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  • 7/25/2019 O modelo de ateno integral sade para tratamento de problemas decorrentes do uso de lcool e outras drogas:

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    O modelo de ateno integral sade para tratamentode problemas decorrentes do uso de lcool e outras drogas:

    percepes de usurios, acompanhantes e profissionais*

    Integral healthcare model for treating problems caused by alcoholand other drugs: perceptions of users, their companionsand practitioners

    Maristela Moraes 1

    *Estudo realizado paraobteno do grau de Mestreem Sade Coletiva, peloCentro de Pesquisas AggeuMagalhes/Ncleo deEstudos em Sade Coleti va(NESC)/Fiocruz, comorientao de Mari a Ali ceBranco (ENSP).1Insti tuto PAPAI. Rua

    Mardnio Nascimento 119,Vrzea. 50741-380 RecifePE. [email protected]

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    TEMAS

    LIVRES

    FREETHEMES

    Abstract Based on an i ntegral healthcare modelfor the users of alcohol and other drugs, the ex-pansion of Brazi ls Psycho-Social Care Centers

    Alcohol and Drugs (CAPS-AD) is guided by theacknowledgement of users as cit izens rather thanpatients, aiming at social reinsert ion t hrough anintersectoral approach and damage control, as wellas other principles designed to buil d up integralhealthcare services that are fai r and egali tari an.This paper examines alcohol and drug users, theircompanions and healthcare practi ti oners in termsof the existing healthcare model, through a studyconducted at two Psycho-Social Care Centers Alcohol and Drugs in Recife, Pernambuco State.Focus groups, participative observat ion and doc-

    umentary surveys were used to analyze the dailywork routines at these Centers, explori ng playerpercepti ons and therapeuti c projects. The fi nd-ings indi cate that users are still perceived as beingil l, wi th medicalizati on and other tr aces of caremodels not used since the Psychiat r ic Reform.Social reinserti on was perceived as the main ob-stacle in integral healthcare. Restr uctur ing thispract ice seems necessary, in order to break awayfrom a culture of prejudice, exclusion and i ll ness,as well as cont rol models based on hospital-cen-tr ic psychiatr y.Key words Healthcare, Drugs, Humanization,

    Integral care

    Resumo No Brasil , a expanso dos CAPS-AD,baseada em um modelo de ateno integral sa-de de usurios de lcool e outras drogas, preconi-

    za a passagem da idia de doentes para a de cida-dos; r einsero social e int ersetorialidade dasaes; adoo da reduo de danos e outros pr in-cpios para ateno i ntegral justa e equnime;entretanto, a literatura aponta para manuten-o da lgica de controle que surge com o sabermdico do sculo XVIII . O objeti vo desse trabalhofoi investigar a percepo de usurios, acompa-nhantes e profi ssionais, acerca do modelo de aten-o sade de usurios de drogas. O estudo foirealizado em CAPS-AD de Recife (PE), com gru-pos focais, observao par ticipante e pesquisa do-cumental, para presenciar o cotidiano das uni -dades, aproximar-se das percepes dos atores so-bre o modelo e conhecer os projetos teraput icosut ili zados. Os resul tados apontam que ainda hapercepo dos usurios como doentes, a medicali-zao e outros resqucios de modelos de atenoem desuso a parti r da reforma psiquitrica. Areinsero social foi percebida como o maior obs-tculo para ateno i ntegral sade. necessriauma reori entao da prtica, buscando rompercom a cultura do preconceito, da excluso e dadoena, e com modelos cont roladores baseados napsiquiatr ia hospitalocntri ca.

    Palavras-chaveAteno sade, Drogas, Hu-manizao, Integralidade

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    Moraes,M.

    Introduo

    O uso de substncias psicoativas est presente emtoda a histr ia da humanidade, em diferentes cul-turas, e certamente os vrios registros desse usono podem deixar de ser citados pelos trabalhosque tm como objeto o uso de drogas ou contex-tos relacionados a essa prtica. Ainda que apon-tem para um consumo diferenciado do atual,marcam a relao existente entre os seres huma-nos e a busca por diversos tipos de substncias,em diferentes contextos, com objetivos e motiva-es diversas, como remdio e como veneno, deforma divina ou demonizada, correspondendo auma prtica humana milenar e universal1.

    Os estudos antropolgicos apontam que,dentre as drogas consumidas pela humanidade,o lcool uma das mais antigas, uma das maisutilizadas e com diferentes fins, de anestsico anarctico. Sendo uma substncia produzida apartir de elementos disponveis na natureza(gua, acar, fermentos e calor), talvez a origemdo lcool tenha ocorrido espontaneamente, du-rante a pr-histria humana. Com o posteriordesenvolvimento de tcnicas agrrias e de utens-lios de cermica, provvel que o armazenamen-to, fermentao e comercializao tenham sido

    facili tados, contribuindo para uma produo sis-temtica posterior2.Um outro exemplo de substncia psicoativa,

    que tem suas origens datadas dos tempos doneol ti co, originada de uma das primeiras plan-tas utilizadas em larga escala, acannabis, mat-ria-prima da maconha. H registros de seu usono Antigo Oriente, na China e na ndia, estandona base de remotas formas religiosas e diversosusos medicamentosos3.

    evidente tambm que a histria do uso desubstncias, em vrios momentos, se confundecom a histria da cura, dos curandeiros, dos al-quimistas, das bruxas, dos xams e da medicina4.

    A tradio de uso de plantas mgicas est naorigem de vrios mitos de criao do universo,cultos religiosos, rituais de cura ou processos deautoconhecimento, de vrias culturas orientais eocidentais. Menezes Filho5, citando Schultes &Horfmanna6, apresenta alguns exemplos dessasplantas, como o alucingeno datura, associadoao culto ao deus indiano Shiva Nataraja; as alu-cingenas do Mxico, Colmbia, Guatemala ePeru; aayahuascanas seitas Unio Vegetal e San-to Daime, na bacia Amaznica e no Brasil; alm

    do cip banisteriopsis e outras plantas utilizadaspelo xamanismo. Tambm se faz referncia len-dria rvore do Conhecimento, que segundo al-

    guns autores, existiu na frica e provavelmenteesteve envolvida no surgimento da conscinciados nossos ancestrais7.

    Cabem aqui algumas observaes sobre ri tu-ais, tendo em vista que em qualquer tempo e lu-gar, a vida social marcada por essas manifesta-es, consti tuindo um sistema cultural de comu-nicao simblica8, de grande utilidade para tra-tar de questes dos primrdios do uso de drogas.

    Dentre os tipos de rituais, merecem destaqueos tabus, ou ri tos de evitao, que tm como prin-cipal finalidade limitar o contato entre o sagradoe o profano. Os rituais expiatrios, complemen-tares aos de evitao, provocam os sentimentosde angstia causados pela culpa8e tm papel fun-

    damental na compreenso das relaes que seestabelecem com as drogas na atualidade.

    possvel considerar que, atualmente, o te-mor da sociedade em relao ao uso de drogasexpressa o perigo representado pelo que h detransgressor em tal ato 9, provvel punioassociada violao do tabu, caracterizado prin-cipalmente pela no existncia de mediao entrea transgresso e a punio.

    Entendemos o tabu em relao ao uso de drogasno apenas por seu carter sagrado original, com-portando um ri tual para seu uso e se inseri ndo

    num contexto de iniciao, mas tambm pelo seucarter atual de impureza, pela violao constantea sua proibio9.

    Observa-se um paralelo entre a violao dotabu, expressa pelo uso de drogas para busca deprazer, e o carter de expiao recebido pelo usu-rio, principalmente ao tornar o uso compulsi-vo, fazendo a pessoa sentir-se castigada pela pr-pria droga, como uma forma clara de vinganapela violao do tabu9.

    Na atualidade, no centro das principais con-tradies relacionadas questo do uso de dro-gas, est o comrcio dessas mercadorias, num

    contexto capitalista em que mercadoria torna-sefetiche. no processo de transformao do feti-che droga i legal, no fetiche dinheiro que entramem jogo relaes de produo e reproduo deriqueza, poder e simbologia10.

    J em relao ao campo da sade, qualquerpanorama geral sobre o quadro do uso de dro-gas na sociedade brasileira fica bastante prejudi-cado, no s pela defasagem dos instrumentosde coleta de informaes, como tambm, entreoutros fatores, pelo aspecto i lcito e marginaliza-do do uso de algumas substncias.

    At os anos 80, o Brasil no dispunha de da-dos epidemiolgicos consistentes, e s a partir de1986 desenvolveu-se uma nova gerao de investi-

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    gaes capazes de oferecer o mnimo de informa-es para diagnstico confivel desta realidade1.

    A partir de 1987, vrios estudos passam a serrealizados pelo Centro Brasileiro de Informaessobre Drogas Psicotrpicas (CEBRID), do De-partamento de Psicobiologia da UniversidadeFederal de So Paulo11. Os estudos sobre lcool,a droga mais consumida no pas e que acarretaos maiores problemas decorrentes do uso inde-vido, apontam ndices elevados de abuso entre apopulao11.

    Em relao ao tratamento, um estudo reali-zado de 1987 a 1993 revela que o lcool respon-svel por 90% das internaes por dependncia epsicoses por drogas, sendo a maioria dos inter-

    nados na faixa etria entre 31 e 45 anos, com pre-domnio do sexo masculino (proporo de 15:1),estando o uso de cocana em segundo lugar12.

    Dados mais atuais sobre morbidade hospi-talar no SUS apontam que os gastos pblicoscom internaes decorrentes de transtornos men-tais e comportamentais devido ao uso de lcool,de janeiro a novembro de 2003, foram de R$55.565.960, correspondendo a 83% dos gastostotais nesta categoria, enquanto os decorrentesde transtornos associados ao uso de outras subs-tncias, neste mesmo perodo, foram de R$

    11.651.624, 17% do total13

    .Entretanto, o saber produzido a partir destesestudos marcado por profundas incertezas1,alimentadas pela insuficincia desses dados parauma avaliao global da situao no pas e paradefinio de polticas abrangentes e efetivas.

    Reproduzindo os aspectos contraditr ios quemarcam o contexto do uso de drogas na atuali-dade, tanto a sociedade quanto o governo doBrasil tradicionalmente deram prioridade re-presso na abordagem dessa questo, em detri-mento de aes preventivas abrangentes1.

    A opo brasileira pela abordagem repressiva

    e proibicionista nasce de um modelo americanoque se espalha rapidamente por todo o mundo14.

    Atualmente, as polticas relacionadas ao usode drogas so de responsabilidade da SecretariaNacional Antidrogas (SENAD), criada em 1998 esubordinada ao Gabinete de Segurana Institucio-nal da Presidncia da Repblica. A SENAD coor-dena o nvel estratgico de atividades de restr ioda oferta de substncias que causem dependnciafsica ou psquica, e de reduo de demanda, en-tendida como preveno ao uso indevido, almde aspectos da recuperao de dependentes15.

    Quanto ao uso de drogas lcitas, principal-mente o lcool, at pouco tempo o Brasil nodispunha de uma poltica pblica especfica ou

    que contemplasse essa problemtica. O novogoverno brasileiro recentemente divulgou umdocumento intitulado A poltica do Ministrioda Sade para a Ateno Integral a usurios delcool e outras Drogas 16, que, segundo algunsautores, apenas inicia a discusso sobre a im-plantao de servios de ateno sade17.

    A poltica pblica da reduo de danos, indi-cada nesse e em outros documentos oficiais dopas e em documentos internacionais, citadanos documentos brasileiros com maior desta-que que em anos anteriores. Esta abordagemope-se viso tradicional de reduo da ofertae est construda sobre dois argumentos: 1) impossvel uma sociedade completamente sem

    drogas; 2) a guerra s drogas contraria os princ-pios ticos e direitos civis das pessoas, ferindo odireito liberdade do uso do corpo e da mente18.

    Alm disso, a abordagem da reduo de da-nos pe em ao estratgias de autocuidado im-prescindveis para diminuio da vulnerabilidadefrente exposio s situaes de risco, alm deser apontada como forma privilegiada de inter-veno em sade pblica. No entanto, a implan-tao de programas e aes pautadas nessa abor-dagem ainda alvo de crticas e censuras, gerandopolmicas e contradies de vrias ordens.

    Em termos de Classificao Internacional dasDoenas, a dependncia de substncias passa aser considerada em 1893. Em 1969, feita a pri-meira reviso desse termo, sendo introduzida anoo de farmacodependncia, e depois revisadae ampliada novamente em 1975.

    Classificada como doena mental, principal-mente por conta das contribuies da psiquia-tria e da psicanlise, a toxicomania passa a seralvo das mesmas intervenes que marcam oprocesso de reforma psiquitrica no Brasil, quevisa implantar um novo paradigma de ateno sade mental, que orienta at hoje a prtica nos

    Centros de Ateno Psicossocial (CAPS).Essa histria da doena mental marcada

    por diversas questes importantes. Nos mesmoslocais onde os leprosos eram confinados, os jo-gos de excluso sero retomados, agora sobreos pobres, vagabundos, presidirios e alienados.Especialmente a loucura, que tinha conquistadoum lugar na hierarquia dos vcios da Idade M-dia, passa a ser alvo da cincia de forma contun-dente. Inmeras eram as expl icaes e caracteri-zaes dos insanos: avaros, delatores, bbados,adlteros, intrpretes equivocados das Escritu-

    ras Sagradas, feiticeiros, alquimistas e tantosoutros entregues desordem e devassido queapresentavam desvios de conduta19.

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    Respaldados na idia de que o trabalho dig-ni fi ca os humanos, no s os vagabundos e men-digos eram alvo de excluso, mas havia uma pro-liferao signifi cativa das casas de correo ou detrabalho, principalmente na Inglaterra do sculoXVI. Com a Renascena, pobreza passa a desig-nar castigo e a existncia de pobres era sinal damaldio do Senhor, um mal a ser banido dasociedade19. Na Frana, no mesmo sculo, apa-rece a exigncia de criao dos hospcios para osmiserveis encontrarem a vida, a roupa, umaprofisso e castigo 19.

    Como resqucios dessa compreenso de tra-balho, obviamente relacionada discipl ina da eraindustrial, composta por uma srie de tcnicas

    orientadas para a dominao20, vrias institui-es utilizam o trabalho assistido como tcnicateraputica.

    Provavelmente como aparato para todas asintervenes ditas teraputicas, numa instituiopsiquitr ica existe uma explicao cient fica paracada ato, uma confirmao da inferioridade dodiferente, reduzindo o confl ito entre o excludentee o excludo21.

    Nesse contexto, uma reflexo sobre a ao se-dativa dos medicamentos torna-se fundamental.Para Basaglia21, o efeito dos medicamentos utili-

    zados pela psiquiatria fixa o doente no seu papelpassivo de doente. Segundo o autor, a admi-nistrao de medicamentos configura-se tambmcomo uma forma de violncia e de opresso rela-cionada aos hospitais tradicionais, tendo em vistaque coloca o paciente numa posio passiva dian-te do poder mdico que prescreve o que algumdeve tomar, dentro de uma estrutura institucionalcuja autoridade mdica no admite contestao.

    Mas, at mesmo as expectativas quanto aotratamento esto fortemente influenciadas pelarelao que as pessoas estabelecem com a sadee a doena, marcadas, entre outros fatores, pelas

    classes sociais em que esto inseridas. Entre ascamadas altas e mdias, a noo de sade estrelacionada de bem-estar, enquanto que paraas camadas populares, a idia de sade est liga-da capacidade de trabalhar22.

    Sob o rtulo de neurose ou outra categoriaigualmente imprecisa, escondem-se problemassociais diversos, uma questo complexa que exi-gia da assistncia psiquitrica brasileira a renn-cia do papel que a histr ia lhe coube, a saber, o derecolher e excluir os dejetos humanos da socieda-de21, de forma semelhante a outros pases do

    mundo.Do ponto de vista do modelo de ateno, en-tre vrios autores parece consenso a existncia de

    quatro diferentes modelos, distintos entre si epossuidores de pontos posit ivos e lacunas. Re-correndo a Bucher, identificam-se os seguintes:o modelo sanitarista, o jurdico-moral, o socio-cultural e o psicossocial.

    Seja qual for o modelo de ateno que orienteas aes em sade, a literatura mostra que o trata-mento deve fundamentar-se em aspectos biol-gicos, psquicos e sociais, sendo capaz de respon-der s particularidades do indivduo, do grupo,do tipo de droga e do ambiente sociofamiliar 23.

    A maior parte dos servios de tratamento paraproblemas decorrentes do uso de drogas no Brasilpertence rede pblica de sade, regida pelosprincpios do Sistema nico de Sade SUS e

    pelo modelo oficial de ateno aos usurios delcool e outras drogas.

    Com diversas origens e pautados em dife-rentes concepes de ateno sade, a rede deatendimento a dependentes qumicos no pas estdistribuda entre unidades bsicas de sade, hos-pitais gerais, servios ambulatoriais, unidadesespecializadas, clnicas especializadas e comuni-dades teraputicas23.

    O Programa de Ateno Integral a Usuriosde lcool e Outras Drogas, no mbito do SUS,define como principais componentes da assis-

    tncia: a ateno bsica; a ateno nos CAPS-AD,ambulatrios e outras unidades hospitalares es-pecializadas; a ateno hospitalar de referncia ea rede de suporte social (associaes de ajudamtua e entidades da sociedade civil), comple-mentar rede de servios colocados disposiopelo SUS24.

    Situada no contexto da reforma psiquitrica,a ateno psicossocial tem como proposta com-preender a determinao psquica e socioculturaldo processo sade-doena. Considera os confli-tos e contradies consti tutivas dos sujeitos e in-tervm na organizao das relaes intra-insti tu-

    cionais, horizontalizando as aes e valorizandoa equipe multidiscipl inar. Trabalha para a des-construo da idia de insti tuio como clausura,permitindo uma relao exterior. Tem tambmcomo princpio a execuo de aes ticas e tera-puticas baseadas na recuperao dos direitos decidadania e do poder de contratualidade social25.

    Para tanto, algumas exigncias so impostas:desospitalizao, desmedicalizao, clnica ampli-ada e transdisciplinar, horizontalizao das rela-es intra-insti tucionais, interlocuo entre lou-cos e sos, trnsito livre nas unidades de sade,

    atendimento integral e terr itoriali zado, desisti tu-cionalizao do paradigma psiquitrico e substi-tuio pelo psicossocial25.

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    Esse modelo est na base de funcionamentodos Centros e Ncleos de Ateno Psicossocial(CAPS e NAPS), servios de ateno psicossocialimplantados maciamente no Brasil, paralela-mente diminuio significativa de leitos e hos-pitais psiquitricos26.

    A implantao dos chamados CAPS-AD, es-pecf icos para tratamento dos problemas decor-rentes do uso de lcool e outras drogas, tem sidoa prioridade da atual poltica de ateno integralaos usurios de lcool e outras drogas, do pontode vista do tratamento16.

    Alm da regulamentao dos CAPS-AD, oMinistrio da Sade tambm insti tuiu, no mbi-to do SUS, o Programa Nacional de Ateno

    Comunitria Integrada aos Usurios de lcool eOutras Drogas, a partir da Portaria GM/816 de30 de abril de 2002, com nfase na reabilitao ereinsero social dos usurios de lcool e outrasdrogas e na criao de uma rede de assistnciacentrada na ateno comunitria associada redede servios de sade e sociais 16, integrada ao meiocultural e adequada aos princpios da ReformaPsiquitrica16.

    importante destacar que a referida Portariabaseia-se, entre outros documentos, na PolticaNacional de Humanizao HumanizaSUS, ao

    recomendar a ampliao da ateno integral sade, promovendo a intersetorialidade. A cria-o de uma Poltica Nacional de Humanizaoda Ateno e Gesto no Sistema nico de Sadesurgiu a partir da necessidade de mudanas nomodelo de ateno sade. Tem como pressu-postos a valorizao dos diferentes sujeitos im-plicados no processo de produo da sade(usurios, profissionais egestores)24.

    Em suma, no atual contexto da ateno sa-de para tratamento de problemas decorrentes douso de lcool e outras drogas, marcado pela psi-quiatria clssica e pelas formas alternativas de

    conceber e intervir nesse campo, o avanos daspolti cas pbl icas e a preconizao de um mode-lo de ateno integral sade de usurios de dro-gas precisam ser compreendidos a partir de suaexpresso na prtica cotidiana das unidades.

    Sendo assim, o presente estudo est inseridonum contexto de investigao da Sade Coletiva,cuja singularidade est no fato de abordar aspercepes de diferentes atores sociais, sobre omodelo de ateno sade que orienta a prtica,possibilitando a escuta de personagens impor-tantes nesse cenrio, geralmente ignorados em

    vrios estudos.

    Objetivos

    O objetivo geral desse estudo foi analisar as per-cepes de profissionais, usurios e acompanhan-tes acerca do modelo de ateno sade que ori -enta os servios de tratamento para usurios dedrogas em Recife (PE).

    Os objetivos especficos foram: identificarconcordncias e contradies entre profissionais,usurios e acompanhantes acerca do modelo deateno sade de usurios de drogas; analisaras repercusses das percepes sobre a estrutu-rao/prtica dos servios.

    Metodologia

    O estudo est embasado nos campos das cinci-as humanas e da sade, utilizando a abordagemda produo de sentido e prticas discursivascomo referencial terico-metodolgico.

    As prticas discursivas so as formas de cons-truo de sentido acerca da vida e de posiciona-mento em relaes sociais do cotidiano. Dessaforma, uma conversa, um texto ou um filme soexemplos de prticas discursivas27.

    Nesse contexto, os repertr ios so conjuntos

    de termos, figuras de linguagem, descries e de-mais construes discursivas que so apreendi-dos e construdos. possvel identificar repert-rios em textos, em conversas e em outras situa-es cotidianas27.

    O estudo foi realizado em dois CAPS-AD lo-calizados em Recife. Foram utilizadas as tcnicasde grupos focais, observao participante e pes-quisa documental, para presenciar o cotidianodas unidades de sade, aproximar-se das per-cepes dos atores sobre o modelo e conhecer osprojetos teraputicos das unidades.

    Participaram dos grupos focais 36 pessoas,

    entre usurios, acompanhantes e profissionaisde diferentes reas e setores.

    Foram considerados como critrios para in-cluso na amostra os usurios que estavam emtratamento na unidade h, no mnimo, dois me-ses e que tinham procurado o servio por vonta-de prpria ou em acordo com parentes ou fami-liares; os acompanhantes de usurios que j ti-nham sido atendidos ou estavam em atendimen-to; profissionais que trabalhavam nas unidadesh, pelo menos, um ano, como psicoterapeuta,clnico, arte-educador, gestor ou em atividade

    administrativa.Para anlise foram criadas categorias a partirdo documento A pol ti ca do Ministrio da Sa-

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    Categorias/subcategorias

    1. Acolhimento

    1.1 recepo1.2 encaminhamento1.3 rotina1.4 vnculo com os usurios1.5 vnculo com os profissionais1.6 vnculo com familiares1.7 vnculo geral com a unidade

    2. Intersetorialidade

    2.1 articulao entre a rede de ateno em sade2.2 articulao com outros setores

    3. Diminuio do preconceito3.1 em relao ao tratamento3.2 em relao ao usurio

    4. Mudana de percepo sobre usurios

    5. Reintegrao social

    6. Cuidados aos familiares

    7. Objetivo do tratamento

    7.1 resolutividade7.2 projetos teraputicos7.3 insero dos profissionais

    7.4 insero da clientela7.5 insero dos familiares7.6 alta

    Repertrios produzidos

    Usur ios Prof issionais Acompanhantes

    de para a Ateno Integral Sade de Usuriosde lcool e Outras Drogas 16, de 2003, que apre-senta as linhas gerais do modelo de ateno sade de usurios de drogas.

    As categorias criadas foram as seguintes:1) acolhimento: aes cotidianas na chegada

    unidade de sade, bem como encaminhamen-tos e estabelecimento de vnculos; 2) intersetori-alidade: aes capilarizadas, articuladas com asociedade civil e a comunidade; 3) diminuiodo preconceito: aes que visem diminuiodo preconceito relacionado ao uso de lcool eoutras drogas; 4) mudana de percepo sobreos usurios: percepes sobre a necessidade depassagem da concepo do usurio de drogas

    como doente para cidado, merecedor de direi-tos; 5) reintegrao social: aes de reinserosocial, utilizando recursos intersetoriais comoesporte cultura e lazer; 6) cuidados aos familia-res: ateno prestada aos familiares e outrosacompanhantes de usurios em atendimento ouno; 7) objetivo do tratamento: projetos tera-puticos, finalidades do tratamento, expectati-vas sobre altas.

    Sobre procedimentos de anlise

    Para anlise, foram criados dois quadros derepertrios produzidos pelos atores sociais, umpara cada unidade de sade. Nos quadros, estocontidas colunas para os repertrios produzi-dos pelos atores, alm de uma coluna com todasas categorias e subcategorias utilizadas, confor-me ilustrado no quadro abaixo.

    Para preenchimento dos quadros foram sele-cionados aspectos contidos nas transcries dosgrupos focais e nas anotaes do dirio de camporealizadas durante a observao participante. Osquadros contm um vasto material bruto utiliza-do para o estudo, sendo possvel encontrar al-

    guns fragmentos dessas falas ao longo do pre-sente art igo. O material coletado a part ir da an-lise documental foi inserido no corpo do texto.

    Os repertrios referentes a cada subcategoriade anlise esto devidamente numerados de acor-do com a coluna de categorias e subcategorias.

    A anlise foi feita a partir dos quadros e domaterial de anlise documental, apresentada se-parada pelas categorias de anlise.

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    Resultados e discusso

    Em todas as categorias de anlise, pareceu haver apercepo sobre a importncia dos elementospresentes na poltica definida pelo Ministrio daSade, mas, ao mesmo tempo sobre a dificuldadede atender esses princpios na vivncia cotidiana.

    Em vrios momentos, os usurios falavamda gratido pela possibilidade de estar fazendo otratamento numa unidade to boa e gratuita,onde recebiam medicao sem precisar pagar.Esse aspecto remete falta de percepo da aten-o sade como um direito e, mais ainda, a nopercepo deles prprios como cidados, comopode ser ilustrado na fala abaixo, sobre o traba-

    lho de manuteno da unidade de sade, realiza-do por usurios:

    [ ...] temos que fazer mesmo, por aa fora trata-mento, remdio, quando tcustando? E ns temosisso aqui de graa. A gente tfazendo, mas tambmestamos recebendo, em dobro, n, e a situao porano tmui to boa. (homem adulto, 60 anos,negro, participante de grupo focal de usurios).

    As regras so percebidas como normais enecessrias pelos atores sociais de ambas as uni-dades, mas a cobrana pelo seu cumprimentopor vezes narrada por usurios como exage-

    radas ou rigorosas. Esse tipo de avaliao,entretanto, s foi comum entre usurios quepossuam uma maior crtica ateno recebida,minoria em ambos os servios.

    Na unidade de sade A, os usurios que esta-vam no intensivo ou semi-intensivo (perodointegral ou um turno do dia), di ferente dos usu-rios da unidade de sade B, enfatizaram vrioselementos do Termo de Compromisso que assi-nam ao serem admitidos. O Termo de Compro-misso da unidade de sade A, que traz informa-es sobre as regras gerais da unidade, comohorrio de entrada e de sada, faltas, alta admi-

    nistrativa ou por abandono e sobre as tarefas demanuteno da unidade, pareceu ser percebidocomo rigoroso, porm necessrio para que aspessoas levassem a srio o tratamento. Referi-ram perceber as regras como normais e as ativi-dades de manuteno da unidade como parte dotratamento, reproduzindo, em vrios momen-tos, o discurso dos profissionais.

    Entre os profissionais da unidade de sade A,parecia haver a percepo de que as atividades demanuteno da unidade, realizadas pelos usu-rios, ajudariam no desenvolvimento de aspectos

    tidos como importantes para a alta do tratamen-to, remetendo a uma explicao cientfica paracada ato, como destaca Basaglia21, na qual o usu-

    rio aceita a interpretao oficial acerca dos acon-tecimentos dentro das unidades, como uma for-ma de enquadrar-se no modelo de internadoperfeito, valorizado pelas equipes, reduzindo oconfli to entre o excludente e o excludo.

    A existncia de regras em instituies de aten-o sade mental est marcada historicamentepela necessidade de enquadramentos dos desvi-antes, dos que no seguem regras vigentes nasociedade e, em muitos casos, tem a funo decontrole ou punio. Se por outro lado, em todae qualquer instituio h a necessidade de regrase acordos que possibilitem a convivncia coleti-va, em se tratando de instituies que tm a mar-ca da funo de controle e ajustamento social,

    necessrio estar atento s concepes de sujeitoque possam estar embutidas em instituies atu-ais, porm marcadas por essa histria.

    Ainda que feitas essas consideraes, im-portante deixar claro que a maioria dos atoressociais participantes do estudo no percebe ocontrole, a punio ou outros aspectos embuti-dos na anlise feita acima, mas evidente que,como parte do processo de construo da prti-ca da ateno em sade mental, esses elementosesto presentes de alguma forma.

    Os profissionais demonstram estar atentos

    necessidade de humanizao da ateno, aindaque poucos paream conhecer os princpios queregem esse modelo de ateno, atualmente in-centivado dentro do SUS. Para alm daquele es-pao de trabalho, o relato dos usurios mostrano haver uma postura humanizada por partede alguns profissionais, indicando que os princ-pios da humanizao podem estar circunscritosapenas unidade de sade por serem uma dire-triz da ateno profissional.

    Foi possvel identificar a existncia de trsgrandes conjuntos de repertr ios lingsticos dosatores sociais, a saber, repertrios afetivos, tcni-

    cos e polticos, que auxi liam a compreenso dossentidos acerca da ateno sade. Os repertri-os afetivos, formados por expresses que apon-tam para relaes mais humanizadas, que inclu-em afeto, amor, ateno, escuta e aproximao,foram bastante acionados para falar de atenoque julgavam humanizada, sobretudo quandose abordavam questes sobre acolhimento.

    As percepes de usurios e acompanhantessobre o componente intersetorialidade forammais focadas na falta de aes ligadas ao esportee profissionalizao que, segundo eles, deveri-

    am ser oferecidas dentro da unidade, tendo emvista perceberem como necessrio o corpo e amente estarem ocupados, para afastar as dro-

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    Moraes,M.

    gas. Houve pouca referncia sobre a necessidadedo estabelecimento de parcerias com outros se-tores para contribuir na gerao de renda ou in-sero no mercado de trabalho, como preconi-zado pela Poltica de Ateno aos usurios de l-cool e outras drogas.

    J as categorias e subcategorias relacionadas diminuio do preconceito, mudana de per-cepo acerca do uso e do usurio de drogas e reinsero social desse grupo apareceram forte-mente associadas, no decorrer do trabalho decampo. Isso ocorreu por parte dos trs atoressociais, seja nos grupos focais, seja durante aobservao participante, levando opo de ana-li s-las em conjunto.

    Entre os usurios, foi dada grande nfase nasrepercusses que a excluso social tem em suasvidas. Para os usurios da unidade de sade A,serem percebidos como doentes, aparentemente,representa um avano no sentido de deixarem deser vistos como irresponsveis e vagabundos,concepes aparentemente consideradas predo-minantes na sociedade. J para os usurios daunidade de sade B, a questo no parece ser adificuldade de deixarem de ser vistos como do-entes, conforme preconizado pela reforma psi-quitrica e na polti ca de ateno aos usurios de

    drogas, mas de no serem vistos como margi-nais, como pode ser observado na fala a seguir:[ ...] pra mudar a sociedade, tem que mudar a

    cabea da sociedade, porque a unio da sociedadevai ser impossvel. Sempre tem preconceito comqualquer coisa, seja classe social, seja cor, seja que ocara drogado, seja [ ...] por t udo, sempre vai terpreconceito [ ...] . Hquantos anos tem o precon-ceito dos negros? Desde quando se deixou de terpreconceito com pobre? Todo dia o negro chama-do de drogado, pobre e marginal [ ...] . A sociedadetem o raciocnio pra trs, um pensamento i nferi-or, [ ...] no pensam que no preciso usar droga

    pra pessoa ter pensamento ruim [ ...] . (homemjovem, 18 anos, negro, participante de grupo fo-cal de usurios).

    Entre alguns profissionais, tanto da unidadede sade B como na A, tambm possvel verifi-car a compreenso de que a melhor forma dereintegrar-se sociedade deixando de usar dro-gas. Talvez a abstinncia seja a expresso mxi-ma de que algum se encontra em condies deajustamento e purificao, necessrios para se-rem aceitos socialmente. Mesmo assim, pareceque o carter de vigilncia sobre essas pessoas se

    manter permanente.Corrobora este aspecto a percepo, especial-mente presente entre os atores sociais da unidade

    de sade A, da doena provocada pelo uso dedrogas como algo incurvel, que pode estabili-zar-se, mas estar sempre presente. Ou seja, umavez alcool ista, sempre alcool ista, sempre uma pes-soa diferente, em quem no se pode confiar porestar sujeita permanentemente a recadas e crises.

    Talvez essas sejam expresses do que discu-tem alguns autores, como Tundis & Costa28, so-bre a funo de vigilncia assumida e delegada aalgumas instituies, e por que no sociedadecomo um todo, cujos saberes e prticas estonorteados pelos mecanismos de dominao eimposio da lei e da ordem, principalmente so-bre as camadas populares urbanas.

    Vale ressaltar que, entre os atores sociais da

    unidade de sade A, h a percepo do trabalhoda equipe estar voltado para a conscientizaosobre a doena junto aos usurios, aos acompa-nhantes e sociedade, para que possam aceit-los como doentes. Essa percepo parece reper-cutir consideravelmente na construo da auto-imagem de doentes entre os usurios.

    Essa autopercepo de doentes, reforadapelos profissionais e acompanhantes, tambmparece trazer ganhos para os usurios, como porexemplo, a falta de crtica com quem apresentarecada.

    A manuteno da idia de doentes configura-se como um obstculo ao avano para uma con-cepo de cidadania, conforme se espera de umaateno integral, justa e humanizada, aproximan-do-se mais do modelo psiquitrico tradicionaldo que da proposta atual.

    Tanto a noo de doentes como a de margi-nais so contrrias ao fortalecimento da organi-zao social dos prprios usurios, indicada nosdocumentos que orientam as aes de promo-o da sade de usurios de drogas, uma vez quecontribuem com a passividade e a excluso. Nopareceu ser compreendida pelos vrios atores

    sociais a importncia dessa organizao social,uma vez que no foram citadas nem percebidasaes nesse sentido.

    Alm do preconceito associado ao uso de dro-gas, a percepo da existncia de problemas soci-ais graves no cotidiano da maioria dos usuriosparece ter relao com a avaliao dos profissio-nais quanto s dificuldades na promoo da rein-sero social, que reconhecem como um dos pon-tos-chave da ateno aos usurios de drogas, emconsonncia com a poltica oficial. Atribuem es-ses problemas falta de perspectivas de ocupao

    profissional, em parte parecendo ser justificada,por exemplo, pela percepo dos usurios comoacomodados, observada na unidade de sade A.

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    Avaliam que a instituio deveria ser um lo-cal de passagem, mas que no tem sido porque,entre outros fatores, a rede intersetorial prec-ria e no se tem para onde encaminh-los. Aindaque haja essa compreenso, no h referncia auma articulao ou criao de uma rede comu-nitria, conforme indicado em documentos quediscutem as estratgias para reinsero social.

    Para os acompanhantes de usurios essasquestes tambm se colocam de forma clara:

    Se o indivduo sasse daqui em condies derealmente comear a ter um movimento na soci-edade e que esse prprio centro fosse capaz deencaminh-lo, porque pra e cada um que vpara sua casa e cada um que se vire. (homem

    adulto, negro, familiar de usurio, participantede grupo focal de acompanhantes).

    Curiosamente, nas trs categorias abordadasna anlise em questo, os repertrios polticosno foram empregados da forma enftica que sepoderia esperar a part ir da natureza das questescolocadas. Esses repertrios, quando trazidos,no estavam relacionados percepo dos usu-rios como cidados, necessidade de organiza-o social dos usurios, pautada na compreen-so de aspectos da reforma psiquitrica e a ou-tros avanos rumo a uma concepo do sujeito

    como biopsicossocial e poltico. Na maioria dasvezes, as referncias restringiram-se a aspectossobre o papel do governo e gesto da sadepblica.

    O aspecto do cuidado aos familiares foi umdos mais difceis de ser observado durante o es-tudo, tendo em vista a pouca referncia dos ato-res sociais a esse aspecto da ateno.

    Os profissionais percebem como indispen-sveis os cuidados aos familiares, mas avaliamcomo realizados aqum do que esperam e doque pensam ou sabem estar recomendado naspolticas de ateno aos usurios de drogas.

    interessante notar que, ainda que haja arecomendao dos cuidados aos familiares,como o foco do tratamento mantido no usu-rio, parece no se ter clareza da natureza dessaateno s famlias. Algumas vezes, a famlia vista pelos profissionais como um suporte, comoum apoio para o usurio em tratamento, en-quanto que elas prprias demonstram suas ex-pectativas de ser ouvidas, de compartilhar an-gstias, de ser o foco da ateno.

    Sobre os objetivos do tratamento, apesar deaparentemente semelhante para grande parte dos

    atores sociais, algumas contradies apareceramnos discursos, principalmente em torno da metada abstinncia, como pode ser observado abaixo:

    Part icipante A:[ ...] eu no posso negar que um dos cri trios

    para eu dar alta a absti nncia de drogas, comcerteza,n, que ningum precisa de droga pra vi-ver. E out ra coisa importante a melhora da qua-li dade de vida, [...] com sua vida fami liar, sua vidaprofi ssional, sua vida afeti va, amorosa [ ...]. (mu-lher adulta, parda, profissional participante degrupo focal)

    Participante B:[ ...] primeiramente o resgate da sua auto-

    estima e depois, que a droga se tornasse algo secun-drio na vi da dele, que tudo que secundrio vocpode dispensar a qualquer momento com facil ida-de [ ...]. (mulher adulta, parda, profissional par-

    ticipante de grupo focal)A abstinncia parece ser uma meta clara para

    todos os atores sociais na unidade de sade A,que aparentemente concordam com esse objeti-vo, embora as freqentes recadas talvez possamindicar o rigor de uma meta que parece inalcan-vel para a maioria dos usurios. Nesse caso, arecada pode ser interpretada como fraqueza, fra-casso, insistncia em um erro, por tanto, passvelde gerar vergonha e culpa.

    Era comum ouvir relatos de que, para o usocrnico do lcool, no h alternativas alm da

    abstinncia, principalmente devido aos agravos sade de pessoas que fazem uso de lcool hmuito tempo e incompatibil idade entre a medi-cao utilizada e a droga.

    J no projeto teraputico da unidade de sa-de A, a manuteno da abstinncia o item n-mero 1 do acompanhamento da efetividade dotratamento, onde esto descritos como objeti-vos, sensibilizar e motivar os dependentes parameta de supresso da droga e melhoria da quali-dade de vida; trabalhar a questo da droga nalgica da reduo de danos, tendo como metaideal a supresso da substncia.

    Ainda que no discurso os usurios da unida-de de sade A deixem claro que no recebem recla-maes da equipe profissional pelas recadas, foipossvel observar um aparente temor da desco-berta ou desconfiana de que se fez uso de lcool.Da mesma forma, parecia haver uma vigilnciapor parte dos profissionais quanto manuten-o da abstinncia, expressa no questionamentoaos usurios sobre se haviam feito uso, seja noscorredores ou nas salas de atendimento, masprincipalmente nas triagens e nos atendimentospara receberem prescrio de medicao.

    Esse aspecto remete discusso feita anterior-mente, acerca da constante vigilncia pela qualpassam os usurios, pela violao do tabu, mas

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    tambm pelos jogos de excluso e normatizaoexistentes na sociedade atual, na qual o uso dedrogas transformou-se em um grande vilo.

    No projeto da unidade de sade A, a aborda-gem da reduo de danos colocada como umapossibilidade, ainda que se reforando que a metaideal a abstinncia.

    importante deixar claro que a lgica da re-duo de danos no oposta abstinncia. Asupresso do uso de drogas pode ser a melhorforma de reduzir os danos para algumas pesso-as, mas importante que essa concluso seja ti-rada pelo prprio usurio, junto com a equipeque o acompanha, e no algo imposto num pro-

    jeto teraputico.

    A pol ti ca de ateno integral aos usurios delcool e outras drogas preconiza a adoo deprogramas teraputicos individualizados, criadospara cada caso especfico, que podem ter comometa final a abstinncia, ou no.

    Parece que no s no momento em que esseprojeto teraputico da unidade de sade B foiredigido, mas ainda hoje, h uma dificuldade nacompreenso dos princpios da reduo de da-nos. No significa, contudo, que os profissionaisno percebam ou no utilizem a reduo de da-nos na prtica, mas talvez faltem mais informa-

    es sobre a abordagem, para que sintam maissegurana na utilizao do termo.Uma outra questo que chama a ateno diz

    respeito percepo sobre o uso de medicamen-tos durante o tratamento, especialmente obser-vada na unidade de sade A, que remete a aspec-tos relevantes acerca da ateno recebida, pare-cendo tambm ter relao direta com o controlee a vigilncia sobre os usurios, discutidos ante-riormente.

    O uso de medicamentos percebido, na uni-dade de sade A como importante para o trata-mento, principalmente pelos acompanhantes,

    porque, segundo eles, serve para controlar o usu-rio, melhorar a auto-estima e fazer o humorestabilizar-se. Muitos percebem mesmo comonecessrio e fundamental o uso de medicao:

    [ ...] eu venho pra ctera-feira e se a mdicadisser ele (o marido de quem fala)no precisatomar medicao, eu pego o nome dela todinho evou no Conselho Regional de Medicina e denuncioela [ ...]. (mulher adulta, esposa de usurio, par-ticipante de grupo focal de acompanhante).

    Alm disso, o uso de medicamentos por usu-rios de lcool parece ser uma forma de controle

    tambm da prpria abstinncia, uma vez que reforado, a cada momento, que com a medica-o sendo tomada, no se pode beber.

    Os usurios tambm percebem que os rem-dios ajudam a melhorar. interessante notar quequase todos parecem estar utilizando medicamen-tos e reconhecem esse procedimento como impor-tante, muitas vezes central para a recuperao.Essa percepo, muitas vezes, os coloca aparente-mente disposio para utilizar o que estiver dis-ponvel na farmcia da unidade, para no correro risco de ficar sem remdios, avaliao comparti-lhada pelos profissionais que, em geral, receitammedicamentos para quase todos os atendidos.

    Esse aspecto parece indicar que a abstinnciae a desintoxicao pela medicao so capazes depurificar quem est em tratamento e livr-lo deum grande mal. A administrao, uso ou con-

    trole sobre o uso configuram-se como impor-tantes rituais entre profissionais, usurios e acom-panhantes, que expressam um repertrio usualde prticas de tratamento, presente nas relaesentre os atores sociais em questo, dando senti-do realidade vivida.

    O componente preveno, compreendidocomo necessrio, tambm est no projeto tera-putico da unidade de sade B. H meno datr ade preveno-pesquisa-tratamento como ori -entadora das aes; entretanto, na prtica, o com-ponente de preveno pareceu menos desenvolvi-

    do que o componente de tratamento, e o de pes-quisa praticamente inexistente, ao menos no pe-rodo em que foi realizado o estudo. Por se tratarde uma unidade de referncia para tratamento, possvel ter a expectativa de que este componentefosse mais desenvolvido e destacado.

    As aes de preveno tambm esto expl ci-tas na poltica de ateno integral sade de usu-rios de lcool e outras drogas, ancoradas naidia de que no existe separao entre preven-o e assistncia na sade pblica, nem hierar-quia de importncia entre esses componentes.Visam o fortalecimento dos fatores de proteo

    que auxiliem na reduo da iniciativa de consu-mo, considerando que tanto os fatores de riscocomo os de proteo podem ser identificados emtodos os domnios da vida16.

    Em suma, quanto aos objetivos do tratamen-to, pode-se dizer que a percepo dos vrios ato-res sociais, em linhas gerais, est prxima do quepreconiza a poltica atual em questo, que bas-tante recente e provavelmente est em fase deconstruo de legitimidade e implantao, emtoda a rede de ateno sade de usurios delcool e outras drogas. No se deve desconside-

    rar, entretanto, os vrios elementos destoantesdessa poltica, bem como as contradies exis-tentes nos discursos e a no coincidncia de ex-

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    pectativas dos atores sociais envolvidos, que se-ro melhor referidas na concluso do estudo.

    Concluses

    Sabe-se que historicamente o uso de drogas temmarcado a relao existente entre os seres huma-nos, estando presente em diferentes contextos, comobjetivos e motivaes diversas, como remdio ecomo veneno, de forma divina ou demonizada.

    No entanto, a literatura aponta para a ma-nuteno da lgica de controle que surge com osaber mdico do sculo XVI II, em torno dos por-tadores de desvios, entre eles os usurios de dro-

    gas, tendo em vista que estas se conf iguram, pro-gressivamente, como tabus na sociedade atual.

    A histr ia da doena mental, na qual est in-serido o uso de drogas, marcada por diversos jogos de excluso. A loucura passa a ser alvo dacincia de forma contundente, construindo in-meras explicaes e caracterizaes dos insanos,entregues desordem e devassido que apre-sentavam desvios de conduta19.

    Esses jogos de excluso manifestaram-se den-tro das instituies mdico-jurdicas para ondeos usurios de drogas iam ou eram mandados,

    cujos recursos teraputicos utilizados tinhammais a funo de punir do que de tratar e, mui tasvezes, tentavam reduzir o conflito entre o exclu-dente e o excludo, como por exemplo, a partirdo uso de medicamentos sedativos, que fixa odoente na sua posio de passividade21.

    Em resposta ao crescente pnico da popula-o em torno do grande problema da atualidade- o uso de drogas cresceu tambm uma corren-te de ateno sade que diz que essas pessoasmerecem ateno sade de qualidade, o que coerente com o movimento de humanizao daateno sade, documentado na Poltica Naci-

    onal de Humanizao HumanizaSUS, que re-comenda a ampliao da ateno integral sa-de, promovendo a intersetorialidade24.

    Apesar de claramente serem avanos, tanto apolti ca de humanizao quanto a da ateno in-tegral aos usurios de drogas ainda encontram-se em processo inicial de implantao, sendopossvel observar a convivncia de resqucios deprticas anteriores a essas propostas, pertencen-tes a outros paradigmas de ateno.

    Os aspectos que destoam e vo numa direocontrria ao da poltica humanizada de ateno

    integral esto bastante enraizados em modelos he-gemnicos que perduraram historicamente, masaparentemente em processo paulatino de descons-

    truo, que provavelmente leva um tempo bemmaior do que o tempo necessrio para a publica-o de um documento ou de portarias que regula-mentam um determinado modelo de ateno.

    No entanto, de modo geral, nas duas unida-des de sade que fizeram parte desse estudo, h apercepo de que o modelo descrito na Polticade Ateno Integral ainda no faz parte do coti-diano de grande parte dos atores sociais. Osmaiores questionamentos e discordncias foramfeitos pelos profissionais; na unidade de sade Apor reforarem a concepo dos usurios comodoentes, e no da unidade de sade B pela dvidaacerca da forma mais adequada de aproximar-se dos usurios.

    No havia tambm, de modo geral, a percep-o da ateno sade como um direito, nemdos usurios como cidados ou da importnciada organizao social dos usurios.

    A mudana da idia de doente para a de cida-do aparentemente algo ainda distante, entreoutras razes, por estar relacionada ao fato daidentificao como doente ser uma justificativasocial para o desvio, retirado do campo damoral e colocado no da sade mental. esse lu-gar do no responsabilizvel por uma deter-minada conduta condenvel, que muitos usuri-

    os de lcool e outras drogas parecem procurarpara lidar com a excluso e com a culpa.Trata-se de um grande obstculo ao avano

    para uma ateno integral, tendo em vista quetanto a noo de doentes, como a de marginais,so contrri as ao fortalecimento da organizaosocial dos prprios usurios, para que possamfazer controle social, indicada nos documentosque orientam as aes de promoo da sade deusurios de drogas, uma vez que contribuem coma passividade e a excluso.

    Foi demonstrada, tambm, a necessidade dese pensar estratgias mais eficazes de insero dos

    acompanhantes no processo de ateno sade,de forma que estes percebam que so parte inte-grante desse processo, o que pareceu ainda noser possvel.

    As percepes sobre os objetivos do trata-mento, aparentemente semelhantes entre os ato-res sociais, apresentavam contradies nos dis-cursos em torno da meta da abstinncia, talvez aexpresso mxima de que algum se encontraem condies de ajustamento e purificao,necessrios para serem aceitos socialmente.

    Essa meta da abstinncia aparentemente co-

    loca a abordagem da reduo de danos em se-gundo plano, talvez pela falta de compreensode que ela no oposta abstinncia.

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    A abstinncia e a desintoxicao pela medica-o pareciam ser capazes de purificar quem estem tratamento e livr-lo de um grande mal. Aadministrao, uso ou controle sobre o uso con-figuram-se como importantes rituais entre pro-fissionais, usurios e acompanhantes, que expres-sam um repertrio usual de prticas de trata-mento, presente nas relaes entre os atores so-ciais em questo, dando sentido realidade vivi-da, localizando no corpo a sede de todos os ma-les e qualifi cando o uso de medicamentos na pr-tica psiquitr ica.

    necessrio, entretanto, que se tenha clarezade que a ampliao da rede de servios no suficiente para se ter uma ateno integral sa-

    de dos usurios. Entre outras coisas, talvez sejanecessrio: 1) envolver/formar profissionais ha-bilitados e sensveis, sintonizados com os princ-pios da humanizao e da ateno psicossocial e,acima de tudo, dispostos a romper com princ-pios de controle e excluso, profundamente en-raizados na nossa sociedade; 2) formular polti-cas pblicas mais amplas e intersetoriais, quepossam lidar de forma adequada com a comple-xidade que o uso de drogas na atualidade; 3)envolver toda a sociedade num esforo de refle-xo sobre o papel que o uso de drogas teve e tem

    na nossa cultura, de uma forma menos moralis-ta e mais tica; 4) compreender e implementar osprincpios da reduo de danos, abordagem maishumana, respeitosa, que ajuda a desenvolver es-tratgias de autocuidado e estimula aes prota-gonistas dos usurios de drogas, para que pos-sam advogar em favor do seu direito sade.

    A reflexo sobre as implicaes dos proces-sos de socializao masculina, que expe os ho-

    mens a situaes vulnerabilizantes e os coloca,por exemplo, como a populao majoritria dosservios de sade para tratamento de problemasdecorrentes do uso de drogas, tambm no esta-va presente no cotidiano das prticas dos vriosatores sociais em questo. No h dvida, entre-tanto, da necessidade de discutir a ao nessecampo, seja inserindo nas agendas das polticaspblicas, nas prticas de sade ou na sociedadede forma ampla.

    As discordncias de percepo entre os vriosatores sociais no foram to evidentes quanto sepode esperar, tendo em vista que os sentidos soconstrudos nas relaes estabelecidas, de formaque em vrios momentos se tinha a impresso de

    que um discurso tcnico estava sendo reproduzi-do, reconstrudo e legitimado cotidianamente.Ainda assim, esses atores sociais identi ficavam-secomo autores desses sentidos produzidos e nose tem dvida de que certamente o eram.

    Cabe a preocupao, entretanto, da perpetu-ao da valorizao de um saber tcnico, em de-tr imento de outros valores que possam ser trazi-dos pelos diferentes atores, o que sem dvidatambm perpetuaria um modelo de ateno pau-tado em um saber mdico onisciente, onipotentee onipresente.

    Por fim, preciso que, no campo da ateno sade de usurios de drogas, sejam tr ilhados cami-nhos para tornar realidade uma ateno integral,

    justa e humanizada, que rompa com prticas en-raizadas na sociedade, pautadas na psiquiatria dosculo XIX e na percepo de que os desviantesdevem estar controlados dentro das unidadesde tratamentos, seja pelo uso de medicamentos,seja bela busca incessante da abstinncia.

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    Artigo apresentado em 09/02/2006Aprovado em 04/05/2006Verso final apresentada em 17/11/2006

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