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Mapa do Fim da Fome II:

Zoom nas Favelas Cariocas

Coordenação:

Marcelo Cortes Neri

[email protected]

Equipe do CPS:

Luisa Carvalhaes Coutinho de Melo

Alessandra Pieroni Corsi

Andre Luiz Neri

Ângela da Costa Ribeiro

Hessia Guillermo Costilla

Hugo Segrilo Simas

Raquel Luzente de Lima

Renata de Almeida Pedro

Samanta dos Reis Sacramento

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Mapa do Fim da Fome – Zoom nas Favelas Cariocas / Marcelo Neri ...[et al.]. - Rio de Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2004. [37] p.

1. Pobreza. 2. Desigualdade. 3. Fome. 4. Bem Estar Social. 5. Favelas. I. Neri,Marcelo Côrtes. II. Fundação Getulio Vargas, Instituto Brasileiro de Economia. Centro dePolíticas Sociais.

©CPS/IBRE/FGV 2004

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Mapa do Fim da Fome II no Rio de Janeiro:

Zoom nas Favelas Cariocas

1. Introdução

O Rio é um estado voltado mais para fora do que para dentro. Os nomes dos principais

jornais locais, “Jornal do Brasil” e “O Globo”, refletem o interesse cosmopolita fluminense. O

título dos jornais de outros estados faz, em geral, referência à respectiva unidade da

federação. O Rio é vocacionado para questões nacionais. A recíproca também é verdadeira.

Os olhos do Brasil e do mundo também se voltam com freqüência para o Rio. Isto desde os

tempos quando o Rio era Corte. A presença da sede da Rede Globo reforça a visibilidade da

vitrine carioca. As imagens do Rio, nem sempre aquelas que causam orgulho local, como a

da violência nas favelas cariocas são transmitidas ao vivo e a cores para o resto do país1.

Este trabalho estabelece uma base para ações locais que visam combater a miséria

através do reforço do estoque de riqueza dos pobres e da provisão de serviços e de políticas

públicas. O presente estudo descreve o nível e a evolução do acesso a diversos tipos de

ativos, condições de trabalho e de vida nos âmbitos nacional e fluminense dando destaque

às especificidades dos municípios, distritos e regiões administrativas do estado. Especial

ênfase é dada no texto à análise das grandes favelas cariocas tais como Complexo do

Alemão, Jacarezinho e Rocinha bem como de reassentamentos urbanos como os da Cidade

de Deus e Maré. O foco nessas comunidades serve para exemplificar o potencial uso dos

bancos de dados em áreas críticas. Os cidadãos fluminenses estão convidados a olhar a

partir das informações e mapas disponibilizados o seu lugar de moradia desde uma

perspectiva própria.

O plano do trabalho é o seguinte: a seção dois apresenta uma visão geral dos bancos de

dados e mapas que acompanham o estudo. Buscamos prover informações mais

desagregadas e atualizadas possíveis no nível das diversas localidades do estado e na

evolução desses indicadores na última década. O leitor encontrará no apêndice ao fim do

trabalho (também em arquivos amigáveis no CD e no site) um conjunto grande de

estatísticas com informações desagregadas sobre todas as Regiões Administrativas

Cariocas, demais municípios fluminenses e seus distritos assim como para os níveis estadual

e nacional.

As seções três, quatro e cinco, centrais nesta divulgação, analisam alguns aspectos

das condições de trabalho, moradia e de vida nas grandes favelas cariocas. A seção 6 em

particular detalha a comunidade da Rocinha, analisamos rapidamente as principais

características sócio-demográficas e as atividades empresariais lá exercidas. A seção sete

1 Por exemplo, ainda é muito comum hoje, mesmo depois da decadência futebolística fluminense, moradores de outros estados torcerem ativamente por um clube do Rio. A diferença é que esta paixão pelo futebol carioca tem sido, no período recente, motivo de desapontamento.

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busca contextualizar as análises através de uma retrospectiva da crise social recente nas

grandes metrópoles brasileiras vis a vis a adoção de novas políticas sociais. A seção oito

apresenta alguns números relativos a redistribuição de recursos para o aliviamento da

miséria sob perspectivas diversas. Além da transferência renda, medimos quantas horas

cada um deveria contribuir em termos de trabalho voluntário como numerário, ou o estoque

de capital necessário para erradicar a miséria. As principais conclusões são deixadas para a

última seção.

2. O Banco de Dados

Informações geo-referenciadas permitem a localização física das áreas sujeitas às

condições sociais mais adversas. O objetivo desta iniciativa é mapear problemas, a fim de

possibilitar aos diversos níveis de governo e da sociedade civil traçarem metas sociais,

informando ao cidadão comum sobre a extensão das carências em sua localidade e dos

recursos necessários para aliviá-la.

O Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) vem

monitorando as condições de vida da população em diferentes cidades brasileiras de forma

a subsidiar com informações espacialmente desagregadas o debate social. A nossa

percepção é que as pessoas estão tão preocupadas com o que acontece no seu entorno

imediato quanto com o que acontece no país ou no mundo.

A quem quiser refletir sobre o combate à miséria na sua localidade acesse o site

www.fgv.br/cps ou o CD Rom. O usuário encontrará banco de dados sócio-demográfico

acompanhado de software amigável de geração de mapas com números abertos por

municípios, e em alguns casos seus distritos ou regiões administrativas. Por exemplo, os

moradores de Itaipu em Niterói, ou de Barra Seca no pobre município de São Francisco de

Itabapoana, pode se informar sobre as condições de vida em sua vizinhança. O objetivo

desta iniciativa é informar aos cidadãos sobre as carências e riquezas de sua comunidade.

Este dado é útil para planejar políticas públicas e ações da sociedade civil a nível local.

O presente banco de dados apresenta um perfil da população fluminense, conferindo

especial ênfase à população pobre, que representa 19,45% da população do Estado, em

2000. Podemos encontrar as principais características da população, através de diversos

atributos sócio-demográficos, com objetivo de caracterizar a população do Estado, seus

municípios, distritos e subdistritos. Todas esses indicadores estão organizados de forma

amigável em um amplo banco de dados, contendo tabelas e mapas que constituem um

instrumento poderoso para que sociedade e governos possam elaborar programas bem

focados de alívio social, de combate à fome, à miséria e à exclusão social.

Utilizamos no estudo informações das seguintes bases de dados: Censo Demográfico,

Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (PNAD) e Pesquisa Mensal do Emprego (PME).

No CD podemos encontrar maiores informações sobre essas bases de dados e detalhamento

das principais variáveis utilizadas. No esquema a seguir obtemos uma visão geral das

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informações processadas a partir do Censo Demográfico, nossa principal base de dados, que

foi organizado mapas temáticos: mapa social, mapa do trabalho, mapa de ativos e mapa da

pobreza.

i) Mapa Social

O Censo Demográfico nos permite traçar um “Mapa Social”, com objetivo de

caracterizar a população fluminense com informações referentes à quantidade de homens

na população, anos médio de estudo, população em idade ativa, renda, e jornada semanal

de trabalho. Através deste mapa social básico identificamos o perfil sócio-econômico básico

da população no Estado.

ii) Mapa do Trabalho

O Mapa do Trabalho tem como objetivo traçar um perfil sócio-econômico da

população ocupada em idade ativa do Estado, encontramos a proporção de homens na

população, anos médio de estudo, renda, e jornada semanal de Trabalho.

iii) Mapa de Ativos

O Censo Demográfico 2000 também nos permite criar um Mapa de Ativos onde

podemos avaliar a posse de bens da população fluminense, o seu poder aquisitivo, e o

acesso a bens públicos. Os ativos podem ser estruturados em três classes de capital: capital

físico, capital humano e capital social. A estratégia é analisar três diferentes tipos de

impactos que o reforço desses três grupos de ativos podem exercer no nível de bem-estar

social. Primeiramente, temos o efeito da posse de ativos no sentido de aumentar a

SOCIAL BÁSICO

MISÉRIA

TRABALHO

ATIVOS

MAPAS

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capacidade de geração de renda dos indivíduos no longo prazo. O segundo efeito induzido

pela posse de ativos é o de aumentar a habilidade dos indivíduos pobres em suavizar os

padrões de vida ao longo do tempo, seja amortecendo choques adversos de renda, seja

alavancando oportunidades. Este efeito está relacionado à interação entre a trajetória da

renda e comportamentos financeiros nos segmentos de poupança, seguro e crédito. Por

último, os efeitos diretos exercidos pela posse de ativos sobre a qualidade de vida das

pessoas.

v) Mapa da Pobreza

O Mapa da Pobreza nos dá um quadro da miséria no Estado, nos informa a parcela

da população cuja renda familiar per capita está baixo da linha arbitrada (indicado por P0).

Nesse mapa encontramos, também, o P1, que mostra quanta renda adicional cada pobre

deveria receber para satisfazer as suas necessidades básicas, o P2 eleva ao quadrado a

insuficiência de renda dos pobres, priorizando as ações públicas aos mais desprovidos. O P1

nos permite diferenciar o muito pobre do pouco pobre, além disso, confere maior peso aos

mais pobres, mas o impacto de uma transferência de renda sobre o índice independe do

nível de renda daqueles que recebem a transferência. No caso do P2, independente da linha

arbitrada, a prioridade é sempre voltada aos de menor renda.

Obs: No CD encontramos um detalhamento maior desses índices de pobreza.

“O objetivo é informar aos cidadãos comuns sobre as carências e as riquezas de sua comunidade.”

3. O Trabalho nos Morros Cariocas

Os dois temas mais presentes em pesquisas de opinião feitas nos últimos anos sobre

os principais problemas brasileiros são acima de tudo metropolitanos: desemprego e

violência, invariavelmente. Neste processo, a violência Carioca tem habitado as páginas

policiais nacionais, em especial a das grandes favelas como Complexo do Alemão, Maré, e

Rocinha. Em que medida a atual onda de violência nos morros cariocas é acompanhada por

um mau desempenho trabalhista?

O Censo 2000 permite analisar a performance trabalhista nas principais favelas

cariocas. Note que em função de diferenças metodológicas, estes dados não são

comparáveis àqueles de outras bases de dados como a Pnad, a PME e mesmo do Censo

1991, inviabilizando análises temporais. Trabalhamos aqui com as três favelas citadas

acima mais Cidade de Deus e Jacarezinho que constituem 5 das 32 regiões administrativas

cariocas. Optamos por realizar um contraste deste grupo de RAs com o de RAs de renda

mais alta compostas por Lagoa, Barra da Tijuca, Botafogo, Copacabana e Tijuca. Utilizamos

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aqui o banco de dados do Mapa do Fim da Fome II para fazer um zoom sobre a situação do

trabalho nos morros cariocas.

A renda média do trabalho é cerca de 5,3 vezes maior no grupo das áreas mais ricas.

Agora ao contrário do estereótipo do malandro do morro Carioca, a jornada de trabalho

média lá é cinco horas semanais superior a do asfalto. O resultado destes dois vieses, torna

os diferenciais de salário-hora superiores aos observados na renda mensal: 11,8 reais-hora

contra 1,99 reais-hora. Um fator é a diferença de cerca de onze anos de idade média entre

os dois universos analisados, os jovens tem menos experiência o que prejudica os salários e

mais predisposição a trabalhar mais horas. Outro é a diferença na taxa de informalidade

que libera os mercados do piso de salário e do teto de horas impostos pela legislação

trabalhista explicando parte dos contrastes. A taxa de cobertura previdenciária entre os

ocupados que moram nos bairros de alta renda é de 74,5% contra 68,9% das comunidades

de baixa renda Informalidade trabalhista e fundiária parecem caminhar lado a lado. Já as

taxas de participação não são muito diferentes nas áreas observadas. Cerca de 70% das

pessoas em idade ativa em ambas áreas estão economicamente ativas, isto é trabalhando

ou procurando trabalho. A taxa de desemprego representa relevante diferencial entre morro

e asfalto: 9,9% nos bairros de alta renda contra 19,1% nas favelas em questão, resultado

qualitativamente consistente ao de uma série de pesquisas de campo nos morros cariocas

pela Ence/IBGE. O excesso de oferta de mão de obra gera uma pressão baixista sobre o

rendimento do trabalho local. Obviamente, as taxas de participação, informalidade e

desemprego tanto quanto as taxas de salários são variáveis endógenas, mesmo no curto

prazo.

O fator fundamental é a desigualdade de escolaridade: média de 11,9 anos

completos de estudo de um trabalhador nos bairros de luxo contra 6,2 anos nas

comunidades de baixa renda. Como existe retorno crescente de educação, cada ano a mais

de escolaridade rende mais aos ocupados dos bairros de alta renda: 180,5 reais por cada

ano de estudo de um ocupado nos bairros ricos contra 65,9 reais dos pobres.

Os vieses observados na renda, jornada e retorno do estudo das pessoas em favelas

pode ser sintetizada através do diferencial de salário-hora por ano de estudo de cerca de

307% entre os dois grupos de localidades. Um fato que chama a atenção é que apesar de

todas adversidades enfrentadas pelo trabalhador das comunidades de baixa renda, a renda

do trabalho desempenha lá um papel mais fundamental: cerca de 81% de todas as fontes

de renda nestas áreas advém do trabalho contra 63% das áreas de renda mais alta. Apesar

das agruras da vida privada das favelas cariocas, a maior carência parece ser a de estado.

Finalmente, é importante precisar se apenas atributos pessoais como gênero, raça,

idade, escolaridade, etc explicam a totalidade dos diferenciais de renda, ou se existe

discriminação contra o favelado, no sentido de que pessoas com atributos observáveis

similares tem acesso a oportunidades de trabalho e de renda diferentes. Uma forma de

fazer isso é comparar a renda familiar per capita de todas as fontes de moradores das

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favelas com os de outras regiões com os mesmos atributos observáveis (sexo, raça, e

polinômios de idade e escolaridade). Os resultados confirmam que os diferenciais

controlados de renda per capita de pessoas nas cinco comunidades de baixa renda

analisadas são até 115.8% menores do que na região administrativa da Lagoa, aquela que

apresenta a maior renda. Ou seja, os dados comprovam a existência de um viés de renda

contra o favelado.

MAPA TRABALHISTASubdistritos do Rio de JaneiroPopulação Ocupada

Subdistrito% da

Renda doTrabalho

Taxa deDesemprego

Taxa deParticipação Idade Tx de

Formalidade

Grandes Favelas Cariocas 80.6 19.1 70.1 27.3 68.92Rio de Janeiro Jacarezinho 76.5 21.5 69.4 29.1 67.77

Maré 82.1 18.2 70.6 27.0 67.77Complexo do Alemão 81.9 19.5 68.5 27.2 65.77Rocinha 82.0 17.2 72.5 26.0 73.60Cidade de Deus 74.7 22.3 67.9 29.0 71.34

Bairros de Renda Alta Cariocas 62.9 9.9 71.2 38.3 74.53Lagoa 63.0 8.7 71.6 38.8 75.20Barra da Tijuca 74.8 10.4 71.0 31.9 70.42Botafogo 63.1 9.2 72.7 39.5 76.48Copacabana 50.8 10.3 70.4 43.0 72.94Tijuca 61.0 11.4 69.5 38.8 76.75

Estado do Rio de Janeiro 68.1 17.1 66.7 31.0 64.5 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados Censo Demográfico de 2000/IBGE,

MAPA TRABALHISTASubdistritos do Rio de JaneiroPopulação Ocupada

Subdistrito Renda emReais

Mensais

Jornadaem HorasSemanais

Salário-Hora

Educaçãodos

Ocupados

Salário porAno deEscola

Grandes Favelas Cariocas 405 46.0 1.99 6.2 65.9Rio de Janeiro Jacarezinho 368 46.0 1.81 6.6 55.6

Maré 395 46.6 1.91 6.0 65.3Complexo do Alemão 396 45.0 1.99 6.1 65.2Rocinha 434 45.8 2.14 5.7 76.4Cidade de Deus 440 45.8 2.17 7.2 60.8

Bairros de Renda Alta Cariocas 2145 40.8 11.82 11.9 180.5Lagoa 2766 41.2 15.18 12.3 224.7Barra da Tijuca 2664 42.3 14.21 11.2 238.5Botafogo 1913 40.3 10.73 12.3 155.4Copacabana 1761 40.7 9.77 11.8 149.1Tijuca 1631 40.0 9.22 11.8 137.7

Estado do Rio de Janeiro 736 43.4 3.83 8.2 89.3 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados Censo Demográfico de 2000/IBGE,

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“Apesar da adversidade trabalhista nas favelas, a renda do trabalho é mais importante lá do que no asfalto.”

“Ao compararmos a renda de moradores das favelas com os de outras regiões com os mesmos atributos observáveis, comprovamos a existência de um viés contra os primeiros”

Diferenciais de Renda Familiar Per Capita (base Jacarezinho) População entre 15 e 65 anos de idade Estimativas Estimativas Não Controladas Controladas** Complexo do Alemão -1.74% 3.39% Jacarezinho 0.00% B 0.00% B

Maré 7.88% * 12.98% * Santa Cruz 9.69% * 1.72% Guaratiba 10.44% * 5.96% * Cidade de Deus 14.52% * 9.69% * Rocinha 18.31% * 25.11% * Pavuna 26.00% * 11.73% * Bangu 34.76% * 18.14% * Portuária 36.34% * 27.67% * Campo Grande 38.41% * 18.78% * Anchieta 45.15% * 22.63% * Realengo 49.80% * 25.31% * Penha 51.47% * 25.65% * São Cristovão 57.02% * 32.39% * Madureira 61.27% * 28.96% * Inhaúma 64.08% * 31.01% * Ramos 68.55% * 35.64% * Rio Comprido 68.75% * 35.89% * Irajá 76.40% * 37.36% * Ilha de Paquetá 78.78% * 51.89% * Jacarepaguá 82.65% * 46.82% * Santa Teresa 85.54% * 47.54% * Ilha do Governador 96.06% * 53.75% * Méier 101.43% * 50.03% * Centro 113.17% * 66.26% * Vila Isabel 147.78% * 75.43% * Tijuca 155.25% * 78.91% * Barra da Tijuca 172.05% * 103.61% * Botafogo 182.60% * 97.29% * Copacabana 183.49% * 99.32% * Lagoa 205.29% * 115.80% * Fonte: CPS/FGV/IBRE a partir dos microdados do Censo Demográfico 2000.

B: Todos os dados estão em comparação com o Jacarezinho (variável omitida na regressão).

* Estatisticamente significante ao nível de confiança de 95%. ** Controlada pelas variáveis: sexo, cor ou ça, idade, educação, uf e tamanho de cidade.

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4. Cidade de Deus: O Reassentamento

Cidade de Deus, o filme brasileiro com maior número de indicações da história do

Oscar, tem como cenário uma comunidade que protagonizou uma valiosa experiência sobre

efeitos de reassentamentos urbanos a partir da remoção de favelas. O relativamente longo

período da existência da comunidade, cuja criação remonta a 1966, na cidade do Rio de

Janeiro, permite extrair lições úteis para o desenho de um menu de políticas alternativas de

provisão de infra-estrutura pública em áreas desfavorecidas — sem a remoção de famílias

para outras áreas, como preconiza o programa Favela-Bairro, em execução na cidade — ou

de regularização fundiária, em pauta no debate político, função da crise metropolitana

brasileira em curso. Mais metropolitano e favelizado estado da federação, o Rio de Janeiro é

um privilegiado laboratório de políticas habitacionais.

A realocação de comunidades marginalizadas é um exercício complexo de economia

política que pode ser enxergado a partir de diferentes perspectivas dos diversos tipos de

atores envolvidos no processo. Em primeiro lugar, a dos antigos vizinhos da favela, no

coração da Zona Sul carioca, que perceberam um ganho de capital derivado da valorização

imobiliária. Em segundo, as perspectivas do setor público, aí incluindo aspectos políticos e

financeiros imediatos e futuros, como custos de remoção ou mudanças prospectivas na

arrecadação de impostos, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Por último, e

mais importante na perspectiva da pobreza, a ótica dos reassentados, que se confunde com

a narrativa perseguida no filme.

É a partir dessa última perspectiva que iremos analisar as condições de habitação,

trabalho e vida dos moradores da Cidade de Deus. Em particular, até que ponto a

comunidade compartilha dos mesmos problemas sociais de outras favelas de grande porte

da cidade do Rio de Janeiro, como Rocinha, Complexo do Alemão, Jacarezinho e Maré21.

Essas comunidades constituem cinco das 32 regiões administrativas cariocas e podem ser

analisadas em detalhe a partir do Censo 2000 do IBGE2. A comparação desses retratos

sociais fornece impressões iniciais sobre possíveis implicações dos reassentamentos.

Comecemos por alguns indicadores ligados à habitação, relacionados à própria

origem da Cidade de Deus. A proporção de moradias em terreno próprio (82,8%) é maior

que a média das outras quatro comunidades (73,2%) e mesmo de outras do Estado do Rio

de Janeiro. O volume de financiamento habitacional (6,9%) é bem superior ao das quatro

comunidades (1,5% da média), o que legitima a idéia de que acesso a crédito e maior

formalidade dos direitos de propriedade fundiária caminham de mãos dadas. O acesso das

famílias a bens duráveis de alto valor, mais sujeito a restrições de crédito, é maior na

Cidade de Deus que nas demais comunidades — máquinas de lavar (55,4% contra 38,3%),

automóveis (19,3% contra 12,8%), televisores (99,1% contra 97, 4%) e gravadores de

videocassete (61% contra 53,6%) —, o que permitiu à quase-totalidade de seus habitantes

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assistir à cerimônia do Oscar e permitirá a mais da metade deles assistir ao filme no

conforto de seus lares33.

Além de financiamento habitacional e títulos de propriedade, um sinal da presença

do Estado na vida dos moradores da Cidade de Deus é o acesso a alguns serviços públicos.

A comparação, no entanto, revela números próximos aos das outras comunidades

analisadas: rede geral de água (98,2% contra 97,7%), canalização no domicílio (98,3%

contra 96.2%) e iluminação (99,1% contra 99,4%). O lixo coletado é o único item a

apresentar maior discrepância favorável à comunidade: (79,1% contra 52,4% das outras

quatro comunidades).

Como vimos na tabela da seção anterior, das cinco comunidades analisadas a da

Cidade de Deus tem a maior renda média do trabalho: R$439 contra R$396 da média das

outras quatro, embora a jornada de trabalho fique em nível idêntico: 45,8 horas semanais.

O diferencial salarial pode ser explicado pela maior escolaridade média dos ocupados (7,2

anos completos de estudo), também a mais alta entre as quatro comunidades analisadas

(6,1 anos). Como a taxa histórica brasileira demora cerca de uma década para que

escolaridade média suba um ano, a Cidade de Deus está cerca de uma década à frente da

das demais favelas, mas 10 anos atrás da totalidade do estado. No item taxa de

desemprego, os 22,3% registrados pela comunidade representam o recorde entre as

grandes favelas cariocas (média de 19,1%) e de todas 32 regiões administrativas da cidade

ou dos 92 municípios do estado. A alta taxa de desemprego não resulta de maior atividade

econômica, de vez que a Cidade de Deus tem a menor taxa de participação no mercado de

trabalho entre as favelas consideradas (67,9% contra 70,2% da média). A diferença

fundamental na renda percebida no grupo de comunidades é a maior participação de

transferências pelo estado, que é mais importante na Cidade de Deus (25,3% contra

19,4%). As condições de moradia da comunidade estão mais próximas às observadas nas

grandes favelas cariocas do que no resto da cidade. No entanto, a carência de Estado

aparece um pouco menos ali do que nas demais favelas.

Obviamente, simples comparações de retratos de comunidades diversas tiradas num

dado ponto do tempo não são capazes de determinar relações de causalidade entre

reassentamentos e condições de moradia e de trabalho dos envolvidos. Para isso, era

preciso ter uma seqüência de fotografias, de modo a permitir comparar as mesmas pessoas

2 Apesar de não ser considerada favela — tecnicamente falando, por ser objeto de planejamento urbano —, os habitantes da Maré a tratam pelo nome de favela. 3 Dos habitantes da Cidade de Deus, 24,2% têm renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo, índice idêntico à média das demais comunidades de baixa renda analisadas. Consistentemente com as imagens do filme, a Cidade de Deus é a região administrativa carioca com maior presença de pessoas que se consideram negros ou pardos (62%), mas — diferentemente do nome — é a terceira em proporção de pessoas sem religião.

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antes e depois da mudança4, ou preferivelmente um filme que acompanhasse a história de

vida dessas pessoas5.

“Mais metropolitano e favelizado estado da federação, o Rio de Janeiro é um privilegiado laboratório de políticas habitacionais.”

5. Fome, Favelas e Modernidade

A Irlanda constituía o melhor exemplo de um país europeu onde a miséria imperava,

desde muito tempo. No século 19, cerca de um milhão de irlandeses morreram de fome,

desencadeando a onda imigratória em direção aos Estados Unidos. As batatas originárias do

novo mundo e transplantadas diretamente às hortas e pratos irlandeses foram vítimas de

um misterioso fungo. Como 90% da dieta irlandesa era de batatas, as vítimas da fome se

4 A programa Favela Bairro, recentemente empreendida pelo Instituto Pereira Passos é um excelente exemplo deste tipo de metodologia.

5 Janice Perlman realiza agora nova pesquisa de campo, entrevistando novamente moradores (e seus familiares) de algumas favelas cariocas, o que faz há cerca de 35 anos. Entre eles, ex-moradores da favela da Catacumba, removida da Lagoa Rodrigo de Freitas para a Cidade de Deus. Há cerca de um ano encontrei Janice no aeroporto de uma cidade do Nordeste, onde estava em busca de ex-moradores que tinham regressado à terra natal.

Financiamento Habitacional

Regularização Fundiária

Tem máquina de la

var

Tem automóvel Tem televisão Tem videoc

asseteDomicílio próprio

pagando Terreno próprio

Cidade de Deus 55.4% 19.3% 99.1% 61.0% 6.9% 82.8%Média das demais 4 favelas 38.3% 11.9% 97.4% 53.6% 1.5% 73.1% Maré 38.0% 14.3% 97.1% 49.6% 4.2% 67.3%

Rocinha 35.6% 8.9% 96.9% 54.1% 0.4% 71.7%

Complexo do Alemão 38.3% 15.2% 97.6% 53.9% 0.8% 82.6%

Jacarezinho 41.2% 9.0% 98.0% 56.7% 0.7% 71.0%

UF (Rio de Janeiro) 52.1% 34.2% 97.4% 57.6% 5.7% 70.6%Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo Demográfico 2000/IBGE.

Acesso a Bens Duráveis

Duráveis e Moradia

Transferências

Água rede geral

Canalização domicílio

Iluminação elétrica

Lixo coletado

% da Renda Não Trabalho

Cidade de Deus 98.2% 98.3% 99.1% 79.1% 25.3%

Média das demais 4 favelas 97.7% 96.2% 99.4% 52.4% 19.4% Maré 99.5% 97.5% 99.6% 85.0% 17.9%

Rocinha 95.3% 96.4% 98.3% 10.7% 18.0%

Complexo do Alemão 97.6% 92.9% 99.9% 48.8% 18.2%

Jacarezinho 98.5% 97.9% 99.7% 64.8% 23.5%

UF (Rio de Janeiro) 81.8% 92.9% 98.9% 83.0% 31.9%

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo Demográfico 2000/IBGE.

Acesso a Serviços Públicos

Serviços e Transferências Públicas

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acumulavam com a velocidade que o fungo se espalhava. Cabe lembrar que a Irlanda fazia

parte da nação mais rica do mundo na época, a Grã-Bretanha, o berço da revolução

industrial que ficou de braços cruzados.

Da fome irlandesa podemos aprender algumas lições. Em primeiro lugar,

solidariedade é fundamental, e não automática. Solidariedade é algo que não se compra na

prateleira dos supermercados, e que se desaprende no dia-a-dia das flutuações dos

mercados. A criação sem precedentes de riqueza, como no auge da revolução industrial,

pode caminhar lado a lado com miséria crônica. Em segundo lugar, não devemos colocar

todos os ovos (ou batatas) na mesma cesta. Em terceiro lugar, cuidado com as coisas que

se traz de fora, o que é bom para outros países, não é necessariamente bom para o Brasil.

Da experiência irlandesa contemporânea a que eu gostaria de enfatizar é à busca da

modernidade na política social. A Irlanda dispõe hoje de um sistema explícito de metas de

redução de pobreza e políticas deliberadas de inclusão digital. Os miseráveis querem mais

do que políticas miseráveis. O princípio que “de graça até injeção na testa”, não deveria se

aplicar às políticas públicas ou às ações privadas. Os pobres apreciam o que é bom e

moderno, muito além da imaginação da elite. Um dos melhores exemplos da demanda dos

pobres por qualidade foram as iniciativas empresariais de Magic Johnson, o ídolo do

basquete que abriu com estrondoso sucesso luxuosas salas de cinema multiplex em

subúrbios negros de Los Angeles. A experiência de abertura da franquia de McDonalds na

favela da Rocinha no Rio de Janeiro é um exemplo local deste mesmo tipo de fenômeno.

A violência irlandesa, ou nas ações do Exército Republicano Irlandês (IRA), tem sido

hoje pacificada. Talvez como fruto de políticas sociais e econômicas de ponta implantadas

nos últimos anos. As semelhanças entre as condições de vida e de morte dos irlandeses

ilustradas nos injustiçados filmes “Gangues de Nova York” e no “Cidade de Deus” são

marcantes.

Uma propriedade interessante de ações de inclusão digital, assim como outras

políticas voltadas para o público infanto-juvenil, é que foco e persistência caminham de

mãos dadas com o alto retorno observado. Não é mera coincidência que o Complexo do

Alemão e as favelas da Maré e do Jacarezinho, que ganham destaque nas páginas policiais

dos tablóides nacionais, formam o podium da exclusão digital carioca. Nessas comunidades

mais de 96% dos domicílios são sem computador contra 41% do bairro da Lagoa, que lidera

o ranking da inclusão digital doméstica carioca. Mesmo quando restringimos a análise aos

incluídos digitais, aqueles que moram na Lagoa apresentam 6,5 anos a mais de estudo

completo e de idade do que dos habitantes das três favelas mencionadas.

Rodrigo Baggio teve há sete anos um sonho habitado por jovens negros utilizando

computadores em favelas. Não era um sonho num sentido figurativo, como aqueles

celebrizados por Martin Luther King (I have a dream) e John Lennon (The dream is over),

mas um sonho de verdade. Na manhã seguinte e a cada dia desde então, Rodrigo tratou de

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tornar este sonho a realidade de cada vez mais jovens. O começo da história foi no Morro

Dona Marta, uma favela carioca.

É preciso campanhas de doação de computadores usados em massa para os jovens

das favelas e das periferias metropolitanas, como a do Natal Sem Fome sonhada por

Betinho há mais de uma década. Sugestão: uma campanha natalina com o jingle ‘Troque

seu computador e doe o velho para uma criança pobre, sem parentes, sem carinho, sem

rango, sem cobre; deixe na história da sua vida uma notícia nobre.’ (com música de

Eduardo Dusek ao fundo).

“As maiores fortunas do mundo derivam da nova economia. Agora, como levá-la aos mais jovens e desfavorecidos?”

6. Zoom na Rocinha

i) Perfil sócio demográfico

Detalhamos aqui um perfil dos moradores da Rocinha tendo como base os dados do

Censo Demográfico de 2000. Apresentamos na tabela a seguir as principais características

dos moradores de uma das comunidades de baixa renda mais conhecidas, através dos

seguintes atributos sócio-demográficos: gênero, faixa etária, posição na família,

escolaridade, raça, religião, estado civil, natureza da união. Incluímos também algumas

variáveis de natureza econômica como setor de atividade e contribuição previdenciária.

Realizamos a seguir uma breve análise desta população comparando às

características sócio-demográficas dos cariocas e dos cariocas em situação de miséria.

Temos 56307 moradores na Rocinha, destes, 38,49% ocupam a posição de filhos nos

domicílios, e 31,64% são chefes. Quando olhamos os domicílios dos cariocas em situação de

miséria vemos que neste caso aqueles que ocupam a posição de filhos representam

48,12%. Um dado importante é a questão etária, o maior grupo na Rocinha é daqueles que

têm entre 20 e 24 anos (12,12%), o número de pessoas idosas, é relativamente baixo, ou

seja, na Rocinha temos majoritariamente mais crianças e jovens. Entre os miseráveis o

grupo mais representativo é o das crianças de 0 a 4 anos (15,52%), seguido pelo grupo

daqueles que têm entre 5 a 9 (13,78%) e de 10 a 14 anos (11,45%). Quando olhamos o

total de cariocas (pobres e não pobres), notamos que, diferente da Rocinha e dos lugares

pobres, o grupo etário mais significativo é o dos idosos (12,76%).

Na Rocinha e no município do Rio como um todo, a maioria das pessoas se

denominou de cor branca, 53,86% e 58,4% respectivamente, já entre os cariocas

miseráveis, a maior parte deles (44,03%) se autodenominaram de cor parda e 39,78% de

cor branca.

Um dos quesitos mais importantes a ser analisado é a posição na ocupação, nos 3

universos em análise a maior parcela da população é composta por inativos: 39,35% entre

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os miseráveis; 37,26% entre o total dos cariocas, e 28,96% na Rocinha. Na Rocinha o

grupo dos empregados com carteira também é bastante representativo: 26,93%.

Uma outra variável social de grande importância é o nível de educação, a maioria

dos cariocas (33.34%) tem de 8 a 11 anos de estudo, na Rocinha o grupo mais numeroso,

31,75%, têm de 4 a 7 anos de estudo; por outro lado, na Rocinha, aqueles que não têm

nenhum grau de instrução representam o segundo grupo mais relevante. Quando nos

voltamos para o grupo dos cariocas miseráveis, a situação muda, a maior parte deles não

têm grau de instrução, comprovando a forte ligação existente entre miséria e baixa

educação.

Sendo assim, as variáveis que mais distinguem estes três grupos são a escolaridade,

a faixa etária e a raça. Resumidamente, a Rocinha é composta por crianças e jovens, que

ocupam a posição de filhos no domicílio, a maioria se denomina de brancos e depois de

pardos, por um lado temos um grupo numeroso que têm um nível de educação

relativamente razoável (de 4 a 7 anos ) contrastando com um grupo também significativo

cujo nível de educação é extremamente baixo (sem instrução ou menos de 1 ano de

estudo). Vimos também que a maior parte dos moradores da Rocinha são inativos e

trabalhadores com carteira assinada. Podemos dizer que a Rocinha apresenta certas

características similares ao conjunto do município e outras que a assemelham às localidades

pobres do município.

Apresentamos abaixo a tabela completa dos Retratos Sociais da Rocinha e também

detalhamos numa outra tabela esse Retrato detalhado por faixas etárias.

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R E T R A T O S O C I A LU n i v e r s o : M e m b r o s e f e t i v o s n o d o m i c í l i o

M u n i c í p i o d o R i o d e J a n e i r o . R o c i n h aT o t a l M i s e r á v e l T o t a l

N º d e P e s s o a s C o m p o s i ç ã o V e r t i c a l ( % )

N º d e P e s s o a s C o m p o s i ç ã o V e r t i c a l ( % )

N º d e P e s s o a s C o m p o s i ç ã o V e r t i c a l ( % )

T o t a l 5 7 9 8 3 6 1 1 0 0 . 0 0 8 4 4 5 8 2 1 0 0 . 0 0 5 6 3 0 7 1 0 0 . 0 0S e x oM a s c u l i n o 2 7 2 1 0 6 4 4 6 .9 3 3 8 9 2 9 0 4 6 .0 9 2 7 7 1 9 4 9 .2 3F e m i n i n o 3 0 7 7 2 9 7 5 3 .0 7 4 5 5 2 9 3 5 3 .9 1 2 8 5 8 8 5 0 .7 7P o s i ç ã o n a F a m í l i aC h e f e 1 9 1 9 5 4 1 3 3 .1 0 2 3 8 2 5 8 2 8 .2 1 1 7 8 1 7 3 1 .6 4C ô n j u g e 1 1 6 9 1 9 7 2 0 .1 6 1 2 9 1 1 0 1 5 .2 9 1 1 1 0 2 1 9 .7 2F i l h o ( a ) 2 2 1 2 7 6 4 3 8 .1 6 4 0 6 4 3 9 4 8 .1 2 2 1 6 7 2 3 8 .4 9P a i , m ã e , s o g r o ( a ) 8 5 9 0 0 1 . 4 8 5 3 6 1 0 . 6 3 3 4 7 0 . 6 2N e t o ( a ) 1 6 7 6 0 2 2 . 8 9 3 9 0 1 9 4 . 6 2 1 8 0 4 3 . 2 0I r m ã o , i r m ã 7 9 9 1 8 1 . 3 8 8 1 4 4 0 . 9 6 1 2 7 0 2 . 2 6O u t r o p a r e n t e 1 2 7 5 8 0 2 . 2 0 1 5 4 3 5 1 . 8 3 1 6 8 9 3 . 0 0A g r e g a d o 3 5 8 5 9 0 . 6 2 2 8 1 7 0 . 3 3 6 0 8 1 . 0 8F a i x a e t á r i a0 a 4 4 4 7 0 6 3 7 . 7 1 1 3 1 0 9 8 1 5 .5 2 6 1 3 8 1 0 .9 05 a 9 4 3 3 3 3 2 7 . 4 7 1 1 6 3 5 9 1 3 .7 8 5 3 9 9 9 . 5 91 0 a 1 4 4 4 1 6 1 3 7 . 6 2 9 6 6 8 6 1 1 .4 5 4 6 8 0 8 . 3 11 5 a 1 9 5 0 1 5 4 6 8 . 6 5 8 4 3 1 6 9 . 9 8 5 4 0 4 9 . 6 02 0 a 2 4 5 0 7 4 0 6 8 . 7 5 6 7 6 6 0 8 . 0 1 6 8 2 6 1 2 .1 22 5 a 2 9 4 6 3 7 9 8 8 . 0 0 5 9 9 2 6 7 . 1 0 6 0 4 8 1 0 .7 43 0 a 3 4 4 3 9 1 2 1 7 . 5 7 5 9 7 6 1 7 . 0 8 5 3 4 3 9 . 4 93 5 a 3 9 4 5 4 4 2 6 7 . 8 4 5 9 0 4 6 6 . 9 9 4 4 9 9 7 . 9 94 0 a 4 4 4 3 1 4 4 2 7 . 4 4 4 8 2 7 1 5 . 7 2 3 6 1 7 6 . 4 24 5 a 4 9 3 8 0 7 9 0 6 . 5 7 3 4 2 3 9 4 . 0 5 2 6 9 8 4 . 7 95 0 a 5 4 3 1 5 8 5 9 5 . 4 5 2 4 2 2 6 2 . 8 7 1 9 9 6 3 . 5 45 5 a 5 9 2 4 2 0 6 9 4 . 1 7 1 7 3 0 3 2 . 0 5 1 1 6 4 2 . 0 76 0 o u m a i s 7 3 9 8 9 6 1 2 .7 6 4 5 6 9 0 5 . 4 1 2 4 9 5 4 . 4 3C o r o u r a ç aB r a n c a 3 4 0 0 2 9 8 5 8 .6 4 3 3 6 0 0 2 3 9 .7 8 3 0 3 2 6 5 3 .8 6P r e t a 5 4 1 9 9 6 9 . 3 5 1 2 3 5 7 7 1 4 .6 3 4 8 8 8 8 . 6 8A m a r e l a 1 2 9 1 6 0 . 2 2 1 7 6 0 0 . 2 1 0 0 . 0 0P a r d a 1 7 8 5 6 8 0 3 0 .8 0 3 7 1 8 7 4 4 4 .0 3 2 0 5 0 1 3 6 .4 1I n d í g e n a 1 5 3 4 5 0 . 2 6 2 4 7 7 0 . 2 9 4 0 0 . 0 7O u t r a s 4 2 1 2 7 0 . 7 3 8 8 9 2 1 . 0 5 5 5 3 0 . 9 8R e l i g i ã oS e m r e l i g i ã o 7 7 1 8 0 6 1 3 .3 1 1 7 4 9 4 3 2 0 .7 1 7 6 0 8 1 3 .5 1C a t ó l i c a 3 5 4 6 7 6 7 6 1 .1 7 4 3 5 3 4 8 5 1 .5 5 3 8 9 2 5 6 9 .1 3E v a n g é l i c a 1 0 6 7 7 2 2 1 8 .4 1 2 0 1 4 3 1 2 3 .8 5 8 4 4 6 1 5 .0 0E s p i r i t u a l i s t a 2 0 3 2 8 4 3 . 5 1 8 2 0 4 0 . 9 7 2 4 0 0 . 4 3A f r o - b r a s i l e i r a 1 0 1 9 4 7 1 . 7 6 1 1 9 5 7 1 . 4 2 3 4 5 0 . 6 1O r i e n t a i s 5 6 9 1 7 0 . 9 8 2 5 4 5 0 . 3 0 1 8 1 0 . 3 2O u t r a s 4 9 9 1 8 0 . 8 6 1 0 1 5 6 1 . 2 0 5 6 2 1 . 0 0A n o s d e E s t u d oS e m i n s t r u ç ã o o u m e n o s 9 4 5 4 1 6 1 6 .3 0 2 6 6 9 3 8 3 1 .6 1 1 5 2 4 5 2 7 .0 71 a 3 6 6 1 1 0 0 1 1 .4 0 1 5 5 1 9 5 1 8 .3 8 1 1 1 4 7 1 9 .8 04 a 7 1 4 0 5 5 1 5 2 4 .2 4 2 4 8 0 0 5 2 9 .3 6 1 7 8 7 5 3 1 .7 58 a 1 1 1 9 3 3 3 8 3 3 3 .3 4 1 5 8 2 7 6 1 8 .7 4 1 0 3 9 1 1 8 .4 51 2 o u m a i s 8 3 3 3 9 5 1 4 .3 7 1 3 0 5 2 1 . 5 5 1 2 2 4 2 . 1 7i g n o r a d o 1 9 5 5 1 0 . 3 4 3 1 1 8 0 . 3 7 4 2 6 0 . 7 6N a t u r e z a d a ú l t i m a C a s a m e n t o c i v i l e 1 4 4 7 7 1 5 2 4 .9 7 9 2 1 6 7 1 0 .9 1 5 6 2 1 9 . 9 8S ó c a s a m e n t o c i v i l 6 4 0 3 9 9 1 1 .0 4 7 4 1 4 1 8 . 7 8 5 9 0 1 1 0 .4 8S ó c a s a m e n t o r e l i g i o s o 3 4 5 0 0 0 . 5 9 4 1 9 9 0 . 5 0 8 4 0 1 . 4 9U n i ã o c o n s e n s u a l 1 0 9 2 0 9 7 1 8 .8 3 1 9 6 2 8 0 2 3 .2 4 1 7 0 7 2 3 0 .3 2N u n c a v i v e u 1 7 0 3 2 5 5 2 9 .3 7 2 3 0 3 3 9 2 7 .2 7 1 5 3 3 6 2 7 .2 4I g n o r a d o 8 8 0 3 9 6 1 5 .1 8 2 4 7 4 5 7 2 9 .3 0 1 1 5 3 7 2 0 .4 9E s t a d o C i v i lC a s a d o ( a ) 1 7 7 0 4 4 5 3 0 .5 3 1 5 2 8 9 8 1 8 .1 0 1 1 7 4 1 2 0 .8 5D e s q u i d a d o ( a ) 1 3 2 1 0 0 2 . 2 8 1 0 9 0 2 1 . 2 9 6 1 2 1 . 0 9D i v o r c i a d o ( a ) 1 4 9 0 7 7 2 . 5 7 9 3 0 3 1 . 1 0 4 9 4 0 . 8 8V i ú v o ( a ) 3 2 9 6 2 8 5 . 6 8 2 4 4 9 9 2 . 9 0 1 4 7 5 2 . 6 2S o l t e i r o ( a ) 2 5 3 6 7 1 6 4 3 .7 5 3 9 9 5 2 4 4 7 .3 0 3 0 4 4 8 5 4 .0 7I g n o r a d o 8 8 0 3 9 6 1 5 .1 8 2 4 7 4 5 7 2 9 .3 0 1 1 5 3 7 2 0 .4 9P o s i ç ã o n a O c u p a ç ã oD e s e m p r e g a d o 4 4 1 4 4 2 7 . 6 1 1 3 6 5 2 2 1 6 .1 6 4 9 2 1 8 . 7 4I n a t i v o 2 1 6 0 4 3 3 3 7 .2 6 3 3 2 3 6 0 3 9 .3 5 1 6 3 0 4 2 8 .9 6F u n c i o n á r i o P ú b l i c o 1 6 7 5 4 3 2 . 8 9 1 8 0 5 0 . 2 1 3 2 2 0 . 5 7E m p r e g a d o c o m c a r t e i r a 1 1 1 4 6 8 2 1 9 .2 2 5 1 6 6 0 6 . 1 2 1 5 1 6 4 2 6 .9 3E m p r e g a d o s e m c a r t e i r a 4 3 5 1 9 2 7 . 5 1 4 2 5 9 7 5 . 0 4 4 4 5 6 7 . 9 1C o n t a - p r ó p r i a 4 9 7 6 2 0 8 . 5 8 3 0 2 1 1 3 . 5 8 3 4 1 6 6 . 0 7E m p r e g a d o r 8 8 3 2 0 1 . 5 2 2 7 2 0 . 0 3 1 3 4 0 . 2 4N ã o - r e m u n e r a d o 1 1 2 4 7 0 . 1 9 1 3 3 6 0 . 1 6 2 3 0 . 0 4P r ó p r i o c o n s u m o 1 4 8 6 0 . 0 3 3 6 2 0 . 0 4 3 1 0 . 0 6I g n o r a d o 8 8 0 3 9 6 1 5 .1 8 2 4 7 4 5 7 2 9 .3 0 1 1 5 3 7 2 0 .4 9C o n t r i b u i a p a r a C o n t r i b u i 1 6 0 6 5 4 8 2 7 .7 1 6 0 9 3 7 7 . 2 2 1 7 0 9 6 3 0 .3 6N ã o C o n t r i b u i 7 0 9 5 4 4 1 2 .2 4 6 7 3 0 6 7 . 9 7 6 4 5 0 1 1 .4 6I g n o r a d o 8 8 0 3 9 6 1 5 .1 8 2 4 7 4 5 7 2 9 .3 0 1 1 5 3 7 2 0 .4 9F o n t e : C P S / F G V p r o c e s s a n d o o s m ic r o d a d o s d o C e n s o D e m o g r á f i c o 2 0 0 0 / I B G E

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R E T R A T O S O C I A L - P o p u la ç ã o T o ta l - R o c in h a - C o m p o s iç ã o V e r t ic a l (% )U n iv e r s o : M e m b r o s e fe t iv o s n o d o m ic íl io

N º d e P e s so a s

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4 3 .5 4 . . . . . . . . . . 1 0 0 .0 0 . .5 5 a 5 9 2 .0 7 . . . . . . . . . . . 1 0 0 .0 0 .6 0 o u m a is 4 .4 3 . . . . . . . . . . . . 1 0 0 .0 0C o r o u r a ç aB ra n c a 5 3 .8 6 6 3 .3 4 5 3 .6 6 5 1 .0 7 5 0 .9 6 5 8 .4 5 5 4 .1 5 5 5 .2 3 4 9 .7 9 4 8 .1 6 4 9 .6 3 4 9 .7 5 5 2 .2 3 5 0 .4 6P re ta 8 .6 8 4 .6 4 6 .8 7 9 .4 9 9 .4 7 5 .6 3 8 .0 7 8 .0 1 1 0 .9 6 1 1 .7 2 1 2 .7 5 1 0 .8 2 1 2 .2 9 1 4 .2 7P a rd a 3 6 .4 1 3 0 .5 3 3 8 .0 3 3 8 .9 7 3 9 .2 9 3 4 .4 7 3 6 .9 9 3 6 .1 4 3 8 .0 5 3 9 .8 1 3 5 .9 5 3 7 .9 3 3 4 .6 2 3 3 .0 3In d íg en a 0 .0 7 . . . 0 .1 3 0 .1 6 . . 0 .2 4 . 0 .4 1 . . .O u t ra s 0 .9 8 1 .4 7 1 .4 3 0 .4 7 0 .1 5 1 .2 9 0 .7 9 0 .6 2 0 .9 6 0 .3 0 1 .2 6 1 .5 0 0 .9 5 2 .2 0R e l ig iã oS e m re lig iã o 1 3 .5 1 2 3 .1 7 1 4 .5 6 1 0 .5 1 1 6 .4 9 1 7 .1 4 1 5 .2 8 1 1 .1 5 9 .9 6 9 .9 5 6 .4 1 7 .6 2 5 .5 8 5 .2 1C a tó lic a 6 9 .1 3 5 8 .9 6 6 4 .3 5 7 0 .3 4 6 9 .7 8 7 0 .4 5 7 0 .4 2 7 0 .4 3 7 2 .8 8 7 3 .2 1 7 5 .8 7 6 6 .9 8 7 1 .0 5 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.3 0 0 .6 8 0 .5 2 0 .2 2 0 .5 5 1 .0 0 . 1 .4 6 0 .3 2E m p re g a d o c o m c a rte ira 2 6 .9 3 . . 0 .0 6 1 4 .5 4 4 4 .7 3 4 6 .7 4 4 8 .0 6 4 6 .4 5 4 5 .3 7 3 5 .7 7 3 2 .9 7 2 6 .6 3 1 0 .4 2E m p re g a d o s e m c a r te i ra 7 .9 1 . . 1 .0 9 1 0 .4 7 1 0 .9 7 1 1 .5 7 1 2 .4 8 8 .5 1 1 2 .5 8 1 5 .7 9 9 .7 2 5 .5 8 8 .0 2C o n ta -p ró p r ia 6 .0 7 . . 0 .4 7 2 .3 5 4 .8 5 6 .0 2 9 .1 9 1 1 .9 8 1 4 .6 3 1 1 .8 6 1 8 .5 9 9 .4 5 8 .4 6E m p re g a d o r 0 .2 4 . . . . 0 .2 2 0 .4 6 0 .5 6 0 .4 7 0 .1 9 0 .3 0 . 0 .8 6 0 .6 4N ã o -rem u n e ra d o 0 .0 4 . . . . . 0 .1 7 0 .1 7 . . . 0 .2 0 . .P ró p rio c o n s u m o 0 .0 6 . . . 0 .1 5 0 .0 6 0 .2 0 . . . . . 0 .6 0 .Ig n o ra d o 2 0 .4 9 1 0 0 .0 0 1 0 0 .0 0 . . . . . . . . . . .C o n tr ib u ia p a r a p r e v id ê n c ia C o n trib u i 3 0 .3 6 . . 0 .0 6 1 6 .7 7 4 8 .9 5 4 9 .9 0 5 3 .1 3 5 1 .5 2 5 1 .7 6 4 2 .5 1 4 3 .0 4 3 4 .2 8 1 5 .7 1N ã o C o n t rib u i 1 1 .4 6 . . 1 .5 6 1 2 .2 3 1 3 .2 0 1 5 .9 4 1 7 .8 7 1 6 .1 1 2 1 .5 4 2 2 .2 4 1 8 .4 9 1 0 .3 1 1 2 .1 4Ig n o ra d o 2 0 .4 9 1 0 0 .0 0 1 0 0 .0 0 . . . . . . . . . . .F o n te : C P S /F G V p r o c e ssa n d o o s m ic r o d ad o s d o C en so D e m o g r á fic o 2 0 0 0 / I B G E

F a ix a s E tá r ia s

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RETRATO SOCIAL - População Total - RocinhaUniverso: Membros efetivos no domicílio

Nº de Pessoas

0 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 ou maisTotal 56307 6138 5399 4680 5404 6826 6048 5343 4499 3617 2698 1996 1164 2495Sexo 27719 3127 2719 2276 2572 3528 3079 2657 2201 1749 1270 1025 485 1031MasculinoFeminino 28588 3011 2680 2404 2832 3298 2969 2686 2298 1868 1428 971 679 1464Posição na FamíliaChefe 17817 . . 17 296 1834 2640 2816 2498 2122 1766 1305 819 1704Cônjuge 11102 . . 12 568 1778 2072 1769 1526 1225 823 594 222 514Filho(a) 21672 5187 4841 4273 3586 2117 696 413 288 162 57 43 . 9Pai, mãe, sogro(a) 347 . . . . 4 8 10 . 10 20 29 78 189Neto(a) 1804 846 398 202 239 109 8 . . . . . . .Irmão, irmã 1270 10 16 41 266 373 164 181 102 34 25 13 25 22Outro parente 1689 83 135 112 387 390 318 79 53 54 8 6 6 58Agregado 608 12 10 22 62 222 141 76 33 11 . 5 14 .Faixa etária0 a 4 6138 6138 . . . . . . . . . . . .5 a 9 5399 . 5399 . . . . . . . . . . .10 a 14 4680 . . 4680 . . . . . . . . . .15 a 19 5404 . . . 5404 . . . . . . . . .20 a 24 6826 . . . . 6826 . . . . . . . .25 a 29 6048 . . . . . 6048 . . . . . . .30 a 34 5343 . . . . . . 5343 . . . . . .35 a 39 4499 . . . . . . . 4499 . . . . .40 a 44 3617 . . . . . . . . 3617 . . . .45 a 49 2698 . . . . . . . . . 2698 . . .50 a 54 1996 . . . . . . . . . . 1996 . .55 a 59 1164 . . . . . . . . . . . 1164 .60 ou mais 2495 . . . . . . . . . . . . 2495Cor ou raçaBranca 30326 3888 2897 2390 2754 3990 3275 2951 2240 1742 1339 993 608 1259Preta 4888 285 371 444 512 384 488 428 493 424 344 216 143 356Parda 20501 1874 2053 1824 2123 2353 2237 1931 1712 1440 970 757 403 824Indígena 40 . . . 7 11 . . 11 . 11 . . .Outras 553 90 77 22 8 88 48 33 43 11 34 30 11 55ReligiãoSem religião 7608 1422 786 492 891 1170 924 596 448 360 173 152 65 130Católica 38925 3619 3474 3292 3771 4809 4259 3763 3279 2648 2047 1337 827 1801Evangélica 8446 764 984 855 711 737 771 888 658 534 406 435 233 470Espiritualista 240 9 . 20 . 40 31 29 40 20 . 16 9 25Afro-brasileira 345 17 41 . 15 19 41 35 35 29 35 24 30 24Orientais 181 6 18 16 6 17 10 8 20 10 16 10 . 45Outras 562 301 96 5 10 35 13 24 19 16 22 21 . .Anos de EstudoSem instrução ou menos de 1 ano 15245 6138 3923 382 160 387 447 514 596 419 531 470 328 9491 a 3 11147 . 1454 1976 607 1044 1057 1025 1089 737 672 573 308 6054 a 7 17875 . 9 2254 2660 2762 2485 1859 1649 1490 960 643 380 7238 a 11 10391 . . 23 1846 2222 1703 1605 1038 909 465 297 107 17512 ou mais 1224 . . . 6 384 272 302 82 50 50 12 42 25ignorado 426 . 13 45 125 27 85 37 46 11 20 . . 19Natureza da última uniãoCasamento civil e religioso 5621 . . . 22 179 544 711 706 833 651 634 390 951Só casamento civil 5901 . . . 72 508 762 906 885 794 710 517 251 495Só casamento religioso 840 . . . 32 97 196 145 75 26 16 38 45 171União consensual 17072 . . 20 724 2869 3294 2894 2465 1678 1196 746 415 771Nunca viveu 15336 . . 4660 4554 3173 1252 688 368 286 125 60 63 107Ignorado 11537 6138 5399 . . . . . . . . . . .Estado CivilCasado(a) 11741 . . 12 194 888 1529 1763 1783 1615 1340 1136 496 984Desquidado(a) 612 . . . . . 74 63 78 141 48 69 49 89Divorciado(a) 494 . . . . 21 51 90 97 86 53 10 51 36Viúvo(a) 1475 . . . . . 29 33 88 79 206 99 242 698Solteiro(a) 30448 . . 4668 5210 5917 4366 3393 2452 1696 1050 682 325 689Ignorado 11537 6138 5399 . . . . . . . . . . .Posição na OcupaçãoDesempregado 4921 . . 76 970 1066 860 575 540 290 231 170 88 55Inativo 16304 . . 4528 2867 1518 1206 974 915 676 720 599 557 1745Funcionário Público 322 . . . 81 89 41 28 10 20 27 . 17 8Empregado com carteira 15164 . . 3 786 3053 2827 2568 2090 1641 965 658 310 260Empregado sem carteira 4456 . . 51 566 749 700 667 383 455 426 194 65 200Conta-própria 3416 . . 22 127 331 364 491 539 529 320 371 110 211Empregador 134 . . . . 15 28 30 21 7 8 . 10 16Não-remunerado 23 . . . . . 10 9 . . . 4 . .Próprio consumo 31 . . . 8 4 12 . . . . . 7 .Ignorado 11537 6138 5399 . . . . . . . . . . .Contribuia para previdência Contribui 17096 . . 3 906 3341 3018 2839 2318 1872 1147 859 399 392Não Contribui 6450 . . 73 661 901 964 955 725 779 600 369 120 303Ignorado 11537 6138 5399 . . . . . . . . . . .Fonte: CPS/FGV processando os microdados do Censo Demográfico 2000/ IBGE

Faixas Etárias

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ii) Os Empresários da Rocinha

O principal objetivo desta seção trabalho é subsidiar a aplicação de políticas locais de

incremento das atividades micro-empresariais nas áreas de baixa renda. Em particular,

empreendemos um estudo de caso dos micro-empresários da favela Rocinha. Mais forte do

que a escassez nas favelas de recursos privados, sejam capital físico, humano ou social, é a

escassez de serviços e políticas públicas. Neste sentido o universo aqui analisado constitui

num laboratório privilegiado acerca dos constrangimentos e carências que devem ser

combatidos através da ação pública e de suas possíveis interações com ações privadas.

Perfil dos microempresários da Rocinha

Segundo a tabela 1 abaixo, podemos verificar que os microempresários da Rocinha

geralmente pertencem mais ao sexo masculino (existem 8,2% mais homens do que

mulheres), são casados ou apresentam união livre (65.4%) e apresentam faixa etária de 26

a 50 anos, visto que 70,23% da população concentra-se nesta faixa de idade. Esta

participação dos indivíduos em prime-age é bastante similar às encontradas segundo a

PNAD. De acordo com esta última pesquisa, 69.31% dos conta próprias e 68.71% dos

empregadores de empresas com até cinco empregados se situavam nesta faixa etária.

TABELA 1

DADOS GERAISPopulação (%)

Sexo Masculino 54.10Feminino 45.90

Idade 15 Anos ou Menos 0.6016 a 20 Anos 4.7121 a 25 Anos 6.2126 a 30 Anos 12.2231 a 35 Anos 15.0336 a 40 Anos 18.2441 a 45 Anos 12.3246 a 50 Anos 12.4251 a 55 Anos 8.1256 a 60 Anos 4.6161 a 65 Anos 3.5166 a 70 Anos 1.10Mais de 70 Anos 0.90

Estado CivilSolteiro 23.50Casado/União Livre 65.40Separado/Divorciado 7.80Viúvo 3.30

Fonte : Rocinha

De acordo com a tabela 2 abaixo, nota-se que entre os microempresários da Rocinha

predomina a baixa escolaridade, pois o analfabetismo abrange 11,81% da população e

66,56% da população era alfabetizado mas possuia apenas o 10 grau (completo ou

incompleto). De acordo com a PNAD de 1996 existia entre os conta-próprias cariocas

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6,34% de analfabetos e 51.53% de alfabetizados com até o 10 grau completo. Estas

mesmas estatísticas sobem respectivamente para 2.41% e 49.17% entre empregadores

com até cinco empregados.

O baixo nível de educação dos micro-empresários da Rocinha pode ser também

captada pela baixa participação relativa daqueles com 20 grau completo: 8.9% entre os

microempresários da Rocinha contra 12.66% e 24.89% com superior incompleto entre os

conta-próprias e empregadores com até cinco empregados Cariocas. A escassez de capital

humano entre os micro-empresários da Rocinha pode se apresentar como um importante

redutor da taxa de retorno dos outros tipos de capital utilizados pelos microempresários.

Os microempresários da Rocinha normalmente possuem imóvel próprio (82,68%).

Embora a pesquisa não apresentem a participação de direitos formais de propriedade que

poderiam facilitar o uso do imóvel como colateral de empréstimos. Apenas 14.21% habitam

imóveis alugados.

Quanto à ocupação dos microempresários da Rocinha, eles geralmente são

biscateiros ou dedicam-se à produção doméstica (33,4%), são micro ou pequeno

proprietário (43,8%), ou ainda são autônomos, do tipo, chofer, caminhoneiro, pedreiro,

corretor, técnico, professor particular (14,63%), conforme a tabela 2.

A variável econômica síntese da pesquisa talvez seja a renda familiar desses

microempresários. Nota-se que a renda mensal familiar concentra-se na faixa de 200 a 800

reais, visto que enquanto 45,81% dos microempresários da Rocinha se insere nesta faixa,

somente 15,57% dos microempresários recebe de 1000 a 1500 reais como renda mensal

familiar e apenas 17,56% ganha mais de 1.500 reais. (vide tabela 2)

Quanto às características de fecundidade: 80,10% dos microempresários da Rocinha

tem filhos: 78,35% tem até 3 filhos e 87,7% dos seus domicílios são constituídos por até 5

pessoas.

Em resumo, os atributos pessoais predominantes entre os micro-empresários da

Rocinha são os seguintes:

(i) 54.1% são homens;

(ii) 70.23% encontram-se na faixa de idade de 26 a 50 anos;

(iii) 65.4% são casados/união livre;

(iv) 80.1% têm filhos;

(v) 82.68% moram em imóvel próprio;

(vi) 78.37% possuem apenas até o primeiro grau completo;

(vii) 66.87% pertencem à faixa de renda familiar até 1.000 reais;

(viii) 33,4% são biscateiros ou dedicam-se à produção doméstica, 43,8% são micro ou

pequeno proprietários, 14,63% são autônomos do tipo, chofer, caminhoneiro, pedreiro,

corretor, técnico, professor particular.

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TABELA 2

DADOS PESSOAIS E FAMILIARES

População (% )Nível Escolar

Analfabeto 11.811º Grau Completo 53.751º Grau Incompleto 12.812º Grau Completo 4.102º Grau Incompleto 10.412º Grau Técnico Incomp./Comp 2.30Superior Incomp./Comp 4.80

OcupaçãoFuncionário de Alto/Médio Escalão 1.24Funcionário de Baixo Escalão 2.18Profissional Liberal com Curso Superior 0.73Autônomos (corretor, técnico, prof. particular) 4.67Autônomos ( chofer, caminhoneiro, pedreiro) 9.96Biscateiro, Produção domética 33.40Médio ou grande proprietário 0.21Pequeno proprietário 16.29Micro proprietário 27.59Empregados domésticos 1.04Outros 2.70

Renda Mensal FamiliarAté 200 reais 9.28200 a 400 reais 14.97400 a 600 reais 16.47600 a 800 14.37800 a 1000 11.781000 a 1500 15.571500 a 2000 9.08Mais de 2000 8.48

Nº de Pessoas no DomicílioAté 2 Pessoas 22.403 Pessoas 26.204 Pessoas 23.105 Pessoas 16.006 Pessoas 5.007 Pessoas ou mais 7.30

Tem Filhos 80.10 Quantos Filhos 1 Filho 33.42

2 Filhos 28.663 filhos 16.274 Filhos 11.145 Filhos ou mais 10.51

Tipo de DomicílioImóvel próprio 82.68Imóvel alugado 14.21Imóvel de familiares 2.80Outros 0.30

Fonte : Rocinha

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Perfil dos Empregados em Microempresas da Rocinha

A fim de completar a análise dos recursos humanos das microempresas da Rocinha

analisamos o perfil dos empregados e dos familiares ocupados nestes empreendimentos.

56,9% das microempresas da Rocinha não recebe qualquer ajuda da família,

segundo a tabela 3. Ou seja, 43,1% dos microempresários são auxiliados por suas

respectivas famílias, revelando a importância relativa da célula básica do tecido social, a

família, como insumo das atividades microempresariais locais. 38,42% do total de

microempresários recebem auxílio familiar por intermédio do trabalho de seus membros,

principalmente do cônjuge (20%) e de seus filhos (16,20%) e somente 3,3% dos

microempresários recebe dinheiro da família como forma de ajuda.

As microempresas da Rocinha geralmente não contam com a ajuda de mais nenhum

funcionário em seus empreendimentos, além de seus próprios familiares (76,82%). 18,1%

das microempresas da Rocinha possuem 1 ou 2 pessoas auxiliando suas atividades,

enquanto 5.1% possui três ou mais funcionários.

A maior parte dos funcionários contratados pelas microempresas da Rocinha são

fixos (81,7%) e quando decidem empregar trabalhadores ocasionais, os microempresários

normalmente contratam apenas um funcionário (73,81%). Além disso, nota-se que

normalmente as microempresas decidem contratar apenas 1 funcionário fixo (53,61%) ou

no máximo de 2 a 5 funcionários fixos (39,7%), mas muito dificilmente elas contratam mais

de 5 funcionários (1,3%).

A faixa etária dos funcionários das microempresas da Rocinha situa-se entre 19 a 35

anos de idade, pois tal faixa de idade representa 54,44% dessa população. Portanto, como

somente 22,22% dos funcionários das microempresas situam-se na faixa etária de 35 a 50

anos, podemos dizer que os funcionários são relativamente jovens.

Nesse sentido, ao compararmos os dados referentes à idade dos microempresários e

de seus funcionários (respectivamente, tabelas 1 e 3), podemos concluir que os funcionários

das microempresas sejam mais jovens que os seus patrões, uma vez que :

(i) de um lado, 44,34% dos funcionários situam-se na faixa de idade até os 25 anos,

tal porcentagem cai para 11,52%, ao considerarmos os proprietários das microempresas.

(ii) por outro lado, 47,03% dos funcionários situam-se na faixa de idade de 26 a 50

anos, tal porcentagem sobe para 70,03%, ao considerarmos os proprietários das

microempresas.

Em suma, a análise do trabalho adicional em relação ao desenvolvido pelos

proprietários revela a importância do trabalho dos cônjuges e de filhos, evidenciando a

importância do chamado capital social aqui representado através da família na operação

destes empreendimentos. As microempresas da Rocinha geralmente não contam com a

ajuda de mais nenhum funcionário em seus empreendimentos, além de seus próprios

familiares (76,82%), sendo 18.3% destes funcionários ocasionais e em geral jovens

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(44,34% até 25 anos de idade). Apenas 5.1% das microempresas possue três ou mais

funcionários.

TABELA 3 DADOS DOS FUNCIONÁRIOS DAS MICROEMPRESAS

População (%)Ajuda Familiar

Não tem 56.90Dinheiro 3.30Trabalho 38.42 Filhos 16.20 Cônjuge 20.00 Pais 3.10 Outros Parentes 11.70Outra forma de Ajuda 1.38 Compra Produto p/negócio 0.43 Entrega encomendas 0.26 Divulgação 0.26 Outros 0.43

nº de Pessoas que Ajudam na Atividade além do FamiliaresNenhuma 76.821 Pessoa 12.992 Pessoas 5.093 a 5 Pessoas 3.80Mais de 5 Pessoas 1.30

FuncionáriosFixos 81.70 1 Funcionário 53.61 2 Funcionários 22.16 3 a 5 Funcionários 17.53 Mais de 5 Funcionários 6.70Ocasionais 18.30 1 Funcionário 73.81 Mais de 2 Funcionários 26.19

Faixa de Idade dos FuncionáriosMenores de 14 Anos 1.8514 a 18 Anos 12.9619 a 25 Anos 29.6326 a 35 Anos 24.8135 a 50 Anos 22.22Maiores de 50 Anos 8.52

Fonte : Rocinha

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Perfil das Microempresas da Rocinha

De acordo com a tabela 4 abaixo, constatamos que as microempresas da Rocinha

apresentam como atividades principais a venda de produtos alimentícios (21,93%), a posse

de bar/birosca (18,94%) e a realização de serviços diversos (13,16%). Em termos mais

genéricos, a atividade de vendas supera a atividade de serviços nas microempresas da

Rocinha.

A maioria dos microempresários da Rocinha não tem outra atividade e dedica-se

apenas a sua atividade principal (87,75%), e entre os 12,25% que desempenham uma

atividade empresarial complementar, nota-se mais da metade destas atividades extra

(6,57% do total) se refere a venda de produtos alimentícios, roupas e acessórios e cerca de

25% (3% do total) se refere a biscates e serviços diversos.

Em consonância com os dados do último parágrafo, a grande maioria dos

microempresários pobres da Rocinha não tem acesso a outras fontes de renda (74,47%) e

apenas 16,92% desses microempresários possuem outro negócio ou um emprego como

outra fonte de renda. As aposentadorias e pensões complementam a renda de apenas 2,6%

da população.

Quanto à intensidade das atividades microempresariais 94,71% se ocupam durante

os 12 meses por ano, 73,27% operam em mais de 5 dias por semana e 91.5% dedicam

acima de 5 por dia à atividade.

Quanto à sazonalidade dos negócios, apesar de 30,40% dos microempresários não

considerar que existam melhores épocas para o trabalho, mas 45,5% consideram sub-

períodos do verão carioca representados por itens como mês de dezembro, o fim de ano, o

ano novo e o verão os melhores períodos do ano para o desempenho de suas atividades.

Este tipo de informação explorado nos últimos dois parágrafos pode ser útil na formulação

do fluxo de pagamento dos contratos de crédito.

Os microempresários da Rocinha realizam tal atividade entre 1 a 5 anos (37,75%),

mas nota-se que enquanto 74,47% da população desempenha essa atividade a menos de

10 anos, apenas 19,72% a desempenham a 11 anos ou mais.

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TABELA 4

DADOS OCUPACIONAIS

População (% )Atividade Principal

Serviços Diversos 13,16Biscates, Chaveiro, Etc 10,27Costura 4,29Diarista/Babá/Cozinheira/Chofer 11,47Bar/Birosca 18,94Venda, Roupas e Acessórios 9,17Venda de Produtos Alimentícios 21,93Venda Diversos 10,77

Outra Atividade Não tem outra Atividade 87,75Serviços Diversos 1,39Biscates, Chaveiro, Etc 1,59Costura 0,50Diarista/Babá/Cozinheira/Chofer 0,70Bar/Birosca 0,70Venda, Roupas e Acessórios 2,49Venda de Produtos Alimentícios 4,08Venda Diversos 0,80

Tempo que realiza a atividadeM enos de 1 ano 21,611 a 5 anos 37,356 a 10 anos 18,4311 a 15 anos 7,5716 a 20 anos 6,7721 a 25 anos 2,8926 a 30 anos 3,09M ais de 30 Anos 2,29

Outras Fontes de RendaNão tem Outras Fontes de Renda 74,47Outro Negócio 7,31Emprego 9,61Aluguel 5,11Outros 3,30Aposentadoria e Pensões 2,60Não Sabe/Não Respondeu 0,20

Horas Por Dia que Dedica a AtividadeAté 4 Horas 8,505 a 8 Horas 28,209 a 12 Horas 47,60M ais de 12 Horas 15,70

Dias Por Semana que se Dedica a AtividadeAté 5 Dias 26,73M ais de 5 Dias 73,27

M eses Por Ano que de Dedica a AtividadeAté 11 M eses 5,2912 M eses 94,71

M elhores Épocas para o TrabalhoNão Existe 30,40Início do M ês 3,10Final do M ês 2,54Dezembro 4,76Fim de Ano e Ano Novo 21,13Inverno 3,32Verão 19,59Outros 15,16

FONTE: ROCINHA

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7. A Nova Geração de Políticas Sociais

A alvorada do governo Lula da Silva trouxe surpresas. Talvez a maior tenha sido que

a surpresa não foi econômica, mas social. Lula não quer tornar o Brasil diferente dos países

desenvolvidos, pelo contrário visa torná-lo mais parecido, combatendo a principal diferença

que é a desigualdade. O combate à miséria ficou fora da agenda dos candidatos durante o

período eleitoral. Lula não pode ser acusado nem de oportunista, nem de inerte, pois

levantou a bandeira contra a miséria no discurso da vitória. O projeto Fome Zero foi a

prioridade inicial do presidente Lula, como fora o Plano Real para seu sucessor. Lula quer

dar um choque na miséria, comparável ao dado pelo Plano Real na inflação há quase uma

década. O Fome Zero é uma política de renda com uma grande qualidade e um grande

defeito. A qualidade é a capacidade de mobilizar a sociedade, atributo herdado das ações

pretéritas de Josué de Castro, autor de Geografia da Fome nos anos 40 e de Betinho criador

da Ação da Cidadania contra a Miséria, a Fome e pela Vida. O combate à miséria habita hoje

corações e mentes dos brasileiros.

Mas boas intenções e propaganda não bastam. Mais do que operacionais, os

problemas do Fome Zero foram de concepção. Buscou-se um combate literal à fome

cerceando a liberdade do pobre escolher o que podia, ou não consumir. A tentativa era

aumentar a produção agrícola e a capacidade de geração de renda locais. O Fome Zero

incorreu no pecado original: o de reinventar a roda. A ânsia de mudar desprezou avanços

na estrutura de combate à pobreza feitos nos últimos anos. O projeto Alvorada de FHC,

ainda que tardio e mal divulgado, incorporava alguns elementos da melhor tecnologia

disponível, algumas já conhecidas pelo PT. Por exemplo, transferências condicionais de

renda segundo qual o pobre deve dar uma contrapartida social aos pagamentos que o

tornará menos pobre no futuro. A Bolsa escola é um subsídio à educação focado nos pobres,

num país onde o estado acostumou-se a apoiar a acumulação de capital físico das elites

através de crédito subsidiado. É certo que o projeto Alvorada continha limitações mas ao

invés de fazer upgrades na estrutura anterior, a opção inicial foi mudar o rumo da política

social, causando involução nas práticas sociais.

A unificação dos programas sociais representa uma tentativa de retomar o uso de

tecnologias sociais de ponta, dar maior consistência e sistematicidade às ações do governo

federal. A criação do Bolsa-família composto de diferentes programas de transferência de

renda busca de convergência de resultados, assim como a formação do cadastro social

único, uma espécie de censo operacional das políticas sociais. Mais recentemente, a

integração das secretarias do Bolsa-Família, do Fome Zero com o Ministério de Assistência

Social no Ministério do Desenvolvimento Humano e de Combate à Fome, sob a regência de

Patrus Ananias revela renovado empenho em unir diferentes práticas presentes e passadas

para convergir. O nome do Ministério de Desenvolvimento Humano guarda a promessa da

modernização das ações sociais dando continuidade a linha inovadora do Fundo de

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Erradicação da Pobreza do Congresso Nacional, do Alvorada de FHC e do Bolsa Família de

Lula. Já o sobrenome do novo Ministério: Combate à Fome possui o DNA da mobilização

social herdado de Josué de Castro e de Betinho, combatendo o principal aliado da

desigualdade inercial: a indiferença com a diferença.

A terceira perna da política social é constituída por ações metropolitanas e aí está

faltando uma política integrada na linha do bolsa- família, por exemplo. As vezes sentimos

como no caso de alguém que perdeu a perna que a mesma está lá mas não está não. Ela

exige efetiva coordenação dos vários níveis de governo com a sociedade civil. A

coordenação também passa pelo mesmo nível de governo pois os prefeitos dos municípios

de uma mesma metrópole não costumam se entender. Falta um maestro, um regente do

caos metropolitano. Esse é o novo desafio que tem de ser enfrentado, e o governo federal

tem um papel fundamental a desempenhar neste processo.

“O nome do novo Ministério de Desenvolvimento Humano guarda a promessa da

modernização das ações sociais. Já o seu sobrenome: Combate à Fome possui o

DNA da mobilização social herdado de Josué de Castro e de Betinho”

8. Mapa do Fim da Fome: O Retorno

O trabalho intitulado "Mapa do Fim da Fome: Metas Sociais contra Miséria" lançado

pela FGV em 2001, suscitou reações diversas. A proporção de pessoas com renda per capita

inferior a 79 reais mensais (a preços de São Paulo na data do Censo, agosto de 2000) é de .

Ou seja, um em cada três brasileiros figuram nesta categoria, cerca de 56 milhões de

pessoas. O estudo também calcula quanto custaria para completar a renda de cada

brasileiro até a linha de R$79. Isto é, o menor valor das transferências capazes de içar cada

miserável até o piso de suas necessidades básicas. Por exemplo, quem recebesse a renda

de R$1 ganharia R$ 78, e vice-versa. Enquanto, quem recebesse renda de R$79, ou mais,

não receberia nada. A insuficiência de renda geral da sociedade brasileira em relação ao

parâmetro de R$79 arbitrado seria de cerca de 2.3 bilhões mensais, cerca de 4,7 % da

renda das famílias. O passo seguinte foi ratear este valor agregado por brasileiro: 14 reais

mensais.

Se 56 milhões de miseráveis incomoda muita gente! 14 reais por brasileiro

incomoda, incomoda, muito mais!! Este pequeno grande número se refere ao valor mínimo

mensal por brasileiro capaz de içar a renda de cada miserável até a renda de R$ 79. Os dois

números citados derivam da mesma linha de miséria, não dá para achar um número muito

alto e o outro muito baixo. São duas faces da mesma nota de R$796 num país desigual por

6 Este valor deriva da linha de indigência calculada em de um estudo conjunto com Francisco Ferreira e Peter Lanjouw . Uma contribuição inesperada do debate foi trazer à tona a necessidade do governo adotar linhas de miséria oficiais. O banco de dados apresenta estimativas para um conjunto amplo de linhas de miséria alternativas. Os dados nacionais do presente estudo diferem do anterior pela mudança da base de dados da PNAD para o Censo tendo a proporção de miseráveis subido cerca de quatro pontos de porcentagem.

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natureza. Pouco para uns, inatingível para outros. O número grande revela a gravidade do

problema e o pequeno a factibilidade da solução.

Agora este exercício não deve ser lido como uma defesa de políticas de específicas,

mas como uma referência ao custo de oportunidade social da adoção de políticas

desfocadas. O dado é útil para traçar o alvo das políticas e organizar suas fontes de

financiamento. Vejamos um exemplo na linha de políticas compensatórias: a proposta de

universalização das transferências de rendas de Eduardo Suplicy segundo o qual cada

brasileiro - inclusive os ricos - terá direito a uma renda mínima. O custo da universalizar

uma renda mínima de R$ 79 seria 26,6% da renda das famílias, ou 5.6 vezes o valor da

perfeita focalização supra-citado. É verdade ainda que o cálculo da despesa da focalização

perfeita assume custos operacionais nulos mas este também é o caso do cenário da renda

mínima universal. Uma vantagem de universalizar é não gerar incentivos à informalização

das relações trabalhistas as pessoas teriam incentivos a esconder a sua renda de forma a

ascender aos benefícios no caso da focalização. Por outro lado, é muito mais difícil fiscalizar

a operação de programa que atinge um contingente de pessoas três vezes maior.

Alguns preferem interpretar os 14 reais como uma campanha de doação de recursos

na linha daquela proposta por Betinho há mais de uma década atrás. Neste caso é

interessante dividir a população brasileira entre receptores e doadores de recursos. Se

ratearmos o déficit social de 2.3 bi mensais pelos 56 milhões de miseráveis a transferência

média recebida seria de R$ 42 reais mensais por beneficiário. A pergunta complementar é

quanto de renda deveria ser transferido por cada pessoa que está acima da linha de

miséria. Isto é, olhamos o problema agora na perspectiva dos 112 milhões de não

miseráveis. Este número é de R$ 21 por mês em média. Obviamente, se mudamos a linha

de miséria arbitrada as transferências de renda também mudariam. Por exemplo, se

arbitrássemos uma linha de 30 reais por pessoa , o custo por não miserável cairia de R$21

para R$3.

Os R$ 14 deveriam funcionar apenas como uma referência de quão factível é a

erradicação da miséria num país com o nível e a desigualdade de renda brasileira. Na

verdade, este ponto não é novo. Josué de Castro disse nos anos 40: "O mundo dispõe hoje

de recursos e tecnologia suficientes para que a fome fosse totalmente erradicada do

planeta". Se isso era verdade há sessenta anos atrás é muito mais verdadeiro hoje, no

Brasil. A vantagem do Mapa do Fim da Fome já em 2001 foi demonstrar isso de maneira

simples e tangível. Falarmos de milhões ou bilhões de reais não diz muito ao cidadão

comum.

Maurício de Andrade, sucessor de Betinho no comando da Ação da Cidadania nos

procurou no sentido de formarmos uma parceria que ajudasse a instituição a detalhar suas

estratégias para o Estado do Rio onde a instituição dispõe de mais de 800 comitês e

unirmos forças no debate social, esta sim a real vocação do CPS/FGV, o que acabou

resultando no presente estudo com o apoio de nossas instituições e o Banco Rio de

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Alimentos do SESC/RJ que visa minimizar o desperdício de alimentos e melhorar a sua

distribuição.

i) Análise local

A miséria atinge 19.45% da população fluminense e 14,57% dos cariocas em 2000.

Dividindo o município em Regiões Administrativas, ela varia desde menos de 4% nas RAs de

Botafogo, Copacabana e Lagoa até 29.4% no Complexo do Alemão. Outras favelas e

ressentamentos como Jacarezinho (27,54%), Cidade de Deus (26,02%), Maré (25.235) e

Rocinha (21.89%) se destacam entre as regiões mais miseráveis do município. Importante

destacar que apesar de possuir a menor a proporção de pobres, a cidade do Rio é a que

mais contribui para a pobreza total do Estado (30,35%), isso se deve ao fato de grande

parte da população fluminense aí residir. Todas essas informações podem ser encontradas

no anexo no final do trabalho.

Nas tabelas do apêndice encontramos o custo da erradicação da miséria no Estado e

município do Rio e em suas regiões administrativas. Os dados mostram que seriam

necessários na melhor das hipóteses R$ 14,04 em média, por pessoa mês, para acabar com

a pobreza no estado, totalizando um custo de R$ 109 milhões mensais e R$ 1.3 bi anuais.

Analisamos o custo da erradicação da miséria sob outras duas perspectivas, como

por exemplo: quanto cada miserável fluminense deveria receber, em média R$ 39,24; por

outro lado cada não miserável deveria contribuir com R$ 9,47 , para que a miséria fosse

totalmente aliviada.

O Mapa do Fim da Fome II além de constituir um banco de dados mais completo

sobre carências e riquezas da população a nível de algumas localidades permite cada um

enxergar a sua vizinhança desde uma perspectiva própria. Por exemplo, o déficit social da

Rocinha é de 575 mil reais mensais, o que daria cerca de 3,56 reais mensais por cada não

miserável da região administrativa vizinha da Lagoa (inclui Ipanema e Leblon), a mais rica

da cidade.

“A renda média brasileira (ou mesmo da Zona Sul Carioca) oculta a riqueza da

Bélgica, a miséria da Índia e a violência da Colômbia”.

ii) Inovações

Uma inovação metodológica do presente estudo feito em relação ao seu homônimo é

a análise da redistribuição de recursos sob perspectivas diversas. Além da transferência de

alimentos e renda, medimos quantas horas cada não miserável cerca de deveria contribuir

em termos de trabalho voluntário ao seu respectivo salário-hora. A vantagem deste

conceito expresso em horas é a sua relação de proporcionalidade com a renda de cada

miserável o que gera um tipo de equidade distributiva conceitualmente interessante. Neste

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sentido este dado não deve ser necessariamente interpretado como oferta de trabalho

voluntário em horas mas como unidade de conta a ser utilizada no cálculo da parte que

cabe a cada miserável no aliviamento da miséria. A nível nacional, o ganho de cada não

miserável é cerca de R$ 3.8 por hora, para gerar os 21 reais cada um daria 5.61

horas mensais.

Existe ainda uma versão estrutural do déficit social de 14 reais por brasileiro. O

conceito de dívida social corresponde ao estoque que daria origem prospectivamente a esse

fluxo. Isto é, qual seria o montante a ser aplicado de uma só vez que geraria os recursos

necessários para saciar o dia-a-dia da miséria. A resposta a esta pergunta depende da taxa

de retorno do capital transferido assumida. Por exemplo, se aplicássemos os 0.5% ao mês

da caderneta de poupança, R$R$ 14 mensais transferidos perpetuamente corresponderiam

a um estoque de R$2800. Já se a taxa de juros fosse 2% ao mês a dívida social por não-

miserável seria de R$700 e assim por diante.

MAPA DO FIM DA FOME DA POPULAÇÃO TOTALRio de Janeiro - Medidas de Miséria - Linha de R$79*

Transferências Mínimas para Erradicar a Miséria

R$ pessoa R$ total mês R$ não miserável R$ miserável

Brasil 33.15 14.04 2,371,086,203 21.00 42.35UF - Rio de Janeiro 19.45 7.63 109,159,553 9.47 39.24Município do Rio de Janeiro 14.57 5.89 34,172,061 6.90 40.45

Lagoa 3.99 1.78 299,310 1.85 44.55Rocinha 21.89 10.22 575,604 13.09 46.70

Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da amostra do Censo Demográfico 2000/IBGE.

SubdistritoRio de Janeiro % Miseráveis

MAPA DO FIM DA FOME DA POPULAÇÃO TOTALRio de Janeiro - Medidas de Miséria - Linha de R$79*

Transferências de Riqueza por Não Miserável (R$)

0.5 % a.m. 1 % a.m. 2 % a.m.

Brasil 4200 2100 1050UF - Rio de Janeiro 1895 947 474Município do Rio de Janeiro 1380 690 345

Lagoa 370 185 93Rocinha 2617 1309 654

Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da amostra do Censo Demográfico 2000/IBGE.

SubdistritoRio de Janeiro

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Estes exemplos são apenas pedagógicos, pois frisam a importância como objeto de

política pública de natureza estrutural não só o foco da transferência de capital como a sua

respectiva taxa de retorno. Isto é a sua capacidade de alterar a vida dos beneficiários.

Quanto mais alto o retorno do capital transferido (ex: educação, terra, dinheiro etc) menor

seria o montante necessário para se chegar ao menor custo de um programa estrutural

capaz de eliminar a miséria. Obviamente, o fluxo de R$14 mensais é muito menor do que o

estoque de R$700, o que decorre do fato de que aliviar a miséria é mais barato do que

erradicá-la. Isto acontece quando olhamos para os sucessivos períodos que estão por vir e

não apenas para miséria presente. É preciso transcender o campo conjuntural da

distribuição da insuficiência de resultados correntes e encarar o universo bem mais

complexo e desafiador da distribuição das oportunidades.

"O objeto de política estrutural é não só o foco da transferência de capital (ex:

educação, terra, dinheiro etc) mas a sua respectiva taxa de retorno"

MAPA DO FIM DA FOME DA POPULAÇÃO TOTALRio de Janeiro - Medidas de Miséria - Linha de R$79*

Transferências de Horas

por Não Miserável

Brasil 4.28UF - Rio de Janeiro 9.52Município do Rio de Janeiro 7.38

Lagoa 2.82Rocinha 21.27

Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da amostra do Censo Demográfico 2000/IBGE.

SubdistritoRio de Janeiro

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Mapa do Fim da Fome II – Pernambuco e Recife

A pesquisa Mapa do Fim da Fome II foi lançada no dia 16 de abril, em Recife, onde o Professor Marcelo Neri,

coordenador do Centro de Políticas Sociais/FGV e da pesquisa, apresentou junto com o coordenador da FGV

Nordeste, Jorge Jatobá uma versão da pesquisa para os municípios de Pernambuco e áreas de Recife. O estudo foi

viabilizado pelo apoio institucional do SESC-PE, do SEBRAE-PE e do Banco do Nordeste do Brasil através do

Escritório Técnico do Nordeste (ETENE). Temos também como parceiro a Ação da Cidadania contra a Fome e a

Miséria e pela Vida que patrocinou estudo semelhante para o Estado do Rio de Janeiro. O Mapa do Fim da Fome II

é um banco de dados sobre as condições sociais dos municípios pernambucanos e de subdistritos do município do

Recife. As informações são georeferenciadas, permitindo a localização física das áreas sujeitas às condições sociais

mais adversas. Essas informações constituem um instrumento poderoso para que a sociedade e governos possam

elaborar programas bem focados de alívio social, de combate à fome, à miséria e à exclusão social. A pesquisa

revela que 53% da população pernambucana vive em situação de miséria, tendo o município de Manari como um

dos mais pobres do Brasil com 90% de miseráveis; Fernando de Noronha com 5% de miseráveis e com maior

renda do estado (R$1.027,00) aparece como o paraíso dos indicadores sociais do Estado. Ela ainda nos permite

analisar, por exemplo, os municípios de Pernambuco que foram recentemente destaque na mídia em função das

ações realizadas pelos sem-terra nestas áreas (abaixo a tabela com essas informações), sendo que três desses

municípios estão entre os 20 menos miseráveis dos 185 municípios do Estado.

MAPA DO FIM DA FOME Pernambuco - Medidas de Miséria - Linha de R$79*Áreas que se tornaram objeto de ação dos sem-terra

Transferências Mínimas para Erradicar a Miséria

R$ pessoa R$ não miserável R$ miserável

Total da Uf 7,895,042 53.86 23.47 50.87 43.58Cabo de Santo Agostinho 152,789 54.95 18 23.61 52.42 42.97Escada 57,218 64.5 66 27.07 76.26 41.97Jaboatão dos Guararapes 579,825 43.00 8 17.20 30.17 40.00Moreno 49,112 62.1 46 25.70 67.81 41.38Petrolina 217,365 47.29 10 19.28 36.58 40.78

Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da amostra do Censo Demográfico 2000/IBGE.

Municípios População % Miseráveis Colocação no Ranking

Toritama

IATIMANARI

#

CARNAUBEIRA DA PENHA

SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE

5.565.56 - 50.8350.83 - 66.0566.05 - 75.2375.23 - 90.41

#

Fernando de Noronha

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados censo demográfico de 2000/IBGE

Percentual de Miseráveis por MunicípioPernambuco

Toritama

IATIMANARI

#

CARNAUBEIRA DA PENHA

SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE

5.565.56 - 50.8350.83 - 66.0566.05 - 75.2375.23 - 90.41

#

Fernando de Noronha

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados censo demográfico de 2000/IBGEFonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados censo demográfico de 2000/IBGE

Percentual de Miseráveis por MunicípioPernambuco

61.1562.15 - 66.6566.7 - 68.6468.65 - 69.4870.48 - 71.39

RPA 03Casa ForteParnamirim

RPA 02Beberibe

Encruzilhada

RPA 01Aflitos

Bairro do Recife

RPA 06Boa ViagemImbiribeira

RPA 05Afogados

Ilha do Retiro

RPA 04Caxangá

Torre

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados Censo demográfico de 2000/IBGE

Participação da Renda do Trabalho por SubdistritoRecife

61.1562.15 - 66.6566.7 - 68.6468.65 - 69.4870.48 - 71.39

RPA 03Casa ForteParnamirim

RPA 02Beberibe

Encruzilhada

RPA 01Aflitos

Bairro do Recife

RPA 06Boa

61.1562.15 - 66.6566.7 - 68.6468.65 - 69.4870.48 - 71.39

RPA 03Casa ForteParnamirim

RPA 02Beberibe

Encruzilhada

RPA 01Aflitos

Bairro do Recife

RPA 06Boa ViagemImbiribeira

RPA 05Afogados

Ilha do Retiro

RPA 04Caxangá

Torre

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados Censo demográfico de 2000/IBGEFonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados Censo demográfico de 2000/IBGE

Participação da Renda do Trabalho por SubdistritoRecife

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9. Considerações Finais

A nova safra de microdados recentemente colhida comprovou que a crise social se

instalou nas metrópoles brasileiras. Como exemplo extremo, a taxa de miséria no município

de São Paulo aumenta cerca de 50% entre 1991 e 2000. No município do Rio de Janeiro a

miséria cai 19% neste período, o que representa uma inversão da decadência de

desempenho relativo frente a São Paulo, observada nas décadas anteriores. No período

2000-02 observamos a continuidade desta tendência: a taxa de miséria baseada em renda

do trabalho sobe 1,57% no município de São Paulo e cai 1,68% no do Rio. Neste mesmo

período a taxa de miséria sobe mais nas periferias destas capitais, 10,4% e 18,3%, o que

faz com que o aumento da miséria na Grande São Paulo seja inferior a do Grande Rio, 5,3%

contra 7,3% (média móvel de 12 meses segundo cálculos feitos sobre os microdados da

Pesquisa Mensal do Emprego (PME/IBGE – vide banco de dados)).

O ônus da crise se concentra no espaço metropolitano, já o bônus dos novos

programas sociais se dirige para os grotões de miséria. Isto vale para a implantação de

programas Constitucionais como a Previdência Rural e o Benefício de Prestação Continuada;

para programas ad-hoc emergenciais do final da década de 90 como as frentes de trabalho

contra a seca no nordeste; para as bolsas do projeto Alvorada (Escola, Alimentação etc)

implantados a partir de 2000, para as ações do Fome Zero e mais recentemente para o

advento do Bolsa Família.

O Fome Zero representa um novo paradigma de como o estado mobiliza a sociedade,

aí incluindo ONGs as corporações e mesmo atores estrangeiros. O Bolsa-Família vem

organizar o lugar que é do estado no combate à miséria, realizando relevantes upgrades e

inovações nas ações anteriores. Agora estes dois programas, assim como os outros citados

acima, tem como foco principal as áreas rurais e as cidades de menor porte. Neste ínterim

as grandes cidades Brasileiras estão órfãs de políticas integradas. Esta é a perna faltante do

tripé, a fronteira a ser explorada pela nova geração de políticas sociais. A natureza dos

problemas (e das soluções) das grandes cidades possui características próprias e

diversificadas que devem ser objeto de um conjunto de políticas específicas. A começar pela

maior quantidade de recursos e tecnologias sociais disponíveis pela sociedade civil.

Os anos 90 constituem a década das reformas liberais, nos quais abertura da

economia, privatizações e estabilização ocupam lugar de destaque. Agora quais seriam os

impactos dessas reformas no cidadão comum? O banco de dados permite a análise de

dados relativos a acesso a bens de consumo duráveis, serviços públicos, moradia entre

outros. O período de lua de mel com o Real, apresenta maiores taxas de crescimento anuais

de acesso a duráveis. As razões por trás deste avanço parecem estar menos em melhoras

na distribuição de renda, e mais na redução das incertezas. Com a estabilização os

indivíduos se sentiram mais seguros para tomar crédito e converter poupanças

precaucionais em consumo de duráveis. Similarmente, as financeiras se sentiram mais

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confiantes em ofertar empréstimos pela facilidade de monitorar potenciais tomadores,

relaxando restrições ao crédito. Complementarmente, a abertura da economia aumentou a

quantidade e a qualidade dos bens (e seus componentes) disponíveis na praça brasileira. No

que tange a oferta a serviços públicos, como acesso a esgoto, água e energia elétrica é

importante incorporar o processo de privatização a análise. No caso do telefone particular

de serviço público sujeito a racionamento, em um bem durável em franco processo de

difusão.

Cabe, por fim, lembrar a operação de efeitos demonstração e de consumo conspícuo

atuantes agora em escala global. O crescimento do acesso a bens e serviços não consegue

acompanhar o ritmo das inovações observadas nos desejos de consumo. Num mundo

globalizado, os Silva e seus vizinhos brasileiros, se sentem compelidos a acompanhar os

mutantes hábitos dos Jones e seus vizinhos americanos. A sensação de frustração

consumista decorreria mais por não possuirmos o que passarmos a querer , do que por

perder o que já possuíamos. De toda forma, na perspectiva do consumidor, os anos 90 não

constituíram uma segunda década perdida. Entretanto, o mesmo não pode ser dito no caso

do trabalhador, o problema do desemprego e da informalidade é a pior face da década de

90.

Pesquisas de opinião apontam o desemprego e a violência como os dois problemas a

ocupar mais os corações e mentes dos brasileiros. Os números do desemprego e da

violência brasileira têm a cara dos jovens das favelas e periferias metropolitanas. A taxa de

desemprego entre 15 e 29 anos é 22.6%, quatro vezes e meia maior do que as do grupo de

35 a 39 anos de idade. Cabe lembrar que a taxa de desemprego dos jovens quadruplicado

entre 1989 e 2001. Apesar do quadro de desespero inercial traçado acima, os novos

tempos trazem bons augúrios que talvez permitam à nossa sofrida juventude metropolitana

mostrar o seu valor.

De maneira geral, o combate sustentável à pobreza passa pelo reforço do estoque de

riqueza dos miseráveis, aí incluindo mecanismos de seguro e crédito. Um modelo de

desenvolvimento social não é composto a partir da mera soma de recursos isolados. Neste

ponto entra o conceito de capital social, entendido como uma variedade de instituições que

potencializam os retornos privados e sociais dos ativos. Por exemplo, a organização dos

fatores de produção será uma determinante chave para os retornos obtidos de uma dada

quantidade de capital físico e humano acumulados, como no cooperativismo de pequenos

produtores. Ou ainda, a capacidade de uma comunidade se organizar frente a uma situação

adversa é determinante dos seus efeitos de curto e de longo prazo sobre a sua população.

Este processo passa não só pela mobilização interna da comunidade, como pela capacidade

de governos articular com as aspirações da comunidade e dos seus membros.

A direção das melhores ações passa pelo diagnóstico das carências e potencialidades

da população nos diversos recantos do país, o qual também envolve formidáveis problemas

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informacionais. Buscamos suprir algumas destas informações para as localidades do Rio de

Janeiro.

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A pesquisa contém informações geo-referenciadas e tem como objetivo mapear

problemas, informando ao cidadão comum sobre a extensão das carências sociais em sua

localidade e dos recursos necessários para aliviá-la. Um banco de dados sócio-demográfico

acompanhado de software que permite de forma interativa a geração de mapas, assim

como rankings regionais da vasta gama de indicadores gerados podem ser encontrados no

site www.fgv.br/cps.

B a r r a da T i j uc a Lag oa

T i j uc a

0.005 - 0.1660.166 - 0.3310.331 - 0.5220.522 - 0.7510.751 - 1.183

F o n t e : C P S / I B R E / F G V a p a r tir d o s m i c r o d a d o s C e n so demográfico de 2000/IBGE

R a n k i n g P o r S u b d s i s t r i t o - R i o d e J a n e i r o M é d i a d e A u t o m ó v e l

I l h a d e P a q u e t á

R o c i n h a

J a c a r é z i n h o

50.18 - 50.7650.76 - 51.7851.78 - 52.6952.69 - 54.3654.36 - 58.06

Maré

GuaratibaTijuca Rocinha

Copacabana

Botafogo

Ranking por Subdistrito - Rio de JaneiroProporção de Mulheres

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados censo demográfico de 2000/IBGE

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Taxa de Moradores em Favelas por Regiões Administrativas – Rio de Janeiro

0 - 6.0466.046 - 14.60914.609 - 31.86531.865 - 61.18761.187 - 100

F o n t e : C P S / I B R E / F G V a par t i r d o s m i c r o d a d o s Censo demográfico de 2000/IBGE