o Medo Da Diferença

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O MEDO DA DIFERENÇA É inevitável não se perceber o quanto é incômoda a postura daqueles que se guiam pelo que reputam hoje ser o politicamente correto. Estamos numa quadra da mais aguda intolerância para com tudo, com capítulos diversos, que passam pelos parâmetros ambientais, pelo barulho, pelo silêncio, pelo consumismo e pela rigidez nos gastos, pela ignorância e pela academia, pela oferta excessiva e pela procura regrada, num cipoal de metas e buscas que ao menor descuido viram cotas, paradigmas, conceitos geralmente de leveza insustentável, postos em discussão como padrão único de comportamento e atitude. Politicamente correto é o significado das coisas e ideias alinhadas para que se atinja a competência, o céu, a eficiência, o respeito no relacionamento da sociedade, como se o mundo, nas suas maiores conquistas, não fosse o resultado da divergência, da experimentação, da atitude humana inovadora, com as suas exceções e inconformismo. A expressão da originalidade ficou engessada, pelo medo de cada um em se sentir deslocado do padrão universal, como se fosse absurdo pensar, agir, raciocinar diferente do que um pensamento coletivo incorpora e avoluma e nos exige obediência em sucessivas prestações de contas. Esquecemo- nos de que somos diferentes humana e biologicamente. Ser diferente ficou perigoso, antissocial, incivilizado, irresponsável e excludente. Não se permite que o indivíduo, para exercer sua espontaneidade e sua originalidade, quebre as resistências e obstáculos que o distanciam de sua liberdade. Digo isso para evidenciar o quanto estamos sofrendo todos os dias com as proibições, o patrulhamento excessivo e ostensivo da sociedade, expresso em legislações, códigos, costumes, na própria atividade da imprensa, no pensamento das igrejas, nos programas das

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O MEDO DA DIFERENA inevitvel no se perceber o quanto incmoda a postura daqueles que se guiam pelo que reputam hoje ser o politicamente correto. Estamos numa quadra da mais aguda intolerncia para com tudo, com captulos diversos, que passam pelos parmetros ambientais, pelo barulho, pelo silncio, pelo consumismo e pela rigidez nos gastos, pela ignorncia e pela academia, pela oferta excessiva e pela procura regrada, num cipoal de metas e buscas que ao menor descuido viram cotas, paradigmas, conceitos geralmente de leveza insustentvel, postos em discusso como padro nico de comportamento e atitude.

Politicamente correto o significado das coisas e ideias alinhadas para que se atinja a competncia, o cu, a eficincia, o respeito no relacionamento da sociedade, como se o mundo, nas suas maiores conquistas, no fosse o resultado da divergncia, da experimentao, da atitude humana inovadora, com as suas excees e inconformismo.

A expresso da originalidade ficou engessada, pelo medo de cada um em se sentir deslocado do padro universal, como se fosse absurdo pensar, agir, raciocinar diferente do que um pensamento coletivo incorpora e avoluma e nos exige obedincia em sucessivas prestaes de contas. Esquecemo-nos de que somos diferentes humana e biologicamente.

Ser diferente ficou perigoso, antissocial, incivilizado, irresponsvel e excludente. No se permite que o indivduo, para exercer sua espontaneidade e sua originalidade, quebre as resistncias e obstculos que o distanciam de sua liberdade. Digo isso para evidenciar o quanto estamos sofrendo todos os dias com as proibies, o patrulhamento excessivo e ostensivo da sociedade, expresso em legislaes, cdigos, costumes, na prpria atividade da imprensa, no pensamento das igrejas, nos programas das escolas, dos partidos e correntes polticas, dos falsos valores, das opes coletivas. J no se pode pensar e expressar abertamente sobre temas os mais originais e incrustados na alma humana; no se pode querer, usar, viver o que cada um escolheu de melhor para si, sem que tudo esteja alinhado e sob a custdia do pensamento que nos controla.

So tempos difceis, esse que o medo nosso inimigo ntimo, um medo de ns mesmos, que nos assombra e nos distancia. Como nos ensinam o psicanalista Roberto Freire e o cientista poltico Fausto Brito, na obra atemporal "Utopia e Paixo - A poltica do cotidiano": " extremamente chato, entediante, acreditar que a histria j est contada, os caminhos j esto prontos, que basta segui-los. muito melhor contar a histria que estamos fazendo. E ela ser sempre nova".

Que essa coragem se afirme em cada um de ns, todos os dias.