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Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 1 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia ISSN 2178-1281 O MANUSCRITO DA CIDADE DE GOIÁS (1881-1930): UMA ANÁLISE DOCUMENTAL Danielli da Silva Borges Reis UFG/Goiânia “O medo do esquecimento obcecou as sociedades européias da primeira fase da modernidade. Para dominar sua inquietação, elas fixaram, por meio da escrita, os traços do passado, a lembrança dos mortos ou a glória dos vivos e todos os textos que não deveriam desaparecer. A pedra, a madeira, o tecido, o pergaminho e o papel forneceram os suportes nos quais podia ser inscrita a memória dos tempos e dos homens. No espaço aberto da cidade, no refúgio da biblioteca, na magnitude do livro e na humildade dos objetos mais simples, a escrita teve por missão conjurar contra a fatalidade da perda”. 1 Introdução Ao contrapormos as escritas de si e dos outros se é que essa distinção pode ou não ser aqui estabelecida existentes no Brasil a partir do século XIX com as escrituras do século anterior, percebemos uma lógica escriturária bastante diferenciada, dado estar a escrita pessoal do século XVIII diretamente vinculada a corpos pertencentes ao universo aristocrático e caracterizar-se por uma forma e função de cunho informativo oficial, isto é, são escrituras formais, instrumentos privilegiados cujos domínios e usos encontravam-se amarrados às posições e, por conseqüência, ocupações sociais e políticas de uma sociedade hierarquizada e pré- definida. Esse gênero da escrita, no qual os homens de mando deixavam conselhos, sugestões e advertências aos seus destinatários, possibilitava formas de intensificação das relações presentes e necessárias neste domínio da vida social e, principalmente, eram registros valiosos deixados com o objetivo de causar mudanças para quem os herdaria. Tratava-se mais de documentos sociais do que comunicações pessoais dirigidos a um público especificamente interessado e, por vezes, às gerações vindouras. 2 Dessa maneira, escrever sobre os eventos passados, datá-los e organizá-los em papéis não seria uma obviedade característica do século XIX em Goiás, sobretudo aos não profissionais, pouco familiarizados a esse tipo de inscrição e suporte. Tampouco distrair-se com as efusões da alma e dos sentimentos guardados em segredo pelo diário íntimo, cujos “níveis de detalhamento dos fatos cotidianos expressam uma forma de interlocução com o leitor e, ao mesmo tempo, estabelecem limites e possibilidades para a própria recepção do texto” tais como as 1 CHARTIER, 2007, p. 09. 2 SALOMON, 2010, p.8 passim.

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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e

Psicologia – ISSN 2178-1281

O MANUSCRITO DA CIDADE DE GOIÁS (1881-1930): UMA ANÁLISE DOCUMENTAL

Danielli da Silva Borges Reis – UFG/Goiânia

“O medo do esquecimento obcecou as sociedades européias da primeira fase da modernidade. Para dominar sua inquietação, elas fixaram, por meio da escrita, os traços do passado, a lembrança dos mortos ou a glória dos vivos e todos os textos que não deveriam desaparecer. A pedra, a madeira, o tecido, o pergaminho e o papel forneceram os suportes nos quais podia ser inscrita a memória dos tempos e dos homens. No espaço aberto da cidade, no refúgio da biblioteca, na magnitude do livro e na humildade dos objetos mais simples, a escrita teve por missão conjurar contra a fatalidade da perda”.1

Introdução

Ao contrapormos as escritas de si e dos outros – se é que essa distinção pode ou não ser aqui estabelecida – existentes no Brasil a partir do século XIX com as escrituras do século anterior, percebemos uma lógica escriturária bastante diferenciada, dado estar a escrita pessoal do século XVIII diretamente vinculada a corpos pertencentes ao universo aristocrático e caracterizar-se por uma forma e função de cunho informativo oficial, isto é, são escrituras formais, instrumentos privilegiados cujos domínios e usos encontravam-se amarrados às posições e, por conseqüência, ocupações sociais e políticas de uma sociedade hierarquizada e pré-definida. Esse gênero da escrita, no qual os homens de mando deixavam conselhos, sugestões e advertências aos seus destinatários, possibilitava formas de intensificação das relações presentes e necessárias neste domínio da vida social e, principalmente, eram registros valiosos deixados com o objetivo de causar mudanças para quem os herdaria. Tratava-se mais de documentos sociais do que comunicações pessoais dirigidos a um público especificamente interessado e, por vezes, às gerações vindouras.2

Dessa maneira, escrever sobre os eventos passados, datá-los e organizá-los em papéis não seria uma obviedade característica do século XIX em Goiás, sobretudo aos não profissionais, pouco familiarizados a esse tipo de inscrição e suporte. Tampouco distrair-se com as efusões da alma e dos sentimentos guardados em segredo pelo diário íntimo, cujos “níveis de detalhamento dos fatos cotidianos expressam uma forma de interlocução com o leitor e, ao mesmo tempo, estabelecem limites e possibilidades para a própria recepção do texto” tais como as

1 CHARTIER, 2007, p. 09.

2 SALOMON, 2010, p.8 passim.

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descontinuidades “causadas por intervalos às vezes grandes de tempo, visto que o diário nem sempre é uma escrita sobre todos os dias de vida do depoente”.3 O Memorial de Lembrança de Anna Joaquina Marques

No Brasil do século XIX é que evidenciamos, então, o aparecimento de uma nova massa documental sob a qual o indivíduo comum passa a partilhar de uma prática – escrever, registrar sua vida – antes circunscrita ao universo da aristocracia e determinada por valores estruturais de desigualdade. No interior dessa “nova” prática é que o documento, Memorial de Lembrança de Anna Joaquina, irá se erguer. Cabe-nos lembrar não ser a autora do Memorial uma escritora e sim uma escrevente nos moldes conceituais de Roland Barthes, que define escrevente como aquele que utiliza a linguagem escrita com uma finalidade – testemunhar, explicar, ensinar – o que faz com que a palavra seja reduzida “à natureza de um instrumento”, sem maiores preocupações literárias.4

O documento é um manuscrito original, de complexa densidade textual5 e que corresponde a anotações de aproximadamente cinco décadas que vão de 1881 a 1930, praticamente ininterruptas, nas quais a memorialista – que no primeiro ano de registro faz 25 anos – parece arquivar as idas e vindas da antiga capital do Estado, contexto de sua inserção e auto-inscrição. Dia após dia, Anna então passa a colecionar fatos que respondem a uma ordem cronológica rígida e constante, mantendo o controle sob a escrita que se pratica. Sobre esse último aspecto, Artières assegura que “um traço comum às práticas de arquivamento é com efeito um desejo de tomar distância em relação a si próprio”.6 Suas escrituras, em grande parte, mantêm uma regularidade sistemática percebida através do excesso de tinta absorvida pela página anterior quando esta encontra o registro recém-inaugurado no ato de fechar o caderno. Suas notas são breves e pontuais, ou seja, não há narrativa, nem tampouco descrições detalhadas, apenas registros curtos inscritos em um único dia. Portanto, como não há confidências, os aspectos de sua vida privada e íntima permanecem, durante todo o memorial, nas sombras, o que quer dizer que sua intimidade nunca é dada, “é preciso procurá-la além dos comportamentos codificados e das palavras”.7 Somente a partir do resgate de indícios deixados ocasionalmente pela memorialista, como desenhos de corações e flores ao lado de alguns nomes ou dias, ou mesmo nos raros adjetivos utilizados, é que a escritora permite observar sua opinião e demais julgamentos que vai costurando junto às experiências como veremos em alguns dos trechos a seguir onde apresentamos o tipo e a forma de escrita de Anna:

3 LACERDA, 2003, p. 44.

4 BARTHES, 2007, p. 35-36.

5 Em sua dissertação de Mestrado (2008a), o historiador Euzébio Carvalho insere uma nota de

rodapé [nota 158, p. 60] para descrever o corpus físico desse material e que nos é conexo: os mencionados manuscritos estão divididos em dois grupos. O primeiro, composto por três pastas, com folhas de 31 x 22 cm, compreende os anos de 1881 a 1896 e apresenta problemas decorrentes da falta de preservação e conservação, no qual algumas folhas se perderam, da encadernação e pela fragilização do papel. Devido a isso, temos uma sequência narrativa desorganizada e com muitas falhas. O segundo grupo é formado por vinte cadernos, em sua maioria, formados por folhas de 16 x 22,5 cm e está mais organizado e melhor conservado. 6 ARTIÈRES, 1998, p. 24 (grifo do autor).

7 RANUM, 1991, p. 211.

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[Dia] 7 Faleceu a D. [...]8 [m]9.er do Paulo Povôa, no Camin[ho] [...] do João Franc.o q‟. vinha da sua Chacara p.a a cidade. [Dia] 8 de junho de 1889 Sabado do Espirito Santo houve alevantam.to de mastro, m.tos fogos os Capitães do mastro m.to bom [Dia] 9 Houve a festa do Imperador o Eduardo de Abreu. E q.do acabou Sahio p.a Imperador do anno de 90 O S.r Vicente Sancho de Almeida. [Dia] 10 o Eduardo fez Cavalhadas Bailes (isto é eu não fui) depois das Cavalhadas acabadas houve o baile oferecido aos Cavalheiros (esse eu fui.) [Dia] 15 Houve baile em Caza do Chico Vianna, eu e Lili fomos Em Lovôr de ter elle sido Cap.m do mastro do Divino [Dia] 16 Domingo – Eu e Nhola fomos ao Siminario [sic] na festa do coração de Jezus [sic]. O Sermão foi pregado p.lo Bispo. [Dia] 18 Maria Hipolita veio aqui falar p.a p.r menina na escola nessa tarde Nhola foi na caza do Juca Roz‟. Ver Mariq.a e D. Deolinda veio aqui. nessa noite chegou o Correio da Côrte trazendo a notícia da queda do partido Conservador, houve muitos fogos, e mais tarde houve uma alvorada Concorr.a [Dia] 18 Lili foi ao Seminario [Dia] 20 Dia de Corpo de Deos Mariq.a veio assistir as festas d‟aqui a prosição [sic] esteve m.to bonita as portas e janelas de cortinas a Maria Cordeiro passou dia aqui.10

No que diz respeito à sua natureza, o Memorial, se comparado às fontes

complementares de sua época,11 inaugura uma singularidade pouco ajustável às categorias até então interpeladas por autores e pesquisadores de memórias tais como diários, cartas, reminiscências e (auto)biografias. Trata-se, portanto, de um registro original e único que irrompeu na Cidade de Goiás do século XIX contrário às tendências encontradas no mesmo período em documentos congêneres por conter uma forma de escrita singular na estrutura, na forma e no conteúdo.

Para elucidar essa questão recorreremos à obra de Marina Maluf (1995) que busca também diferenciar os gêneros memorialísticos, isto é, as formas de registro das lembranças e, todavia, como o “eu” narrador se constitui, lembrando não serem essas distinções narrativas rígidas em seus critérios.

8 Este símbolo indica um trecho do Memorial onde não é possível realizar a leitura de palavras ou

frases devido à danificação causada por traças ou pela perda de pedaços do mesmo. 9 As palavras que se encontram entre colchetes não estão explícitas no Memorial devido às mesmas

causas citadas anteriormente, mas podem ser inferidas por analogia ou comparação do trecho indeterminado com outros trechos. 10

MARQUES, 1889.06.7-20. As referências a respeito do memorial seguirão a ordem autoria, ano, mês e dia, quando necessário for, em que o registro foi feito. 11

Cartas de imigrantes (1853), o diário de Helena Morley (1998) e de Ina Von Binzer (1994), as memórias de Thomas Davatz (1951), de Augusta de Faro Fleury Curado (2005) e Ofélia Sócrates do Nascimento Monteiro (1974), entre outros. É importante ressaltar a ciência, na contraposição das obras, de não serem todas elas escritas no mesmo tempo social e cronológico de Anna Joaquina. No entanto, colaboram no sentido de elucidar os diferentes gêneros escriturários encontrados até o momento para este trabalho.

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[...] tanto a memória quanto a autobiografia revelam igualmente a identidade do narrador e uma parcela significativa de experiências pessoais. [...] o registro autobiográfico pressupõe uma reflexão sobre o mundo interior da experiência: seu objetivo é “uma vida, não simplesmente um registro de coisas que tenham roçado uma existência”. Já no texto memorialístico, embora a realidade exterior seja, de fato, manifestada em experiência consciente, o olhar do narrador está menos voltado para a vivência interior do que para a exterioridade dos fatos e dos acontecimentos. Seu interesse se aloja no âmbito dos eventos e é daí que retira e guarda lembranças significativas. No limite, “ele aspira ao olhar de Deus que tudo contempla”.12

Embora Anna Joaquina assegure – em nota de abertura do ano de 1898 – ser

o documento um “Diário de Lembrança p.a assentar os acontecim.to do dia”, na folha de rosto desse mesmo caderno de registro a mesma declarou ser o manuscrito um “Memorial de Lembrança de Anna Joaquina da S.a Marques”, dizer que se repetiu na forma de nota de abertura em outros anos.13 De acordo com o Diccionario da Língua Brasileira14 por Luiz Maria da Silva Pinto, natural da Província de Goiás, publicado em 1832, a palavra “diário” é verbetado como “hum Livro em que se apontão os negocios de cada dia”.15 Já “memorial”, nesse mesmo dicionário, consta como “Livro de apontamentos. Escrito para lembrar o que se pede. Que traz á memória. Memoravel”.16 A busca do tempo que se quer preservar fica ainda mais evidente à análise ao buscarmos o sentido da palavra “lembrança”, verbetado como um “Acto da memória”, um “apontamento para fazer lembrar”, uma “advertência”.17 Aqui talvez se concentre a questão chave de suas imaginadas intenções e interpretadas por esta análise prévia, já que a palavra “lembrança” está assentada em praticamente todas as tentativas de denominar o conjunto de suas escritas, mas também, num paralelismo semântico, de justificar talvez sua iniciativa ao escrever:

Anninha // lembrança do corrente anno // Janeiro de 1881 – Sabbado.18 [...] Diário de lembrança p.a assentar os acontecim.to do dia.19 [...] Livro de lembrança.20 [...] Memorial de lembrança do anno de 1914.21

12

WEINTRAUB, 1975 apud MALUF, 1995, p. 46-47. 13

Encontramos o termo “diário” nos registros da memorialista apenas essa vez, já o termo “Memorial” foi encontrado em nota de abertura nos anos de 1911, 1914, 1916, 1917 e 1929. 14

O dicionário utilizado nesse trabalho e disponibilizado pela Brasiliana/USP na web não está paginado. Dessa maneira, utilizaremos como referência bibliográfica o número da página disposta na barra de ferramentas do documento baixado. 15

PINTO, 1832, p. 371 16

PINTO, 1832, p. 710 17

PINTO, 1832, p. 660 18

MARQUES, 1881.01 19

MARQUES, 1898.01 20

MARQUES, 1900.06.01 21

MARQUES, 1914.01

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[...] Memorial de lembr.a do anno de 1916.22

No interior dessa lógica, porque não intentarmos, através desses indicativos,

ser o suposto projeto escriturário de Anna Joaquina – se diário não íntimo, se memorial – um instrumento em benefício da memória vilaboense sem, contudo, deixar de tencionar o papel social que a mesma supostamente desejava empreender, dado que impelida pela necessidade de pontuar os acontecimentos ou quem sabe, simplesmente, identificar-se com suas inscrições ao ver-se nelas, com uma pena e um conjunto de cadernos reaproveitados, suas escrituras vão se justificando e tecendo uma história que é a sua sobreposta a da Cidade de Goiás. Assim, não seria o Memorial, no limite, a lembrança do tempo, ou melhor, um lembrete necessário frente ao tempo que se esvai e através do qual se aprisiona os acontecimentos dignos de nota? Em suma, afirmou Euzébio Fernandes de Carvalho, um dos primeiro historiadores a trabalhar com esse documento, “[...] o memorial de lembrança se caracterizaria como um livro destinado ao registro de informações variadas, que futuramente poderiam ser consultadas ao prazer da necessidade e em prejuízo do esquecimento – daí justifica-se a adjetivação de lembrança”.23

Sabemos, a princípio, sobre esse tempo que passa somente através dos registros de notícias vindas da corte, das visitas domiciliares, dos bailes e “suarê”24, dos casamentos, nascimentos, batizados e óbitos. São modos de vida e de sociabilidade que se apóiam nos modelos aristocráticos franceses e que foram importados e incorporados como parte da rotina de hábitos e práticas brasileiros25 e, provavelmente, da autora. Esta se exprime com um comportamento social aparentemente alinhado aos moldes franceses do final do século XVII, dado negar aos seus apontamentos as partes de sua vida que, possivelmente, deseja manter abrigadas em seu interior. Sobre este último aspecto, Carvalho, em sua Dissertação de Mestrado intitulada “O Rosário de Aninha: os sentidos da devoção rosarina na escritura de Anna Joaquina Marques (Cidade de Goiás, 1881 – 1930)”, aproxima o estilo escriturário da autora, ainda que de maneira cautelosa devido à distância temporal de um século entre o caso francês e o vilaboense, ao livre de raison apresentado por Madeleine Foisil em “A Escritura do Foro Privado” (1991). Segundo o historiador, há que se considerar a forte influência francesa na sociabilidade brasileira, principalmente durante o século XIX, período em que o documento manifestava suas primeiras letras.26 Na França do século XVIII, “as pessoas não se permitiam falar de afetividade. Muitos consideravam indigno tal assunto e comportamento. Para além de seu aspecto formal, talvez isso explique o decoro e a discrição corrente, à época, nos livres de raison”.27

Ao analisar memórias, diários e livres de raison – expressões essenciais da escritura privada – dos finais do século XVII e século XVIII, Madeleine Foisil denomina de livre de raison uma espécie de livro de contas francês, no qual pais de

22

MARQUES, 1916.01 23

CARVALHO, 2008b, p. 109 24

Com certeza, a autora desejava registrar noites de soirée ao escrever dessa forma (MARQUES, 1881.06.16). 25

LACERDA, 2003, p. 235-6 26

CARVALHO, 2008a, p. 61-64 27

CARVALHO, 2008a, p. 62

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família e comerciantes anotavam tudo o que recebiam e gastavam a fim de manter o controle administrativo dos negócios ou, do mesmo modo, onde se registrava “batismos, casamentos, óbitos e pequenos fatos da vida da comunidade, mantendo em total segredo o âmbito privado”. Trata-se de uma forma de escrita seca na estrutura e monótona no conteúdo se comparado aos diários ingleses, infinitamente mais ricos em anotações que se justapõem num estilo bem mais narrativo, moderno, abundante e precursor;28 mas semelhante aos registros encontrados em Anna Joaquina. Segundo Foisil, as infusões do “eu” e a consciência do corpo é uma raridade nos escritos privados franceses, embora não o deixem de ser reconstituições de um modo de vida,29 talvez de uma vida um pouco distante do que se poderia chamar – mesmo que com ressalvas – de moderno, mas onde não há uma clara distinção entre o público e o privado, onde o dentro e o fora se mesclam a todo instante. Na Europa, desde o século XVIII tornara-se comum as expressões do “eu”, mas de que maneira tal fato pode – ou não – ter realmente influenciado a escrita que se lê de nossa memorialista?

Portada de uma escrita lacônica, Anna Joaquina, ora no papel de testemunha ora no papel de correspondente do leitor, registra, ou melhor, noticia. Interpretação esta baseada na decomposição do conjunto de registros deixados pela escrevente e nos quais, a partir da prática escriturária, a autora oferece lugar privilegiado em seus papéis ao selecioná-los como conteúdo, mesmo aqueles não vivenciados ativamente como, por exemplo, alguns dos fatos historiográficos comuns a esse período.

[Dia] 3 Chegou o decrecto da libertação do Brazil [sic] os últimos escravos q‟ havia. A noite hove [sic] Serenata.30 [Dia] 28 Chegou o Correio trazendo a notícia q‟ o imperador partiu p.a Europa p.la clamação [sic] da República na corte, o qual elle recebeu Cinco mil contos em troca do trono (5.000.000.000)31 [Dia] 2 Houve Camara tomou posse de Prizidente [sic] ou governador da Prov.a os Snr‟. D.rs Joaquim X.er dos Gui.mes Natal em 1º lugar em 2º lugar o Joze Joaq.m de Souza em 3º lugar o S.r Major Eugenio Augusto de Mello. q‟. exercia aqui com.e do Batalhão 20.32 Dia 10 a revolução estava já em movimento já chegava algumas pessoas de fora, e os ms. a espera dos Camiza [sic] Vermelhas.33

Como fonte de pesquisa, o Memorial de Lembrança de Anna Joaquina nos

fornece múltiplas possibilidades de estudo em diferentes campos históricos: em todas as suas dimensões, abordagens e domínios específicos. À escrita ordinária e informal, por tempos marginalizada pela história, o estatuto de documento que, como qualquer outro, é um objeto construído, inscrito no tempo e no espaço social.34 Sob esse olhar, portanto, apresentado até o momento neste trabalho, o manuscrito em questão contribui com a historiografia regional na medida em que problematiza

28

FOISIL, 1991, p. 353-5 29

FOISIL, 1991, p. 360 30

MARQUES, 1888.06.03 31

MARQUES, 1889.11.28 32

MARQUES, 1889.12.02 33

MARQUES, 1930.10.10 34

BASTOS, CUNHA, MIGNOT, 2002, p. 76-81

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aquilo que se considera como dado, a saber: o que torna possível que certos corpos sejam atravessados pelos trajetos da escrita memorialística em Goiás do século XIX? Pois antes de tratá-lo como fonte representativa, ou seja, como ponto indicante de vestígios que corroborem ou aludem a uma premissa anterior e justaposta ao contexto; historiciza-se o próprio documento-objeto a fim de buscar, no plano interpretativo, um sentido plausível à memória criada, isto é, construir um tempo sócio-histórico em que a integração entre a ação e a existência produza significado.

Os textos memorialísticos são perspectivas da realidade captadas pelo “eu” do narrador,35 são memórias individuais enlaçadas à memória do grupo, que por sua vez está integrada à memória mais ampla da sociedade, a coletiva,36 são arquivos consignados em favor da lembrança ou do que se deseja intencionalmente lembrar. Tais seleções – além de oficializarem a representação que se quer de si37 – surgem a partir dos filtros culturais disponíveis, no qual se inserem as relações materiais e padrões sociais de inserção. O que se lembra, isto é, o que se elege no momento da escrita pode vir a ser o elemento fundador da identidade (pessoal e coletiva).

Situado no centro do país, Goiás, à época, sorvia das principais idéias do país, sobretudo, de seus principais centros (São Paulo e Rio de Janeiro) a partir de algumas vias de intercâmbio disponíveis: além do telégrafo – que só fora inaugurado em agosto de 1890 – e a troca de ideias com viajantes, o correio – e este ligava a província ao “mundo exterior” via lombo de burros em estradas e picadas precárias – e os principais jornais da época que frequentemente publicavam notas a respeito de informações provindas da corte, assim como as principais notas de outros jornais do Estado, como é o caso da seção denominada Gazetilha do periódico “O Commércio”.38 As circunstâncias e contingências de um correio lento e irregular, assim como a ausência de comunicação postal efetiva à região norte do Estado, foram temas, inclusive, de algumas seções do jornal Tribuna Livre.39

O problema com a troca de comunicação postal parecia onipresente, atingindo praticamente todas as esferas sociais do Goiás de então. No limite, com algumas brechas disponíveis à atualização do tempo em que se vivia. Ainda assim, não se fecha os olhos à citada sociabilidade francesa que dirigiu, mesmo que com feições brasileiras, parte dos costumes e hábitos da sociedade vilaboense. De acordo com Danilo Rabelo (1997), o paradigma francês de civilização tornara-se o modelo a ser seguido, em geral, pelos brasileiros até o final da República Velha. “As danças de origem européias como a valsa e polka então em voga na Europa oitocentista constituíram, a par da tradicional quadrilha, a reeuropeização dos costumes iniciada com a chegada da corte em 1808”,40 o que fica claramente evidenciado no fragmento a seguir em que Anna Joaquina nos relata: “Dia 25 á noite

35

MALUF, 1995, p. 28 36

HALBWACHS apud MALUF, 1995, p. 34-35 37

Pierre Bourdieu supõe que o relato, seja ele biográfico ou autobiográfico, preocupa-se, pelo menos em parte, em extrair uma lógica ao mesmo tempo retrospectiva e prospectiva, uma constância e uma consistência como a do efeito à causa eficiente. Esse ganho de coerência faz do memorialista um ideólogo da própria vida, já que seleciona em função de uma intenção global, além de se tratar de uma forma particular de expressão de si que atesta a identidade de seu portador através dos tempos e dos espaços sociais (BOURDIEU, 1996, p. 184-189). 38

Os periódicos passaram a circular na antiga capital somente nas últimas décadas do século XIX. 39

Ver em: TRIBUNA LIVRE, 1879, n.60, n.67 e n.68. 40

RABELO, 1997, p. 122-123

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fomos no baile de Luiz de Cam.o esteve Optimo dancei m.to! até valsa e polka, a 1ª com João Correia a 2ª com Cintra”.41

No Brasil, como já fora colocado, essa lógica escrituraria se dá a partir do século XIX, período em que os títulos de memórias começam a crescer em quantidade, embora grande parte deles proceda de famílias superiores na hierarquia social da época e de um registro já distante do real a se imaginar e que se quer preservar. Se levarmos ainda em consideração ser o Brasil um país de difusão tardia da alfabetização, a produção do Memorial se faz ainda mais intrigante. Ana Maria Galvão, com base na contribuição de Alceu Ferrari, fornece dados a respeito do primeiro censo nacional realizado em 1872, no qual mostra estar em cerca de 18% o índice de alfabetização do país entre pessoas de cinco anos ou mais. Em 1890 a proporção é ainda negativamente significativa, no qual os analfabetos constituíam uma massa da população de 82,3%.42 É somente a partir do século XX que “a escola passou a ocupar espaço central, na maior parte do país, no processo de transmissão dos saberes”.43 Em Goiás, tal situação em nada se altera, ao contrário, se afirma ainda mais se atentarmos ao fato de que a antiga capital do Estado no século XIX não apresentava um processo de escolarização formal avançado. “Ao término do Império, 80% da população” era analfabeta.44 Aqui, o ensino receberia impulsos consideráveis somente após as duas primeiras décadas do século XX.

À instrução pública em Goiás do século XIX faltava um plano de ensino adequado ou mesmo uma rede regular de escolas, o que parecia preocupar as autoridades públicas, tendo nos jornais da época – amparados pelos supostos benefícios da ilustração, ou melhor, do conhecimento – seus principais críticos e incentivadores.45

Colocadas essas questões, figura-se que a autora do Memorial tenha aprendido as primeiras letras com a própria mãe, Dona Luiza Joaquina da Silva que, de acordo com Célia Brito (1874) – a saber, ex-aluna da mestra Nhola, irmã de Anna Joaquina –, possuía escola particular. Anna Joaquina era filha natural – expressão comum em sua sociedade –, isto é, nascida de uma “relação ilícita” não regulamentada pelo sacramento do matrimônio, assim como seus outros cinco irmãos, todos filhos de Dona Luiza.46

A mãe de Anna Joaquina relacionou-se com diferentes homens ao longo de sua vida, no caso específico de nossa memorialista a relação se deu com um funcionário público e reconhecido clérigo da capital da província, Pio Joaquim Marques. Entretanto, ser uma filha natural não é significado para a caracterização econômica e tampouco social de Anna Joaquina, visto que a existência de filhos naturais, até o século XIX, foi comum em Goiás, tanto entre os populares quanto

41

MARQUES, 1884.08.25 42

FERRARI apud GALVÃO, 2007, p. 11. 43

GALVÃO, 2007, p. 11 44

BRETAS apud RABELO, 1997, p. 132 45

Os temas em torno da instrução pública são constantes nos jornais da época. O jornal Tribuna Livre, por exemplo, atenta o leitor sobre a importância de uma reforma educacional para o progresso e desenvolvimento do Estado de Goiás, bem como do país. Outros artigos, pois, do mesmo periódico, sobre o assunto ver em: TRIBUNA LIVRE, 1879, n.50, n.51, n.57, n.58, n.59, n.62, n.64, n.69, n.72 e n.74. Ver também: O COMMERCIO, 20 out. 1880. 46

A primogênita Esmíria Olimpia de Souza, Antônio (Totó), Pacífica Josephina de Castro (Nhola), Maria Luiza de Castro (Mariquinha) e a caçula Luiza (Lili). Ver em: CARVALHO, 2008a, p. 74.

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entre as elites.47 Cá foram inventados arranjos familiares bastante flexíveis que indignavam viajantes pós-iluministas em suas buscas por ordenamento e correlações com a Europa. Tal comportamento devia-se às encontradas “variedades de formas de uniões entre os casais, das famílias, com o concubinato e com as atitudes femininas quanto ao seu papel sexual”,48 o que não significa ser esta realidade necessariamente fruto de transgressões e descaminhos do povo vilaboense, mas sim de um olhar orientado pela tida “civilidade” européia, a qual não cabia àquele lugar de que comentavam os viajantes.

Até meados do século XIX, a maioria da população vilaboense vivia sob o regime do concubinato. O concubinato aparecia, pela Igreja, como “uma ilícita conversação do homem com mulher continuada por tempo considerável”. Além disso, a mancebia era vista como um “relaxamento dos costumes” [segundo a observação de Saint-Hilaire]. [...] A falta de mulheres brancas nas regiões mineradoras fez com que a mancebia substituísse o casamento legítimo [...] gerando um processo acentuado de mestiçagem, que o preconceito racial não permitiu que fosse amplamente aceito.49

A aceitabilidade do concubinato e das relações ilícitas no século XIX é

assunto a ser tratado ciosamente, já que as fontes podem desvelar vários caminhos à interpretação. Se “o concubinato, onde o casamento era raro, poderia ser tolerado desde que fosse discreto e devidamente furtivo”,50 como explicar o caso de nossa protagonista que estampa no sobrenome o papel da mãe seguido do papel do pai? Compete a nós refletir, então, o sentido da palavra “discrição” à época, não? O que nos parece prosaico é a falta de segredo quanto a existência de filhos por parte dos padres para a sociedade novecentista. Não obstante, “ao serem batizados não recebiam o nome do pai e, por isso, muitos foram considerados filhos bastardos”.51 Por outro lado, nos parece clara a discrição, ou melhor, a reserva de Anna Joaquina junto aos seus apontamentos ao citar as idas à Cambaúba para visitar o pai ou, como a ele se refere a autora, Padre Pio ou Cônego Pio.

Dia 5 P.e Pio fez annos, eu Lili e Ritta fomos jantar com elle. denoite todos daqui forão.52 Dia 4 foi domingo. P.e Pio esteve aqui. hove [sic] bando detarde. denoite Lulú Pitaluga e o T.e Cav.e veio aqui.53 Dia 5 eu e Lili fomos jantar na caza [sic] do P.e Pio.54 Dia 16 fomos a Cambaúba vizitar P.e Pio q‟. passava mal.55

47

CARVALHO, 2008a, p. 73-74 48

LEMES, 2008, p.15 49

RABELO, 1997, p. 90-91 50

DIAS apud RABELO, 1997, p. 101 51

SILVA, M., 2009, p. 326 (grifo do autor) 52

MARQUES, 1882.05.05 53

MARQUES, 1883. 02.04 54

MARQUES, 1883.05.05 55

MARQUES, 1883.08.16

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Dia 30 foi Domingo A folia dos meninos saio. detarde fui a caza do P.e Pio vizitá-lo.56 Dia 14 de Novembro de 1883 3ª –feira as 5 oras da manhã faleceu O Conego Pio. A tarde foi Sepultado. Nessa mesma tarde Falecêu Pedro cunhado do Antonio M.el sepultou no dia seguinte.57

Em nenhum momento do Memorial encontramos a palavra “pai” quando a

escrevente se refere ao Padre Pio, ao contrário do que ocorre com a “mãi” ou “may”, assim mencionada pela memorialista em seus papéis. No tocante à figura de Padre Pio enquanto pai, encontramos sua presença na vida da autora apenas de forma representativa. A troca de visitas é constante, acentuando-se durante o período em que o clérigo esteve mal de saúde. No mês de seu falecimento, novembro de 1883, Anna Joaquina fez apenas seis registros não sequenciais58 e no mês de dezembro somente os dias 1º, 23 e 25 são relatados. Após a morte de Cônego Pio, a autora, de certa maneira, abstém de sua prática, o que nos leva a crer ser esse silêncio um indício da importância e significação que a pessoa do Padre tinha na vida da memorialista, já que Anna Joaquina não só arredou-se da escrita como também fez dessa ausência a manifestação do luto sentido pela perda de alguém que desempenhava um papel considerável em sua vida, o pai.

Dentro de uma lógica que lhe é própria, não nos fora surpresa as linhas deixadas em branco nessa página de registro pela memorialista – nove linhas ao todo – se considerarmos o fato de que Anna igualmente se expressa por meio das pausas que se auto-imputa. Em agosto de 1891, a autora interrompe a prática escriturária por pouco mais de um ano, provavelmente devido ao estado de saúde da mãe que viria a falecer no dia 29 de setembro de 1891. A retomada ao Memorial se deu com um único mês registrado, mesmo que com descontinuidade, em novembro de 1892, mas logo a autora perderia a irmã mais velha, Esmira Olímpia de Souza, no dia 21 de janeiro de 1893, retornando à prática com assiduidade somente em agosto desse ano. Para este período da vida de Anna Joaquina, somados os afastamentos do exercício de escrever, temos praticamente dois anos sem notas. Dessa maneira, cremos que os espaços em branco deixados pela autora falam mais do que as prováveis palavras.

Aparentemente, Anna Joaquina fez parte do núcleo comum na sociabilidade vilaboense. Ainda que presente, por vezes, em grandes eventos sociais do calendário da cidade, muitas por influência do irmão Totó, a memorialista não nos parece provir de família tradicional, ainda que sua irmã, a professora Pacífica Josefina de Castro (1826 – 1933) – a Mestre Nhola ou Inhola – tenha prestado papel fundamental na história da educação da cidade. Já o irmão Totó, conhecido como Antônio Luiz de Castro, também filho natural, “fez parte da „Mocidade Goiana‟, proveniente das „famílias arremediadas‟, que conseguiram emprego na administração estadual”, mas isso certamente por influência de seu pai, Antônio José de Castro, não desconsiderando seus méritos próprios.59 Tal fato, porém, possa ser responsável em grande medida pelo acesso de Anna Joaquina em alguns

56

MARQUES, 1883.09.30 57

MARQUES, 1883.11.14 58

Dias 1º, 2, 3, 14, 21 e 24 de novembro de 1883. 59

CARVALHO, 2008a, p. 81-82

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dos principais eventos sociais da cidade bem como por algumas visitas ilustres à sua casa, registradas no Memorial.

Dia 11 o S.r Urbano Govêa (ajudante de Ordem do Spinola)60 veio dispidir de Totó p.a ir embora.61 Dia 3 O D.r Camillo de Brito62 veio dispidir de Totó, e estava aqui Joaq.m Fernandes.63 Dia 23 eu Nhola e Lili fomos com Toto em caza do Alff.s Albano64 assistir a festa de S. João hove [sic] baile.65 Dia 27 de Novembro de 86 hove uma g.de Baile em Caza do T.e C.ol Caiado q‟. o m.mo dia ao [...] delegado. eu e Lili fomos. esteve Optimo.66 Dia 13 Eu Lili e Toto fomos ao baile na caza do Caiado e outro hove no Palácio, - este dos Conservadores e aquele dos Liberaes.67 [Dia] 7 Toto fez annos, dei a elle 1 Cerola. O Prizidente [sic] D.r Montandon68 foi p.a a Aldeia M.a [Maria] Toto foi.69 [Dia] 17 as 8 horas da manhã veio aqui o Exm.o S.r D.or Eduardo Augusto Montandon q‟. foi Prezid.e d‟ Goyaz dispidir-se p.a ir embora a sua terra. As 2 horas da tarde partia elle com um grande numero de amigos q‟. forão leval-o até a povoação do Bacalhaó, todos elles saudozos! (Pois prezidiu [sic] aqui, 4 mezes e 2 dias.)70 Dia 9 as 4 horas da tarde Cazou-se o Joa.m Alves com a Idalina f.a de João Sabino. Eu Maria e Benedicta fomos com Toto. (MARQUES, 1900.06.09) Dia 15 eu Toto Mar.a e Benedita fomos no baile em caza do Costinha (baile de Sociedade)71

Nesse sentido, qual o caminho percorrido pela protagonista em questão para

que a mesma – que não pode ser considerada membro da elite econômica e política do país tampouco “gente do povo”72 – nos deixasse um extenso relato

60

Aristides de Souza Spínola foi nomeado presidente da província de Goiás por carta imperial de 09 de janeiro de 1879, efetivando-se no cargo após dois meses e dez dias. Afasta-se do cargo em 28 de dezembro de 1880. (CARVALHO, 2008a, p. 85 [nota 248]). 61

MARQUES, 1881.01 62

Camilo Augusto de Maria Brito, então presidente da província de Goiás que se despedia para no dia 07 de setembro partir para a Corte, segundo o registro de Anna Joaquina (MARQUES, 1884.09.07). 63

MARQUES, 1884.09.03 64

Albano de Oliveira e Silva, pai de Maria Augusta de Oliveira e Silva (filha legítima), conhecida no Memorial como Iaya Albano, com quem Totó viria a se casar em maio de 1904 (CARVALHO, 2008a, p. 89-90). 65

MARQUES, 1886.06.23 66

MARQUES, 1886.11.27 67

MARQUES, 1889.05.13 68

Eduardo Augusto Montandon foi presidente da Província de Goiás de 04 de julho a 06 de dezembro de 1889. 69

MARQUES, 1889.11.07 70

MARQUES, 1889.12.17 71

MARQUES, 1901.02.15 72

Segundo Carvalho, este termo, nas primeiras décadas do regime republicano, reunia sob a mesma denominação o negro, o mestiço, o mulato e o trabalhador imigrante. Baseado nos seis arquétipos femininos vilaboenses apresentados por Cora Coralina em Todas as Vidas, o autor, em nota de rodapé [nota 187], afirma não ser igualmente Anna Joaquina uma “mulher do povo”, ou seja, “[...]

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memorialístico da sociabilidade pessoal e, por conseqüência, vilaboense nos moldes já apresentados anteriormente? Afinal, com cinco décadas de registros freqüentes não há como negar uma preocupação em conservar a vida nos papéis por parte de Anna Joaquina, independente do que a mesma tenha estabelecido como prioridade em seus registros e da maneira que os tenha registrado e guardado. Anna não se casou, não teve filhos, portanto, não fora mãe tampouco esposa, alguns dos perfis sociais e “ideais” femininos esperados e difundidos à mulher especialmente na segunda metade do século XIX por meio de discursos normativos veiculados em jornais vilaboenses.73 Nesse sentido, que papel social lhe restara desempenhar em sua sociedade?

O que se elege no momento da escrita “pode representar-se como a exata expressão do que lhe dá lugar, de sua própria legitimidade”,74 problemática que, de certa maneira, norteia o pensar a respeito das obras em torno da “escrita de si”, e cujo olhar contempla a escrita que se vê a partir de sua emergência. No interior dessa busca de idéias que influenciaram a ação e que modelaram os propósitos daqueles que se colocaram a escrever, Lílian de Lacerda (2003), em seus apontamentos a respeito do momento primeiro que é a decisão de escrever, insiste na dimensão afetiva desse gesto ligado à melancolia e à nostalgia provocada pela consciência do tempo que se esvai e das coisas perdidas, de modo a garantir, em uma luta contra o esquecimento, uma experiência forte que torne imperioso o arquivo daquilo que pode ser dito. A suposta chave do arquivamento do eu, esse desejo de fixar a memória – a trajetória social – e garantir a lembrança é também compartilhada por Alain Corbin em seu artigo “O segredo do Indivíduo” (1991), no qual trata das preocupações que ameaçam o corpo, afirmando que, ao detectar o desperdício de si próprio, o indivíduo se proporciona meios de poupar e conservar sua história, já que não ter sabido assegurar essa transmissão engendra culpa e, por conseqüência, “incita a recolher aquilo que poderá pelo menos deixar uma marca”.75

Conclusão

Não pretendemos apresentar aqui conclusões objetivas e seguras, até porque se trata de discussões oriundas de uma pesquisa ainda prematura. Nos recônditos da memória criada, o que tentamos fora pensar uma relação entre o contexto sócio-cultural em que os relatos se inserem e o aportar da escrita que se analisa: aquela que coleciona fatos, que internaliza o exterior em abundância, mas que, por outro lado, não exterioriza o interior, exclusivamente indica, sinaliza e registra, eclipsando momentos que lhe são íntimos e pessoais. Tamanha singularidade talvez possa vir a ser espelho de uma sociabilidade amical, na qual o público e o privado se embaralham todo o tempo, aparentemente presente na sociabilidade da capital de Goiás de antanho e, por conseqüência, no conteúdo privilegiado por Anna Joaquina em seus registros. Se, como afirma Marina Maluf, em toda memória pessoal estão

Bem proletária.// Bem linguaruda.// desabusada, sem preconceitos,// de casca-grossa,// de chinelinha,// de filharada”. Os outros arquétipos são: a cabocla, a lavadeira, a cozinheira, a roceira e a mulher da vida (CARVALHO, 2008a, p. 69). 73

RABELO, 1997, p. 151-160 74

RANCIÈRE, 1994, p. 74 75

CORBIN, 1991, p. 501

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inscritas as marcas da existência coletiva, cada indivíduo imprime, portanto, na reconstituição dos eventos, um significado a partir de seus enquadramentos sociais.76 E, através da maneira como a autora se apresenta em suas escrituras, presumimos que o Memorial acaba que delineando o papel social que Anna Joaquina deseja empreender frente à sociedade ao demonstrar oficialmente sua existência a partir de um projeto escriturário daquilo que se julga importante e de onde se mapeiam os referenciais de sua vida.

Ao relacionarmos brevemente os conceitos de memória e projeto, elementos fundamentais na constituição da identidade, talvez possamos nos aproximar melhor dessa inquietante conexão entre a memória individual que se produz e a memória documentada que se reflete, debatida até então. À primeira, o controle e apropriação de seu agente, composta de segurança e certeza; à segunda, o desejo de ecoar a realidade social em que haure as suas lembranças. Ambas parecem se encontrar na essência desse projeto escriturário que buscamos perscrutar, se estendendo no tempo na forma de história refletida.

De acordo com Gilberto Velho (1994), a trajetória do indivíduo tem significado crucial como componente constituidor de uma sociedade, e não só – e mais – contida nela, bagagem esta que orienta o presente (visão retrospectiva). Já a noção de projeto como “conduta organizada para atingir finalidades específicas”, desenvolvida por Alfred Schutz,77 está indissoluvelmente imbricada à ideia de indivíduo-sujeito, ou seja, é o indivíduo-sujeito aquele que faz projetos (visão prospectiva). A consistência do projeto depende, fundamentalmente, da memória na medida em que esta é quem lhe fornece os indicadores básicos de um passado que produziu as circunstâncias do presente (valores e padrões de comportamento). Nesse sentido, o projeto e a memória associam-se e articulam-se ao dar significado à vida e às ações dos indivíduos, em outros termos, à própria identidade, o que quer dizer que na constituição da identidade social do indivíduo são as visões retrospectivas e prospectivas que situam o indivíduo, suas motivações e suas opções dentro de uma conjuntura de vida; e que não só ordenam como lhe conferem significado a essa trajetória.78 Todavia, “a própria existência de projeto é a afirmação de uma crença no indivíduo-sujeito. A identidade, por conseguinte, depende dessa relação do projeto do seu sujeito com a sociedade, em um permanente processo interativo”.79

Por fim, no interior dessa arquitetura evocativa, o memorialista que se projeta para o futuro pretende ser fiel ao passado no qual esteve envolvido (direta ou indiretamente), pois, como adverte Roger Chartier no prefácio dedicado à obra “Álbum de Leitura: memórias de vida, histórias de leitoras” de Líliam de Lacerda, a autenticidade desse tipo de escrita “consiste no pacto do autor consigo mesmo, que supõe o engajamento íntimo e pessoal de enunciar a verdade dos fatos e dos sentimentos”.80 Contudo, as representações do real necessitam ser (re)imaginadas, lidas e analisadas, interpretadas “como fachos de luz sobre realidades que se pretende conhecer mais profundamente, como pistas e como modos de despistar”.81

76

MALUF, 1995, p. 83 77

SCHUTZ apud VELHO, 1994, p. 101 78

VELHO, 1994, p. 101-102 79

VELHO, 1994, p. 104 (grifo do autor) 80

LACERDA, 2003, p. 22 81

MALUF, 1995, p. 45

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Dito isso, se o documento ideal é (e não mais) o original, se “a realidade é [e não mais] opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la”.82

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82

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