O Mulato Capa

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DEPARTAMENTO DE LETRAS LITERATURA BRASILEIRA I ANÁLISE “O MULATO” Sarah Cristina Fernandes Feitosa

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

DEPARTAMENTO DE LETRAS

LITERATURA BRASILEIRA I

ANÁLISE “O MULATO”

Sarah Cristina Fernandes Feitosa

Goiânia,

2012

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ANÁLISE “O MULATO”

LITERATURA BRASILEIRA I

Sarah Cristina Fernandes Feitosa

Goiânia,

2012

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho propõe a crítica/análise literária de O Mulato, publicado em 1881, uma

das principais obras de Aluísio Azevedo.

Aluísio Azevedo foi um romancista considerado o pioneiro do naturalismo no Brasil.

Nasceu em São Luís, Maranhão, em 14 de abril de 1857. Foi um crítico impiedoso da

sociedade brasileira e suas instituições. Além de O Mulato, suas principais obras foram

Casa de Pensão (1884) e O Cortiço (1890).

A obra em questão mostra o romance proibido entre Ana Rosa e Raimundo, que por

ser negro não é aceito tanto pelo pai da moça quanto pela sociedade em geral.

A análise literária contida aqui foi idealizada com base nos elementos estruturais da

narrativa, a saber: enredo, tempo, espaço, foco narrativo e personagens. Também serão

apresentadas as características da época de publicação da obra.

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2 CONTEXTO HISTÓRICO DO NATURALISMO

O naturalismo é uma análise mais profunda do realismo. Surge como contraponto ao

romantismo, que começou a desaparecer no final do século XIX. Esse foi um período de

inúmeras transformações políticas, culturais, econômicas e sociais. Surgem grandes

estruturas industriais, a massa operária se acumula nas regiões urbanas e há grande

exploração de mão de obra.

Com essa sociedade como plano de fundo, surgem novas interpretações da

realidade. Temos o positivismo de Comte, o socialismo científico de Marx e Engels, e o

evolucionismo de Darwin, por exemplo. Essas correntes conquistaram os intelectuais

brasileiros, que se renderam ao espírito científico da época. É nesse contexto que surge o

naturalismo, entre outras escolas literárias.

O naturalismo se estabelece no Brasil em 1881, com as obras Memórias Póstumas

de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O Mulato, de Aluísio Azevedo.

3 ANÁLISE LITERÁRIA

3.1 ENREDO

Raimundo, filho de José Pedro da Silva, um ex-traficante de escravos, e da negra

Domingas, viaja para Lisboa, órfão de pai e afastado da mãe. Tempos depois retorna ao

Brasil, já formado, e decide visitar o tio, Manuel Pescada, em São Luís.

Bem recebido pela família do tio, logo Raimundo desperta a atenção de sua prima

Ana Rosa, que lhe declara seu amor. O sentimento, apesar de correspondido, encontra

como obstáculos o pai da moça, que a quer casada com Dias, um dos caixeiros da loja; sua

avó, mulher muito racista; e Cônego Diogo, responsável pela morte do pai de Raimundo e o

mais empenhado em acabar com a felicidade do mesmo.

Apesar das proibições, Ana e Raimundo combinam uma fuga. Porém, uma de suas

cartas acaba em mãos erradas e no dia da fuga são surpreendidos. Dias, o rival, acerta um

tiro pelas costas em Raimundo. Ana Rosa acaba casando-se com Dias.

3.2 TEMPO

O tempo predominante utilizado na obra é o cronológico, pois a narrativa segue a

ordem de acontecimento dos fatos.

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“Entrou primeiro na varanda o Bento Cordeiro. [...] Bento atravessou silencioso a varanda

cortejando com afetada humildade o cônego e Ana Rosa, e seguiu logo para o mirante, onde

moravam todos os caixeiros da casa.

O segundo a passar foi Gustavo de Vila Rica. [...] Em seguida, atravessou a varanda, muito

apressado. [...]”

“Manuel e Raimundo instalaram-se num quarto da casa velha, outrora morada da sogra de

José da Silva. [...] E Raimundo sem poder conciliar o sono, demorava-se até a pensar em coisas de

todo indiferentes.[...]

3.3 ESPAÇO

Em O Mulato, o espaço ou ambiente físico é São Luís do Maranhão. Ou seja, é o

espaço real no qual os personagens se movem e desenvolvem a ação.

“Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia

entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam, as vidraças e os

lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata

polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo o

instante, abalando os prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçados,

invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se

encontra vã viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras

para o jantar ou andavam no ganho.”

3.4 FOCO NARRATIVO

“Foco Narrativo, ou Ponto de Vista, é o elemento da narração que compreende a

perspectiva através da qual se conta uma história. É, basicamente, a posição a qual o

narrador, enquanto instância narrante ou voz que articula a narração, conta a história.” (O

Ofício Literário, João Felipe Brandão Jatobá)

Em O Mulato, temos um narrador onisciente, fala em 3.ª pessoa.De acordo com a

descrição de Friedman, ele tem liberdade para narrar do ângulo de sua preferência, acima,

do centro, da periferia dos acontecimentos. Pode adotar sucessivamente várias posições.

Como canais de informação, predominam suas próprias palavras e pensamentos. A

principal característica do narrador onisciente no naturalismo, é que ele permanece neutro,

ou seja, evita comentar sobre o comportamento das personagens.

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“Ana Rosa abaixou o rosto, afogada em pejo e contentamento, sem querer interrompê-lo,

para não desperdiçar uma só daquelas palavras, que lhe faziam tanto bem. O que Raimundo lhe dizia

dava-lhe vontade de chorar e cair-lhe agradecida nos braços, traduzindo em beijos todas as ternuras,

que o pudor vedava aos lábios proferissem.

Haviam parado, junto um do outro; batia-lhes em cheio no rosto o sol nascente. Emudeceram.

O moço tomou-lhe as mãos, e os dois fitaram-se com um juramento nos olhos, e r ao falaram mais

em amor, enquanto esperavam por Manuel e Mana Bárbara, que de novo se tinham posto a

caminhar.

Meia hora depois chegavam todos ao sitio. Raimundo fazia pasmar com o seu bom humor

confessava-se no momento mais feliz da sua vida; deu até para brincalhão e ferrou, ao entrar na

casa, um abraço em D. Amância, que viera recebê-los à porta.”

3.5 PERSONAGENS

“A personagem é um ser fictício que é responsável pelo desempenho do enredo; em

outras palavras é quem faz a ação. [...] A personagem é um ser que pertence à história e

que, portanto, só existe como tal se participa efetivamente do enredo.” (Como analisar

narrativas, Cândida Vilares Gancho).

Os personagens principais em O Mulato são:

Raimundo – Filho José Pedro da Silva, irmão de Manuel Pescada, com a escrava

Domingas. Raimundo é um herói típico do romantismo: superioridade moral, intelectual, e

até mesmo física.

Ana Rosa – Prima e noiva de Raimundo, filha de Manuel Pescada, que não concorda

com o casamento da filha e quer que a mesma se case com o caixeiro Luís Dias.

Cônego Dias – Assassino do pai de Raimundo.

Luís Dias – Empregado de Manuel Pescada, futuro marido de Ana Rosa e assassino

de Raimundo.

Manuel Pescada – Pai de Ana Rosa. Um português, descrito como vermelho, forte e

trabalhador.

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4 CONCLUSÃO

A obra de Aluísio Azevedo causou escândalo na sociedade maranhense por sua

linguagem puramente naturalista. Algumas características naturalistas presentes na obra

são: a crítica social, como uma sátira através das personagens, como um comerciante rico e

grosseiro, a velha beata e rabugenta, o padre assassino, entre outras; O anti-clericalismo,

projetado na figura do padre; A oposição ao preconceito racial, muito forte na sociedade da

época; O triunfo do mal, pois no final o herói morre, a sua amada acaba casando-se com o

assassino e todos os crimes cometidos ficam impunes.

O Mulato foi o marco inicial do naturalismo no Brasil.

5 REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Aluízio. O Mulato. Martin Claret. São Paulo, 2006.

LEITE, Ligia. O Foco Narrativo. Ática. São Paulo, 2002.

ZANODÁ, Andiara. Realismo, Naturalismo e a obra em O Mulato. Disponível em:

http://www.ceedo.com.br/agora/agora6/realismonaturalismoeaobraomulato_AndiaraZandon

%E1.pdf

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/o/o_mulato