O Longo Dia Seguinte

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7/18/2019 O Longo Dia Seguinte http://slidepdf.com/reader/full/o-longo-dia-seguinte 1/4 O longo dia seguinte – Eliane Brum – El País – 27/10/2014 [Original em: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/10/27/opinion/1414418707_927989.html] Chegamos ao dia seguinte sem que o futuro tenha sido de fato disputado. Se a eleição de 2014 foi a mais acirrada das últimas décadas, não s pelos candidatos, mas pelos eleitores, terminou sem de!ate. "ão ha#ia ad#ers$rios nem nos estúdios de %&, onde os candidatos rola#am ora na lama, ora na retrica mais med'ocre, nem nas redes sociais, elas que se tornaram as ruas realmente tomadas pela milit(ncia. )a#ia apenas inimigos a serem destru'dos. *s fraturas do pa's di+em respeito !em menos pequena diferença entre a #encedora e o derrotado - e !em mais a uma fissura entre o pa's que  #i#emos e o pa's in#entado. "ão como uma fa!ulação, que é a matéria de qualquer #ida. "ão como uma utopia, que é onde se sonha chegar. as como um deslocamento per#erso da realidade, uma cisão. S essa descone/ão pode e/plicar como a maior cidade do pa's transforma#ase num cen$rio de distopia durante o primeiro e o segundo turnos eleitorais sem que em nenhum momento o meio am!iente e o modelo de desen#ol#imento tenham entrado na pauta com a seriedade necess$ria. Chegamos ao dia seguinte como parte dos moradores de São aulo olhando para o céu espera de que uma chu#a #enha nos sal#ar. 3 é com essa #erdade profunda que temos de lidar. Se a eleição pareceu intermin$#el, o dia seguinte poder$ ser muito mais longo. 3 seria, qualquer que fosse o #encedor. Com qualquer um deles, o que se disputou foi o poder, não um proeto de pa's. São aulo tal#e+ sea a e/pressão hiperreal desse momento, sea nossa escultura de 5on uec6, o artista australiano que cria figuras humanas em dimens7es superlati#as. 8 como se o futuro ti#esse chegado antes na cidade e/pandida, mais pr/imo da som!ria ficção cient'fica de hilip 9. :ic6 do que da megalpole de comercial de %& onde os no#os modelos de carros desli+am céleres por ruas sem tr(nsito. "esse cen$rio, ;eraldo *lc6min, o go#ernador do partido que h$ 20 anos est$ no poder foi reeleito no primeiro turno. Confrontados com a crise da $gua, *écio "e#es <S:=> disse ?&i#emos a maior estiagem dos últimos @0 anos, e a meu #er o 3stado fe+ algo a!solutamente adequado, que foi propor !Anus para aqueles que economi+assem. %al#e+ o que tenha faltado foi uma parceria maior do go#erno federalB. 3 :ilma 5ousseff <%> re!ateu ?3u disse a ele <*lc6min> go#ernador, pela minha e/perincia, acho que o senhor de#eria fa+er o!ras emergenciais. orque tudo indica que essa seca se prolongar$, e #ocs não tm capacidade de a!astecimento suficienteB. ode e/istir e/i!ição maior de mediocridade do que essas respostas dadas por aquela que queria continuar presidente e por aquele que desea#a se tornar presidenteD 8 de chorar sentado em um dos reser#atrios do sistema Cantareira, mas a maioria dos eleitores não pareceu se importar. Em sugere que !asta cho#er ou dar !Anus aos consumidores, a outra que o!ras emergenciais teriam solucionado todo o pro!lema. "enhum demonstrou nem capacidade nem #ontade de fa+er relaç7es com o modelo de desen#ol#imento, o esgotamento dos recursos, o desmatamento e o modo de #ida.  *ssim, enquanto São aulo se transforma#a numa #itrine do cotidiano corro'do pela degradação am!iental, o m$/imo de discussão que se conseguiu foi so!re de quem é a culpa. Fsso num momento glo!al em que as mudanças clim$ticas e suas consequncias são consideradas por alguns dos pensadores mais rele#antes do planeta, em todas as $reas, o tema de maior import(ncia desse per'odo, tal#e+ de toda histria humana. * cisão com a realidade é total. G monstro !afea#a na sala, mas os presidenci$#eis disputa#am quem tinha dado o n no ra!o do gato. esmo arina Sil#a muito pouco tocou nesses temas ao disputar o primeiro turno, desassemelhandose a si mesma. 3la, de quem se espera#a que fi+esse a diferença fa+endo diferente, preferiu falar so!re a autonomia do =anco Central. "o m$/imo escaparam, ela e todos, pela !andeira f$cil do ?desen#ol#imento sustent$#elB, como se algum candidato fosse di+er que não quer desen#ol#imento sustent$#el e como se este fosse um conceito $ dado. as tocar nos temas cruciais do presente e do futuro, disputar a escolha do modelo de desen#ol#imento em pontos concretos, com a seriedade que o momento histrico e/ige, não. G meio am!iente ficou fora da pauta dos presidenci$#eis por escolha de con#enincia, $ que esse é o de!ate dif'cil, ao implicar mudanças no modo de #ida dos eleitores, mas tam!ém porque a população tem escasso ou nenhum interesse no tema, apesar de a degradação am!iental roer o cotidiano. 3ssa é a fratura da negação.  * escasse+ de $gua na maior cidade !rasileira é o rei nu destas eleiç7es de 2014. 3 é por isso que  #ale a pena re#isitar a reeleição de ;eraldo *lc6min <S:=>. * seca acentua a nu#em de poluição que en#ol#e a capital, o nari+ sangra, a tosse se instala, o recorde de calor fora de época esgarça os ner#os

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O longo dia seguinte – Eliane Brum – El País – 27/10/2014

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O longo dia seguinte – Eliane Brum – El País –27/10/2014

[Original em: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/10/27/opinion/1414418707_927989.html]

Chegamos ao dia seguinte sem que o futuro tenha sido de fato disputado. Se a eleição de 2014foi a mais acirrada das últimas décadas, não s pelos candidatos, mas pelos eleitores, terminou sem

de!ate. "ão ha#ia ad#ers$rios nem nos estúdios de %&, onde os candidatos rola#am ora na lama, orana retrica mais med'ocre, nem nas redes sociais, elas que se tornaram as ruas realmente tomadas pelamilit(ncia. )a#ia apenas inimigos a serem destru'dos. *s fraturas do pa's di+em respeito !em menos pequena diferença entre a #encedora e o derrotado - e !em mais a uma fissura entre o pa's que #i#emos e o pa's in#entado. "ão como uma fa!ulação, que é a matéria de qualquer #ida. "ão comouma utopia, que é onde se sonha chegar. as como um deslocamento per#erso da realidade, umacisão. S essa descone/ão pode e/plicar como a maior cidade do pa's transforma#ase num cen$rio dedistopia durante o primeiro e o segundo turnos eleitorais sem que em nenhum momento o meioam!iente e o modelo de desen#ol#imento tenham entrado na pauta com a seriedade necess$ria.Chegamos ao dia seguinte como parte dos moradores de São aulo olhando para o céu espera de queuma chu#a #enha nos sal#ar. 3 é com essa #erdade profunda que temos de lidar.

Se a eleição pareceu intermin$#el, o dia seguinte poder$ ser muito mais longo. 3 seria, qualquerque fosse o #encedor. Com qualquer um deles, o que se disputou foi o poder, não um proeto de pa's.São aulo tal#e+ sea a e/pressão hiperreal desse momento, sea nossa escultura de 5on uec6, oartista australiano que cria figuras humanas em dimens7es superlati#as. 8 como se o futuro ti#essechegado antes na cidade e/pandida, mais pr/imo da som!ria ficção cient'fica de hilip 9. :ic6 do queda megalpole de comercial de %& onde os no#os modelos de carros desli+am céleres por ruas semtr(nsito.

"esse cen$rio, ;eraldo *lc6min, o go#ernador do partido que h$ 20 anos est$ no poder foireeleito no primeiro turno. Confrontados com a crise da $gua, *écio "e#es <S:=> disse ?&i#emos amaior estiagem dos últimos @0 anos, e a meu #er o 3stado fe+ algo a!solutamente adequado, que foipropor !Anus para aqueles que economi+assem. %al#e+ o que tenha faltado foi uma parceria maior dogo#erno federalB. 3 :ilma 5ousseff <%> re!ateu ?3u disse a ele <*lc6min> go#ernador, pela minhae/perincia, acho que o senhor de#eria fa+er o!ras emergenciais. orque tudo indica que essa seca seprolongar$, e #ocs não tm capacidade de a!astecimento suficienteB.

ode e/istir e/i!ição maior de mediocridade do que essas respostas dadas por aquela que queriacontinuar presidente e por aquele que desea#a se tornar presidenteD 8 de chorar sentado em um dosreser#atrios do sistema Cantareira, mas a maioria dos eleitores não pareceu se importar. Em sugereque !asta cho#er ou dar !Anus aos consumidores, a outra que o!ras emergenciais teriam solucionadotodo o pro!lema. "enhum demonstrou nem capacidade nem #ontade de fa+er relaç7es com o modelode desen#ol#imento, o esgotamento dos recursos, o desmatamento e o modo de #ida.

 *ssim, enquanto São aulo se transforma#a numa #itrine do cotidiano corro'do pela degradaçãoam!iental, o m$/imo de discussão que se conseguiu foi so!re de quem é a culpa. Fsso num momentoglo!al em que as mudanças clim$ticas e suas consequncias são consideradas por alguns dos

pensadores mais rele#antes do planeta, em todas as $reas, o tema de maior import(ncia desse per'odo,tal#e+ de toda histria humana. * cisão com a realidade é total. G monstro !afea#a na sala, mas ospresidenci$#eis disputa#am quem tinha dado o n no ra!o do gato.

esmo arina Sil#a muito pouco tocou nesses temas ao disputar o primeiro turno,desassemelhandose a si mesma. 3la, de quem se espera#a que fi+esse a diferença fa+endo diferente,preferiu falar so!re a autonomia do =anco Central. "o m$/imo escaparam, ela e todos, pela !andeiraf$cil do ?desen#ol#imento sustent$#elB, como se algum candidato fosse di+er que não querdesen#ol#imento sustent$#el e como se este fosse um conceito $ dado. as tocar nos temas cruciais dopresente e do futuro, disputar a escolha do modelo de desen#ol#imento em pontos concretos, com aseriedade que o momento histrico e/ige, não. G meio am!iente ficou fora da pauta dospresidenci$#eis por escolha de con#enincia, $ que esse é o de!ate dif'cil, ao implicar mudanças no

modo de #ida dos eleitores, mas tam!ém porque a população tem escasso ou nenhum interesse notema, apesar de a degradação am!iental roer o cotidiano. 3ssa é a fratura da negação. * escasse+ de $gua na maior cidade !rasileira é o rei nu destas eleiç7es de 2014. 3 é por isso que

 #ale a pena re#isitar a reeleição de ;eraldo *lc6min <S:=>. * seca acentua a nu#em de poluição queen#ol#e a capital, o nari+ sangra, a tosse se instala, o recorde de calor fora de época esgarça os ner#os

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dentro de carros e Ani!us que se mo#em lentamente num gigantesco la!irinto de concreto. * crise temprodu+ido cenas como a de caminh7espipa com escolta policial, prontos para dominar a populaçãodesesperada de um interior pintado como !uclico. * pol'cia que massacrou os manifestantes, agora seprepara para reprimir os sem$gua. * imagem dos reser#atrios remete ao repertrio de geografiashistoricamente calcinadas. * #ida tornase pior, !em pior. 3 tornase !em pior em ritmo acelerado.

3ra de se esperar que a e/perincia cotidiana concreta ti#esse um impacto nas urnas. as, nestecen$rio, o go#ernador reelegeuse ainda no primeiro turno, repetindo ?"ão #ai faltar $guaB. 3 a $gua $ falta#a. Se as pessoas #otam de forma pragm$tica, #otam pelo retorno imediato, #otam naquele que

acreditam que #ai melhorar a #ida delas, por que a crise da $gua te#e pouco ou nenhum impacto naeleiçãoD Seria porque a educação, a saúde, a segurança esti#eram e/celentes nesses 20 anos de go#ernodo S:= em São aulo, o que compensaria a escasse+ de $guaD "ão é o que a realidade mostra. * criseda $gua tampouco atingiu o desempenho de *écio "e#es, que no segundo turno conquistou H4I dos #otos #$lidos no estado de São aulo. Jue cisão, então, ocorreu nesse momentoD 3 o que ela di+D Gucomo a escasse+ de $gua não colou na eleição, ou de que forma se colouD

"ão tenho respostas, s hipteses. Ema hiptese poss'#el seria a mesma pela qual a candidaturade arina Sil#a erodiu. arina cometeu #$rios erros nessa campanha, alguns deles prim$rios. as h$um deles, que para muitos soa como erro, mas que não me parece que sea. Seu discurso era menosafirmati#o do que os eleitores estão acostumados. 3la propunha a construção de soluç7es, mais do quepropostas aca!adas <ainda que tenha sido a única entre os trs candidatos com chances no primeiro

turno a apresentar um programa de go#erno>. ropunha escuta.Seu discurso foi classificado como ?difusoB e ?#agoB. Ks #e+es, ser difuso e ser #ago são as únicas #erdades poss'#eis em determinado momento histrico, como mostraram as manifestaç7es de unho de201L. as logo essas caracter'sticas, tam!ém nela decodificadas como defeitos, foram transformadasem ?fraque+aB. 3, na sequncia, em identidade. *ssim, a mulher que nasceu num seringal do *cre,tra!alhou desde criança em condiç7es !rutais, passou fome, alfa!eti+ouse aos 1H anos, foi empregadadoméstica, so!re#i#eu a trs hepatites, cinco mal$rias e uma leishmaniose, além de sofrercontaminação por mercúrio, e ainda assim tornouse professora com psgraduação, senadora,ministra, uma das maiores lideranças am!ientais do planeta e por fim uma candidata presidnciacom chances de #encer, foi considerada ?fracaB. ais uma fratura entre imagem e realidade.

 *s afirmaç7es peremptrias, com pontos de e/clamação, assim como as certe+as, sãomercadorias #alori+adas. 3m geral ordin$rias, mas #alori+adas mesmo assim. "um momento em que a

falta de controle parece se e/pressar em toda a sua assustadora grandiosidade, como na escasse+ de$gua em São aulo, assim como na corrosão das condiç7es de #ida pela degradação am!iental, tal#e+ ascerte+as, mesmo que falsas e irrespons$#eis, tornemse ainda mais #alori+adas. %al#e+ a #irtudeencontrada em *lc6min por parte dos eleitores sea a da negação da realidade ?%udo so! controle. "ão #ai faltar $guaB.

Ema garantia e/pressada sem hesitação ou titu!eio, em #o+ firme, quando a $gua se es#ai dastorneiras e a #ida con#ertese literalmente em cin+a, uma garantia falsa, parece ainda soar como umagarantia. 3 logo é decodificada como força, como a e/pressão de alguém que sa!e liderar e sa!e o quefa+er e, principalmente, nos li!era de ter de fa+er algo. Sua #antagem é manter #i#a a ilusão mais cara,a ilusão do controle. 3sta seria uma cisão para enco!rir a fratura maior, a de que os respons$#eis nãotm responsa!ilidade. 3 a de que cada um, que tam!ém é respons$#el pela destruição am!iental,

tampouco quer ser respons$#el, porque isso implicaria mudar de posição e alterar radicalmente seumodo de #ida. *o esforço de mudar o modo de #ida poucos aderem, porque d$ tra!alho e pro#oca perdas,

e/ige mediação e concessão. ara muitos, $ parece um sacrif'cio e/cessi#o diminuir o tempo do !anho,imagina alterar radicalmente o cotidiano. *ssim, #ale mais a pena escolher não a ficção, mas a mentira- e ficção e mentira amais podem ser confundidas -, porque dessa maneira se torna poss'#el manter om$/imo de tempo poss'#el uma rotina que não apenas é insustent$#el a longo pra+o, como $ não sesustenta agora. 3 tam!ém a fantasia so!re si mesmo como um !om cidadão.

Soa mais con#eniente, portanto, acreditar nessa #ersão m$gica, a de que não #ai faltar $gua,quando $ est$ faltando $gua, promo#endo uma cisão com a realidade. :e no#o, portanto, é um #otopragm$tico, #oltado ao !emestar imediato de não ter de se mo#er. :e não precisar fa+er nada ou

muito pouco a respeito. &oltado a algo tal#e+ mais caro do que $gua, a certe+a de que h$ sempre umasa'da que não e/ia comprometimento e mudança real. Ema sa'da em que apenas os outros façam osacrif'cio, como sempre foi no caso do racionamento muito mais antigo e persistente na casa dospo!res.

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"o fim da semana passada, foi di#ulgada uma gra#ação em que :ilma ena, a presidente daSa!esp <Companhia de Saneamento =$sico do 3stado de São aulo>, di+ia numa reunião interna ?* Sa!esp tem estado muito pouco na m'dia, acho que é um erro. "s t'nhamos que estar mais na m'dia,sa!e, <...> nas r$dios comunit$rias, <...> todos falando, com um tema repetido, um monoplio economiade $gua. MCidadão, economi+e $guaN. Fsso que tinha que estar reiteradamente na m'dia, mas ns temosde seguir orientação, ns temos superiores, e a orientação não tem sido essa. as é um erroB. G diretormetropolitano da Sa!esp, aulo assato, fe+ o seguinte coment$rio na mesma reunião ?Se repetir oque aconteceu esse ano, do final de 201L, de outu!ro pra c$, se #oltar a repetir em 2014, confesso que

eu não sei o que fa+er. 3ssa é uma agonia, uma preocupação. *lguém !rincou aqui, mas é uma !rincadeira séria. &amos dar férias para oito milh7es e oitocentos mil ha!itantes e falar Msaiam de SãoauloN. orque aqui não tem $gua, não #ai ter $gua pra !anho, pra limpe+a da casa, quem pudercompra garrafa, $gua mineral. Juem não puder, #ai tomar !anho na casa da mãe l$ em Santos, l$ emE!atu!a, Oguas de São edro, sei l$, aqui não #ai terB.

8 gra#'ssimo que a presidente da Sa!esp tenha sido impedida, por qualquer moti#o e maisainda por moti#os eleitoreiros, de alertar a população so!re a enormidade do pro!lema. 8 criminoso ede#e ha#er apuração e responsa!ili+ação de todos os en#ol#idos. as precisamos ter a honestidade deassumir que dificilmente, em P de outu!ro, data da #otação do primeiro turno, algum cidadão pudessealegar desconhecer a situação e a necessidade de economi+ar $gua durante a prolongada seca queenfrenta São aulo.

;eraldo *lc6min deu a mentira que a população queria ou#ir porque conhece !em seuseleitores. arodiando o t'tulo do li#ro do escritor Qerre+, não h$ inocentes em São aulo. * reeleição de *lc6min tal#e+ sea um daqueles fenAmenos sustentados pela e/pectati#a de que, se mentirmos todos,tal#e+ #ire #erdade. 3m parte, o go#ernador pode não ter #encido apesar da crise da $gua, mas tam!émpor causa dela.

 * crise da $gua na maior cidade !rasileira, em plena eleição, é fascinante pelo que di+ daquiloque não é dito. Se é um fato que faltou planeamento ao go#erno estadual tucano, que a' est$ h$ 20anos e agora por mais quatro, esta é s a ponta e/pl'cita, a mais f$cil de en/ergar <ainda quedeli!eradamente a maioria dos eleitores a tenha ignorado nas urnas>. as, ao colocar a parte no lugardo todo, re#elase essa crença arraigada, e por estes dias tam!ém desesperada, de acreditar que teria !astado algumas o!ras para escapar do que se tornou a #ida cotidiana em São aulo, na qual a $gua éapenas a ausncia mais gritante. 8 o dogma, quase religioso, de que o homem pode controlar a

cat$strofe am!iental que pro#ocou.:e no#o, a ilusão do controle, mesmo quando a realidade aniquila os dias, mesmo quando no

fundo cada um sa!e que, fora e dentro, algo de fundamental da #ida de cada um se es#ai. Juanto maisse sente que o controle escapa, no miúdo e no macro do cotidiano, maior é a recusa em en/ergar. Gdesastre $ passou da porta de casa, mas ainda se cr que !asta cho#er para tudo #oltar a ser comoantes, que $ era ruim, mas menos. Gu que se o não planeado for feito, ainda que tarde, o pro!lema deSão aulo est$ resol#ido. Cindese de no#o - e tal#e+ uma parte significati#a da população sequerperce!a que a escasse+ de $gua tem causas am!ientais profundas. Como se as quest7es do meioam!iente, que aqui estão, esti#essem l$, no mundo a!strato dos outros.

:ilma 5ousseff foi reeleita. Sua pol'tica am!iental, se é que pode se chamar assim, foi umretrocesso. * #isão so!re a *ma+Ania do go#erno se nota!ili+ou pela semelhança com o proeto da

ditadura militar para a região. 3m sua gestão, o!ras como a hidrelétrica de =elo onte, no rio Ringu,foram impostas aos po#os da floresta sem consulta pré#ia, autoritarismo que le#ou o =rasil ComissãoFnteramericana de :iretos )umanos da Grgani+ação dos 3stados *mericanos <G3*>. Seu pr/imoal#o é !arrar o !elo rio %apas, onde encontra a resistncia dos unduru6u e de comunidadesagroe/trati#istas,  como a de ontanha e anga!al. ressionado pelo processo eleitoral, o go#ernodisse que, desta #e+, cumprir$ a lei e ou#ir$ os 'ndios, mas não escutar$ os ri!eirinhos.

 * presidente tam!ém arrancou um naco do arque "acional da *ma+Ania para facilitar ocaminho das hidrelétricas planeadas para o %apas. as s criou unidades de conser#ação na *ma+Ania a 12 dias do segundo turno, na tentati#a de minimi+ar a repercussão de seu péssimodesempenho no setor. G desmatamento na *ma+Ania #oltou a crescer 11I no !imestre de agosto esetem!ro deste ano, comparado 201L. Segundo o Fma+on <Fnstituto do )omem e do eio *m!iente

da *ma+Ania>, porque o go#erno adiou a di#ulgação dos dados oficiais para depois das eleiç7es. :ilmafoi tam!ém a presidente que menos demarcou terras ind'genas desde a redemocrati+ação do pa's.essoas respeit$#eis defenderam nestas eleiç7es que o susto de quase perder o poder far$ :ilma

5ousseff e o % retomarem algumas lutas histricas, tam!ém no hori+onte socioam!iental. &eremos.3m seu discurso da #itria, neste domingo <2HT10>, :ilma falou em ?di$logoB. 3 em ?pontesB. "um

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pronunciamento !em pensado, em que a presidente reeleita podia colar tudo, $ que o cargo esta#agarantido por mais quatro anos, #ale a pena prestar atenção nas ausncias. :ilma 5ousseff nãomencionou nem ?'ndiosB - e nem ?meio am!ienteB.

QUESTÕES:

1) s leis ambientais no !rasil s"o m#ito a$an%a&as. 'o entanto( como mostra o teto( n"os"o aplica&as. *#ali&a&e &e $i&a no pa+s cai a ca&a &ia. ,pli*#e essa sit#a%"o &e acor&ocom a sociologia -#r+&ica.

2) O &ireito *#an&o n"o impe&e as a#tori&a&es &e mentirem o# *#an&o coloca as sol#%esno papel( como se ossem reais) contrib#i para *#e a pop#la%"o permane%a acre&itan&o emmentiras con$enientes como as cita&as no teto3 #sti5*#e e eempli5*#e.

6) O sistema eleitoral brasileiro po&e ser mo&i5ca&o para *#e as campanhas en$ol$am&ebates apro#n&a&os e n"o apenas &isc#sses s#per5ciais3 #sti5*#e e eempli5*#e.

4) onsi&eran&o a sit#a%"o &escrita por ,liane !r#m( o papel &as re&es sociais nas elei%es

&e 2014 no !rasil oi positi$o o# negati$o3 #sti5*#e e eempli5*#e.