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O MÉTODO MARXISTA E A PESQUISA ENQUANTO AÇÃO INVESTIGATIVA NO SERVIÇO SOCIAL Jeovana Nunes Ribeiro 1 RESUMO Neste artigo temos como fio norteador a discussão do método marxista, por entendermos, que a dialética não considera os produtos fixados, neste sentido, torna-se para o Serviço Social o método mais completo para compreender e explicar o movimento do real, a partir da pesquisa ou da “caça das imediações”. A pesquisa, por sua vez, se insere como uma competência do fazer profissional do Assistente Social, assim, pontuamos neste espaço, o seu significado e a formação profissional orientada para a produção de novos conhecimentos. Palavras-chave: Método Marxista; Pesquisa; Serviço Social. ABSTRACT In this article we have as a guiding thread the discussion of the Marxist method, because we understand that the dialectic does not consider the products fixed, in this sense, becomes for the Social Service the most complete method to understand and explain the movement of the real, from the research or the "hunting of the surroundings". The research, in turn, forms part of the professional work of the Social Worker, so we punctuate this space, its meaning and professional training oriented to the production of new knowledge. Keywords: Marxist Method; Search; Social service. 1 INTRODUÇÃO Para situarmos a pesquisa no Serviço Social se faz necessário inserir-se no caminho que conduz a formação profissional do Assistente Social como uma exigência de superação do pragmatismo, o qual foi marcante na história de sua prática profissional. Como sabemos desde a proposta curricular de 1982 a pesquisa foi incluída como matéria básica dos cursos de graduação, e, no curso de Serviço Social esta é exigida não apenas como matéria, mas se constitui num dos princípios e numa condição da formação profissional. Neste sentido, ressaltamos que não há como fazer serviço social sem pesquisa, 1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão. [email protected]

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O MÉTODO MARXISTA E A PESQUISA ENQUANTO AÇÃO INVESTIGATIVA NO

SERVIÇO SOCIAL

Jeovana Nunes Ribeiro1

RESUMO Neste artigo temos como fio norteador a discussão do método marxista, por entendermos, que a dialética não considera os produtos fixados, neste sentido, torna-se para o Serviço Social o método mais completo para compreender e explicar o movimento do real, a partir da pesquisa ou da “caça das imediações”. A pesquisa, por sua vez, se insere como uma competência do fazer profissional do Assistente Social, assim, pontuamos neste espaço, o seu significado e a formação profissional orientada para a produção de novos conhecimentos. Palavras-chave: Método Marxista; Pesquisa; Serviço Social.

ABSTRACT

In this article we have as a guiding thread the discussion of the Marxist method, because we understand that the dialectic does not consider the products fixed, in this sense, becomes for the Social Service the most complete method to understand and explain the movement of the real, from the research or the "hunting of the surroundings". The research, in turn, forms part of the professional work of the Social Worker, so we punctuate this space, its meaning and professional training oriented to the production of new knowledge. Keywords: Marxist Method; Search; Social service.

1 INTRODUÇÃO

Para situarmos a pesquisa no Serviço Social se faz necessário inserir-se no

caminho que conduz a formação profissional do Assistente Social como uma exigência de

superação do pragmatismo, o qual foi marcante na história de sua prática profissional.

Como sabemos desde a proposta curricular de 1982 a pesquisa foi incluída como

matéria básica dos cursos de graduação, e, no curso de Serviço Social esta é exigida não

apenas como matéria, mas se constitui num dos princípios e numa condição da formação

profissional. Neste sentido, ressaltamos que não há como fazer serviço social sem pesquisa,

1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão. [email protected]

além disto, o fortalecimento das atividades investigativas na área do serviço social pode ser

impulsionado por uma política de pesquisa para a área, que, sem ferir a liberdade na busca

do conhecimento, estimule a investigação em torno de eixos prioritários a fim de preservar

as conquistas obtidas e materializá-las no exercício cotidiano, o que exige preencher um

amplo campo de mediações entre as bases históricas, teórico-metodológicas e éticas

acumuladas. (IAMAMOTO, 2008; CARDOSO, 1998).

Entendemos que, as pesquisas na área do serviço social devem ser realizadas sob

a orientação da teoria marxista, tendo em vista o direcionamento do nosso projeto

profissional, assim como, a teoria Marxista está viva em nossa sociedade contemporânea, e,

utilizá-la não se trata de uma questão de religiosidade ou dogmatismo, mas trata-se de

empreender, desde Marx e Engel até os dias de hoje, um esforço explicativo acerca da

questão social, já que o que está subjacente às suas manifestações concretas é o processo

de acumulação do capital, produzido e reproduzido com a operação da lei do valor, cuja

contraface é o crescimento relativo da pauperização. (CARDOSO et al, 1997; IAMAMOTO,

2008; TONET, 2005).

A fim de compreendermos o método marxista, discorreremos neste artigo, questões

relevantes, que envolvem o serviço social e a pesquisa enquanto produção de

conhecimento; o conhecimento e o binômio: intervenção–investigação; a formação

profissional e a produção de conhecimento; a discussão do método no serviço social;

mediação e serviço social: sistematizar e pesquisar, e por fim, abordaremos as nossas

considerações finais.

2 O SERVIÇO SOCIAL E A PESQUISA ENQUANTO PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO

No Brasil, a implantação do Serviço Social se dá entre 1920 e 1930, no bojo da

questão social, que em seus primórdios, o Serviço Social, estabeleceu uma interlocução

privilegiada com o pensamento social católico e com o pensamento conservador europeu,

tendo-se secularizado em estreita aproximação com as concepções estrutural-funcionalistas

difundidas nas Ciências Sociais e Humanas norte-americanas, além de incorporar os

rudimentos da Psicanálise (IAMAMOTO, 1982).

A aproximação teórica da profissão ao universo diferenciado da tradição marxista

ocorre a partir de meados dos anos 1960, na América Latina, no bojo do conhecimento

“movimento de reconceituação do Serviço Social”. Instaura-se, a partir daí, uma tendência

ao “debate plural” no campo das idéias, no meio acadêmico. É impossível decifrar a

profissão independente do diálogo crítico com o acervo intelectual, que vem alimentando

historicamente a cultura profissional, qualificação profissional e função na sociedade,

entretanto, sofrendo hoje, os influxos da crítica pós-moderna (IAMAMOTO, 2008).

Ao longo dos anos de 1970 a profissão buscou definir claramente e consolidar suas

atribuições e competências, as quais se encontram, desde 1962 reconhecidas e

regulamentadas, ainda que em sua primeira formulação tenha sido em 1957. Todavia, o

cumprimento dessas, exige do Assistente Social tornar a pesquisa um elemento constitutivo

do seu trabalho profissional, como precondição do exercício profissional competente e

qualificado (GUERRA, 2009).

A produção de conhecimento na área de Serviço Social iniciou-se a partir dos anos

1970 quando foram criados os primeiros cursos de pós-graduação na área de Ciências

Sociais e como resultado da Reforma Universitária imposta pela ditadura, o Serviço Social

legitimou-se no âmbito acadêmico. Surgiram primeiro os mestrados e depois, nos anos

oitenta, os doutorados; também foram fomentadas as especializações (KAMEYAMA, 1998).

É nos espaços da pós-graduação, cujos primeiros frutos se recolhem no trânsito

dos anos setenta aos oitenta, que, no Brasil, se inicia e, nos anos seguintes, se consolida a

produção de conhecimentos a partir da área de Serviço Social. O corpo profissional

começou a operar a sua acumulação teórica. Um balanço desta produção mostra que,

apesar de muito desigual, ela engendrou uma massa crítica considerável, que permitiu à

profissão estabelecer uma interlocução fecunda com as ciências sociais e, sobretudo,

revelar quadros intelectuais respeitados no conjunto do corpo profissional e, também, em

outras áreas do saber (PAULO NETTO, 2006).

A década de 1980 marca o reencontro do Serviço Social consigo mesmo, no que se

refere à busca de estabelecimento de novas bases para a compreensão do seu passado

histórico, das particularidades de sua prática na sociedade marcada por relações de classe,

da sua relação com o Estado e com as forças da sociedade civil e de sua posição quanto às

demandas sociais, cada vez mais complexas, situando-se no âmbito da divisão sóciotécnica

do trabalho. Esta década é fundamental para o entendimento da profissão hoje, pois

significa o início da maturidade da tendência, atualmente, hegemônica na academia e nas

entidades representativas da categoria e, com isso, a interlocução real com a tradição

marxista. A maioridade acadêmica do Serviço Social é reconhecida como área de produção

do conhecimento, fomentada por uma teoria social crítica (GUERRA, 2011; IAMAMOTO,

2004).

2.1 O conhecimento e o binômio: intervenção - investigação

A intervenção e investigação formam um binômio e estão em relação dialética. Para

intervir é preciso investigar e conhecer, não aleatoriamente, mas a partir de um objetivo

determinado. A investigação para o Serviço Social ganha o estatuto de elemento constitutivo

da própria intervenção profissional (GUERRA, 2011).

Mas o que é o conhecimento? Luckesi (2005) procura respondê-lo afirmando que o

conhecimento é a explicação, elucidação da realidade e decorre de um esforço de

investigação para descobrir aquilo que está oculto, que não está compreendido ainda. Só

depois de compreendido em seu modo de ser é que um objeto pode ser considerado

conhecido. Adquirir conhecimento não é compreender a realidade retendo informações, mas

utilizando-se destas para desvendar o novo e avançar, a partir o processo de reflexão.

O sentido da reflexão é apontado por Guerra (2011) como uma clara definição do

“para quê” da profissão, possível desde que iluminada por uma racionalidade (como forma

de ser e pensar) que seja dialética e crítica, conectada à capacidade de responder

eficazmente às demandas sociais. O conhecimento tem origem na intuição, no

entendimento (intelecto) e na razão dialética, enquanto momentos distintos, porém

complementares. Vejamos:

Conhecimento da intuição: a intuição produz um conhecimento efetivo a partir da

percepção do objeto pelos órgãos sensoriais e pela impressão deste no cérebro, sendo um

conhecimento instantâneo e imediato. Quando se intuí um objeto não há qualquer forma de

julgamento, intuí-se a sua figura exclusivamente e particular

Conhecimento do intelecto: é um modo operativo da razão que permite manipular

os dados, mas não a compreensão da sua lógica constitutiva. É a aceitação passiva dos

dados da realidade, apreensão da realidade pelos dados imediatos, nível do fenômeno, da

empiria.

Conhecimento proveniente da Razão Dialética: vai além do dado imediato,

provisório, apanha a processualidade do real. A Razão recria as mediações pelas quais o

real se constitui, vai além do dado imediato, supõe o movimento, supõe aceitar um

pressuposto. Foi primeiro com Hegel, depois com Marx e Engels, que a dialética apareceu

com função essencial na teoria do conhecimento. Para o marxismo, a filosofia consiste em

reconstruir, com a dialética da razão, a dialética da realidade.

2.2 A discussão do método no Serviço Social

Para abordamos a discussão do método no serviço social, temos como fio

norteador a discussão do método marxista, por entender, ser o mais completo para

compreender e explicar o movimento do real.

Paulo Netto (2009, p. 7) relata que para Marx, a teoria é uma modalidade peculiar

de conhecimento, se distingue de todas as modalidades; por exemplo, a arte, o

conhecimento prático da vida cotidiana, o conhecimento mágico-religioso; “[...] e tem

especificidade: o conhecimento teórico é o conhecimento do objeto tal como ele é em si

mesmo, na sua existência real e efetiva, independentemente dos desejos, das aspirações e

das representações do pesquisador”.

A teoria é, para Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo sujeito que pesquisa: pela teoria, o sujeito reproduz em seu pensamento a estrutura e a dinâmica do objeto que pesquisa. E esta reprodução (que constitui propriamente o conhecimento teórico) será tanto mais correta e verdadeira quanto mais fiel o sujeito for ao objeto. (PAULO NETTO, 2009, p. 7, grifos do autor).

Pontes (2010) relata que a discussão teórico-metodológica em Marx tem o objetivo

de analisar o conhecimento e a intervenção no plano das relações típicas da sociedade

burguesa, que, certamente, é uma tarefa espinhosa. No caso do método dialético, há um

fator complicador: a confusão que se faz entre as práticas sócio-econômico-políticas das

sociedades que foram conhecidas como “socialismo real” e a teoria social de Marx, que traz

na sua estrutura o método.

Marx inicia sua trajetória teórica quando se confronta polemicamente com a filosofia

de Hegel, direcionando suas pesquisas para a análise concreta da sociedade moderna. O

método dialético de Marx é oposto ao método de Hegel, uma vez que para Hegel o processo

do pensamento é o criador do real, e o real é, apenas, a sua manifestação externa,

enquanto que para Marx, o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do

ser humano e por ela interpretado, ou seja, para Marx, não basta olhar, mirar, é preciso

analisar, investigar para além da aparência. Na investigação o pesquisador tem que

apoderar-se da matéria, em seus pormenores, analisar suas diferentes formas de

desenvolvimento e de perquirir a conexão que há entre elas (MARX, 1968 apud PAULO

NETTO, 2009).

Pontes (2010) nos remete a reflexão de que é importante lembrar que, Marx além

de ter concebido um caminho metodológico revolucionário, apontou “o instrumento” através

do qual é possível penetrar na intricada investigação do ser social: a abstração.

Colocando-a não no sentido idealista do termo, mas como sendo a capacidade que a razão humana tem de ultrapassar a imediaticidade, captando as conexões submersas na imediaticidade do real. Hegel, embora tenda sido feliz no tratamento da relação intelecto-razão, não logrou êxito total por não alcançar a concretude da análise, que veio com Marx. (PONTES, 2010, p. 69).

Ressalta-se, ainda que, o caminho metodológico descoberto por Marx é

decorrência necessária da natureza do próprio objeto: “sociedade burguesa - um sistema de

relações construído pelos homens”, que produz e reproduz desigualdade social, pobreza,

questão social (PAULO NETTO, 2009).

No Serviço Social, Iamamoto (2005) e Paulo Netto (2001) relatam que a questão

social é o seu objeto de estudo, ou seja “a matéria prima”, “sua raison d’être, sem ela, a

profissão não tem sentido”. Nessa perspectiva é fundamental avançar no conhecimento da

população a quem se dirigem os serviços profissionais.

Como relata Pontes (2010), o Assistente Social tem que “ir a caça das imediações”,

ou seja, quando o Assistente Social vai conhecer uma comunidade, uma instituição é

preciso questionar a realidade a partir de uma série de perguntas que se faz, a partir da

razão. Todavia, “não significa dizer que os objetivos que se quer alcançar serão

alcançados”, uma vez que qualquer ação humana está condicionada ao momento histórico

em que ela é desenvolvida, a partir da realidade (GUERRA, 2011).

A realidade social é complexa, heterogênea e os impactos de qualquer intervenção

dependem de fatores que são externos a quem quer que seja – inclusive ao Serviço Social.

Todavia, são as perguntas que norteiam o estudo, a partir da reflexão, da razão, para

aproximar cada vez mais do objeto de pesquisa, assim como a observação participante, a

partir dos órgãos dos sentidos: audição, visão, afinados para captar a realidade social.

Observar é muito mais do que ver ou olhar. Observar é estar atento, é direcionar o olhar, é

saber para onde se olha (CRUZ NETO, 1994).

É com o movimento do real que temos de aprender a dialogar, é em direção a ele que precisamos lançar o nosso olhar, aguçar a nossa razão, estimular a nossa consciência crítica, de forma a poder desvendá-lo, lançando as raízes da possibilidade da construção de práticas sociais múltiplas, plurais, capazes de contribuírem efetivamente para a produção do novo (MARTINELLI, 1998, p 145).

Guerra (2005) relata que não é possível oferecer ao Assistente Social um conjunto

de regras de investigação pronto e acabado, é preciso atuar sobre a realidade, esta é o que

nos conduz ao conhecimento e corrobora com Marx ao afirmar que o método não é um

conjunto de regras formais que se “aplicam” a um objeto que foi recortado para uma

investigação determinada. A instrumentalidade da intervenção profissional é construída no

movimento do real, a partir da razão.

O conhecimento pela via da razão opõe-se ao conhecimento imediato; pressupões

a síntese de elementos contraditórios, numa relação de continuidades e rupturas, mantendo

a essência. A teoria resultante da pesquisa deve excluir qualquer pretensão de

“neutralidade”, assim como, os instrumentos ou as técnicas de pesquisa são as mais

variadas, desde a análise documental até as formas mais diversas de observação para

“recolher dados, quantificar, explicar e expor”. Na investigação, o pesquisador parte de

perguntas, questões, enquanto que na exposição, parte dos resultados que obteve na

investigação. São as perguntas feitas que conduzem a aproximação do objeto de pesquisa

(GUERRA, 2005; 2011).

O conhecimento científico é uma pesquisa cientifica e como tal, exige rigor,

métodos e técnicas apropriadas. Não pode ser identificada com mera sistematização de

dados, de modo que há que se desenvolver determinados conhecimento que são

procedimentais. Necessita de um trabalho intelectual: preparo, formação, habilidades e

competência. No serviço social as pesquisas visam compreender o significado social da

profissão e de seu desenvolvimento sócio-histórico, identificar as demandas presentes na

sociedade, ou seja, investigar (GUERRA, 2011).

A dimensão investigativa permite ao Assistente Social captar as particularidades da

questão social, suas diversas expressões, bem como as demandas, tendo em vista que a

realidade social não se apresenta de imediato, e, além disto, ela se particulariza em cada

espaço sócio-ocupacional, se faz necessário o mergulho na realidade social. O grande

desafio na atualidade é transitar da bagagem teórica acumulada ao enraizamento da

profissão na realidade, atribuindo, ao mesmo tempo, uma maior atenção às estratégias,

táticas e técnicas do trabalho profissional, em função das particularidades dos temas que

são objetos de estudo e ação do assistente social. A pesquisa concreta de situações

concretas é condição para se atribuir um novo estatuto a dimensão interventiva e operativa

da profissão, resguardados os seus componentes ético-políticos (IAMAMOTO, 2005).

2.3 A formação profissional e a produção de conhecimento

A formação dos assistentes sociais como profissionais, dado o seu caráter

interventivo, privilegiou fundamentalmente o aspecto técnico-operativo, em detrimento da

produção de conhecimento. A análise da formação profissional do Assistente Social adquiriu

especial relevância, a partir da década de 1980, ao defrontar-se com o currículo mínimo

para o curso de serviço social, priorizando a pesquisa como uma disciplina obrigatória

(KAMEYAMA, 1998).

O Serviço Social brasileiro, nas ultimas décadas, redimensionou-se num forte

embate contra o tradicionalismo profissional e seu lastro conservador, adequando

criticamente a profissão às exigências do seu tempo, qualificando-a teoricamente, como

atesta a produção acumulada nas últimas décadas e o crescimento da pós-graduação. A

profissão fez um giro radical na sua dimensão ética e em seu debate, constituiu

democraticamente a sua normatização, expressa no Código de Ética de 1993, que dispõe

de um caráter de obrigatoriedade ao estabelecer os direitos e deveres do assistente social,

segundo princípios e valores radicalmente humanistas. O projeto profissional, construído ao

longo das últimas décadas, aglutina segmentos significativos de assistentes sociais as

forças sociais progressistas, comprometidas com a efetivação da cidadania, extensiva a

todos e com a irradiação dos preceitos e práticas democráticos a todos os poros da vida em

sociedade. Porém, o momento presente desafia os Assistentes Sociais em acompanhar,

atualizar e explicar as particularidades da questão social nos níveis internacional, nacional,

regional e municipal (IAMAMOTO, 2008).

No processo de formação profissional é importante ressaltar a relevância dos

núcleos, “recordar” os fóruns de debates sobre o currículo mínimo, tendo em vista que sem

essas discussões não é possível entender a prática interventiva hoje, bem como o discurso

teoria e prática na formação profissional. Por outro, a ausência do debate abriria o leque das

discussões em que qualquer pessoa pode desenvolver o papel do Assistente Social.

A organização curricular sustenta-se no tripé dos conhecimentos constituídos pelos

núcleos de fundamentação da formação profissional, quais sejam:

Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, que compreende um

conjunto de fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos para conhecer o ser social;

Núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira, que

remete à compreensão das características históricas particulares que presidem a sua

formação e desenvolvimento urbano e rural, em suas diversidades regionais e locais;

Núcleo de fundamentos do trabalho profissional, que compreende os elementos

constitutivos do Serviço Social como uma especialização do trabalho: sua trajetória histórica,

teórica, metodológica e técnica, os componentes éticos que envolvem o exercício

profissional, a pesquisa, o planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio

supervisionado (BRASIL. Diretrizes Curriculares, Resolução nº 15, 2002).

A formação profissional orienta a formação de quadros habilitados, capacitados

para fazer pesquisa, com o objetivo da intervenção propriamente dita, para produzir novos

conhecimentos. É de responsabilidade das universidades, das agências de formação e

apoio a pesquisa, manter seus núcleos de pesquisa ativos com a participação de

Assistentes Sociais e estudantes de graduação, incentivando, principalmente, a iniciação

científica, que é muito recente, bem como as bolsas de estudo. Este é um dos primeiros

passos ao estímulo à pesquisa (GUERRA, 2011).

É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. (MINAYO, 1994, p. 17, grifos da autora).

A dimensão investigativa e a capacitação, a partir da pesquisa permitem ao

Assistente Social desenvolver suas atribuições privativas com maior competência, captando

como as expressões da questão social se particularizam em cada espaço sócio ocupacional.

Como se sabe, a realidade não se mostra de imediato, as demandas não se mostram de

imediato, estas aparecem de forma pontual e não real, é a demanda da aparência e não da

essência (GUERRA, 2011).

Marcuse (1988) relata que os fatos por si só não dizem nada por isso há que

submetê-los a um método, capaz de apreender a realidade da forma mais fiel possível.

2.4 Mediação e Serviço Social: sistematizar e pesquisar

Na formação da prática profissional a sistematização de conhecimentos é para o

assistente social de maior importância, tendo em vista que sistematizar sua prática através

dos instrumentos já identificados na profissão é um recurso fundamental para o profissional,

tendo o cuidado para não contribuir com o processo de naturalização da questão social

(IAMAMOTO, 2006).

A preocupação com a “sistematização da prática” tornou-se mais familiar e presente entre nós em função de uma das exigências da formação profissional: a elaboração da monografia de conclusão de curso. Este importante pré-requisito corroborou decisivamente os aspectos que envolviam a atuação do alunado nos campos de estágio, se constituísse, com maior freqüência, em objeto de reflexão. Ainda que a monografia de conclusão de curso não encerrasse apenas esta possibilidade, a de circunscrever o processo de investigação ao trabalho do assistente social – evidentemente incluindo ai o processo de aprendizagem realizado pelos alunos através do estágio supervisionado –, ela foi largamente construída nesta direção. (ALMEIDA, 2006, p. 3).

A prática profissional representa uma das possibilidades de se produzir

conhecimento, como é o caso do Serviço Social, que valoriza o saber que se origina do

fazer profissional, todavia é preciso organizar o conhecimento para compreender as

questões novas, os temas emergentes. É preciso registrar detalhadamente o que foi

observado, estimular questões, construir pressupostos/hipóteses à pesquisa. A hipótese é

uma pressuposição que se faz sobre o problema que se quer estudar, baseada numa

reflexão teórica, nas leituras prévias, na observação sobre a realidade. É uma resposta

prévia para o problema que se vai investigar, que pode ser confirmada ou não ao final da

pesquisa (MINAYO, 1994).

É importante ressaltar que não existe pesquisa sem pressupostos/hipóteses. É

preciso mirar a realidade, questionar e alçar um novo conhecimento, reforçando ou

negando. Se fosse só para confrontar não teria sentido, na verdade é para acrescentar

elementos. A realidade é muito mais plena e rica de elementos do que aquilo que se pode

captar. É o constante ir e vir à realidade. Implicando movimento, que muitas vezes é o

movimento do intelecto. O conhecimento é provisório, porque a realidade é provisória, está

sempre mudando (GUERRA, 2011).

A ação do sujeito social sobre uma realidade (instituição, por exemplo) tende a selecionar alguns momentos da realidade que são considerados essenciais. O sujeito separa o essencial do acessório (secundário), para atingir determinados objetivos. Aqui o pensamento sujeito faz recortes na realidade, debruça-se sobre ela, estuda-a, avalia-a, arrisca-se a explicá-la através de conceitos que conhece, busca novos conceitos para tal, e organiza respostas à realidade com base nos estudos realizados. Não obstante, no nosso dia-a-dia estamos sempre trabalhando com totalidades, mais ou menos amplas e complexas. Em toda realidade social, manifestam-se características de âmbito universal, particular e singular. (GUERRA, 2009, p. 11).

Para Montaño (2007) toda profissão se constitui através das respostas que

consegue dar a diversas necessidades que determinam um conjunto de demandas sociais.

O serviço social deve transcender a prática rotineira desenvolvida em torno de velhos

campos, deve incorporar o estudo, a pesquisa ao espaço profissional e as novas respostas

tanto as demandas já existentes quanto as emergentes.

É preciso apreender, historicamente, as demandas potenciais gestadas,

contribuindo assim para recriar o perfil profissional do assistente social, indicando e

antecipando perspectivas, no nível da elaboração teórica, da pesquisa ou da intervenção

profissional, perspectivas capazes de responder às exigências de um projeto profissional

coletivamente construído e historicamente situado (IAMAMOTO, 2004).

Só o “fazer” é limitado, agora, quando há reflexão sobre a intervenção, o

aprendizado é outro. Quando se reflete sobre a realidade, o sujeito aprende muito, pois “a

realidade nunca mais será a mesma”, neste sentido se faz necessário utilizar as palavras de

Lulu Santos: “nada do foi será” (GUERRA, 2011, palestra).

Marsiglia (2006) relata que há pesquisa que contribui para o avanço do

conhecimento teórico ou que contestam teorias estabelecidas. É muito freqüente na pós-

graduação lato sensu e/ou stricto sensu perguntar o que o trabalho pesquisado trouxe de

contribuição para o Serviço Social?

A pesquisa para o serviço social fornece subsídios a análise do processo de

produção e reprodução da vida social sob o capitalismo, no âmbito do qual utiliza da teoria

das ciências sociais e se situa, com vista a instrumentalidade para elaboração de projetos

de intervenção e para intervenção propriamente dita (GUERRA, 2009; IAMAMOTO, 2008;

PAULO NETTO, 2001).

A pesquisa é, também, a mediação privilegiada na relação entre o conhecimento e

a realidade, uma vez que esta vem a contribuir no clichê, recorrentemente, da dicotomia

teoria e prática, já superada desde a década de 1980 (GUERRA, 2011).

A sistematização (da prática) aparece como uma dupla requisição: de uma parte, é a condição para otimizar a própria intervenção prática, organizando e generalizando a experiência dos assistentes sociais e cristalizando pautas de procedimento profissional, reconhecidas como tais e transmissíveis via formação institucional; de outra, e fundamentalmente, é o passo compulsório para a fundação profissional, viabilizando o “recorte” de um “objeto” em função do qual a elaboração teórica desenvolveria o seu movimento de constituição de um saber específico. (PAULO NETTO, 1989, p. 150).

Para Guerra (2011) o profissional não pode entender que a sistematização da

prática é a pesquisa propriamente dita. A sistematização é importante para fazer uma

avaliação de sua intervenção, porque só se aprende a fazer refletindo. A pesquisa científica

não pode ser identificada com a mera sistematização da prática, esta exige rigor e técnicas

apropriadas, como entrevistas, questionário, entre outros.

Os Instrumentos ou técnicas de pesquisa são os mais variados, desde a análise

documental até as formas mais diversas de observação, recolha de dados, quantificação.

Esses instrumentos são meios de que se vale o pesquisador para “apoderar-se da matéria”,

mas não devem ser identificados com o método. Só depois de concluído o trabalho, de

investigação, é que se pode descrever, adequadamente, o movimento real (PAULO NETTO,

2009).

3 CONCLUSÃO

É necessário pensar a formação profissional no presente, ao mesmo tempo, fazer

um balanço do debate recente do Serviço Social, indicando temas a serem desenvolvidos e

as pesquisas a serem estimuladas para decifrar as novas demandas que se apresentam ao

Serviço Social, tendo em vista que é pela via da formação e capacitação profissional,

permanente, que a investigação ganha estatuto de elemento constitutivo da própria

intervenção profissional.

Corroboramos com Guerra (2011) para responder a questão, almejamos que este,

possa contribuir com a formação profissional, pois não queremos uma massa de

profissionais despolitizados e desqualificados;

Esperamos uma profissão com perfil crítico, que desnaturalize a pobreza e todas as

formas de desigualdade e opressão, que enfrente individual e coletivamente a banalização

da vida, a barbárie social;

Queremos a garantia da formação de sujeitos políticos críticos com perfil analítico

totalizante, postura investigativa e propositiva;

Uma formação que concretize as diretrizes e um exercício que objetive

cotidianamente os princípios e compromissos ético-político-profissionais.

O desafio presente é criar uma cultura profissional que valorize a dimensão

investigativa, bem como discutir e fomentar uma política nacional de pesquisa para a área,

utilizando para isto a ética, uma vez que “fins éticos exigem meios éticos” (CHAUÍ, 2000

apud GUERRA, 2011, palestra).

A investigação, quando compromissada em libertar a verdade de seu confinamento ideológico, é certamente um espaço de resistência e de luta. Trata-se de uma atividade fundamental para subsidiar a construção de alternativas críticas ao enfrentamento da questão social que fujam a mistificação neoliberal; para subsidiar a formulação de políticas sociais alternativas aos dogmas oficiais, a atuação dos movimentos das classes sociais, subalternas, assim como a consolidação de propostas profissionais que fortaleçam a ruptura com o conservadorismo e afirmem o compromisso com o trabalho, os direitos e a democracia. (IAMAMOTO, 2008, p. 452).

Concordamos com Iamamoto (2005), Paulo Netto (2006) e Guerra (2011) quando

relatam que não basta coordenar e executar políticas sociais, projetos e programas, é

necessário avaliá-los, coordenar pesquisas, realizar vistorias, perícia técnica, elaborar

laudos, coletar informações, emitir parecer técnico sobre matéria de serviço social,

identificar os recursos da comunidade, formar assistentes sociais críticos e competentes.

O Serviço Social trata-se duma profissão eminentemente interventiva e, no

cumprimento de suas atribuições a pesquisa está inserida como uma das atribuições

privativas dos Assistentes Sociais, como inerente a profissão.

O exercício da profissão exige um sujeito profissional que tenha competência para

propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de

trabalho, suas qualificações e atribuições profissionais. Requer ir além das rotinas

institucionais para buscar apreender, no movimento da realidade, as tendências e

possibilidades, ali presentes, passíveis de serem apropriadas pelo profissional,

desenvolvidas e transformadas em projetos de trabalho, em projetos de intervenção, sob a

luz da teoria social de Marx.

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