O NOVO TESTAMENTO PARA O CRISTÃO DE...

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O NOVO TESTAMENTO PARA O CRISTÃO DE HOJE História Autenticidade Cânon Dificuldades Análise Interpretação Edson Raposo Belchior

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O

NOVO

TESTAMENTO

PARA O CRISTÃO

DE HOJE

História

Autenticidade

Cânon

Dificuldades

Análise

Interpretação

Edson Raposo Belchior

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© 2015 de Edson Raposo Belchior

1ª edição: MARÇO DE 2015

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Belchior, Edson Raposo

O Novo Testamento Para o Cristão de Hoje.

História, Autenticidade, Cânon, Dificuldades,

Análise, Interpretação.

1ª edição. Per se Editora. Perdizes, SP, 2015.

103 p.

Inclui índice.

1. Teologia. 2. Hermenêutica. 3. Bíblia.4. Novo

Testamento.

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Dedico este livro a todos os meus alunos que estiveram

comigo em sala de aula no Setebes e hoje estão

servindo a Jesus Cristo através do Ministério Pastoral.

Acredito que permanecem na fé e testemunham no

púlpito e nas casas, tendo o Novo Testamento como

base de sua teologia.

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SUMÁRIO

Introdução

I – FATOS HISTÓRICOS NA FORMAÇÃO DO NOVO

TESTAMENTO

1. Ambiente judaico

2. Ambiente gentílico

3. Produção literária

4. Arqueologia

II – A AUTENTICIDADE DO NOVO TESTAMENTO

III – O JESUS HISTÓRICO E O CÂNON

IV – DIFICULDADES NA HARMONIA DOS

EVANGELHOS

V – ESTUDOS SOBRE OS EVANGELHOS

1. Mateus

2. Marcos

3. Lucas

4. João

VI – A VIDA DE JESUS SEGUNDO OS EVANGELHOS

VII – ESTUDOS SOBRE ATOS

VIII– ESTUDOS SOBRE CARTAS PAULINAS

1. Romanos

2. Coríntios

3. Gálatas

4. Efésios

5. Filipenses

6. Colossenses

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7. Tessalonicenses

8. Timóteo

9. Tito

10. Filemon

IX – A IMPORTÂNCIA DE PAULO E SEUS ENSINOS

1. Perfil

2. Doutrina da revelação

3. Realidade do pecado

4. O lugar da mulher

5. Sua escatologia

X – ESTUDOS SOBRE AS CARTAS GERAIS

1. Hebreus

2. Tiago

3. Pedro

4. João

5. Judas

XI – ESTUDOS SOBRE O APOCALIPSE

Conclusão

Biografia

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INTRODUÇÃO

Inegavelmente os cristãos de hoje tem sido expostos a

uma variedade muito grande de conceitos e idéias a respeito da

maneira como devem viver sua fé. Não bastasse a forçosa

necessidade de lidar com a herança do judaísmo, exposta

principalmente no Velho Testamento, ainda tem que lidar com o

sincretismo religioso, vindo de várias partes e apresentado por

vários formadores de opinião através do púlpito, livros e

pregações na mídia. A situação tende a piorar com os ataques

cada vez maiores oriundos do crescente movimento ateísta,

principalmente quando levanta dúvidas a respeito da

historicidade de Jesus Cristo.

A única maneira de enfrentar as heresias e resistir ao

ateísmo, perseverando na fé até o fim, é continuar fazendo do

Novo Testamento o seu livro devocional, verificando também

com objetividade sua história, autenticidade, cânon,

dificuldades, além de fazer análise e interpretar. Aliás, estes

também foram os objetivos dos escritores dos evangelhos, atos e

cartas apostólicas. Basta recorrer aos textos de Lucas 1.1-4; João

20.31; I Coríntios 1.11; Efésios 3.4; II Pedro 1.14,15. Na medida

em que são encontrados nomes (Herodes, Arquelau, Pilatos,

Sérgio Paulo, Zacarias, Ananias), fatos (censo, páscoa, queda da

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torre de Siloé), seitas (saduceus, fariseus, herodianos), filosofias

(epicureus, estoicos), lugares (areópago, praça de Ápio, tanque

de Betesda), documentos jurídicos (carta de Cláudio Lísias,

carta de divórcio), deuses (Júpiter, Mercúrio, Diana) os leitores

do Novo Testamento tendem a desejar um maior conhecimento.

Além dessas motivações intrínsecas, é preciso também fazer

frente à atitude crítica que surgiu no início do século XX,

quando teólogos movidos pelo liberalismo levantaram dúvidas a

respeito da autenticidade dos livros que compõem o Novo

testamento, em partes ou no todo. A fidedignidade documental

como registro passou a ser objeto de questionamento,

indagando-se sobre autoria, datas, aspectos filológicos,

informações históricas, formação do cânon.

Estudar, portanto, o Novo testamento com uma atitude

científica há de produzir a mesma firmeza de fé que foi

vivenciada por aqueles que deram a vida nas fogueiras e foram

lançados nas bocas dos leões nos primeiros séculos. Mesmo que

por alguns momentos o estudioso viva algum tipo de dúvida ou

perplexidade, a conclusão de suas reflexões e a iluminação do

Espírito de Deus hão de lhe produzir convicções ainda mais

sólidas para viver sua fé cristã neste tempo de globalização,

tecnologia digital informatizada e avalanche de informações de

todos os tipos. A autoridade do Novo Testamento, como livro

inspirado por Deus, continuará à altura de qualquer exame e

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desafio, resistindo às heresias e ao ateísmo. Sua leitura

continuará produzindo conversões e edificação espiritual.

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I – FATOS HISTÓRICOS NA FORMAÇÃO DO

NOVO TESTAMENTO

1. AMBIENTE JUDAICO

Depois de viver por séculos em Israel, as doze tribos que

faziam parte do povo israelita foram levadas cativas para Assíria

e Babilônia, onde permaneceram por um longo tempo. Com o

movimento de retorno liderado por Esdras e Neemias, foram os

judeus, constituídos pelas duas tribos do sul, que basicamente

voltaram a Israel. Eram, portanto, os judeus que estavam ali

quando surgiu o Cristianismo. Após a reconstrução do templo de

Jerusalém, houve um período de independência em relação ao

império persa, pois os macabeus, ao se revoltarem contra

Antíoco, obtiveram a emancipação nacional. Após o império

grego, com o surgimento e crescimento do império romano, os

judeus foram subjugados e a nação tornou-se província de

Roma.

Nesse período, os judeus existentes em Israel estavam

divididos culturalmente em dois grupos: a) hebraístas – mesmo

estando em outros países conservavam os costumes judaicos; b)

helenistas – adotaram costumes gregos, embora continuassem

com a religiosidade judaica. O Velho Testamento passou a

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existir na língua hebraica, grega e aramaica. Os prosélitos eram

pessoas de outras nacionalidades que se converteram ao

judaísmo, adotando os preceitos estabelecidos. O judaísmo

estava dividido em cinco seitas: fariseus, saduceus, herodianos,

zelotes e essênios. Enquanto estes viviam principalmente nas

montanhas às margens do Mar Morto, os demais viviam em

torno dos rituais no templo, na cidade de Jerusalém. As

experiências passadas pelos judeus no cativeiro babilônico e o

retorno liderado por Zorobabel, Esdras e Neemias, fez com que

eles passassem finalmente a adotar o monoteísmo, seguindo a

Torá e o Talmude, um registro das discussões dos rabinos sobre

os textos bíblicos e sua aplicação. Jesus Cristo era um judeu

integrado aos rituais judaicos até que deu início ao seu

ministério, através dos suas pregações, ensinos e milagres. Os

apóstolos, também judeus, viveram o dilema de romper com o

judaísmo e principalmente Paulo estabeleceu as doutrinas que,

transmitidas em forma de cartas, deram origem a parte do Novo

Testamento.

No ano 70, a província foi invadida por Tito, com a

destruição total do templo e novo exílio do povo judeu, em

virtude dos constantes levantes de líderes revolucionários que

desejam novamente a independência. A Igreja de Jesus Cristo já

havia ultrapassado as fronteiras de Israel e se estabelecido na

Ásia Menor e nas primeiras cidades da Europa. Embora os

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apóstolos e as novas igrejas tivessem rompido com o Judaísmo,

“a maior parte dos especialistas em pesquisa sobre Jesus

concordaria em que as idéias de Jesus foram moldadas por

idéias herdadas de antigas tradições israelitas, por elas

compostas e de primitivas teologias judaicas, compostas de

maneira distinta” (CHARLESWORTH, pg. 23). Foi a partir

dessa formação religiosa judaica que Jesus Cristo estabeleceu

seus ensinos para embasar as doutrinas da igreja cristã. Em

alguns casos, Jesus confirmou alguns ensinos, em outros,

aperfeiçoou. Na maioria, todavia, insistiu em apresentar seus

próprios ensinos, inaugurando uma nova fé e um novo modo de

viver.

2. AMBIENTE GENTÍLICO

Embora o cristianismo tenha uma origem judaica, na época

do seu nascimento a nação israelita estava sob a influência da

cultura grega e domínio militar dos romanos. Na linguagem dos

hebreus, esses povos eram gentios, isto é, não israelitas. No caso

dos gregos, a influência da sua cultura começara quando

Alexandre, o Grande, ao expandir o seu império, levou junto os

conhecimentos que seu povo acumulara, entre os quais a língua,

chamada “koinê”. Por isso, quando o Novo Testamento foi

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escrito, embora o aramaico fosse usado em alguns manuscritos

originais, a maioria dos manuscritos descobertos estava em

grego. Quanto aos romanos, a expansão do império militar,

através da paz estabelecida e das estradas pavimentadas,

possibilitou o deslocamento dos missionários para a pregação do

evangelho. A famosa “pax romana” gerou um período de

tranquilidade política e militar, contribuindo para a expansão da

fé cristã. As estradas por onde os militares iam e viam para

garantir o controle colaboraram para as viagens dos apóstolos e

evangelistas. Em virtude de o grego “koinê” ser a língua popular

e das estradas facilitarem as idas e vindas, o evangelho alcançou

milhares de pessoas através das pregações e dos escritos em

quase todo o império romano: “No primeiro relato da expansão

do cristianismo, os Atos dos Apóstolos, fica visível em cada

página a contribuição de Grécia, Roma e Judaísmo” (GREEN,

pg. 11).

3. PRODUÇÃO LITERÁRIA

Quando os escritores dos textos do Novo Testamento

apanharam papiros e pergaminhos e começaram a escrever seus

livros, essa atitude já fazia parte do ambiente judeu e gentio. No

sentido geral, a prática de escrever livros religiosos existia e

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para tanto usavam tabletes de argila, pedras, madeiras, metais,

pergaminhos e papiros. Os egípcios haviam criado os

hieróglifos cerca de 3.000AC. Os sumérios criaram a escrita

cuneiforme em 1.500 AC. Na região, o aramaico falado pelos

cananeus havia se tornado a língua administrativa e religiosa de

alguns impérios antigos e era falado pelos judeus, inclusive

Jesus Cristo, pois o hebraico clássico havia desaparecido por

ocasião do exílio babilônio.O grego foi estabelecido em

decorrência do seu império e o latim era a língua dos romanos,

usada oficialmente no seu império.

Com as invasões gregas e romanas, destruindo a cultura

judaica, os escribas vinculados ao judaísmo tomaram a decisão

de colocar em forma escrita a tradição dos pais, até então

transmitida oralmente de pais para filhos. Uma dessas produções

literárias dos judeus foi a “Mishná” – interpretação a respeito da

Torá, isto é, Pentateuco. Outros manuscritos por eles produzidos

foram: a) Septuaginta – versão grega do Velho Testamento; b)

Targuns – versões em aramaico de alguns livros do Velho

Testamento.c) Manuscritos do Mar Morto – escritos dos

essênios em hebraico, aramaico e grego.

Voltados principalmente para a Filosofia, os gregos

produziam literatura para conservar os ensinos das principais

escolas conhecidas: platônica, aristotélica, epicuréia e estoica,

além de conceitos religiosos helênicos que faziam parte da vida

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diária. Os romanos escreviam para transmitir seus atos oficiais

do império e correspondências.

A consequência é que na época quando os textos do Novo

Testamento foram escritos era grande a produção literária

transmitida através dos papiros e pergaminhos, cujas cópias

somam mais de 5.500, hoje espalhadas em museus e bibliotecas,

completos ou em fragmentos. O papiro – feito de uma planta -

foi o material usado para escrever os primeiros livros, embora

frágil para conservação ao longo dos tempos. O pergaminho,

feito de peles de animal, era mais durável e nele estão as cópias

mais antigas conservadas integralmente.

4. ARQUEOLOGIA

As pesquisas arqueológicas contribuíram muito para a

confirmação dos fatos históricos registrados no Novo

testamento: “Foram descobertas inscrições em Jerusalém e suas

vizinhanças em muitas línguas, especialmente grego, aramaico,

latim e hebraico” (CHARLESWORTH, pg. 114). Essas

pesquisas e descobertas arqueológicas foram suficientes para

calar a voz dos céticos que negavam tanto a autenticidade do

Novo Testamento quanto a historicidade de Jesus Cristo. Entre

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as várias descobertas de inscrições em vários locais, destacam-

se:

4.1. Inscrições sobre o templo. Em Atos 21.27-29 é

mencionada a existência de uma proibição para os

gentios entrarem no templo, na parte interior. Em 1871,

foi descoberta uma placa que dizia: “Não se permite o

acesso a nenhum estrangeiro no pátio interior que

circunscreve o templo e suas dependências diretas.

Quem quer que for apanhado assim agindo terá de

culpar apenas a si mesmo pela morte que lhe dará de

imediato”.

4.2. Inscrições sobre pessoas. Em Romanos 16.23, Paulo

faz referência a Erasto, procurador da cidade. Em 1929

em escavações realizadas em Corinto, foi encontrada

uma inscrição que diz: “Erasto, Curador de Edifícios

Públicos, construiu este pavimento a suas próprias

expensas”. Em Lucas 3.1, sobre o ministério de João

Batista, Lucas situa-o na época de Lisânias. Duas

inscrições que mencionam esse nome foram descobertas

e uma delas identifica-o como tetrarca de Abila.

4.3. Inscrições sobre fatos. Em João 19.12, João registra a

declaração popular de que Pilatos era amigo de César.

Nas escavações feitas em Cesaréia foi descoberta uma

inscrição que diz: “Pilatos, prefeito de Judéia tem dado