O NEC NOS 50 ANOS DA FACED: AS ESCRITAS DE NOSSAS AÇÕES · Interno em torno da temática "O NEC...

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Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Educação Núcleo de Educação em Ciência, Matemática e Tecnologia IV Seminário Interno do Núcleo de Educação em Ciências, Matemática e Tecnologia O NEC NOS 50 ANOS DA FACED: AS ESCRITAS DE NOSSAS AÇÕES Juiz de Fora, 8 e 9 de março de 2018. Local: NEC/Faced/UFJF

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Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Educação

Núcleo de Educação em Ciência, Matemática e Tecnologia

IV Seminário Interno do Núcleo de Educação em Ciências, Matemática e

Tecnologia

O NEC NOS 50 ANOS DA FACED:

AS ESCRITAS DE NOSSAS AÇÕES  

 

 

 

Juiz de Fora, 8 e 9 de março de 2018.

Local: NEC/Faced/UFJF

 

 

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IV SEMINÁRIO INTERNO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, MATEMÁTICA E TECNOLOGIA  

[O NEC NOS 50 ANOS DA FACED: AS ESCRITAS DE NOSSAS AÇÕES]

COMISSÃO ORGANIZADORA: CLAUDIA AVELLAR FREITAS

MARIANA CASSAB RITA DE CÁSSIA REIS

PEDRO A. A. MACEDO (BOLSISTA)

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Docentes do Núcleo:

Adriana Aparecida Silva

Angélica Cosenza Rodrigues

Cláudia Avellar Freitas

Clarice Parreira Senra

Giovani Cammarota Gomes

Graziela Piccoli Richetti

Guilherme Trópia Barreto de Andrade

Margareth Aparecida Sacramento Rotondo

Mariana Cassab

Paulo Henrique Dias Menezes

Reginaldo Carneiro

Rita de Cássica Reis

Sônia Maria Clareto

Bolsistas do Núcleo:

Alessandra Azevedo (ex-bosista)

Deisiane Magda Teixeira da Silva

Gabriel Grazinoli Peluso

Pedro Amarilho Almeida Macedo

Rafaela Medeiros (ex-bolsista)

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APRESENTAÇÃO

O pensamento só pode enfrentar a tarefa de transformar o mundo se não se esquivar à luta pela autotransformação, ao acerto de contas com aquilo que ele tem sido e precisa deixar de ser. (...) O desafio não consistia em assimilar o saber, mas em transformá-lo e refundá-lo. A cultura devia ser reconhecida como um terreno contraditório. A dialética precisa romper a crosta dos produtos culturais coisificados e mostrar que o passado não está definitivamente concluído, que ele continua agindo em nós, com toda a sua perturbadora ambiguidade. (Leandro Konder em Walter Benjamin: o marxismo da melancolia, 1989)

Em tempos políticos de ataque ao Estado democrático de direito e suas

instituições republicanas, como a universidade pública, o Núcleo de Educação em

Ciências, Matemática e Tecnologia (NEC), da Faculdade de Educação da UFJF, entende

que contar nossas histórias de utopia, luta e trabalho coletivo é disputar os sentidos de

um passado, de um presente e de um futuro de ações compromissados com a educação

pública, gratuita e de qualidade. Assim, em 2018, organizamos o nosso IV Seminário

Interno em torno da temática "O NEC nos 50 anos da FACED: as escritas de nossas

ações". Nossa intenção é socializar o trabalho produzido historicamente no NEC e, a

partir desse movimento, trazer elementos de reflexão acerca de nossas escritas, da área

de Educação em Ciências e Matemática, da história da Faculdade de Educação e da

própria UFJF. Criado no final da década de 1980, o NEC é a expressão de uma história

que reúne o trabalho de um coletivo de professoras e professores. Na programação do

IV Seminário perseguimos o desafio de fazer uma leitura dialética entre os percursos

percorridos por tantos atores no passado e as caminhadas presentes feitas por nossas

professoras e nossos professores e todos os sujeitos integrados às suas ações, como

educadores da escola básica, bolsistas de iniciação científica, extensão, treinamento

profissional e alunos da pós-graduação. Isso significou por em relevo na programação

do evento dois grandes marcos da existência do NEC: as atividades desenvolvidas no

contexto da Equipe de Pesquisa e Apoio ao Ensino de Ciências e Matemática (EPAEC),

durante toda a década de 1980 e os trabalhos em pesquisa, ensino e extensão

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desenvolvidos na contemporaneidade. O trabalho rico e potente desenvolvido na época

da EPAEC testemunha um tempo vigoroso de políticas voltadas à educação científica e

a formação docente nas áreas das ciências, como a Física, a Química, a Biologia e a

Matemática, identificada na literatura especializada como movimento de renovação do

ensino de ciências. Via a ação de instituições, sujeitos e a produção de práticas e

recursos materiais, o movimento renovador estabeleceu parâmetros para o trabalho dos

educadores, de modo a produzir novas orientações didático-pedagógicas para o ensino

das matérias científicas. Assim, o que se percebe é que ao lado da renovação de

conteúdos e metodologias - que dá grande ênfase à experimentação e ao ensino ativo -,

o que estava em questão eram as disputas em torno de novas finalidades sociais e

educacionais que se configuravam para a escola e, por conseguinte, novos modos de ser

docente pensados nas faculdades de educação e universidades. Ou seja, ao evocamos a

EPAEC e seus atores na programação do evento, procuramos integrar leituras sobre as

ações do NEC aos cinquenta anos da Faculdade de Educação da UFJF e da conjuntura

política da época. Esse mesmo esforço mobiliza nossa intenção de apresentar o também

rico e diversificado trabalho desenvolvido pelos atuais professores do NEC e os grupos

em atuação ai sediados, como o Grupo Travessia, o Grupo de Educação Ambiental

(GEA) e o Grupo de Pesquisa, Práticas e Estudo da Educação de Jovens e Adultos

(GRUPPEEJA); agora, em um contexto político de grande retrocesso e retirada de

direitos. Nossa expectativa é que no IV Seminário os participantes conheçam um pouco

mais sobre nossas escritas do passado, do presente e nos ajude a refletir sobre os

percursos futuros dessas escritas coletivas. Ademais, gostaríamos que os participantes

reconheçam o registro dessa história compartilhada, não apenas como um patrimônio do

NEC e da FACED, mas como uma defesa contundente da universidade pública como o

lócus de produção e troca de saberes, fazeres e encontros potentes para a construção de

uma sociedade democrática e justa.

Mariana Cassab

Rita Reis

Claudia Avellar

Comissão organizadora

Juiz de Fora, 8 de março de 2018.

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PROGRAMAÇÃO

Quinta- feira (08/03/18) 08:30h às 9:00h - Café (café coletivo de confraternização em frente a sala Paulo Freire) 09:00h às 12:00h – Mesa redonda. (Sala Paulo Freire)

Convidados: Prof. Roberto Alves Monteiro - professor aposentado da Faced/UFJF Profa. Monica Jacomedes - professora e coordenadora na SME/JF Prof. André Martins – Diretor da Faced/UFJF Mediadora: Profa. Sonia Clareto - professora da Faced-NEC/UFJF

09:00h às 12:00h – Inauguração da exposição "O NEC e seus objetos: testemunhos de sonhos e ousadias" saguão da secretaria da FACED. 12:00h às 14:00h - almoço 14:00h às 17:00h - Painel dos relatos de ação (Estúdio do NEC) Horário/Grupo Pesquisadores e Colaboradores Títulos 14:00 às 15:00h/ GRUPPEEJA

Mariana Cassab (Profa FACED/UFJF e PPGE – coordenadora), Adriana Aparecida Silva (Profa FACED/UFJF), Ágnes Nascimento de Souza (Aluna PPGE/UFJF), Ana Carolina Resende (Professora EJA Colégio João XXII e aluna PPGE/UFJF), Cristina Sancho (Professora SE-JF e aluna PPGE/UFJF), Chrystianne Assis (Aluna PPGE/UFJF), Conceição Brant da Luz (Coordenadora pedagógica SE-JF e aluna PPGE/UFJF, Érica Franco (Coordenadora Pedagógica EJA SE-JF e aluna PPGE/UFJF), Daina Lenis Damasceno (Bolsista Iniciação Científica), Marta Bomtempo (Bolsista Iniciação Científica), Juliane Deotti(Bolsista Iniciação Científica), Wallace Mesquita (Estagiário voluntário)

O Grupo de Pesquisa, Práticas e Estudos da EJA: sujeitos e ações

15:00 às 16:00h - GRUPO TRAVESSIA

Sonia Clareto, Margareth Rotondo, Giovanni Cammarota

ENTRE TRAVESSIAS: um grupo em produção, produzindo-se

16:00 às 17:00h - GEA

Jaqueline Cerqueira (licencianda em Ciências Biológicas/UFJF), Mariana Sell (licencianda em Ciências Biológicas/UFJF), Angélica Cosenza (Profa. FACED/UFJF), Fernanda Spolaor (Doutoranda PPGE/UFJF)

O Que Fazem As Escolas Que Dizem Fazer/Ter Uma Horta?

Camila Cristina Rotatori Pereira (licencianda em Ciências Biológicas/UFJF), Angélica Cosenza (Profa. FACED/UFJF)

Projeto De Treinamento Profissional No Âmbito Do Grupo De Pesquisa Em Educação Ambiental - Gea/Ufjf

Angélica Cosenza (Profa. FACED/UFJF), Michele Alice da Silva (Mestranda PPGE/UFJF), Jaqueline Cerqueira de Araújo (licencianda em Ciências Biológicas/UFJF), Camila Cristina Rotatori Pereira (licencianda em Ciências Biológicas/UFJF),

Potencializando Conflitos Ambientais A Partir Da Relação Comunidade-Escola: Uma Abordagem Discursiva

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Sexta- feira (09/03/18) 08:30h às 9:00h Café (Estúdio do NEC) 09:00h às 12:00h Painel dos relatos de ação (Estúdio do NEC)

Horário/Grupo Pesquisadores e Colaboradores Títulos 09:00 às 09:30h

Guilherme Trópia (Prof. FACED/UFJF)

Narrar Varandas, Avarandar Educação Em Ciências E Literatura

09:30 às 10:00h

Claudia Avellar (Profa. FACED/UFJF)

Reflexões sobre o trabalho de formação de professores Experiências na iniciação à pesquisa

10:00 às 10:30h

Rita de Cássia Reis (Profa. FACED/UFJF)

Transformações da matéria: rompimentos e formações de novas ligações para além da Química

10:30 às 11:00h

Paulo Henrique Dias Menezes (Prof. FACED/UFJF), Wagner da Cruz Seabra Eiras (Aluno Doutorado PPGE), Elpídio Soares Júnior (Bolsista de Iniciação Científica)

Capacitação e prática docente no ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental: uma experiência com brinquedos científicos

11:00 às 11:30h

Margareth Rotondo (Profa. FACED/UFJF)

Entre formação docente e políticas cognitivas

11:30 às 12:00h

Síntese das apresentações.

12:00h às 14:00h - almoço 14:00h às 17:00h – As ações do NEC no contexto do campo de Educação em Ciências - um excedente de visão. Diálogos reflexivos a partir das considerações produzidas pela professora convidada Profa. Sandra Escovedo Selles (UFF-FE/PPGE). Debate de ações coletivas - (Re)organização dos interesses de pesquisa, ensino e extensão – diálogos e construção de um documento síntese. (Estúdio do NEC)

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Sumário

Narrar varandas, avarandar educação em ciências e literatura.................................... 9

Reflexões sobre o trabalho de formação de professores.............................................. 10

Experiências na iniciação à pesquisa........................................................................... 12

O grupo de pesquisa, práticas e estudos da EJA: sujeitos e ações............................... 14

Transformações da matéria: rompimentos e formações de novas ligações para além da química...................................................................................................................

16

Capacitação e prática docente no ensino de ciências nos anos iniciais do ensino fundamental: uma experiência com brinquedos científicos........................................

18

Potencializando conflitos ambientais a partir da relação comunidade-escola: uma abordagem discursiva..................................................................................................

20

O que fazem as escolas que dizem fazer/ter uma horta? ............................................ 22

Projeto de treinamento profissional no âmbito do grupo de pesquisa em educação ambiental - GEA/UFJF................................................................................................

24

Entre formação docente e políticas cognitivas........................................................ 26

ENTRE TRAVESSIAS: um grupo em produção, produzindo-se............................... 28

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RESUMOS

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NARRAR VARANDAS, AVARANDAR EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E LITERATURA

Guilherme Trópia

NEC/FACED/UFJF [email protected]

Esta pesquisa parte de um estranhamento a uma acusação constantemente feita por pesquisadores do campo da educação em ciências no Brasil: os pedagogos não sabem não sabem ensinar ciências naturais nas escolas de educação básica. Esta pesquisa analisa experiências de formação de professores de ciências naturais no curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora (Minas Gerais, Brasil) que se afastam do ponto de vista que os pedagogos não sabem os conteúdos de ciências naturais para pensar outras perspectivas formativas. Nessas experiências, os estudantes em formação foram convidados a ler textos literários de diferentes autores, como Mia Couto, Manoel de Barros e Clarice Lispector. A leitura central dessas experiências está relacionada ao romance A varanda do Frangipani de Mia Couto no qual a natureza é recriada a fim de produzir novas experiências de pensar e novas maneiras de inventar a vida. A varanda é uma metáfora do tempo e do espaço para essas experiências de pensamento. A partir dessas leituras literárias, os estudantes foram convidados a contar e escrever, em imagens e em textos, as suas próprias varandas. Para além de simples descrições, essa proposta pedagógica foi uma tentativa de buscar, a partir de um posicionamento marginal ao conhecimento científico pré-estabelecido, a potencialidade de criar e inventar formas de ensino. Para criar pensamentos com essas experiências nesta investigação, partimos das seguintes questões : a partir de movimentos de percepção e expressão com leituras literárias e aquilo que temos inventado como mundo natural, que textos e imagens expomos, experimentamos e estamos atentos ao pensar a formação de professores de ciências em um curso de pedagogia? Como as narrativas literárias e ficcionais expressam e abrem movimentos de percepção do mundo natural e como estas percepções diferem e se conectam com os modos que as ciências olham e narram o mundo? O fundamento teórico da pesquisa situa sobre as noções de igualdade de inteligências e de emancipação intelectual do autor Jacques Rancière, segundo o qual nós todos somos igualmente qualificados para pensar. E o pensamento nessa rede teórica não se refere a interpretação ou a explicação, mas a um exercício de ganhar experiência de pensamento sem prescrição do que pensar ou de que verdade sustentar. A metodologia de pesquisa escolhida situa na produção de textos literários que adentram aos registros escritos das experiências formativas no curso de Pedagogia. Os resultados da pesquisa são mini-contos e imagens-varanda que são apresentados ao leitor ao longo de toda o trabalho. Os mini-contos e as imagens varanda, criados pelo pesquisador como exercício metodológico de pesquisa, não visam um retrato, uma represesntação da realidade vivida nos cursos de formação, mas eles percorrem maneiras de contar que, segundo Jacques Rancière, se tornam indefinidos as fronteiras da razão dos fatos e da razão da ficção. As práticas de escrita da pesquisa contam e reinventam as varandas narrradas nos cursos de formação sob a forma de composições entre ensino, ciências naturais e literatura. Assim, os resultados da pesquisa não desejam reproduzir e analisar experiências educativas, mas produzir pensamentos com essas experiências. A potência literária da pesquisa partilha outros movimentos de escrita entre a formação de professores de ciências em um curso de Pedagogia e aquilo que temos inventado nas práticas escolares como o mundo natural.

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REFLEXOES SOBRE O TRABALHO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Claudia Avellar Freitas NEC/FACED/UFJF

[email protected] As atividades que venho desenvolvendo em ensino, pesquisa e extensão no âmbito do NEC se agrupam em três frentes de trabalho: o projeto de extensão “Encontros Formativos”, que em 2017 ofereceu quatro oficinas para professores e estudantes de licenciatura e em 2018 planeja oferecer mais outras quatro; os projetos de pesquisa fomentados pelo edital de Bolsas de Iniciação Científica da UFJF, “Discursos multimodais em aulas de Biologia e a produção de significados em quatro domínios da prática” que foi finalizado em julho e “Conhecimentos e pedagogias em construção em projetos do Programa de Bolsas de Iniciação à docência”, que iniciamos em agosto; o projeto Interdisciplinar de Ciências (IDC1) do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), da CAPES, que temos desenvolvido desde 2014. Decidi apresentar os resultados do projeto ID/PIBID em nosso seminário por estarmos finalizando um período muito produtivo e creio ser uma boa oportunidade para refletir sobre o trabalho para planejar as ações futuras. Estou coordenando o projeto desde 2014 e antes participava como colaboradora, de 2012 a 2013, período no qual outros professores do NEC também estavam envolvidos e foi quando comecei a entender o que é o PIBID. O projeto IDC1 envolve três escolas públicas de Juiz de Fora que recebem, em quatro turmas dos anos iniciais do ensino fundamental, licenciandos dos cursos de pedagogia, biologia, física e química, denominados bolsistas de iniciação à docência (ID). Semanalmente nos reunimos no NEC: eu as três professoras supervisoras e os ID que, inicialmente, eram dezoito, seis bolsistas por escola. Estas reuniões, no princípio do projeto em 2012, eram de leitura de textos e discussão de ações a serem feitas nas escolas. Com o passar do tempo fomos observando a grande necessidade que todos tinham de contar o que estavam vivenciando nas escolas e que muitos não liam os textos que eram enviados, passamos, então, a destinar um tempo da reunião para o relato de experiências, além de também promovermos algumas leituras e assistir vídeos. Ao construir o projeto para o edital do quadriênio que agora se encerra, planejei ações de visita a museus, cinema na escola, aulas práticas, oficinas e construção de hortas. Algumas delas foram executadas e outras não, pois a CAPES nos forneceu apenas metade do valor de custeio que solicitamos em nosso projeto. As atividades que irei descrever e comentar aqui foram as que se tornaram rotineiras. Os encontros foram se tornando espaço para contar o que acontecia nas escolas e, a partir de 2015, as trocas de experiências ficaram sendo comuns e as leituras se tornaram muito raras. Os bolsistas ID ora se encantavam com as crianças e as aulas que estavam acompanhando nas escolas, ora se surpreendiam com a falta de estrutura as falas de professoras e diretores das escolas, que lhes mostravam apenas dificuldades e vinham cheias de reclamações e mágoas. Nas reuniões as reações dos estudantes de licenciatura e de pedagogia eram de surpresa quanto às falas uns dos outros. Havia muito conhecimento diferente em jogo, uns dominavam conceitos e teorias pedagógicas que os outros nunca haviam ouvido falar, enquanto outros davam “aulas” sobre física, química e biologia para alunos perplexos em saber que a cobra e a minhoca não eram parentes próximos. Em relação aos conhecimentos observei que a base de conhecimentos para o ensino (SHULMAN,1987) era o cabedal que os futuros pedagogos traziam para nossas reuniões, enquanto que isso não era domínio dos

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licenciandos que possuíam conhecimento de conteúdo específico para oferecer em troca. Observei muitas vezes que a experiência das professoras, nos momentos de planejamento antecipava a reação de seus alunos mediante propostas de atividades e quantidade e tipo de conteúdos a serem ensinados, que estavam sendo apresentados pelos bolsistas ID. Elas aprenderam bastante sobre conteúdos específicos de ciências também. Observei que, na euforia de planejar as atividades havia uma ausência de pensar objetivos pedagógicos e uma rápida adesão de todos a ações que fossem divertidas, evidenciando que estratégias e recursos pedagógicos que já haviam sido usados por outros, com sucesso, eram escolhidos primeiro e que, apenas depois se pensava o porquê de se ensinar com aquilo e por meio daquilo. Então insisti em pensarmos os objetivos, os “para que” e “por que” das atividades escolhidas e percebi que era muito difícil para as professoras e bolsistas ID externarem, conscientemente, suas razões pedagógicas, assim como também notei, pelos relatórios semestrais que não se fazia relação entre os objetivos e as avalições, no caso do ensino de ciências. Já no ensino da leitura e escrita isso era facilmente realizado por elas. Aqui não há espaço suficiente para que eu possa fazer uma análise, nem mesmo para relatar as experiências que tivemos em detalhe, porém, concluo afirmando que é muito importante conhecer os processos educativos que formam os professores de ciências, compreendendo como eles se dão a partir da perspectiva dos educadores em ciências das séries iniciais e não com um olhar externo de avaliadoras dos processos. Como participantes que estivemos imersas durante um longo tempo nesse lugar é que buscamos, atualmente no projeto de iniciação científica, coletar e analisar nossos dados. Penso que é necessário investigar o que esses professores sabem e como mobilizam esses saberes, inclusive quando lhes falta o domínio do conteúdo. Cappelle (2017) afirma que a experiência como pesquisadora participante por três anos, nesse segmento de ensino, mostrou que a “formação ampla e complexa dos pedagogos, centrada no desenvolvimento da criança, no processo de escolarização e na área da linguagem é fundamental para a educação científica” (id. p.39). Por isso ela defende que a constituição da disciplina escolar ciências seja feita a partir do diálogo entre vários profissionais, “dissolvendo as hierarquias entre especialistas e não especialistas em Ciências e somando esforços para superar tensões e dificuldades historicamente estabelecidas” (idem).

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EXPERIENCIAS NA INICIACAO À PESQUISA

Claudia Avellar Freitas NEC/FACED/UFJF

[email protected] As contribuições que trago para o Seminário em relação à pesquisa são resultados de dois projetos de iniciação científica: um já finalizado que durou dois anos, envolvendo o bolsista Rodolfo Rocha, que teve como objetivo descrever como discursos multimodais eram utilizados em aulas de Biologia; outro que se iniciou em agosto de 2017, envolve a bolsista Thais Cristina Antônio e tem como objetivo compreender o que aprendem e como aprendem os bolsistas de iniciação à docência, na experiência de participar de projetos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência PIBID – UFJF. Em relação ao projeto já finalizado, os conceitos de multimodalidade, discurso e escolarização, foram os mais explorados por meio de leituras e discussões semanais. Durante os primeiros meses de trabalho, fizemos além dos estudos, uma pesquisa em periódicos especializados em divulgar do ensino de ciências, a fim de conhecer que pesquisas já haviam sido publicadas sobre as relações entre o ensino de ciências e biologia e a multimodalidade. No segundo semestre de 2015 acompanhamos as aulas de biologia de duas professoras em uma escola pública da cidade, fazendo anotações de campo e gravações em vídeo de aulas em que os estudantes apresentaram trabalhos. Transcrevemos os vídeos e, com o apoio das anotações nos cadernos de campo, realizamos as análises com base nas teorias de análise do discurso de vertente bakhtiniana, focando nas apresentações dos grupos sobre “Enzimas” e “Agrotóxicos”, pois eles foram os que mais usaram diferentes modos de comunicação, simultaneamente, em suas apresentações orais. Os grupos, que aqui chamarei 1 e 2, fizeram apresentações que diferiram muito uma da outra, em relação às formas de uso dos diferentes modos de comunicação. Neste sentido, as apresentações foram opostas, pois o grupo 1 usou muito texto verbal em sua apresentação de Power Point, usou música com a letra exibida em video e não apresentou quase nenhuma imagem nos slides e quando o fez, as usou simultaneamente ao uso de uma fala que não explicou adequadamente como o modelo imagético exibido na apresentação funcionava. O grupo 2 apresentou-se usando de forma equilibrada os diferentes modos de comunicação, fala gestos e imagens foram usados de modo a expressar significados semelhantes. Quanto ao meio verbal, observamos que não houve repetição de termos em suas falas, que foram ritmadas, sem pressa e apoiadas em texto escrito, com olhar direcionado à plateia e entonação afirmativa, demonstrando confiança. Os slides possuíam imagens que foram descritas oralmente de forma clara e coerente, dando tempo para a plateia identificar as ideias que eles pretendiam comunicar. Concluímos com a suposição de que não são a escola e o ensino de ciências que contribuem, em sua maior parte, para que os estudantes aprendam a usar as diversas ferramentas comunicacionais à disposição para apresentar um trabalho escolar. Entendemos que há outras as fontes de conhecimentos para este “saber fazer”, que imaginamos estejam vinculadas à convivência em suas comunidades de origem, fora da escola, nas quais deve acontecer um tipo de educação informal que desenvolve saberes e habilidades comunicacionais de forma a influenciar fortemente a expressão na escola. No período de vigência da bolsa publicamos um artigo na revista da Sociedade Brasileira de Ensino de Biologia e apresentamos nossos resultados em dois eventos: ENEBIO 2016 e no SEMIC 2017.

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Em relação ao novo projeto, iniciamos fazendo uma busca de resumos de trabalhos publicados sobre o PIBID no Grupo de Trabalho Formação de Professores (GT18) da ANPED, de 2012 a 2017 e nos ENDIPEs de 2010 a 2016. Paralelamente, participamos, de setembro a dezembro das reuniões de grupos de estudo e de planejamento dos projetos PIBID de Pedagogia e Interdisciplinar de ciências 1 e 2, nas quais estudantes, supervisores e coordenadores se engajaram em atividades como leituras, discussões, elaboração de textos e de recursos didáticos. Nossas atividades incluem, para este semestre ler e analisar relatórios enviados à CAPES sobre os projetos PIBID da UFJF. Ainda estamos organizando as leituras dos resumos dos eventos e contamos com o apoio voluntario do estudante Wallace Victor, bolsista PIBID, nesta empreitada. Quanto às primeiras impressões sobre as atividades observadas percebemos que as trocas de experiências são as ações que ocupam a maior parte do tempo das reuniões dos três projetos em que também observamos (auto)reflexões, leituras e comentários sobre alguns conceitos e teorias do campo da educação. Além disso, alguns bolsistas e professores tem certa ligação, não apenas no sentido profissional, mas também no pessoal, pois assuntos pessoais foram tratados, falas sobre certos alunos eram feitas com um carinho especial e aconteciam confraternizações e certas brincadeiras nas reuniões semanais. Algo que foi recorrente mais recentemente foram questões políticas e sociais e a discussão sobre importância das escolas para a vida das comunidades por elas atendidas. Em relação à participação dos bolsistas, notamos diferenças entre os projetos I e II do PIBID ID ciências. Os bolsistas do ciclo II foram bem mais falantes nas reuniões que os do ciclo I, e o contrário ocorreu com as professoras orientadoras, que, no ciclo l eram mais falantes do que os professores do ciclo II, de três professoras apenas uma era mais participativa. Sobre a forma como os recursos pedagógicos foram apresentados e como os relatos de experiência foram feitos, percebe-se que o no âmbito do projeto IDC1 as apresentações possuíam texto verbal e com poucas imagens/fotos das intervenções. Já no IDC2 eles utilizaram pouco ou nenhum texto verbal nas suas apresentações e exploraram bastante imagens e gráficos. A busca por elementos que seriam mais atrativos e lúdicos e que fugissem do tradicional, proporcionando um aprendizado diferenciado e efetivo, foi uma preocupação observada nos três projetos.

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O GRUPO DE PESQUISA, PRÁTICAS E ESTUDOS DA EJA: SUJEITOS E AÇÕES

Mariana Cassab (Profa FACED/UFJF e PPGE – coordenadora) Adriana Aparecida Silva (Profa FACED/UFJF)

Ágnes Nascimento de Souza (Aluna PPGE/UFJF) Ana Carolina Resende (Professora EJA Colégio João XXII e aluna PPGE/UFJF)

Cristina Sancho (Professora SE-JF e aluna PPGE/UFJF) Chrystianne Assis (Aluna PPGE/UFJF)

Conceição Brant da Luz (Coordenadora pedagógica SE-JF e aluna PPGE/UFJF Érica Franco (Coordenadora Pedagógica EJA SE-JF e aluna PPGE/UFJF)

Daina Lenis Damasceno (Bolsista Iniciação Científica) Marta Bomtempo (Bolsista Iniciação Científica)

Juliane Deotti(Bolsista Iniciação Científica) Wallace Mesquita (Estagiário voluntário)

[email protected] O Grupo de Pesquisa, Práticas e Estudo da Educação de Jovens reúne professoras universitárias, professoras da escola básica, alunas de pós graduação e graduandas de diversas licenciaturas ofertadas pela UFJF em torno de questões que cercam a modalidade EJA. Desde 2014, desenvolve investigações no âmbito dos projetos intitulados "O ensino de Ciências na Educação de Jovens e Adultos: leituras curriculares" e “A construção social dos currículos de Ciências e Biologia na Educação de Jovens e Adultos: saberes e fazeres docentes”. Essas têm como objetivo compreender os processos de construção social e histórica dos currículos na EJA, especialmente na área das ciências, em função dos pertencimentos disciplinares da maior parte das integrantes do grupo. Dimensões das políticas curriculares e da própria cultura da escola na qual atuam são consideradas ao se interpelar os currículos como produções complexas e marcadas pelas disputam de poder que condicionam toda produção de um texto de saber. As referidas pesquisas contam com o apoio financeiro da FAPEMIG através da concessão de recursos provenientes do edital FAPEMIG Universal de 2015 e da Proreitora de Pesquisa da UFJF. De 2014 a 2017, as pesquisas se desenrolaram em parceria com o Colégio de Aplicação João XXIII. A escola oferece desde 1996 a modalidade EJA, configurando-se, entre os colégios de aplicação das universidades federais, como uma instituição de vanguarda no que toca a garantia do direito à educação para todos. Compôs o arquivo da pesquisa entrevistas realizadas com gestores e educadores, o acervo diversificado de uma das professoras entrevistadas que reúne relatos docentes, atas de reuniões, produções didáticas e planejamentos de curso e aula e o regimento interno da escola e seu PPP da EJA produzido em 2012. Esse conjunto de fontes foi interpelado a partir de referências do campo do Currículo e da EJA, como Ivor Goodson, Alice Lopes, Elisabeth Macedo, Miguel Arroyo, Ana Clara Di Pierro, Leôncio Soares, entre outros. Em função da condução de reflexões que articulam o campo da EJA e a área de currículo, Miguel Arroyo constitui-se como referencia importante dos trabalhos desenvolvidos pelo grupo, em obras como “Currículo, território em disputa” (2011) e “Passageiros da Noite do Trabalho Para a EJA. Itinerários Pelo Direito a Uma Vida Justa” (2017). No ano de 2018, o GRUPPEEJA irá investir na leitura de obras de Paulo Freire, como “Pedagogia do Oprimido” (1987) e “Educação como prática de liberdade” (2007), na intenção de aprofundar nosso domínio teórico de discussões provenientes do campo da Educação

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Popular. O interesse é investir no debate sobre o eu no mundo, reflexão de si e cultura que esse autor promove. O ano de 2018 também reserva a ampliação do elenco de rede de ensino e escolas parceiras das pesquisas. Desde final de 2017, foram firmadas ações de pesquisa e extensão em parceria com a Secretaria de Educação do Município de Juiz de Fora, através de sua coordenadoria da EJA. Além dessas pesquisas, o GRUPPEEJA também acolhe o desenvolvimento de investigações produzidas por alunas do Programa de Pós Graduação em Educação da UFJF, que se interessam em entender os sentidos que educandos da EJA produzem acerca da escola, da EJA e, especificamente, da disciplina escolar Biologia e problematizar as produções curriculares na EJA em face aos processos intensos de juvenização que atingem essa modalidade de ensino. Novas integrantes se reúnem ao grupo em 2018 ampliando o foco de interesse de pesquisas para as áreas da linguagem, pedagogia e o debate sobre juventude e cultura. Além do trabalho de pesquisa o grupo assume o desafio de contribuir para a produção de práticas inovadoras que persigam os princípios educacionais e políticos próprios da EJA. Por meio do trabalho de produzir essas práticas e materiais, o GRUPPEEJA tem se arvorado, por conseguinte, no campo da formação a partir do entendimento de que é necessário fomentar iniciativas de formação inicial e continuada dos educadores da EJA, investir na elaboração de propostas curriculares sintonizadas às necessidades e interesses dos seus sujeitos e disponibilizar recursos pedagógicos que atendam suas potências em direção à reflexão crítica de si e do mundo. Nesse movimento foram oferecidos, em 2017, em torno do tema gerador “Saúde Alimentar”, oficinas e cursos de formação para: (i) educandos da EJA do Colégio João XXIII no contexto da Semana de Ciências; (ii) participantes da V Semana da Faculdade de Educação da UFJF; (iii) participantes do II Quiencontro realizado na Faculdade de Educação e (iv) educadores da EJA do estado do Rio de Janeiro no contexto do Curso de Especialização Saberes e Práticas da Educação Básica, ofertado pela Faculdade de Educação da UFRJ. Esse acúmulo de experiências contribuíram para a criação do curso de formação para educadores da EJA “O currículo da EJA: provocações a partir de parcerias formativas entre escola-universidade”, em parceria com a SE-JF. A fim de integrar as ações de pesquisa e extensão também foi submetido ao edital “Extensão na interface com a pesquisa” da Próreitoria de Extensão UFJF o projeto “A interface extensão e pesquisa no contexto de formação de educadores da EJA no município de juiz de fora: identidades profissionais e suas produções curriculares”, que aguardamos o parecer. Em suma, novos atores se reúnem ao grupo ampliando nossos interesses, nossos raios de ação e nossos projetos em direção à construção da garantia do direito à educação para todos e todas as brasileiras, independente de seus pertencimentos de classe, étnico-racial, gênero, orientação sexual, território e faixa etária.

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TRANSFORMAÇÕES DA MATÉRIA: ROMPIMENTOS E FORMAÇÕES DE

NOVAS LIGAÇÕES PARA ALÉM DA QUÍMICA.

Rita de Cássia Reis NEC/FACED/UFJF [email protected]

Neste texto, procuro fazer um exercício de excedente de visão na perspectiva Bakhtiniana para refletir e não apenas narrar as ações em pesquisa, ensino e extensão dessa professora principiante que sou. Egressa do curso de Licenciatura em Química da UFJF, posso dizer que a Faculdade de Educação foi responsável pela minha formação pedagógica durante a graduação. Digo responsável, pois ela, com seus professores e alunos, gerou em mim uma atitude responsiva diante da possibilidade em ingressar em uma área de conhecimento – a Educação Química. Foi na Faced que tive o primeiro contato com a área de Educação Química e suas implicações para o ensino e formação docente. De lá para cá se passaram 10 anos, nos quais participei de eventos na área de Educação, fiz treinamento profissional, iniciação científica, mestrado e doutorado em outras faculdades e instituições. Ao longo dessa trajetória a Faced, por meio de seu programa de pós-graduação, possibilitou que eu cursasse duas disciplinas isoladas, nas quais conheci dois autores que me influenciaram no mestrado – Bakhtin e Vigotski. Seus estudos permitiram que estudasse a linguagem química veiculada na sala de aula de Ciências da Natureza (REIS, 2012; REIS, LOPES, 2016). Compreender como o conhecimento químico se relaciona com os demais na sala de aula têm sido o mote de minhas ações em pesquisa (REIS, 2016) e extensão. Dentre as ações extensionistas destaco a parceria com o Centro de Ciências na divulgação da Tabela Periódica Interativa (ALIANE, REIS, CESAR e LOPES, 2015; CESAR, REIS e ALIANE, 2015) e no oferecimento de cursos voltados para professores de química e professores de ciências do ensino fundamental. Outra ação extensionista foi o projeto “Formação compartilhada de professores de química – a formação acadêmica e continuada em equilíbrio dinâmico” que buscava um diálogo entre a universidade e as escolas a partir da orientação compartilhada dos estagiários e a valorização do conhecimento experiencial dos docentes das escolas, nas quais os estágios eram realizados. Desse projeto originou-se o evento de extensão “QuiEncontro: conversas sobre o ensino de química na escola básica”, que propõe o compartilhamento de processos de ensino e aprender química desenvolvidos na educação básica por professores de química e ciências de Juiz de Fora e região. Esse evento já está em sua segunda edição e valoriza o que os docentes desenvolvem em suas escolas, bem como, promove o sentimento de pertencimento a um grupo/comunidade nos seus participantes. Como meta para 2018 queremos realizar o III QuiEncontro em uma escola pública do município, no anseio de ter um encontro com os professores ainda mais profícuo e concreto. O projeto de extensão também gerou uma prática de orientação de estágio na área de Química da Faced, qual seja, aproximar ao máximo da escola – contatando os professores da rede para orientar nossos estagiários, convidando-os para as aulas de reflexões na universidade, indo às escolas para acompanhar as regências, conversando com os professores frequentemente e ministrando a aula de reflexões na escola. Tudo

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isso com o intuito de que o estágio não seja a ida a uma escola por um licenciando, mas a inserção dele em seu campo profissional. Sobre minha inserção em meu campo de pesquisa, desenvolvi um trabalho de revisão de literatura com uma aluna de iniciação científica, que evidencia os principais temas de pesquisa na área de Educação em Ciências em periódicos nacionais e internacionais com a finalidade de apontar o panorama de pesquisas que investigam o conhecimento químico no ensino fundamental de ciências (PENHA, FLOR e REIS, 2016). Atualmente, minhas investigações tem se voltado para concepções de ensino, de aprendizagem e conceituais de professores e licenciandos de ciências, por meio de projetos de iniciação científica. Ao tentar praticar o excedente de visão sobre a atuação da professora que sou na UFJF, vejo que preciso investir em minhas ações de ensino testando novas metodologias e o trabalho conjunto com professores de outras áreas. Vejo que houveram surpresas agradáveis ao longo do caminho como a confecção de vídeos e jogos, que merecem ser divulgados; bem como as investigações criativas e a aplicação de casos simulados com temas pertinentes ao ensino de química. Percebo que retomar algumas leituras sobre linguagem me trariam muito prazer, mas hoje minhas leituras têm se direcionado para autores que abordam a formação de professores, o currículo de ciências e o ensino fundamental. Sinto que a ação extensionista tem ocorrido em interface com o ensino e com a pesquisa. Talvez seja produtivo ser assim, sem a pretensão de ser ações delimitadas sem relação entre si. Por último, a luz dos 50 anos da Faced, acredito que a casa me presenteia novamente por possibilitar, como docente, apresentar aos licenciandos em Química a área de Educação em Química e suas implicações para o ensino de ciências e para a formação docente. De certa maneira, essa oportunidade possibilita romper ligações e formar outras buscando novos produtos. Referências ALIANE, C. S.M.; REIS, R. C.; LOPES, J. G.S.; CESAR, E. T. Relato sobre um processo de formação continuada centrada na temática "Classificação Periódica dos Elementos Químicos" no Centro de Ciências da UFJF. In: Fernanda Bassoli; José Guilherme da Silva Lopes; Eloi Teixeira Cesar. (Org.). Contribuições de um Centro de Ciências para a formação continuada de professores: percursos formativos, parcerias, reflexões e pesquisas. 1º ed. São Paulo: Livraria da Física, 2015, p. 189-197. CESAR, E. T.; REIS, R. C.; ALIANE, C. S. M. Tabela Periódica Interativa. Química nova na escola, vol. 37, nº 3, 2015. PENHA, J. C.; FLOR, C. C. C.; REIS, R.C. Tendências de pesquisas nacionais e internacionais sobre a formação de professores de química. In: XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química, anais eletrônicos, Florianópolis/USFC, julho de 2016. REIS, R. C. Cursos de Licenciatura em Ciências da Natureza: o conhecimento químico na formação do professor de ciências para o ensino fundamental. Tese de doutorado, Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, 2016. REIS, R. C.; LOPES, J. G. S. Elementary School Students' Conceptions of Chemical Transformation, Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, vol. 15, p. 24-42, 2016.

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CAPACITAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS

INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA EXPERIÊNCIA COM BRINQUEDOS CIENTÍFICOS

Paulo Henrique Dias Menezes (NEC/FACED/UFJF)

Wagner da Cruz Seabra Eiras (Aluno Doutorado PPGE) Elpídio Soares Júnior (Bolsista de Iniciação Científica)

[email protected] Nos últimos cinco anos temos dedicado a um projeto que envolve ações de ensino, pesquisa e extensão, cujo objetivo principal é investigar a transposição para sala de aula de uma metodologia de ensino de ciências baseada na construção de brinquedos científicos. O projeto começou em 2012, quando trabalhamos na organização e desenvolvimento de um curso de capacitação para professores de Ciências do 4o e 5o anos do Ensino Fundamental em parceria com o Centro de Ciências da UFJF. O curso, intitulado “Brinca Ciências”, era voltado para inserção de conceitos de física em aulas de ciências, por meio da construção de brinquedos científicos. Entre 2012 e 2013 foram capacitadas 33 professoras da rede municipal de ensino. Durante o curso, iniciamos um projeto de pesquisa para compreender a dinâmica de transferência dessa nova metodologia para a prática escolar das professoras cursistas e também investigamos as concepções e as expectativas das professoras em relação ao desafio de ensinar física em aulas de ciências. Entre 2013 e 2015, com o apoio de um projeto aprovado na FAPEMIG, ampliamos a investigação para a sala de aula, fazendo o acompanhamento da aplicação da metodologia nas aulas de ciências de uma turma do 5º ano do ensino fundamental, durante um ano letivo regular. Nesse projeto, além de acompanhar apropriação da metodologia pela professora regente da turma, incluímos o objetivo de procurar entender a relação entre o lúdico e o didático para compreender o que os alunos aprendem com os brinquedos científicos. Ainda em 2015, com o apoio do programa Novos Talentos da CAPES, elaboramos a aplicamos uma nova proposta de curso de capacitação: “Ensino de Ciências com Brinquedos Científicos de Baixo Custo”. Nesse curso foram capacitados outros 20 professores e o material produzido foi transformado em um livro publicado em 2016 pela Livraria da Física. Uma terceira oferta do curso foi feita em 2017, com a apoio da Fundação Arcelor Mittal, e possibilitou a capacitação de mais 12 professores. A experiência acumulada nesses cursos de capacitação tem orientado nossas pesquisas no campo do desenvolvimento profissional docente. O dinamismo das professoras e professores cursistas em tentar estabelecer um diálogo entre os saberes abordados nos cursos e os saberes da experiência de sala de aula tem evidenciado elementos constitutivos da profissão docente, incorporados sob a forma de habilidades, de saber fazer e de saber ser. Isso tem sido possível a partir do propósito dialógico que orienta as ações desenvolvidas nos cursos. Por exemplo: durante a abordagem de um conceito físico é comum as professoras verbalizarem esse conceito adaptando-o a um linguajar mais próximo daquele utilizado por seus alunos. Além disso, a maior parte das atividades propostas é adaptada pelos professores na hora da aplicação em sala de aula. A observação desses fenômenos só é possível por meio do acompanhamento sistemática da transposição da metodologia para sala de aula. Esse tem sido um elemento diferencial em nossas pesquisas que, diferente de outros estudos sobre jogos, brinquedos

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e brincadeiras que têm o seu foco no produto ou no resultado final da atividade, tem olhado para todo o processo de apropriação da metodologia, envolvendo desde as ações de ensino e aprendizagem, com foco no aluno, até as ações de apropriação e desenvolvimento profissional do professor.

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POTENCIALIZANDO CONFLITOS AMBIENTAIS A PARTIR DA RELAÇÃO

COMUNIDADE-ESCOLA: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA

Angélica Cosenza1 Michele Alice da Silva2

Jaqueline Cerqueira de Araújo3 Camila Cristina Rotatori Pereira4

Diante do atual contexto de violações de direitos humanos decorrentes das degradações e desigualdades socioambientais fruto da expansão capitalista, a Educação Ambiental (EA) se apresenta como um dos meios educativos que possibilita articular as dimensões ambiental e social, problematizar a realidade socioambiental e as raízes da crise civilizatória. Nesse sentido, o Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental (GEA), da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), vem assumindo uma perspectiva de EA para a Justiça Ambiental (JA) que pretende visibilizar processos agudos de desigualdades socioambientais e lutas comunitárias. Tal posicionamento objetiva provocar processos educativos que possibilitem mudanças sociais e culturais através do reconhecimento de problemas/conflitos/injustiças e da tomada de decisões diante do que se torna injusto (SANTOS et al., 2017). Desse modo, por meio de projetos de pesquisa/extensão, o GEA investiu em compreender discursos produzidos por militantes de um movimento social denominado “Diga Não à BR440” e por professores/as e estudantes do Ensino Fundamental acerca de um processo de injustiça socioambiental decorrente da construção de uma rodovia em meio ao perímetro urbano de uma região da cidade de Juiz de Fora-MG. O percurso investigativo se fez a partir de projetos de iniciação científica (“Problemas e injustiças ambientais locais nas construções discursivas de professores e professoras” e “Controvérsias socioambientais no contexto escolar da construção de sentidos sobre injustiças ambientais”, respectivamente de Editais Propesq/UFJF 2015, 2014) e treinamento profissional (“Problemas, injustiças e conflitos locais: educabilidades possíveis a partir da relação comunidade-escola”) que se entrecruzaram no âmbito do GEA entre os anos de 2014 e 2016. Em um primeiro momento, para entender a historia, a participação e a mobilização social que caracterizam o conflito, realizamos entrevistas com sete sujeitos que dele tomam parte, cujos discursos trouxeram à tona o caráter controverso que permeia as interpretações acerca da construção da BR-440. A análise apontou que os sentidos tangentes ao conflito se correlacionam ao direito à cidade, à mobilidade urbana, à transparência de uso de recursos financeiros públicos, ao saneamento básico, à conservação de recursos naturais e à resolução de problemas comunitários. Posteriormente, para entender como o empreendimento afeta os modos de vida dos estudantes e influencia as práticas educativas docentes, fizemos uma imersão em um ambiente escolar denominada por nós de “Escola da Lagoa”, localizada no entorno da rodovia, que possibilitou a constituição de dois corpus de pesquisas provenientes de: 1) sequências didáticas produzidas por professores/as em um curso de formação de 30 horas voltado, prioritariamente, para professores/as da instituição de

                                                                                                                         1 Professora Doutora FACED/UFJF e PPGE/UFJF; Email: <[email protected]>. 2 Mestranda em Educação PPGE/UFJF; Email: <[email protected]>. 3 Graduanda em Ciências Biológicas/UFJF; Email: <[email protected]>. 4 Graduanda em Ciências Biológicas/UFJF; Email: <[email protected]>.

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ensino em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Juiz de Fora sobre a temática “Educação Ambiental: relação escola-comunidade com compromisso social”; e 2) cartas produzidas por estudantes da escola quando do desenvolvimento das sequências didáticas pelos/as pesquisadores/as acerca dos problemas/conflitos/processos de injustiças ambientais vividos pela comunidade. A análise dos discursos dos professores/as e estudantes fundamentou-se na Análise Crítica do Discurso (ACD) orientada pelo pensamento de Norman Fairclough (2001). Tomados pela ACD, os discursos podem ser entendidos como uma forma de linguagem utilizada como um mecanismo de entendimento da prática social, uma vez que revelam relações de forças e diferentes concepções ideológicas acerca de um determinado problema social. No aprofundamento da análise, identificamos que os discursos foram permeados por marcas lexicais que nos remetem a discursos plurais reveladores de hibridismos. Alguns discursos enunciaram a problemática local como uma injustiça ambiental por reconhecerem que os danos e bens ambientais são desigualmente distribuídos na região, sendo que esta percepção pode indicar caminhos de transformação social a partir do reconhecimento e do enfrentamento a estas injustiças. No entanto, outros reproduziram a ideologia hegemônica sobre o uso dos recursos naturais e suas implicações sociais, atribuindo à população a culpa e a responsabilidade pelos problemas ambientais e pelos impactos considerados necessários ao desenvolvimento da cidade. Esta visão é considerada como comportamentalista, uma vez que culpabiliza os sujeitos pelos problemas ambientais e propõe mudanças atitudinais e individuais para minimizar os impactos ambientais e sociais. Dessa forma, abordam os problemas socioambientais com contornos pragmáticos que invisibilizam os sujeitos que vivenciam os riscos e as injustiças ambientais. A contribuição desses estudos complexificam o debate em torno dos sentidos que envolvem a EA em suas relações com a desigualdade socioambiental, visando uma formação voltada para a participação comunitária, a cidadania e a justiça social. Ressaltamos, portanto, a necessidade de fortalecimento de abordagens pedagógicas sobre a justiça ambiental e os conflitos socioambientais no tratamento didático de questões ambientais em âmbito escolar, para que, assim, sejam implementadas práticas educativas emancipatórias que possibilitem a participação dos sujeitos no reconhecimento e no enfrentamento de questões locais e no fortalecimento da relação comunidade-escola. Referências: FAIRCLOUGH, N. Discurso e Mudança Social. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2001. SANTOS, P. F.; DIAS, A. M.; COSENZA, A.; FONSECA, J. A.; SILVA, A. S. Impactos e injustiças ambientais: significações de atores que constituem um conflito socioambiental. Pesquisa em Educação Ambiental. v. 12, n. 1, p. 100-114, 2017.

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O QUE FAZEM AS ESCOLAS QUE DIZEM FAZER/TER UMA HORTA?

Jaqueline Cerqueira5 Mariana Sell6

Angélica Cosenza7 Fernanda Spolaor8

A pesquisa realizada entre 2016 e 2017 no âmbito do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental - GEA/UFJF apresentou como foco o diagnóstico estrutural e pedagógico das hortas das escolas estaduais de Juiz de Fora, assim como a discussão sobre os sentidos inerentes às suas potencialidades educativas. Fundamentada em uma EA anticapitalista, a pesquisa respaldou-se teoricamente em 1) Layrargues (2017), por defender a ideia de que uma EA reprodutivista delineia as necessidades de um ambientalismo voltado exclusivamente para o mercado em meio a um processo de cooptação ideológica intensificado pelo capitalismo neoliberal; e 2) Cosenza et. al. (2014), por argumentarem em prol de uma EA voltada para a justiça ambiental que convida a pensar novos caminhos a serem trilhados a partir de injustiças ambientais e protagonismos comunitários, objetivando romper com práticas formativas apartadas de compromissos sociais. Em relação às hortas, foram chamados 1) Silva et al. (2015), por refletirem sobre a incipiência das hortas enquanto tema de investigação e categoria de análise; 2) Haluza-Delay (2013), por explicitar que os processos educativos sobre as hortas produzem um esvaziamento político que reforça a dimensão ecológica em detrimento das dimensões sociais, econômicas, políticas, ambientais e éticas; e 3) Llerena e Espinet (2014), por pensarem a EA de forma correlacionada com a agroecologia escolar em um movimento social que permite a criação de vínculos entre escola, comunidade e território. No que tange à questão agrícola, foram consideradas as abordagens de 1) Altieri (2012), por evidenciar a agricultura como uma atividade que simplifica as relações entre sociedade e natureza, sendo estas aliciadas pelas monoculturas do agronegócio, bem como por defender a luta por soberania alimentar entendida como o direito de cada comunidade/região de desenvolver meios próprios de produção; e 2) Barcellos (2016), por defender a agroecologia como um modelo de produção de alimentos alternativo ao modo de produção capitalista neoliberal do agronegócio. Em termos metodológicos, a pesquisa embasou-se na abordagem qualitativa proposta por Denzin e Lincoln (2006) por buscar a compreensão dos fenômenos sociais a partir de uma perspectiva multidimensional que considera a interação recíproca entre os sujeitos e seus contextos. Na primeira etapa do trabalho foram identificadas 18 escolas que possuíam hortas, sendo que, em cada uma delas, foram realizadas imersões in loco com o objetivo de reconhecer seus usos sociais e pedagógicos. Na segunda etapa do trabalho, foram priorizadas 5 escolas com o objetivo de aprofundar as percepções sobre os saberes e fazeres relativos às hortas e, para tanto, entrevistas semiestruturadas foram realizadas para garantir a vinculação entre os

                                                                                                                         5  Graduanda em Ciências Biológicas/UFJF; Email: <[email protected]>. 6  Graduanda em Ciências Biológicas/UFJF; Email: <[email protected]>. 7  Professora Doutora FACED/UFJF e PPGE/UFJF; Email: <[email protected]>. 8  Doutoranda em Educação PPGE/UFJF; Email: <[email protected]>.

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pressupostos teórico-conceituais e a realidade social objeto do estudo (ALVES e SILVA, 1992). A análise das entrevistas fundamentou-se na Análise Crítica do Discurso - ACD pensada por Fairclough (2001). O autor busca compreender como são produzidos os efeitos ideológicos do discurso neoliberal sobre práticas sociais específicas e, assim, desvela relações de poder hegemônica e discursivamente constituídas. Em relação à EA, Freire et al. (2016) alertam sobre a importância da ACD para se pensar a disputa ideológica pela hegemonia deste campo social a partir de discursos forjados que naturalizam, ocultam e manipulam determinadas práticas sociais tendo em vista seus contextos macro de existência. Todo esse processo analítico objetiva explicitar possibilidades de transformação social a partir da deslegitimação de discursos hegemônicos e fortalecimento de outros contra-hegemônicos. O mapeamento das hortas revelou que os discursos docentes sobre as práticas educativas desenvolvidas em contextos escolares relacionam-se majoritariamente a uma EA conservacionista e conservadora que é posta a serviço do capitalismo neoliberal. Nítido se fez a ausência de conteúdos sócio-críticos relacionando as ciências naturais às humanas, uma vez que não houve a percepção de aproximações entre os ideais propostos pela agroecologia e pela soberania alimentar. Pensando com Fairclough (2001), essa EA presente nas escolas reproduz uma ordem social que favorece apenas os grupos sociais a ela alinhados, pois situam as práticas educativas no âmbito de um processo de manutenção do status quo que reforça as bases do anti-ecologismo moderno. Em sentido oposto, complexificar o debate em torno das práticas pedagógicas que envolvem as hortas configura-se em um cenário capaz de subsidiar políticas públicas fundamentadas na perspectiva crítica de EA voltada para a justiça ambiental, pois, ao mesmo tempo que denuncia modelos predatórios relacionados ao agronegócio em suas mais diversas variáveis, busca o enfrentamento político das desigualdades e da injustiça socioambiental.

Referências:

ALTIERI, M. A. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. SP: Expressão Popular, 2012. FAIRCLOUGH, N. Discurso e Mudança Social. Brasília: UnB, 2001. HALUZA–DELAY, R. Educating for Environmental Justice. New York: Routledge: 2013. LAYRARGUES, P. P. Anti-ecologismo no Brasil: reflexões ecopolíticas sobre o modelo do desenvolvimentismo-extrativista-predatório e a desregulação ambiental pública. Caxias do Sul: EDUCS, 2017.

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PROJETO DE TREINAMENTO PROFISSIONAL NO ÂMBITO DO GRUPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL - GEA/UFJF

Camila Cristina Rotatori Pereira9 Angélica Cosenza10

Esses trabalhos surgem no âmbito do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental - GEA/FACED/UFJF dentro do Projeto de Treinamento Profissional intitulado “Problemas, injustiças e conflitos ambientais locais: educabilidades possíveis a partir da relação comunidade-escola”, aprovado pela PROGRAD/UFJF em 2016 e 2017. Referem-se a dois trabalhos distintos, sendo que o primeiro teve como tema Aedes Aegypti e o Saneamento Básico e o segundo a temática Agroecologia, Justiça Alimentar e Soberania Alimentar. A perspectiva de Educação Ambiental (EA) da qual partimos assume uma formação para a Justiça Ambiental, a qual visa provocar processos de mudanças sociais e culturais através do reconhecimento dos problemas/conflitos/injustiças e empoderar os sujeitos na tomada de decisões diante daquilo que se torna injusto (COSENZA et al., 2014). Entre os meses de março a agosto de 2016, realizamos a construção de uma sequência didática e seu desenvolvimento em uma escola pública da cidade de Juiz de Fora que vivencia problemas e injustiças ambientais ligados à ausência de serviços ambientais em seu entorno. Isso acarreta na comunidade um grande número de casos de pessoas acometidas por doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti. Privilegiamos o desenvolvimento de um recurso didático que consiste em uma fotonovela em formato de caixa, que traz uma história fictícia construída pelo grupo em forma de textos e imagens (desenhos), levando em conta aspectos do entorno da escola. Mais especificamente, a fotonovela apresentou como objetivo explorar questões ambientais do cotidiano dos/as alunos/as no sentido de favorecer uma visão crítica e reflexiva sobre os problemas enfrentados por sua comunidade. Pensamos a sequência didática em três momentos distintos. O primeiro trouxe uma aula expositiva de modo a sanar algumas dúvidas e incitar a curiosidade dos alunos do 6º ano de escolaridade do Ensino Fundamental sobre o tema “O Aedes Aegypti e o Saneamento Básico”. Usamos conteúdos relacionados sobre o mosquito transmissor das doenças, os sintomas, o tratamento, a prevenção, o conceito de saneamento básico e o modo como a sua ausência afeta a proliferação de insetos e acentua os casos de dengue e outras doenças, destacando sua ocorrência em algumas regiões específicas da cidade. Tratamos dos significados da desigualdade ambiental e da justiça ambiental e como se relacionam à oferta e ao usufruto de serviços e bens relacionados à saúde. No segundo momento deixamos exposta a fotonovela construída pelo grupo. Na história, os personagens dialogam com moradores e reconhecem os principais problemas referentes à proliferação do vetor, focando principalmente no fato                                                                                                                          9 Graduanda em Ciências Biológicas/UFJ; Email: <[email protected]>. 10 Professora Doutora FACED/UFJF e PPGE/UFJF; Email: <[email protected]>.

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da ausência do saneamento básico relacionar-se diretamente à proliferação do mosquito. No terceiro momento, os/as estudantes foram convidados/as a construírem as suas próprias fotonovelas para expor na Feira de Ciências da escola. Seguindo essa mesma proposta, o novo projeto de Treinamento Profissional-2017 teve como objetivo a construção de uma sequência didática de quatro aulas de 40 minutos para a turma de 7º ano de escolaridade do Ensino Fundamental. Essa escola funciona em período integral e atende a população do seu entorno. As aulas regulares são ministradas no turno matutino e, no vespertino, são oferecidos projetos desenvolvidos pelos professores e alunos. Um desses projetos se intitula “Mãos na Terra”, sendo coordenado por um professor de Matemática e uma professora de Ciências. Os/as alunos/as podem escolher o projeto que desejam participar e o “Mãos na Terra” contou com a participação de 10 alunos. Nossa proposta foi utilizar a horta, que se situa no terreno ao lado da escola, como ferramenta para abordar questões sobre soberania alimentar, agroecologia e movimentos sociais. Por muitas vezes, as escolas urbanas que possuem hortas pouco exploram as potencialidades pedagógicas desse espaço social, pois focam apenas seus aspectos biológicos (observação de animais e plantas). Desse modo, discutir temas como agroecologia e soberania alimentar torna-se fundamental para a justiça ambiental, uma vez que contribui para a formação político-cidadã dos sujeitos. Pensamos a construção de duas aulas expositivas. Na primeira abordamos conceitos sobre agroecologia/agronegócio, soberania alimentar e consequências relacionadas ao avanço do agronegócio. Trouxemos, também, o caso de MATOPIBA (iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), considerada a última fronteira agrícola do país. Na segunda aula expositiva falamos sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC’s) e sua importância na promoção da soberania alimentar explicitando imagens de PANC’s que existem na horta da escola com o objetivo de mostrar sua acessibilidade na natureza. Na terceira aula, aplicamos um jogo de tabuleiro chamado “Amigo da Horta” confeccionado por um grupo de alunos/as da disciplina Saberes Científicos e Escolares, através do qual ressaltamos a importância de práticas educativas capazes de potencializar reflexões sobre os problemas ambientais locais e articular as questões ambientais às sociais em uma perspectiva que se volta para a Justiça Ambiental.

Referências:

COSENZA, A; KASSIADOU, A; SÁNCHEZ, C. Educação Ambiental e Direitos Humanos: necessárias articulações a partir da justiça ambiental e da ecologia política. In: SILVA, A. M. M. S; TIRIBA, L. (orgs.). Direito ao Ambiente como Direito à Vida: desafios para a educação em direitos humanos. São Paulo: Cortez, 2014. MARINHO, J. C. B; SILVA, J. A. da. Conceituação da Educação em Saúde e suas implicações nas práticas escolares. Ensino, Saúde e Ambiente, v. 6, n. 3, p. 21-38, dez. 2013

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ENTRE FORMAÇÃO DOCENTE E POLÍTICAS COGNITIVAS

Margareth Sacramento Rotondo NEC/FACED/UFJF

[email protected]

Este escrito apresenta algumas ações que vêm sendo desenvolvidas em ensino e extensão através de exercícios em salas de aula, oficinas formativas e cursos de extensão. Estes exercícios têm propiciado desenvolvimento de pesquisa atenta à formação docente dando forte destaque à ligação entre a produção do conhecimento e a produção de subjetividades ou, dito de outro modo, a ligação entre as políticas cognitivas acionadas ao produzir matemática e a formação docente. A formação tem sido compreendida aproximando-se do “tornar-se o que se é” nietszchiano, portanto processual e aberta aos encontros, podendo ser arrombada, tombada e, em devir, ser destruída para ser inventada sempre, estando num contínuo inacabamento, mas não concebendo-se em falta. Atenta-se aos processos de subjetivação que se dão ao formar-se, ao tornar-se professor/a junto a uma política cognitiva inventiva, como pensada por Virgínia Kastrup (1999), na qual a cognição é tomada como invento e inventor, concebendo a invenção como seu motor propulsor. A cognição, assim, está ligada à invenção de um si e de um mundo, ligada aos processos de subjetivação, então à formação de professores e professoras. Em junho de 2016, uma pesquisa11 aliou formação docente às políticas cognitivas acionadas ao produzir matemática. Foram oferecidas a professores e professoras que ensinam matemática numa escola da rede pública de Juiz de Fora trinta e seis oficinas de produção matemática de março a novembro de 2014. Nestas oficinas, fazia-se uso de abordagens didático-metodológicas discutidas dentro da área de Educação Matemática colocando em tensão formações que já se faziam e novos modos de se inventar em salas de aulas. Nesta tensão, outros modos de produzir-se professor e professora, nasciam. A pesquisa ainda pousou na escola no ano de 2015 e acionou com a participação dos professores e das professoras que atuavam naquele momento em salas de aulas de matemática, atividades matemáticas, exercitando outros modos de estar em salas de aulas de matemática (ROTONDO, 2014, ROTONDO, 2015a, 2015b; ROTONDO e CAMMAROTA, 2016)12. Há também, como ocupação de pesquisa e de pensar em educação, a participação/coordenação junto ao Travessia Grupo de Pesquisa13. O Travessia

                                                                                                                         11 Pesquisa com apoio CAPES e FAPEMIG, Edital 13/2012 Pesquisa na Educação Básica, processo APQ 03416-12, sob minha coordenação. 12 Encontra-se no prelo o livro Experimentações em educação matemática: entre oficinas e salas de aula (ROTONDO,CAMMAROTA, AZEVEDO), que tem como proposta apresentar algumas atividades desenvolvidas durante a pesquisa. Esta pesquisa também propiciou a produção de uma pesquisa de mestrado AZEVEDO (2016), três Trabalhos de Conclusão de Curso (Paixão (2015), Gomes (2015), Silva (2016). e três pesquisas de IC, todos sob minha orientação. 13 O Travessia Grupo de Pesquisa está cadastrado na Plataforma de Grupos do CNPq (http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/3722064041623822). Líderes do grupo: Profa. Dra. Margareth Rotondo e Profa. Dra. Sônia Clareto.

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desenvolveu pesquisa14 que propôs a investigar a formação de professores e professoras enquanto processo ético-estético-político. Os dispositivos que foram cartografados se deram em oficinas de processos formativos, colocando em questão como os mesmos disparam processos ético-estético-políticos em professores/as em formação. Em 2017, o Travessia publicou o livro intitulado De volta, a terra, através do edital municipal através da Lei Murilo Mendes de incentivo à cultura. Esta produção se deu como fruto de experimentações de leitura e escrita do grupo enquanto escava uma raiz de uma árvore morta. Por fim, estudos de pós-doutoramento vêm sendo desenvolvidos no PPGEM/UNESP-Rio Claro15, pelo período de um ano, a ser finalizado em fevereiro de 2018, com interesse próximo ao que já se expôs, tendo como prioridade o aprofundamento teórico no estudo das políticas cognitivas junto à formação docente. Entre as atividades desenvolvidas destaca-se: mesa redonda discutindo política cognitiva inventiva e formação docente, mesa redonda discutindo os estudos deleuzianos, oficina formativa para discentes ligados ao PIBID, oficina formativa para discentes da Pedagogia da UNESP/Rio Claro, disciplina oferecida no PPGEM/UNESP-Rio Claro aberta ao mestrado e doutorado e participação em Grupos de Pesquisas (IMAGO e Cronópios). REFERÊNCIAS AZEVEDO, Fernanda de Oliveira. matemática quaresmar formação. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, 2016. GOMES, Taiane Loures. Formação/Transformação: Narrativa de uma graduanda em processo. TCC Curso de Pedagogia. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2016. KASTRUP, Virgínia. A invenção de si e do mundo: uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição. Campinas: Papirus, 1999. PAIXÃO, Leiliane Aparecida Gonçalves Paixão. Uma pesquisa: vida compondo uma formação. TCC Curso de Pedagogia, Universidade Federal de Juiz de Fora, 2015. ROTONDO, Margareth A. Sacramento. Matemática: tensão entre pensamento e formação. In: 37ª Reunião Nacional da ANPEd. Florianópolis, 2015a. ROTONDO, Margareth A. Sacramento. Formação docente: inventando formação com matemática. In: II Seminário Internacional de Filosofia, Poética e Educação: habitar poeticamente a educação. Juiz de Fora, 2015b. ROTONDO, Margareth A. Sacramento. Fazer da matemática problema a ser inventado inventando formação. Educacao e Realidade, 2014. ROTONDO, Margareth A. Sacramento; CAMMAROTA, Giovani. Subtrair: escola-pesquisar produzindo formação. In: XII Encontro Nacional de Educação Matemática. São Paulo, 2016. SILVA, Felipe Vargas da. Formação de professores e sua processualidade. TCC Curso de Pedagogia. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2016.

                                                                                                                         14 Pesquisa financiada pela FAPEMIG, Edital Universal 2013-2014, Processo nº APQ-02077-12, sob coordenação da professora Dra Sônia Maria Clareto. 15 O estágio pós-doutoral tem supervisão do professor Dr; Roger Miarka.  

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ENTRE TRAVESSIAS: um grupo em produção, produzindo-se

Travessia Grupo de Pesquisa

NEC/FACED/UFJF [email protected]

O Travessia Grupo de Pesquisa16 liderado pelas professoras Dra. Sônia Maria Clareto e Dra. Margareth Aparecida Sacramento Rotondo, apresenta quatro linhas de pesquisa: Educação e produção matemática; Filosofias da Diferença e Educação; Formação como processos éticos, estéticos, polÍticos; Invenção e processos educativos. A primeira linha, Educação e produção matemática, tem se ocupado em problematizar a produção matemática e seus processos de subjetivação em espaços escolares e não escolares e suas implicações nas políticas cognitivas, na ética e na estética da existência. Na segunda, Filosofias da Diferença e Educação, têm sido realizados estudos das chamadas Filosofias da Diferença com interesse especial nos pensamentos de Nietzsche, Foucault, Deleuze e Guattari como disparadores de relações com a Educação. Formação como processos éticos, estéticos, politicos, a terceira linha deste grupo, tem sido tomada como um fio na problematização do corpo, da formação, do pensamento, do conhecimento, da formação de professores e professoras, dos processos de subjetivação, das estéticas da existência, das políticas da existência, das linguagens e arte e ensinos e aprendizagens. Por fim, na quarta linha, Invenção e processos educativos, problematizam-se os processos educativos escolares e não escolares junto a políticas cognitivas, ensino, aprendizagem e processos de subjetivação. Os estudos efetuados e as pesquisas realizadas no âmbito das quatro linhas que compõem o Travessia Grupo de Pesquisa têm sido presença constante nas disciplinas oferecidas pelas professoras líderes do grupo, tanto na graduação (de Matemática e Pedagogia), quanto junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFJF. Igualmente, nos estudos realizados nas reuniões presenciais e semanais do grupo, nas orientações de pesquisas realizadas pelas professoras líderes e no compartilhamento destes estudos realizados nas orientações durante as reuniões do grupo (chamadas de orientações coletivas). Como efeito dos estudos e ações de pesquisa têm sido produzidas dissertações de mestrado, teses de doutoramento17, estudos e pesquisas de pós-doutoramento, pesquisas junto a agências de fomento, publicações em anais de eventos e em revistas da área de Educação e Educação Matemática, dentre outros. Ainda, em 2017, o Travessia publicou o livro intitulado De volta, a terra, através do edital municipal com apoio da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura. Esta produção se deu como fruto de experimentações de leitura e escrita do grupo enquanto escava uma raiz de uma árvore morra. Destacam-se, a seguir, as últimas pesquisas e ações do grupo. De 2013 a 2017, o Travessia Grupo de Pesquisa executou a pesquisa intitulada “Oficinas de exercícios formativos:cartografias dos processos ético-estético-políticos em professores em formação” financiada pela FAPEMIG, Edital Universal 2013-2014, Processo nº APQ-02077-12. Esta pesquisa propôs a investigar a formação de professores e professoras

                                                                                                                         16 O Travessia Grupo de Pesquisa está cadastrado na Plataforma de Grupos do CNPq (http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/3722064041623822). 17 Tomando-se apenas o período de janeiro de 2014 a julho de 2017 foram defendidas quatro teses de doutoramento e setesdissertações de mestrado.

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enquanto processo ético-estético-político. Os dispositivos que foram cartografados se deram em oficinas de processos formativos, colocando em questão como os mesmos disparam processos ético-estético-políticos em professores/as em formação (as oficinas foram oferecidas em formato de curso de extensão). A professora Dra. Sônia Maria Clareto coordenou a pesquisa intitulada “Por uma Educação Matemática Menor: currículo e formação de professores junto à sala de aula de matemática”, apoiada pela FAPEMIG, através do Edital FAPEMIG 13/2012, Processo nº APQ-03480-12.Tal pesquisa se ocupou em investigar a matemática como acontecimento na sala de aula dos anos finais do Ensino Fundamental, debruçando-se sobre a questão: que matemática acontece na sala de aula? Também através do Edital FAPEMIG 13/2012, processo número APQ 03416-12, foi financiada, pelo acordo CAPES/FAPEMIG, a pesquisa intitulada “Formação de professores que ensinam matemática: produção do conhecimento matemático através do dispositivo-oficina e seus efeitos no ensino e na aprendizagem da matemática na escola”, sob coordenação da professora Dra. Margareth Sacramento Rotondo, que interessou-se na ligação que se estabelece entre a produção do conhecimento matemático e as políticas cognitivas durante o processo formativo docente. A professora Dra. Sônia Maria Clareto finalizou, no início de 2016, seu estudo de pós-doutoramento, sob a supervisão do professor doutor Antonio Vicente M. Garnica, junto à UNESP/Bauru e a professora Dra. Margareth Sacramento Rotondo encontra-se em processo de pós-doutoramento intitulado, a ser finalizado em fevereiro de 2018, sob a supervisão do professor Dr. Roger Miarka, junto à UNESP/Rio Claro.