O LAZER E A CORPOREIDADE NA FUNDAÇÃO CURRO VELHO… · englobando os diversos interesses humanos....

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1 O LAZER E A CORPOREIDADE NA FUNDAÇÃO CURRO VELHO: tempo e espaço de acesso à cidadania Danilo Rodrigues da Rocha 1 Acadêmico do CEDF/ UEPA [email protected] Patrícia de Araujo 2 Orientadora do CEDF/UEPA [email protected] Resumo: O lazer é uma área que gera muitas discussões quanto ao conceito e sua prática. O presente estudo teve como objetivo geral compreender o processo educativo do lazer na Fundação Curro Velho (FCV), a partir das interfaces lazer, corporeidade e cidadania. Esta pesquisa apresenta como universo de estudo os oficineiros atuantes na FCV. Este estudo se deu a partir da pesquisa de campo, com abordagem qualitativa de caráter participante. A obtenção dos dados se deu através de um questionário aberto que se utilizou da análise do discurso segundo Orlandi (1999) para a interpretação dos dados coletados. Ao analisarmos os dados podemos tecer algumas considerações preliminares no trato do lazer na FCV, que proporciona o desenvolvimento da corporeidade do aluno através das vivências, a partir das distintas áreas do lazer, de forma que o mesmo é desenvolvido por animadores socioculturais qualificados na área de atuação, a partir de diversas formações. Palavras-chave: Lazer; Corporeidade; Cidadania, Fundação Curro Velho. INTRODUÇÃO No Brasil, as discussões referentes à área do lazer estão cada vez mais intensas e, no campo da Educação Física, esta temática se encontra no centro de vários debates. Este estudo, por sua vez, tem como objetivo primordial buscar compreender o processo educativo do lazer na Fundação Curro Velho (FCV) a partir das interfaces lazer e cidadania, neste contexto abordaremos um pouco sobre o papel desta fundação, visto que no passado era o antigo Curro Público de Belém, para que se possa ter a dimensão da importância que este lugar teve e tem hoje, enquanto fomentador do lazer. 1 Graduando do curso de Licenciatura Plena em Educação Física / UEPA. Participante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Lazer na Amazônia (GEPLAM). 2 Graduada em Educação Física e Pedagogia. Mestre em Motricidade Humana e Doutora em Pedagogia da Educação Física.

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O LAZER E A CORPOREIDADE NA FUNDAÇÃO CURRO VELHO: tempo e

espaço de acesso à cidadania

Danilo Rodrigues da Rocha1 Acadêmico do CEDF/ UEPA

[email protected]

Patrícia de Araujo2 Orientadora do CEDF/UEPA [email protected]

Resumo: O lazer é uma área que gera muitas discussões quanto ao conceito e sua prática. O presente estudo teve como objetivo geral compreender o processo educativo do lazer na Fundação Curro Velho (FCV), a partir das interfaces lazer, corporeidade e cidadania. Esta pesquisa apresenta como universo de estudo os oficineiros atuantes na FCV. Este estudo se deu a partir da pesquisa de campo, com abordagem qualitativa de caráter participante. A obtenção dos dados se deu através de um questionário aberto que se utilizou da análise do discurso segundo Orlandi (1999) para a interpretação dos dados coletados. Ao analisarmos os dados podemos tecer algumas considerações preliminares no trato do lazer na FCV, que proporciona o desenvolvimento da corporeidade do aluno através das vivências, a partir das distintas áreas do lazer, de forma que o mesmo é desenvolvido por animadores socioculturais qualificados na área de atuação, a partir de diversas formações. Palavras-chave: Lazer; Corporeidade; Cidadania, Fundação Curro Velho.

INTRODUÇÃO

No Brasil, as discussões referentes à área do lazer estão cada vez mais

intensas e, no campo da Educação Física, esta temática se encontra no centro de

vários debates. Este estudo, por sua vez, tem como objetivo primordial buscar

compreender o processo educativo do lazer na Fundação Curro Velho (FCV) a partir

das interfaces lazer e cidadania, neste contexto abordaremos um pouco sobre o

papel desta fundação, visto que no passado era o antigo Curro Público de Belém,

para que se possa ter a dimensão da importância que este lugar teve e tem hoje,

enquanto fomentador do lazer.

1 Graduando do curso de Licenciatura Plena em Educação Física / UEPA. Participante do Grupo de

Estudos e Pesquisa em Lazer na Amazônia (GEPLAM).

2 Graduada em Educação Física e Pedagogia. Mestre em Motricidade Humana e Doutora em

Pedagogia da Educação Física.

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Logo, esta pesquisa se pautou na seguinte problemática: como se desenvolve

o lazer e a corporeidade na Fundação Curro Velho enquanto tempo/espaço de

acesso à cidadania? Deste modo, no primeiro capítulo, foi feito um mapeamento do

desenvolvimento do lazer, conceituando-o de acordo com o pensamento de

estudiosos da área. Assim, foram feitos questionamentos acerca do acesso ao lazer

e da formação dos animadores socioculturais, com o intuito de analisar as ações

referentes às interfaces do lazer, da corporeidade e do acesso a cidadania.

Também foi feita uma análise relacionada ao duplo processo educativo do

lazer, de forma a identificar se a educação está pautada para ou pelo lazer, pois se

acredita que o lazer representa uma ferramenta educacional, estimuladora de

competências e um instrumento ativo de mobilização e participação cultural, sendo

capaz de transpor barreiras socioculturais e de proporcionar uma melhoria na

qualidade de vida.

Já no segundo capítulo, buscamos identificar, através dos discursos dos

animadores socioculturais, se ocorrem mudanças na corporeidade dos alunos, a

partir da vivência do lazer na FCV.

No terceiro capítulo, discorremos sobre a importância e os objetivos da

Fundação Curro Velho, enquanto instituição pública e a situamos no tempo e no

espaço.

E, por fim, far-se-á uma breve conclusão sobre o tema, destacando de forma

sucinta o tempo e o espaço de acesso à cidadania, através do lazer e dos seus

efeitos sobre a formação da corporeidade dos seres humanos.

1. LAZER, ACESSO, ANIMAÇÃO CULTURAL E DUPLO PROCESSO

EDUCATIVO.

O lazer é uma área que gera muitas discussões quanto ao conceito e sua

prática. Se fosse questionado a educadores, políticos e pessoas comuns da

sociedade o que eles entendem por Lazer, cada um dos sujeitos destas esferas

daria uma resposta diferente, de acordo com seu entendimento e de como o

vivencia na prática. Contudo, o Lazer é um direito previsto por lei e merece ser

respeitado. A partir disso, questiona-se: o que é lazer? Qual sua função? E qual é o

profissional atuante nesta área?

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Segundo a conceituação de Marcellino (1997), lazer é:

A cultura vivenciada no “tempo disponível” das obrigações profissionais, escolares, familiares e sociais, combinando os aspectos tempo e atitude; um fenômeno gerado historicamente e do qual emergem valores questionadores da sociedade como um todo e sobre o qual são exercidas influências da estrutura social vigente; um tempo privilegiado para a vivência de valores que contribuam para mudanças de ordem moral e cultural e por fim o considera um portador de duplo aspecto educativo, veículo e objeto de educação (p. 157-158).

Segundo a definição de Pimentel (2003):

O acesso ao lazer, por parte da população, além de tratar-se de uma garantia constitucional (art. 207) é também encarado como um preceito da condição humana (Carta de Bruxelas, 1976), questão de cidadania cultural (Chauí, 1989) ou mesmo condição para uma melhor qualidade de vida a população local. Portanto o governo deve privilegiar o lazer como um direito universalizado (p. 58-59).

O entendimento que a maioria das pessoas tem sobre o lazer é o de algo que

é realizado de espontânea vontade nos momentos de desvinculação do trabalho.

Segundo a Constituição Federal (1988), no Capítulo II dos Direitos Sociais, artigo 6º,

o lazer é um direito social previsto na forma da lei. Através de uma Assembleia Geral

das Nações Unidas (ONU), ocorrida em 1948, o lazer adquiriu o status de direito

social. Desta forma, os direitos sociais passaram a ser premissas para o alcance da

cidadania (MASCARENHAS, 2007, p.197).

Entretanto, tal afirmação sobre o lazer enquanto direito social - no qual todo o

conjunto da população deveria ter acesso - é extremamente frágil, mesmo com a

afirmação positiva do corpo da lei. A luta por ampliação e/ou conquista do direito ao

lazer insere-se, assim, numa luta pelo questionamento do atual modelo de

sociedade, indicando a necessidade de ações que refundem a existência humana

em torno de outra forma de organização social, já que o projeto capitalista tem

provado, cotidianamente, sua capacidade de produção em massa de miséria e

indigência. (MELLO, 2009, p.91).

Aliado a isto, o modelo de sociedade atual impõe limitações severas à prática

livre e consciente do lazer, visto que existem “empecilhos sociais” que impedem o

acesso de algumas camadas da população a esse tipo de atividade tão essencial à

qualidade de vida e ao desenvolvimento humano. São eles: classe social, situação

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financeira, tempo disponível, violência urbana, contato com tecnologias, dentre

outros. Marcellino (1996) ratifica isso ao dizer que:

A classe social, o nível de instrução, a faixa etária, o sexo, o acesso ao espaço, a questão da violência crescente nos grandes centros urbanos, o trabalho, entre outros fatores, limitam o lazer a uma minoria da população, principalmente se considerarmos a frequência na prática e a sua qualidade (p. 24).

Ao analisar, especificamente, a realidade da FCV, destacam-se algumas

dificuldades que inviabilizam o lazer dentro da instituição, dentre elas: 1- a

localização, uma vez que está situada em uma área de risco da periferia de Belém;

2- a escassez de recursos financeiros; 3- o curto período de realização das

atividades oferecidas (uma média de 9 a 10 dias); e 4- o fato de não funcionar no

período da noite.

Tais limitações acarretam consequências impactantes à fundação, como: 1-

dificuldade de acesso; 2- dificuldade de manutenção da mesma, bem como

possíveis impactos na aquisição de materiais; 3- oficinas que encerram as inscrições

sem quórum suficiente para funcionar; e 4- exclusão de uma grande parcela da

população que trabalha durante o dia.

Como forma de contrapor esses empecilhos, Marcellino (1999) nos mostra

formas de incentivo à prática do lazer e frisa alguns benefícios ocorridos durante as

suas vivências:

[...] durante o tempo destinado ao lazer, seria ideal que cada pessoa

praticasse atividades que abrangessem os vários grupos de interesses, procurando, dessa forma, exercitar, no tempo disponível, o corpo, a imaginação, o raciocínio, a habilidade manual, o relacionamento social, o intercâmbio cultural e a quebra da rotina (p.16).

Sendo assim, aponta-se que cada indivíduo vivencia o lazer de acordo com

sua vontade, a partir das várias práticas do lazer de acordo com seus interesses.

Vários autores estão desenvolvendo tais conceitos e explorando as possibilidades

de o indivíduo desenvolver-se integralmente durante suas experiências de lazer.

Melo (2003, p.57) compreende que o lazer pressupõe a busca pelo prazer

(que pode vir a ser alcançado ou não) e é proporcionado pelas atividades nas suas

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mais diversas manifestações. São atividades culturais em seu sentido amplo,

englobando os diversos interesses humanos.

Embasado nisso, o profissional atuante na área do lazer está ganhando

destaque, principalmente no que concerne ao perfil do animador cultural para o trato

do lazer, pois este indivíduo tem pauta na realização de um trabalho dinâmico junto à

comunidade, atuando com ela e para ela.

Ao Animador Cultural, é atribuído o seguinte perfil profissional:

Organizar, coordenar e/ou desenvolver atividades de animação e desenvolvimento sócio-cultural de grupos e comunidades, inseridas nas estruturas e objetivos da administração local ou serviços públicos ou privados de caráter social e cultural (...) conceber e executar, individualmente ou em colaboração com grupos, suportes materiais para o desenvolvimento das ações; avalia os programas e efetua os respectivos relatórios (IEFP, 2010, p.17).

Para exercer a sua função de forma plena, o animador sociocultural deve

primar pela busca do conhecimento e da informação, buscando fazer curso superior

e inúmeros cursos de formação continuada, para que possa atuar da melhor forma,

além de cumprir as exigências do mercado de trabalho. Sobre este assunto, Silva;

Gonçalves (2010) apud Dias et. al (2012) nos diz que:

É necessária a formação universitária, para que ele adquira informações e conhecimentos precisos para um desenvolvimento mais qualificado do seu trabalho. Muitos cursos universitários apresentam disciplinas específicas: Turismo, Lazer, Serviços Sociais, Pedagogia, Hotelaria, Sociologia, Artes Cênicas e Educação Física (p.11).

Corroborando essa linha de pensamento, Dias et al. (2012) discorrem que:

Ao discutir sobre a formação acadêmica dos profissionais para atuar com o lazer, é necessário ressaltar que o lazer é um campo multidisciplinar, ou seja, é enriquecedor conhecer e aprofundar-se nos diversos conteúdos culturais do lazer. No Brasil, a formação profissional no âmbito do lazer vem concretizando-se, principalmente, por duas perspectivas: a primeira tem como ênfase a preocupação em formar um profissional mais técnico que tenha como orientação primordial o domínio de conteúdos específicos e metodologias, a segunda aponta a formação centrada no conhecimento, na cultura e na crítica, que se dá por meio da construção de saberes e competências que devem estar alicerçados no comprometimento com os valores disseminados numa sociedade

democrática (p.11).

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Por isso ressaltamos a importância da educação, pois ela é algo essencial na

vida do ser humano e o lazer não fica atrás, uma vez que é, através das vivências

do lazer, que as pessoas adquirem inúmeros conhecimentos. Contudo, a maioria da

população ainda precisa “despertar” para a importância do lazer e para suas

contribuições. De acordo com Marcellino (2005) o lazer possui um duplo processo

educativo: primeiro ele é um veículo privilegiado de educação (educação pelo lazer);

segundo, para a prática de atividade de lazer é necessário o aprendizado, o

estímulo, a iniciação aos conteúdos culturais que possibilitem a passagem de níveis

mais elaborados, complexos, procurando superar o conformismo, pela criticidade e

pela criatividade (educação para o lazer).

Seguindo esse raciocínio, é necessário procurar espaços que propiciem a

educação e a vivência do lazer nas suas mais diversas manifestações, que

tecnicamente são conhecidos como interesses culturais do lazer. Havighurst apud

Dumazedier (1979) classificaram-nos em: físicos, estéticos ou artísticos, intelectuais,

manuais e sociais. Posteriormente, Camargo (1986) propôs a inserção do interesse

cultural turístico e, mais recentemente, Schwartz (2003) incluiu o interesse virtual,

totalizando sete interesses culturais.

Para vivenciar algum desses interesses, é preciso acessar os locais onde

ocorrem as atividades de lazer, denominados equipamentos culturais. Segundo

Teixeira Coelho (2004):

Equipamentos culturais são edificações destinadas a práticas culturais (teatros, cinemas, bibliotecas, centros de cultura, filmotecas, museus) (...) consideradas como o “universo global por onde circulam, são produzidas e consumidas as obras de cultura e arte”. Além de todos os suportes físicos para desenvolvimento das atividades em um espaço cultural (refletores, projetores, molduras, livros, pinturas, filmes, etc.) (p. 165-166).

Os equipamentos culturais são imprescindíveis para um bom

desenvolvimento, bem como os materiais didáticos. Com isso, foi constatado que, de

uma forma geral, a FCV é um lugar extremamente propício para o desenvolvimento

das práticas do lazer, pois as salas são amplas e estruturadas com materiais

apropriados, como mesas, cadeiras, holofotes, palco, arquibancada, dentre outros.

Tais materiais nem sempre são encontrados em outros espaços que

oferecem as mesmas atividades, contudo foi possível perceber algumas dificuldades

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estruturais na FCV, como a existência de colunas no meio de algumas salas (dança

e teatro), onde os alunos se movimentam bastante, que poderiam acarretar em

acidentes, além de goteiras no meio da sala e a falta ou ineficácia de climatização

em alguns ambientes.

Retomando a importância da cultura, do lazer e do conhecimento de uma

forma global, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação,

Cultura e Ciência) preconiza a educação permanente, que se apoia em quatro

pilares. Segundo Costa (2000), são eles: “O aprender a ser, aprender a conviver,

aprender a fazer e o aprender a aprender” (p.49).

Muitas são as metodologias educativas, porém a oficina pedagógica é a forma

de ensino adotada pela FCV, definida como: “uma construção coletiva de um saber,

de análise da realidade, de confrontação e intercâmbio de experiências” (CANDAU,

1999, p.23). Para Ander–Egg (1991, apud Vieira; Volquind, 2002):

A oficina de ensino é composta por oito princípios pedagógicos, são eles: o aprender fazendo, a metodologia participativa, a pedagogia da pergunta, o trabalho interdisciplinar, visar uma tarefa comum, o caráter globalizante e integrador, o trabalho grupal e a integração da docência, da investigação e da prática em um só processo (p.20-21).

Pautado nisso, podemos constatar que o perfil acadêmico dos oficineiros,

bem como a sua área de formação, os possibilitam atuar como animadores

socioculturais da FCV, de forma qualificada e possibilitando agregar uma gama de

conhecimentos aos seus alunos, bem como estimulá-los a serem críticos perante a

realidade social que os rodeia. Entretanto, há fatores que dificultam o acesso ao

lazer na FCV, que precisam ser superados, para que seu trabalho sério e

compromissado com a educação e o lazer possa ser desenvolvido ainda mais.

Podemos também inferir que as oficinas pedagógicas são de suma

importância, como metodologia de aprendizagem dos conteúdos do lazer na FCV,

pois elas conseguem atingir os objetivos dos oficineiros e, principalmente, dos

alunos que vivenciam o lazer de forma produtiva. Segundo Dumazedier (1979) “(...)

ela é baseada em quatro quesitos - realização, invenção, descoberta e expressão”

(p.31) - uma vez que conseguem absorver muito do conhecimento ministrado.

Contudo, esse conhecimento não é aprofundado, mas é muito útil enquanto veículo

de formação profissional e na descoberta de vocações de crianças e adolescentes,

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que se educam para e pelo lazer, tal como a FCV atua para que isto aconteça,

através dos sete interesses culturais, que ela reúne no seu ciclo de oficinas.

2. INTERFACES ENTRE LAZER, CORPOREIDADE E CIDADANIA.

O lazer é algo capaz de evocar mudanças na vida das pessoas. Uma das

formas que isto ocorre é pelo seu caráter lúdico, que promove diversão e educação

simultaneamente, ao passo que ela é capaz de gerar mudança na corporeidade das

pessoas. Mas, o que vem a ser essa tal corporeidade?

De acordo com o conceito de Boff (1999), a corporeidade exprime a totalidade

do ser humano enquanto ser vivo, parte da criação e da natureza e não se deve

confundir com corporeidade, termo da antropologia dualista, que interpreta o ser

humano como a união de duas partes distintas: “o corpo e a alma” (p.194).

Ainda discorrendo sobre a corporeidade, Gonçalves (1994) demonstrou, em

seu estudo, que o “ser humano é um ser-no-mundo, que se relaciona com a vida em

todos os aspectos, não sendo apenas um ser pensante, mas também um ser que

sente e age” (p.48).

Corroborando tais conhecimentos, Capra (1987) nos diz que:

Todo e qualquer organismo (...) é uma totalidade integrada e, portanto, um sistema vivo. (...) Mas os sistemas não estão limitados a organismos individuais e suas partes. Os mesmos aspectos da totalidade são exibidos por sistemas sociais (...) e por ecossistemas que consistem numa variedade de organismos e matéria inanimada em interações múltiplas (p. 260).

A partir deste pressuposto, pensamos que a corporeidade possui uma

compreensão holística na qual o homem é um ser racional e emocional, que se

desenvolve a partir da ludicidade presente nas práticas do lazer.

Alves (1987) destaca que “O lúdico possui aspectos fundamentais como: a

finalidade em si mesmo, a espontaneidade, a dimensão do sonho, a atualidade e a

criatividade” (p. 25). Ao discorrer sobre a importância da ludicidade nas práticas no

lazer Marcellino (1995) nos diz que:

Um dos espaços possíveis para a recuperação do lúdico está nas atividades de lazer, uma vez que estas constituem um dos canais possíveis de transformação cultural e moral da sociedade, sendo,

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assim, instrumentos de mudança, mas instrumentos que podem ser acionados qualquer que seja a ordem social dominante (p.31).

A partir deste postulado, Vieira (2002) esclarece que um desses canais é a

cidadania. Desta forma, a autora define o que é ser cidadão:

Ser cidadão é, portanto, ser membro de pleno direito da cidade, seus direitos civis são plenamente direitos individuais. Mas ser cidadão é também ter acesso à decisão política, ser um possível governante, um homem político. Esse tem direito não apenas a eleger representantes, mas a participar diretamente na condução dos negócios da cidade (p.27).

Continuando a ideia dos conhecimentos, advindos através das atividades de

lazer, como uma “mola propulsora” para a cidadania, Freire (1967) aborda a

criticidade e a inserção do homem no contexto social, dizendo: “A criticidade [...]

implica na apropriação crescente pelo homem de sua posição no contexto. Implica

na sua inserção, na sua integração, na representação objetiva da realidade” (p. 69).

Portanto, a ideia de lazer como veículo de informação, formação humana e

cidadania plena, Pinzani (2004) nos diz que:

O fim último da educação é ― a emancipação (emancipación). Indicando assim a capacidade do indivíduo de ― prover de sua existência as suas necessidades. Esta capacidade de prover a própria sobrevivência assinala o ingresso do jovem na idade adulta e, ao mesmo tempo, este indivíduo na sociedade civil como seu membro ativo (p.129).

A partir de todo este arcabouço teórico exposto, pode-se destacar a

relevância da FCV enquanto instituição, que se utiliza das atividades do lazer e da

ludicidade como canal de construção do conhecimento humano, bem como na ideia

de autonomia e plenitude de seus alunos enquanto estudantes, profissionais e,

acima de tudo, cidadãos que passam a ter maior consciência do seu papel na

sociedade, a fim de usufruir dos seus direitos e desempenhar os seus deveres,

possibilitando a construção de uma sociedade melhor.

3. A Fundação Curro Velho

O Curro Público de Belém foi construído e inaugurado pelo Presidente da

Província, Francisco Carlos Brusque, em 1861. Era um local que fornecia carne de

origem certa e sabida para a população de Belém até que, em 1912, foi desativado.

Durante muito tempo, ficou abandonado, perdendo assim seu nome original e

recebendo o apelido de “Curro Velho”. Abrigou, inclusive, atividades insólitas,

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chegando a ser depósito de gás e de outros produtos químicos (Site Institucional,

2013).

A arquitetura do Curro possui influência do estilo neoclássico. O prédio é

considerado uma réplica da Escola de Belas Artes de Montigny, na França. Em

1983, o Curro Velho foi tombado como bem do Patrimônio Histórico Cultural e, em

1988, o então Governador Hélio Gueiros determinou a restauração do prédio, que

posteriormente seria a Fundação Curro Velho (Site Institucional, 2013).

Assim, a FCV que conhecemos atualmente é uma entidade criada em 1990,

situada no bairro do Telégrafo - periferia de Belém - considerada de direito público

do Governo do Estado do Pará que, vinculada à Secretaria Especial de Estado de

Promoção Social, tem a missão de promover ações voltadas a crianças e

adolescentes.

Tendo como objetivo primordial o desenvolvimento da capacidade de

expressão e representação, através de processo sócio- educativo, e tem como

instrumentos a arte e o ofício, na perspectiva de valores éticos e estéticos. Lida,

diretamente, com o suprimento das necessidades de lazer e entretenimento da

classe trabalhadora e suas famílias, além de possuir um objetivo educativo de

desenvolvimento cultural daqueles que a frequentam (Site Institucional, 2013).

Com seu espaço físico, a Fundação Curro Velho, antigo espaço público

restaurado, bem como suas ações, reflete uma atenção constante à valorização do

indivíduo e deste em sociedade. Assim sendo, aspectos da história, da cultura, do

meio ambiente, da organização do trabalho e da geração de renda são eixos do

desenvolvimento de ações educacionais, que num movimento constante de

formação e informação procuram ser coerentes com a realidade local, considerando

os imensos contrastes existentes na Amazônia. (Site Institucional, 2013).

Ela atua no sentido de despertar a sensibilidade latente e estimular o

potencial criativo, além de atentar para posturas didáticas, oportunizando com

oficinas, prioritariamente para alunos da escola pública e ações complementares

gratuitas para toda a comunidade, a distribuição igualitária de materiais, a

organização do trabalho e o justo acesso ao benefício público. (Site Institucional,

2013).

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Com isto a instituição procura valorizar o aluno e o grupo, estimulando a formação

de um cidadão que exercita sua cidadania plena, com um olhar mais humanizado. O

objetivo estratégico, portanto, é valorizar as diferenças humanas, culturais, regionais

e diminuir as diferenças sociais, como forma de estimular os alunos a respeitar essa

diversidade cultural e favorecer a troca de conhecimento, que proporcionará à eles

um desenvolvimento integral, perpassando pela ética, moral e respeito.

4. METODOLOGIA

O presente estudo baseou-se na abordagem fenomenológica que, segundo

Gil (1999), é um estudo que proporciona a descrição direta da experiência. Neste

estudo, a realidade não é tida como algo objetivo e passível de ser explicada, ela é

interpretada, comunicada e compreendida, não existindo uma única realidade.

Sendo assim, esta investigação pautou-se prioritariamente na pesquisa

participante, na qual Brandão (1984) fala que é um enfoque de investigação social,

por meio do qual se busca plena participação da comunidade na análise de sua

própria realidade, com objetivo de promover a participação social para o benefício

dos participantes da investigação.

Este estudo teve como universo de pesquisa nove oficineiros atuantes da

FCV. Utilizou-se para a coleta de dados o questionário aberto que, segundo Marconi

e Lakatos (2006), permite ao informante responder livremente - usando sua

linguagem própria - e emitir opiniões.

Para análise dos dados coletados, utilizou-se: do software Microsoft Office

Excel versão 2010 para o desenvolvimento de gráficos sobre as informações

relativas aos dados pessoais do oficineiros e para interpretação dos dados gerais da

pesquisa, foi utilizada a análise do discurso que, segundo Orlandi (1999), pretende-

se com este método apreender a prática da linguagem, ou seja, o homem falando,

além de procurar compreender a língua enquanto trabalho simbólico, que faz e dá

sentido, constitui o homem e sua história.

Desta forma, esta pesquisa pautou-se nas seguintes categorias de análise do

discurso:

1. Concepção de lazer;

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2. Mudanças na corporeidade dos educandos, a partir dos conteúdos do

lazer;

3. Ações de cidadania nas oficinas.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Considerando a ética da pesquisa, os sujeitos foram identificados por

números. Nos dados pessoais do questionário, os oficineiros preencheram algumas

informações relativas à faixa etária, o tempo de serviço, a escolaridade e a formação

profissional que permitiu a construção de quatro gráficos para mapear o perfil dos

oficineiros. Vejamos então os gráficos:

A partir da observação do gráfico 1, verificou-se que a grande maioria dos

oficineiros, representada por aproximadamente 55%, possui idade entre 25 e 35 anos;

enquanto que 22%, aproximadamente, possui idade entre 36 e 45 anos; entre 46 e 55

anos estão os oficineiros que representam, aproximadamente, os outros 22% da

amostra.

Já o gráfico 2 representa o tempo de serviço de cada oficineiro dentro da FCV.

Dentre eles, 33% possui menos de um ano de serviço; enquanto que

aproximadamente 22% possui entre 1 e 10 anos; os outros 44% são referentes aos

oficineiros que possuem entre 11 e 20 anos de serviço na fundação.

55% 22%

22%

Gráfico 1 - Idade de 25 a 35 anos

de 36 a 45 anos

de 46 a 55 anos

33%

22%

44%

Gráfico 2 - Tempo de Serviço

Menos de 1 ano

de 1 a 10 anos

de 11 a 20 anos

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No gráfico 3, que fala sobre o nível de escolaridade, pode-se notar que, dentre

os oficineiros, os que possuem apenas o nível médio, nível superior incompleto e pós-

graduação representam 11% cada, isto é, são os grupos de minoria, que vão de um

extremo ao outro. Em contrapartida, 22% possui nível superior mais um curso técnico.

A grande maioria absoluta, 44%, possui nível superior completo, representando a

média de escolaridade dos oficineiros da FCV.

Já no gráfico 4, referente às profissões dos oficineiros, verificou-se que a

maioria esmagadora trabalha na área da dança, representando aproximadamente

33%, seguida dos Profissionais de Educação Física, com 22%. Por fim, com 11%

cada, estão os seguintes profissionais: arquiteto, músico, artista plástico e pedagogo

com curso técnico em informática.

Deste modo, é de suma importância a qualificação destes profissionais para o

trato do lazer nas suas diferentes interfaces, pois com a expansão deste mercado,

há uma maior exigência quanto à capacitação contínua desses profissionais, porém

ainda existem barreiras quanto a isto. Isayama (2010, p.17) discorre que ainda se

pensa que, para atuar na área, não é necessário ter formação específica e

aprofundada sobre o tema.

A obtenção dos dados gerais da pesquisa se deu a partir de três perguntas,

relacionadas às categorias de análise. A primeira pergunta foi pautada na categoria 1;

a segunda, na categoria 2; e a terceira pergunta, na categoria 3.

Em relação à categoria 1, foi realizada a seguinte pergunta: O que você

entende por lazer e como ele é trabalhado na sua oficina?

Lazer é um momento voltado à descontração, visando ao prazer e à quebra da rotina diária. Dentro da oficina, trabalho essa descontração com trabalho rítmico, exercícios de interação e socialização (O2).

Acredito que o lazer deve estar aliado ao ensinamento técnico, proporcionando ao aluno a descontração necessária para fazer da parte técnica um aprendizado mais prazeroso (O3).

Bom, na minha opinião, lazer é tudo o que você gosta de fazer nas horas vagas, sem compromisso com finanças ou acertos ou erros, mas sim por diversão. Na oficina, eu gosto que os alunos aprendam músicas e toquem aqui ou em suas casas para amigos ou familiares (O5).

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Entendo que Lazer Artisticamenente é um processo lúdico. E trabalho com processos de criação coletivos (O6).

Entendo lazer como diversão e tento fazer com que aquele momento de aprendizagem seja também divertido para o aluno (O8).

Entendo que lazer é toda atividade que proporciona ao indivíduo prazer e diversão. Embora o curso seja técnico, envolvendo concentração, procuro desenvolver atividades em dupla, pois percebo que a interação entre eles levam a momentos divertidos. (O9).

Segundo a conceituação dos oficineiros, lazer é: descontração, diversão,

prazer, quebra da rotina e ludicidade. De fato, o lazer engloba todos esses fatores

citados, contudo, é uma visão muito simplista, no que concerne o entendimento de

lazer, pois, segundo Marcelino (2004, p. 22), a maioria dos sujeitos possui uma visão

parcial e limitada em relação aos conteúdos e valores das atividades de lazer,

relacionando quase sempre o lazer com divertimento e descanso. Percebemos pelas

primeiras análises uma diversidade de concepções e até ausência das mesmas. Na

maioria das vezes o lazer foi utilizado referindo se a apenas um de seus conteúdos

como o artístico-cultural. No que concerne à vivência do lazer na FCV, através das

oficinas, os mesmos relataram que o lazer é vivenciado nas mais diversas atividades

relativas aos seus conteúdos, assim “acreditamos que as atividades de lazer

revelam uma possibilidade crítica na realidade possibilidade crítica na realidade

contextual e histórica” (Idem).

Neste sentido, acreditamos que a reflexão elaborada na e a partir da vivência

das atividades e conteúdos do lazer pode garantir a apropriação, pelos grupos

sociais e populares de um saber correspondente às suas experiências e reais

necessidades, destacando que este último, trata-se na verdade, de um saber-

instrumento, meio para que este mesmo grupo possa fortalecer sua participação na

formulação e encaminhamento de propostas para a modificação de suas atuais

condições de existência (MASCARENHAS, 2002, p.81).

Tendo como base a categoria 2, foi feito o seguinte questionamento: Você

sente mudanças na corporeidade de seus alunos, através do conteúdo ministrado na

oficina?

Sim, percebo a forma como as alunas recebem as aulas e que é como brincadeira, mas que se torna importante para elas a partir do

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momento em que percebem que conseguem fazer as movimentações, ou seja, dançam se divertindo (O1).

Sim, os alunos naturalmente desenvolvem sua corporeidade em aula, trazendo aos exercícios toda a sua história corporal e identidade, contribuindo para um coletivo heterogêneo e com o aprendizado de novos movimentos o corpo se reajusta, aprende e desenvolve (O2).

Bom eu percebo na postura de sentar e ter mais carinho com as suas mãos melhorou. Além de ficarem mais autoconfiantes em relação com a sociedade (O5).

Quando as aulas são dinâmicas eles demonstram alegria e disposição, no entanto, quando ministrada só teoricamente eles se mostram cansados (O9).

Podemos inferir que as práticas corporais, promovem mudanças na

corporeidade do educando, este então passa a ser um sujeito melhor, mais

desenvolvido, evoluído, pois, a partir dessas práticas, o sujeito passa a reformular

novos sentidos e significados, ao seu papel enquanto ser humano.

Sobre a importância das vivências corporais, Moreira (1995, p.19) nos diz

que, “primar por uma educação corporal é lutar pelo princípio de uma aprendizagem

humana e humanizante, em que sua complexidade estrutural, o homem pode ser

fisiológico, biológico, psicológico e antropológico”.

Podemos então inferir que as atividades da Fundação Curro Velho, são

extremamente importantes, pois elas possibilitam que os seus alunos, desenvolvam

sua corporeidade e encaram a sociedade de uma forma diferente, pois as mudanças

na corporeidade deles, literalmente, começam de “dentro para fora” atingindo todas

as dimensões humanas, ou seja, os educandos se tornam pessoas privilegiadas e

diferenciadas no seio da nossa sociedade, pois se tornam seres humanos melhores,

que passam a perspectivar mudanças na vida pessoal e na sociedade, de forma

geral.

E também referente à categoria 3, foi realizada a seguinte indagação: Quais

os valores, a partir desta cidadania, que são agregados na vida dos seus alunos?

Acredito que essas crianças aprendam sobre a convivência em grupo, o respeito uma pelas outras e o saber ajudar e ensinar umas as outras, converso muito sobre esses assuntos com elas e sempre digo que para sermos bons em algo não precisamos ser melhor que ninguém (O1).

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Respeito, compartilhamento, sensibilidade, gratidão, humildade, pró-atividade (O2).

Primeiramente destaco o sentido de superar seus próprios limites, sejam físicos ou mentais, percebendo que os mesmos podem desenvolver habilidades antes desconhecidas, podendo potencialmente transferir isso para vida cotidiana (O3).

Cooperação, confiança, segurança, solidariedade, iniciativa, atitude, entre outras (O4).

Família, educação, cultura e cidadania (O6).

Interesse na profissão, interesse na educação (O7).

Procuro falar muito sobre o trabalho e a importância dele na vida do ser humano, sempre mostrando que o curso vai contribuir na vida deles para inserção no mercado de trabalho, além disso, falo também da ética, fazendo uma relação com o trabalho de forma honesta (O9).

Puig (2002), cidadão é o indivíduo que construiu valores como: o respeito, a

colaboração, a solidariedade ou a justiça e capacidades psicomorais como: a

empatia, o diálogo, a compreensão, o juízo ou a auto-regulação (ibid. p. 28).

A partir desta conceituação de Puig, podemos afirmar o cidadão é uma

pessoa imbuída de valores e critérios morais e que em sociedade age em

consonância, com tais princípios.

No discurso dos oficineiros, fica nítido que muitos valores são adquiridos a

partir das vivências das oficinas, dentre os quais eles destacaram valores éticos e

morais, que englobam as relações humanas, a relação com a família e com a

sociedade, a importância da educação, o valor da formação profissional, a

criticidade, dentre outros que fizeram os alunos despertarem para a busca da sua

plenitude enquanto profissional, ser humano, ser social e cultural.

À GUISA DE CONCLUSÃO

Referenciando-se ao discurso dos oficineiros, infere-se que eles são

qualificados na área de conhecimento em que atuam, além de possuírem vasta

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experiência na sua área de formação. Contudo, o lazer é uma ferramenta educativa

de grande valia para o desenvolvimento da cidadania, sobre este assunto, Puig

(2003) discorre que:

Educar para a cidadania implica portanto a instrução e a formação de um cidadão participativo, entendido como uma pessoa que participa da vida pública comprometido com os seus direitos e a sua liberdade, sem deixar de comprometer-se com o bem comum e com a coletividade da qual faz parte. Uma pessoa capaz de refletir, de dialogar e de viver segundo valores e as normas sociais (p. 53).

Sobre a influência da educação relacionada à cidadania, os oficineiros

atribuíram isto, diretamente aos assuntos ministrados nas oficinas que preconizavam

valores éticos e morais, quanto à importância das oficinas eles enumeraram também

diversos benefícios na corporeidade de seus alunos, que ficam tão satisfeitos em

vivenciar as práticas do lazer e por desenvolver valores inerentes à sua

corporeidade, que os realizam enquanto alunos e cidadãos, já que eles geralmente

fazem mais de uma oficina e criam vínculos com os profissionais, que se conhecem

mutuamente e têm relação de amizade.

Não há dúvidas que as oficinas funcionam como veículo de educação para e

pelo lazer e que os conteúdos ministrados, ajudam positivamente no

desenvolvimento na corporeidade dos alunos e que os oficineiros sendo altamente

qualificados enquanto animadores sócio culturais, entretanto concluímos que a

Fundação Curro Velho, necessita de uma melhor infra-estrutura, bem como repensar

em novos meios de divulgar o trabalho da instituição para que a população possa

acessá-la ainda mais, assegurando assim o direito à cidadania, bem como a

formação de cidadãos plenos, imbuídos de valores que permitam a transformação

da nossa sociedade, agregando mais justiça, solidariedade e igualdade.

LEISURE AND CORPORALITY IN THE CURRO VELHO FOUNDATION: time and

space of access to citizenship

Abstract: Leisure is an area that generates a lot of debates as to its concept as to its practice. The present study had as general objective to understand the leisure education process in the Curro Velho Foundation (CVF), above the interfaces leisure, corporality and citizenship. This research presents as its study universe active workshop participants in CVF. This study were documental and field researches with

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qualitative approach and participant character. The data collection was obtained through an opening questionnaire that was used by a discourse analysis according to Orlandi (1999) to the interpretation of the data collected. It might be concluded that the leisure treatment in CVF provides the development of the student's corporality through the experiences, from the different areas of leisure, so that the same is developed by social and cultural animators skilled in the area of operation, on diverse formations. Keywords: Leisure; Cultural Animator; Corporality; Educational Process.

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