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O melhor sítio para aprender a ganhar um Pritzker

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O melhor sítiopara aprendera ganharum Pritzker

O i foi a Faculdade de Arquitectura daUniversidade do Porto para perceber de queé feita a única escola em todo o mundo quegerou dois vencedores do prémio maior daarquitectura, Siza Vieira e Souto de MouraANA CARIDADE

Será dos alunos ou dos professores? Dométodo de ensino? Do edifício? Da cida-de? Do clima? Porque será que a Facul-dade de Arquitectura da Universidade doPorto (FAUP) é a única no mundo a terformado dois prémios Pritzker? Fomosaté lá para tentar descobrir e percebemosque não há uma resposta, há muitas.

João Pedro Xavier, vice-director daFAUP, começa por não esconder o "enor-me orgulho" que a instituição sente coma atribuição do Prémio Pritzker ao arqui-tecto Eduardo Souto de Moura, para logoem seguida centrar o discurso nos indi-víduos e não tanto na escola.

As "três personagens de excepção" quemarcaram definitivamente a vida da FAUPsão as grandes responsáveis pelo caldocriativo que se vive entre aquelas pare-des, desenhadas e projectadas por SizaVieira, também galardoado com o pré-mio máximo da arquitectura, em 1992.

"A diferença que existe na escola doPorto vem de uma reforma que come-çou com o mestre Carlos Ramos e queapanha Fernando Távora, Álvaro SizaVieira e Eduardo Souto de Moura", sen-tencia João Pedro Xavier. A relação entreo mestre e os seus discípulos traça uma"linha de continuidade" que trilhou ocaminho de sucesso desta escola e influen-ciou o seu método de ensino. "A relaçãode grande proximidade entre os profes-sores e os alunos, quase como se de umateliê se tratasse", fomenta o processocriativo e uma reflexão acurada do quo-tidiano, permitindo que a obra nasçacom características que são hoje asso-ciadas à chamada "escola do Porto". "Maisdo que sobriedade, podemos falar de eco-nomia de meios. Uma forma inteligen-te de abordar as questões e de resolveros problemas. A escola do Porto foge aoespectáculo, ao show-off", explicao vice--director, ressalvando que "fazer umacasa não é o mesmo que fazer um está-dio, e o impacto de um e de outro terá,necessariamente, de ser diferente".

Esse legado passa de professor paraaluno de uma forma natural e fluida.

Mas nenhum deixou tantas marcas emJoão Pedro Xavier como Souto de Mou-ra. Agora, sem o blazer e a gravata con-dizentes com o cargo de responsabilida-de que ocupa, o vice-director volta aosbancos de escola e lembra os tempos emque Souto de Moura foi seu professor."O melhor professor de Projecto quealguma vez tive." Xavier lembrou a "enor-me inteligência" e o "grande empenha-mento" do arquitecto, que este ano regres-sou à FAUP como professor catedráticoconvidado. Além das duas aulas magis-trais que já deu, tem programado umworkshop de Projecto a começar no dia11 de Abril. É ainda regularmente cha-mado a integrar a crítica de trabalhosde Projecto.

Outro dos traços distintivos que mar-cam o ensino nesta instituição é a cul-tura do desenho. Aqui, o desenho é usa-

do como "um instrumento de conheci-mento da realidade". "No desenho hie-rarquizamos as coisas, funciona comoum instrumento muito pessoal de inda-gação da realidade". O desenho e o esqui-ço, aliados à execução de maquetas, "é

uma constante na nossa metodologia".O ensino do desenho é muito exigente eos estudantes da FAUP estão apetrecha-dos para o usar "como conhecimento,mas também como procura".

"A diferença que existena escola do Porto vem

de uma reforma quecomeçou com o mestre

Carlos Ramos"João Pedro Xavier

VICE-DIRECTOR DA FAUP

"Queremos acompanharo nível uns dos outros,

queremos sempreestar entre os melhores

do ano"Alex Georgiev

ESTUDANTE

EMPREQO Só mfIAMjQUNS Aiex Georgieve Ana Assunção têm pena de não poderusufruir do conhecimento do prémioPritzker de 2010. As aulas que dá agora"são só para os alunos do quarto ano".

Os dois frequentam o terceiro ano e,

quando lhes perguntámos o que é queesta escola lhes dá de diferente, Ana res-

ponde, prontamente, "noites sem dor-mir". Apesar do sorriso que acompanhaa afirmação, a verdade é que são unâni-

mes a dizer que o curso é "muito exigen-te", não tanto por causa dos professores,mas porque "os alunos querem sempresuperar-se". "Queremos acompanhar o

nível uns dos outros, queremos sempreestar entre os melhores do ano", assegu-ra Alex, de 21 anos.

Ana, 20 anos, tem uma irmã gémea queestuda Medicina. "Ela tem muito mais

tempo Hvre do que eu. Nem se compa-ra", garante. Talvez por isso, os dois estu-

dantes pensaram em desistir no primei-ro ano. Estão orgulhosos cora o Prkzker

ganho por Souto de Moura, e o prestígio

que esse galardão traz, mais uma vez, à

FAUP pode revelar-se como um factor

que joga a seu favor. "Quando quisermosarranjar trabalho é uma mais-valia dizer-

mos que tirámos o curso aqui."Emprego é "o tema difícil". Ambos tem

o optimismo próprio de quem ainda está

na faculdade, mas não deixam de parteum discurso mais realista "Aqui vai serdifícil. Se não arranjarmos trabalho em

Portugal, vamos para fora."

A FAUP tem cerca de mil estudantes etodos os anos saem perto de 150 mes-tres. João Pedro Xavier diz sem hesitar

que "não há, no imediato, emprego paratodos". A taxa de empregabilidade dafaculdade ronda os 60%, um número queo vice-director diz que pode melhorar,mas não nas condições actuais. "Esta-

mos a viver uma altura muito difícil. Não

há trabalho nem para os grandes gabi-netes de arquitectura." É o reflexo da

depressão que se vive no sector da cons-

trução, e que acaba por ser transversal."Só para lhe dar um exemplo, NortnanFoster [arquitecto inglês que projectou,entre outras obras, o novo estádio de

Wembtey e a cúpula do Reichstag] fechou

o gabinete de Berlim e reduziu extraor-dinariamente o número de colaborado-

res em Londres."

Apesar da crise global, existem exem-

plos "de portugueses que são associados

dos melhores gabinetes do mundo" e isso

dá alento aos que cá estão. O Brasil apre-senta-se como um eldorado para os arqui-tectos lusos. "Existe um ek> de ligaçãomuito forte e a economia por lá está aflorescer". A necessidade de sair vê-se

nas candidaturas ao programa Erasmus.

"Temos recebido muitos pedidos para aAlemanha, apesar da grande dificulda-de que isso representa." Na Alemanhanão existem aulas em inglês e os estu-dantes são obrigados a aprender alemão.

Os países do Norte da Europa têm tam-

bém uma procura crescente.

01 Insistem os representantesda FAUP que "o segredodo sucesso não está tantona escola mas sim nosindivíduos"

02 Ana Assunção, estudantede 20 anos: "Quando qui-sermos arranjar trabalho éuma mas-vafca dizermos

que tirámos o curso aqui"

03 João Pedro Xavier, vice--directardaFAUP:"Aescola do Porto foge ao

espectáculo, aoshow-ofT

04 As instalações da Facul-dade de Arquitectura daUniversidade do Porto,fundada em 1979RICARDO MEIRELES

autores premiados como "porta-dores de uma continuidade" demétodos que são muito próprios.

Nuno Brandão Costa foi alunoda FAUP, onde actualmente dá au-las, e é um dos novos rostos. Nasci-do em 1970, tem já vários projectospremiados (recebeu o Prémio Secilem 2009) , e definiu ao DN os pon-tos essenciais que caracterizamesta Escola do Porto. "Apesar de ha-ver identidades diferentes de cadaautor, há uma linha transversal,uma certa postura cultural peran-te o meio. Há três pontos essen-ciais: o sítio e o seu contexto, mui-to importantes para os autores doPorto, a história do local, sempre ater em conta, e a utilização do de-senho como instrumento de trans-formação". A estas bases rapida-mente acrescenta uma quarta: "A

forma como se vai construir temuma grande importância."

O desenho é um factor-chaveem toda a arquitectura. No Porto "é

o mais importante", diz João PedroXavier. "É uma ferramenta indis-pensável na leitura da realidade.No terceiro e quarto anos, os estu-dantes têm oportunidade de dese-nhar projectos durante um ano,desde o início até ao pormenor dos

materiais a utilizar. Vão mesmo aoslocais e trabalham a sério. Isto é

complementado com realizaçãode maquetas", explica o dirigenteda FAUP.

Por isso, lembra, "Siza e Souto deMoura estão sempre a desenhar,seja onde for, em qualquer papel".A atenção e o rigor imposto no de-senho "não é exclusivo desta esco-la, mas aqui são muito valoriza-dos", garante, com um exemplo àvista : "É isto que os estudantes es-

trangeiros [A FAUP tem cem detodo o mundo] procuram: o pro-jecto de longo curso."

A metodologia de trabalho tam-bém distingue a Escola do Porto.Nuno Grande fala na incessantebusca de soluções. "Há uma certacontenção de meios. Somos umpaís periférico, sem grandes meios

tecnológicos, e a Escola do Portosoube contornar isso como umproblema e construir soluções."

A linhagem nesta escola só é

possível com o forte sentido peda-gógico que os arquitectos do Portoconferem à sua actividade. São

professores "sempre muito próxi-mos dos alunos", refere o vice-di-rector da FAUP. Estes são factores

que formam a identidade da Esco-

la do Porto, que se afirma mais pelométodo do que por qualquer uni-cidade estética das obras projecta-das. E, diz João Pedro Xavier, num"ambiente único": "Siza e Souto deMoura são génios, não tenho a cer-teza se estes génios floresciam des-ta forma noutra escola. Há uma in-fluência. . . qualquer coisa diferen-te nesta escola."ACTIVIDADES

Souto de Mouravolta à faculdade> Eduardo Souto de Moura temjá três momentos agendadosna FAUP para este ano. Hojedá uma aula crítica - a segun-da do ano após a sessão inau-gural da escola - e entre osdias 1 1 e 1 5 coordenará umworkshop internacional. Maistarde, a partir de 8 de Junho,estará patente na FAUP umagrande exposição com os pro-jectos apresentados a concur-so por Eduardo Souto deMoura. Até ao final do ano lec-tivo, o arquitecto ainda devedar mais duas aulas magis-trais, em que faz a crítica aostrabalhos de projecto.

O longo caminho para os mais novosfuturo "Sem dúvida que, se nãofosse da Faculdade do Porto, seria

hoje um arquitecto diferente." Nu-no Brandão Costa formou-se naFAUP e hoje é um dos jovens já con-sagrados. Em 2008 ganhou o PrémioSecil com o edifício Móveis Viriato,em Rebordosa, Paredes. Nascido em1970, está já na linha de continuida-

de dos mestres: tem o seu própriogabinete e dá aulas na FAUR Explicaque a renovação faz-se porque "é

uma escola que não segue parâme-tros académicos normais. Está per-manentemente em 'crise', sempre aquestionar-se, o que lhe dá umagrande dinâmica".

Nuno Grande, da Ordem dos Ar-quitectos, afirma que para os maisnovos "Siza e Souto de Moura sãomotores de busca. Descobrem-senovos valores, existem hoje muitosolhares sobre a arquitectura portu-guesa." "É a disciplina artística emque o país tem mais projecção", dizNuno Brandão Costa.

Mas com a proliferação de escolas

-Portugal tem 23 escolas de arqui-tectura com 20 mil alunos -, o crité-rio de escolha é mais exigente. JoãoPedro Xavier, vice-director da FAUP,alerta que "não há suficiente ofertano mercado", porisso "os mais auda-zes podem ter sucesso lá fora". A mé-dia do último ano para entrar na

FAUP pautou-se em 182,5. Só acede-ram ao I .° ano 120 e "ficaram 500 es-tudantes à porta de entrar". O futuro

pode passar por novos rumos. 'A es-sência e formar arquitectos, mas po-de haver outros caminhos. Acrise, se

chegar ao ensino, quando tocar naFAUP jámuitas outras escolas fecha-ram", assevera João Pedro Xavier, pa-ra quem a presença física da Escolado Porto na cidade nãoétão rara co-mo alguns dizem: "Veja o Metro doPorto [Souto de Moura] , intervençãoímpar com implicação brutal no es-

paço urbano. É talvez o metro maisbonito que existe."

Baleias emitemsons familiaresaos humanos

¦ Afinal, não existe uma grande di -ferença entre os sons ouvidos de-baixo de água e os sons ouvidos à

superfície. Esta é uma das curiosi-dades de um estudo realizado peloDepartamento de Oceanografia e

Pesca da Universidade dos Açores e

conduzido pela bióloga marinhaMónica Silva.

O estudo, que recorre à utiliza-ção de hidrofones fixos colocados

no fundo do mar, concluiu que al-guns sons emitidos pelas baleiasaté se parecem com os de animaisterrestres e " são familiares ao ou-vido humano", apontou a investi-

gadora.Esta conclusão não é o objectivo

principal do estudo, mas é vista

pela bióloga como um fenómeno

"quase inexplicável" ¦ lusa

Currículos

com três ou quatropáginas, às cores, com efeitosdecorativos e fotografias in-formais. Documentos com

espaços em branco ou, piorainda, listas intermináveis de'hobbies' que pouco ou nadadizem sobre a personalidade

de uma pessoa Este tipo de erros são "frequentes"e limitam bastante a empregabilidade de muitosdos recém-licenciados acabados de chegar aocada vez mais competitivo mercado de trabalho,explica Sebastião Beltrão, director da Divisão Glo-bal Santander Universidades Portugal.

O 'Job Party\ uma série de 20 eventos espa-lhados por universidades e politécnicos em todoo país, tem como objectivo corrigir estes erros edar aos estudantes as ferramentas para entra-rem melhor no mercado de trabalho. A iniciati-va, que vai na sua segunda edição e foi criada pelaFórum Estudante, em colaboração com a em-

presa de recrutamento Ray Human Capital e a

Associação Nacional dè Jovens Empresários ecom o apoio do Santander, teve início em Feve-reiro e continua até Junho.

Entre os conselhos que são dados nestas ses-sões incluem-se indicações precisas sobre comose elaborar, por exemplo, um bom currículo. "Ocurrículo deve ser um documento sintético e ob-

jectivo, que idealmente não ultrapasse as duas

páginas e que permita ao recrutador conhecer,em pouco tempo, o percurso do candidato", ex-

plica Pedro Hipólito, 'sénior consultanf da RayHuman Capital que tem estado envolvido noevento. "Deve incluir informações como os da-dos pessoais, a descrição da formação académicae da experiência profissional, actividades extracurriculares, que têm ganho uma importânciacrescente junto do empregador, que valorizacada vez mais as competências sociais, e conhe-cimentos de idiomas e informática", afirma.

Esta preocupação pela facilitação da entradano mercado de trabalho começa também a sertida em conta por algumas universidades, não só

através da adesão a este tipo de eventos mas tam-bém no plano curricular dos seus cursos, que co-

meçam a incluir cadeiras complementares que vi-sam esta preparação, o que tem sido muito valori-zado pelo mercado de trabalho, revela Pedro Hi-pólito. "Este investimento por parte dos estabele-cimentos de ensino gera maiores taxas de empre-gabilidade, que levam a que mais alunos as

escolham no futuro para efectuarem a sua forma-

ção superior. As universidades que têm feito este

tipo de aposta têm obtido um óptimo retorno, em-bora ainda sejam uma minoria a nível nacional",lamenta o especialista em recursos humanos.

Se for entrevistado, não mintaOutra fase essencial de todo este processo é a en-trevista de emprego. Uma das missões princi-pais do 'Job Party J

passa por incutir uma ideiafundamental - é sempre melhor ser honesto.Adulterar informação académica ou profissio-nal e tentar disfarçar uma realidade menos favo-rável sobre o seu passado é um erro crasso quedeve ser evitado por todos os futuros candidatosa um emprego.

Outros factores importantes a ter em conta

passam, acima de tudo, por manter uma atitudepositiva em relação a todo o processo. Mantercontacto visual com o entrevistador, não o inter-romper, mostrar que se está genuinamente inte-ressado em conseguir aquele lugar.

"O erro mais comum é o candidato querer mos-trar aquilo que não é, mas sim aquilo que ele acha

que nós gostaríamos que ele fosse", aponta Sebas-tião Beltrão, do Santander. 'TÉ também comum vercandidatos cuja postura é apenas de quem buscaum trabalho, seja qual for, e não se preocuparamem preparar a entrevista, conhecer a empresa e os

lugares para onde se estão a candidatar".E como vêm os alunos estas iniciativas? Para

Catarina Barbosa, estudante de Gestão da Facul-dade de Economia da Universidade do Porto,que esteve no primeiro evento desta edição do'Job Party', um dos conselhos que lhe ficou maiscravado na mente foi o da importância de "saberfalar muito bem inglês, até porque é muito pro-vável que tenhamos de ir trabalhar no estrangei-ro. Eu tenciono ir para o estrangeiro, por isso o

inglês é mesmo essencial, para além de uma boa

capacidade de iniciativa".De facto, cada vez mais estudantes estão des-

crentes da existência de verdadeiras oportuni-dades de carreira em Portugal e vêem com bonsolhos o mercado internacional. Outra soluçãopossível para os efeitos desta crise que parece es-tar para ficar poderá ser a aposta em projectos de

empreendedorismo. Apesar de reconhecer o va-lor numa atitude dinâmica e independente, Pe-dro Hipólito, da Ray Human Capital, considera

que o empreendedorismo "não deve ser a princi-pal solução para o desemprego entre os jovens li-cenciados, que beneficiarão sempre de uma ex-periência numa empresa constituída e estrutu-rada, onde possam aprender e conhecer o mer-cado de trabalho, antes de se aventurarem a títu-lo individual". ¦ Pedro Quedas

"Asuniversidadesque têm feito este

apodeapostatem obtido umóptimo retorno,emboraaindasejam umaminoria a nívelnacional",lamenta PedroHipólito, 'séniorconsultant'da Rau HumanCapital.

OPINIÃO

Chipre Norte

PEDRO LOURTIEProfessor do Instituto Superior Técnico

Fuirecentemente convidado para ir a Chipre Norte

fazer umas conferências e visitar algumas univer-sidades. Para quem não se recorda, a ilha de Chipreestá, de facto, dividida em duas partes, a cipriota

turca a norte e a cipriota grega a sul. Chipre foi colónia britâ-nica e, após a independência em 1960, teve uma história deconflito recorrente entre as duas comunidades. A divisãoocorreu em 1974, após a invasão do norte pela Turquia. O

Chipre, que é reconhecido internacionalmente e membroda União Europeia, apenas controla o sul da ilha A norteestá a denominada República Turca de Chipre Norte.

Tinha alguma curiosidade quanto ao que seria um paísque não existe para a comunidade internacional, mas não se

dá por isso no dia-a-dia. Embora, para as estatísticas das Na-ções Unidas, apenas contem os habitantes do sul. Na procurade dados sobre população e estudantes do ensino superior,constatei que, para as Nações Unidas, Chipre e a Turquia es-tão na Ásia Enquanto que para a UNESCO, uma sua agência,Chipre está na América do Norte e Europa Ocidental e aTur-quia na Europa Central e Oriental. Surpreendente.

Tinha a ideia de que a população cipriota turca era es-

cassa, pelo que fiquei surpreendido quando me informa-ram que havia 45000 estudantes no ensino superior. Nãoera a minha percepção da população que estava errada, é a

situação do ensino superior que é peculiar.Apopulação de Chipre Norte, dados do censo de 2006, é

de 265100 habitantes, dos quais 147400 nascidos em Chi-

pre (114800 no norte e 32600 no sul), 101400 nascidos naTurquia e os restantes em diversos países, com realce parao Reino Unido com 6800. Os habitantes nascidos no sul te-rão migrado para o norte na altura da invasão e os originá-rios da Turquia serão o resultado de uma política de ocupa-ção efectiva do território.

Os últimos dados do ensino superior publicados, do anolectivo de 2008/09, dão conta de que 73% dos alunos inscri-tos em Chipre Norte eram turcos. A informação que me de-ram é que este número está a diminuir, consequência doaumento de oferta de ensino superior na Turquia. ParaChipre Norte, o actual número de 30000 estudantes turcosé enorme, mais de 10% da população total. Mas para a Tur-quia é uma gota de água nos mais de 2500000 de estudan-tes. Uma situação muito pouco segura para as instituições,visto que todas dependem das propinas para sobreviver.

São seis universidades, uma das quais pública e outraum campus de uma universidade turca. O ensino é em in-glês, para captar estudantes de outros países, como o Azer-beijão ou a Nigéria. Os estudantes de outras nacionalidadeseram cerca de 3000 em 2008/09, mas estarão a crescer si-

gnificativamente. Para atrair estes estudantes, há uma ávi-da procura de acreditação dos cursos por agências reputa-das, designadamente americanas e europeias, e de progra-mas conjuntos com universidades de outros países, emparticular do Reino Unido.

É uma realidade bem diferente da que conhecemos emPortugal. Imagine-se que tínhamos 1800000 estudantes,não apenas os cerca de 400000. 0 número adicional de do-centes e outro pessoal, somado ao emprego induzido nou-tras actividades, que num estudo do Reino Unido foi esti-mado como um emprego externo por cada um nas univer-sidades, significaria algo como 400000 empregos adicio-nais. Esta comparação permite perceber a importânciaeconómica que o ensino superior tem para a economia de

Chipre Norte, mas também a fragilidade de estar tão de-

pendente de estudantes de um único país. ¦

Estudar na melhor escolade negócios da Europa

Desde a criação do'ranking' doFT que a HECParis lidera nas escolasde negócios europeias.—A

Etodos os anos conside-

rada a melhor escola de

negócios da Europapelo 'ranking' do Fi-nancial Times, elevan-do-se acima de nomes

tão conceituados como a LondonBusiness School ou o Insead. Criadaem 1881 pela Câmara de Comércio e

Indústria de Paris, a HEC Paris ou"École des Hautes Etudes Commer-ciales de Paris" é conhecida por terum processo de admissão especial-mente selectivo, com apenas 4% dos

que se candidatam a conseguir en-trar cada ano.

Vista inicialmente como uma es-cola apenas para as elites francesas,a HEC Paris foi gradualmente sua-vizando as suas posições e abrindoas suas portas a um grupo de alunoscada vez mais heterogéneo. Só des-de 1973 é que são permitidas mu-lheres nesta escola, no mesmo anoem que a escola de negócios estabe-leceu uma parceira com a New YorkUniversity e a London School ofEconomics. Dois anos depois, aHEC começou a aceitar candidatu-ras de alunos estrangeiros. Já em1988, a escola francesa fundou, emparceria com a espanhola Esade, aitaliana Bocconi e a Universidadede Colónia, da Alemanha, a rede

CEMS, na qual se inclui actualmen-te, também, a Universidade Novade Lisboa.

Os perfis de alunos preferidospela escola de negócios francesa va-riam de curso para curso. No 'Masterof Science Finance', por exemplo, aHEC Paris procura alunos com me-nos de 27 anos, fluentes em inglês,com uma licenciatura ou mestradonuma instituição de ensino superiorfora de França e com experiênciaprática em áreas como finanças em-presariais ou estatística. Os candi-datos têm de aparecer munidos tam-bém com duas cartas de recomenda-

ção dos seus antigos professores, fa-

zer o 'Test of English as a ForeignLanguage' (TOEFL) e preencheruma inscrição 'online', que inclui o

pagamento de uma taxa de inscriçãode 100 euros. As propinas anuaischegam aos 24.600 euros.

Já no 'Master of Science Interna-tional Business', as característicasrequeridas são essencialmente se-melhantes, com a diferença de quenão é requerida qualquer experiên-cia profissional. A necessidade de

passar o TOEFL e a taxa de inscriçãode 100 euros mantêm-se, mas as

propinas para este curso são maisbaratas, ficando-se pelos 22.500 eu-ros. Para qualquer dos cursos dispo-nibilizados pela HEC Paris, os cus-tos de vida são estimados em cercade 1.000 euros por mês, nos quais se

incluem gastos com alojamento e

alimentação, seguro de saúde e des-

pesas com comunicações e Internet.Pedro Quedas

JOUY-EN JOSAS, FRANÇA

Nos subúrbios de Paris, podemosencontrar Jouy-en-Josas, bem no centrodo vale do rio Bièvre. Trata-se de umacomunidade pequena, com pouco menosde oito mil habitantes e com mais demetade da sua área total ocupada poruma zona florestal. Com uma forte tradiçãocatólica, o seu marco histórico maisreconhecido é a Igreja de St. Martin.

4 "ODos milhares de candidatos que tentamentrar todos os anos na HEC Paris, apenas4% conseguem ser seleccionados.

24.600Valor da propina anual do 'Master ofScience Finance', um dos graus dados pelaescola francesa. Já o 'Master of ScienceInternational Business' custa 22.500 euros.

1600 candidatosa mestrado em AveiroMedicina

A Universidade de Aveiro(UA) recebeu 1636 candidaturasàs 40 vagas disponíveis do novomestrado em Medicina, que ar-ranca em Setembro. O reitor daUA, Manuel Assunção, reconhe-ce que o resultado superou as ex-pectativas. "Temos a certeza de

que vamos ter 40 estudantes deMedicina muito bons, com o rigordo processo de selecção", disse,em declarações à Lusa.

Apesar da elevada procura,Manuel Assunção considerou

"absolutamente prematuro" pen-sar num aumento do número de

vagas para o próximo ano, porque,nesta fase, a UA está concentradaem "dar a melhor formação pos-sível a estas pessoas".

Esta formação, de quatro anos,realiza-se em articulação com oInstituto de Ciências BiomédicasAbel Salazar da Universidade dePorto. Visa "formar clínicos que es-

tejam à altura dos novos desafioscolocados aos sistemas de saúde,nomeadamente o envelhecimentoacentuado da população, a pluri-patologia e a incapacidade". ¦

Artista polaco venceXIII Porto Cartoon0 polaco Zygmunt Zaradikiewicz foi o

vencedor do Grande Prémio do XIII Por-

toCartoon-World Festival, subordina-do ao tema "Comunicação e tecnolo-

gias". Foi a edição mais participada de

sempre, em que concorreram 2200obras de 615 artistas de 80 países.

O segundo prémio foi atribuí-do ao caricaturista francês Plantu(do jornal francês "Le Monde") e

o terceiro - uma escultura embronze denominada "Homem Di-gital" - foi conquistado pelo artis-ta português Fernando Saraiva.

O júri decidiu ainda atribuir 19

menções honrosas a artistas de

países como a Bélgica, Brasil, Es-

panha, Finlândia, França, Holan-da, Irão, México, Polónia, Portu-gal, Roménia, Rússia e Turquia. Aescultura em bronze de Agosti-nho Santos "Plataforma da inquie-tação" e o cartoon de AntónioSantos (Santiagu) sobre Gandi fo-ram distinguidos com mençõeshonrosas, as únicas atribuídas aautores portugueses.

Segundo Luís Humberto Mar-cos, director do Museu Nacionalde Imprensa, no Porto, responsá-vel pelo certame, esta foi "a maiorparticipação de sempre, batendoem todos os indicadores o VI Por-toCartoon (2004), que teve comotema o desporto".

Nesta edição, o Irão foi o paíscom mais participantes, tendo con-corrido 70 criadores, que apresen-taram 258 trabalhos. Seguiu-se o

Brasil, a Turquia, a Roménia e Por-tugal, que concorreram com 30 ar-

tistas e cerca de 100 obras. ParaLuís Humberto Marcos, a adesão

significativa de caricaturistas detodo o Mundo "vem demonstrarde forma evidente que o humornão está em crise. O Porto Cartooné o rosto dessa grande riqueza queé o humor".

O júri foi presidido por GeorgesWolinski (França) e integrou aindaPeter Nieuwendijk, presidente-ge-ral da Feco (Holanda); Xaquín Ma-rín, fundador do Museo de Humorde Fene (Espanha); Luís Mendon-ça, da Faculdade de Belas Artes do

Porto, e Luís Humberto Marcos, di-rector do PortoCartoon e do Mu-seu Nacional da Imprensa.

Os vencedores do XIII Porto-Cartoon receberão os trofeus e os

prémios durante a cerimónia de

abertura da exposição, que decor-rerá nas instalações do MuseuNacional da Imprensa, em Junho,aquando das Festas do S. João.

Sublinhe-se que várias cente-nas de milhares de pessoas já vi-sitaram as 12 edições do Porto-Cartoon, realizadas nas instala-ções do Museu Nacional da Im-prensa e em países por onde pas-saram as mostras, incluindo Ar-gentina, Brasil, França, Espanha eMéxico. ¦

Maior participação

de sempre "demonstra

que humor

não está em crise'

Cartoon de Zaradikiewicz contribui para a reflexão sobre a tecnologia e o isolamento

Cortiça transformada em carvão activado¦ A Universidade de Évora foi pio-neira na transformação de cortiçaem carvão activado e pretende ago -ra criar um novo produto, superiorao comercial.

O objectivo é, segundo PauloMourão , conseguir desenvolver umcarvão activado com um "desem-

penho diferente do clássico ".

Este material, que é conseguidoatravés de processos químicos e fí-sicos, tem várias aplicações diárias.É usado como forma de combater

odores, como nas palmilhas dos sa- -0 investigador Paulo Mourão

patos, e em vários tipos de filtros,como o do frigorífico.

Além disso, é também utilizadono tratamento de águas residuais

ou potáveis e zonas poluídas.O consumo do carvão activado a

nível mundial "chegahoje às mega-toneladas" mas, segundo Paulo

Morão, os custos de produção "nãoseriam viáveis" em Portugal. Paulo

Mourão admitiu que , apesar das di -

ficuldades, lhe parece possível criarmateriais com "características aci-madas normais" ¦ lusa

Da cortinaao carvãoactivado

o Universidade de Évora é pioneira° Agora a ambição é inovar

A Universidade de Évora

(UEvora) foi pioneira natransformação de desperdí-cios de cortiça em carvãoactivado e quer agora criarum produto específico, su-

perior ao comercial, capazde interessar o mercado.

"O mercado está cheiode materiais nesta áreae a grande vantagem" paraatrair a indústria "seráencontrar um material quese distinga dos outros",disse à agência Lusa PauloMourão, daUÉvora.

O investigador do Cen-tro Químico da UÉvora

quer criar carvão activadoa partir de cortiça com "umdesempenho diferente doclássico em relação a deter-minado poluente ou molé-cula. Aí, abre-se um nichode mercado e é nisso que

trabalhamos", diz.As aplicações do carvão

activado são cada vez maisvariadas. "As mais conheci-das", realçou, são nos tra-tamentos das águas resi-duais ou potáveis, gases,zonas poluídas e tambémem células de combustíveldas pilhas de armazena-mento de energia dos car-ros de nova geração.

Mas está também emaplicações "mais básicas",nomeadamente para"combater" odores, comonas palmilhas dos sapatose em vários tipos de filtros,do frigorífico ao exaustorou ao ar condicionado.

«^ nos deAwexperiênciado Centro de Químicada Universidadede Évora na área

do carvão activado

ISLÃ é comprado pela Laureate e entra numadas maiores redes universitárias do mundo

João d'Espiney

Grupo norte-americano nãorevela valor do negócio, mas

garante que poderá vir a

adquirir outras instituições"se surgirem novas

oportunidades"

• O ISLA - Instituto Superior de Lín-

guas e Administração, a mais antigainstituição de ensino superior privadoem Portugal, acaba de ser compradapelo grupo norte-americano Laure-ate International Universities, umadas maiores redes universitárias domundo. Em declarações ao PÚBLICO,Nelson Santos de Brito, o responsávelda Laureate em Portugal, não quis re-velar o valor do negócio, mas explicou

que este investimento surge depois deo grupo "ter concluído que o mercadonacional deveria ser uma aposta". E

porquê o ISLA? "Porque é uma escolacom 49 anos, com prestígio, e achá-mos que era uma excelente oportuni-dade para adoptar o nosso modelo deensino universitário em Portugal".

Questionado sobre se o grupo pre-tende vir a adquirir no futuro outrasinstituições portuguesas, NelsonSantos de Brito não escondeu quetal poderá acontecer "se surgiremnovas oportunidades", mas, "numaprimeira fase, o objectivo é consoli-dar esta operação". Uma coisa é certa:"A Laureate veio para ficar bastantesanos em Portugal", garantiu.

E o que vai mudar na instituição com2630 alunos e um quadro de pessoalde cerca de 400 pessoas? "De imedia-to, vamos consolidar o que temos. Mas

acima de tudo vamos adoptar as me-lhores práticas que temos ao mercadonacional, nomeadamente ao nível de

programas inovadores e da emprega-bilidade dos estudantes". Graças ao"facto de a rede ser constituída por57 universidades em todo o mundo,podemos oferecer uma mobilidade in-ternacional aos estudantes e professo-res", acrescentou, salientando que,"a médio prazo, poderemos oferecerlicenciaturas e mestrados com duploreconhecimento". A rede da Laurea-te - cujo presidente honorário é o cx-Presidente Bill Clinton - abrange 27 pa-

íses, em cujas universidades existemmais de 600 mil estudantes e integrammais de 130 bacharelatos, licenciaturase programas de mestrado e doutora-mento em áreas como a Arquitectura,Gestão, Design, Engenharia, Ciênciasda Saúde. Medicina e Direito.

Clinton preside à Laureate