O Newsmaking e a Humanização do Jornalismo

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Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes e Comunicação Comunicação Social – Jornalismo Ensaio

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Universidade Federal de PernambucoCentro de Artes e ComunicaçãoComunicação Social – Jornalismo

Ensaio

Discilpina: Introdução ao JornalismoProfessor: Alfredo VizeuAluno: Pedro Silva Monteiro

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Gatekeeping, Newsmaking e novas tendências

O newsmaking faz parte de uma tendência de estudos dos emissores de mídia, ao

contrário da mais comum corrente de estudos dos efeitos midiáticos sobre a população.

Surgiu como uma evolução da teoria de gatekeeping. De acordo com Wolf (1999), “no

que diz respeito aos estudos sobre os emissores, verificou-se um desenvolvimento linear

e progressivo para conhecimentos mais articulados.”

A primeira a surgir foi a teoria dos gatekeepers (selecionadores), fundamentada

num estudo de Kurt Lewin para estudar o fluxo de tomada de decisão em grupos sociais,

baseia-se no entendimento de que nos canais de comunicação existem “zonas de filtro”

que podem funcionar como “cancelas”, ou seja, nos veículos de comunicação existem

indivíduos que têm “o poder de decidir se deixam passar a informação ou se a

bloqueiam” (Wolf, 1999, p. 180).

A segunda abordagem, do newsmaking, conclui que “a lógica dos processos

pelos quais a comunicação de massa é produzida e o tipo de organização do trabalho

dentro do qual se efetua a ‘construção’ das mensagens” (Wolf, 1999, p.179). Portanto, a

cultura dos jornalistas, seus modos de produção e organização de trabalho teriam

influência direta na elaboração das mensagens, mesmo que essa influência seja

involuntária. Pereira Júnior (2003, p. 78) afirma que houve “a necessidade de integrar a

análise do papel de gatekeeper na análise dos papéis produtivos e da organização

burocrática da qual faz parte”.

O newsmaking torna-se uma teoria crucial para o entendimento da

noticiabilidade dos fatos pois humaniza o profissional produtor de conteúdo midiático, o

jornalista. Em teorias anteriores, a de agenda-setting, de McCombs e Shaw, por

exemplo, é possível observar uma tendência de observar os fatos que a mídia escolhe ou

não noticiar como uma forma de promover seus próprios interesses. Mas, para o

newsmaking, “a noticiabilidade está estreitamente relacionada com os processos de

rotinização e de estandardização das práticas produtivas: equivale a introduzir práticas

produtivas estáveis” (Wolf, 1999, p. 184)

As tendências humanizadoras da teoria do newsmaking também ficam claras no

fato de que ela analisa o jornalista como parte de uma organização empresarial, que tem

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certos padrões para cumprir, padrões que não dependem dele. De acordo com Pereira

Júnior, (2003) existem “restrições ligadas à organização do trabalho sobre as quais são

criadas convenções profissionais que definem a notícia e legitimam o processo

produtivo”.

Outro aspecto do processo produtivo que influencia muito no que se torna

notícia ou não é o tempo. Para Pereira Júnior (2003), “o tempo é o eixo central do

jornalismo”. A necessidade de imediatismo intrínseca ao jornalismo faz com que torne-

se caótica a seleção de informações, principalmente após a popularização da Internet.

Assim, rotina de produção supracitada torna-se ainda mais importante na padronização

do trabalho jornalístico.

Com a popularização da internet, observa-se também uma mudança nas teorias

do newsmaking e do gatekeeping, abrindo espaço para o desenvolvimento de novos

paradigmas. Na era online, a abundância de informações que antes era restrita à análise

das redações dos meios de comunicação torna-se pública, e surge a possibilidade de

receber notícias diretamente dos produtores de informação. “Os próprios consumidores

que, ao navegar pela Internet, agem como os seus próprios gatekeepers, ficando de fora

neste processo as organizações noticiosas” (Bruns, 2003 apud Anjos, 2008).

Com a internet, surge uma nova sobre os produtores de mídia, Gatewatching.

Criada por Bruns, a teoria afirma que o papel do jornalista na web é de “alguém que

procura coletar o máximo de documentos e links externos para direcionar o público aos

assuntos de acordo com seu interesse, como um bibliotecário.” (Weber, 2010). Mas,

também traz pontos negativos, pois o modelo “depende inteiramente das notícias

existentes, pois não opera na produção das mesmas” (Anjos, 2008).

Nesse novo paradigma, o newsmaking também muda de foco. No caso da

Internet, há muito mais espaço para a publicação de diferentes assuntos, o que faz com

que a necessidade de eliminar matérias por não serem do interesse geral não existe mais.

Além disso, a possibilidade dos usuários serem os próprios gatekeepers dá a

possibilidade do jornalista de ser muito mais detalhado, pois o leitor pode escolher entre

receber a notícia em primeira mão, ou recebê-la depois, melhor analisada. A facilidade

com que o conteúdo pode ser publicado na web também traz possibilita que o jornalista

não necessariamente dependa de uma grande empresa para escrever e publicar.

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Portanto, com o surgimento e o fortalecimento do webjornalismo, as correntes

de estudo da produção de notícias ganham novos paradigmas, novas teorias. O

importante é levar em consideração que essas teorias não se anulam – não há só uma

teoria adequada –, pois elas dependem da organização de produção de cada meio e de

cada empresa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANJOS, André. Gatewatching & Newsmaking Online. Disponível em:

http://anjosandre.wordpress.com/2008/12/16/gatewatching-newsmaking-online/.

Acesso: 29/11/2010.

________________. Gatekeeping & Newsmaking Online. Disponível em:

http://anjosandre.wordpress.com/2008/03/19/gatekeeping-newsmaking-online/. Acesso:

29/11/2010

PEREIRA JUNIOR, A. Decidindo o que é notícia. Porto Alegre: EDIPURCS, 2003, p.

75-83.

WEBER, Carolina Teixeira. Gatekeeper e gatewatching – repensando a função deselecionador no webjornalismo. Disponível em:

http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2010/resumos/R20-0493-1.pdf. Acesso:

29/11/2010.

WOLF, M. Teorias da Comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 1999, p. 177-188.