O MONITORAMENTO E O GERENCIAMENTO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS · O MONITORAMENTO E O GERENCIAMENTO DE...
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Eixo 3
O MONITORAMENTO E O GERENCIAMENTO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
Cristina Harumi Enokida – Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná. E-mail: [email protected] Vanderlei Leopold Magalhães – Professor Ms. do Colegiado de Geografia da Universidade Estadual
do Oeste do Paraná. E-mail: [email protected]
RESUMO: A necessidade cada vez maior, de preservação, recuperação e utilização adequada dos recursos hídricos, tem sido indicada como fundamental para o conhecimento das diversas formas de estudar a água, particularmente a interação desta com os demais elementos do meio ambiente. Uma importante abordagem que está sendo utilizada, principalmente nas últimas décadas, nos estudos ambientais, é aquela que considera como unidade de análise a bacia hidrográfica, pois permite conhecer e avaliar seus diversos componentes e os processos e interações que nela ocorrem. Um exemplo de aplicação de monitoramento e gerenciamento que utiliza a bacia hidrográfica como objeto de estudo, é o programa Cultivando Água Boa, desenvolvido desde 2003, pela Itaipu Binacional, que tem como objetivo diminuir a entrada de sedimentos e produtos químicos em seu reservatório por meio da análise de toda a área da Bacia Hidrográfica do Paraná III. O projeto tem parceria com algumas instituições, com destaque para a Universidade Estadual do Oeste do Paraná, onde alunos e professores dos cursos de Agronomia e Geografia coletam informações e usam os métodos de geoprocessamento para montar o banco de dados, e posteriormente gerar o prognóstico de adequação das propriedades localizadas na bacia. A partir dessas informações esta pesquisa tem o objetivo de colocar em evidência a Bacia Hidrográfica do Paraná III, resgatando por meio de entrevistas e referencial bibliográfico os conhecimentos que se tornam fundamentais para o conhecimento da dinâmica da bacia, inclusive quando se trata do seu aspecto social. Salienta-se que trabalhos como este, através de ações concretas, da educação e conscientização, e de monitoramento, abrem as portas para minimizar os problemas ambientais como a erosão, que arrasta para os rios enormes quantidades de solo, e leva consigo agrotóxicos, lixo, esgoto e resíduos industriais que comprometem a qualidade ambiental. Palavras-chaves: Água, Bacia Hidrográfica, Planejamento Ambiental. INTRODUÇÃO
A necessidade cada vez maior, de preservação, recuperação e utilização adequada dos recursos
hídricos, tem sido indicada como fundamental para o conhecimento das diversas formas de estudar a
água, particularmente com a interação desta e os demais elementos do meio ambiente. Uma importante
abordagem que está sendo utilizada, principalmente nas últimas décadas, nos estudos ambientais é
aquela que considera como unidade de análise a bacia hidrográfica.
Prova desta realidade é a difusão do termo bacia hidrográfica, que até pouco tempo era de uso
especifico de setores como a hidrologia e que nos últimos anos tem sido de domínio público. Este fato
se justifica, sobretudo, pela importância da água como veículo dos sedimentos, dos poluentes, ou
vetores de doenças, além do seu uso em atividades humanas e diárias (ASSUNÇÃO, 2002).
Pautados nesse entendimento, Freitas e Santos (1999) argumentam que o consumo mundial de água
aumentou mais de seis vezes em menos de um século, mais que o dobro das taxas de crescimento da
população, o que significa dizer que globalmente, os recursos hídricos tendem a se tornar mais
escassos, devido aos processos de uso e de poluição crescentes, caso não haja ações enérgicas que
visem à melhoria da gestão, da oferta e da demanda da água.
Considerando a influência das atividades antrópicas na qualidade das águas, a agricultura é tida como a
principal consumidora e uma das principais poluidoras dos recursos hídricos. A salinidade e a
contaminação por nitrato tem sido os principais indicadores de poluição das águas (ONGLEY, 2001;
BROWN et al., 2000).
Segundo Resende (2002), sob determinadas condições de solo e clima, o uso excessivo ou o manejo
inadequado de fertilizantes, podem acarretar o enriquecimento das fontes hídricas, promovendo a
eutrofização de suas águas, com sérios prejuízos ao ambiente e à própria saúde humana.
Nesse processo, o ciclo hidrológico é totalmente alterado, na maioria das vezes devido ao mau uso das
terras, seja pelo desmatamento e/ou uso e manejo das áreas agrícolas, ou pelo escoamento superficial
das áreas urbanas devido a impermeabilização dos solos.
Esta realidade de uso e manejo inadequado dos solos tem favorecido a poluição das águas com
conseqüente contaminação dos lençóis freáticos. Estima-se que o Brasil detém 13,8% da
disponibilidade hídrica mundial, entretanto, apresenta uma distribuição inter-regional bastante
heterogênea, tanto em termos de disponibilidade quanto de qualidade das águas (FREITAS e
SANTOS, 1999).
De modo geral, a qualidade da água é definida por sua composição física, química, biológica e
radioativa e, conseqüentemente, pelos efeitos que seus constituintes podem causar ao ambiente.
Considerados nobres, determinados usos exigem rigoroso controle de qualidade das águas, além disso,
padrões de qualidade para consumo humano, indústria, irrigação, variam enormemente. Em função de
seus usos e se considerando suas características, vários organismos estabeleceram normas e padrões
específicos de qualidade da água. No Brasil, as normas de qualidade de água para consumo humano
são regidas pelo Ministério da Saúde, que as delibera para instituições competentes, por meio da
Portaria nº. 518, de 25 de março de 2004 (BRASIL, 2004).
De outro ponto de vista, ainda tem-se a água como elemento fundamental para a geração de energia
elétrica. É neste contexto que este trabalho se propõe a apresentar o plano de Gestão Ambiental
preconizado pela Itaipu Binacional, tendo como objeto de análise, o estudo de bacias hidrográficas.
A BACIA HIDROGRÁFICA
A bacia hidrográfica é reconhecida como unidade espacial, célula básica na análise ambiental, que
permite conhecer e avaliar seus diversos componentes e os processos e interações que nela ocorrem.
Segundo Botelho e Silva (2004) a visão sistêmica e integrada do ambiente está implícita na adoção
desta unidade fundamental que é considerada uma unidade de relevo que contribui para um único
coletor de águas pluviais. Em termos ambientais, é a unidade ecossistêmica e morfológica que melhor
reflete os impactos das interferências antrópicas, seja na ocupação de terras com atividades agrícolas
ou na urbanização.
Corroborando, Lanna (1997) menciona que os recursos hídricos são bens de relevante valor para o bem
estar de uma sociedade. A água é um bem de consumo fundamental em quase todas as atividades
humanas. O aumento da intensidade e variedade de usos sem o planejamento adequado tem gerado
muitos impactos nas bacias hidrográficas. Eles normalmente são iniciados com a retirada da vegetação
original o que significa dizer mudando a estrutura vertical da paisagem. A eliminação desse elemento
que será substituído por outro de natureza distinta (cultivo ou uma construção qualquer), provocará
alterações na sua dinâmica geral, a começar pelo ciclo hidrológico que é instantaneamente afetado.
Essas mudanças, segundo o autor, promovem variações significativas no ambiente, são elas o
desaparecimento do filtro protetor da superfície do solo; a alteração das condições de infiltração e de
escoamento de água; a instalação de processos erosivos que podem começar a remover os horizontes
superficiais do solo modificando paralelamente as formas da vertente; o aumento do volume de água
nos canais fluviais e junto com ela o aumento dos sedimentos; a alteração dos leitos do curso d’água;
alteração no volume e no ritmo dos lençóis freáticos e mudança nas fontes d’água. Diante do exposto,
fica evidente para o autor que uma nova estrutura e dinâmica surge, incorporando e interagindo com os
novos elementos dessa paisagem.
Assim, parece ficar evidente que ao analisar as características do clima, da cobertura vegetal, da
geologia, dos tipos de solos, da topografia, do uso atual do solo, da drenagem, pode-se chegar a um
zoneamento mais adequado de usos de solo na bacia. Dessa maneira, podem ser determinadas as áreas
de preservação dos mananciais, reservas florestais, áreas agrícolas, distritos industriais e áreas de
expansão urbana da bacia hidrográfica.
A água é o reflexo do que acontece na bacia hidrográfica, e quando represada, pode servir como
laboratório para analisar os efeitos do uso do solo em seu entorno. Sendo assim, a água reflete o efeito
da urbanização, e demais ações antrópicas sobre os mananciais e o reservatório.
De acordo com Lanna (1997), o gerenciamento de bacias hidrográficas é um processo de negociação
social fundamentado em conhecimentos científicos e tecnológicos, que visa à compatibilização das
demandas e das oportunidades de desenvolvimento da sociedade, considerando horizontes de
planejamento de longo prazo. É antes de tudo uma relação de negociação política, econômica, social e
ambiental, entre os diversos setores regionais, inseridos no âmbito dos Comitês de Bacias.
Atualmente, a elaboração e o uso de um banco de dados georeferenciados, além de técnicas de análise
espacial com auxilio de Sistemas de Informações Geográficas, são essenciais para o diagnóstico da
bacia hidrográfica e para um prognóstico a fim de definir alternativas de manejo voltadas à
conservação dos recursos naturais.
Cuidados com o solo no que se refere a erosão, também devem ser direcionados para áreas de proteção
ambiental como as áreas de mata ciliar, que têm grande importância tanto para a dinâmica das bacias
hidrográficas, como para a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas. Estas áreas contribuem na
regulação de vazão das águas pluviais, funcionando como filtro para adubos e diminuição de
agrotóxicos nas águas, além de diminuir a perda de solos e restos de cultura e servir como reduto para
animais e vegetais.
A perda de solos nestes locais pode ser evitada a partir do conhecimento detalhado das características
morfopedológicas do ambiente. Segundo Ruellan e Dosso (1993) o entendimento da cobertura
pedológica contribui neste sentido, para identificar a disposição dos solos na paisagem de forma
bidimensional e tridimensional, ou seja, como um continuum pedológico, uma vez que estes sofrem
diferentes ações e reações no tempo e no espaço.
Para esses autores conhecer as características dos solos, entendendo sua distribuição vertical e lateral
ao longo das vertentes e sua relação com o relevo, se torna importante para todo e qualquer estudo
sobre a paisagem da bacia hidrográfica, neste caso, em áreas de mata ciliar que apresentam problemas
erosivos.
No mesmo sentido, Fernandes (2001) destaca que o conhecimento das características físicas e da
dinâmica das unidades morfológicas de canal é essencial em estudos de preservação de cursos d’água e
em projetos de recuperação morfológica e biológica de áreas de fundo de vale.
O completo entendimento do funcionamento de uma bacia hidrográfica exige simultâneo
conhecimento de seus sistemas aquáticos e terrestres, pois quando uma bacia é fortemente modificada,
principalmente pela mudança do uso do solo, grande diversidade de problemas ambientais irão ocorrer,
com destino final nos seus recursos hídricos.
Um outro fator importante sobre a perspectiva das bacias hidrográficas consiste na sua adequação ao
conceito de capacidade de suporte e de escala ambiental determinando uma relação de respeito e de
sustentabilidade no espaço regional. No mesmo sentido, ganha força a idéia de sustentabilidade
ambiental a partir da definição espacial das bacias hidrográficas enquanto submissa da ação antrópica.
Para Ab’Saber (1994) de qualquer ponto de vista ou hipótese, a única maneira de abranger o universo
da territorialidade criada por ações antrópicas, sobre os restos de uma natureza modificada reside numa
correta análise do espaço. Por isso o autor justifica uma compartimentação, uma necessidade de
delimitação de uma área para o detalhamento da pesquisa, onde o entorno é de suma importância, ou
seja, um arranjo de população residente, qualidade do ar, qualidade das águas, qualidade do solo e
remanescentes de biodiversidade.
Desta forma, é útil ressaltar o trabalho desenvolvido pela Fundação Getúlio Vargas (2000) que
constrói uma relação integrada entre os demais recursos naturais com o ciclo hidrológico, afirmando
que o relevo, os materiais superficiais e a cobertura vegetal representam os princípios controladores
dos mecanismos hidrológicos, seguindo os caminhos da água, seja escoando na superfície,
evaporando-se ou infiltrando-se no solo. Existe uma integração do meio (as declividades, encostas,
relevo em geral) com os fluxos de energia consumidos, transmitidos e circulantes no ambiente por
meio de processos morfodinâmicos.
Ainda neste sentido, é imprescindível ressaltar o papel dos Comitês de Bacias Hidrográficas, que
conforme apontam Bóson e Assis (1999) são parlamentos das águas. Uma instância direta de grupos
organizados de decisão no âmbito de cada bacia, instituídos para abrigar os processos participativos da
gestão das águas, em uma esfera de negociação entre os interessados.
Logo, os Comitês de Bacias Hidrográficas assumem um papel primordial na implementação da política
de recursos hídricos no Brasil, pois se constituem preconizadores da discussão e tomada de decisão
sobre questões de utilização das águas nas respectivas bacias. De acordo com Cardoso (2003, p. 40) “a
política nacional de recursos hídricos, calcadas nos princípios da descentralização e da participação,
instituiu a bacia hidrográfica como unidade de gestão” e para tanto, representantes da sociedade civil e
do poder público foram chamados a participar dessa instituição conhecida por comitês de bacias
hidrográficas.
As Agências de Água, também conhecidas como Agências de Bacias Hidrográficas são, do mesmo
modo que os Conselhos, inovações trazidas pela lei e são consideradas o braço executivo do sistema de
gestão. Estas têm o objetivo e a função de proporcionar apoio logístico, técnico e operacional aos
Comitês de Bacias (BÓSON, 2002).
Vale ressaltar ainda que a associação e a interdependência entre Comitês e Agências são fundamentais
para a garantia da participação efetiva dos diversos usuários das águas, do poder público e da
sociedade civil de uma bacia hidrográfica, no processo decisório, e que o apoio técnico e a execução
estarão a cargo das Agências.
Assim, dado ao exposto, à relação institucional entre Comitês de Bacias Hidrográficas e as Agências
de Águas consiste em um dos pilares principais da Política Nacional de Recursos Hídricos (BÓSON,
2002). Portanto, pode-se concluir que dependendo do entendimento e da capacidade da sociedade em
se articular através desses órgãos colegiados, principalmente no que se refere a suas relações com os
agentes implementadores da Política Nacional e Estadual, dependerá o sucesso ou o fracasso desse
modelo inovador administrativo da Política de Recursos Hídricos.
DISCUSSÃO E RESULTADOS
O Programa Cultivando Água Boa
A água é a matéria-prima da Itaipu, e para preservá-la, a usina mantém um programa de manejo de
bacias hidrográficas, cujo objetivo é diminuir a entrada de sedimentos e produtos químicos em seu
reservatório. Desenvolvido desde 1986, o trabalho inclui atividades de conservação de solo, que
incluem a construção de murundus em curvas de nível, a adequação de estradas, a manutenção de
abastecedouros comunitários, a reciclagem de embalagens de agrotóxicos e o incentivo à prática do
plantio direto, além do saneamento rural (ITAIPU, 2006).
Esses serviços são realizados em parceria com as prefeituras dos municípios que estão localizados nas
margens do rio Paraná, os quais foram atingidos pelo alagamento do Rio. Esses também são
conhecidos pelo nome de municípios lindeiros.
Por isso, o slogan da Binacional é gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e
ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico. Com esse objetivo,
foi criado o projeto inovador, Cultivando Água Boa, um marco na história da gestão ambiental da
Itaipu Binacional, que ampliou o conceito anterior de atendimento aos 16 municípios lindeiros ao
reservatório da usina para formar parcerias e trabalhar com os 29 municípios que compõem a Bacia
Hidrográfica do Paraná III, uma delimitação da grande Bacia Hidrográfica do Paraná (Figuras 1 e 2).
A área de abrangência da Bacia Hidrográfica do Paraná III corresponde à totalidade da área de
drenagem dos afluentes pertencentes ao território paranaense que lançam suas águas diretamente no rio
Paraná (Reservatório de Itaipu), localizadas entre os afluentes do rio Piquirí e do rio Iguaçu,
perfazendo uma área de 8.389 km2 - conforme informações disponíveis no site da Binacional.
Observa-se assim, que a administração atual da Itaipu está sendo muito inteligente, o que também não
quer se dizer que outras tenham sido incompetentes. Mas o que quer se dizer, é que atualmente toda
grande empresa tem uma responsabilidade social, ainda mais para esta que foi responsável por grande
destruição da biodiversidade ecológica do oeste paranaense.
Figura 1: Localização geográfica da Bacia Hidrográfica do rio Paraná.
Fonte: Carta do Pacto das Águas (2004).
Figura 2: Delimitação da Bacia Hidrográfica Paraná III. Fonte: Carta do Pacto das Águas (2004). Enfatiza-se assim o forte compromisso da ética, do cuidado com o futuro sustentável da população tem
um começo com o Projeto Cultivando Água Boa, criado em 2003 pela Binacional. Este projeto conta
hoje com 18 programas intermediários, 70 projetos e 108 ações de responsabilidade sócio-ambiental na
verdadeira unidade de planejamento da natureza, que é a bacia hidrográfica (ITAIPU, 2006).
Além de garantir a qualidade da água que forma o lago de Itaipu e que gera energia elétrica de
qualidade para o Brasil e para o Paraguai, o Cultivando Água Boa é fonte de responsabilidade
ambiental em toda a região da Bacia do Paraná III.
Quando dito anteriormente que a administração atual da Itaipu é inteligente, lembra-se de três
princípios fundamentais. Primeiro, o já mencionado compromisso social e ambiental; segundo, a água
é fonte primordial para geração de energia elétrica, e os rios afluentes do rio Paraná estão
descarregando toneladas de sedimentos no lago devido a erosão dos solos. Outro ponto que afeta as
águas do rio Paraná é a eutrofização das águas, que está diretamente ligada a poluição dos córregos
pelos agrotóxicos e principalmente pelos dejetos suínos que chegam até o lago; e por último, o
reconhecimento internacional com garantia de patrocínios. Sobre o assunto a página on-line do
Ministério do Meio Ambiente apresenta o seguinte:
O Programa Hidrogeológico Internacional da Unesco elegeu o Projeto de Manejo e Conservação da Água na Bacia do Rio São Francisco Verdadeiro, que banha as cidades de Cascavel e Marechal Cândido Rondon (PR) como projeto modelo. O trabalho, elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em parceria com Itaipu
Binacional, é o segundo, no Brasil, a ser selecionado pela Unesco. O primeiro foi o da Bacia do Rio Jaú, afluente do rio Amazonas. Com a escolha, o projeto ganha reconhecimento internacional, se torna referência para outros trabalhos, além de receber apoio financeiro internacional. O projeto contempla ações de combate à poluição por meio de tecnologias e programas específicos dirigidos a proprietários rurais, cooperativas e prefeituras participantes na bacia.
A Bacia do rio São Francisco Verdadeiro é uma das bacias menores que compõem a grande Bacia do
Paraná III. Com efeito, é a que tem maior extensão e importância dentro do Projeto. A figura 3 da uma
visão do tamanho da Bacia do rio São Francisco Verdadeiro e da quantidade de municípios que
integram essa bacia.
Essa integração da Itaipu com os programas do governo do Estado do Paraná, que inclui prefeituras e
cooperativas da região, concentra varias metas ligadas a manutenção do meio natural. Incluem-se os
abastecedouros comunitários de água para usar na pulverização de lavouras com defensivos agrícolas;
coleta adequada das embalagens de agrotóxicos usadas na agricultura; destino correto dos dejetos
orgânicos, principalmente procedentes da suinocultura, também faz parte das preocupações ambientais
da Itaipu, que mantém parcerias com as prefeituras num programa de saneamento rural.
Um dos efeitos mais comuns da contaminação da água por efluentes, são as florações de algas, que
interferem significativamente no potencial de potabilidade e na balneabilidade (praias artificiais) das
águas de alguns dos reservatórios monitorados.
A eutrofização da água é um dos problemas causados pelos efluentes que chegam até o rio Paraná.
Segundo a reportagem da Revista AMIGOS DA NATUREZA (2004) a eutrofização é originada pelos
adubos usados na agricultura que misturados com o solo são levados pela água da chuva (ou irrigação)
para o interior de lagos e represas. Esses nutrientes vão servir de alimentos para algas que vivem
nessas águas que então se multiplicam rapidamente. Em pouco tempo, o lago é asfixiado por uma
massa lodosa verde formada por essas algas, procedimento chamado de eutrofização.
As algas consomem parte do oxigênio dissolvido na água. Depois de algum tempo, as algas começam
a morrer, depositando-se no fundo lago ou represa. Assim grandes quantidades de bactérias se
alimentam do material vegetal morto, consumindo muito oxigênio da água. De maneira direta, outras
formas de vida são drasticamente prejudicadas pela falta de oxigênio e acabam morrendo.
Ainda quando esta água é fonte importante para o abastecimento de uma cidade, problemas podem
aparecer, pois quando bombeada para as estações de tratamento, a água com muita alga causa
problemas por obstruir os filtros, entupir canalizações e causar cor, gosto e cheiro desagradáveis.
Para manter essa integração, com o objetivo de aumentar a vida útil do lago para a produção de energia
elétrica, através da preservação e recuperação do meio ambiente da região, em especial da água, do
solo e das florestas, de forma integrada com os municípios, proprietários rurais e demais atores sociais,
consolidou-se a gestão por bacias hidrográficas de diferentes ordens, ou seja, de tamanhos
hierarquizados da maior para menor. Nesse procedimento, a formação de comitês gestores serão
parceiros na adoção de um conjunto de tecnologias e ações ambientais na Bacia do Paraná III para
reduzir o assoreamento e a poluição no reservatório de Itaipu.
Aplicação do Monitoramento e Gerenciamento de Bacias Hidrográficas
As ações do Cultivando Água Boa envolvem diversas parcerias institucionais, desde parcerias não
governamentais, setores de movimentos sociais, agricultores, pescadores, suinocultores, assentados,
indígenas, até instituições de ensino e pesquisa, com o intuito implantar projetos de redução da
poluição do rio São Francisco Verdadeiro, um dos afluentes do rio Paraná.
No ano de 2003, a Itaipu via o programa Cultivando Água Boa assinou um contrato com entidades de
Marechal Cândido Rondon a fim de implantar um Comitê Gestor de sub-bacia do rio São Francisco
Verdadeiro para monitorar as bacias dos córregos Curvado, Ajuricaba e Arroio Fundo (Figura 3).
Figura 3: Bacias dos córrego Curvado, Ajuricaba e Arroio Fundo. Fonte: Carta do Pacto das Águas (2004). Segundo o diretor de coordenação da Itaipu, Nelton Friedrich, o ponto principal é adotar as nascentes,
as bacias como objeto de estudos favorecendo o trabalho de mobilização ao longo do rio. O diretor-
geral, Jorge Samek, por sua vez, destaca que todo o projeto se realiza em parceria com universidades,
comunidades rurais e escolas públicas da região (Ministério do Meio Ambiente).
Neste processo foram selecionados e treinados 45 acadêmicos do curso de Gestão Ambiental, da
Faculdade Luterana Rui Barbosa (FALURB), de Marechal Cândido Rondon, e alunos de Agronomia,
Zootecnia e Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) para elaborarem o
cadastro técnico multifinalitário das propriedades rurais ao entorno das três bacias (SOUZA, 2004).
A avaliação, recuperação e monitoramento ambiental nas sub-bacias do rio São Francisco Verdadeiro
tem a contribuição fundamental da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Marechal
Cândido Rondon. Os alunos que integram os grupos de pesquisa são designados por três professores
responsáveis por fazer o levantamento das propriedades localizadas nas bacias do córrego Curvado, do
córrego Ajuricaba e Arroio Fundo.
Os levantamentos contam com métodos de geoprocessamento ( software livre) e da substituição do
levantamento aerofotogramétrico por satélite por sobrevôos de aeronaves dotadas de instrumentos de
prospecção a laser, realizando um diagnóstico da situação territorial, ambiental e socioeconômico das
propriedades rurais.
A UNIOESTE como principal responsável pelo diagnóstico das áreas contempladas pelo projeto,
recebe mensalmente uma fatura financeira do Projeto Cultivando Água Boa. Em entrevista, o professor
do curso de Agronomia, Armim Feiden, meniciona que por um projeto originado pelos alunos da
universidade, é pago na hora o equivalente a quinhentos e oitenta reais, e que uma porcentagem deste
valor é destinada aos alunos responsáveis pela avaliação. Outra contribuição importante é o
fornecimento de micro computadores para a Universidade, para o uso específico dos acadêmicos
integrantes do projeto mesclarem seus dados e fazerem os mapas das propriedades rurais de acordo
com os registros obtidos em campo.
A equipe coordenada pelo professor Armin Feiden, foi designada para o levantamento das
propriedades rurais localizadas na bacia do córrego Curvado, montando o diagnóstico das
propriedades, e uma pré-proposta de adequação ambiental, que é apresentado ao proprietário com o
custo da readequação da área rural, conciliando propriedade e meio ambiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
São trabalhos como este da Itaipu, que através de ações concretas, da educação e conscientização, e de
monitoramento, que abrem as portas para por fim a problemas graves como o da erosão, que arrasta
para os rios enormes quantidades de solo, que leva consigo fertilizantes, agrotóxicos, dejetos animais,
lixo, esgoto, resíduos industriais que comprometem a qualidade da água e a torna imprópria para
qualquer uso.
A perda de solo obriga gastos, cada vez maiores na produção, que passa a exigir mais adubo, mais
agrotóxico, o que degrada solo e água e compromete o uso racional desse bem natural.
Certamente duas das maiores riquezas do Oeste do Paraná são água em abundancia, representada pela
estrutura dos rios e lagos, e um dos solos mais férteis do estado, e mesmo do país. Todavia, o bom
comprometimento de estudos ambientais a fim de manter um uso racional desse ambiente é algo
primordial não só para a sociedade oestina, mas sim para todo o país, partindo do pressuposto que a
Itaipu Binacional gera energia elétrica numa grande porcentagem para o Brasil.
O objetivo do projeto é buscar educação para os cuidados com o ambiente promovendo a boa vontade
e a habilidade para se adotar estilos de vida compatíveis com o uso inteligente dos recursos ambientais,
e para a busca de soluções. Conscientizando a população para o problema decorrente do uso irracional
e da escassez de água potável.
Neste sentido, o programa Cultivando Água Boa é sim um mega-programa que pode servir de base
para novos projetos em outras regiões do Brasil e do Mundo. O programa está dirigido,
prioritariamente, a bacias hidrográficas de importância estratégica para a Binacional, mas todos saem
ganhando com esse projeto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB’ SABER, A. N. Bases conceptuais e papel do conhecimento na previsão de impactos. In: AB’ SABER, A. N.; MÜLLER-PLATENBERG, C. Previsão de impactos: o estudo de impacto ambiental no leste, oeste e sul. São Paulo: EDUSP, 1994. p.27-50. AMIGOS DA NATUREZA. Rev. Amigos da natureza. n. 38, ano 3, Marechal Cândido Rondon, outubro de 2004. ASSUNÇÃO, S. G. S. Riscos ambientais da ocupação urbana no entorno de águas superficiais. Universidade Católica de Goiás: Goiás, 2002. BOTELHO, R. G. M.; SILVA, A. S. Bacia hidrográfica e qualidade ambiental. In: VITTE, A. C; GUERRA, A.J.T. (Org). Reflexões sobre a geografia física no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. p.153-192. BOSON, P. H. G. Projeto de reestruturação institucional do IGAM – Relatório Técnico – RT 2.1. 3.1. Belo Horizonte: IGAM, 2000. BOSON, P. H. G.; ASSIS, F. S. Instrumentos da gestão ambiental - gestão participativa, processo de negociação: uma visão da Lei Federal n.º 9.433 de Janeiro de 1997. Belo Horizonte: 1999. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no. 518, de 25 de março de 2004. Diário Oficial, Brasília, 26 de março de 2004. Seção 1, 266p. BROWN, L.; FLAVIN, C.; FRENCH, H. Estado do mundo 2000. Tradução MALLETT. H. Salvador: UMA Editora, 2000. 288p. CARDOSO, M. L. M. Desafios e potencialidades dos comitês de bacias hidrográficas. Revista Ciência e Cultura. Núcleo Temático: gestão das águas. São Paulo, v. 55, n.4, p.40-41. out./dez. 2003. CARTA DO PACTO DAS ÁGUAS. Micro bacias do Arroio Fundo, córrego Curvado e Ajuricaba, Mrechal Cândido Rondon, 2004. FERNANDES, O. V. Q. Levantamento físico-ambiental e sócio-econômico do trecho superior do córrego Guavirá, Marechal Cândido Rondon – PR. CCHEL / CG – UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon, 2001.
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