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UECE – Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Centro de Estudos Sociais Aplicados Mestrado Profissional em Planejamento em Políticas Públicas Germania Alves Martins O MANIPULADOR COMO FATOR DE RISCO DE CONTAMINAÇÃO ALIMENTAR NO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E DIETÉTICA NO AMBIENTE HOSPITALAR FORTALEZA-CEARÁ 2008

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UECE – Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Centro de Estudos Sociais Aplicados

Mestrado Profissional em Planejamento em Políticas Públicas

Germania Alves Martins

O MANIPULADOR COMO FATOR DE RISCO DE

CONTAMINAÇÃO ALIMENTAR NO SERVIÇO DE

NUTRIÇÃO E DIETÉTICA NO AMBIENTE HOSPITALAR

FORTALEZA-CEARÁ

2008

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1

UECE – Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Centro de Estudos Sociais Aplicados

Mestrado Profissional em Planejamento em Políticas Públicas

O MANIPULADOR COMO FATOR DE RISCO DE

CONTAMINAÇÃO ALIMENTAR NO SERVIÇO DE

NUTRIÇÃO E DIETÉTICA NO AMBIENTE HOSPITALAR

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Planejamento em Políticas

Públicas da Universidade Estadual do Ceará para

obtenção do Titulo de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva

Frota

Co-orientadora: Prof.ª Dra. Evânia A. T. Figueiredo

FORTALEZA-CEARÁ

2008

2

Universidade Estadual do Ceará

Mestrado Profissional em Planejamento em Políticas Públicas

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Título da Dissertação: “O MANIPULADOR COMO FATOR DE RISCO DE

CONTAMINAÇÃO ALIMENTAR NO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E DIE TÉTICA NO

AMBIENTE HOSPITALAR”.

Nome da Mestranda: Germania Alves Martins

Nome do Orientador: Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota

Orientador

______________________________________________

Profª Dra. Maria Izabel Florindo Guedes

1ª Examinadora

_______________________________________________

Prof. Dr. Paulo César de Almeida

2º Examinador

Data da Defesa: 05/03/2008

3

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Alfeu e Helena;

Aos meus irmãos; e

Aos meus sobrinhos.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, a quem amo e tudo devo;

Ao Mestrado Profissional em Planejamento em Políticas Públicas, que nos

acolheu;

À minha mãe pelo incentivo;

Às minhas irmãs pelo apoio e carinho;

À minha co-orientadora, Profª. Dra. Evânia A. T. de Figueiredo, pelo estímulo

e conhecimento prestados para a realização deste trabalho;

Às amigas Ângela Maia, Ângela Sales, Mª Gorete, Jocélia e Lucília, que me

acompanharam e ajudaram nesta longa caminhada.

5

RESUMO

Dentre os aspectos de segurança alimentar, a produção de alimentos seguros tem sido uma exigência mundial, devido à ocorrência de toxinfecções. Com efeito, a ingestão de um alimento seguro é o mínimo que o consumidor deseja e espera. Este estudo foi realizado em um hospital privado na cidade de Fortaleza em 2006 e teve como objetivo avaliar como a manipulação de alimentos poderá ser um fator de risco para a população, analisando a flora microbiana na via respiratória e no trato intestinal. Foram realizados os exames de coprocultura e parasitológico de fezes e cultura de orofaringe em 28 funcionários; aplicou-se um questionário com perguntas fechadas, abordando situações de higiene e saúde. Os resultados identificaram um número considerável de portadores de microorganismos (43%), havendo uma igualdade na contaminação do trato respiratório e intestinal; verificou-se que 30% dos funcionários que apresentavam sinais e sintomas de afecções, permaneciam desenvolvendo as atividades, após comunicação à chefia imediata e observou-se que apesar dos treinamentos realizados pelo serviço, havia um grau de desconhecimento da utilização adequada de luvas descartáveis e máscaras. Concluiu-se que a infestação dos manipuladores é um risco para a contaminação alimentar, associada aos procedimentos inadequados de higiene.

Palavras-chave: Toxinfecções, Manipulação de alimentos, Contaminação alimentar, Higiene.

6

ABSTRACT

Among the feeding safety aspects, the production of safe foods has been a world requirement due to toxinfection occurrences. In fact, the intake of a safe food is the least that a consumer wishes and expects. This present study was made in a private hospital of Fortaleza in 2006 and had as an aim to assess how the food manipulation can be a risk factor for population by identifying and quantifying the microbial flora on via respiratory and on tract intestinal. It was done Parasitological of feces and Coproculture examinations as well as the oropharynx culture in 28 employees; plus a questionnaire application in which dealed with hygiene and health situations. The results identified a considerable number of microorganisms carriers (43%), which showed an equality on respiratory and intestinal tract contamination; it was noticed that 30% of these employees showed signs and symptoms of affections, and they kept on doing their activities afterwards the communication to the immediate head and it was also noticed that despite the training made by this service, there was a level of ignorance of the appropriate use of disposable gloves and masks. It is concluded that the infestation of manipulators is a risk for food contamination, added to the hygiene inadequate procedures.

Key-words: Toxinfections, foods manipulation, food contamination, hygiene.

7

SUMÁRIO

LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................ 09 LISTA DE QUADROS / TABELAS ..................................................................... 10 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11

CAPÍTULO I – MANIPULADOR DE ALIMENTOS E CUIDADOS SA NITÁRIOS.... 14

1.1 Manipulador de Alimentos ........................................................................... 14 1.2 Dados Epidemiológicos ................................................................................ 16 1.3 Doenças de Origem Alimentar e suas Conseqüências ................................. 19

17 1.3.1 Staphylococcus aureus ....................................................................... 20 1.3.2 Bacillus cereus ..................................................................................... 21 1.3.3 Clostridium botulinum ....................................................................... 22 1.3.4 Clostridium perfringes ....................................................................... 23 1.3.5 Listeria monocytogenes ....................................................................... 24 1.3.6 Salmonella .......................................................................................... 25 1.3.7 Shigella .............................................................................................. 27 1.3.8 Yersinia enterocolítica ......................................................................... 28 1.3.9 Escherichia coli patogênica ................................................................. 28 1.3.10 Campylobacter jejuni ......................................................................... 30 1.3.11 Hepatite A .......................................................................................... 31 1.3.12 Rotavírus .......................................................................................... 31 1.3.13 Giardia lambia .................................................................................. 32 1.3.14 Entamoeba histolytica ....................................................................... 33 1.3.15 Taenias ............................................................................................... 33 1.3.16 Trichinella spiralis .............................................................................. 34

1.4 Portarias e Resoluções ................................................................................ 34 1.4.1 Resolução RDC n.º 216 ........................................................................ 34 1.4.2 Portaria CVC n.º 6/99 .......................................................................... 36

CAPÍTULO II – O CONTROLE DA SOCIEDADE SOBRE OS ALIM ENTOS FORNECIDOS ...........................................................................................................

38

2.1 Participação da Sociedade nas Políticas Públicas ..................................... 38 2.2 A Reforma Sanitária e a Participação da Sociedade ................................... 39 2.3 Participação Popular e Controle Alimentar .................................................. 42

CAPÍTULO III - ANÁLISE DOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS EM HOSPITAL PARTICULAR DE FORTALEZA ............................................................

45

3.1 Percurso Metodológico .................................................................................. 45

8

3.2 Análises Microbiológicas .............................................................................. 45 3.2.1 Coleta, transporte e preparo da amostra ............................................ 45 3.2.2 Coprocultura ........................................................................................ 46 3.2.3 Cultura de orofaringe ........................................................................... 46 3.2.4 Exame parasitológico ......................................................................... 47

3.3 Aplicação do Questionário ........................................................................... 47

RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES .............................................. 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 60 APÊNDICE .............................................................................................................. 66

9

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Faixa etária dos Manipuladores do Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006 ..........................................................

48

GRÁFICO 2 - Grau de escolaridade dos Manipuladores do Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006 .......................................................

49

GRÁFICO 3 - Tempo de experiência dos Manipuladores em Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006 .........................................

49

GRÁFICO 4 - Índice de lavagem das mãos dos Manipuladores em situações adequadas do Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006 ........................................................................................................

50

GRÁFICO 5 - Índice de afastamento por doenças dos Manipuladores do Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006 .......................

51

GRÁFICO 6 - Índice de utilização adequada de luvas pelos Manipuladores do Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006 .......................

52

GRÁFICO 7 - Índice de utilização adequada de máscaras descartáveis pelos Manipuladores do Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006 ...............................................................................................

53

GRÁFICO 8 - Índice de procedimentos inadequados durante a Manipulação de alimentos do Setor de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006 .....

54

GRÁFICO 9 - Índice de contaminação dos Manipuladores do Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006 .........................................

56

10

LISTA DE QUADROS / TABELAS

QUADRO 1 - Grupos de microorganismos causadores de doenças de origem alimentar ...........................................................................................

19

TABELA 1 - Resultados de exames laboratoriais dos Manipuladores de alimentos de um Hospital Privado de Fortaleza, 2006 .....................

55

11

INTRODUÇÃO

A partir do momento que o homem começou a elaborar seu próprio alimento,

além das preocupações com o sabor dos mesmos, também se preocupou com as

doenças veiculadas por alimentos. Doenças Veiculadas por Alimentos (DVA) ou

Doença Transmitida por Alimento (DTA) são termos utilizados para designar a doença

causada pela ingestão de microrganismos viáveis (infecção) ou toxinas por eles

produzidas (intoxicação) em quantidades suficientes para o desenvolvimento de quadro

patológico, tendo como agente vetor e principal porta de entrada a via oral (BRASIL,

2001).

Nos últimos anos, é cada vez mais comum, em vários países, casos de

DVAs, de etiologias variadas, muitas vezes por contaminação da matéria-prima ou do

produto pronto para o consumo. Na maioria das vezes, casos de infecções alimentares

estão relacionados ao consumo de alimentos que sofrem manipulação exacerbada

associada às más condições de armazenamento e acondicionamento, permitindo a

exposição direta ao ambiente, propiciando a contaminação e posterior veiculação de

agentes de natureza infecciosa aos consumidores (RODRIGUES et al., 2004).

As enfermidades de origem alimentar representam, na atualidade, a principal

preocupação das autoridades sanitárias devido ao aumento do número de pessoas

afetadas pelo problema cujas causas são os altos índices de infecções por Salmonella,

Enterococcus, Campylobacter e Escherichia coli (PIRES et al., 2002).

Fatores como qualidade da matéria-prima, condições ambientais,

características dos equipamentos usados na preparação e condições técnicas de

higienização são pontos importantes na epidemiologia das DVAs. Entretanto, nenhum

desses aspectos supera a importância das técnicas de manipulação e a própria saúde

do manipulador nessa particularidade (RIEDEL,1994).

O homem constitui para o seu semelhante e para os alimentos importante

veículo de contaminação de microrganismos, patogênicos ou não. Ele pode ser

contaminante, em situações eventuais, quando acometido de processos infecciosos,

12

em períodos de convalescença de algumas moléstias ou portador assintomático

(GERMANO et al., 2001).

Panetta (1998) afirma que está amplamente comprovado que a maioria dos

casos de toxinfecção alimentar, ou seja, doenças humanas transmitidas pela ingestão

de alimentos contaminados, devem-se à contaminação através dos manipuladores, os

quais podem estar eliminando microorganismos patogênicos sem, contudo,

apresentarem sintomas de doenças, comprometendo os alimentos por hábitos

inadequados de higiene (manipulação dos alimentos com mãos não higienizadas,

hábitos precários de higiene pessoal, entre outros) ou até comprometendo os alimentos

através de práticas inadequadas, por desinformação ou revolta.

O nariz, a garganta, as mãos, o intestino e as lesões inflamatórias cutâneas

são, no indivíduo, focos atuantes ou potenciais de contaminações. Em condições

oportunas e por meios diversos, o indivíduo transfere desses focos, diretamente para

alimentos, inúmeros germes, principalmente estafilococos, salmonelas, shigellas,

coliformes e bacilos disenteroídes (GERMANO et al., 2001).

É importante ressaltar que certas condições de saúde podem determinar que

pessoas se tornem desqualificadas para exercerem o trabalho de manipuladores. É o

caso da febre tifóide, onde o indivíduo torna-se portador assintomático. Outras

condições podem acarretar suspensão temporária das atividades de manipulação de

alimentos, até que sejam satisfatoriamente corrigidas (GERMANO et al., 2001).

Dessa forma, a vigilância da saúde dos manipuladores torna-se fundamental

para garantir a segurança alimentar, sendo definida como o conjunto de procedimentos

médicos que objetivam a detecção precoce dos agravos à saúde relacionados ao

trabalho (GERMANO et al., 2001).

As práticas inadequadas de higiene e processamento por pessoas

inabilitadas podem provocar a contaminação cruzada de alimentos, o que vem a se

constituir em potencial de risco à saúde pública, especialmente nas cozinhas

hospitalares (TOSIN, 1995).

Considerando o aparecimento de toxinfecções alimentares associadas aos

serviços de alimentação reconhecidos em muitos países com melhor estrutura social do

que o Brasil, como os da Europa e EUA, e o nível educacional relativamente baixo dos

13

manipuladores de alimentos envolvidos nesses serviços, planejou-se a realização do

presente estudo, que propõe como objetivo geral avaliar como a manipulação de

alimentos poderá ser um fator de risco para a população. Os objetivos específicos são

identificar e quantificar a flora microbiana na via respiratória dos manipuladores de

alimentos; identificar e quantificar a flora microbiana no trato intestinal dos

manipuladores de alimentos; identificar a flora prevalente no serviço de alimentação;

avaliar o conhecimento sobre higiene dos manipuladores do serviço de alimentação.

A presente dissertação está estruturada em três capítulos. No primeiro

capítulo, enfatizam-se o manipulador de alimentos como possível fonte de

contaminação, os microrganismo causadores de DTAs e as portarias e resoluções que

normatizam as boas práticas nos serviços de alimentação; o segundo capítulo trata da

relação do alimento com a sociedade e da importância da reforma sanitária para a

saúde; no terceiro capítulo, encontra-se a metodologia, com a descrição dos exames

laboratoriais e do questionário utilizado.

Com a aplicação do questionário, concluiu-se que os manipuladores sabem

da importância das medidas preventivas para a contaminação alimentar, porém não são

monitorados durante o preparo do alimento, por isso às vezes o desenvolvem de forma

incorreta. Os resultados dos exames laboratoriais revelaram pessoas portadoras de

microrganismos trabalhando com alimentos, o que é um ponto crítico, pois atua como

um fator de risco à saúde dos enfermos e da população saudável que consomem as

refeições no hospital pesquisado.

Os prejuízos em grande escala causados pela contaminação podem ir desde

uma simples diarréia, dor de cabeça, vômitos, mal-estar geral, até estados mais graves,

como a infecção intestinal, paralisia muscular, problemas respiratórios, convulsões e até

mesmo a morte. Dependerá da qualidade ou da quantidade de microrganismos e

toxinas que a pessoa ingeriu através de alimentos ou água.

Nas considerações finais apresentam-se a necessidade do controle de

qualidade no serviço de nutrição para a segurança alimentar e as recomendações a

serem implantadas.

14

CAPÍTULO I - MANIPULADOR DE ALIMENTOS E CUIDADOS

SANITÁRIOS

1.1 Manipulador de Alimentos

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o termo manipuladores de

alimentos, em seu sentido mais amplo, corresponde a todas as pessoas que podem

entrar em contato com um produto comestível em qualquer etapa da cadeia alimentar,

desde a sua fonte até o consumidor (GERMANO et al., 2001).

Os manipuladores de alimentos têm um importante papel na prevenção das

toxinfecções alimentares e das demais doenças de origem alimentar. A preocupação

comum é com relação à passagem dos organismos das pessoas para os alimentos, a

partir do nariz, pele das mãos e de outras superfícies e das feridas (HOBBS et al.,

1998).

A importância da transmissão de doenças infecciosas pelas mãos de

manipuladores foi demonstrada há 120 anos atrás por Semmelweis, mas foi Price apud

Crisley & Foter (1975), quem realmente estudou os tipos de bactérias na pele,

classificando-as em “residentes e transitórias”. Os microrganismos transitórios,

representados principalmente pelas bactérias gram-negativas, são facilmente

removidos pela conscienciosa lavagem das mãos com bons detergentes. Os

microrganismos residentes, na maioria gram-positivos, encontram-se em equilíbrio

dinâmico como parasitas ou saprófitas na pele, embora 10 a 20% da microbiota esteja

concentrada nas reentrâncias, onde os lipídios e o epitélio dificultam a sua remoção.

Em muitas pessoas, os estafilococos tornam-se parte significativa da microbiota

residente devido à patogenicidade de algumas cepas e capacidade de produzir

enterotoxinas, sendo de grande interesse a sua eliminação nos procedimentos de

lavagem das mãos (CRISLEY & FOTER, 1975).

Para que um manipulador contamine um alimento, de forma a causar uma

enfermidade de origem alimentar, é necessário que uma seqüência de condições seja

atendida (GERMANO et al., 2001):

15

• Que os microrganismos sejam excretados em quantidade suficiente (fezes, supurações de ouvido, nariz, garganta, boca, olhos e pele);

• Que os microrganismos passem para as mãos ou partes expostas do

corpo e que entrem em contato direto ou indireto com o alimento; • Que os microrganismos sobrevivam o suficiente para contaminar o

alimento; • Que o alimento contaminado não seja submetido a tratamento capaz de

destruir os microrganismos antes de ser consumido; e, • Que o número de microrganismos presentes constitua dose infectiva, ou

que o tipo de alimento ou a sua condição de armazenamento permitam que os microrganismos se multipliquem até a dose infectiva, ou produzam toxinas.

Considerando-se que a maioria das pessoas envolvidas com a manipulação

de alimentos, nas indústrias e nas cozinhas em geral carece de conhecimentos relativos

aos cuidados higiênico-sanitários que devem ser seguidos durante e após a elaboração

do produto, não se pode ignorar, dessa forma, a possível presença de portadores

assintomáticos entre esses indivíduos. As práticas inadequadas de higiene e

processamento por pessoas inabilitadas podem provocar a contaminação cruzada de

alimentos, o que vem a se constituir em potencial risco à saúde pública, especialmente

nas cozinhas hospitalares (TOSIN, 1995).

O enfoque individual na vigilância da saúde dos manipuladores é muito

importante, através da abordagem clínica (consulta médica), utilizando a anamnese

ocupacional, o exame físico, mental e os exames complementares (GERMANO et al.,

2001).

Outro enfoque importante é a abordagem epidemiológica, “Vigilância

Epidemiológica”, visando estudar a freqüência e a distribuição de determinado agravo

na manipulação, assim como adquirir novos conhecimentos sobre os fatores causais

(GERMANO et al., 2001).

16

1. 2 Dados Epidemiológicos

Os serviços de alimentação coletiva têm aumentado em todo o mundo e no

Brasil este mercado, com mais de 20 anos, atende cerca de dois milhões de

trabalhadores (ABERC, 2000).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma a cada três

pessoas, em países industrializados, são afetadas por DVAs anualmente, resultando

em sofrimento humano e em perdas econômicas que giram em torno de alguns bilhões

de dólares. A OMS e a Organização das Nações Unidas para Agricultura a Alimentação

(FAO) afirmam que um alimento seguro implica um menor número de casos de doenças

alimentares, menores custos na saúde pública, menos barreiras ao comércio

internacional, menos perdas e melhor produtividade (RODRIGUES et al., 2004).

Segundo a OMS, cerca de 70% das ocorrências relatadas de quadros de

intoxicações alimentares, em países industrializados, foram conseqüentes da existência

de uma qualidade higiênico-sanitária deficiente no processamento dos alimentos

servidos em unidades de alimentação. São detectados, anualmente, nos países em

desenvolvimento, mais de um bilhão de casos de diarréia aguda em crianças menores

de cinco anos, das quais cinco milhões chegam a óbito. A contaminação bacteriana dos

alimentos é uma das causas representativas desses casos (OMS, 1984).

Pesquisadores calculam que de um bilhão a 100 milhões de indivíduos, em

todos os países civilizados, contraem infecções ou intoxicações decorrentes de

alimentos, através do consumo de refeições e água de bebida (GERMANO et al.,

2001).

Há de se considerar que de uma maneira geral existe perda de informações

epidemiológicas, subestimando-se o número real de doenças transmitidas por

alimentos. Estima-se que apenas de 1 a 10% dos casos são computados pelas

estatísticas oficiais (GERMANO et al., 2001).

Apenas um pequeno número de casos de enfermidades causadas por

alimentos é notificado aos órgãos de inspeção de alimentos, tornando duvidosos os

resultados apresentados nas estatísticas brasileiras. Isso se deve ao fato de que muitos

patógenos presentes em alimentos causam sintomas brandos, e a vítima não busca

17

auxílio médico. Portanto o número de casos notificados pode ser entendido como a

ponta do iceberg, tendo em vista o número real de toxinfecções causadas por alimentos

e que não são submetidos a registros (PIRES et al., 2002).

No Brasil, os dados existentes, embora subnotificados, indicam a seriedade

dos surtos de DVAs, conforme demonstra o informe do Departamento de Vigilância

Sanitária do Ceará (DEVIS), que relata caso de óbito por intoxicação estafilocócica.

Segundo a relação parcial de surtos de salmonelose ocorridos no Estado de São Paulo,

entre 1994 e 1995, registraram-se 27 surtos epidêmicos, envolvendo 2.364 doentes e

dois óbitos. No Rio Grande do Sul, entre 1980 e 1994, notificaram-se 776 surtos, que

envolveram 46.819 pessoas (NERVINO et al., 1997).

Em termos de Saúde Pública, há indicação de que a ocorrência dessas

doenças vem aumentando gradativamente, sendo responsáveis por centenas de

mortes, milhares de hospitalizações e, possivelmente, complicações irreversíveis, cujos

números são ainda desconhecidos (GERMANO et al., 2001).

A notificação e a análise das doenças de origem alimentar são ações

importantes para melhorar a qualidade higiênico-sanitária na produção de alimentos. O

mapeamento das DVAs fornece subsídios para o desenvolvimento de medidas

políticas, legislativas, priorização de áreas de pesquisa e avaliação de programas de

controle de surtos epidêmicos (NERVINO et al., 1997).

Desse modo, as questões relacionadas com a segurança alimentar

constituem, indiscutivelmente, no momento atual, uma preocupação de ordem geral,

abrangendo entidades oficiais, agentes econômicos e consumidores. A adoção de

técnicas que permitam maior segurança na manipulação dos alimentos vem sendo

objeto de diversos grupos de pesquisa em todo o mundo (RODRIGUES et al., 2004).

1.3 Doenças de Origem Alimentar e suas Conseqüência s

Doenças de origem alimentar são todas as ocorrências clínicas decorrentes

da ingestão de alimentos que podem estar contaminados com microrganismos

18

patogênicos (infecciosos ou toxinogênicos), substâncias químicas ou que contenham

em sua constituição estruturas naturalmente tóxicas (SILVA JR., 2001).

O aumento do número de doenças de origem alimentar deve-se, por um

lado, à demanda elevada e constante de alimentos nos grandes centros urbanos e, por

outro lado, à crescente necessidade de mão-de-obra, não raro, desqualificada. Somam-

se a isso a introdução de novos tipos de produtos alimentícios e de embalagens, bem

como a tendência atual de se consumir alimentos crus ou pouco cozidos, visando à

manutenção da qualidade nutricional e organoléptica dos mesmos (TOSIN, 1995).

O aparecimento de doenças de origem alimentar ocorre geralmente por

contaminação cruzada, especialmente envolvendo saladas e outros alimentos crus

provenientes de produtos avícolas ou de outras fontes (TOSIN, 19995).

Atualmente, admitem-se três divisões para as doenças transmitidas por

alimentos (SILVA JR., 2001):

• Toxinose: quadro clínico conseqüente da ingestão de toxinas bacterianas pré-formadas nos alimentos, decorrente da multiplicação de bactérias toxinogênicas nos alimentos, como Staphylococcus aureus, Clostridium botulinum e Bacillus cereus Emético.

• Infecção: quadro clínico decorrente da ingestão de microrganismos

patogênicos que se multiplicam no trato gastrintestinal, produzindo toxinas ou agressão ao epitélio, como a Salmonella sp., Shigella sp., Escherichia coli patogênica, Vibrios patogênicos, etc.

• Toxinfecção: quadro clínico decorrente da ingestão de quantidades

aumentadas de bactérias na forma vegetativa que liberarão toxinas no trato gastrintestinal ao esporular, porém sem colonizar, como o Clostridium perfringes e Bacillus cereus Clássico.

Grande é o número de microrganismos de origens diversas que podem ter

influência na conservação de alimentos. Esses organismos ainda se comportam de

maneira diferente quando mudam as condições do ambiente em que vivem, de modo

que não é possível obter, por meio de um estudo sucinto, uma idéia exata do problema

(RIEDEL, 1992).

Está claro que patógenos alimentares ou produtos tóxicos pré-formados

precisam ser ingeridos a fim de desencadear uma doença alimentar. À exceção das

19

toxinas botulínicas, das micotoxinas e das toxinas do fitoplâncton, todos os agentes

causadores de doenças alimentares podem ser contraídos pela via fecal-oral. Os

microrganismos causadores de doenças alimentares podem ser transmitidos a partir de

fezes contaminadas, pelos dedos de manipuladores de alimentos com hábitos de

higiene insatisfatórios, por insetos voadores ou rasteiros e também pela água. Embora

a rota fecal-oral não seja muito comum para doenças como a intoxicação estafilocócica,

ela é a rota principal para as viroses alimentares, os protozoários e as bactérias

enteropatogênicas (JAY, 2005).

QUADRO 1 – GRUPOS DE MICROORGANISMOS CAUSADORES DE DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR

PLATELMINTOS BACTÉRIAS Parasitas

• Fasciola • Fasciolopsis • Paragonimus • Clonorchis

Vermes achatados • Diphyllobothrium • Taenia

Gram-positivas • Staphylococcus • Bacillus cereus • B. anthracis • Clostridium botulinum • C. perfringens • Listeria monocytogenes • Mycobacterium paratuberculosis

NEMATELMINTOS Trichinella Ascaris Anisakis Pseudoterranova Toxocara

PROTOZOÁRIOS Giardia Entamoeba Toxoplasma

Gram-negativas • Salmonella • Shigella • Escherichia • Yersinia • Vibrio • Campylobacter • Aeromonas (?) • Brucella • Plesiomonas (?)

Sarcocystis VÍRUS Cryptosporium Hepatite A Cyclospora Pequenos vírus circulares Estruturados (SRSVs) Rotavírus

Fonte: Jay, 2005 modificado.

Para melhor entendimento serão citados os agentes mais comuns

causadores de DTAs.

20

1.3.1 Staphylococcus aureus

Uma das causas mais freqüentes dos surtos de intoxicações está

relacionada com a presença de toxinas produzidas por cepas de Staphylococcus

aureus. A origem das cepas toxigênicas é o homem manipulador de alimentos, o qual

abriga essa bactéria (SILVA JR., 2001).

Staphylococcus aureus está amplamente distribuído no meio ambiente,

podendo ser encontrado freqüentemente no ar, fezes, esgotos, alimentos e,

principalmente, na mucosa nasal do homem e animais, crescendo com facilidade em

ambientes úmidos. Adquire grande importância, não só pelos quadros infecciosos que

podem causar, mas também pela intoxicação alimentar (WOODROFFE & SHAW,

1978).

Millian (1960) e Morse (1980) verificaram, em pessoas assintomáticas,

índices de portadores nasais de 30 a 50%, e Moss et al. (1948) observaram proporções

de 32 a 76% nas fossas nasais e vestíbulo nasal, respectivamente, podendo ser

encontrado em áreas anatômicas, como garganta, pavilhão auricular e mãos. Esses

números são semelhantes a alguns encontrados no Brasil por Iaria et al. (1980),

Arantes et al. (1982), Castro e Iaria (1984) e Raddi et al. (1988).

Nielsen (1984), pesquisando Staphylococcus aureus no vestíbulo nasal,

garganta e mãos de manipuladores de alimentos em cozinhas comerciais da cidade de

São Paulo, concluiu que dos 119 manipuladores de 10 cozinhas, 99 (83,9%) possuíam

este microorganismo no nariz, 17 (14,3%) na garganta, 07 nas mãos e 10 (8,4%) no

nariz, garganta e mãos.

Barreto-Evangelista (2001), examinando boca, saliva, cavidade nasal e mãos

de 60 manipuladores de duas diferentes indústrias de pescado de Fortaleza-Ce, isolou

Staphylococcus aureus em 60% dos indivíduos pesquisados, sendo a área de maior

ocorrência a cavidade orofaríngea, seguida de saliva, cavidade nasal e mãos,

evidenciando assim a importância dessas áreas como um risco potencial.

O crescimento do Staphylococcus aureus nos alimentos representa um risco

potencial à saúde devido à enterotoxina estafilocócica, que quando produzida e

introduzida via alimentos, é responsável pelo quadro de intoxicação alimentar (ICMSF,

21

1978). Segundo Bryan (1985), no quadro clínico de intoxicação estafilocócica, há um

predomínio de sintomas do trato gastrointestinal superior, ocorrendo náuseas, vômitos,

esforço para vomitar, dor abdominal, diarréia e prostração, após um período de

incubação que pode variar de uma a seis horas.

O treinamento de manipuladores é um dos procedimentos de maior

relevância para a prevenção da contaminação de alimentos, durante as diferentes fases

de preparo, incluídas, ainda, todas as medidas de higiene pessoal, utensílios e

instalações. Em relação à conservação dos alimentos, é extremamente importante a

faixa de temperatura, compreendida entre 7ºC e 60ºC, que deve ser evitada, a fim de

impedir a multiplicação do S. aureus e a conseqüente produção de exterotoxina

(GERMANO et al., 2001).

1.3.2 Bacillus cereus

São bacilos Gram-positivos formadores de esporos, aeróbios, que

conseguem sobreviver no meio ambiente por muitos anos (JAWETZ et al., 1991).

Essas bactérias multiplicam-se bem entre 10ºC e 48ºC, apresentando um

ótimo de temperatura entre 28ºC e 35ºC. Seu crescimento é bastante reduzido quando

a concentração de Nacl do meio é 7,5% (FRANCO et al., 2004).

A intoxicação alimentar por B. cereus tem duas formas distintas: a emética,

associada a alimentos preparados com arroz, e a forma diarréica associada a temperos

e a alimentos preparados com carne, vegetais crus e cozidos, massas, leite, sorvetes,

entre outros. A forma emética caracteriza-se por um período de incubação curto (01 a

05 horas), causando vômitos, náuseas e mal-estar geral e, em alguns casos, diarréia

com 06 a 24 horas de duração. A síndrome diarréica caracteriza-se por um período de

incubação que varia de 08 a 16 horas e seus principais sintomas são: diarréia intensa,

dores abdominais, tenesmos retais, raramente ocorrendo náuseas e vômitos. A duração

da doença é de 12 a 24horas (JAWETZ et al., 1991; PELCZAR JR. et al., 1996).

B. cereus é largamente distribuído na natureza, sendo o solo o seu

reservatório natural. Por essa razão, contamina facilmente alimentos como vegetais,

cereais, condimentos etc. Dentre os vegetais, destaca-se o arroz, que tem sido o

22

alimento mais freqüentemente envolvido em surtos de origem alimentar. A freqüência

de isolamento de B. cereus em arroz cru é de 40% a 100%. No Brasil, essa bactéria

tem sido isolada de vários tipos de alimentos: queijo, farinhas, amidos, alimentos

desidratados, carne moída, com índices de positividade entre 18% e 97% (FRANCO et

al., 2004).

A medida de controle mais eficaz para a destruição do B. cereus é através do

tratamento térmico. O cozimento em vapor sob pressão, a fritura e o assar em forno

quente destroem tanto células vegetativas quanto esporos. Cozimento em temperaturas

inferiores a 100ºC pode não ser eficaz para destruição de todos os esporos (FRANCO

et al., 2004).

1.3.3 Clostridium botulinum

O C. botulinum, responsável pelo botulismo, são bacilos Gram-positivos, tem

distribuição mundial, sendo encontrado no solo e, ocasionalmente, nas fezes de

animais. Os tipos de C. botulinum são diferenciados pelo tipo antigênico de toxina que

produzem. Os esporos destes microrganismos são bastante resistentes ao calor,

suportando 100ºC durante pelo menos 3 a 5 horas. A resistência ao calor é diminuída

por pH ácido ou concentração elevada de sais (JAWETZ et al., 1991).

O botulismo de origem alimentar tem um período de incubação que, em

geral, varia de 12 a 36 horas, dependendo da quantidade de toxina ingerida. O início da

ação da neurotoxina botulínica provoca fadiga e fraqueza muscular. Esses sintomas

são acompanhados por problemas de visão. Secura na boca, dificuldade de deglutição

e de controle da língua são sintomas característicos. A musculatura que controla a

respiração é progressivamente paralisada, podendo provocar a morte em 03 a 05 dias

por parada respiratória (FRANCO et al., 2004).

Como os esporos de C. botulinum estão amplamente distribuídos no solo,

quase sempre contaminam vegetais, frutas e outros produtos. Quando esses alimentos

são enlatados ou conservados de outra maneira precisam ser aquecidos o bastante

para garantir a destruição dos esporos, ou fervidos durante 20 minutos antes do

consumo (JAWETZ et al.,1991).

23

O criterioso controle de qualidade dos processos de industrialização de

alimentos tem diminuído consideravelmente os casos de botulismo causados pela

ingestão de alimentos industrializados. O maior perigo vem do preparo de conservas

caseiras, no qual pouca atenção é dada ao processo apropriado de enlatamento.

Infelizmente, alimentos contendo toxina botulínica podem apresentar aspecto e odor

normais. Entretanto, alimentos podem apresentar total segurança em relação ao

botulismo se forem aquecidos a100ºC durante 10 minutos ou a 80ºC durante 30

minutos, pois neste caso há destruição da toxina (PELCZAR JR. et al., 1996).

1.3.4 Clostridium perfringens

É um bacilo Gram-positivo, anaeróbio e esporulado. Uma das características

mais importantes é sua capacidade de multiplicação em temperatura alta, estando a

temperatura ótima entre 40ºC e 45ºC. O tempo de geração de 7,1 minutos a 41ºC é um

dos menores entre as bactérias de interesse em alimentos. As temperaturas mínima e

máxima para multiplicação, relatadas na literatura, são 15ºC e 51,7ºC, respectivamente.

No entanto, para esporulação, a temperatura ótima fica entre 35ºC e 40ºC (FRANCO et

al., 2004).

O clostridium perfringens é responsável por dois tipos de intoxinfecção

alimentar. Cepas do tipo A causam a intoxicação alimentar na forma clássica e as do

tipo C causam a enterite necrótica, bem mais grave e rara. Os sintomas do tipo A são

dores abdominais agudas, diarréia com náuseas e febre, sendo os vômitos raros. Esses

aparecem mais freqüentemente entre 08 a 12 horas após a ingestão de alimentos

contendo número elevado de células e a duração é de 12 a 24 horas. Normalmente,

essa intoxicação alimentar é branda, raramente causando a morte dos indivíduos

afetados. Entretanto, é muito comum em todas as partes do mundo (FRANCO et al.,

2004).

Esse microrganismo faz parte da microbiota do solo, sendo também comum

no conteúdo intestinal do homem e de muitos animais. Seu envolvimento em casos de

doenças de origem alimentar é bastante grande. Em muitos países é o agente

etiológico mais freqüentemente isolado em surtos desta natureza. A maioria dos surtos

24

relatados é associada à alimentação em estabelecimentos institucionais (restaurantes,

hospitais, fábricas, escolas etc.) (SILVA JR., 2001).

A temperatura de 60ºC inativa rapidamente as células vegetativas de C.

perfringens. A resistência térmica dos esporos varia de cepa para cepa, porém

sobrevivem ao cozimento de alimentos e podem ter sua germinação estimulada pelo

aquecimento (FRANCO et al., 2004).

A prevenção é baseada em medidas que evitem a multiplicação da bactéria

durante o armazenamento após o cozimento. A carne deve ser recentemente

preparada e ingerida quente, ou se precisar ser armazenada, deve ser resfriada

rapidamente e reaquecida imediatamente antes do consumo (PELCZAR JR. et al.,

1996).

1.3.5 Listeria monocytogenes

É um pequeno bacilo Gram-positivo que não forma esporos, anaeróbio

facultativo. Tornou-se um dos mais importantes patógenos veiculados por alimentos na

década de 80, devido à eclosão de diversos surtos de listeriose humana (JAWETZ et

al., 1991).

A bactéria é encontrada em água, lodo, esgoto, vegetação e fezes humanas

e animais. Alguns surtos têm sido associados com o consumo de leite e queijo

contaminado (PELCZAR JR. et al., 1996).

A L. monocytogenes apresenta crescimento na faixa de 2,5ºC a 44ºC,

embora existam relatos sobre o crescimento a 0ºC. Esse microrganismo suporta

repetidos congelamentos e descongelamentos (FRANCO et al., 2004).

O intestino humano é o ponto de entrada da bactéria e a associação de

epidemia de listeriose com alimentos contaminados sugere que a via natural de

infecção é o trato gastrintestinal (JAWETZ et al., 1991).

Na fase entérica, a sintomatologia é semelhante a da gripe, acompanhada de

diarréia e febre moderada. No entanto, em alguns casos esses sintomas são

inaparentes. Pode ocorrer também o desenvolvimento de um estado de portador de

duração indefinida (FRANCO et al., 2004).

25

A doença tende a se desenvolver, principalmente, em recém-nascidos e em

adultos com o sistema imunológico comprometido, como no alcoolismo, ou devido à

ingestão de drogas imunossupressoras, tais como aquelas utilizadas no tratamento de

câncer (PELCZAR JR. et al., 1996). O sintoma mais comum é febre, mas os pacientes

infectados queixam-se, também, de fadiga, mal-estar, podendo haver ou não presença

de náusea, vômitos, dores e diarréia. O índice de mortalidade é de 30% entre os

imunodeprimidos, debilitados ou recém-nascidos (FRANCO et al., 2004).

Não existe vacina disponível. A prevenção está baseada na eliminação de

reservatórios de animais infectados, evitando-se animais e produtos de origem animal

contaminados, e no diagnóstico precoce e tratamento da doença em mulheres grávidas

(PELCZAR JR. et al., 1996).

Uma vez que esta bactéria é encontrada distribuída amplamente na

natureza, podendo se desenvolver em ampla faixa de temperatura e de pH, além de ser

uma das células vegetativas de maior resistência térmica, deve-se prevenir sua entrada

no ambiente da indústria de alimentos. Para tanto, é imperativo fazer o controle do

microrganismo nos pontos de origem da matéria-prima através de medidas que

minimizem as chances de contaminação (FRANCO et al., 2004).

1.3.6 Salmonella

O gênero Salmonella pertence à família Enterobacteriaceae e compreende

bacilos Gram-negativos não produtores de esporos, anaeróbios facultativos. A

temperatura ideal para a multiplicação é de 35-37ºC, sendo a mínima de 5ºC e a

máxima, 47ºC. Vários estudos indicam, no entanto, que valores máximo e mínimo

dependem do sorotipo. As salmonellas são amplamente distribuídas na natureza, sendo

o trato intestinal do homem e de animais o principal reservatório (FRANCO et al., 2004).

Os seres humanos são infectados por salmonellas quase exclusivamente

devido ao consumo de água e alimentos contaminados. Os alimentos mais comumente

envolvidos são: cremes doces utilizados em tortas, carne moída, lingüiças, carne de

aves, bife assado preparado comercialmente e ovos. A disseminação da bactéria pode

ocorrer de ser humano para ser humano. Portadores assintomáticos e pessoas

26

doentes, que excretam salmonellas nas fezes, podem contaminar suas mãos. Se

pessoas com as mãos contaminadas estão envolvidas na preparação de alimentos,

elas podem inocular o microrganismo e se o alimento for estocado em local não

refrigerado por muitas horas, a bactéria pode se multiplicar, alcançando número

suficiente para causar doença naqueles que o ingerirem (PELCZRA JR. et al., 1996).

As infecções por salmonella podem apresentar sintomas como náuseas,

vômitos, diarréia, dores abdominais, debilidade e hipertemia, sendo que um indivíduo

que se recupera de salmonelose pode permanecer como portador, excretando a

bactéria nas fezes, por dias ou meses (HOBBS & GILBERT, 1986). Os sintomas

aparecem, em média, 12 a 36 horas após o contato com o microrganismo, durando

entre 01 e 04 dias (FRANCO et al., 2004).

As salmoneloses de origem alimentar podem estar limitadas a um único

indivíduo ou a um pequeno grupo de indivíduos relacionados, como podem também

estar associadas a surtos de grandes proporções, envolvendo milhares de pessoas

(FRANCO & LANDGRAF, 2004). Piccolo et al. (1992) relataram um surto de

salmonelose em uma cantina escolar, em São Paulo, que conduziu ao quadro de 50

indivíduos doentes (82%).

Uma vez que muitos casos de gastroenterite por Salmonella resultam da

ingestão de alimentos contaminados, as seguintes medidas podem prevenir a infecção

(PELCZAR JR. et al., 1996):

• Cozimento adequado dos alimentos de origem animal, com a finalidade de destruir as salmonellas que possam estar presentes.

• Conservação dos alimentos a temperatura adequadas de refrigeração,

evitando a multiplicação das salmonellas. • Proteção do alimento do contato com roedores, moscas e outros animais.

• Análise periódica de amostras de fezes de manipuladores de alimentos,

com a finalidade de detectar portadores. • Inspeção periódica de locais de processamento de alimentos pela saúde

pública, visando à detecção de produtos alimentícios contaminados. • Boas práticas pessoais sanitárias e higiênicas.

27

1.3.7 Shigella

Bactérias do gênero Shigella são bacilos Gram-negativos, anaeróbios

facultativos, não formadores de esporos, pertencentes à família Enterobacteriaceae. A

temperatura ótima de crescimento é 37ºC, mas cresce na faixa de 10ºC a 40ºC.

Toleram concentrações de sal de 5% a 6% e são relativamente sensíveis ao calor. A

doença é disseminada através da via fecal-oral, mas algumas vezes o alimento e a

água entram nesta rota (FRANCO et al., 2004).

As infecções por esse microrganismo são quase sempre limitadas ao trato

gastrintestinal. A doença causada é denominada disenteria (diarréia com muco e

sangue). O período de incubação é inferior a 04 dias. Os sintomas podem variar desde

uma infecção assintomática ou fraca até uma disenteria fulminante. O paciente pode

apresentar subitamente dor abdominal, febre e diarréia aquosa (JAWETZ et al., 1991).

Apesar da maioria dos casos de shigelose ser disseminada através da

transmissão pessoa a pessoa, já foram relatados casos de infecção ocasionados pela

ingestão de alimentos ou água contaminados. Essa contaminação, no entanto, é

sempre em virtude da presença de fezes humanas provenientes, geralmente, das mãos

de um indivíduo assintomático ou com a doença em forma branda, não diagnosticada.

No Brasil, as shigellas são os principais agentes de enterocolite. A shigelose está

sempre associada à higiene pessoal e condições sanitárias deficientes (FRANCO et al.,

2004).

Como os seres humanos são o principal hospedeiro conhecido de shigella

patogênica, o controle deve ser dirigido para a boa higiene pessoal e educação dos

manipuladores de alimento. A contaminação de alimentos ou água indica contato

recente com fezes humanas contaminadas, devido à fragilidade desse microrganismo

(JAWETZ et al., 1991).

28

1.3.8 Yersinia enterocolítica

São bacilos Gram-negativos facultativos, pertencentes à família

Enterobacteriaceae. Crescem lentamente a 37ºC e rapidamente a 25ºC (PELCZAR JR.

et al., 1996).

A fonte de infecção é, provavelmente, a via oral, tendo, portanto, os

alimentos e a água uma grande importância na transmissão da doença. A região do

trato intestinal afetada é a ileocecal, provocando enterite, ileíte terminal e linfadenite

mesentérica. No caso de enterite, os sintomas mais comuns são: febre, diarréia, às

vezes sanguinolentas, e dores abdominais. Náusea e vômito também são freqüentes. O

período de incubação é de 12 a 72 horas (FRANCO et al., 2004).

A contaminação pode ocorrer através do contato de alimentos crus

contaminados com alimentos prontos, utensílios e equipamentos não desinfectados,

mãos contaminadas (SILVA JR., 2001).

Y. enterocolítica é uma bactéria psicrotrófica e, portanto, os alimentos

refrigerados de origem animal tornam-se importante fator de risco para o consumidor.

Esse fato pode ser exemplificado por dois dos maiores surtos de infecção de origem

alimentar, onde os veículos transmissores foram o leite pasteurizado, num caso, e o

leite achocolatado, no outro. Ela tem sido isolada de diversos alimentos em diferentes

países, inclusive no Brasil. Entre esses alimentos podem ser citados: carnes de

diferentes origens e seus derivados, leite cru e pasteurizado, produtos de laticínios e

verduras (FRANCO et al., 2004).

As precauções sanitárias convencionais são úteis para a prevenção e

controle dessa doença. A conscientização dos manipuladores de alimentos, quanto à

higiene pessoal, também é importante para o controle (JAWETZ et al., 1991).

1.3.9 Escherichia coli patogênica

É a espécie predominante entre os diversos microrganismos anaeróbios

facultativos que fazem parte da flora intestinal de animais de sangue quente. Pertencem

29

à família Enterobacteriaceae e são bacilos Gram-negativos não esporulados (FRANCO

et al., 2004).

A contaminação pode ocorrer de forma cruzada entre alimentos crus e

cozidos, utensílios não desinfectados, mãos não higienizadas, manipulação de gêneros

diferentes de alimentos e após utilização do banheiro. O período de incubação é de 12

a 72 horas, com diarréia, vômito, febre, cólica, mal-estar e calafrios (SILVA JR., 2001).

O significado da presença de E. coli em um alimento deve ser avaliado sob

dois ângulos. Inicialmente, por ser uma enterobactéria e detectada no alimento, indica

que esse alimento tem contaminação microbiana de origem fecal e, portanto, está em

condições higiênicas insatisfatórias (FRANCO et al., 2004).

As E. coli patogênicas são divididas em cinco grupos conforme sua atividade

no corpo humano. Virulência, interações com a mucosa intestinal, quadros clínicos,

epidemiologia e sorotipagem serão considerados (HOBBS et al., 1998):

• Enteropatogênicas (EPEC) • Enterotoxigênicas (ETEC) • Enteroinvasivas (EIEC) • Enterohemorrágicas (EHEC) • Enteroaderentes (EAEC)

Os alimentos envolvidos são: água, carne bovina moída, aves, pescados,

leite (cru), queijos etc. (SILVA JR., 2001).

A prevenção e o controle passam obrigatoriamente pela higiene do abate e

da ordenha; pela conservação das matérias-primas abaixo dos 7ºC; pela pasteurização

dos produtos lácteos e dos sucos de frutas; pela adoção das Boas Práticas de

Fabricação e pela Análise de Riscos e Pontos Críticos de Controle nas indústrias; pelos

cuidados na manipulação de alimentos de origem animal crus; pela higiene das

instalações e equipamentos nas cozinhas; pelo tratamento térmico dos alimentos

cárneos; e pelo resfriamento rápido dos alimentos processados abaixo de 7ºC

(GERMANO et al., 2001).

30

1.3.10 Campylobacter jejuni

Entre suas principais características destacam-se: forma de bacilos curvos,

espiralados, muito finos e compridos, Gram-negativos móveis com único flagelo polar

que apresenta de duas a três vezes o comprimento da célula. A característica mais

marcante é a microaerofilia, requerendo tensão baixa de oxigênio para sua

multiplicação. Crescem em faixa bastante estreita de temperatura, que varia entre 30ºC

e 47ºC, com um ótimo de 42ºC, razão pela qual são, muitas vezes, denominados

campilobacters termofílicos (FRANCO et al., 2004).

Leite cru ou inadequadamente pasteurizado tem sido comumente implicado

como veículo de infecção. Surtos com origem no leite podem se estender devido à

distribuição homogênea do organismo no meio fluido. Surtos com origem na água são

noticiados ocasionalmente. O C. jejuni é prontamente isolado de aves e a contaminação

cruzada nas cozinhas dos alimentos crus para os cozidos, parece ser a forma mais

significativa com que os organismos atingem os seres humanos. Pode haver

contaminação direta de carnes cruas para os manipuladores de alimentos. O contágio

direto pessoa-a-pessoa foi comprovado e, portanto, o nível da dose necessária para o

aparecimento dos sintomas pode ser baixo (HOBBS et al., 1998).

O período de incubação varia normalmente de 02 a 05 dias, podendo se

estender até 10 dias. A doença caracteriza-se por causar diarréia, acompanhada de

febre baixa e dores abdominais. Em alguns casos, a febre pode ser alta e as fezes

podem conter sangue, leucócitos e mucos. Vômitos são raros. A fase aguda da diarréia

dura 02 a 03 dias, mas as dores abdominais podem persistir por até 03 semanas

(FRANCO et al., 2004).

A primeira medida para prevenção que se impõe é o controle da qualidade

da água de abastecimento, sobretudo a que será utilizada na preparação de alimentos,

devendo ser tratada de modo adequado com cloro. Os alimentos devem ser mantidos à

temperatura de refrigeração ou acima dos 50ºC, até serem servidos. O congelamento é

um método eficaz de destruição da bactéria, assim como a cocção dos alimentos.

Deve-se evitar o consumo de alimentos crus, incluindo-se carnes, ovos e leite. A

higiene pessoal é um fator importante, notadamente o hábito de lavar as mãos antes e

31

após a manipulação de alimentos. Atenção especial deve ser dada às crianças, em

suas relações com animais de estimação, obrigando-as a lavar as mãos

cuidadosamente antes das refeições (GERMANO et al., 2001).

1.3.11 Hepatite A

O vírus da hepatite A é um vírus RNA de fita simples, pertencente ao grupo

dos enterovírus. A hepatite A, anteriormente denominada hepatite infecciosa, transmite-

se pela via fecal-oral, sendo a água e os alimentos contaminados os principais veículos

durante as epidemias. Entre os alimentos, merecem destaque os moluscos bivalves,

que podem se contaminar durante seu cultivo em águas contaminadas. O consumo de

moluscos crus tem sido incriminado em diversos casos de hepatite A, assim como

saladas cruas. Na hepatite, o vírus atinge a mucosa intestinal e passa para o fígado

pela via sanguínea do sistema porta. As lesões hepáticas consistem em necrose celular

do parênquima hepático, proliferação nas células de Kupfer, com acúmulo de

macrófagos, linfócitos e leucócitos nas áreas de necrose (FRANCO, 1996).

O período de incubação varia de dois a seis meses, os pacientes mantém

sua capacidade infectante durante um período de duas a três semanas antes do

aparecimento da icterícia e duas semanas após a regressão deste sintoma. O vírus da

hepatite A tem elevada resistência ao calor, suportando temperatura de 60ºC por meia

hora (FRANCO, 1996).

1.3.12 Rotavírus

É provavelmente a causa mais comum de gastroenterite viral. Estima-se que

ele cause cerca de três milhões de casos, mas menos de 100 mortes a cada ano nos

Estados Unidos. A mortalidade é muito mais alta em países menos desenvolvidos

porque a terapia de reidratação oral não está disponível (TORTORA et al., 2005).

Os rotavírus são vírus RNA de fita dupla e causam gastroenterite

principalmente em crianças com idade inferior a seis anos. Os rotavírus causam

alterações no fluxo de água e eletrólitos no nível de mucosa intestinal, além de interferir

32

no processo de reabsorção de fluidos intestinais, resultando em diarréia. Os vírus

causam também lesões nas células do intestino delgado, principalmente nas da parede

lateral e do topo das vilosidades. O processo infeccioso instala-se em cerca de 48

horas, regredindo após três a cinco dias. Os vírus, no entanto, podem ser eliminados

por muitos dias após terem cessado os sintomas (40 dias). As gastrenterites por

rotavírus são mais comuns nos meses de inverno. Água e alimentos podem ser

importantes veículos de transmissão dos rotavírus (FRANCO et al., 2004).

O vírus é disseminado pela rota fecal-oral e possivelmente pela rota

respiratória. Grande quantidade é liberada durante a fase da diarréia (MURRAY et al.,

2006). O único tratamento para a gastroenterite viral é a reidratação oral ou, em casos

excepcionais, a reidratação intravenosa (TORTORA et al., 2005).

1.3.13 Giardia lambia

É um protozoário flagelado capaz de se fixar firmemente à parede intestinal

humana. É a causa da giardíase, uma doença diarréica prolongada, caracterizada por

mal-estar, náuseas, flatulência, fraqueza, perda de peso e cólicas abdominais. O

protozoário, que se reproduz por fissão binária, algumas vezes ocupa tanto espaço na

parede intestinal que interfere na absorção dos alimentos (TORTORA et al., 2005).

As formas de contaminação podem ser através de consumo de água

contaminada, tratada inadequadamente, pela ingestão de frutas ou vegetais

contaminados e crus ou pela disseminação de pessoa a pessoa pela via fecal-oral ou

oral-fecal. Os fatores de risco associados à infecção por Giárdia incluem más condições

sanitárias, viagem a áreas endêmicas, consumo inadequado de água tratada, creches e

práticas sexuais oroanais. Uma atenção cuidadosa à lavagem das mãos e ao

tratamento de todos os indivíduos é importante no controle da disseminação da

infecção nesses ambientes (MURRAY et al., 2006).

O período de incubação antes do desenvolvimento da doença sintomática

varia de uma a quatro semanas (média de 10 dias). A recuperação espontânea ocorre

geralmente após 10 a 14 dias, embora possa se desenvolver uma doença mais crônica

com múltiplas recaídas (MURRAY et al., 2006).

33

1.3.14 Entamoeba histolytica

A disenteria amebiana ou amebíase é disseminada principalmente por

alimentos ou água contaminados por cistos do protozoário amebiano Entamoeba

histolytica. Embora o ácido do estômago possa destruir os trofozoítos, não afeta os

cistos. No trato intestinal, a parede do cisto é digerida e os trofozoítos são liberados.

Então, multiplicam-se nas células epiteliais da parede do intestino grosso. Ocorre uma

disenteria grave e as fezes contêm caracteristicamente sangue e muco (TORTORA et

al., 2005).

A eliminação do ciclo de infecção requer a introdução de medidas adequadas

de saneamento e educação sobre as formas de transmissão. A água deve ser fervida e

frutas e vegetais cuidadosamente lavados antes de serem consumidos. A cloração e

filtração dos suprimentos de água podem eliminar a disseminação destas e de outras

infecções por protozoários, mas não são possíveis em muitos países em

desenvolvimento (MURRAY et al., 2006).

1.3.15 Taenias

O ciclo de vida de uma tênia típica estende-se por três estágios. O verme

adulto vive no intestino de um hospedeiro humano, onde produz ovos que são

excretados nas fezes. Os ovos são ingeridos por animais, como o gado, onde o ovo

eclode em uma forma larval denominada cisticerco, que se aloja nos músculos dos

animais. As infecções humanas por tênias começam com o consumo de carne de gado,

porco ou peixe mal-cozida, contendo cisticercos (TORTORA et al., 2005).

A tênia adulta do gado, T. saginata, pode viver no intestino humano por 25

anos e atinge um comprimento de 6 metros ou mais. Mesmo um verme desse tamanho

raramente causa sintomas significativos além de um vago desconforto abdominal. A T.

solium, a tênia do porco, tem um ciclo de vida similar ao do gado. Uma diferença

importante é que a T. solium pode produzir o estágio larval no hospedeiro humano, uma

doença denominada neurocisticercose (TORTORA et al., 2005).

34

Na infestação intestinal com a forma adulta da tênia, ocorre nervosismo,

insônia, fome, cólica abdominal, perda de peso, raras gastroenterites. Período de

incubação de três a seis meses (SILVA JR., 2001).

1.3.16 Trichinella spiralis

T. spiralis é o agente etiológico da triquinose. A forma adulta deste

organismo vive na mucosa duodenal e jejunal de mamíferos carnívoros de todo o

mundo. Entre os animais domésticos, suínos são os mais freqüentemente envolvidos. A

infecção começa quando a carne que contém larvas encistadas é digerida. As larvas

saem da carne no intestino delgado e dentro de dois dias desenvolvem-se em vermes

adultos (MURRAY et al., 2006).

Os sintomas da triquinose incluem febre, edema em torno dos olhos e

desconforto gastrintestinal. Pequenas hemorragias sob as unhas são freqüentemente

observadas (TORTORA et al., 2005).

Nos últimos 10 anos, o número de casos relatados anualmente nos Estados

Unidos variou de 16 a 129. Os óbitos são raros e, na maioria dos anos, não há nenhum

(TORTORA et al., 2005).

1.4 Portarias e Resoluções

1.4.1 Resolução RDC nº. 216

A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

adotou o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação em vigor

desde 15/09/2004, que trata da RDC nº. 216. Ela foi elaborada a partir da necessidade

de constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de alimentos

visando à proteção à saúde da população, considerando a necessidade de

harmonização da ação de inspeção sanitária em serviços de alimentação e a de

35

elaboração de requisitos higiênico-sanitários gerais para serviços de alimentação

aplicáveis em todo o território nacional.

Dessa forma, esse Regulamento tem como objetivo estabelecer

procedimentos de Boas Práticas para serviços de alimentação a fim de garantir as

condições higiênico-sanitárias do alimento preparado.

Um dos itens abordados é o manipulador de alimentos que recomenda:

• O controle da saúde dos manipuladores deve ser registrado e realizado de acordo com a legislação específica.

• Os manipuladores que apresentarem lesões e/ou sintomas de enfermidades que possam comprometer a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos devem ser afastados da atividade de preparação de alimentos enquanto persistirem essas condições de saúde.

• Os manipuladores devem ter asseio pessoal, apresentando-se com

uniformes compatíveis à atividade, conservados e limpos. Os uniformes devem ser trocados, no mínimo, diariamente e usados exclusivamente nas dependências internas do estabelecimento. As roupas e os objetos pessoais devem ser guardados em local específico e reservado para esse fim.

• Os manipuladores devem lavar cuidadosamente as mãos ao chegar ao

trabalho, antes e após manipular alimentos, após qualquer interrupção do serviço, após tocar materiais contaminados, após usar sanitários e sempre que se fizer necessário. Devem ser afixados cartazes de orientação aos manipuladores sobre a correta lavagem e anti-sepsia das mãos e demais hábitos de higiene, em locais de fácil visualização, inclusive nas instalações sanitárias e lavatórios.

• Os manipuladores não devem fumar, falar desnecessariamente, cantar,

assobiar, espirrar, cuspir, tossir, comer, manipular dinheiro ou praticar outros atos que possam contaminar o alimento, durante o desempenho das atividades.

• Os manipuladores devem usar cabelos presos e protegidos por redes,

toucas ou outro acessório apropriado para esse fim, não sendo permitido o uso de barba. As unhas devem estar curtas e sem esmalte ou base. Durante a manipulação, devem ser retirados todos os objetos de adorno pessoal e a maquiagem.

• Os manipuladores de alimentos devem ser supervisionados e capacitados

periodicamente em higiene pessoal, em manipulação higiênica dos

36

alimentos e em doenças transmitidas por alimentos. A capacitação deve ser comprovada mediante documentação.

1.4.2 Portaria CVS n º 6/99

A Portaria CVS nº. 6/99 de 10/03/99 foi publicada no Diário Oficial do Estado

de São Paulo em 12/03/99, elaborada pela Diretoria Técnica do Centro de Vigilância

Sanitária da Secretaria do Estado da Saúde.

Esse Regulamento estabelece os critérios de higiene e de boas práticas

operacionais para alimentos produzidos / fabricados / industrializados / manipulados e

prontos para o consumo, para substituir as ações da Vigilância Sanitária e a elaboração

dos Manuais de Boas Práticas de Manipulação e Processamento.

Um dos parâmetros utilizados para ações higiênico-sanitárias é o controle de

saúde dos funcionários. Existem dois tipos que devem ser realizados:

1 – O Ministério do Trabalho através da NR-7 determina a realização do PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, cujo objetivo é avaliar e prevenir as doenças adquiridas no exercício de cada profissão, ou seja, problemas de saúde conseqüentes da atividade profissional. Este controle deve ser realizado por um profissional médico especializado em medicina do trabalho, devendo ser realizado exame médico admissional, periódico, demissional, de retorno ao trabalho e na mudança de função. 2 – O controle de saúde clínico exigido pela Vigilância Sanitária, que objetiva a saúde do trabalhador e a sua condição para estar apto para o trabalho, não podendo ser portador aparente ou inaparente de doenças infecciosas ou parasitárias. Para isso devem ser realizados os exames médicos admissionais, periódicos, dando ênfase aos parâmetros preconizados neste regulamento, acompanhados das análises laboratoriais como: hemograma, coprocultura, coproparasitológico e VDRL, devendo ser realizadas outras análises de acordo com avaliação médica.

A periodicidade dos exames médico-laboratoriais deve ser anual, dependendo

das ocorrências endêmicas de certas doenças, essa periodicidade pode ser reduzida de

acordo com os serviços de Vigilância Sanitária e Epidemiológica locais.

37

Assemelhando-se à RDC nº. 216, o documento ressalta que não devem

manipular alimentos os funcionários que apresentarem feridas, lesões, chagas ou cortes

nas mãos e braços, ou gastroenterites agudas ou crônicas (diarréia ou disenteria), assim

como, os que estiverem acometidos de infecções pulmonares ou faringites.

38

CAPÍTULO II - O CONTROLE DA SOCIEDADE SOBRE OS ALIM ENTOS

FORNECIDOS

2.1 Participação da Sociedade nas Políticas Pública s

O período que compreende o final do século passado e as primeiras décadas

do século XX assinala um conjunto de relevantes transformações na formação histórica

do Brasil. Acontecimentos como a abolição da escravatura, a implantação do trabalho

assalariado e a instauração do regime republicano, em grande parte desencadeados

pela emergência de novas forças e valores sociais e das injunções demandadas pelo

capitalismo que então se mundializava, foram alguns dos marcos decisivos ao processo

de construção de uma nova ordem política, social e econômica no País (PONTE, 2001).

Na esteira desse quadro de mudanças, as principais cidades brasileiras

atravessaram uma série de intensas reformas urbanas e sociais. Efeitos práticos dos

anseios dominantes de modernização da sociedade, tais reformas visavam alinhar os

centros urbanos locais aos padrões de civilização e progresso disseminados pelas

metrópoles européias (PONTE, 2001).

Nos últimos anos, a natureza das organizações humanas tem sido discutida à

exaustão nas rodas empresariais e administrativas, numa reação ao sentimento

generalizado de que as empresas de hoje em dia precisam passar por uma

transformação fundamental (CAPRA, 2005).

A inserção do Brasil na mundialização do capitalismo em sua fase

monopolista-financeira, via intensificação da exportação nacional de matérias-primas

(café, borracha, açúcar, algodão, etc.) para as principais potências européias, foi

significativa para a emergência de novos grupos burgueses, agrários e urbanos e para a

formação de setores médios constituídos por bacharéis, médicos, engenheiros,

jornalistas, entre outros (PONTE, 2001).

Nesse âmbito, procuraram-se introjetar e consolidar, por intermédio dos mais

variados meios, estratégias e tecnologias, inserção de novos hábitos, cuidados

higiênicos, efetiva saúde pública, ensino prático, práticas esportivas, produtividade e

39

interesse pelo trabalho, sem os quais não se poderia alcançar o progresso e a promoção

da riqueza nacional (PONTE, 2001).

Em contrapartida, a retração e a resistência das camadas populares à

construção desse modelo burguês eram problematizadas como sérios obstáculos à

instauração do “progresso”. Urgia tentar atenuá-las mediante uma ampla

disciplinarização urbana e social. Guardadas as proporções e particularidades de cada

centro urbano, foi este o processo que atravessou as mais importantes cidades

brasileiras entre o final do século passado e 1930 (PONTE, 2001).

No decorrer da última década do século XX, cresceu entre os empresários,

políticos, cientistas sociais, líderes comunitários, ativistas de movimentos populares,

artistas, historiadores da cultura e mulheres e homens comuns de todas as classes

sociais a percepção de que um novo mundo estava surgindo – um mundo moldado

pelas novas tecnologias, pelas novas estruturas sociais, por uma nova economia e uma

nova cultura. O termo usado para designar as extraordinárias mudanças e o movimento

aparentemente irresistível percebido por milhões de pessoas foi “globalização” (CAPRA,

2005).

2.2 A Reforma Sanitária e a Participação da Socieda de

O termo “Reforma Sanitária” foi usado pela primeira vez no país em função da

reforma sanitária italiana. A expressão ficou esquecida por um tempo até ser recuperada

nos debates prévios à 8ª Conferência Nacional de Saúde, quando foi utilizada para se

referir ao conjunto de idéias que se tinha em relação às mudanças e transformações

necessárias na área da saúde. Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas

todo o setor saúde, introduzindo uma nova idéia na qual o resultado final era entendido

como a melhoria das condições de vida da população (KRÜGER, 1998).

No início das articulações, o movimento pela reforma sanitária não tinha uma

denominação específica. Era um conjunto de pessoas com idéias comuns para o campo

da saúde. Em uma reunião na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em

40

Brasília, esse grupo de pessoas foi chamado de forma pejorativa de “partido sanitário”

(KRÜGER, 1998).

O slogan “Saúde Para Todos no ano 2000” (SPT – 2000), pregado em âmbito

maior pela OPAS/OMS, ao mesmo tempo em que servia de sustentação à estratégia de

consolidação do capitalismo no contexto global, colocava-se como pano de fundo, onde

se projetavam os pressupostos da “Reforma Sanitária”, que respondia à necessidade de

uma política de reformas no espaço setorial. Poder-se-ia então situá-la como um projeto

específico, constituinte de uma trajetória maior juntamente com outros projetos

econômico-sociais reformadores – que se consubstanciavam por sua vez em uma série

de “projetos parciais” que sinteticamente gravitavam em torno dos seguintes eixos

(GALLO, 1988):

1. Unificação do Sistema de Saúde e sua hierarquização e descentralização para estados e municípios, com unidade na Política de Saúde;

2. Universalização do atendimento e equalização do acesso com extensão

de cobertura de serviços; 3. Participação da população – através de entidades representativas – na

formulação, gestão, execução e avaliação das políticas e ações de Saúde; 4. Racionalização e otimização dos recursos setoriais com financiamento do

Estado através de um fundo único de Saúde em âmbito federal. Através desses “projetos parciais” se buscava o apoio social ao projeto da

“Reforma Sanitária”, visando a um somatório de forças para sua viabilização (GALLO,

1988).

O Movimento de Reforma Sanitária, no período da abertura política, deu

importante contribuição para reanimar os princípios democráticos na vida social e

apontou reorientações para a construção de um novo modelo de atenção à saúde. Esse

movimento levou ao reconhecimento da saúde como direito e obrigação do Estado,

direito esse que foi regulamentado em 1990 com as Leis nº. 8080 e 8142. A segunda

dispõe sobre a diretriz constitucional de participação da comunidade, que acontecerá

nas seguintes instâncias colegiadas: conferências de saúde e conselhos de saúde,

41

abertos à participação de representantes de diferentes segmentos da sociedade civil,

nas três esferas de governo (KRÜGER, 1998).

A Reforma Sanitária surgiu nos centros urbanos maiores, pouco se

estendendo e firmou base nas regiões mais distantes do país, principalmente na esfera

da municipalidade, mas se institucionalizou sem conseguir consolidar-se, ainda, como

uma luta desencadeada por segmentos organizados de trabalhadores de diferentes

setores, intelectuais, partidos políticos e técnicos identificados com as lutas sociais, que

representam de certa forma o pensamento progressista do país. Vale destacar que,

apesar desse contexto, experiências de alguns municípios de pequeno e médio portes

estão na frente quanto ao processo de implementação do SUS (KRÜGER, 1998).

Teixeira (1989) percebe esse movimento como:

...um processo de transformação da norma legal e do aparelho institucional que regulamenta e se responsabiliza pela proteção à saúde dos cidadãos, e corresponde a um efetivo deslocamento do poder político em direção às camadas populares, cuja expressão material se concretiza na busca do direito universal à saúde e na criação de um sistema único de serviços, sob a égide do Estado.

Em seus estudos, Cohn (1996) caracterizou a Reforma Sanitária brasileira

como um movimento que acontecido no interior do processo de transição democrática

conservadora teve como foco central o Estado e a conquista da presença de seus

preceitos no aparato institucional. Afirma que:

Foi um movimento de cima para baixo, que teve como suporte intelectual a construção de um saber militante calcado em grandes marcos teóricos, privilegiando as instituições e a organização do aparato institucional da saúde em detrimento do movimento real da sociedade.

Também refletindo sobre os limites da Reforma Sanitária, Oliveira (1989)

afirma que as políticas de saúde foram pensadas como simples modificações técnico-

administrativas e organizacionais. Ressalta que é necessário “dar posição central a

temas como o da democratização do Estado e a formulação de um projeto contra-

hegemônico”.

42

Esse processo de construção de um novo modelo de política de saúde foi

muito marcado pelo embate contra os paradigmas tradicionais do Estado e, portanto,

seus relatos e sua prática muito pouco conseguiram considerar o movimento real da

sociedade. O limite do Movimento de Reforma Sanitária tornou-se mais visível no

momento da implementação do SUS, via conselhos, pois a não-socialização e a

assimilação desse projeto no nível da sociedade, e mesmo dentro do aparato

burocrático governamental tem dificultado o seu entendimento e realização (KRÜGER,

1998).

Apesar dos limites da Reforma Sanitária, como construção desvinculada do

movimento real da sociedade, não é possível questionar as intenções e

comprometimento de seus atores idealizadores e defensores. Pode ser visto como um

fenômeno politicamente referenciado e socialmente controverso, pois se não tem um

vínculo orgânico com a sociedade, não nasceu nem se desenvolveu por obra e graça da

burocracia estatal. Um movimento que nasceu externo ao aparelho de Estado

tradicional, mas conseguiu se estabelecer com ele (KRÜGER, 1998).

Dentro do contexto do Direito Público, ressalta, pela sua natureza e

importância, as normas de Direito Sanitário, quer como afirmação do poder de polícia do

Estado, impondo restrições aos indivíduos em benefício do interesse coletivo, quer como

afirmação do poder público, intervindo sobre bens e serviços que interfiram direta ou

indiretamente na saúde humana (GALLO, 1988).

Nos termos do Art. 196 da Constituição de 1988, a saúde é concebida como

direito de todos e dever do Estado que deve garanti-la, mediante políticas sociais e

econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos. O direito à

saúde, por ser um direito inerente à própria vida do ser humano, rege-se pelos princípios

da universalidade e da igualdade de acesso às ações e aos serviços que a promovem,

protegem e recuperem (GALLO, 1988).

2.3 Participação Popular e Controle Alimentar

O aumento exponencial das reservas alimentares, das fontes de matérias-

primas e da distribuição em escala mundial dos produtos acabados tem despertado o

43

interesse das autoridades. Soma-se a isso o rápido incremento das populações das

cidades. Nestes últimos cinqüenta anos, cerca de um bilhão de pessoas emigraram da

área rural, acarretando mudanças enormes nos padrões dietéticos, uma vez que

passaram de seus produtos e processos alimentares básicos tradicionais aos “alimentos

urbanizados”. Da mesma forma, muitos dos “antigos moradores das cidades” tiveram

que mudar seus hábitos da “alimentação domiciliar” para a “alimentação comercial”,

induzidos pelas mudanças do “viver e trabalhar urbano” (SILVA JR., 2001).

O progresso científico tem permitido a identificação de contaminantes em

pequeníssimas quantidades e desenvolveram-se provas toxicológicas que permitem

antecipar certos problemas relativos à saúde humana. Em conseqüência, o público

consumidor está reclamando proteção sempre maior e os organismos de

regulamentação são impelidos a tomar decisões administrativas que satisfaçam as

expectativas do público e as reais exigências da saúde pública (GALLO, 1988).

Um alimento contaminado pode alastrar sua contaminação para toneladas e

toneladas de alimentos, preparados ou não, sendo todos destinados ao lixo (SILVA JR.,

2001).

Ao lixo, porém, não se estará apenas destinando o alimento, mas também

parte do trabalho do agricultor durante a plantação, a colheita e o transporte. Estará

sendo jogada fora, do mesmo modo, parcela de onerosos custos da empresa e,

conseqüentemente, parte de seu capital. Para a sociedade que vive, hoje, sufocada por

contínuas épocas de crise financeira, inflação etc., jogar fora alimentos é desperdiçar

energia rara e agravar uma situação, sem mencionar que é nos países

subdesenvolvidos ou em desenvolvimento que reside a maior carência de saneamento

básico, maior índice de doenças, maior quantidade de microrganismos patogênicos e daí

por diante (SILVA JR., 2001).

A decisão toxicológica, formulada sobre a inocuidade de uma substância,

direta ou indiretamente presente nos produtos consumidos pela população pertence, em

primeiro lugar, ao setor técnico-científico, antes que ao setor político-legal-administrativo.

Se as decisões toxicológicas deverão estar fundamentadas sobre os dados técnicos e

científicos, as decisões político-legal-administrativas, por sua vez, deverão estar

44

fundamentadas sobre a base das decisões toxicológicas, tomadas depois de um

exaustivo exame dos dados científicos (GALLO, 1988).

A atual Organização Administrativa Brasileira, voltada para o controle de

alimentos, é complexa. Há órgãos e entidades atuando sobre o mesmo assunto nas

Pastas da Saúde e da Agricultura. Nos Estados e Municípios, também as Secretarias de

Saúde participam dos procedimentos de vigilância sanitária, em nível da

comercialização, mas não dos estabelecimentos produtores sediados em suas áreas

geográficas como seria desejável (GALLO, 1988).

45

CAPÍTULO III - ANÁLISE DOS MANIPULADORES DE ALIMENT OS EM

HOSPITAL PARTICULAR DE FORTALEZA

3.1 Percurso Metodológico

Este estudo foi desenvolvido em um hospital da rede privada, na cidade de

Fortaleza, Ceará, que possui 178 leitos. O Serviço de Nutrição e Dietética (SND)

fornece 1800 refeições por dia, incluindo desjejum, lanches, almoço, jantar e ceia para

os colaboradores e pacientes. O SND possui 50 funcionários que desempenham

atividades desde o recebimento do alimento até a distribuição ao cliente.

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, do tipo experimental, na qual foram

realizados exames laboratoriais de coprocultura, parasitológico e cultura de orofaringe

nos funcionários do serviço de nutrição e dietética que manipulavam os alimentos no

período diurno e noturno.

A amostra foi composta de 28 indivíduos, ou seja, todos os manipuladores de

alimentos que realizaram as coletas no mês de janeiro de 2006, período determinado

pela Instituição para a realização dos exames periódicos. As análises ocorreram no

laboratório do hospital.

Após a coleta em todos os participantes do estudo, os resultados dos

exames foram encaminhados ao médico do trabalho que, após avaliação, prescreveu

medicamentos específicos para as afecções apresentadas pelos funcionários.

3.2 Análises Microbiológicas

3.2.1 Coleta, transporte e preparo da amostra

As amostras de fezes para realização dos exames parasitológicos e de

coprocultura foram coletadas em frascos estéreis, de boca larga e tampa bem ajustada,

46

na ausência de contraste radiológico. O frasco foi hermeticamente fechado logo após a

colheita, para manter a umidade adequada (KONEMAN et al., 2001).

3.2.2 Coprocultura

O diagnóstico das infecções intestinais foi feito pela cultura de fezes ou

coprocultura. As fezes foram semeadas em meios apropriados para o isolamento de

todos os enteropatógenos (MARTINEZ, 1999).

3.2.3 Cultura de orofaringe

As amostras do trato respiratório superior foram obtidas através do swab de

garganta seguindo as recomendações para a coleta. Os materiais utilizados foram

swabs estéreis transportados em frascos de vidro, também estéreis, tubos, contendo

caldo enriquecedor (TSB - Tryptic Soy Broth) e solução salina fosfatada esterilizada

(KOMEMAN et al., 2002).

A coleta foi realizada através dos swabs embebidos em solução fosfatada

estéril colocada, primeiro, nas amídalas e, em seguida, na parte posterior da faringe.

Esses swabs foram colocados nos tubos contendo caldo enriquecedor esterilizado e

transportados ao laboratório em caixa de isopor de maneira mais rápida possível. No

laboratório, os caldos contendo swabs foram incubados à temperatura de 35ºC e, na

seqüência, semeados em placas de Petri contendo meios de cultura específicos para

alguns microrganismos. Para bactérias Gram positivas utilizou-se o meio ágar sangue

(ágar sangue-azida base), para bactérias Gram negativas, o meio EAM. A semeadura

foi obtida tocando-se o aplicador com o material da garganta num ponto das respectivas

placas e usando-se um segundo aplicador estéril (ou alça bacteriológica estéril) para

semear a placa a partir daquele ponto. A incubação ocorreu a 35ºC por 24 ou 48 horas,

até que as colônias pudessem ser identificadas com clareza. A identificação das

bactérias foi realizada através de provas bioquímicas.

47

3.2.4 Exame parasitológico

Esse exame é muito útil na identificação das diversas infestações

parasitárias (ovos e larvas de helmintos e cistos de protozoários) e na triagem das

infecções intestinais. A intensidade do parasitismo influi no número de formas

parasitárias eliminadas. É recomendável o exame de fezes em três amostras, colhidas

em dias diferentes, pois a ausência de parasitas em uma amostra de fezes não elimina

a possibilidade da presença do mesmo no organismo (PARDINI, 2002).

Foi utilizado o método de sedimentação espontânea. Como observa Rabello

(1990), este método foi descrito por Lutz (1919), no Brasil, e padronizado por Hoffman,

Pons e Janer (1934), em Porto Rico (LIMA et. al, 2001), que é indicado principalmente

para a pesquisa de ovos de Schistosoma mansoni, também utilizado para identificar

ovos e larvas de outros vermes. De fácil execução e baixo custo, é o mais usado nos

laboratórios clínicos (LIMA et al., 2001).

O processo consistiu em colocar cerca de 2g de fezes em frasco tipo Borrel

com 10ml de água, deixando-as permanecer por 10 a 20 minutos, até amolecerem. Em

seguida, as fezes foram desfeitas cuidadosamente com bastão de vidro, juntando-se

mais 20ml de água. Esta suspensão foi filtrada em tela metálica, de 80 a 100 malhas

por centímetro quadrado, ou retalho de gaze, e recolhida em tubo cônico, até

sedimentar. Depois, o líquido sobrenadante foi colhido com pipeta. Uma pequena

porção do precipitado do fundo do tubo foi colocada entre lâmina e lamínula. Quanto

maior o tempo permitido para a sedimentação, maior a positividade dos resultados

(LIMA et al., 2001).

3.3 Aplicação do Questionário

A cada indivíduo, foi entregue um questionário, estruturado e composto de

questões fechadas a respeito de seus dados pessoais, realização de exames de saúde

e conhecimento de técnicas de higiene (Apêndice 1).

48

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Verificou-se que dentre os 28 manipuladores pesquisados na cozinha

hospitalar, 20 (71,5%) responderam o questionário, todos do sexo feminino.

Os resultados caracterizando a população estudada foram obtidos através da

maioria da amostra. A idade variava entre 20 e 50 anos, sendo que a maioria (45%)

encontrava-se na faixa de 30 a 40 anos (gráfico 1). O setor não possuía analfabetos,

porém, o nível de escolaridade pode ter interferido no preenchimento do questionário,

considerando que os manipuladores de alimentos, em geral, possuem formação

educacional deficiente (gráfico 2).

35%20%

45%

20-30

30-40

40-50

Gráfico 1 : Faixa Etária dos Manipuladores do Serviço de Nutrição e Dietética de

Fortaleza, 2006.

49

10%10%

35%

45%

0

10

20

30

40

50

Ensino Médio Completo Ensino FundamentalCompleto

Ensino Médio Incompleto Ensino FundamentalIncompleto

%

Gráfico 2 : Grau de Escolaridade dos Manipuladores do Serviço de Nutrição e Dietética

de Fortaleza, 2006.

No gráfico 3 encontra-se o tempo de experiência em serviço de alimentação,

relatado pelos participantes. 65% trabalhavam há mais de 05 anos, o que denota certo

conhecimento sobre higiene e a necessidade de realizar exames médicos. Apenas um

(1) funcionário mencionou não ter realizado exame anual e não ter participado de

treinamentos sobre higiene pessoal.

10%

25%

30%

35%

0

10

20

30

40

1 a 5 anos 5 a 10 anos 10 a 15anos

15 a 20anos

%

Gráfico 3: Tempo de Experiência dos Manipuladores em Serviço de Nutrição e

Dietética de Fortaleza, 2006.

50

Apesar de todos os funcionários receberem treinamento sobre a forma

correta da lavagem das mãos, 20% identificaram situações inadequadas para o

procedimento, tornando-se fator de risco para contaminação.

20%

80% SIM

NÃO

Gráfico 4 : Índice de Lavagem das Mãos dos Manipuladores em situações Adequadas

do Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006.

No gráfico 5 é apresentado o índice de afastamento do trabalho por doenças

como diarréia, gripe, feridas ou doenças de pele. Constatou-se que, após a

comunicação ao chefe imediato da manifestação dos sintomas, 30% permaneceram

desenvolvendo as funções de manipulação. Observou-se neste caso o não seguimento

da RDC 216 e a ausência de preocupação com a qualidade do produto final a ser

servido aos clientes.

51

90%

70%

10%

30%

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Afastasmento pordoença

Comunicação dadoença

%

SIM

NÃO

Gráfico 5: Índice de Afastamento por Doença dos Manipuladores do Serviço de

Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006.

Tosin (1995) constatou em seus estudos que pelo menos em 50% dos locais

pesquisados não ocorre afastamento de funcionários de suas atividades, mesmo

apresentando quadro clínico de diarréia. Esses fatos deixam patente que ainda é

grande a falta de conscientização das pessoas encarregadas de cuidarem do bem-estar

coletivo, especialmente se for considerado que os alimentos podem ser vetores de

doenças quando contaminados por pessoas com pouca ou nenhuma habilidade em

práticas higiênicas na manipulação de alimentos.

Em serviços de alimentação é importante verificar se a manipulação dos

alimentos é realizada com as mãos nuas ou se com uso de utensílios, como papel

encerado ou luvas plásticas descartáveis (BRYAN, 1985). As luvas são utilizadas de

acordo com a natureza do serviço, atentando-se para a higienização e desinfecção das

mãos, antes e após o uso das mesmas. A adoção de luvas descartáveis pode ocorrer

quando não for possível utilizar utensílios e sempre por períodos rápidos. Cabe

salientar que se devem usar luvas novas toda vez que se retornar a uma função

previamente interrompida (ABERC, 2000).

De acordo com os trabalhos realizados por Bryan (1985), foram encontradas

bactérias do gênero Salmonella sp. com as seguintes taxas de isolamento: mãos sem

proteção, 30%; mãos com luvas de plástico, 31%; mãos com luvas de borracha, 37%.

52

Trabalhos realizados por Silva Jr. (2001), no controle microbiológico de alimentos

manipulados em cozinhas industriais, analisando alimentos preparados com as mãos

sem proteção (higienizadas adequadamente) e utilizando luvas descartáveis, não

demonstraram diferença nos resultados obtidos, indicando que a utilização de luvas não

implica uma redução significativa do número de microrganismos durante a manipulação

dos alimentos.

O gráfico 6 mostra que 75% dos manipuladores que responderam ao

questionário não trocam a luva após sua contaminação. Todos mencionaram que a

utilizam na manipulação dos alimentos, portanto é evidente o desconhecimento do seu

emprego adequado. Com relação à utilização de máscara descartável, o resultado foi o

mesmo. Todos os indivíduos a utilizam, porém 70% não a descartam após o tempo

recomendado (gráfico 7).

25%

75% SIM

NÃO

Gráfico 6 : Índice de Utilização Adequada de Luvas pelos Manipuladores do Serviço de

Nutrição de Fortaleza, 2006.

53

30%

70%

SIM

NÃO

Gráfico 7: Índice de Utilização Adequada de Máscaras Descartáveis pelos

Manipuladores do Serviço de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006.

A utilização de máscaras na manipulação de alimentos não é recomendada

como um mecanismo de prevenção da contaminação. Após 15 minutos de uso, a

máscara torna-se úmida, agregando as fibras e permitindo a passagem de grande

quantidade de microrganismos. Além disso, torna-se extremamente desconfortável,

provocando prurido e ocasionando maior contaminação das mãos, decorrente do ato de

coçar. No caso de adoção do uso de máscaras, as mesmas devem ser descartáveis e

devem ser trocadas, no máximo, a cada 30 minutos. Ainda é necessário um intensivo

treinamento e conscientização do funcionário quanto à utilidade e o uso de máscaras

(ABERC, 2000).

Os hábitos dos manipuladores de alimentos são fatores muito importantes no

controle higiênico-sanitário dos processos produtivos. Por se tratar de assunto

altamente individual, requer atenção especial no sentido de fazer com que todos os

funcionários adquiram hábitos apropriados de asseio e, conseqüentemente, de melhor

higiene operacional (ABERC, 2000). Quando indagados sobre o hábito de conversar ou

cantar durante as atividades, 35% responderam positivamente, índice considerado

elevado como fonte de contaminação.

54

35%

65%

SIM

NÃO

Gráfico 8: Índice de Procedimentos Inadequados durante a Manipulação de Alimentos

do Setor de Nutrição e Dietética de Fortaleza, 2006.

Conforme a Tabela 2, os resultados do exame parasitológico demonstraram

a presença de protozoários em seis manipuladores de alimentos. Dentre os

parasitados, três foram identificados como portador de Endolimax nana, dois com

Entamoeba coli e um portador de Endolimax nana e Entamoeba coli. Dos 28 indivíduos

pesquisados, apenas um do sexo masculino estava parasitado.

Quanto ao resultado da coprocultura de fezes, foi detectada cultura

patogênica para Escherichia coli (uma portadora) e Salmonella sp (uma portadora)

(Tabela 2).

Este exame visou ao isolamento de microrganismos patogênicos, como as

bactérias causadoras de intoxicações e infecções intestinais, que acometem os

indivíduos e os tornam portadores, sendo que podem ser transmitidas por esses aos

alimentos, acarretando um surto de toxinfecção alimentar entre os comensais (SILVA

JR., 2001).

No exame bacteriológico (coprocultura), as fezes foram examinadas o mais

cedo possível após a emissão, evitando-se contaminação com urina, uma vez que

quanto mais depressa forem plantadas, mais seguros serão os resultados. O material

foi colhido em frascos esterilizados, contendo um líquido conservador. As fezes com

55

muco foram incluídas na amostra, pois segundo Lima (2001), maior percentagem de

resultados positivos se obtém de amostras em que há sangue e muco.

Após obtenção do material, houve semeadura simultânea em meio seletivo e

em meios de enriquecimento. Os meios de enriquecimento, além de inibirem a flora

normal, favorecem a multiplicação dos patogênicos. Os meios seletivos são, também,

inibidores da flora normal, encerram indicadores da reação do meio e lactose, que

possibilita a separação entre as bactérias lactose-positivas e negativas (LIMA, 2001).

A semeadura foi realizada diretamente para três meios seletivos e incubado

a 37ºC por 24 horas, com alça, em três setores diferentes de cada placa, de modo a

esgotar o material, partindo-se de inoculo abundante. Após 24 horas de incubação nos

meios seletivos, foram pescadas as colônias suspeitas e passadas para ágar e meios

com carboidratos, além de outras provas bioquímicas.

No resultado do exame de cultura de orofaringe, quatro eram portadores de

Klebisiella pneumoniae (um do sexo masculino) e duas portadoras de Staphylococcus

aureus (Tabela 2). Observou-se a igualdade de contaminação do trato respiratório e do

digestivo, mas especificamente da flora intestinal.

Tabela 1 - Resultados de Exames Laboratoriais dos Manipuladores de Alimentos do

Hospital Privado de Fortaleza, 2006.

EXAMES REALIZADOS NORMAL ANORMAL

Parasitológico de Fezes 78,6 21,4

Coprocultura de Fezes 92,9 7,1

Cultura de Orofaringe 78,6 21,4

Obs: Os valores estão em %

Constatou-se que 57% da amostra pesquisada não apresentaram

microrganismos nos exames solicitados, possivelmente não portadores de

contaminação. Devido ao setor possuir um maior número de funcionários do sexo

feminino, estas apresentaram um elevado índice de acometimentos (gráfico 9).

56

43%

57%

DOENTES

SADIOS

Gráfico 9 : Índice de Contaminação dos Manipuladores do Serviço de Nutrição e

Dietética de Fortaleza, 2006.

No hospital, durante a realização dos exames e coleta de dados, os

manipuladores não relataram sintomas, sendo possíveis assintomáticos. Alguns autores

acreditam que o estado de portador, apresentando ou não sintomatologia, não justifica

o afastamento do funcionário do local de trabalho e que alguns cuidados higiênico-

sanitários observados pelo manipulador, especialmente quanto à higienização das

mãos, podem reduzir ou eliminar a possibilidade de riscos. Todavia, advertem que a

situação deve ser diferente para as pessoas infectadas que apresentam quadro

diarréico. Neste caso específico, o funcionário deve ser afastado do serviço até que o

episódio tenha revertido (BLASER, 1981).

De qualquer forma, não deve ser descartada a possibilidade de um

manipulador de alimentos, mesmo em caso assintomático, vir a se constituir em fator de

risco em uma cozinha (ARCHER, 1988).

Ao se revelar cada exame, todos os funcionários acometidos foram tratados

com medicamentos, após avaliação pelo médico do trabalho.

57

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

O controle higiênico-sanitário de alimentos tem sofrido, nestes últimos dois

anos, profundas mudanças conceituais e técnicas, devido aos novos conhecimentos em

relação ao controle dos microrganismos causadores de toxinfecções alimentares,

motivadas, principalmente, pelo aparecimento de cepas microbianas mais adaptadas

aos nossos antigos e convencionais mecanismos de prevenção, como, por exemplo, a

refrigeração (SILVA JR., 2001).

As pessoas transmitem umas às outras muitas doenças através dos

alimentos. Assim, o cuidado com a saúde do funcionário e seu efetivo controle são

fatores que influenciam na qualidade do produto final (ABERC, 2000).

O controle de qualidade no Serviço de Alimentação é muito importante e

abrangente, havendo a necessidade de se definirem: as situações básicas que

envolvem a preparação dos alimentos, como as técnicas de preparo que definem as

necessidades culinárias dos vários tipos de alimentos; as regras e técnicas adequadas

para preparar alimentos em condições de segurança higiênico-sanitárias; e as

instruções de ensino teórico e prático para desenvolver as técnicas operacionais com

manipulação e processamento seguros que evitem a ocorrência de DTAs (SILVA JR.,

2001).

Os resultados obtidos no presente trabalho levam a considerar que os

manipuladores sabem da importância dos cuidados higiênicos na produção dos

alimentos, mas não os aplicam de forma correta, mesmo sendo orientados na contração

e após passarem por treinamentos.

O índice elevado do uso da máscara (70%) e da luva (75%) de maneira

inadequada, a ausência da lavagem das mãos (20%) são fatores de risco de

contaminação para a população através da manipulação dos alimentos.

É importante ressaltar que o Codex Alimentarius e o ICMSF (Comissão

Internacional de Especificações Microbiológicas para Alimentos) não reconhecem que a

utilização de máscaras seja um procedimento adequado para a proteção dos alimentos,

e também que não existe na Legislação Federal (RDC 216/ANVISA-2004) a

58

obrigatoriedade da utilização da máscara na manipulação de alimentos (SILVA JR.,

2001).

Outro fator verificado foi a permanência dos manipuladores nas suas funções

(30%), apresentando quadro clínico de diarréia, gripe, feridas ou doença de pele.

No que diz respeito aos exames periódicos e admissionais realizados pelos

funcionários do Setor de Nutrição, observou-se que não são solicitados o

parasitológico, a coprocultura ou a cultura de orofaringe, exames que identificam

possíveis fontes de contaminação.

Os resultados laboratoriais coletados identificaram 43% da população

pesquisada acometida por patógenos. Constatou-se a igualdade do trato intestinal e

respiratório em infestação e que os microrganismos prevalentes foram Entamoeba coli,

Endolimax nana, Klebisiella pneumoniae e Staphylococcus aureus.

Enquanto sugestões propõem-se medidas preventivas e corretivas à

coordenação do Setor de nutrição, a fim de prevenir e/ou minimizar os riscos de

contaminação, sendo as principais:

• Conscientização dos manipuladores quanto à necessidade de higienizar

corretamente as mãos (lavagem e anti-sepsia), várias vezes durante o

trabalho;

• Treinamentos trimestrais de hábitos pessoais (apropriados) e lavagem das

mãos, para o controle higiênico e evitar contaminações por

microrganismos;

• Implementação de mecanismos de motivação e monitoramento do

trabalho, principalmente na execução dos procedimentos de higiene;

• Adoção do sistema APPCC como ferramenta de gerenciamento, visando

à segurança do produto e à proteção do consumidor;

• Exclusão do uso de máscara, pois não é um procedimento de segurança

e a sua utilização de forma incorreta aumenta o risco de contaminação;

59

• Afastamento dos manipuladores de alimentos das suas funções, quando

apresentarem quadro diarréico, infecções respiratórias ou feridas;

• Adoção, como padrão, de exames admissionais e periódicos:

coprocultura, parasitológico e cultura de orofaringe, além dos já

realizados.

Diante do exposto, ficou claro que é necessária uma fiscalização mais

eficiente sobre o cumprimento da legislação em vigor, que aborda as normas de higiene

e saúde, no intuito de produzir um maior comprometimento por parte dos

manipuladores, evitando assim as toxinfecções alimentares.

60

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66

APÊNDICE

67

QUESTIONÁRIO

1. Idade:

( ) 20 a 30 anos ( ) 30 a 40 anos ( ) 40 a 50 anos

2. Sexo:

1 ( ) Feminino 2 ( ) Masculino

3. Escolaridade:

1 ( ) Ensino Fundamental Completo

2 ( ) Ensino Fundamental Incompleto

3 ( ) Ensino Médio Completo

4 ( ) Ensino médio Incompleto

4. Há quanto tempo você trabalha em serviço de nutrição?

( ) 1 a 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) 10 a 15 anos ( ) 15 a 20 anos 5. Realiza exames de saúde anualmente? 1 ( ) Sim 2 ( ) Não

Quais: ( ) Sangue ( ) Fezes ( ) Urina

6. Quando foi admitido na empresa, realizou exames de saúde?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

Quais: ( ) Sangue ( ) Fezes ( ) Urina ( ) Rx do pulmão ( ) Garganta

7. Já Participou de treinamentos sobre higiene pessoal?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

8. Quando começou a trabalhar na empresa, foi orientado sobre a forma correta da lavagem das mãos?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

9. Em que ocasião você lava as mãos?

1 ( ) Antes do início do trabalho

2 ( ) Após preparação dos alimentos

3 ( ) Antes de colocar as luvas

4 ( ) Após pegar em alimentos ou material contaminado

5 ( ) Após o uso do banheiro

10. Usa sabão na lavagem das mãos?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

68

11. Quando você apresenta diarréia, gripe forte, ferida ou problema de pele, avisa ao seu chefe?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

12. Quando fica doente (diarréia, gripe, ferida ou doença de pele), é examinado pelo médico ou faz

exame de laboratório?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

13.Quando você apresenta diarréia, gripe, ferida ou doença de pele, é afastado da sua função?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

14. Você usa luvas na preparação dos alimentos?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

15. Quando você troca as luvas e joga no lixo?

( ) Após o uso do banheiro

( ) Após pegar no telefone

( ) Após tocar no corpo

( ) Após abrir a porta

( ) Antes de entrar no banheiro

16. Você usa máscara na preparação dos alimentos?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

17.Quando você troca de máscara?

( ) Quando está suja

( ) De 15 em 15 minutos

( ) De 2 em 2 horas

( ) Passa todo o plantão

18. Usa fardamento completo (touca, sapato fechado, uniforme da empresa)?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

19. Costuma conversar ou cantar durante o trabalho?

1 ( ) Sim 2 ( ) Não

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