotidiana. Cumulativamente,estes estudos empíricos parecem assinalar, pelo menos, cinco desenvolvimentos cruciais paraa teoria interaccionista: a transposição da divisão entre micro e macro; o desenvolvimentoda metáfora da textualidade; o renovado interesse pelo simbólico; a procura de processos for-mais genéricos; e o avanço «em direcção à política». (Futuras sinalizações alternativas podemver-se em Fine [1990] e Stryker [1987]).

Ultrapassando o Corte entre o Micro e o Macro

Talvez o mais central dos desenvolvimentos (e uma resposta clara à objecção mais cen-tral), tenha sido o crescente interesse pelas questões macrossociológicas por parte dos inte-

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raccionistas que gradualmente se voltam para o poder, para a história e para a produção deversões distintivas da ideia de estrutura social. Já não se poderá, pura e simplesmente, excluiro interaccionismo como uma teoria a-estrutural, apolítica e a-histórica: com efeito, paraalguns, o interesse dos interaccionistas pela estrutura social, colocou-os «na "vanguarda" dasociologia» (Fine, 1983). Pois não só muito do mais recente trabalho tratou com algumdetalhe os aspectos supostamente «negligenciados», como também nos mostrou que umexame menos limitado dos textos clássicos revela, também aí, preocupações com essas ques-tões. O enfoque limitado sobre a teoria do eu de Mead, por exemplo, negligencia, de umaforma perversa, as suas preocupações com a história, com a sociedade como um todo e o seusocialismo imanente. Como diz John Baldwin, «o contributo levado a cabo por Mead é bemmaior do aquele que lhe é normalmente reconhecido. Ele desenvolveu uma teoria unificadada sociedade que integra tanto o nível micro, como o nível macro dos eventos sociais,enquanto evoluem e se transformam no tempo» (1986, p. 6). E o mesmo é verdade no querespeita Herbert Blumer: criticado pela sua subjectividade excessiva, existe uma certa ten-dência para ler o seu trabalho de forma selectiva, como se ele se tivesse interessado apenaspor matérias sociopsicológicas. Mas, como David Maines demonstrou claramente, esta visãodepende de «uma série de mitos [... ] criados e perpetuados em relação ao trabalho de Blu-rner» (1988, p. 44). Uma leitura selectiva de Blumer, mesmo quando realizada pelos seussimpatizantes interaccionistas, ignora a importância dos seus comentários acerca das relaçõesraciais, do processo de industrialização e das relações industriais, com um alcance muitomais macrossociológico.

Não obstante, será nos escritos interaccionistas contemporâneos que este interesse pelaligação entre os níveis micro e macro se tornará mais evidente. Uma ponte mais ampla doque a conseguida pelo trabalho de Carl Couch é difícil de imaginar: num dos extremos daanálise, ele foca o momento interactivo de pessoas a passar por portas, no outro, foca civili-zações inteiras e as formas sociais através das quais estas são constituídas. Um estende a pas-sagem para o outro. O domínio do micro e o domínio do macro não deviam estar divor-ciados de uma forma tão clara (Couch e Hintz, 1975; Couch, 1984). De igual modo, oprocesso político foi analisado, partindo do nível em pequena escala da tomada de decisõese da negociação face a face, para chegar até às muito mais vastas forças hegemónicas da lin-guagem política em operação na definição de realidades. Para alguns, «são as micro situaçõesrepetitivas aquilo a que chamamos estrutura social»; construindo uma imagem da sociedadeque a apresenta como uma série de cadeias de «ritual interactivo» e encarando as «rnacroes-truturas», tais como os Estados ou os sistemas mundiais, como algo que simplesmente existenuma dimensão maior do que as suas correspondentes micro situações ([Collins, 1983, p.184] e todo o trabalho subsequente que desenvolve a sua teoria da cadeia interactiva). ParaHall, a organização social pode ser abordada através de seis molduras principais: «actividadecolectiva, redes, práticas convencionais, recursos, temporalidade-processualidade e funda-mentação» (Hall, 1987, p. 11). Em geral, é adoptada uma abordagem do tipo «Lego-": aordem interactiva interliga-se em muitos níveis da vida social. Assim, enquanto o eu e a sua

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* O autor utiliza a expressão «building block aproach», que traduzida à letra significa blocos de brincar, um jogoinfantil que consiste na sobreposição de blocos para efectuar construções várias. (N tÚJ T)

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preocupação nuclear com o outro podem ser uma unidade interactiva-chave, esta tem queser entrelaçada numa densa teia de camadas interactivas, cuja escala vai aumentando pro-gressivamente: de encontros, papéis, grupos, organizações, mundos sociais, agrupamentos,sociedades e civilizações. E todas elas são constituídas por intermédio de acções conjuntas;as suas interconexões são as bases de ordens negociadas e, por conseguinte, a organizaçãosocial transforma-se «numa rede recorrente de actividade colectiva» (embora esta seja umaexpressão de Howard Becker, veja-se Hall, 1987). fu características destas actividades e dassuas ligações tornam-se, então, o ponto de partida para a investigação empírica.

Um importante imaginário da ligação entre o micro e o macro nasce de um sentido daorganização social que ocorre numa «mesoestrutura» - «como se combinam com-à actividadehumana as forças societais e institucionais» (Maines, 1982, p. 10) - através das negociaçõesinterpessoais inscritas numa vasta cadeia de acções conjuntas. Surgindo, em parte, como res-posta à crítica de que os interaccionistas não dispunham dos instrumentos teóricos e metodo-lógicos necessários para lidar com questões relativas à estrutura social, a teoria da «ordem nega-ciada» esboçou uma imagem dos mecanismos da organização social que os apresenta comoresultado da participação activa dos seus membros, não sendo este, de modo nenhum, um con-ceito estático. De acordo com Maines e Charlton (1985), as origens desta teoria podem encon-trar-se num conjunto de fontes clássicas,tais como o conceito dialéctico de sociedade de Mead,as ideias de Blumer de processo interpretativo e de acção conjunta, a caracterização que Parknos dá da sociedade como uma sucessão de conflitos, adaptações e assimilações e a preocupa-ção de Hughes com a flexibilidade institucional. A ideia de «ordem negociada» é, porém, esta-belecida e desenvolvida com maior clareza nos trabalhos de Anselm Strauss e dos seus colegas,em especial, em Psychiatric ldeologies andlnstitutions (1963) e no posterior, Negotiations (1978).Este autor concebe a ordem social como «algo em que os membros de qualquer sociedade oude qualquer organização têm que trabalhar, pois os acordos partilhados [... ] não representamcompromissos permanentes [... ] é necessário revê-los, uma vez que as [... ] bases da acção con-certada (ordem social) devem ser continuamente constituídas; ou trabalhadas». Esta teoria des-taca, assim, a emergência, a mudança e a temporalidade; a natureza inerente e contextual daordem; a omnipresença das relaçõesde poder específicas;a constante segrnentação e a fragmen-tação das ordens sociais. No seu mais recente trabalho, Strauss (1991; 1993) construiu a suaimportante teoria da acção sobre estas ideias que encara como «Permutas Contínuas da Acção».

O estudo clássico de Denzin, acerca da indústria americana de bebidas alcoólicas (1977),é mais um' exemplo da forma como é tratado este problema. Ele demonstra, empiricamente,como é que numa indústria que se organiza em cinco «níveis» distintos - a manufactura,a distribuição, a venda a retalho, os bebedores e a «ordem legal»- cada «nível»se interelacionapara produzir uma ordem interactiva mais ampla do fenómeno do consumo de bebidas alcoó-licas.A realidade teórica para os interaccionistas - a sua «problemática» - reside, pois, na abor-dagem destas interpenetrações. fu sociedades abstractas (ou os indivíduos isolados) não inte-gram a esferada sua análise.No entanto, estas interpenetrações constituem enormes redes sociaisabertas à investigação. Os velhos debates «estrutura/acção» ou «micro/rnacro» podem ser postosde lado, de forma bastante razoável,através de uma focagem inflexívelna interacção, onde estesdualismos são, invariavelmente, unidos, e, por conseguinte, encarados como dernonstravel-mente falsos. Os termos «rnesoestrutura» ou «rnesodornínio» surgiram para designar a região

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interaccional situada entre o encontro face a face e a estrutura social mais vasta. É uma teia deordens negociadas que se vai acumulando, até formar uma sociedade mais alargada. Tudo istorepresenta uma tentativa deliberada para desacreditar a distinção e a oposição entre o micro e omacro defendida por grande parte da sociologia e sugere-nos que o «problema da tendência--estrutural do interaccionismo é uma questão morta» (veja-seDenzin, 1992, p. 63).

Textualizando o Social

Um inovador desenvolvimento central, provavelmente capaz de vir a ter importantes con-sequências, tem sido a crescente preocupação metodológica dos interaccionistas com a lingua-gem. Ensinamentos da linguística e da teoria literária, em particular, foram tomados deempréstimo e retrabalhados. Uma muito maior atenção é agora conferida tanto à linguagemem que o mundo social é estudado, como aquela em que ele é descrito. Assim, por exemplo,em alguns dos escritos interaccionistas iniciais - como no estudo de caso de The Jack Rollerou na etnografia de Tea Room Trade, por exemplo -, as linguagens utilizadas para descrever avida ou a acção eram tomadas como caracterizações realistas, pensando-se que estas, de algumaforma, capruravam a verdade do que sucedia. Presumia-se que a etnografia interaccionista«relatava os factos, tal como eram». No entanto, tal já não é mais o caso. O interaccionismotornou-se muito mais auto consciente das formas como apresenta e fala da narrativa. Existeuma distinção muito clara entre as experiências que um interaccionista tenta capturar e as«estratégias de redacção» e a «organização narrativa» que irão depois representá-la (Atkinson,1990). Para alguns, tais como Norman Denzin (quer na discussão de obras como The JackRoller, Agnes, Movies as Conduct, quer no seu próprio trabalho) ou Patricia Ticineto Cloughsugere que:

Não só todas as representações factuais da realidade empírica, mesmo as representaçóes estatísticas, são

[... ] narrativamente construídas, como a própria construção narrativa da factualidade ou das positividades

empíricas tem sido a forma dominante de comunicação com as massas, desenvolvida desde o aparecimento

do romance realista. (Clough, 1992, p. 2.)

Num outro lugar, demonstrei a forma como o interaccionismo se pode constituir numvalioso mecanismo para abordar o acto social de contar e ouvir histórias, enquanto acção con-junta (Plurnrner, 1995). Outros levaram esta «viragem narrativa» ainda mais longe, tentandoencontrar novos modos de apresentar a sua informação. Assim, num estudo os autores apresen-tam o seu material sob a forma de poesia, de um guião teatral representado e de correntes de cons-ciência contendo muitas «vo~ individuais» (veja-seEllise Flaherty, 1992). Noutros trabalhos elatransforma-se numa ferramenta central para repensar a metodologia da sociologia (vejam-seRichardson, 1990; Clough, 1992; Maines, 1993).

o Tempo dos Signos

Um outro importante desenvolvimento prende-se com a crescente percepção dos inte-raccionistas, relativamente à necessidade de ligar a teoria à semiótica. Como presidente da

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da Sociedade para o Estudo da Interacção Simbólica, Fred Davis, afirmava em 1981 que(p, 115):

o que é digno de nota acerca [dos muito bons estudos interaccionistas] é [... ] (na melhor das hipóte-ses) a forma profundamente contingente ou (na pior) a total negligência com que trabalhamos os materiaissimbólicos, por intermédio dos quais o processo de geração de significados se desenvolve. A nossa análisedetém-se ao nível da «definição da situação».

Não será, então, estranho que uma teoria com raízesna semiótica de Peirce e na teoria dossignos de Mead, possa despertar, em última análise, um interesse tão limitado por estas ques-tões? Não obstante, durante os anos 1970, desenvolveu-se um forte interesse pelas teorias «dosigno», permitindo a emergência, como determinado estudo o designa, do «tempo dos signos»(MacCannell e MacCannell, 1982). Então tudo tinha que ser «descodificado». Dos filmes àtelevisão, da literatura, passando pela arquitectura até à arte, a semiótica passou a preocupar-secom o significado desta enorme variedade de signos e com a possibilidade de descodificar a suaestrutura oculta. Os signos são estratificados, classificados e de seguida desmontados, na buscado seu significado implícito. Acredita-se que da mesma forma que se pode descobrir que o«inconsciente» se encontra «estruturado como uma linguagem», também se podem analisarprogramas de televisão pelos seus «códigos genéricos». Assiste-se, assim, à emergência de umaenorme indústria intelectual orientada para a descodificação dos nossos mundos simbólicos.No seu melhor, esta proporcionou-nos algumas pistas brilhantes, no seu pior foi entorpecedo-ramente incompreensível - referindo-se à linguagem numa linguagem que nunca com-preenderemos. No entanto, as raízes de grande parte desta tradição remetem-nos para o tra-balho de Saussure e para a semiologia - não para Peirce e Mead.

O facto de o interaccionismo simbólico ter, em grande parte, ignorado estes desenvol-vimentos, parece, à primeira vista, desconcertante. Por que é que um grupo de autores tãopreocupados com o simbólico, haveria de passar tão longe desta tendência central da análisesimbólica? A resposta a esta questão é nos sugerida por Fred Davis:

do ponto de vista do interaccionismo simbólico, a grande fraqueza dos estudos inspirados por esta aborda-gem (serniótica), tem que ver com a sua aparentemente invariável tendência para reduzir qualquer corpo dematerial simbólico que se encontre sob escrutínio - seja este a linguagem utilizada na realização de negó-cios ilícitos, nos sonetos de Shakespeare, na astrologia, na arte expressionista abstracta ou no design urbano- a uma espécie de código hermético que presurnivelmente ordena e explica o fenómeno em questão.(1981, p. 120)

A persistente preocupação dos interaccionistas com a forma como os significados emer-gem na e através da interacção, é ignorada pela semiologia estruturalista, sendo, em seulugar, atribuída aos símbolos «uma qualidade peculiarmente hermética, estática e adventí-cia» (p. 120).

Para os interaccionistas, esta teoria da construção de significados pode ser facilmenteencontrada, quer em Mead, quer em Blumer, e não tentarei resumi-la aqui de novo. Apesarde tudo, no núcleo da teoria dos significados interaccionista, permanecem certas ideias que

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não são totalmente compatíveis com o modo de análise da «codificação semiológico-estru-rural».

1. O significado nunca é fixo nem codificado, mas sim algo em permanente emergên-cia: não se encontra nem «nos objectos», nem «nas cabeças», emergindo antes nasacções conjuntas.

2. O significado é ambíguo. Embora muitos significados sejam trabalhados repetida-mente e, por isso, transformados em «hábitos» ou em «perspectivas partilhadas», nãoapresentam uma clareza final inerente.

3. O significado é triangular. Depende do gesto de um, da resposta de outro e do actoconjunto que emerge entre ambos.

4. O significado depende do processo interpretativo, um processo que está em perma-nente reajustamento ao quadro do processo social colectivo.

Cada uma destas afirmações representa uma forma de dizer, mais ou menos, a mesmacoisa: que o significado não é um código fixo, mas antes o resultado das disputas efectuadasem torno de signos. Nas palavras de Rochberg-Halton (1987), o signi..6.cadoé «um diálogosocial de signos». Ora, o interaccionismo recente tem mostrado um interesse renovado nestediálogo.

A Construção de Uma Teoria Formal da Interacção

Inevitavelmente, o interaccionismo tende a concentrar-se no incipiente, no incompleto,no que é construido pouco a pouco e no ecléctico. Repudia os grandes absolutos universaisprocurados por tanta da ciência social. E, no entanto, para a teoria evoluir, há uma perma-nente necessidade de realizar um trabalho cumulativo, abordagens sistemáticas e de procurargeneralizações. No passado, muito do interaccionismo falhou na realização destas tarefas.Contudo, recentemente, verificou-se uma inflexão na teoria em direcção a um interaccio-nismo mais sistemático e metódico. Isto pode ser visto em diversos manuais que tentam reor-denar o campo conceptual com base no interesse renovado por «processos sociais genéricos»ou nas tentativas para melhorar a lógica da investigação interaccionista: a indução analíticafoi refinada, a indução enumerativa sistematizada e as teorias empíricas aprofundadas.

Assim, Glaser e Strauss, seguindo a tradição formalista de Simmel e Park, tentaram desen-volver a sociologia formal. Na década de 1960, aqueles dois autores desenvolveram uma baselógica de grande importância para o desenvolvimento teórico, cuja influência tem sido grande.A metodologia da teoria empírica e o método comparativo constante distinguem um vastoleque de diferentes tipos de teoria (Glaser e Strauss, 1967). Assim, a teoria substantiva foca asua atenção numa área particular, tal como o comportamento na sala de aulas, enquanto a teo-ria formal relaciona diferentes áreas substantivas, mediante processos comuns. As mudanças destatus, por exemplo, podem ocorrer entre professores, idosos, homossexuais, moribundos, defi-cientes, em cultos religiosos, em movimentos políticos, em situações laborais ou em activida-des criminosas. Embora os signi..6.cadose as experiências difiram de grupo para grupo e requei-ram um estudo substantivo mais atento, existe um processo mais genérico em operação que

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articula os mecanismos sociais da mudança, nas vidas das pessoas.Assim, no seu trabalho sobrea morte, Glaser e Strauss deslocam-se de uma rica área de investigação substantiva (as enfer-marias de oncologia e o processo da morte) para uma análise teórica mais sustentada das for-mas comuns (tais como a passagem de status e contextos de consciência). Partindo de umestudo de caso pormenorizado acerca de uma doente em fase terminal (a Sr.a Abel- veja-seStrauss e Glaser, 1977), estes autores procuraram comparar este com outros importantes tiposde mudança de status, por forma a desenvolver uma teoria mais «formal» das mudanças de sta-tus, partindo da apresentação das características comuns a todas as mudanças de status. De umestudo substantivo concreto nasce, assim, uma teoria mais comparativa, abstracta e formal.

Também John Lofland reconheceu as fraquezas dos estudos interaccionistas não cumu-lativos, por intermédio do seu conceito de «interrupção analítica», que definiu como (1970):

começando por desempenhar uma cerra rarefa, mas falhando no avanço para uma lógica implícita ou con-

clusão incorporada. Esta designação aparece, normalmente, associada à ideia de falha em atingir um clímax

inicialmente implícito [...] Muitos (estudos) implicam urna análise dos mecanismos, dispositivos, estratégias

e afins (mas) negligenciam, efectivamente, a realização de tais tarefas. A sua apresentação permanece desor-

denada, vaga e meramente sugestiva.

Em vários trabalhos, Lofland tentou superar esta deficiência, organizando grelhas deanálise e sintetizando, efectivamente, uma grande parte do trabalho interaccionista. Assim,em Doing Social Life (1976), uma obra bastante negligenciada, ele consegue articular mui-tas descobertas, numa grelha teórica coerente e em Analysing Social Settings (Lofland eLofland, 1983), um livro de «culinária metodológica», encoraja outros a fazê-lo. Se estiverciente dessa tarefa e das anteriores tentativas para lidar com ela, não há razões para que, nofuturo, a investigação interaccionista não se possa tornar mais cumulativa e sistemática, doque aquilo que, muitas vexes, tem sido no passado. .

De igual forma, Robert Prus (1987), ainda mais recentemente, faz um novo apelo nestesentido. Para ele, a tarefa central é localizar processos sociais genéricos, sublinhando cincodimensões-chave da vida de grupo, necessárias a uma sociologia processual genérica: a aqui-sição de perspectivas, a conquista da identidade, o envolvimento, a realização de actividadese a experimentação de relações.

Não se trata, certamente, de defender a insistência exclusivanum trabalho cumulativo declassificação, pois o próprio sentido interaccionista do ambíguo, do marginal e do estranho,não se compadeceria com isso.No entanto, algumas deslocaçães neste sentido ajudariam a evi-tar que cada nova geração de interaccionistas tenha que repetir a história.

Criando Uma Consciência Política

Tradicionalmente, muito do trabalho interaccionista tem sido colocado numa posiçãolivre de valores - uma posição que muitos críticos, como, por exemplo, os Schwendingersna obra The Sociologists oi the Chair, viram como um inerente conservadorismo. Seria,porém, mais justo e verdadeiro encarar a maior parte (mas não todo) o interaccionismo,como uma sociologia da reforma democrática. Com raízes no pragmatismo (e na sua preo-

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cupação com as políticas públicas), na sociologia de Chicago (e na sua preocupação com areforma social na cidade) e nas tradições do pensamento romântico/radical/irónico/huma-nista, o interaccionismo simbólico proporciona, com frequência, um tipo de análise socio-lógica crítica que aspira à introdução de melhorias. Isto é algo que pode ser detectado no tra-balho conjunto de Park e Booker T. Washington e no seu interesse pela transformação dasrelações raciais através de uma «catarse de compreensão» (Matthews, 1977, p. 163). Encon-tramo-lo nos primeiros trabalhos de Blumer, sobre relações raciais e sindicatos. Está omni-presente no trabalho de C. W Mills - que, com efeito, era um interaccionista marxistalatente - e também lá está, nos anos 1960, quando Howard Becker procura defender osmarginais, ou nas críticas radicais de Goffinan em Stigma e Asylums. O interaccionismo pre-tende melhorar a qualidade da vida quotidiana dos cidadãos e vários estudos recentes esta-beleceram, claramente, esta ligação.

Em algum do trabalho mais recente isto tornou-se ainda se mais claro. Verificou-se, emalguns escritos, uma inflexão na direcção do feminismo (Clough, 1992), dos movimentospolíticos homossexuais e lésbicos (Plummer, 1995) e até de uma «sociologia verde». Verifica--se, em muitos estudos, um esforço não só para recuperar algumas das mais amplas críticasde classe, da previdência e da economia, mas também para desenvolver princípios políticosmorais de mudança concretos. Muito deste trabalho apresenta afinidades com as políticasmulticulturalistas que emergem nos Estados Unidos em finais da década de 1980. Há umacrítica cultural ousada dos pressupostos de base de produtos culturais, tais como o cinema -as imagens ideológicas de raça, de classe e de género aprisionadas nos textos de filmes, porexemplo, têm sido um importante ponto de confluência da atenção de Denzin, na sua crí-tica cinematográfica. Este autor, na obra lmages ofPostmodern Socíety (1991), tenta mostrar-nos formas de escapar à gaiola da dominação cultural (p. 157).

Muita da teoria interaccionista favorece a acção política. Não só a sua ênfase etnográficaacarreta fortes tendências (debunking), mas também a sua visão última dos seres humanos quelutam para compor linhas de actividade social - para «fazer coisas em conjunto» - pro-porciona um imaginário que pode ser útil na actividade democrática.

Entrando no Século Pós-Moderno

Ao longo do século xx, o interaccionismo simbólico tem sido uma perspectiva teóricaaltamente produtiva. Os objectos a que deu ênfase foram-se alterando, à medida que o pró-prio século se transformou, embora tenha sempre existido um empenhado interesse pelafamiliaridade concreta da forma como fazemos coisas em conjunto nos emergentes mundossimbólicos. Ele é, antes de mais nada, uma teoria sem muita substância: na verdade, esperaque a substância lhe chegue, através do mundo empírico que procura. Por conseguinte, commais facilidade do que a maioria das teorias, pode alterar prontamente os seus pólos de inte-resse à medida que o mundo social que pretende estudar se altera.

Numa altura em que o final do século XX se aproxima e em que cada vez mais comen-tadores, críticos culturais e afins nos sugerem que estamos a avançar para a nova ordem socialda pós-modernidade, também o interaccionismo pode, ele próprio, muito prontamente,facultar-nos análises desse mundo. Muitas das características da teoria antecipam o pensa-

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mento pós-moderno: o interesse pelos signos e símbolos, a imanente viragem desconstrutivaatravés da focagem manifesta na «construção social», a inflexão auto-reflexiva nas estratégiasde realização do trabalho de campo e de redacção dos respectivos resultados, o interesse delonga data pela cultura e pelos meios de comunicação de massas; a formulação de teorias daidentidade social- todos eles aspectos característicos do pensamento social pós-moderno.Na verdade, para vários comentadores, os pós-estruturalistas estão hoje a «descobrir aquiloque os interaccionistas têm aclamado desde sempre: a natureza contingente dos significadose, por conseguinte, da realidade» (veja-se Fine, 1991, p. 145).

A ligação entre o interaccionismo simbólico e o pensamento pós-moderno tem consti-tuído um dos principais focos da atenção interaccionista desde finais dos anos 1980. Váriosvolumes de Studies in Symbolic Interaction (o anuário interaccionista) foram dedicados ao pós--modernismo (ver, em especial, os volumes 11, 12 e 13). As análises etnogrãficas das históriasde vida, dos filmes, dos corpos e, de uma forma mais genérica, da cultura, tornaram-se proe-minentes, a par de uma «viragempós-moderna» que destaca a importância de questionar aretórica, as técnicas de redacção, os textos sociais, o cyberpunk, as narrativas resistentes e afins.Um sabor distintamente novo surge na mais recente geração de escritos. Até os textos clássi-cos do interaccionismo são averiguados - desconstruídos - sob este novo olhar crítico.

A sorte do interaccionismo no século XX tem sido variável, mas as suas realizações foramformidáveis. Com uma rica base filosófica, uma notável história de investigação e uma habi-litação consistente para se reconstruir à luz da vida social que emerge, o interaccionismo sim-bólico exerceu um encantamento duradouro na sociologia do século xx. Ele recordou con-sistentemente aos teóricos mais importantes deste século que é necessário um regressocontínuo à inspecção e à exploração da vida quotidiana, fundado nos mundos sociais ernpí-ricos. Pois é aqui que a teoria pode ser reabastecida e regenerada - mesmo quando essemundo empírico pode estar a tornar-se crescentemente pós-moderno.

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Bibliografia SuplementarEncalço da Evolução Teórica

A declaração formal clássica desta corrente teórica, pode ser encontrada na colecção de ensaios de Herbert Blu-

mer (1969), intitulada Symbolic lnteractionism: Perspective and Method. (Nora: na presente secção, só serão fornecidos

todos os pormenores bibliográficos para os casos de obras que não tenham ainda sido referidas na Bibliografia.) Esta

corrente tem, ainda, a sua própria revista, Symbolic lnteractionism, o seu anuário, Studies in Symbolic Interaction, bem

como a sua própria sociedade, a «Society for the Study of Symbolical Interactionism» (SSSI).

Outras importantes declarações programáticas podem encontrar-se nos ensaios de Howard S. Becker (1986),

Doing Thing; Together; de Norman Denzin (1992), Symbolíc lnteractionism and Cultural Studies; de Melrzer, Petras e

Reynolds (1975), Symbolíc Interactionism: Gmesis, Varieties and Criticism; de LarryT. Reynolds (ed, revist.), Interactio-nism: Exposition and Critique, Nova Iorque: General Hall, 1990; de Sheldon Tryker, Symbolic lnteraction: A StrucutralApproach, California: BenjaminlCummins, 1980; de Denzin (1989), lnterpretative lnteractionism; e de Strauss (1993),

Continual Permutations of Action. O compêndio clássico é, desde há muito, a obra de A Lindesmith, A Strauss e

N. K Denzin (dir.), Social Psicholog;y,Englewood Cliffi, NJ: Prentice Hall, 1991 (7.a ed.). Existe uma ortodoxia apre-

sentada em muitos textos para estudantes. De entre os mais proeminentes, encontramos aqui os de J. M. Charon,

Symbolic Interaction, Englewood Cliffi, NJ: Prentice Hall, 1992 (4.a ed.); de J. P. Hewit, Self and Society, Nova Jersey:

Allyn e Bacon, 1994 (6.a ed.): de R. H. Lauer e W H. Handel, SocialPsychology: The Theory andApplicatiomofSymbo-lic lnteractionism, Boston: Houghton Miffiin, 1977.

Selecções de importantes leituras podem encontrar-se em obras como a de Nancy J. Herman e LarryT. Rey-

nolds, Symbolíc lnteraction: An lntroduction to Social Psicholog;y, Nova Iorque: General Hall, 1984; de J. G. Manis e

N. Melrzer, Symbolic lnteraction: A Reader.in Social Psichology (1967); de K Plummer, Symbolic Interactionism, vols.

1 e 2 (I 991), e de G. Stone e H. Faberman (dir.) Social Psychology through Symbolic lnteractionism, Chichester: Wuey,

1981 (2.a ed.). Artigos retrospectivos sobre o interaccionismo, podem encontrar-se em Gary Alan Fine, «Symbolic

interactionism in the post-Blumerian age» (1990); em Hans Joas, «Symbolic interactionisrn» (1987); em S. Srryker,

«The Vitalization of Symbolic Interactionisrn» (1987) e «Symbolic interaction and the Role Theory» (1985); em G.

Lindzeye E. Aronson (dir.) The Hand Book ofSocial Psychology, Nova Iorque: Random House, pp. 311-78, 1985.

Para um esboço da história do interaccionismo, A Strauss e B. Fischer «Interactionisrn», 1979; J. David Lewis e

Richard L. Smith, Amerícan Sociology and Pragmatism: Mead, Chicago Sociology and Symbolic lnteraction (1980); e Paul

Rode, The Making ofSymbolic Irueractionism, 1979; são boas formas de começar. Acerca da retaguarda de Chicago: ver

as listas e os debates integrados em E. Faris, Chicago Sociology: 1920-1932, 1970; e L. Kurtz, Evaluating Chicago Sacio-logy:A Cuide to Literature, Chicago: University of Chicago Press, 1984. Sobre o background pragmatista, ver Dimitri Sha-

lin, «Pragmatism and Symbolic inreractionism», in American Sociological Raneu: 51, 1986, pp. 9-29. Acerca de George

Herben Mead, ver a importante bibliografia de Richard Lowry, «George Herbert Mead: a Bibliography of the Secon-

dary Literature with Relevant Symbolic Interactionist References», in Studies in Symbolic lnteraction, 7, parte B, 1956,

pp. 459-521. Compilações dos seus escritos podem encontrar-se emAndrew J. Reck (dir.), SelectedWriting;: George Her-bert Mead, Indianapolis: Bobbs-Merril, 1964; Anselm Strauss (dir.), George Herbert Mead on Social Psychology, Chicago:

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o INTERACCIONISMO SIMBOUCO NO SÉCULO XX - 253

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Sobre a teoria do se/f, veja-se C. Gordon e K]. Gergen (dir.), The Se/fin Social Interaction, Nova lorque: Wuey,

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Estudos que ajudam a desenvolver uma perspectiva mais alargada incluem Howard S. Becker, Art Wor/ds, Ber-

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Existe uma série de debates em torno das críticas mais comuns apontadas ao interaccionismo. Duas retrospec-

tivas-chave da «crítica estrutural» podem encontrar-se em Peter M. Hall (1987), «Interactionisrn and the Srudy of

Social Organization», e em D. R Maines e J. Charlron (1985), «The Negotiated Order Approach to the Analysis of

Social Organization». «Symbolic lnteraction and Social Organization», editado por Gary Alan Fine, proporciona-nos

um bom número de exemplos (publicado num número especial de Symbolic Interaction, 6, 1983, pp. 69-122).Acerca das implicações políticas do interaccionismo, ver o artigo de Peter Hall, «A Symbolic Interactionist

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Acts: Structure and Meanings in Everyday Life, Carbondale: Southern Illinois University Press, 1985; e em Eugene

Rochberg- Halron, Meaning and Modernity: Social Theory in the Pragmatic Atitude, 1986. Ambos tentam «actualizar»

a visão interaccionista dos símbolos, através de ligações às mais recentes correntes intelectuais da fenomenologia, da

semiologia e do desconstrutivismo, enquanto permanecem firmemente entrincheirados na sua «atitude pragrnatista».

A relação do interaccionismo com a semiologia, foi discutida em Norman K Denzin, «On Semioties and Symbo-

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discurso semiológico e às teorias estruturalistas, ver Peter K Maning, «Structuralisrn and Social Psychology», in Studiesin Symbolic Interaction; 8, 1987, pp. 93-119, e 1987 Semiotics and Fieldwork, 1987.

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Page 30: o Interaccionismo Simbólico no séc XX_Ken Plumer

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254 - o PROBLEMA DA RELAÇÃO MICRO-MACRO

Uma Teoria Emplrica: Situando, Empiricamente, o lnteraccionismo Simbólico

A maior parte dos fenómenos sociais foi investigada por autores interaccionistas. De seguida apresentam-se algunsexemplos que mostram como se funde a teoria com o mundo empírico.

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