O OCASO DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA DO ENGENHO ...história e das memórias de suas filhas Gilca,...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO O OCASO DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA DO ENGENHO OITOCENTAS NO BAIXO COTINGUIBA EM SERGIPE JOSINEIDE LUCIANO ALMEIDA SANTOS São Cristóvão Sergipe- Brasil 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

O OCASO DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA DO ENGENHO

OITOCENTAS NO BAIXO COTINGUIBA EM SERGIPE

JOSINEIDE LUCIANO ALMEIDA SANTOS

São Cristóvão

Sergipe- Brasil

2019

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JOSINEIDE LUCIANO ALMEIDA SANTOS

O OCASO DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA DO ENGENHO

OITOCENTAS NO BAIXO CONTINGUIBA EM SERGIPE

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

Graduação em História da Universidade

Federal de Sergipe, como requisito obrigatório

para obtenção do título de Mestre em História,

na Área de Concentração Cultura e Sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro

Santos.

São Cristóvão

Sergipe – Brasil

2019

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

S237o

Santos, Josineide Luciano Almeida O ocaso da memória: a história do Engenho Oitocentas no baixo

Cotinguiba em Sergipe / Josineide Luciano Almeida Santos; orientador Claudefranklin Monteiro Santos. – São Cristóvão, SE, 2019.

123 f. : il.

Dissertação (mestrado em História) – Universidade Federal de Sergipe, 2019.

1. História – Sergipe. 2. Engenho Oitocentas (Rosário do Catete, SE). 3. Engenhos - Sergipe. 4. Memória. 5. Recordação (Psicologia). I. Santos, Claudefranklin Monteiro, orient. II. Título.

CDU 94(813.7)

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DEDICATÓRIA

Dedico ao senhor José Paes de Azevedo Sá (In Memoriam), Graziela

Vieira de Azevedo (In Memoriam), com gratidão pela trajetória de

vida dos Vieira de Azevedo que tive o privilégio de apreciar através

história e das memórias de suas filhas Gilca, Gulnar Vieira de

Azevedo, Nilza Vieira de Brito.

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“Os grandes homens não morrem, permanecem vivos no coração e

memória dos que o amam e admiram. ”

Robedson Cerqueira

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AGRADECIMENTOS

Como é difícil utilizar as palavras certas para expressar a gratidão que sinto. Porém,

ouso agradecer a Deus o criador pela dádiva da vida e nos concedeu o dom da vida, um dom

inestimável, Ele é meu refúgio nas horas de angústia. Agradeço por permitir-me vencer mais

uma etapa, ultrapassar barreiras, limitações sejam eles quais forem vencer sempre e nunca

esmorecer.

Elencar pessoa que colaborou à sua maneira de forma intensa direta ou indiretamente,

com pequenos gestos de boa vontade, constitui-se tarefa árdua e injusta, diante do quantitativo

de pessoas envolvidas para que eu galgasse bom êxito desta pesquisa.

Meus agradecimentos à banca examinadora tanto da qualificação quanto na defesa ao

presidente da banca o professor doutor Claudefranklin Monteiro Santos, externo minha

gratidão e satisfação em tê-lo como meu orientador sempre atento e humano, seu auxílio,

indicações de leituras jamais serão esquecidas. Não mediu esforços para entender meus

anseios e dificuldades quando solicitado.

Muito obrigada pelas correções necessárias sem nunca me desmotivar, pois é um

homem de profundo conhecimento e não desistiu dessa mestranda, cheia de limitações, o

senhor tira o melhor de cada pessoa sem perder a ética, o respeito e a responsabilidade de uma

tarefa, minha gratidão é infinita, vai além da academia obrigada pelas orientações,

contribuições e puxões de orelhas quando foi pertinente fazê-lo quando acabei quebrando

alguns prazos estabelecidos para entrega de atividades solicitadas, saiba que tenho sua pessoa

na conta de um mano e grande amigo.

Estendo também agradecimentos ao professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, por fazer

parte da banca de qualificação e defesa. Agradeço pelos esclarecimentos, empréstimos do seu

acervo pessoal e do acervo do Banco de dados do projeto Massapê.

Minha gratidão ao professor Dr. Milton Araújo Moura por ter participado também da

banca examinadora como membro externo, agradeço por seus questionamentos, que foram de

grande valia para o desenvolvimento desta pesquisa, suas inquietações foram pertinentes, pois

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abriram novas expectativas e olhares. Agradeço pelas indicações de caminhos a serem

percorrido, suas palavras ecoaram como estimuladores para que pudesse terminar esse

trabalho, agradeço pela forma humana, sensata e tratável que conduziu suas palavras, sem

perder o rigor necessário para esse mundo acadêmico.

A proprietária do Engenho Oitocentas a senhora Graziela Vieira de Azevedo e a sua

irmã Gulnar Vieira de Azevedo as quais agradecemos, pois autorizou nossa ida in loco sempre

que solicitamos para fotografar e fazer levantamento de dados no acervo pessoal dos Vieira de

Azevedo. Aos grandes contribuintes deste trabalho Gulnar Vieira de Azevedo, Solange Bastos

de Azevedo, Nilza Azevedo de Brito, Luiz Ferreira Gomes, Maria Ivanice de Oliveira que me

acolheram e corresponderam as nossas indagações. Sem estes não seria possível a

concretização desta pesquisa.

Agradeço aos funcionários da biblioteca Pública Epifânio Doria nas pessoas de seu

Tito Nunes de Brito e seu Pedrinho Santos (In memoriam) e senhor Francisco dos Santos por

auxiliar na busca das fontes do acervo da biblioteca Epifânio Doria e todos os demais

funcionários, que foram sempre prestativos. Bem como aos funcionários do arquivo público

do Judiciário na pessoa de Assunção e Anderson. O arquivo Público de Sergipe nas pessoas

de Milton Barbosa, Arquivo público municipal de Rosário do Catete na pessoa de Flávio

Gomes.

Agradeço ao PROHIS (Programa de Pós-Graduação em História) nas pessoas do

professor Doutor Bruno Álvaro na época coordenador, também agradeço a atual coordenação

professora Doutora Edna Maria Antônio Matos e ao professor doutor Carlos de Oliveira

Malaquias por todas as contribuições na disciplina obrigatória de Teoria. A professora Célia

Costa e a professora Lourival Santana estiveram na banca de seleção, agradeço também a

todos que fazem o Programa de pós-graduação em História meus sinceros agradecimentos.

Aos amigos da saúde quando tudo começou grata pelas palavras de apoio quando

estava na produção do projeto para seleção do mestrado a todos Clésio, Rita, Acássia, Ana,

Dessiré, Meire, e Samarone vulgo chimarrão. Aos Padres Diogo Ávila, Padre Fabrício Santos

Lopes pela identificação dos santos do oratório da casa grande das Oitocentas. Grata à amiga

Rosineire Teles pela indicação do nome dos padres já mencionados.

Ao amigo João Vieira dos Santos por ter conseguindo o contato para chegarmos até a

proprietária Graziela Vieira de Azevedo nossos sinceros agradecimentos.

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Ao meu pai Antônio Evangelista de Almeida e a Lúcia Luciano Almeida e a minha

vovó Elienal conhecida como Liá, por sempre incentivar meus sonhos. Aos meus tios Pedro

Ribeiro e Josefa Augusta Luciano Ribeiro por sempre está presente nesses momentos em

minha trajetória acadêmica, grata a todos demais tios, e a prima Joeny Ribeiro.

Agradeço a Carlos Costa companheiro, amigo, pela paciência e disponibilidade em

levar aos arquivos públicos para garimpar os acervos para adquirir fontes necessárias para a

realização desta pesquisa, aos meus manos André, Joás, Jasiel, Sheila, Joseane, Lucivania,

Elen, Sadraque, e a minha irmã do coração Ivanilde Santos pelo apoio e suporte em todos os

momentos da minha vida sempre grata amada, aos meus sobrinhos Davi, Mariane, Jonatas,

Andreza, Roseane, Joab, Pedro Lucas, Pietro, Alana, Antônio, Rodrigo, Patrick, Nice, Talita

Zeller a todos e todas da família Almeida pelas ausências, inquietudes, stress, mau humor,

minhas desculpas por tantas ausências.

Aos docentes que perpassaram a caminhada acadêmica às (aos) minhas (meus)

companheiras (os) pesquisadores do Projeto Imprensa Cristã, Tatiane jamais esquecerei seu

auxílio quando encontrava alguma fonte relacionada à minha pesquisa e encaminhava para

minha pessoa pelas palavras de incentivo e apoio de todos do Projeto Imprensa Cristã:

Suelayne, Nerita, Rosa, Gicélia, Mayra, Márcio e a todos que direta ou indiretamente

colaboraram para que esse trabalho tivesse êxito. Aos amigos de longas datas a Dora, Lúcia

Rollemberg, Maritania, Angélica Freire, Leda, Arleide, Victor, César Mandarino sempre

agradeço pela consideração estímulo em relação à trajetória acadêmica.

Aos arquitetos José Glackson Santos Júnior e Ana Lúcia Pinto do Nascimento Álvaro

por redimensionar a planta baixa da casa grande das Oitocentas facilitando a anexação nesse

trabalho.

Agradecemos a gestão municipal na pessoa do gestor Otávio Sobral por permitir,

ausentar-me do setor de trabalho nos dias solicitados para estudo e pesquisa com anuência do

secretário municipal de Educação de Itaporanga D’ Ajuda na pessoa de Ronaldo de Oliveira

Santos serei sempre grata pelo apoio quando necessitei ausentar-me para realizar as pesquisas

sendo sempre solícito. Aos demais funcionários Isis pelo incentivo e por sempre indagar sobre

o andamento da pesquisa sempre grata, aos colegas de trabalho Osvaldo, Lasaro, Rivanda,

Ana, Custódio, Márcio, Márcia, Nide, Heloisa, Carla, Analú, Flávia, Lúcia, Julice, Janaina,

Alexandre, Sandra, Marcos, Edmilson, Paulo, Tonho, José do Carmo, Bruno, Rafaela, Iris,

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Luís, Rosimeiry, Bete, Valdireia e Renata por emprestarem os ouvidos para escutar sobre as

“Oitocentas” como um lugar de memória.

Não poderia deixar de agradecer a Carlos Henrique Nascimento meu sobrinho por

recuperar documentação em notebook que apresentou defeito, o que causou um grande stress

aborrecimentos, mas ao final grande alívio e satisfação após recuperação dos dados

necessários à está pesquisa.

A cada um dos mestrandos da turma com quem dividir momentos e discursões nas

aulas das disciplinas obrigatórias e optativas, com muito desempenho e determinação

chegamos ao objetivo final parabéns a todas e todos meus sinceros agradecimentos em nome

das mestrandas Andreia Rocha Santos Figueiras, Rayane Pereira de Oliveira e Amanda

Marques dos Santos.

Agradeço porque chegou o desfecho da pesquisa, sei que no amanhã, lembrarei de

todos esses momentos de investigação, sufoco e angústias, bem como dos momentos in loco

da alegria, satisfação da descoberta das histórias e memórias para realização desse trabalho.

Agradecimentos especiais a você leitor, que teve a coragem de adentrar neste mundo

de ideias que não é o de Sócrates, Aristóteles, Santo Agostinho nem o seu, e sim as minhas

ideias e meu olhar sobre esse lugar de memória chamado Oitocentas.

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RESUMO

O presente trabalho busca verificar o lugar de memória de uma determinada unidade

açucareira de Sergipe, chamada Oitocentas, sua trajetória e a transição ao longo de décadas.

Trata-se um engenho bangue, usina de pequeno porte, depois engenho de fogo morto. Nosso

objetivo, portanto, é tratar sobre O Ocaso da Memória: História e as memórias do Engenho

Oitocentas, partindo da análise e levantamento historiográfico das obras que versam sobre a

cultura do açúcar em Sergipe. Para tanto, contamos com o uso da metodologia da história

oral, com depoimentos de várias pessoas ligadas aquele passado da família Vieira de

Azevedo. Para o desenvolvimento deste considera-se relevante o significado da memória,

implicados no ato de lembrar; falar, também trabalhamos alguns conceitos de Espaço de

recordação onde utilizaremos o texto de Aleida Assmann que nos levou pensar sobre o

engenho oitocentas como um lugar de memória. Nesse ocaso da memória temos um lugar

memorável, que exporemos através das guardiãs, testemunhas vivas de um passado

inesquecível, como já as mencionamos as depoentes a senhora Gulgar Vieira de Azevedo,

senhora Nilza Azevedo de Brito, Solange Bastos de Azevedo.

.

Palavras-chave: Engenho Oitocentas, História e Memória, Recordação

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RESUMEN

El presente trabajo busca verificar el lugar de memoria de una determinada unidad azucarera

de Sergipe, llamada ochocientas, su trayectoria y la transición a lo largo de décadas. Se trata

de un ingenio bangue, una pequeña máquina, después de un fuego de fuego muerto. Nuestro

objetivo, por lo tanto, es tratar sobre el Ocaso de la Memoria: Historia y las memorias del

Engenho Octava, partiendo del análisis y levantamiento historiográfico de las obras que

versan sobre la cultura del azúcar en Sergipe. Para ello, contamos con el uso de la

metodología de la historia oral, con testimonios de varias personas ligadas a aquel pasado de

la familia Vieira de Azevedo. Para el desarrollo de éste se considera relevante el significado

de la memoria, implicados en el acto de recordar; y en el caso de que se trate de una obra de

arte o de una obra de arte o de una obra de arte o de una obra de arte. el pasado inolvidable,

como ya las mencionamos las depoentes a la señora Gulgar Vieira de Azevedo, señora Nilza

Azevedo de Brito, Solange Bastos de Azevedo.

Palabras clave: Engenho Octavo, Historia y Memoria, Recuerdo

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UFS - Universidade Federal de Sergipe

AGJES - Arquivo Geral do Judiciário do Estado de Sergipe

BPED - Biblioteca Pública Epifânio Dória

IHGSE - Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe

BICEN - Arquivo Biblioteca Central da UFS – SE.

IAA - Instituto do Açúcar e do álcool

BND - Acervo da biblioteca digital

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01...................................................................................................................................59

Tabela 02...................................................................................................................................67

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LISTA DE FIGURAS

Imagem 1 - Baú de Graziela Vieira de Azevedo......................................................................63

Imagem 2 - Vista da casa grande, casas dos moradores e da usina Oitocentas........................68

Imagem 3 - Casa grande do Engenho Oitocentas vista frontal.................................................70

Imagem 4 - Vista da casa grande do engenho Oitocentas........................................................71

Imagem 5 – Planta Baixa do Engenho Oitocentas....................:...............................................72

Imagem 6 - Casa grande; casa dos trabalhadores; Antiga Usina Oitocentas ao fundo um

riacho.........................................................................................................................................73

Imagem - 7 - Ângulo Frontal da Casa Grande das Oitocentas..................................................77

Imagem 8 - Representação e disposição da mobília, quadros...................................................77

Imagem 9 - Cristaleira e pilão e mão de pilão..........................................................................77

Imagem 10- Conjunto de cadeira comprada em Leilão no Palácio do Governo......................78

Imagem 11 - Representação da Usina Oitocentas....................................................................80

Imagem 12 - Senhor José Paes de Azevedo Sá.........................................................................82

Imagem 13 - Alguns dos filhos de Juca das Oitocentas............................................................84

Imagem 14 - Tenente Coronel Péricles Vieira de Azevedo......................................................85

Imagem 15 - Temístocles Vieira de Azevedo...........................................................................89

Imagem 16 - Ibelza Vieira de Azevedo....................................................................................92

Imagem 17 - Capitão Agliberto Vieira de Azevedo e a esposa Maria da Glória Oliveira de

Moura Castro.............................................................................................................................96

Imagem 18 - Oswaldina Vieira de Azevedo- Enfermeira.........................................................97

Imagem 19 - Ibelza e Lygia Vieira de Azevedo......................................................................99

Imagem 20 - Graziela Vieira de Azevedo................................................................................99

Imagem 21 - Gilca Vieira de Azevedo – Funcionária Federal...............................................102

Imagem 22 - Walter Vieira de Azevedo e a esposa Creuza Dantas da Silva.........................103

Imagem 23 - Gulnar Vieira de Azevedo................................................................................105

Imagem 24 - Oratório do Engenho Oitocentas......................................................................107

Imagem 25 - Nilza Vieira de Azevedo – Odontóloga- Empresária.......................................109

Imagem 26 - Juca das Oitocentas, Cecília sua esposa e suas filhas.......................................112

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................16

I Capítulo – Tempos de Açúcar................................................................................................26

II Capítulo – Rosário do Catete: O lugar do lugar....................................................................44

III Capítulo – O lugar, as coisas e as pessoas – o ocaso da memória.......................................76

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................114

REFERÊNCIAS....................................................................................................................122

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INTRODUÇÃO

Na manhã de segunda feira, 30 de julho de 2014, tivemos nosso primeiro contato, dos

muitos que fizemos, in loco, com a casa grande do Engenho Oitocentas1. Adentramos as

portas do lugar e nos deparamos com uma realidade que até então parecia surreal, pois

tivemos dificuldades em encontrar os responsáveis por aquele lugar de memória.

Retornamos por diversas vezes neste itinerário quando foi necessário fazê-lo, para

fotografar o acervo iconográfico e toda parte interna e externa, com imagens panorâmicas e

frontais. Inicialmente, com a equipe do projeto Massapê, acompanhado do seu coordenador, o

Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, depois por fotógrafos contratados que nos acompanhou a

fim de fotografar in loco e munir a presente pesquisa de imagens e informações que compõem

parte de seu conteúdo.

Sempre que voltávamos àquele cenário e ambiente rural, ficávamos imaginando e

vislumbrando a grandeza daqueles canaviais no passado histórico, o descampado verde e

formoso rio Cotinguiba, que fertilizava as terras do Rosário e regiões circunvizinhas, lugar de

riquezas, zona do açúcar de Sergipe; terras dos engenhos, terras da cana do açúcar, e também

do rio Siriri, que servia de hidrovia para o transporte do produto final o açúcar.

Rosário do Catete se tornou terra dos senhores de engenhos, que com o passar dos

anos foram se transformando em usineiros por força das circunstâncias socioeconômicas e a

crise que cada época foi declinada em relação a acompanhamento do processo de

modernidade com máquinas a vapor, turbinas e moedas voltadas ao mundo industrial e alguns

proprietários não acompanhou as mudanças em relação à modernidade tanto no fazer como no

maquinário, pois eram onerosos compra-los e mantê-los.

O Engenho Oitocentas é um dos sobreviventes do patrimônio cultural sergipano,

notadamente rural, que foi de pequeno porte, passou por transição sendo a vapor, usina e

1 O Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá. Após o falecimento do filho José Paes

de Azevedo Sá, atualmente pertence à Senhora Graziella Vieira de Azevedo. Está localizado as margens da BR

101, no Município de Rosário do Catete-SE, sob administração da irmã da proprietária, Gulnar Vieira Azevedo,

com auxílio de um Sobrinho o senhor Nelson Tavares Azevedo de Brito.

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engenho de fogo morto2. Como usina permaneceu em funcionamento até o final do século

XX, restando uma casa grande que possui diversas peças mobiliárias e acervo iconográfico,

com diversas fotografias do lugar, inclusive de quando estava em pleno funcionamento.

Esse acervo pertenceu aos antigos donos: José Paes de Azevedo Sá e sua esposa,

Cecília Vieira de Melo. A casa grande encontra-se em bom estado de conservação, com

algumas casas de moradores3 e a antiga usina, que atualmente funciona um curral. Situa-se

numa baixa de terreno, quase em frente da Casa Grande, que fica em local mais elevado. Há,

também, nas proximidades um tanque de água: um pequeno rio margeia a propriedade. Esse

conjunto de construção do final século XIX possui valor histórico, memorável e afetivo, é

uma das referências do passado da sociedade açucareira sergipana e do Brasil.

A casa grande do Engenho Oitocentos tornou-se referencial de lugar de memória, com

suas representações diversas, inclusive afetivas, pois faz parte do convívio dos familiares e

remanescentes. Teve valor funcional, proveito, sua utilidade como unidade produtora de

açúcar cristal, conforme depoimento da depoente Gulnar Vieira de Azevedo, de que

trataremos mais adiante. Em relação à representação de memórias cumulativas, destaque para

as lembranças, as recordações, sentimentos de alegria, melancolia sem falar nos costumes do

cotidiano como afirma Michel de Certeau4: “O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia ou

que nos cabe em partilha, nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do

presente. Todo dia, pela manhã, aquilo que assumimos, ao despertar, é o peso da vida, a

dificuldade de viver, ou viver nesta ou noutra condição, com fadiga, com este desejo...o

cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. É a história a meio

caminho de nós mesmos, quase em retirada, ás vezes velada. Não se deve esquecer este

mundo memória”.

2 REGO, José Lins do, 1901-1957. p.21. O exemplo do livro Fogo Morto de José Lins do Rego, que retrata a

situação dos engenhos o autor, com efeito, retoma o ciclo de açúcar, nos descreve, nos dá mesmo um exemplo

singularmente provocante, de uma sociedade que, boa ou má, estava perfeitamente assentada e sedimentada no

seu jeito de ser, em uma cultura da aristocracia açucareira. 3 DABAT, Christine Rufino. Moradores de engenho: relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores

rurais na zona canavieira de Pernambuco, Christine Rufino Dabat – 2. ed. Ver. – Recife: Ed. Universitária da

UFPE, 2012. Um traço relevante em relação aos moradores de engenho vem como uma forte tradição e como

uma representação da cultura regional das elites canavieira em diversos locais do Nordeste e não foi diferente em

Sergipe em Rosário do Catete que segue o modelo elabora e descrito por José Lins do Rego e Gilberto Freire

quando descreve de maneira bucólica, a vida do plantador e a vida do senhor de engenho e de seus dependentes

agregados a casa grande esse modelo foi denominada a civilização do açúcar. 4 CERTEAU, Michel de, 1925-1986. A invenção do Cotidiano:2 Morar, cozinhar/Michel de Certeau, Luce

Giard, Pierre Mayol; Tradução de Ephraim F. Alves e Lúcia Matilde Endich Ort.12. ed. Petrópolis, RJ:

Vozes,2013.

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De certo modo, foi o interesse pessoal que nos moveu no estudo deste objeto de

pesquisa e nos despertou para estudo da microrregião da Cotinguiba Sergipe, onde se encontra

a cidade de Rosário do Catete, uma das localidades que mais produziu açúcar em Sergipe, do

final do século XVIII ao início do século XX. Parte da equipe do Projeto Massapê:

Memórias, Engenhos e Comunidades da Microrregião da Cotinguiba/Se, coordenado pelo

professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, estivemos in loco, como já frisamos, para visitarmos

por diversas vezes e percebemos que existem as Casas Grandes dos engenhos Paty,

Oitocentas, Jordão em bom estado de conservação, outros em ruínas a exemplo o engenho

Santa Bárbara ou o que restou dele, bem como de outras unidades da época da cultura do

açúcar nessa região.

Durante as atividades do referido projeto, tivemos também a oportunidade de

vislumbrar de perto o legado deixado pelos tempos da econômica canavieira como a casa de

veraneio do engenho Jordão, em bom estado de conservação, da mesma forma a casa grande

do antigo engenho Paty, que foi restaurada pela empresa Vale do Rio Doce. Quando esta

empresa veio instalar-se em Sergipe com as perfurações em busca de minerais, causou danos

a muitas casas na região de Rosário de modo que foi responsabilizada para fazer os reparos

necessários. Outro modelo, ainda que em ruínas, do que restou dos engenhos pedras, casa

grande do engenho Caraíba e de Santa Bárbara são testemunhos de um tempo de opulência e

grandeza nos tempos da aristocracia açucareira.

Tudo isto nos aguçou a necessidade de refletir sobre a importância e o

desenvolvimento que a indústria do açúcar alcançou, seja por meio dos engenhos ou das

usinas a vapor. Como também a levar adiante uma análise de referências historiográficas

acerca da temática sobre engenho, no contexto das elites rurais.

Esta pesquisa baseia-se, portanto na construção de fatos observados através da revisão

historiográfica sergipana, e do testemunho vivo das guardiãs das memórias das Oitocentas as

depoentes Gulnar Vieira de Azevedo5, Nilza de Azevedo Brito6, Solange Azevedo Bastos7, e

5 Contadora aposentada da Fazenda Federal uma das filhas do senhor José Paes de Azevedo Sá, ela quem

administra as propriedades com auxílio de um Subrinho, pois sua irmã atual proprietária encontra-se acamada.

Dona Gulnar Vieira de Azevedo nascida no engenho oitocentas é uma das memórias viva da família. 6 Odontóloga é afilha mais nova do senhor José Paes de Azevedo Sá, atualmente com 89 anos de idade e

proprietárias da rede de sapatos infantis Pimpolho, em Vitória do Espirito Santo e franquias em Portugal e outros

países da Europa.

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o senhor Luiz Ferreira Gomes8. É importante destacar que a família vem preservando sua

história e a memória do Engenho Oitocentas. Um espaço de recordação, quem tem tido os

cuidados nos reparos necessários, para que a cultura material da casa grande e seus pertences

estejam sendo perpetuados ao longo dos anos. Este acervo está com a família há dois séculos

e meio, pois pertenceu aos seus avós paternos, Manoel Paes de Azevedo Sá e Dona Ernestina

Teles de Menezes. A proprietária mantém o Engenho Oitocentas em bom estado de

conservação e para isso faz questão de preservar o padrão e a estrutura da propriedade como

veremos mais adiante.

Metodologicamente, nos valemos do acervo da família Azevedo buscando estabelecer

relações com diversas formas de manifestação da memória, por meio de entrevistas em que

foram relatadas as memórias do lugar, a partir do convívio, do vivido no engenho, no contato

com as gerações anteriores. Para tanto, utilizamos um questionário padrão relacionado ao

engenho e aos seus proprietários e realizamos em datas diferentes e gravadas em nosso

telefone celular e depois foram feitas à transcrição.

Contamos com as fotos do banco de dados do projeto Massapê e com o auxílio do

fotógrafo Augusto Gentil9, que fez as imagens aéreas, panorâmicas e frontais do Engenho

Oitocentas, com o uso de drone; bem como algumas fotos externas e internas, feitas por José

Aquino, as quais foram utilizadas para compreender a representação do cenário e do espaço

das Oitocentas.

Alguns autores que compõem a historiografia sergipana foram importantes para nossa

pesquisa, dado que apontam para a singularidade do engenho enquanto lugar de memória e

sua relação com a cultura açucareira, tais como: Orlando Dantas10, Katia Afonso Silva

Loureiro11.

7 Hoje, com 83 anos de idade, residente e domiciliada em Belo Horizonte-MG, neta do senhor José Paes de

Azevedo Sá. Viveu também no Engenho Oitocentas e como uma das netas mais velhas, conheceu o lugar e

descreveu um pouco do cotidiano. 8 O Sr. Luiz Ferreira Gomes antigo morador da localidade, foi um dos personagens do documentário Massapê

ele relata sobre o Oitocentas e sobre a personalidade do antigo proprietário. 9 Augusto Gentil (In Memoriam) fotografou o Engenho Oitocentas em 20 de abril de 2018 e veio a óbito em 11

novembros de 2018. 10 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

1980. DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944. 11 LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. Sergipana do Açúcar. Aracaju/SE, 1999, P. 20.

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Ainda como aporte referencial, fizemos um levantamento historiográfico que nos

ajudou na compreensão da construção do conhecimento da cultura do açúcar através de obras

nacionais tais como: Casa grande e Senzala, Sobrados e Mocambos e O Nordeste, de

Gilberto Freyre; Arquitetura e Engenho, de Geraldo Gomes; e da historiografia sergipana:

Sergipe: fundamentos de uma economia dependente e Uma unidade açucareira em Sergipe: o

engenho Pedras, de Maria da Gloria Santana de Almeida; Arquitetura do Açúcar, Katia

Loureiro; Memórias de Família, de Ibarê Dantas; Um Pé Calçado e outro no Chão, Sharise

Piroupo do Amaral; História de Sergipe, Felisbelo Freire; Sergipe Patriarcal e O Problema

do açucareiro em Sergipe, de Orlando Dantas; Memórias de Aurélia, Memórias de Dona

Sinhá e A carta da condessa, Samuel Albuquerque; e Doce Província, de Sura Souza Carmo.

Desse conjunto, destacamos o livro Uma unidade açucareira em Sergipe: o engenho

Pedras, de Maria da Glória Santana Almeida, 1975. A autora trata das características da

produção do açúcar, enveredando pelo viés econômico, descrevendo o funcionamento do

engenho Pedras, localizado na região do Cotinguiba.

Outra obra dessa mesma autora é Sergipe: Fundamentos de uma economia

dependente, publicada em 1984. Em trechos da obra, é visível a influencia de Gilberto Freyre,

notadamente de Sobrados e Mucambos. A autora faz discute a transição do trabalho escravo

para o livre. É notória a presença do êxodo rural em busca pela incerteza da cidade e os

deslocamentos de grupos humanos dos campos para cidade. Outra semelhança é a relação

entre comerciantes, senhores de engenhos, a busca pela ostentação, opulência e luxo

demostrada através de suas casas grandes além da importância dada á educação dos filhos nos

grandes centros urbanos do país.

A obra de Josué Modesto dos Passos Subrinho, Reordenamento do Trabalho:

Trabalho Escravo e trabalho livre no Nordeste Açucareiro. Sergipe – 1850 -1930, a nosso ver

constitui-se numa obra de referência pela eficaz reconstrução histórica econômica de Sergipe

e suas mudanças estruturais, além de apresentar dados da produção canavieira daquele

período.

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Outra obra de relevância na historiografia sergipana é a de Orlando Dantas12, de cunho

memorialista, onde se nota uma forte influência de Gilberto Freyre, no que pese a descrição

da casa grande e de todo o conjunto estrutural do engenho, a questão da miscigenação e

questão da genealogia.

Também fizemos uso de alguns impressos que consideramos significativos para nossa

pesquisa. Essas fontes possibilitaram a nossa compreensão acerca das modificações ocorridas

na propriedade Oitocentas ao logo da sua existência e as adaptações de ordem material sendo

que nesse período aconteceram fenômenos de amplas transformações como mudanças no tipo

deixou de ser engenho e passando a ser usina devido às transformações ocorridas no setor

açucareiro nos idos do século XIX e as primeiras décadas do século XX quando as oitocentas

deixa ser engenho e passa a ser usina de pequeno porte logo não tardando a ser usina

cooperada, ou seja, fazia parte de uma cooperativa que funcionava no engenho Jurema.

Inicialmente, da revista Brasil Açucareiro, datada de 1935 a 1943, 1949. Alguns de

seus números encontram-se no acervo da Biblioteca Pública Estadual Epifânio Doria e nos

forneceram dados acerca da cultura do açúcar, principalmente sobre a existência e

importância da economia e da exportação para toda a Europa até o surgimento do açúcar de

beterraba nas Antilhas.

A Revista Brasil açucareiro, aborda a legislação vigente da época, modificada naquele

contexto histórico de produção açucareira, controlando assim a produção das unidades

produtoras; também informa sobre a produção nacional dos engenhos mostrando as causas e

consequências de problemas nas safras repercutindo na economia das elites rurais. Nela,

pudemos encontrar dados sobre cotação e produção do açúcar do Engenho Oitocentas, sobre

seu funcionamento e de seus proprietários.

Trabalhamos, também, com os jornais O Rosário13 exemplares do acervo da

hemeroteca da Biblioteca Epifânio Doria. Trata-se de um periódico que foi editado na cidade

12 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

1980. 13 Esse impresso circulou por muitos anos sobre várias direções e redação, entre eles: Pedro Silvino de Andrade,

Francisco Polito, Antônio Calazans de Resende (1933) e diversos redatores sob direção de J. Eduardo e tendo

como redator o senhor Saturnino V. Dantas (1935). Contudo, segundo informações do próprio periódico, ele foi

o segundo jornal que surgiu na cidade de Rosário do Catete, pois o primeiro tinha por nome O Rosarense que

havia surgido no ano de 1893. Os Exemplares foram cedidos pela própria direção e redação do Jornal o Rosário

a pedido do Senhor Epifânio Doria que em 17 de setembro de 1933 sendo atendido pela direção do jornal,

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que lhe empresta o nome, de cunho político, critico popular, humorístico, noticioso e

independente. Encontra-se em bom estado de conservação, são 88 edições completas

contendo quatro páginas. Estas edições datadas dos anos de 1933 a 1936 tendo como

fundador o coronel João Machado Subrinho14. Em alguns exemplares aparecem nome de

personalidades da sociedade Rosarense, principalmente os padres com as celebrações

religiosas, comerciantes da cidade e os senhores de engenhos Salústio Vieira de Melo

proprietário do engenho Santa Bárbara, José Paes de Azevedo Sá senhor das oitocentas, José

Soltero Vieira dono do engenho Sítios Novos entre outros.

Outro jornal, O Comércio que informava sobre o cotidiano da sociedade Mauriense e

das cidades circunvizinhas, a exemplo de Rosário, Santo Amaro. Traz anúncios de atividades

econômicas, dos estabelecimentos comerciais e das festividades religiosas, festival de

literaturas e rodas de leituras no gabinete de leitura de Maruim e de personalidades de cidades

vizinhas que participavam dessas atividades, além de citar os nomes de seus colaboradores

descreve sobre os filhos dos senhores de engenhos dentre eles analisamos o Rosário edição

de número 4, p. 2 datado de 1 de setembro de 1933 vejamos como se refere ao filho do Juca

das Oitocentas “ Pizou ligeiramente em seu torrão natal em dias desta semana o distinto e

competente aviador da nossa esquadra o Capitão Agliberto Paes de Azevedo estimado filho

do nosso assignante e amigo coronel José Paes de Azevedo Sá.”

A escolha por um ou mais referenciais teórico-metodológicos nem sempre é uma

tarefa das mais confortáveis numa pesquisa. Nesse sentido, nos valemos de alguns que

procuram não somente nos apontar nortes em nossas análises, mas também de aportes, tais

como questões relativas à história oral, à memória, ao lugar de memória e aos espaços de

recordação, presentes neste trabalho, com o auxílio de pesquisadores, como Pierre Nora e a

problemática dos lugares de Memória: “(...) a memória é um fenômeno sempre atual, um elo

vivido no eterno presente: a história, uma representação do passado15”.

concedendo todos os exemplares que já haviam sido editados até então, afirma a edição de número 8 datado de 1

de outubro do mesmo ano do Jornal o Rosário esses foram doados a Biblioteca Pública Epifânio Dória no ano de

1933. Hoje esse jornal e outros já se encontram digitalizado na biblioteca através do projeto da universidade

Federal de Sergipe. O projeto Imprensa Cristã: Escrevendo em nome da fé e das vicissitudes históricas...:

Imprensa cristã e artigos de cristãos nos jornais laicos sergipanos. 14 Ex-prefeito da cidade de Rosário do Catete e um dos editores do periódico O Rosário e seu fundador. 15 NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos Lugares. Projeto História. São Paulo, 1993. p.9.

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No que se refere à relação entre a história oral e a memória, Jacques Le Goff16 aponta-

nos que se apresentam ora em paralelo, ora em concordância com a própria história. A

memória estaria atuando como um documento na medida em que é capaz de reelaborar as

recordações que são vestígios mnemônicos do indivíduo sendo delimitada através do tempo e

espaço histórico específico. Essas memórias são como pistas para reafirmá-las recorrendo às

recordações dos indivíduos fazendo com que o tempo e o espaço estejam inseridos dentro de

um determinado contexto social seja individual ou coletivo.

Essas memórias tem a propriedade de conservar certas informações, remete-nos em

números, e liga a um conjunto de funções psíquicas, graças as quais o homem pode atualizar

impressões ou informações passadas ou que considera como passadas.

O autor Le Goff17 afirma que: “a memória é aquela que cresce a história, que por sua

vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Devemos

trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para libertação e não para a servidão”.

Já os estudos feitos por Halbwachs18 contribuíram para a compreensão dos quadros

sociais que compõe a memória. Está memória coletiva tem relevância, pois tem a finalidade

de contribuir para construir o sentimento de pertencimento a um grupo de passado comum,

vale salientar que outro aspecto da memória tem intima relação com o lugar, ou seja, tem nos

lugares uma referência para a sua construção, contudo isso não é condição para a sua

preservação.

Também utilizamos os conceitos de recordação de Aleida Assmann19 que afirma que

as recordações não podem apreender por nós mesmos nem pode ninguém. Ensina-nos que as

recordações procedem basicamente de forma reconstrutiva; sempre começa no presente e

avança inevitavelmente para um deslocamento, uma deformação, uma distorção, uma

revaloração e uma renovação do que foi lembrado até o momento da sua recuperação.

16 Le Goff (apud Reis). Na introdução da monografia de Aoron Reis Sena Cerqueira: História Memória e

Sentimento na trajetória de Josefina Cardoso Braz. 17 LE Goff, Jacques, 1924-2014. História e Memória/ Jacques Le Goff: tradução Bernardo Leitão... 7º ed.

Revista- Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2013. 18 HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. 19 ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas:

Unicamp, 2011.

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Nesse sentido podemos observar o Engenho Oitocentas como um espaço de

recordação, um lugar memorial e ao mesmo tempo em que passou por um processo de

transformação e revaloração por parte de diversas memórias, sejam coletivas ou individuais.

O processo estende-se do presente quando acusado pela recordação para o passado,

pois não são apenas as pessoas, indivíduos que constituem uma memória, para si mesmas,

mas um local, um lugar de memória um espaço de recordação pode sim estabelecer

identidade, conquistar, confrontar e legitimar sua história e memória quando são fixadas

metas, sejam elas em relação a memórias, recordação cultural sejam através de testemunhos,

imagens iconográficas, ou escritas. No processo de transformação, as formas de cultivo do

saber são diversas e acumuladas, representadas ou mesmo silenciadas.

A questão que nos impulsionou rumo a uma delimitação do tema está relacionada à

exiguidade de trabalhos dentro do nosso período que se refiram e se detenham, de maneira

específica, em propriedades que tenham sido unidades produtoras de cana de açúcar e tendo

como produto final o açúcar isso nos idos do século XX. A presente pesquisa constitui-se de

três capítulos.

O primeiro capítulo, cujo título: Tempos do Açúcar, dedica-se á revisão da

historiografia sergipana, situando a história do açúcar em Sergipe a partir de um diálogo com

a que fora escritor a respeito. Fizemos uma retrospectiva, a nosso ver necessária, de um corpo

significativo de autores e obras que tratam sobre a cultura açucareira, seu contexto sócio,

político e econômico.

No segundo capítulo – Rosário do Catete: o lugar do lugar, fizemos um apanhado

histórico do município de Rosário do Catete, sua origem, sua emancipação política e suas

festividades religiosas, do desenvolvimento da lavoura da cana de açúcar, bem como acerca

dos bens patrimoniais móveis, e os eclesiásticos as igrejas e as capelas dos engenhos e casa

grandes, e a distribuição dos principais engenhos em seus territórios, a exemplo de: Paty,

Caraíbas, Jurema, Serra Negra, Santa Bárbara e o Engenho Oitocentas.

Por fim, no terceiro capítulo denominado Os lugares, as coisas e as pessoas - Ocaso

da memória, nossa atenção está voltada para a família Vieira de Azevedo, as pessoas do

Engenho Oitocentas, notadamente Seu Juca das Oitocentas, e, a partir da narrativa e descrição

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de suas memórias familiares, lançar novas luzes sobre a história do lugar, sem se escurar dos

elementos da chamada cultura material, como fotos e cartas.

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I

TEMPOS DE AÇÚCAR

A presença temática da cultura do açúcar na escrita da historiografia nacional e

sergipana é muito significativa, com seus contextos e suas peculiaridades, de sorte que para

este trabalho não temos como não fazer uma análise geral de boa parte das que tratam sobre o

assunto, por entendermos que a presente pesquisa trabalha com delimitações específicas com

engenhos que existiram no final do século XIX e XX.

Em vista disso, também aqui se faz necessário, para uma melhor compreensão, um

recuo no tempo, uma verificação de como ocorreu o processo de ocupação do espaço das

unidades açucareira em Sergipe e a formação do processo econômico. Tornou-se

indispensável compreendermos as alterações ocorridas ao longo das décadas bem como as

ações desse processo histórico da economia açucareira e o processo de produção da

monocultura da cana de açúcar, sendo o meio mais viável para a Coroa Portuguesa ocupar as

terras brasileiras e sergipanas e assim facilitar o comércio e escoamento dessa produção no

período do Brasil Colônia, Brasil Império ou até mesmo nos anos da República. Cada época

com seu contexto, com seus investimentos, mudanças, problemas, dificuldades que em época

distinta levaram muitos senhores de engenho ao declínio econômico financeiro.

Nossa intenção foi a de compreender o cenário que nos permitiu fazer uma reflexão

sobre a importância e o desenvolvimento que a engenharia20 do açúcar alcançou, seja por

meio dos engenhos banguês, engenho a vapor ou usinas, e como estes vivenciaram seu

apogeu e seu declínio.

Assim, no caminho percorrido em nossa pesquisa, utilizamos do método do paradigma

indiciário formulado para compreender o silêncio das fontes que são referências para

conceituar, legitimar a história dos nossos engenhos da aristocracia açucareira. Conforme, nos

20 O sentido da palavra engenharia no texto supracitado deve ser analisado do ponto de vista da produção

açucareira, da cultura do açúcar com seus engenhos, produções e seus costumes cotidianos.

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aponta Carlo Ginzburg: “(...) se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais,

indícios – que permitem decifrá-la21”.

Para tratarmos sobre historiografia tomamos o conceito de Charles Oliver Coronel22,

que certifica ser o termo nada mais que a história de um discurso escrito e que se afirma como

sendo verdadeiro que os homens têm sustentado acerca do seu passado. Ele considera ser a

historiografia o melhor testemunho que podemos ter sobre as culturas desaparecidas ou que

tende a desaparecer, inclusive a nossa.

Nesse sentido, estamos convictos que o fazer historiográfico requer e envolve vários

itens a serem investigados. Sabemos que no campo da história, há diversas correntes

historiográficas, com seus recortes temáticos, objetos, fontes e o diálogo com áreas afins,

sabemos que não encontramos como receitas prontas.

Dessa maneira, entendemos ser possível enfrentar as necessidades e lacunas impostas

no âmbito da escrita da historiografia sergipana. As fontes que foram exploradas já estão

publicadas com exceção de uma que se encontra no prelo, obra organizada pelo professor Dr.

Antônio Lindvaldo Sousa, como um dos produtos do projeto Massapê23.

Para fundamentar esse capítulo trataremos de obras que não devem ser esquecidas,

ainda que não haja engenhos em funcionamento, mas, temos a demonstração de alguns que

resistiram ao tempo, tais como as casas grandes do Engenho Paty, Engenho Oitocentas,

Engenho Jordão fazem parte de um passado memorável; outros existem nas memórias de

testemunhas que estiveram in loco naqueles ambientes.

Mesmo que essas obras tenham sido escritas em contextos e séculos diferenciados são

de grande importância para a escrita da história, tais obras trazem conteúdos sobre quem eram

os proprietários, onde se localizavam e quais foram às unidades produtoras mais bem

sucedidas e opulentas na doce Cotinguiba parafraseando Sharise Piroupo24 que em seu livro

pontua no primeiro capítulo sobre o Cotinguiba.

21 GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e

História. 1ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p.177. 22 CARBONELL, Charles- Oliver. Historiografia. Lisboa: Teorema, 1981, p.6. 23 Projeto Massapê: Memórias, Engenhos e Comunidades da Microrregião da Cotinguiba/SE Do GPCIR (Grupo

de Pesquisa Identidades e Religiosidades) sob coordenação do Professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa. 24AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.

(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012.

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Foram analisadas respectivamente: História de Sergipe (1891), de Felisbelo Freire; os

trabalhos de Maria da Glória Santana Almeida: Uma unidade açucareira em Sergipe - o

engenho Pedras (1976), Sergipe: fundamentos de uma economia dependente (1984),

Nordeste açucareiro: desafios de um processo do vir a ser capitalista (1993) e Nota prévia

sobre propriedade canavieira em Sergipe (Século XIX); Arquitetura do Açúcar (1999), de

Kátia Loureiro; Sergipe República (2004); A História de Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel:

O Patriarca do Serra Negra e a política Oitocentista em Sergipe (2009); Memórias de

Família (2013); Imprensa Operária em Sergipe (2016), todas estas de Ibarê Dantas; Um Pé

Calçado e outro no Chão (2012), de Sharise Piroupo do Amaral; Sergipe e a política (1986),

de Ariosvado Figueiredo;

Temos ainda as seguintes obras: Sergipe Patriarcal (1980), O problema açucareiro de

Sergipe (1944) de Orlando Dantas; Memórias de Aurélia (2015), Memórias de Dona Sinhá

(2005) e A Carta da Condessa (2016), uma tríade do professor Samuel Albuquerque; História

econômica de Sergipe (1987) e Trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro

(2000), de Josué Modesto dos Passos Subrinho; alguns trabalhos de Maria Thetis Nunes:

Sergipe Provincial I (2000) e Sergipe Provincial II (2006); Capítulos de história da

historiografia sergipana (2013), de Antônio Fernando de Araújo Sá; Álbum de Sergipe,

Clodomir Silva (1920), Revista Brasil Açucareiro (1935 a 1970). Em A república das usinas:

Um estudo da história social econômica do Nordeste, de Gadiel Perucci, Doce Província? O

cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista, de Sura Souza Carmo (2007),

entre outras que citadas no corpo do texto.

O critério de seleção dessas obras foi o fato de serem elas destaquem na

historiografia sergipana nas áreas da cultura do açúcar, economia e formação das unidades

produtoras da monocultura da cana de açúcar e da sociedade aristocrata patriarcal.

Vale salientar que, concomitantemente, estaremos dialogando com as obras da

historiografia nacional inseridas no corpo do texto ao decorrer da escrita deste trabalho à

medida que for pertinente faremos o contraponto entre as obras observando as concordâncias

e críticas entre os autores. Não poderíamos deixar de dialogar quando pertinente com as

obras: Casa grande e Senzala (1987), Sobrados e Mocambos (2013), Nordeste (1937), de

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Gilberto Freire; Arquitetura e Engenho (2013) e Antigos Engenhos (1994), de Geraldo

Gomes; Engenhos do Recôncavo Baiano (2009), de Esterzilda Berenstein de Azevedo;

Segredos Internos (1985), de Stuart Schwartz; Engenho e Memória (2002), de Luciano Trigo,

Moradores de Engenho (2012), de Christine Rufino Dabat. Após essa seleção das obras

retomaremos para as fontes da revisão historiográfica de Sergipe e quando necessário

interagimos com as da historiografia nacional.

Em História de Sergipe25, obra referencial organizada pelo intelectual sergipano

Felisbelo Freire, além de tratar de aspectos gerais do processo histórico sergipano, seu estudo

foi composto por cartas e representações, ofícios, requerimentos, muitos transcritos na íntegra,

intitulada um marco inaugural da historiografia sergipana, ainda que tenham sido publicadas

no final do século XIX, suas características teóricas reforçam os valores de seu tempo. O livro

analisa documentos inéditos bem como as cartas de sesmarias, e por isso é considerando como

uma primeira tentativa de interpretação cientifica para a escrita historiográfica. O autor,

também faz reflexões e questionamentos no campo político, cultural e social no contexto do

início do Brasil República.

Segundo Sura Souza Carmo (2017), outra questão a ser analisada de imediato foi a

“(...) exclusão de análise da obra de Felisbelo Freire, História de Sergipe, obra está

publicada em (1891), nesse período, o Freire pernambucano não havia nascido26”.

Em sua obra, Felisbelo Feire analisa a concepção de história geral, em especial a

história de Sergipe com suas características voltadas para a história política, pois era defensor

da república e buscava documentar os feitos de seu contexto.

Analisar a obra História de Sergipe de Felisbelo Freire é pensar o contexto em que foi

escrito logo percebemos questões políticas, sociais e culturas de seu contexto onde vivenciava

o início da republica onde partidos políticos se massacravam por causa de suas divergências.

A obra dele está inserida na concepção da história geral, em especial de Sergipe que é

diferenciada pela investigação documental marcando assim o término século XIX que estava

sob a influência do positivismo27.

25 FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2. Ed. Petrópoles: Vozes, 1979. Em convênio com o governo do

estado de Sergipe 1977. 26 CARMO, Sura Souza. Doce Província? O cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista. / Sura

Souza Carmo – Aracaju: IHGSE, 2007. p.71. 27 GALLO, Silvio. Filosofia: experiência do pensamento. 2014.p.242-243. Positivismo – corrente filosófica

fundada por Auguste Comte.

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Ainda para Sura Souza Carmo, (2017), “(...) no processo historiográfico de Sergipe há

um salto grande pulando do final do século XIX para a década de 1970 para o século XX28”.

Passamos a seguir à análise de uma importante pesquisadora da historiográfica em

Sergipe, Maria da Glória Santana de Almeida, que notabilizou junto à organização dos

arquivos públicos e do judiciário do Estado, mas também por sua contribuição foi sua

produção intelectual sobre a cultura do açúcar em Sergipe29. Glorinha, como carinhosamente

conhecida, com suas reflexões comprovou que houve o processo de fragmentação dos

engenhos no século XIX.

Podemos então confirmar essas concepções da historiadora sergipana, baseado

também nas reflexões de Suely Robles Reis de Queiroz, que afirma:

“Para evitar a transformação dos engenhos em simples fornecedores de cana,

utilizou-se o sistema parental mantendo assim os bens móveis como padrão

social na aristocracia rural, ou seja, os bens e a propriedade ficavam entre a

própria família30 (1979, p.66).”

Já em seu artigo Uma unidade açucareira em Sergipe: o engenho Pedras31, publicada

em 1976, ela faz a partir de fontes primárias, uma narrativa dessa unidade açucareira, tratando

acerca das características da produção enveredando pelo viés econômico, tem um valor no

âmbito da história econômica de Sergipe, onde a abordagem descreve o funcionamento do

engenho Pedras no atual município de Maruim, localizada na região do Cotinguiba32, sendo

uma obra de relevância aos que se dedicam a esse campo de pesquisa.

Maria da Glória Santana de Almeida publicou alguns livros relevantes para a história

econômica. Entre eles, Sergipe: Fundamentos de uma economia dependente publicada em

198433. Em nossa análise, podemos perceber que a obra não tem viés culturista, mas um viés

28 CARMO, Sura Souza. Op. Cit. p.110. 29 SÁ, Antônio Fernando de Araújo- Capítulos de história da historiografia sergipana/ Antônio Fernando de

Araújo Sá. – São Cristovão, Editora UFS; Aracaju, IHGSE, 2013, p.100. 30 QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Historiografia do Nordeste. São Paulo: Arquivo do Estado de São Paulo,

1979. p.66. 31 ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Uma unidade açucareira em Sergipe – o engenho Pedras. Separata

dos Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História (Aracaju – setembro de 1975).

São Paulo, 1975. 32 AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.

(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012. Cotinguiba região de maior produção açucareira de

Sergipe de solo massapê, argilosos, escuros e pesados que retivessem bem a umidade e eram preferidos para o

cultivo da cana-de-açúcar. 33 ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Sergipe: Fundamentos de uma economia dependente; Petrópolis:

Vozes, 1984.

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econômico com características relacionadas com a monocultura da cana de açúcar, mão de

obra escrava e dependência da Bahia para o escoamento da produção. E nos informa acerca da

importância do comércio do açúcar e do algodão com o exterior e por meio das diversas

nacionalidades e representantes europeus como os existentes nos centros comerciais34 do Vale

do Cotinguiba.

Maria da Glória Santana de Almeida (1993), Em Nordeste Açucareiro35, este resultado

de sua dissertação de mestrado em História, defendida na universidade de Brasília, ela faz

suas investigações no âmbito das singularidades regionais da economia açucareira sergipana

isso a partir de fontes primárias: Documentos, inventários, processos cíveis, testamentos,

jornais, livros de notas entre outras fontes. Conforme análise da autora os desafios da

modernidade e da expansão capitalista na economia açucareira, e a persistência nos engenhos

bangues, explica em parte, o atraso do sistema de transporte e a falta de investimentos do

poder público em políticas que garanta aos proprietários da cana de açúcar melhorem

condições de produção.

A partir desse diálogo percebemos que há uma semelhança com a obra de Gilberto

Freire: Sobrados e Mucambos, isso em função da importância dada pelos senhores de

engenhos e comerciantes ao gosto pelo luxo, ostensão e em relação à educação dos filhos em

conduzi-los para os grandes centros educacionais urbano do país. É possível perceber a

relação com outra literatura de Gilberto Freyre: Sobrados e Mucambos. O autor faz outros

questionamentos como a transição do trabalho escravo para o livre. É notória a presença do

êxodo rural em busca pela incerteza da cidade e os deslocamentos de grupos humanos dos

campos para cidade.

Sabemos que mesmo com alguns avanços da usina, o pequeno banguê só resistiu até a

primeira metade do século XX. Entretanto, “se o pequeno bangue permitiu a distribuição de

riqueza entre muitos, a usina matará o pequeno produtor e ocasionará a concentração de terra

nas mãos de poucos e a separação definitiva do homem dos meios de produção” 36.

34As casas comerciais estrangeiras Sharamn e Cameron Smith. DANTAS, Orlando Vieira. O Problema

Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944, p.20. 35 ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro: desafios num processo de vir a ser capitalista.

Aracaju: Universidade Federal de Sergipe / SEPLAN/BANESE, 1993. 36 ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro: desafios num processo de vir a ser capitalista.

Aracaju: Universidade Federal de Sergipe / SEPLAN/BANESE, 1993, p.308.

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Podemos relacionar inúmeras obras que fazem parte desse universo da cultura da cana

de açúcar, que estão ligadas a temática supracitada e podemos relacionar também a obra de

Esterzilda Berenstein de Azevedo37, que versam sobre as transformações estruturais dos

engenhos no século XIX em terras das baianas.

Em outro contexto, trata também dessas transformações estruturais nas unidades

açucareiras, onde podemos fazer uma possível comparação com a obra de Maria da Glória: A

Propriedade Rural - Nota Prévia sobre Propriedade Canavieira em Sergipe. (Século XIX).

Para finalizar as observações acercas das obras de Almeida entendemos que suas obras são

fartas de vestígios e fios condutores para serem estudados por outros pesquisadores como, por

exemplo, o estudo do cotidiano dos escravos assunto que não versaremos pois não faz parte

do nosso objetivo maior que é perceber os laços e o cotidiano sobre os engenhos e a economia

açucareira, contudo vale salientar que a autora deixa informações relevantes de como Sergipe

participou do cenário na nova atividade econômica voltada para agricultura uma vez que as

circunstancias se alternaram, no final do século XVIII, tendo assim o início a decadência da

produção açucareira no nordeste, devido a grande produção de açúcar nas colônias europeias

nas Antilhas e outras circunstancia internas foi a corrida pelo ouro o chamado ciclo do ouro

das Minas Gerais.

Os tempos do açúcar vieram a ter valor após o esgotamento dessas minas, e a

conscientização da importância da agricultura, sem dúvida podemos perceber parafraseando a

frase celebre de Felisbelo Freire quando afirma que Sergipe antes de ser agricultor foi pastor

por Sergipe não ter acompanhado a fase áurea da economia açucareira, que fez a riqueza e o

desenvolvimento do Nordeste nos séculos anteriores, nesse período, as terras da capitania de

Sergipe Del Rey as planícies férteis e os sertões eram ocupados para a criação de gado que

serviram de alimento para as zonas produtoras vizinhas Bahia e Pernambuco.

Outra área dentro da nossa historiografia é a arquitetura sob o olhar e reflexão de Kátia

Afonso Silva Loureiro, na sua obra: Arquitetura do Açúcar. Pontua sobre as características

históricas e arquitetônicas de alguns engenhos sergipanos dos séculos XVII ao XIX. A autora

faz um mapa da arquitetura do açúcar, tendo o conjunto arquitetônico Tejupeba, antigo

Colégio dos Jesuítas, erguido na Fazenda Iolanda município de Itaporanga D’Ajuda

37 AZEVEDO, Esterzilda B. de. Engenhos do Recôncavo Baiano. Editora: IPHAN, 2009.

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propriedade de Dona Rute Fonseca Rollemberg Mandarino, esse conjunto arquitetônico casa e

capela como sendo o mais antigo exemplar de construção antiga que ao lado do São Felix, em

Santa Luzia do Itanhy um engenho do centro sul fazem parte do século XVII. Nesta obra a

autora elenca 31 monumentos da arquitetura açucareira das áreas principais onde vicejou a

cultura da cana de açúcar entre eles os já mencionados.

Loureiro faz a citação de numerosos engenhos das diversas regiões do estado, que são

representações da arquitetura do açúcar em Sergipe, selecionou alguns engenhos para tratar

acerca dos mesmos. Outros foram citados como sugestão para pesquisadores que tenham

interesse nesta temática, a saber: Engenho Antas, Castelo, São José, Priapu, Cedro,

Vassouras, São Joaquim, Kassunguê, Boa Vista, Belém, Poços, Engenho Novo, Salobro,

Penha, Dirá, Escurial, Itaperoá, Quindongá, Retiro, Pedras, Caieira, Santa Bárbara, Jesus

Maria José, Cruzes, São Joaquim, Tuim, Engenho de Ferro, Pinheiro, Central, Cumbe, Poxim,

Unha de Gato, Maria Teles, Serra Negra, Jordão, Catete, Comandaroba, Oitocentas38.

Caraíbas, Jurema, caldas, Cajá, Junco, Pombinha, Capim Açú, Periperi, Santo Antônio entre

outros engenhos.

Portanto, nos faz pesar nas possibilidades de escrita sobre cada uma destas unidades

açucareira, sendo assim nos despertou o interesse pelo engenho Oitocentas da família Vieira

Azevedo, este engenho um espaço de recordação, lugares de memórias e representações

culturais e quiçá religiosas que será abordado no próximo capítulo.

Outro autor que merece destaque por sua vasta produção é o historiador Ibarê Dantas

que contribui com a pesquisa historiográfica, seu preparo nos traz em sua produção intelectual

o diálogo entre a história e as ciências sociais. Os outros livros desse historiador que retrata

uma síntese da história de Sergipe sobre diferentes vertentes temáticas, entre elas a político

partidária39.

Além desses diálogos já mencionados, têm outra obra a História de Sergipe República

que nos faz compreender como foram construídos o Estado republicano e a sociedade isso

baseado nos aspectos políticos administrativo, cultural, econômico social. Este livro expressa

38 Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá após falecimento deste ao filho José

Paes de Azevedo Sá e atualmente pertence a Senhora Graziella Vieira de Azevedo, o mesmo está localizando as

margens da BR 101 no município de Rosário do Catete- SE. Limita-se com a Fazenda Sítio Novos e o Engenho

Paty. 39 DANTAS, Ibarê. A Tutela Militar em Sergipe (1964-1984). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 1997.

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a tentativa de sintetizar a experiência de110 anos de república procurando mostrar como os

sergipanos conviveram politicamente, como produziram, trabalharam e distribuíram suas

riquezas, enriqueceram suas culturas, acompanha o processo de modificações variadas e

abrangentes, ocorridas de âmbito nacional ou especificamente local. Ainda vai demostrar

como no início de Sergipe república os senhores do açúcar dominavam. Por fim, diferente

das demais obras de sua produção intelectual anteriores, Dantas, se debruça sobre a escrita da

biografia do senhor de engenho Leandro Ribeiro de Sequeira Maciel, importante liderança

política dos oitocentos em Sergipe, o conhecido Senhor ou patriarca do engenho Serra Negra.

Esta biografia nos possibilita a compreensão das dimensões e variedades de assuntos nela

contida tanto da parte do proprietário e dos escravos, práticas políticas exercidas por parte da

política provincial sergipana40.

Nessa obra, Ibarê Dantas utiliza a influência de Freyre em Casa Grande e Senzala, bem

como, Sobrados e Mucambos. Sendo assim, a proposta não é escrever sobre a temática da

escravidão, mas sobre o personagem Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel. Este se relaciona

com Freyre pelo fato da proximidade com a casa grande do engenho Serra Negra, ele faz uma

relação um paralelo entre essas duas obras de Gilberto Freyre.

Em seguida temos do mesmo autor, Memórias de Família41, a narrativa de quatro

fazendeiros de gerações diferentes, que viveram nos século XIX e XX no engenho Boqueirão

ou Salgado, hoje no município de Riachão dos Dantas; A partir da leitura passamos a evocar

as evidências da história através dos costumes e até mesmo a representação fragmentada de

fatos, histórias e recordações da vida deles.

Esse conjunto e observações que o autor ilustra do ambiente dos fazendeiros de

gerações distintas, atuando no cenário político administrativo municipal, eles certamente

enfrentam revés da natureza, e as dificuldades de seu tempo, mas investiram, administraram

suas propriedades e tornaram eventualmente representantes do patronato rural elite local

naquela conjuntura.

40 DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009. 41 DANTAS, Ibarê (2013.p.77) – Memórias e Família – O percurso de quatro fazendeiros. Aracaju – SE. Criação

2013.

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Em continuidade a produção de Ibarê Dantas, aventaremos acerca da Imprensa

Operária42 e podemos observar como o autor articular-se em relação à estrutura social de

Sergipe nos idos de 1889 a 1930 nas quatro décadas da república. Pontua a predominância as

atividades eram rurais e voltadas para a produção o comércio nacional e internacional, e entre

os produtos de maior representatividade destaca-se o açúcar que no idos de 1889 correspondia

a 76,51% do valor total das exportações.

Ainda descreve que o material trabalhado nesse livro compõe-se de cinco jornais sendo

que os quatro primeiros tiveram o nome de o Operário e o quinto a Voz do Operário. Na

análise de cada jornal afirma o autor que procurou enfocar suas contribuições para as defesa e

conquista dos direitos, e o fortalecimento da classe e suas tendências.

Compartilhamos também do ponto de visa da autora Sharise Piroupo do Amaral, em sua

obra Um pé calçado, o outro no chão (2012)43, após leitura, nós identificamos no primeiro

capítulo cujo título: A Doce Cotinguiba, que nos fez refletir sobre porque doce? Ela descreve

o espaço geográfico e a economia do Cotinguiba como sendo um lugar de muitos rios e

muitos engenhos e que teve uma participação intensificada no decorrer da crise do século

XIX. É perceptível analisar os processos históricos que antecederam e se desenrolavam na

região da Cotinguiba, bem como em outras partes do país, com isso a autora situa o leitor no

espaço onde se dá a sua escrita historiográfica.

Partimos para a análise conjuntural da obra que nos fez perceber que se trata da temática

voltada mais para a liberdade e escravidão em Sergipe, na região da Cotinguiba. Contudo, a

autora faz uma interlocução com a obra de Gilberto Freire: Casa Grande e Senzala, a mesma

demonstra que para cogitar uma temática não se é necessária olhar apenas por um só viés,

perceber e interpretar com novos olhares e entender os sentidos políticos, econômicos e

através destes, apresentar diversas formas e fontes, aspectos culturais.

O livro do escritor e professor Ariosvaldo Figueiredo,44 descreve diversas temáticas da

história de Sergipe, pontua sobre a política e economia as oligarquias e as dissidências

retratam que Sergipe e em vários lugares do país não pensava na indústria, mais acreditava na

agricultura retrata acerca sociedade dos agricultores, fazendeiros e a hegemonia açucareira.

42 DANTAS, Ibarê. Imprensa Operária em Sergipe (1891-1930) – Ibarê Dantas- Aracaju: Editora Criação, 2016. 43 AMARAL, Sharyse Piroupo do. Um pé calçado, outro no chão: Liberdade e escravidão em Sergipe.

(Cotinguiba, 1860- 1900). Aracaju: Ed. Diário Oficial, 2012. 44FIGUEIREDO, Ariosvaldo - História políticas de Sergipe-(1986).

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Contudo nos últimos anos do século XIX, vivem seus piores momentos engenhos falidos,

fazendas descapitalizadas.

Nesse percurso da revisão historiográfica buscamos a contribuição do jornalista Orlando

Dantas, por sua vez, preparou uma análise sobre as famílias dos senhores de engenho, a

relação da casa grande, do senhor e do espaço rural. Ela é uma obra memorialista onde o autor

da ênfase aos engenhos que pertenceram a sua família o Engenho Vassouras é um deles de

relevância na economia sergipana. Em vida Patriarcal Sergipana, o memorialista pretende

documentar a sua interpretação da civilização sergipana, as memórias sobre o engenho

Vassouras, bem como os troncos das principais famílias naquela época na província de

Sergipe Del Rey, da família Dantas, assim como de várias outras famílias da aristocracia

açucareira, a saber, Os Muniz Barreto, os Teles Barreto, os Cardosos, os Corrêa Dantas, os

Rollemberg, os Vieira Dantas, os Vieira de Melo, os Vieiras de Andrade, Os Gomes de Melo,

os Prados Barreto, os Faros, os Aciolys, os Meneses Barretos, os Azevedo Sá, Meneses

Sobral, Prados Trindade, a família dos barões de Itaporanga, Barão de Maruim, Barão de

Japaratuba e Barão de Estancia, entre outras45 situadas na região do Cotinguiba.

Em outra obra, O Problema Açucareiro de Sergipe 46, Orlando Dantas faz uma síntese dos

problemas açucareiros de Sergipe nos seus distintos aspectos, desde os primórdios de sua

história até a situação de declínio analisando os aspectos característicos do homem, terra, a

habitação, alimentação, o desenvolvimento dessa cultura do açúcar como era transportando e

sobre o processo da chegada da indústria, das usinas.

Em suas reflexões a lavoura era rudimentar e na indústria havia o estacionamento de

potencialidades produtivas logo os lucros eram quase nulos. Por outro lado, é importante ter

em conta que a produção açucareira é uma atividade de evidencia obvia de caráter social e a

ela cabem todas as responsabilidades sociais. Para isso podemos exemplificar as diferenças

entre a casa grande e a senzala, o senhor de engenho e o escravo logo podemos refletir que é

uma sociedade cheia de complexidades na cultura na economia e nas camadas sociopolíticos.

Podemos perceber uma forte influência de Gilberto Freyre na escrita de alguns autores

sergipanos, tais semelhanças se manifestam no modo como é descrita a casa grande, a senzala,

45 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

(1980. p.30). 46 DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944. p.20.

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e todo o conjunto estrutural do engenho. É perceptível na questão na relação das famílias

formando uma árvore genealógica das famílias dos engenhos da região do Cotinguiba e baixo

Cotinguiba e da região Vaza Barris. A vida patriarcal é uma fonte de acontecimentos e

realidades que serve até hoje para fornecer temas aos pesquisadores interessados em

desenvolver a história nessa temática.

Sendo assim, a cultura do açúcar como fonte para a escrita da historiografia é muito

significativa e abrangente todas as obras supracitadas tem seu contexto e suas peculiaridades,

contudo temos outras obras que também versam sobre o contexto das mulheres na corte do

Rio de Janeiro, a vida e as memórias do engenho Escurial, na corte, a educação das filhas do

proprietário de engenho as obras “Memória de dona Sinhá47,” “Memória de Aurélia48” e “A

Carta da Condessa49” são desdobramentos da tese de doutorado, obras de Samuel

Albuquerque versam sobre o contexto da aristocracia rural, bem como da vida privada do

cotidiano na corte do Rio de Janeiro, e a Carta da condessa versa sobre o contexto familiar,

relacionado principalmente as mulheres e sobre a educação das filhas da aristocracia

açucareira neste caso a educação das mulheres da família do Barão de Estância.

Outras características perceptíveis na obra de Gilberto Freyre como a questão do

cotidiano da casa grande e senzala, são os aspectos da formação da família atrelados às

modificações que retratam aspectos gerais do Brasil e indícios de particularidades regionais

que podem ser trabalhadas principalmente nas regiões de Pernambuco, Bahia e Sergipe

também são representadas nessa literatura. Um dos primeiros indícios referente à Sergipe em

Casa Grande Senzala é sobre o Engenho Caieiras na introdução da obra sobre a Capela.

“Nada mais interessante que certas igrejas no interior do Brasil com

alpendres na frente ou dos lados como qualquer casa de residência. Conheço

várias- em Pernambuco, na Paraíba, em São Paulo. Bem característica é a de

São Roque do Serinhaém. Ainda mais: a capela do Engenho, em Sergipe,

cuja fisionomia é inteiramente doméstica50.”

47 ALBUQUERQUE, Samuel Medeiros Barros de. Memórias de dona Sinhá. Aracaju.: Scortecci,2005. 48 ALBUQUERQUE, Samuel Medeiros Barros de. Memórias de Aurélia: Cotidiano feminino no Rio de Janeiro

do século XIX, São Cristovão/SE: Editora UFS, 2015. 49 ALBUQUERQUE, Samuel Medeiros Barros de. A carta da Condessa: família, mulheres e educação no Brasil

do século XIX. São Cristovão: Editora: UFS, 2016. 50 FREYRE, Gilberto, Casa Grande Senzala: Formação da família brasileira sob o regime da economia

patriarcal; São Paulo; Globo, 2006.

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Temos outras características abordadas na literatura de Freyre, pois são muitas pistas

deixadas pelo autor sobre as possibilidades de estudos acerca da escravidão, economia,

cultura e temas afins que não temos como versar neste trabalho, mas sua obra mesmo sendo

um clássico também foi submetida a críticas e abordagens por diversos autores do Brasil e do

exterior e está sujeitas a outros olhares e interpretações.

Albuquerque faz análise do período de Sergipe Imperial, onde consulta documentos

sobre o cotidiano da aristocracia açucareira em particular da família de Dona Sinhá das

memórias escritas por Aurélia Dias Rollemberg proprietária do Engenho Escurial localizado

na região do Vaza Barris; O autor além de refletir sobre o universo feminino no contexto da

Sociedade Sergipana traz à tona as relações amorosas, politicas memorialísticas das famílias

dos dias coelho de Melo e dos Rollemberg. Albuquerque segue os passos de Gilberto Freire

como fez em Casa Grande e Senzala quando recupera a história da vida e do cotidiano das

famílias da aristocracia açucareira do Nordeste.

Na historiografia sergipana são diversas as obras que versam sobre várias temáticas

voltadas aos tempos do açúcar. Entre elas, destacamos o trabalho de José Modesto dos Passos

Subrinho, “Reordenamento do trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro de

Sergipe (1850-1930),” visto que está que se constitui como um referencial pela valiosa

contribuição histórica econômica acerca de Sergipe, e nos permite uma relação com dados

mais significantes e preciso se tratando da produção canavieira do período por ele analisado

com suas possíveis mudanças estrutural.

Outra obra de sua autoria tem o título de “Os classificados da escravidão” /

organizador, Josué Modesto dos Passos Subrinho. Aracaju: Instituo Histórico e Geográfico de

Sergipe, 2008. Obra está voltada para fornecer pistas sobre quem é quem entre o patronato

escravocrata, bem como suscitar outros temas relacionados sobre as famílias de escravos e as

relações senhores de engenho e escravo. Trouxe grande contribuição na área econômica foi

Josué Modesto dos Passos Subrinho51, com sua obra que preenche as lacunas da história da

economia de Sergipe legitimada com base em ampla documentação sendo assim faz com que

compreendamos a gênese das desigualdades regionais e formação e continuidade dos

51PASSOS, Subrinho, Josué Modesto dos. História Econômica de Sergipe (1850-1930), São Cristovão:

Programa de Programa Editorial da UFS, 1987.

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complexos econômicos. Em sua tese de doutorado transformada em livro Josué Modesto

Passos Subrinho analisa a crise do escravismo e a sua transição ao trabalho livre em Sergipe.

Ao investigar sobre o processo de reordenamento52 do trabalho, ele trouxe várias

explicações acerca das opções de trabalhos e as possíveis dificuldades dos proprietários em

atrair força de trabalho, inclusive quando os centros de produção se modernizavam e as

parcelas da população permaneciam na agricultura de subsistência.

A historiografia sergipana é muito diversificada, contudo queremos que o leitor entenda

que o nosso objetivo não é versar sobre todas as obras e respectivos autores, mas, fazer um

panorama geral das obras da nossa historiografia com temáticas especifica e relacionais com a

nossa pesquisa. Logo ainda sobre as lentes de Maria Thetis Nunes53 obra que é exemplar no

âmbito do didatismo e no amadurecimento das reflexões teóricas metodológicas a autora teve

a oportunidade de na introdução do seu livro Sergipe Colonial II versar sobre a síntese da

história de Sergipe, desde os tempos coloniais até o século XX, analisando a visão histórica

da totalidade, sendo que a mesma tenta compreender problemas que perpassam a vida

sociopolítica sergipana até os dias atuais.

Nesta obra Nunes menciona a questão do ócio e da preguiça e da carta do arcebispo da

Bahia. Alegando que a perda de um cativo para os senhores sergipana, portanto, significava

um prejuízo expressivo de seu patrimônio. Outras fontes que foram relevantes para a nossa

pesquisa foram às revistas Brasil açucareiro (1935-1970) pertence ao acervo da biblioteca

pública Epifânio Doria, a mesma nos fornece dados acerca da cultura do açúcar,

principalmente sobre a existência e importância da economia e da exportação para toda a

Europa até o surgimento do açúcar de beterraba nas Antilhas.

Estas revistas aborda a legislação vigente, modificada naquele contexto histórico de

produção açucareira, controlando assim a produção das unidades produtoras; também informa

sobre a produção nacional dos engenhos de norte a sul, onde havia engenhos que foram

registrados pelo Instituto do Álcool e do Açúcar, nestas revistas são pontuadas às causas e

consequências de problemas nas safras como a praga da cigarrinha em Sergipe, Paraíba e em

outros estados, assim como o registro das secas repercutindo na economia das elites rurais

52 PASSOS, Subrinho, Josué Modesto dos. Reordenamento (do trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no

Nordeste açucareiro, Sergipe, 1850-1930). Aracaju: FUNCAJU, 2000. 53 NUNES, Maria Thetis, Sergipe Colonial II, (1840- 1889), Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 2006.

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inclusive temos também informações sobre engenho Oitocentas que é o objeto no nosso

estudo.

Na tentativa de suprir uma lacuna em nossa história, Fernando Sá54 (2013.p.92),

afirma que os anos de 1970 foram importantes, pois marcam o início da produção dos

primeiros textos de Historiografia Sergipana, portanto, nesta pesquisa estabeleceremos um

panorama historiográfico partindo da obra: Introdução aos Estudos da Historiografia

Sergipana, de José Calazans Brandão Silva texto encomendado para a apresentação do V

Simpósio de História do Nordeste (1973) traz um cenário da produção historiográfica

Sergipana até sua época década de 70 do século XX. Ele um pesquisador que continuará

como exemplo para os futuros trabalhos.

Importante perceber que, Calazans fala a partir do lugar institucional, do Instituto

Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), ou seja, faz com que ele fale a partir da comunidade

de historiadores baianos, de acordo com Antônio Lindvaldo Sousa55. Calazans foi conhecedor

do passado sergipano, procurava uma escrita da história mais profissional, científica, buscava

as evidências do passado utilizando documentos; ele institui a historiografia sergipana até seu

tempo compreendida em quatro fases.

Ele constituiu o modelo de periodização da historiografia, vale salientar que as obras

desses períodos nem todas fazem parte da história da cultura do açúcar, estamos tratando da

obra desse autor por ser perpetuar como balizadora, contudo nortearemos nossa revisão

historiográfica nos autores que tratam sobre a temática ou contexto referente aos engenhos e

áreas afins.

Vale salientar que com o surgimento do IHGS (Instituto Histórico Geográfico de

Sergipe) em criado em 1912 dar-se a instauração da terceira fase que está subdividido em

momentos, estes tiveram característica formidável que foi a produtividade dos autores,

somando-se a isso que o IHGS era participante ativo da vida cultural da comunidade

sergipana o que agregou nessa instituição uma nova geração de estudiosos da história de

Sergipe sendo assim para essa fase podemos relacionar os seguintes autores: Clodomir Silva,

54 SÁ, Antônio Fernando de Araújo- Capítulos de história da historiografia sergipana/ Antônio Fernando de

Araújo Sá. – São Cristovão, Editora UFS; Aracaju, IHGSE, 2013. 55 SOUSA. Antônio Lindvaldo. História e Historiografia Sergipana: notas para reflexão. São Cristóvão: CESAD,

2013. p.85.

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com a obra Álbum de Sergipe (1920, p.), descreve sobre alguns locais que foram importantes

centros econômicos da monocultura do açúcar como Rosário do Catete, Japaratuba,

Riachuelo, Maruim, Laranjeiras conhecida por serem os centros de grande produção do

açúcar, transporte, clima, tipos de solo a fauna e a flora de cada localidade, a parte da

hidrografia importante para o escoamento da produção do açúcar, ou seja, ela faz um

panorama de cada município da microrregião do Cotinguiba.

Outro momento dessa terceira fase foi o surgimento de novos escritores a exemplo o

próprio José Calazans Brandão Silva56, De acordo com Calazans, os exemplos são muitos ao

longo desse panorama historiográfico é no terceiro momento dentro da terceira fase podemos

pontuar autores, a saber, a professora Maria Thetis Nunes57, Orlando Dantas58.

A historiografia também nos aponta para a obra de Gadiel Perucci, em “A república

das usinas: Um estudo da história social econômica do nordeste59” – que trata de informes e

considerações, calcadas na reconstrução histórica, com suas vertentes para a economia, e

retratando as mudanças da aristocracia açucareira com a crise das unidades açucareira passam

de engenho a usina. E alguns não tendo capital simbólico chegam ao fechamento de seus

engenhos tornando-os de fogo morto, ou seja, plantam e repassam para outras usinas

fabricarem o açúcar.

Destaque ainda para o livro da historiadora Sura Souza Carmo “Doce Província?: O

cotidiano escravo na historiografia sobre Sergipe oitocentista (2007)”, onde ela questiona

sobre o cotidiano escravo na historiografia, sobre Sergipe oitocentista a autora faz uma

revisão historiográfica de grande relevância para outros pesquisadores abordando sobre a

questão da escravidão, contudo nesta revisão surgem os temas sobre cultura do açúcar ou

relacionado e ele, de maneira que deixa pistas notas em relação à historiografia sergipana

entre uma obra que é citada temos assuntos referentes a questão da aristocracia rural em

Sergipe. Ela pontua que há um distanciamento muito grande entre as obras historiográficas.

56 CALAZANS, José. Introdução ao estudo da historiografia sergipana. In: Aracaju e outros temas sergipanos.

Aracaju: FUNDESC, 1992. 57 NUNES, Maria Thetis, Sergipe Colonial II, (1840- 1889), Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro 2006. 58 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

(1980). 59 PERRUCCI, Gadiel. A república das usinas: um estudo de história social e econômica do Nordeste, 1889-

1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

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Todavia, essas obras sempre se relacionam, pois servem de referencial para

historiadores e pesquisadores, as mesmas, ao longo do texto vão pontuando e deixando pistas

e veredas a serem exploradas. Esta obra a mais recente da historiografia sergipana publicada

em 2017 pelo IHGSE (Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe).

Não poderíamos deixar de observar o conjunto de monografia dos principais

historiadores de Sergipe, propondo cada metodologia de análise em que se baseia nos

conceitos e definições de obras, autor e seus contextos entre elas citamos as monografias e

dissertações de mestrado, pois também são fontes importantes na área de na história assim

podemos citar a dissertação de mestrado Renaldo Ribeiro Rocha (2004)60, nela o autor versa

sobre os engenhos sergipanos em sua materialidade, relata o processo de produtividade,

implantação e dos engenhos no século XIX, fazendo um quadro das transformações

ocorridas na produção açucareira desde o processo de fabricação até o escoamento do

produto para exportação. Sendo que para uma melhor compreensão do universo açucareiro

foi analisada a organização espaço temporal do engenho e o seu papel.

Através do contato com a monografia de Leonice Pereira dos Santos (2017)61,

analisamos o sequestro de uma filha da elite da aristocracia açucareira nessa pesquisa os

testemunhos e as narrativas produzidas sobre o rapto da jovem Joana Ladislau de Faro Jurema

(1849-?), ocorrido no ano de 1864, no engenho Massapê, termo de Laranjeiras, na província

de Sergipe. A menor contava com apenas 15 anos de idade fora raptada por Braz de Maciel,

rapaz também oriundo da elite açucareira sergipana. Após 21 dias de perseguições entre

matas, canaviais, sítios e engenhos houve o desfecho e foi fartamente noticiado pela imprensa

sergipana é fluminense.

A partir da historiografia esta pesquisa procurou analisar obras do século XIX e do

século XX, sobre os tempos do açúcar, numa busca de testemunho documental, pelo cotidiano

do engenho de açúcar e as relações comerciais e sócias da família patriarcal e assim legitimar

nossa pesquisa, pois esse campo é complexo e amplo, com fontes ainda pouco exploradas e

que podem revelar aspectos singulares do lugar de memória.

60 ROCHA, Renaldo Ribeiro. O engenho sergipano na sua materialidade: Escurial, um estudo de caso (1850

1930). 2004. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe. 61 SANTOS, Leonice Pereira dos. O rapto da Jureminha: testemunhos e interpretações sobre um crime na

província de Sergipe (1864-2009). São Cristóvão, SE, 2017. Monografia (Graduação em História) -

Departamento de História, Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de Sergipe, São

Cristóvão, 2017.

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Importante percebermos que somente no século XIX, foi definida a ocupação para

produção agrícola em Sergipe, isso devido a excelente ajustamento dos solos para a criação do

gado que foi direcionada para o interior e para os sertões e a faixa litorânea e zonas com os

cursos fluviais foram adequadas possibilitando a monocultura da cana de açúcar e o

surgimento dos engenhos. Conforme Maria da Glória Santana de Almeida é difícil fazer a

conta dos números de propriedades canavieiras existente na província de Sergipe, nos idos da

segunda metade do século XIX devido à ausência de registro de terras.

Há uma delimitação das áreas para a produção canavieira e os vales da Cotinguiba,

Vasa Barris e Piauí foram ocupados pela monocultura da cana de açúcar sendo que cada uma

dessas áreas teve senhores de engenhos mais afortunados e engenhos que denotavam mais

notoriedade por serem opulentos e os seus proprietários tiveram prestígios e foram lembrados

pela historiografia, outros foram silenciados pelo tempo apesar de terem pertencido ao mesmo

contexto político, social e econômico.

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II

ROSÁRIO DO CATETE: O LUGAR DO LUGAR

A seguir, faremos uma análise possível sobre o surgimento das unidades açucareiras

em Sergipe, quando necessário num comparativo com os engenhos da Bahia. Nesse sentido,

buscou-se conhecer o lugar do lugar, onde estavam localizadas as unidades açucareiras no

baixo Cotinguiba e assim passamos a conhecer a origem do município, emancipação política e

desenvolvimento sócio político cultural de Rosário antiga freguesia e vila na província de

Sergipe e posteriormente município de Rosário do Catete/SE.

O exemplo de distribuição de terras feito no território brasileiro foi o responsável pelo

surgimento dos grandes domínios territoriais, as famílias que se notabilizaram durante o

processo de colonização passaram a acumular-se de várias sesmarias, quer para a implantação

de engenhos ou em lugares não apropriado ao cultivo da cana de açúcar escolheram a criação

do gado extensivo.

Portanto, por várias gerações deu-se progressiva concentração de terras nas mãos de

poucas famílias, responsáveis pela produção do açúcar nos séculos iniciais da colonização das

terras da colônia portuguesa desde o século XVI ao XIX, nas áreas litorâneas como Bahia, em

Pernambuco com maior eficácia, na segunda metade do século XVIII, em Sergipe nesse

mesmo século estendendo-se até século XX com o declínio das usinas.

A ocupação da região que hoje compõe o estado da Bahia ocorreu de forma gradativa,

contudo foi no Recôncavo Baiano que aconteceu a maior área de produção de cana de açúcar,

vejamos o que nos informa Antônio Carlos do Amaral Azevedo (1994). 62

“Com uma área de aproximadamente 10.400km², formada na maioria por

terras baixas, abertas para maior baía da costa brasileira, com quase 750 km²

de águas salinas e 190 km de costa. A rede fluvial do Recôncavo é formada

pelos rios Paraguaçu, Açu, Subaé e Jaguaribe, que desaguam na baía e pelos

rios Pojuca, Jacuípe e Joanes, que desaguam diretamente no Oceano

Atlântico (p.18).”

62 AZEVEDO, Antônio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos, Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 1990.

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A Bahia, com solos férteis tipo massapê, com vegetação de Mata Atlântica que

margeava toda a costa e o Recôncavo, tinha condições favorável para o desenvolvimento da

produção açucareira que caracterizou a atividade econômica. As primeiras notícias sobre a

implantação de engenhos na região estão ligadas ao processo de ocupação das terras, com o

surgimento das primeiras vilas: Nossa Senhora do Porto de Cachoeira; São Francisco da Barra

do Conde, Itaparica como porto de produtos de subsistência. Durante o século XVIII, a

atividade praticada nesta região foi em escala de produção comercial dos seguintes produtos:

fumo, mandioca, além da extração de madeira e a criação de gado.

Durante os três primeiros séculos da colonização, isto é, até os idos do século XIX, a

atividade agrícola foi a maior responsável pela localização e desenvolvimento de povoações

no Recôncavo Baiano, ou seja, vinculada a produção ou ao transporte. A rede de cidade da

região se originou e sua hierarquia se estabeleceu em função da cultura canavieira.

Ao fazermos um comparativo dos engenhos da Bahia do século do início da

colonização com os do século do final XVIII e XIX há uma distinção acentuada, pois, as

propriedades eram menores, devido às partilhas por questões de herança, como também pelo

problema com a infertilidade das terras, causando uma menor produção. No início da

produção açucareira em algumas partes da região do Recôncavo Baiano, segundo Stuart

Schwartz, os Engenhos da Bahia praticavam a policultura63. Foram introduzidos outros

produtos além do açúcar, tais como, o arroz, gengibre, hortaliças, mandioca entre outros

produtos sendo agricultura de subsistência.

Nesse período, os proprietários de engenhos conviveram invariáveis de toda sorte.

Essa inconstância causou, no século XIX, a necessidade de buscar novas formas para

enfrentar concorrências internacionais. É nesse período que surge a introdução da máquina a

vapor como resposta as novas exigências no final daquele século.

“Nessa medida, o engenho deu lugar às usinas de açúcar, para usarmos uma

expressão corrente que nem sempre consegue apreender a natureza dessa

transformação, já que boa parte da bibliografia acaba reduzindo o problema

a discussões do tipo: formas arcaicas e pré-capitalistas de produção versus

produção capitalista. Muito pelo contrário, o que esteve em jogo nessa

transformação não foi à passagem de uma organização social do trabalho

pré-capitalista para uma organização capitalista do trabalho, mas sim o modo

63 SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:

Companhia das Letras, 1988, p. 83.

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pelo qual no interior da organização social capitalista do trabalho, já no

século XIX, determinadas formas se impuseram sobre outras – a usina de

açúcar superou o engenho64.”

Grande parte do funcionamento da economia da Bahia esteve relacionada com o

comércio internacional e antes de salientarmos sobre o comércio seu apogeu e declínio

apresentaremos alguns fatores que complicaram o desenvolvimento da produção açucareira

tanto na Bahia como em Sergipe e outras áreas do Brasil. A complexidade de manter um

engenho, a variedade de serviços de mão de obra especializada e a ausência da uma indústria

doméstica de refino do produto.

Diante da complexidade e magnitude desse comércio implicavam também as grandes

exigências dos mercados consumidores e exportadores. Essa ausência total de refinaria fazia

com que os preços do açúcar se tornassem onerosa.

Em meados do século XVIII a economia açucareira baiana passou por um processo de

estagnação, apesar da insegurança e rotatividade dos preços e das vendas das propriedades

pelos senhores de engenhos, a região da Bahia, principalmente do Recôncavo, foi o lugar de

maior concentração da produção açucareira e mesmo com as baixas dos preços do açúcar o

Recôncavo conferiu a Salvador sua existência econômica e estimulou a colonização e

produção açucareira fez com que seus senhores de engenhos dominassem a vida social e

política.

Compreendemos que o funcionamento da economia açucareira brasileira e suas

regiões produtoras como a Bahia, Sergipe estiveram sempre relacionadas ao mercado

internacional e aos mutáveis padrões políticos e econômicos no mundo Atlântico.

Desde os tempos da colonização do Brasil, a Bahia tentou a conquista de Sergipe Del

Rey, mas a efetiva penetração na área, só aconteceu segundo duas décadas mais tarde. Com o

surgimento da povoação de São Cristovão e logo após a transferência para outro lugar mais

vantajoso65. A produção do açúcar e a parte da produção de Sergipe El Rey eram geralmente

calculadas como sendo parte do total da cotação de produção da Bahia, em outras palavras

64 DECCA, Edgar de. O nascimento das fabricas. São Paulo: Brasiliense, 1998. Coleção Tudo é História, 88. 65 Acreditamos que esse lugar seja a atual capital Aracaju que foi projetada para ser a capital, compreendia o

presidente em exercício Inácio Barbosa a importância dessa mudança que ocorreu em 17 de março de 1855 pois

tinha uma melhor posição geográfica e também facilitou o escoamento dos produtos exportados principalmente a

produção açucareira. Medida sancionada pela resolução de número 413.

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Sergipe era de fato, uma extensão da economia da Bahia, apesar de haver as diferenças em

relação aos engenhos que eram menores. No início do século XIX, foram arrolados 163

engenhos próximos à voz do rio Cotinguiba em Sergipe El Rey e sua produção perfaziam

25% da produção da Bahia.

Esses lugares estavam ligados no passado, pois Sergipe fazia parte da capitania da

Bahia de Todos os Santos, ai deu início à atividade econômica de produção do açúcar, e a

construção de engenhos, além da sede da capitania conhecida como Vila Velha do Pereira

contando com o auxílio do náufrago Diogo Álvares Caramuru, contudo a administração

mostrou-se incapaz de controlar os ímpetos dos colonos como afirma Stuart Schwartz 66.

“(...) não foi capaz de controlar a cobiça e o ímpeto dos colonos. As

depredações destes últimos levaram os índios a sitiar o pequeno povoado, o

que por sua vez provocou desistências entre os portugueses. Pereira

Coutinho e seus seguidores foram forçados a refugiar-se em Porto Seguro, e

quando tentaram retornar a Baía de Todos os Santos no ano seguinte, um

náufrago levou-os á morte nas mãos dos índios da ilha de Itaparica

(SCHWARTZ, 1988, p.34). ”

A primeira tentativa de conquista do território da atual Sergipe foi propiciada entre

índios e os portugueses e teve a participação da presença da companhia de Jesus67 que

adentraram além das terras do rio Real e em 1575, com a missão de catequizar os habitantes

indígenas tarefa confiada ao padre Gaspar Lourenço e ao irmão João Salônio, fundadores das

missões das:

“Missões de São Tomé, seis léguas distantes do rio Real (onde

possivelmente se localizava a cidade de Santa Luzia). Uma pequena igreja

de pindoba foi erguida e consagrada a Nossa Senhora da Esperança.

Surgiram-se as missões de Santo Inácio, 10 a 12 léguas para o norte ás

margens do Vaza-Barris (provavelmente no local da cidade de Itaporanga),

nas terras do cacique Surubi, e a de São Paulo, junto ao mar, região do

66SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:

Companhia das Letras, 1988, p.34. 67 Companhia de Jesus uma ordem Religiosa fundada por Inácio de Loyola. Dicionário Aurélio Buarque de

Holanda Ferreira Editora Nova Fronteira 5ª Ed. Rio de Janeiro-2004. Companhia de Jesus tornou-se um dos

principais movimentos de reforma religiosa tendo sido uma das ordens mais importantes na formulação da

resposta ao protestantismo produzido durante o Concílio de Trento.

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Cacique Serigi. Nessas aldeias agregou-se numerosa população indígena

liderada pelos caciques Serigi, Surubi e Aperipê, este dominando as terras

entre o rio Real e o Vaza-Barris. Os padres começaram a ensinar a doutrina

cristã, e a missão de São Tomé o padre Gaspar Lourenço abriu uma escola

para as crianças, denominada São Sebastião, tendo coo professor o padre

João Salônio68.”

Ainda segundo Thetis Nunes,

“(...) arruinaram-se totalmente, os trabalhos do rio Real. O governador veio

com tropas para abater os índios de Aperipê e ao aproximar-se da aldeia de

Santo Inácio fogem seus habitantes. Ele considera a fuga uma quebra de paz,

persegue-os. Surubi morre os demais se entregam. Cativa todos e os

encurrala na igreja de São Tomé como cárcere. Os soldados assolam tudo

quanto encontram e os arrastam para a Bahia de modo que o resultado de

tantas esperanças foi o cativeiro de mil duzentos transportados para a Bahia

que Deus com a morte se serviu de libertar dentro de um ano do cativeiro. A

varíola e o sarampo teriam dizimado metade deles69. ”

A luta entre as tropas do governo e os nativos causou uma baixa nas aldeias indígenas

e os sobreviventes fugiram para os sertões. Com o desenvolvimento dos maiores centros

produtores de cana de açúcar na região (salvador e Pernambuco), houve a necessidade de uma

ligação por terra entre essas regiões, mas passar por Sergipe implicava em corre todos os

riscos. O governo português nomeou Cristovão de Barros como responsável pela conquista de

Sergipe e nessa etapa que foi empreendida a guerra justa70 e a “destruição dos elementos e

indivíduos que pudessem ser inimigos ao desenvolvimento do povoamento e da conquista

definitiva do território Cristóvão de Barros levanta um forte e junto a ele deu o nome de

Cidade de São Cristovão .

As medidas por ele adotadas tinham caráter funcional e estabeleceram dessa forma os

alicerces da nova capitania a qual denominou Sergipe Del Rei, está doada ao pelo Rei Felipe

II, com recomendações que fossem criadas povoações e iniciadas a distribuição de sesmarias

68 NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe /Rio de Janeiro: Tempo

Brasileiro (1989 p. 21-22). 69 NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. Aracaju: Universidade Federal de Sergipe /Rio de Janeiro: Tempo

Brasileiro (1989 p.22-23, 29). 70 FRANDESCO, Sacchino. História Societatis Jesú. In: Antônio Henrique Leal. Apontamentos para a História

da Companhia de Jesú. Maria Thetis Nunes. 2006. op.cit, p.26.

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que inicialmente foram empregadas para a criação de gado, mulas, além de roça para o cultivo

do milho, arroz, feijão, legumes e aves para o consumo doméstico.

A partir do século XVIII, há uma modificação nas atividades econômicas em Sergipe

passando a cultura da monocultura da cana de açúcar ocupar mais espaços outrora destinados

aos currais como escreve Felisbelo Freire (1977): “O sergipano antes de ser agricultor foi

pastor71”. Também acrescenta que antes da região ser colonizada os fazendeiros baianos

desenvolveram a criação de gado.

Em Sergipe, houve um aumento significativo do número de unidades produtoras de

açúcar, graças a uma divisão das antigas propriedades e uma maior flexibilidade da lei que

regulamentava a distância entre os engenhos. As questões financeiras do final do século XIX,

a baixa cotação do açúcar e a concorrências dos grandes mercados consumidores na América

Central como já mencionou, e além das dificuldades locais, deficiências no transporte e os

altos custos da produção, fizeram que os comerciantes que compravam o açúcar nordestino

optassem pelo que era produzido mais próximo dos grandes centros, isso ocasionou uma

redução na produção do açúcar nordestino.

Na região de Sergipe, podemos perceber na obra de Maria da Glória Santana de

Almeida72, um aumento no cultivo da cana de açúcar a partir do século XVIII, é notório

também que no século XIX, causado pela alta do preço do açúcar no mercado internacional

este século é tido como o auge da produção do açúcar no nordeste quanto em Sergipe, sendo

testemunhado através da expansão da área de cultivo, do aumento do número de engenhos. O

predomínio do açúcar imprimiu a concentração da riqueza em mãos de quem possui terras e

escravos ditando assim a posição de cada indivíduo na sociedade.

Dados indicam, numa comparação entre a Bahia e Sergipe Del Rey, o aumento do

número de engenhos embora variem as estimativas de produção a tendência de expansão e

criação de novas unidades é clara tanto na região baiana como em Sergipe, uma estimativa de

1818 indicava que existiam 325 engenhos na Bahia e 156 em Sergipe Del Rey, totalizando um

71 FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2. Ed. Petrópoles: Vozes, 1979. Em convênio com o governo do

estado de Sergipe 1977. 72 ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. Nordeste Açucareiro (1840.1875), Num Processo do vir a ser

capitalista, Aracaju, UFS/SEPLAN/BANESE, 1993.

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total de 511 engenhos e em 1834 contava com 603 unidades para ambas as regiões73. De

acordo com Stuart Schwartz (1988, p.346).

O autor fornece, ainda, uma análise minuciosa sobre o trabalho nos engenhos baianos

e estendendo também para os de Sergipe El Rey, o mesmo versa sobre a região, a história da

economia açucareira e acerca da fabricação do açúcar e seus detalhes que não iremos adentrar

nesse víeis.

Em relação aos engenhos surgidos nessa época apresentam semelhanças, quanto aos

elementos e ordem material, se comparado àqueles existentes em séculos anteriores, pois as

inovações experimentadas por este setor produtivo foram quase imperceptível, era menos

arriscado permanecer com as técnicas antigas e assim alguns proprietário de engenho

negligenciaram as novas tecnologias que começavam a apontar no cenário sergipano na

segunda metade daquele século (DANTAS, 1944)74.

Segundo Maria Lucia Marques Cruz Silva, processo de povoação de Rosário do Catete

se dá mediante a conquista do território de Sergipe (2000, p.14). Ela versa sobre a formação

histórica desse município que se concretiza com a vinda do português Cristovão de Barros75

que ao colonizar Sergipe fez doação de sesmaria, a seu filho Antônio Cardoso de Barros para

dividir com as pessoas que participaram das lutas contra os indígenas, vencidas os combates e

morto o chefe da tribo local o cacique Siriri trataram de ocupar as terras como fizeram em

toda extensão da costa brasileira, essa ocupação trouxe como consequência o desmatamento

das plantas nativas.

Observa-se que a terra será apropriada para o plantio da cana de açúcar, o que fez com

que os colonizadores importassem de imediato à mão de obra escrava para a produção do

açúcar o que viria constituir a base econômica da região.

Desse modo, as margens do rio Siriri a primeira ocupação se deu nas terras que

pertenciam ao Engenho Jordão de Propriedade naquela época do senhor Jorge Almeida

Campos, este por iniciativa dos escravos fez uma doação de uma área de terra a fim de que

fosse construída uma capela para a imagem de Nossa Senhora do Rosário. A citada imagem

73 SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo:

Companhia das Letras, 1988. 74 DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944 75 Cristóvão de Barros era filho de Antônio Cardoso, que vieram na expedição de Tome de Souza para ocupar o

cargo de provedor-mor, mas quando retornavam para Portugal, em companhia do bispo D. Pedro Fernandes

Sardinha, o navio em que estava naufragou nas costas de Alagoas, tendo sido eles devorados pelos índios Caetés.

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fora encontrada pelos escravos naquelas proximidades, o que proporcionou o começo da

religiosidade dessas pessoas que contribuíram para o início da organização social e religiosa

dos novos habitantes.

Ainda de acordo com Maria Lucia Marques Cruz Silva 76, quando a povoação de

Rosário surgiu já existia a Vila de Santo Amaro das Brotas, está vila exerceu por muito tempo

em toda a área o domínio administrativo e político, e com grande influência nos interesses da

Província de Sergipe, isso devido à localização do Porto das Redes local por onde escoava a

grande produção de açúcar da Cotinguiba.

Para Clóvis Bomfim77, em determinado período da história, Santo Amaro das Brotas

enquanto vila constitui um aspecto bastante diversificado, o que ajudou a diferenciar-se das

demais vilas e povoações por ter uma lista de itens apreciáveis para a economia, ou seja,

produzia anualmente: “40 mil arrobas de açúcar, 20 mil canadas de mel, 5.500 canadas de

aguardente, 10 mil alqueires de farinha, 3 mil alqueires de mamona e 100 mil cocos”.

Nessa Região temos o lugar do lugar, o espaço de recordação e lugares de memórias

com suas testemunhas vivas de um passado próspero para a aristocracia açucareira, como

veremos os municípios que foram de grande relevância para a economia entre eles Laranjeiras

tornou-se uma das vilas importante com seus engenhos Retiro, Comandaroba, Palmeira e um

bom comércio.

Na mesma região, outras vilas de relevância como a vila de Maruim que tinha uma

posição geográfica favorável às margens do Rio Ganhomoroba que fazia caminho para Siriry,

Rosário do Catete com seus vários engenhos Paty, Caraíbas, Cumbe, Santa Barbará, Jurema

Catete Velho, Jordão, Serra Negros e vários outros menores como Catete novo, Oitocentas

etc. Japaratuba com o Engenho Santo Clara, em Riachuelo o engenho Central, Capela o

engenho Proveito na vila de Maruim engenho Pedras, Unha de Gato, Periperi e também

existia muitas casas estrangeiras de comércio de importações e exportações.

Por dificuldades de interligação entre essas vilas com a capital da província nessa

época, São Cristovão, as vias de transportes eram precárias, o que dificultava o escoamento da

produção açucareira para exportação, apesar de sabermos que a hidrovia da região tinha

76 SILVA, Maria Lucia Marques Cruz e. Rosário do Catete / Maria Lucia Marques Cruz e Silva – Aracaju:

Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2000. 77 BOMFIM, Clóvis, “Haveres do século XIX - Santo Amaro, no Obscurantismo á Luz da História, EDISE,

Aracaju, (2013, p.148).

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vantagem logística excelente, os rios Cotinguiba e Sergipe, Japaratuba, Pomonga e

Ganhomoroba foram um dos fatores decisivos para o tráfego da produção, importação e

exportação de produtos da cultura açucareira.

Maruim era uma povoação subordinada também à vila de Santo Amaro das Brotas, no

ano de 1828, e teve sua sede administrativa transferida para Rosário, por ordem do governo

Provincial, para que os ânimos das lideranças locais se acalmassem. Em 1831 passou a

Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, época em que foi criado o distrito municipal por

decreto de 12 de outubro de 1831.

No Álbum de Sergipe de Clodomir Silva (1920, p.266,267), nos informa que “em

meio as agitações em que se debatia a Província nos primeiros anos da sua vida, Rozário do

Catete foi elevada a freguesia e villa por acto de 3 de fevereiro de 1831, com a transferência

da sede da villa de Santo Amaro, que então se achava localizada em Maroim78”.

Rosário do Catete permaneceu freguesia por pouco tempo, pois em 8 de maio de 1833

foi deliberada pelo conselho do governo a volta da vila para Maruim. Contudo, não tardou

para que voltasse a ser vila, por força da lei em 12 de março de 1836, foi traçado seu limite.

Nasceu, assim, a vila de Rosário do Catete, por Lei provincial, como resultado da Revolta de

Santo Amaro das Brotas contra Maruim e Rosário79 como veremos na citação abaixo:

“Art.1ª – Fica erecta em villa a povoação de Nossa Senhora do Rozário,

desmembrada do termo da villa de Santo Amaro, com a denominação de

Villa de Nossa Senhora do Rozário do Cattete: Seu termo dividido da

maneira seguinte: Do rio Seriry onde faz a barra no Japaratuba, por ele

acima seguira a divisão de Santo Amaro; indica no art.3 desta Lei, até o

pasto cannabrava, e dahi seguirá a estrada que vai para o engenho Tira-

vergonha, deste para estrada que vai para o engenho Canoa, ao sítio

Sambambaia, a encontrar o rio Siriry, e por este acima até o engenho

Piranhas, deste ao Araticum e deste seguirá a estrada do engenho Taquari, ao

da Palma e daqui ao do Jenipapo e salobro, donde seguirá que vai pelo sitio

Tabocas ao tanque das Lages, e pelo seu sangradouro, a meter no rio

Japaratuba-mirim, e por este abaixo até a barra do rio Siriry onde

principiou.80”

78 SILVA, Clodomir, Álbum de Sergipe (1920. P.266,267). 79 SILVA, Maria Lucia Marques Cruz e. Rosário do Catete / Maria Lucia Marques Cruz e Silva – Aracaju:

Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2000. 80 SILVA, Clodomir, Álbum de Sergipe (1920. p, 267).

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O município que foi criado pela Lei Provincial de 12/03/1836, sancionada pelo Presidente

da Província de Sergipe Dr. Bento de Melo Teixeira, elevando à categoria de vila a povoação

de Rosário, com denominação de Vila de Nossa Senhora do Rosário, desmembrada do termo

da Vila de Santo Amaro.

Sua divisão administrativa se deu em 1911 e por decreto de 12 de junho de 1932 foi

elevada à categoria de cidade. Contudo houve uma incoerência com as leis federais em

relação ao topônimo das cidades e vilas brasileiras, de modo que as disposições do Decreto-

Lei Estadual n 377, de 31 de dezembro de 1943, o município passou adotar oficialmente

o topônimo de Rosário do Catete81.

De acordo com Luiz Antônio Barreto82 (2009), faz uma análise do livro de Clodomir

Silva já mencionado nas páginas anterior onde afirma que Rosário tinha 21 mil habitantes,

distribuídos na sede do município e nos povoados, incluído os que perderiam como Carmo,

atual cidade de Carmopólis, Marcação que se tornou Município de General Maynard, perdeu

também o povoado Aguada para o município de Carmopólis.

Hoje os termos de Rosário concentram-se na sede do município e o povoado Siriri Zinho

após muitas disputas territoriais ficou limitando-se a leste do estado com Carmopólis, Capela,

Siriri, a oeste com Divina Pastora e Maruim, e a leste com General Maynard, e ao Sul com

Santo Amaro das Brotas quanto ao acesso à cidade pela BR- 235 e BR-101, num percurso de

37 km da capital. Rosário do Catete se destaca também pela sua religiosidade seu comércio e

pela sociedade patriarcal de uma monocultura açucareira com seus senhores de engenhos,

vejamos a seguir seus aspectos religiosos.

De acordo com Nunes,83 no texto “As irmandades em Sergipe: Devoção e Cor, a

irmandade de Nossa Senhora do Rosário e ou São Benedito” (NUNES, p.6.2015). Afirma que

as irmandades estavam instaladas em Estância, São Cristóvão, Laranjeiras, Vila Real (atual

Neópolis), Rosário do Catete e Aracaju.

81 Enciclopédia dos Municípios – FIBGE- Vol. XIX – Sergipe 1956. 82BARRETO, Luiz, Antônio, com a colaboração de NASCIMENTO, Jorge Carvalho do – EDELZIO VIEIRA

DE MELO um homem público exemplar. Typografia Editorial – Ensaio Biográfico- A edição deste livro e as

demais atividades celebrativas do Centenário DE Nascimento de Edelzio Vieira de Melo. Apoio Cultural

Instituto Banese, Gov. Municipal de Capela, Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2009. 83NUNES, Verônica Maria Meneses – As Irmandades em Sergipe: A Devoção e Cor, Irmandades de

Nossa Senhora do Rosário e ou São Benedito – Práxis Pedagógica: Revista do Curso de Pedagogia,

Aracaju, Vol. 2 Nº2, Janeiro /Julho -2015. p. 06.

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Em nossa pesquisa também utilizamos como fonte alguns jornais do acervo da

biblioteca pública Epifânio Doria84 que foram digitalizados pelo Projeto Imprensa Cristã85.

Fizemos a análise das edições do Jornal por nome “O Rosário86 afirma em sua edição de

número 11, página 4, sobre a tradicional festa de Nossa Senhora do Rosário que é

comemorada no mês de outubro”.

Segundo o jornal O Rosário, em seu número 13, p.1, a festa era organizada e conhecida

como “festa encantadora” e celebrada com “pompa”. Além desta, menciona a de São José

que era celebrada também com “pompa” e cantada pelo Vigário Padre Edgar Britto na Igreja

do Amparo seguida de um grande cortejo Divino com as celebrações e benção do Santíssimo

Sacramento.

O jornal afirmou que os povos daquela cidade com “a boa vontade do esforçado

pároco Padre Edgar Britto” foram realizados os festejos em celebração a excelsa padroeira

Nossa Senhora do Rosário, com maior pompa do que nos outros anos, pelo programa abaixo

fornecido pelo dito pelo pároco que tudo foi observado com maior zelo. Vejamos como o

Jornal O Rosário descreve a programação da festividade:

“Às 7 da manhã foi celebrada missa de comunhão geral, cantada

pelos meninos do catecismo”. As nove e meia missa de Bthamann

cantada pelo coro do sagrado coração de Maria com sermão ao

evangelho por um grande orador sacro. A 06h30mim bênçãos do rico

estandarte do coração de Jesus e irmandade Conceição vindos

ultimamente de Pernambuco. Às 17 horas, solene procissão pelas

ruas principais da cidade, saindo às imagens de Nossa Senhora do

Rosário, Sagrado Coração de Jesus, São José, São Luiz de Gonzaga,

Santa Terezinha, Santa Ignez, São João e Santo Antônio. Ao recolher

84 Epifânio Fonseca Dória nasceu em Campos do Rio Real em (1884 e faleceu em 1976) e teve sua vida dedicada

à preservação da memória de Sergipe, organizando arquivos de Sergipe, e organizando arquivos e bibliotecas de

Estado. 85 Um projeto de digitalização de jornais: Projeto Imprensa Cristã: Escrevendo em nome da fé e das vicissitudes

históricas...: Imprensa cristã e artigos de cristãos nos jornais laicos sergipanos. Este também sob coordenação do

Professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa. 86 Jornal o Rosário as edições trabalhadas foram digitalizadas pelo projeto Imprensa Cristã, supracitada e as datas

de 1933 a 1936 do século XX, jornal cujo programa descreve ser crítico, noticioso, humorístico e independente

seu fundador o coronel João Machado Subrinho editado na cidade que lhe emprestar o nome. Este jornal está na

pacotilha 44 no acervo da Biblioteca Estadual Epifânio Dória. O mesmo encontra-se em bom estado de

conservação e as edições completas todos os exemplares contem quatros folhas. Está datado de 13 de outubro de

1933. Seu fundador foi o Coronel João Machado Subrinho, ao qual foi prefeito da cidade de Rosário do

Catete/SE nos idos de 1946; e 1951 a 1955. Era semanário de tamanho 43x30 e outro exemplares de 33x23. Hoje

faz parte do conjunto de 3 DVDs cujo ISBN do v. 1-978-85-7822-621-3; v.2-.978-85-7822-622-0; v.3 – 978-85-

7822-623-7.

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da procissão falou outro orador sacro e em seguida a benção do S.S.

Sacramento87.”

Pontuamos ainda acerca das festividades de Nossa Senhora do Rosário de

acordo com esse periódico semanário, evidencia-se o envolvimento das diversas

camadas da sociedade rosarense envolvidas, nas festas religiosas como podemos

apreciar seus nomes sendo descrito as autoridades políticas, comerciantes locais bem

como proprietários de usinas de cana de açúcar, senhores de engenhos e famílias

tradicionais, além de pessoas mais simples da sociedade rosarense.

A festa foi precedida de um novenário solene patrocinado pelas famílias dos

senhores de engenhos: Vieira de Melo, Maynard, Vassouras, Machado, Vieira de Sá,

Vieira de Melo; além da Noite pela pia União Filha de Maria e apostolado da nação;

Noite das irmandades almas e do Rosário; Noite pelo grupo senador Leandro Maciel e

escolas da cidade, à noite, pelos moços, sendo encarregados os Snr. Amphilofio

Azevedo, Joaozito Felizola e Astolfo Sant Anna, á noite pelas moças, sendo

encarregadas pelas senhoras Aurora Curvelo, Noêmia Azevedo; á noite, pelos casados

sendo encarregados os srns. José Eduardo, Dr. Eduardo Porto entre outros participantes

do comércio local. 88

Outro jornal que também divulgava as festividades de Nossa Senhora do

Rosário era o jornal O Comércio89 editado e imprenso na cidade de Maruim em não

apenas as festividades mais notícias das demais cidades circunvizinhas eram

noticiadas nesse impresso.

Ao término das festividades era também motivo de notícia de como a festa

havia sido pomposa e como tinha sido tão visitada a cidade pelos devotos e fieis de

nossa Senhora do Rosário. Nessa ocasião desciam para suas residências n a cidade

todos os donos de engenhos suas casas estavam no entorno da igreja e da praça da

matriz e outro fato interessante era que na igreja cada família de senhor de engenho

87 Jornal O Rosário edição de nº11, p.4. Ano de 1933; edição nº13, p.1 ano de 1933 Esses jornais são do acervo

da biblioteca Epifânio Doria e foram digitalizados já mencionados. 88 Jornal O Rosário. Edição nº 8, p. 2, ano de 1933. Edição nº10, p.2. Anos de 1933, Edição nº11, p. 2. Ano

1933. 89 No jornal o Comércio editado em Maruim edição de nº373. p.3. Ano de 1924; edição de nº 220, p.1; edição de

nº221, p.2 edições nº423, p.2.

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importante tinha uma tribuna de acordo com o depoimento de uma das filhas do senhor

de engenho da qual falaremos no momento próprio.

Com relação às características climáticas a Vila de Rosário do Catete tem aspectos

agradáveis, contudo as edificações eram muito primitivas, arcaicas, e depois foram surgindo

às casas grandes dos engenhos da região e as casas da cidade, cada senhor de engenho tinha a

sua casa no entorno da praça da matriz ficavam as casas dos senhores de engenhos na cidade

para os finais de semana e nas épocas das festividades seja eclesiástica ou política isso

conforme depoimento de seu Luiz Ferreira Gomes90, em relação ao seu clima de Rosário era

saudável e bom.

Conforme Carlos Pinna de Assis,91 no que se refere à parte de transporte hidroviário

havia vantagens logísticas formidáveis. Os rios Cotinguiba e Sergipe, Japaratuba e Pomonga e

Ganhomoroba foram de grande importância e decisivos para o tráfego da produção açucareira

o que nos chama atenção de acordo com o autor é que apesar de termos condição favorável

Sergipe não levou a cabo a interligação de seus rios e bacias desde o São Francisco até o Rio

Real.

Especialmente na microrregião da Cotinguiba onde havia a proximidade das bacias

era muito mais viável do ponto de vista da engenharia fluvial. Além desses fatores também

temos que considerarmos o solo massapê oriundo da decomposição do calcário foi de grande

valia para o desenvolvimento da monocultura da cana de açúcar, por ser do tipo mole, escuro,

raramente amarelado, massapê apto para o plantio sendo o solo que muito contribuiu para o

êxito da cultura da cana de açúcar.

Em relação ao patrimônio cultural e material da cidade de Rosário do Catete, podemos

pontuar as igrejas e os remanescentes dos engenhos, que traremos uma tabela logo mais

adiante, temos os sobrados, residências que fazem parte das memórias dos rosarenses.

Entre as igrejas que são tidas como patrimônio material e histórico de Rosário,

destaque para capela de Nossa Senhora de Nazaré que foi construída em 1709, e demolida e

90 Luiz Ferreira Gomes um dos entrevistados e participantes do Documentário ‘Massapê Rosário do Catete

Memórias e Engenhos “Direção e produção Sérgio Borges”. O consideramos como um dos guardiões das

memórias de Rosário do Catete. 91 ASSIS, Carlos Pinna de Revista Cumbuca – Editora: Edise - Ano VI – Nº. 18 – Artigos João Gomes de Melo

(1809 -1890) O Barão de Maruim e Seu Tempo. (2018, p.60 a 70).

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reconstruída outra, no mesmo local. No ano de 1864, fazendo parte do engenho Catete Novo

pertencente ao Barão de Maruim João Gomes de Melo.

Outros patrimônios eclesiásticos a Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário92 –

Construída no século XVIII, iniciada com sua irmandade dos homens pretos. Igreja de Nossa

Senhora do Amparo foi construída século XIX e foi restaurada em 1946 pelo Simeão

Machado. Nesse conjunto de bens culturais temos também a Capela da fazenda Caldas onde

foram enterrados os restos mortais do general Augusto Maynard, que foi transferido para o

cemitério Santa Isabel em Aracaju, com a venda da fazenda Caldas.

Temos a Estação de Trem de Rosário que foi inaugurada em 1914, que está passando

pelo processo de Tombamento pelo IPHAN93 chamado de Valoração, será o 1º tombamento a

nível Nacional da cidade, alguns acontecimentos históricos marcaram a história dessa estação

férrea, entre eles em 1924 serviu de embarque de tropas dos tenentes da revolta de 2494,

comandada por Augusto Maynard Gomes.

Rosário do Catete é considerada como a terra dos engenhos, da cana de açúcar e

celeiro de grandes lideranças políticas, além de berço de intelectuais com sua geração

bacharéis e médicos que revolucionaram a Faculdade de Direito do Recife e na Faculdade de

Medicina da Bahia, os sergipanos Antônio Dias de Pinna95·,João Maynard,96 José Sotero

Vieira de Melo97, Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel98, Leandro Maynard Maciel99, Augusto

92NUNES, Verônica Maria Meneses – As Irmandades em Sergipe: A Devoção e Cor, Irmandades de Nossa

Senhora do Rosário e ou São Benedito – Práxis Pedagógica: Revista do Curso de Pedagogia, Aracaju, Vol. 2

Nº2, Janeiro /Julho -2015. p. 06. 93 IPHAN (Instituto Histórico e Artístico Nacional) criado em 13 de janeiro de 1937 pela Lei nº378, no governo

de Getúlio Dornelles Vargas, o então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, preocupado com a

preservação do patrimônio cultural brasileiro. 94 Revolta de 24 ou revolta dos Tenentes - Em 1924 os Tenentes do Brasil se revoltaram contra o regime de

republicano como eles governavam e eles tomaram São Paulo no governo de Artur Bernardes em abril de 1924 a

revolta dos tenentes não se estendeu apenas ao Rio de Janeiro e São Paulo mais também eclodiu em Aracaju sob

o comando do tenente Augusto Maynard Gomes e outros oficiais. 95 CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. DIAS, Antônio Pinna de, - Foi advogado fundador do

curso de direito da USP. Estudou na Faculdade do Recife. Exerceu cargos de promotor público em Sergipe na

Comarca de Laranjeiras, (1866-1869), foi deputado provincial por três legislações. 96 CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. MAYNARD, João, Desembargador, nasceu no

engenho Saco município de Rosário do Catete em 8 de janeiro de 1878. Bacharel em ciências jurídicas e sociais

pela Faculdade Livre do Rio de Janeiro exerceu cargos de Juiz em Itabaianinha, na época sede da então comarca

de Rio Real. CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. 97 DANTAS, Sylvio Melo (2013, p.75), Minha Família-Árvore genealógica comentada. José Sotero, Vieira de

Melo-Desembargador, filho de Francisco Vieira de Melo proprietário do Engenho Santa Bárbara e da senhora

Maria de São José de Melo. Nasceu no Engenho Santa Bárbara, município Rosário do Catete, em 13 de maio de

1856. Pertenceu a geração de bacharéis da Faculdade de Direito do Recife e da Faculdade de Medicina da Bahia.

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Maynard100 , Edelzio Vieira de Melo101 entre outros que Rosário do Catete presenteou Sergipe

com seus ilustres filhos em diversas áreas sociopolíticas e culturais.

Como já aventamos anteriormente a produção econômica em Rosário desde a fixação

dos primeiros habitantes, foi à lavoura da cana e produção de açúcar pelos seus diversos

engenhos dessa microrregião que segundo Orlando Dantas102 Rosário do Catete possuía, em

1860, 27 engenhos que produzia açúcar, eis a relação com seus respectivos proprietários.

Foi nomeado juiz municipal de Rosário do Catete, pelo Dr. Felisbelo Firmo de Oliveira Freire. Mas, foi o

presidente da Província, general José Calazans, que o nomeou em 26 de dezembro de 1892 para o cargo de

desembargador. 98CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel proprietário do

engenho Serra Negra foi deputado no império e senador na República.

99 CUMBUCA, Revista- Ano V. Nº15 setembro de 2017. Leandro Maynard Maciel foi governador do estado de

Sergipe filho de. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel proprietário do engenho Serra Negra. 100 BARRETO, Luiz, Antônio, com a colaboração de NASCIMENTO, Jorge Carvalho do – EDELZIO VIEIRA

DE MELO um homem público exemplar. Typografia Editorial – Ensaio Biográfico- A edição deste livro e as

demais atividades celebrativas do Centenário de Nascimento de Edelzio Vieira de Melo. Apoio Cultural Instituto

Banese, Gov. Municipal de Capela, Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2009. Augusto Maynard foi

considerado um revolucionário em 1924/1926- Augusto Maynard Gomes nascido em Rosário do Catete foi

nomeado interventor no estado de Sergipe até 1935 a 1942 e retornando em 1945 demonstrou força política em

sua cidade natal. Liderou a Revolta dos tenentes os Tenentes de São Paulo e os de Sergipe liderados por Augusto

Maynard Gomes e outros oficiais e por alguns dias eles tomaram o poder em Aracaju mais depois foram

dominados e Maynard foi exilado fora do pais. 101. Idem. - Edelzio Vieira de Melo nasceu no Engenho Catete Novo, em Rosário do Catete em 8 de setembro de

1909, seu pai o desembargador José Sotero Vieira de Melo e sua mãe Arminda Barreto de Menezes Melo,

Edelzio Vieira de melo foi médico, educador, político, administrador o mesmo teve sua iniciação político através

do já supracitado Augusto Maynard. 102 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

(1980, p.131).

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Na tabela abaixo temos a relação de alguns engenhos:

Tabela 1

NOME PROPRIETÁRIO

Santa Barbara, Pati, Bom Nome,

Várzea Grande.

Francisco Vieira de Melo

Oitocentas José Paes de Azevedo Sá

Saco Alfredo Franco

Serra Negra Leandro de Siqueira Maciel

Sítio Novo Gonçalo Teles de Menezes

Catete Gonçalo Vieira de Melo

Jurema Maria da Glória de Faro Jurema

Periperi Manoel d Faro Mota

Várzea Dionizio de Faro Mota

Jordão João Machado de Aguiar Menezes

Jucuruna, Caldas, Salobro Manoel Gomes da Cunha

Cajá Alexandre de Tal

Marrecas Francisco Gomes Dantas

Bom Sucesso Sem indicação de proprietário

Capim Assu e Cume Delfino de Faro Sobral

Jenipapo Manoel Pereira dos Anjos

Ilha Matias Curvelo de Mendonça

Campo Redondo Manoel José Gomes da Costa

Saco: João da Silva Maynard Júnior

Lagoa Grande Gonçalo de Faro Passos

Desta relação, dos nomes que estão em negrito existem remanescentes vivos e que

conservaram o que restou da propriedade de seus ancestrais e outras só restam à chaminé

como o Serra Negra e outras só as recordações das localidades, pois foram destruídas

totalmente, algumas vendidas e tornaram parte da cidade de Rosário como o espaço do

engenho Catete Velho que só restou a capela Nossa Senhora de Nazaré construída em (1709 )

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e reconstruída em 1864 de acordo com o depoimento do senhor Luiz Ferreira Gomes no

documentário103.

Da mesma maneira o engenho Cajá104 de acordo com o recenseamento de 1920 a

propriedade existia em Rosário e pertencia ao senhor Alexandre José de Menezes hoje

corresponde a um bairro residencial do município de Rosário situado as margens do rio Siriri

que corta toda a cidade o local que onde existia o engenho Cajá é urbanizado com casas

populares e a geografia possibilita que fundamentamos sua existência, pois em seu entorno

existiam o engenho saco e o engenho Catete que foi comprado pelo poder público e

construíram casas residenciais restando apenas a capela de Nossa Senhora de Nazaré.

Outro Engenho Jordão105 datado do Início século XIX pertenceu ao Sr. Jorge de

Almeida Campos. Segundo Dantas (1980) estava em funcionamento em Rosário do Catete

atualmente pertence ao herdeiro o Sr. João Machado Aguiar Menezes nos idos de 1860 a

1920. A casa grande em perfeito estado de conservação com um altar dentro da casa o

chamado quarto de santo, tipo uma oratório ou capela interna, onde segundo o proprietário os

ancestrais faziam as petições e rezas, há também fotos e algumas mobílias dos seus

antepassados, no local onde havia o engenho hoje tem um curral.

Engenho Santa Bárbara106 era um dos mais opulentos da região pertenceu ao nos

idos de 1832 ao senhor Teothônio Correia Dantas e a senhora Clara Angélica de Menezes e

posteriormente aos seus descendentes entre eles o João Gomes de Melo107 nasceu engenho

que por sua vez a geração posterior. Já em DANTAS108 1860 consta como proprietário o

senhor Francisco Vieira de Melo e foi herdeiro por muito tempo depois passando a

propriedade a seus descendentes da mesma família, o senhor Salústio Vieira de Melo a usina

103 Documentário “Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos” Direção e produção Sergio Borges

Professor Mestre em Geografia. Produtor, Diretor e roteirista e documentarista. 104, Acervo do IPHAN - Inventário de conhecimento de Patrimônio Cultural da cana de açúcar na região do

Baixo Cotinguiba/ SE Volume VII/junho de 2010. 105 Idem 106 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

(1980, p.131). 107 João Gomes de Melo Barão de Maruim nasceu no Engenho Santa Bárbara, então considerado pertencente ao

município de Maruim, como aponta Armindo Guaraná no seu clássico Dicionário Bibliográfico Sergipano. Filho

de Teotônio Correia Dantas e Clara Angélica de Menezes ramo de uma tradicional família de produtores de cana

de açúcar atualmente município de Rosário do Catete. Foi uma liderança política muito importante no processo

de mudança da capital de São Cristovão para Aracaju. 108 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

(1980, p.131).

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recebia cana de outras fazendas e chegava a produzir 15 mil sacas de açúcar cristal seu

funcionamento chegou até o ano de 1961, sob os cuidados do senhor Salústio Vieira de Melo.

A fazenda foi desmembrada Santa Barbara de Cima hoje pertence ao senhor Carlos,

um dos descendentes dos Vieira de Melo sendo que a Santa Barbara de Baixo109 ao senhor

Osmar Teles o que restou da propriedade que se encontra em estado lamentável em que a

erosão o clima e a falta de manutenção por parte de alguns proprietários, fizeram com que

casa grande esteja em completa destruição e apenas em ruinas, um casarão que um dia foi

uma das edificações de notabilidade na região.

Engenho Caraíbas110 da estrutura do antigo engenho ainda resta em total destruição e

abandono a casa grande com o telhado caído, uma pequena capela deteriorada em mal estado

de conservação, bem como os três galpões e a chaminé do que restou da usina.

Caraíba existia em território de Santo Amaro em 1860, pertenceu ao Senhor João

Gomes Vieira de Melo. Esse engenho foi alvo de grande revolta de escravos que se espalhou

por toda a região da Cotinguiba e atingiu diversos engenhos da região. De acordo com o censo

de 1920 a usina existia e fazia parte do território de Riachuelo e pertencia a Menezes &

Ribeiro. Há registros históricos do engenho Caraíbas estava em funcionamento e produção de

açúcar desde o século XIX, e segundo depoimentos de alguns moradores o Caraíbas na época

em que moía a cana existia cerca de cinquenta casas de moradores.

O atual proprietário é Oswaldo Franco e transformou se em engenho de fogo morto

apenas fornece a cana para a produção do açúcar é uma extensão da Usina São José do

Pinheiro. No entorno podemos ver construções como escola, posto de saúde, escritório em

pleno abandono e desuso, há também as ruinas de outras casas.

Engenho Serra Negra berço de Leandro de Siqueira Maciel111 retratado no livro de

Ibarê Dantas112 onde descreve a trajetória da família desse patriarca tecendo sua biografia,

dessa antiga unidade açucareira restou apenas à chaminé e as recordações de um passado

109 LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. Sergipana do Açúcar. Aracaju/SE, 1999, P.56; 57. 110 DANTAS, Orlando Vieira. Vida patriarcal de Sergipe/ Orlando Vieira Dantas. – Rio de Janeiro: Paz e terra,

(1980, p.131). 111DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009. 112 DANTAS, Ibarê. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1925-1909). Aracaju: Criação, 2009.

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notável e próspero para o Patriarca e as lembranças daqueles que vivenciaram experiências no

ambiente nesse contexto.

Pati engenho113 que teve como proprietário o senhor Francisco Vieira de Melo, hoje

pertence à senhora Gilsa Barreto o casarão do Pati foi restaurado pela empresa Vale da Rio

Doce por ter causado danos na casa devido as perfurações realizada nas proximidades de sorte

que é uma das poucas casa grande de engenho que está em bom estado de conservação.

Desse modo, queremos que o leitor esteja ciente que não versaremos sobre as minucias

e detalhes de cada unidade açucareira, pois não é essa nossa finalidade maior, estamos apenas

situando cada um deles e seus respectivos donos e como se encontram hoje por fazerem parte

da história de Rosário do Catete, contudo não nos deteremos neles de forma especifica, pois o

professor Doutor Antônio Lindvaldo Sousa está organizando um livro sobre esses engenhos, a

saber, Paty, Santa Bárbara, Serra Negra, Pedras, Caraíbas, Jordão, Catete onde fará as

ilustrações iconográficas e históricas do que restou de cada unidade produtora de açúcar em

Rosário da que estão inseridas no projeto Massapê, nossa maior função será melhor entender

sobre o engenho oitocentas seus proprietários e como esta última nos interessa.

Queremos também informar que todos os engenhos supracitados por Orlando Dantas

na tabela acima, foram citados também por Kátia Afonso Silva Loureiro, contudo a mesma

não faz uma abordagem de todos os 31 engenhos que catalogou mais um apanhado geral

acerca da parte histórica e arquitetônica das construções das casas grandes e estruturas gerais

dos engenhos nas regiões do Vaza Barris, Bacia do Japaratuba e bacia Cotinguiba, e cita

vários outros engenhos de várias regiões de Sergipe é importante versar que nossa intenção

não é de fazer um apanhado de todos os engenhos da Cotinguiba mais do engenho

“Oitocentas” e com os que já mencionamos como Santa Bárbara, Sítios Novos, Catete Velho

porque tinham laços parentais.

Como já dissemos antes, o Engenho Oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de

Azevedo Sá e após falecimento, ao filho José Paes de Azevedo Sá. Atualmente pertence à

Senhora Graziella Vieira de Azevedo, hoje com103 anos de idade. Ele está localizado às

margens da BR 101, no município de Rosário do Catete- SE. Limita-se com a Fazenda Sítio

113 Idem. p.131.

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Novos e o Engenho Paty, o engenho está na família vieira de Azevedo a mais de duzentos

anos e em bom estado de conservação.

De acordo Gulnar Vieira de Azevedo, em depoimento, a herdeira Graziela Vieira de

Azevedo, após a morte de seus genitores, com anuência dos seus irmãos tornou-se proprietária

recebendo por herança o Engenho oitocentas, com todos os bens móveis e objetos que havia

na casa grande tendo ficado na partilha para as três irmãs Lígia, Ibelza e Graziela com o

falecimento de uma a outra tornaria proprietária das partes sendo que as irmãs faleceram

ficando assim, as Oitocentas para senhora Graziela.

Sendo assim, consultamos o acervo da família Vieira de Azevedo e analisamos que há

uma série de fontes: iconográficas ou visuais, várias fotos do lugar, da cassa grande, dos

objetos de valor afetivo dessa numerosa família que serviram para interpretar e reconstruir

esse passado.

Nossos olhos vislumbraram, primeiramente, os documentos diversos dentro de um baú

envernizado com duas gavetas pequenas dentro dele uma pequena caixa delicada com cartas

que foram escritas para as meninas do engenho Oitocentas114 e seus pais Juca e Cecília as

cartas dos filhos que residia no Rio de Janeiro informando-os as novidades e ao mesmo tempo

querendo saber como estavam todos e o andamento no engenho.

Imagem 1 - Baú de Graziela Vieira de Azevedo

Acervo José Aquilino - 20 /04/2018

114 Engenho oitocentas pertenceu ao senhor Manoel Paes de Azevedo Sá após falecimento deste ao filho José

Paes de Azevedo Sá e atualmente pertence à Senhora Graziella Vieira de Azevedo, o mesmo está localizando as

margens da BR 101 no município de Rosário do Catete- SE. Limita-se com a Fazenda Sítio Novos e o Engenho

Paty.

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No Baú encontramos um acervo iconográfico variado e em bom estado de

conservação com fotos das Oitocentas como veremos mais adiante algumas fotos do passado,

em que o engenho produzia o açúcar, fotos da casa grande, da família do senhor de engenho e

toda a sua prole onde podemos perceber que a família era numerosa, quadros nas paredes com

fotografias do seu Juca e esposa e retratos dos filhos por cima das mobílias.

As mobílias mesas e cadeiras, quarto completo cama, guardam roupa, guarda-noturno,

cômoda e um oratório no quarto do casal, fogão de lenha com forno e em outro quarto com

camas modelo antigo com duas cabeceiras semelhante ao do quarto de casal, mas, nele o baú

de Graziela Vieira de Azevedo já mencionado acima, todos os objetos da casa estão na mesma

disposição desde que seu Juca faleceu que a disposição dos objetos dentro do engenho tem

uma representação de uma memória afetiva.

Todo esse acervo da família vem como grande arquivo e fontes com seus segredos,

vestígios, rastros, pistas que utilizaremos como instrumentos para interpretar a história desse

lugar de memória, por meio de depoimentos das filhas e de conterrâneos do JUCA das

oitocentas e assim legitimar e fundamentar a história e as memórias da família vieira de

Azevedo.

Entramos em contato com alguns descendentes dessa unidade produtora, com pessoas

que trabalharam ligadas a esse passado memorável, tivemos oportunidade de colher

depoimentos de testemunhas vivas, guardiões das memórias são até hoje testemunhas de um

passado que ficou apenas nas recordações e nos remanescentes e ruinas dos espaços de

recordação desse lugar de memória que denominado oitocentas como consta na tabela da

página 131 do livro Vida Patriarcal que consta ser o proprietário o senhor José Paes de

Azevedo Sá isso segundo Orlando Dantas.

Contudo segundo depoimento de sua filha Gulnar Vieira de Azevedo seu pai nasceu

no dia 7 de maio de 1875 logo não seria possível ser o dono dessa propriedade nessa época

acredito que tem sido erro de digitação uma vez que também perguntamos se havia outra

pessoa com o mesmo nome na cidade e para fazer a diferenciação foi posto o sobrenome Sá

para diferenciar o nome do mesmo do outro senhor não o nome de seu pai mais do avô

Manoel Paes de Azevedo Sá. Apesar de as oitocentas ser uma usina de pequeno porte e fazia

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parte de uma cooperativa. Outra observação é que todos os proprietários das Oitocentas

foram da própria família, mas de todos os indivíduos dessa geração destacamos o senhor José

Paes de Azevedo Sá.

Outros autores cometem o mesmo erro e copiam os dados de Orlando Dantas e que o

senhor José Paes de Azevedo Sá foi o proprietário das Oitocentas, contudo o como já

mencionando o mesmo nasceu em 1875 e não teria como sair nos livros que ele era o dono

das terras das Oitocentas mais sim o seu genitor o Manoel Paes de Azevedo Sá.

Aspecto interessante é que o mesmo era conhecido na região por Juca das Oitocentas

não apenas ele mais os senhores de Engenhos era conhecidos pelo nome de sua

propriedade115; façamos um passeio pelas raízes: “João Machado do Jordão; Seu Juca das

Oitocentas; Salústio da Santa Barbara; Joel Faro da Jurema” e assim sucessivamente.

O Engenho oitocentas conforme depoimento da filha de seu Juca no documentário do

Massapê era um engenho muito pequeno e só produzia 3000 sacos de açúcar cristal. Sabemos

que os engenhos eram de pequeno porte apenas os senhores mais abastados tinham condições

de equipar seus engenhos e acompanhar a modernidade em cada época. Seu Juca transformou

seu pequeno engenho bague em uma meia usina de pequeno porte que estava ligada a uma

cooperativa116 juntamente com outros usineiros menores.

Na obra de Orlando Dantas (1980) foi possível perceber que o Oitocentas estava em

funcionamento no ano de 1860, e pertenceu ao senhor José Paes de Azevedo Sá, contudo só

constatamos referencias quanto ao funcionamento e produção a partir do século XIX e o

mesmo não se encontra nos registros de mapeamento de Gannet de 1815.

Há também outra fonte muito importante no acervo do IPHAN117 neste Inventário é

feito um levantamento tipo catalogação sobre os engenhos da região do Cotinguiba e é citado

de acordo com o censo em 1920, que o engenho pertenceu a José Paes de Azevedo Sá a essa

época. São muitas fontes que confirmam que as Oitocentas era propriedade dele.

115 SILVA, Maria Lucia Marques Cruz e. Rosário do Catete / Maria Lucia Marques Cruz e Silva – Aracaju:

Prefeitura Municipal de Rosário do Catete, 2000, p.73. 116 DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944, p.72. 117 Acervo do IPHAN / O inventário de conhecimento de Patrimônio Cultural da Cana de açúcar na Região do

Baixo Cotinguiba/ SE. Volume VII/ junho 2010.

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Diante dessa realidade para confirmar seu funcionamento temos a revista Brasil

Açucareiro que além de apontar o seu proprietário traz também dados relacionado com a

cotação e produção do açúcar, temos o livro o problema do açúcar de Sergipe de Orlando

Dantas que afirmam ser o oitocentas uma meia usina ligada a uma cooperativa.

Outros dados é a entrevista de suas filhas que confirmaram que era um

engenho pequeno bague e que transformou em usina a vapor que fabricava o açúcar

cristal. “Açúcar de boa qualidade cristal, cristal de boa qualidade fala de dona Gulnar

Vieira de Azevedo filha de seu Juca das oitocentas”.

Segundo Dantas118, os engenhos em Rosário do Catete que se transformaram em usina

ou meia usina por enfrentarem dificuldades por iniciativa do Instituto do Açúcar e do Álcool e

do sindicato da indústria do açúcar de Sergipe tomaram a iniciativa de apresentar um plano de

organização de usinas cooperativas em Sergipe e colocaram o plano em ação sendo que a

concentração em 16 Usinas – cooperativas, as 68 usinas existentes, como também os

engenhos bangues em funcionamento.

Para o exercício desse plano deveria levar em consideração a melhor instalação, em

algumas localidades bem como verificar a facilidade de transporte a tração animal, outro fator

a questão da disponibilidade de água para o abastecimento da usina, vejamos como foram

distribuídos esse plano e sua execução:

“Capela – As usinas Proveito, palmeira, Flor o Rio, Pedras119, Recurso e S.

Francisco, Sede em Usina Proveito; Usinas São José do Junco, Santa Clara,

Topo e Soledade, Sede em Santa Clara. Japaratuba – Usina Oiteirinhos,

Timbó, São José do Jardim e Cruzes, Sede em Oiteirinhos. Rosário – As

usina Jurema, Oitocentas, Pati, Capim Assú, Santa Barbara, Serra Negra,

Várzea Grande e Cumbe, Sede Jurema. Santo Amaro – As usinas Caraíbas,

Lombadas e Nossa Senhora da Conceição, sede em Caraíbas. Maruim - As

usinas Pedras e Jordão, Sede em Pedras. Divina Pastora-As usinas

Vassouras, Mato Grosso, São Felix e Salobro, sede em Vassouras. AS usinas

Lurdes, Nazaré, Fortuna, Mata- verde e Jaguaripe, sede na propriedade Sapé.

Riachuelo - As usinas Central, Tinguí, Espírito Santo, São Paulo, Porto dos

Barcos e Santa Maria, Sede em Usina Central. Laranjeiras- As usinas São

José, São João, São Francisco e Boa Sorte, sede Usina São José de

Laranjeiras.120”

118 DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944. p.72. 119 Idem. 120 DANTAS, Orlando Vieira. O Problema Açucareiro de Sergipe. Editora: Livraria Regina- Aracaju 1944.p.72.

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Além dessas acima citadas temos outras da região do Vaza Barris em São Cristovão e

Irapiraga atual cidade de Itaporanga D’ Ajuda e outras em Indiaroba que faziam parte da

cooperativa e estava ligada a um engenho maior na região a qual estavam localizadas.

Interessa-nos, de perto, o Engenho Oitocentas que mesmo sendo uma meia usina a

vapor pequena o engenho Oitocentas estava inscrito pelo Instituto do Açúcar e do álcool

(IAA) e estava na relação das usinas de Sergipe e consta na revista Brasil Açucareiro bem

como no anuário do (IAA) o contexto político administrativo e econômico do Sergipe,

nordeste e Brasil e alguns países do exterior por a revista era também de circulação

internacional dada a importância da produção açucareira e exportação para o exterior121.

Na tabela abaixo podemos perceber a relação de várias usinas nos respectivos

municípios e seus e proprietário, endereço na microrregião do Cotinguiba Sergipe.

REVISTA BRASIL ACUCAREIRO 1949

Tabela 02 – Revista Brasil Açucareiro 1949, p.125.

121 Revista Brasil Açucareiro - Ano XVII – Volume XXXVII – nº1 de julho, de 1949, p. 125.

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Vale lembrar que há relações de todos os engenhos e regiões produtoras no Brasil

aparece engenhos da região da Sergipe da microrregião da Cotinguiba e sua capacidade de

produção entre eles está o Engenho Oitocentas cujo proprietário José Paes de Azevedo Sá de

acordo com a revista Brasil açucareiro.

A Revista Brasil açucareiro trás em suas páginas uma serie de matérias acerca da vida

comercial e situações diversas sobre a história do açúcar no Brasil, bem como em outros

países que tem a produção de açúcar na economia, descreve os estatutos e legislações da

época, e faz um levantamento de seus respectivos proprietários como na tabela acima que

registra o funcionamento da Usina Oitocentas no ano de 1949.

Orlando Dantas (1980) afirma que as primeiras transformações do engenho de açúcar

bruto em meia usina de Açúcar cristal teve a iniciativa de Dr. Francisco Vieira de Andrade no

município de Capela em fins dos meados do século XIX. Vale salientar que a primeira usina

completa foi instalada no espaço de oito anos e foi a usina de Adolfo Rollemberg o

proprietário do Escurial nessa mesa data foram instaladas cerca de 55 usinas. Já em 1935

existiam cerca de 91 usinas com turbinas e vácuo além de 161 engenhos registrados no

departamento de Estatística122 em entre elas está a usina oitocentas.

Imagem 2 - Vista da casa grande, casas dos moradores e da Usina Oitocentas

Acervo: Família Azevedo / Banco de dados: Do Projeto Massapê (Antônio Lindvaldo Sousa)

Iniciamos a análise das fotografias que expõem a Usina Oitocentas no seu pleno

funcionamento, e deparamos com algumas características singulares dessa unidade açucareira

é de pequeno porte, e fabricava açúcar cristal.

122 Revista de Aracaju – Prefeitura Municipal de Aracaju – Ano XIX, p. 31-12-1962, nº7 -1962.

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Aleida Assmann123 (2011) propõe quatro estágios simultâneos da escrita; a analogia

dos vestígios, a escrita iconográfica e a digital, contudo tomaremos por base a analogia e a

escrita iconográfica e assim podemos propor que o engenho Oitocentas seja um lugar do

lugar, um lugar de memória, um espaço de recordação.

Bem assim, devemos selecionar o que será armazenado e o que será descartado,

silenciado deixado para trás. Para Assmann, e relação à imagem e a escrita, sendo que as

obras iconográficas eram consideradas de natureza concreta material, já a escrita é

considerada imaterial e se situa em um tempo generativa, ou seja, fora do tempo (p.235).

Portanto consideramos o acervo iconográfico de grande relevância na compreensão do

passado, pois as mesmas podem servir como auxiliares na recordação de um passado familiar

em um lugar memorável. As imagens são fontes reveladoras do passado do antigo Engenho

Oitocentas que foi engenho que passou por transição, pois foi bangue, engenho a vapor, usina

de pequeno porte junto a uma cooperativa como já fora mencionado anteriormente e passo

interessante entendermos que apesar de pequeno porte resistiu ao lado de outro de maior

importância como o Santa Barbara e o Caraíbas, Jurema, Pati, Jordão. Sua singularidade

estava no pensamento do senhor e nos investimentos através dos anos para poder sobreviver

mesmo enfrentando as consequências das secas e falta de políticas públicas e investimento na

agricultura por parte do poder público causa e o aumento nos custos dificultando a produção

açucareira e a decadência de outros por falta recursos.

A fotografia abaixo da casa de vivenda do engenho oitocentas é um demonstrativo de

um lugar de memória para a família Vieira de Azevedo considerando que:

“São nos lugares onde a memória se cristaliza e se refugia se liga a

momentos ímpares e particulares da história de quem vive cada momento,

em determinado contexto, para o mesmo, ainda que haja um esfacelamento e

ruptura com o passado, contudo são nos lugares que residem o sentimento de

continuidade, pois se torna residual aos locais as lembranças, o mesmo

afirma também que “a memória é a vida, sempre carregada por grupos

vivos, e que está em constante evolução, aberta á lembranças e

esquecimentos, sendo vulnerável, a todos os usos e manipulações”. Pierre

Nora124”.

123 ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas:

Unicamp, 2011. 124 NORA, Pierre. Entre Memória e História: A problemática dos Lugares. Projeto História. São Paulo, 1993.

p.9.

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As histórias das famílias importantes são representadas também através dos objetos de

valor cultural, afetivo, econômico, sentimental; a história de indivíduos se repetem por seus

saberes, fazeres e representações, nesses fazeres podemos abordar o guardar, preservar sua

cultura através dos objetos com valor simbólico, memorável que fazem elo entre passado e o

tempo presente, dessa forma podemos perceber que dona Graziela a atual proprietária tem

posse das memórias familiares quando adentramos o Oitocentas não tínhamos noção de quão

belíssimo em sua estrutura e em suas ricas fontes de lembranças, e recordações dissertar sua

história e as memórias que ali estão de forma visível, concreta e de maneira sinestésica, nos

faz pensar que quanto tempo esteve silenciado e poderia se perder com o passar do tempo sem

ter sido feito o registro para contribuição da historiografia assim como pra contar um pouco

mais da nossa história nos tempos do açúcar, buscando o espaço de recordações colhemos os

depoimentos das guardiães das memórias das Oitocentas.

Imagem 3 - Casa grande do Engenho Oitocentas vista frontal

Fotografia: Augusto Gentil – data 20/04/2018

Acervo de Josineide Luciano

A foto 3 apresenta a vista frontal da casa grande do Engenho oitocentas, essa

fotografia datada do dia 20 de abril de 2018. A casa conta-se com seis janelas frontais e mais

duas janelas laterais do lado esquerdo e outra do lado direito é uma edificação retangular

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coberta com telhado em quatro águas. Possui alpendre circundado por fachadas norte e

fachadas leste.

Em fachada leste existe uma ampliação em parte posterior onde há um depósito e uma

garagem para veículos. O alpendre possui pilares de madeira entalhados que sustentam os

prolongamentos do telhado. Os guardas corpus de madeira também são belamente

trabalhados. As esquadrias de madeira dão destaque na edificação. São do tipo veneziano,

com duas folhas e bandeira fixa trabalhadas em madeira e vidro. Toda a edificação é

construída em taipa de sopapo técnica construtiva que foi preservada e mantida pela

proprietária.

Imagem 4 - Vista da casa grande do Engenho Oitocentas (Acervo: Família Azevedo)

Banco de dados: Do Projeto Massapê (Antônio Lindvaldo Sousa)

Os compartimentos internos como veremos adiante na planta baixa são pequenos

contam seis quartos uma sala grande e outra menor sala de jantar e a grande, cozinha com um

fogão de lenha, com forno típico para cotidiano do contexto da sociedade da aristocracia

açucareira com seus costumes de família patriarcal e numerosa.

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Em cada cômodo as antigas mobílias no quarto do casal móveis detalhados, cama com

duas cabeceiras em madeira e escura, da mesma forma a mobília da sala a mesa cristaleiras e

fazendo parte das recordações e memórias um pilão. A Casa grande das Oitocentas como

pode perceber na planta baixa e nas fotografias é uma casa simples sem opulência como

gostavam de ostentar alguns senhores de Engenho da região do Cotinguiba.

Imagem 5 - Planta Baixa125 da Casa Grande do Engenho Oitocentas

125 Planta pertence ao banco de dados do projeto Massapê: Memórias, engenhos e comunidades da microrregião

da Cotinguiba. E sairá no livro que o coordenador do projeto prof. Antônio Lindvaldo Sousa está organizando.

Foi elaborada pelos arquitetos: José Glackson Santos Júnior e Ana Lúcia Pinto do Nascimento Álvaro.

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Panorâmica: Foto Aérea do Conjunto das Edificações do Engenho Oitocentas

Imagem 6 - Casa grande; casa dos trabalhadores; Antiga Usina Oitocentas ao fundo um riacho.

Fotografia: Augusto Gentil – Data 20/04/2018

Acervo: Josineide Luciano Almeida Santos

Vista panorâmica da foto aérea do conjunto das edificações do engenho oitocentas

cuja proprietária senhora Graziela Vieira de Azevedo faz questão de conservar o modelo e a

estrutura da propriedade nos moldes do antigo engenho oitocentas e quando necessita de

reparos são realizados no mesmo material da construção com que foram erguidas as

edificações originalmente.

Da antiga fábrica do engenho, hoje no lugar um curral, que se encontra na porção mais

baixa do terreno, quase em frente à casa de vivenda, que fica em uma elevação como na

maioria dos engenhos sempre estava edificado em um lugar mais alto. Ao lado da edificação,

em parte oeste, há um jardim cercado por muro em tijolo maciço que separa a casa grande das

casas dos trabalhadores.

Foi possível visualizar dois tanques que podem ser vistos na fotografia 7 em relação a

técnica construtiva foi construída em taipa de sopapo e alvenaria maciça, seu telhado em

cerâmica e duas águas.

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De acordo com o cadastro Industrial Agrícola126, existiam em 1930 sete usinas que

fabricavam o Açúcar cristal entre elas as Oitocentas com capital social de 100.000$0000 e

com uma produção pequena de 2.177 sacos de 60 quilos cada média aproximada como já

mencionamos anteriormente de 3000 mil sacos de Açúcar. Segundo dona Gulgar Vieira de

Azevedo uma das filhas de seu Juca, em depoimento para o documentário do Massapê afirma:

‘Lá em casa apesar de ser pequeninho ele produzia açúcar cristal, tinha turbina, tinha

vácuo...“uma quantia irrisória mais ele fazia questão de fazer , de ter a produçãozinha

dele”127.

A chamada virada cultural, com suas representações é bem válida para esta pesquisa,

sobretudo a partir da forma como observamos nosso objeto, dentro da necessidade de

identificar inserido em seu contexto social cultural e de poder político sendo assim fazemos

dos conceitos de Roger Chartier para identificar esse contexto e o modo como, em diferentes

lugares e momentos, uma realidade social é construída, pensada, dada a ler (CHARTIER,

1990, p.19).

Desta forma podemos designar as oitocentas como um lugar de memória, espaço de

recordação para a família vieira de Azevedo para as filhas de JUCA das Oitocentas um lugar

do lugar, nos tempos do açúcar com senhor de engenho sua esposa e filhos, nessa casa

nasceram, viveram seus primeiros anos até serem encaminhados para os centros urbanos de

grande representação, tiveram oportunidade de estudar, ter boa educação, formação

profissional assim aconteceu com os filhos de José Paes de Azevedo Sá e Dona Cecília Vieira

de Melo deixaram seu torrão natal e partiram para estudar no Rio de Janeiro.

Esse espaço de recordação continuará sendo trabalhado no terceiro capitulo cujo título

O ocaso da memória; sendo que buscaremos nas entrevistas de história oral, nos livros,

documentos do acervo pessoal da família: as fotos, cartas dos filhos aos antigos proprietários

da usina Oitocentas para tratar das memórias e das recordações, discutir a relevância desse

engenho na criação dos filhos e ao mesmo tempo deixar um registro de um personagem que

estava à frente de seu tempo, por ter feito a diferença dos demais senhores de Engenho que

126 Cadastro Industrial Agrícola e informativo do Estado de Sergipe 1933, organizador; Armando Barreto. 127 Documentário “Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos” Direção e produção Sergio Borges

Professor Mestre em Geografia. Produtor, Diretor e roteirista e documentarista.

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ostentavam seus bens e riquezas moveis ele preferiu educar e formar seus filhos formando

uma família estruturada com legado para história até hoje.

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CAPÍTULO III

O LUGAR, AS COISAS E AS PESSOAS - O OCASO DA MEMÓRIA

A tríade engenho de açúcar, usina e a casa grande tornou-se uma representação

marcante do poder econômico e social na História do Brasil. Neste cenário, destaque para a

família, o lugar das convivências fraternas, mas também da construção de outros laços que

reforçam ou não o status quo dos indivíduos.

Os lugares e as pessoas ao longo do tempo se confundem e também as coisas: os

objetos familiares, as ferramentas de produção, as fotos, os utensílios domésticos e tudo o

mais que constituía uma cultura de época, notadamente uma cultura do açúcar, vista assim em

sua faceta mais abrangente.

Neste capítulo, nossa atenção está voltada para as pessoas do Engenho Oitocentas e, a

partir da narrativa e descrição das memórias familiares quer lançar novas luzes sobre a

história do lugar, perscrutando os caminhos trilhados, no que a vida tem de mais notável: as

suscetibilidades.

A família Vieira de Azevedo não esperou os tempos de decadência da produção do

açúcar para poder pensar em algo inovador que pudesse garantir o desenvolvimento

econômico intelectual e garantir o futuro para a sua prole. Optou, assim, por investir na

educação e não utilizou em arranjos matrimoniais e casamentos afortunados para suas filhas,

por exemplo.

A guisa de encaminhamento metodológico nos valemos das assertivas de Ibarê

Dantas128, que nos apresenta a possibilidade de pesquisar documentos pessoais dos seus

ancestrais e depoimentos dos descendentes dos personagens e a partir da apreciação dessas

fontes trazer a lume a memória das pessoas e dos lugares.

As marcas das memórias das pessoas ficaram expressas em diversas representações:

na casa grande e seu estado de conservação, na mobília, nas cristaleiras (um armário escuro e

envidraçado em que se guardavam e exibem as louças, copos de vidro, de cristal, porcelanas

antigas desenhadas); no conjunto de cadeiras de palhinha; pilão e mão de pilão; em cima das

128 DANTAS, Ibarê. Memórias de família: o percurso de quatro fazendeiros. Aracaju: Criação, 2013.

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mobílias, nos quadros com foto do patriarca da família o senhor José Paes de Azevedo Sá,

conhecido como Juca das Oitocentas; dentro do baú, nos quadros das paredes da casa grande.

Seguem abaixo, algumas fotos representativas do lugar:

Imagem 7 - Ângulo Frontal da Casa Grande das Oitocentas

Acervo de José Aquino

Imagem 8 - Representação e disposição da mobília, quadros. Imagem 9 - Cristaleira e pilão e

mão de pilão. Acervo: José Aquino

Data dos registros: 20/04/2018

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Depois que Seu Juca das Oitocentas faleceu a disposição dos móveis permaneceu do

mesmo jeito até os dias atuais, como uma forma muito comum nos interiores do Brasil de

preservar a memória de dias cheios de lembranças.

Em cada objeto da casa de vivenda das Oitocentas, certamente para a senhora

Graziella e para cada um dos filhos do senhor Juca e Cecília, cada lembrança, memórias

individuais tem um significado especial. De acordo com os registros da senhora Gulnar

demostra subjetividade, emoção ao falar do conjunto de cadeiras que seu pai comprou em um

leilão em Aracaju no palácio do governo.

Na sala de visita um lindo conjunto de cadeiras. Essa mobília veio da Itália para o

Palácio do governo, foi feito um leilão e seu Juca arrematou o móvel que veio para as

oitocentas.

Imagem 10 - Conjunto de cadeira comprada em Leilão no Palácio do Governo

Fotografia: Augusto Gentil

Data do registro: 20/04/2018

No ambiente das Oitocentas, as memórias, as lembranças, muitas outras peças, como

camas, guardas roupas, cômodas, e cada uma delas com sua história, como verão mais adiante

no depoimento da senhora Ivanice Oliveira. A partir de seu depoimento, fizemos um

inventário dos móveis e seu histórico; registramos também, que há algumas décadas, o

Oitocentas passou por várias transições, tendo sido engenho banguê, usina de pequeno porte,

engenho de fogo morto.

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O engenho é desconhecido por muitos, mas consideramos um marco da história da

economia sergipana de singular importância. Em relação ao baú de memórias há muito ainda

a ser tirado, ele é como uma caixa de pandora, cheio de supressas e subjetividades, é vasto em

fotografia e imagens iconográficas, e contribuiu para compreensão de cada etapa e trajetória

dos que fizeram parte das memórias das Oitocentas.

E por fim, no terceiro quarto, nosso último objeto era um baú envernizado, que nele

estavam às cartas manuscritas, bem como as fotos que nos forneceu detalhes e subjetividades.

Ali mesmo nos debruçamos no acervo iconográfico que contou vida das famílias dos senhores

de engenhos: Caraíbas, Catete, Santa Bárbara, foto do Barão de Maruim129; podemos registrar

fotos da família dos treze irmãos, tios, avó, primos, Sobrinhos e do próprio engenho

oitocentas, das casas dos moradores, do antigo engenho e usina oitocentas entre outros objetos

de cunho pessoal.

Daquele objeto o baú de Graziela, aparentemente sem valor algum, está à vida, as

recordações, memórias, as cartas com informações das chegadas e saídas dos irmãos, cartas

com perguntar e respostas acerca da vida da família Vieira de Azevedo, riqueza incalculável e

de grande importância do ponto de vista afetivo e histórico, pois revelam datas relevantes para

o conhecimento histórico e memorável.

Vale salientar que estes objetos, cada um individualmente, tem história na passagem

de cada filho, principalmente na vida da atual proprietária, Dona Graziela Vieira de Azevedo;

todos estes objetos fazem parte da sua vida, história e memórias.

Percebemos através das fotos identificadas, que continuam servindo como

representações das memórias, memórias estas, que evidencia a existência da pequena Usina

Oitocentas ao longo dos anos que esteve em funcionamento. Como já exemplificamos essas

memórias que foram confirmadas através do testemunho vivo da filha Gulnar Vieira de

Azevedo.

129João Gomes de Melo conhecido como Barão de Maruim herdeiro do engenho Santa Barbara parente da

família das oitocentas.

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“Nas oitocentas apesar de pequenininho ele produzia açúcar Cristal, no

engenho tinha turbina e vácuo e produzia três mil sacos de açúcar. Apesar

de pequeno produzia, fazia questão de fazer à produçãozinha dele”130

Imagem 11 - Representação da Usina Oitocentas

Foto: Banco de Dados Projeto Massapê

Seu José Paes de Azevedo Sá conhecido em Rosário do Catete como Juca das

Oitocentas, como já salientamos, distinguiu-se pela bondade e pela firmeza de caráter,

sobretudo se levarmos em conta os depoimentos que pudemos coletar e registro impressos.

O nome desse rosarense foi motivo de orgulho para seus conterrâneos. Vejamos o que

afirma o Senhor Luiz Ferreira Gomes131, antigo morador de Rosário do Catete e

contemporâneo de Juca das Oitocentas:

“Juca das Oitocentas eu posso afirmar com firmeza porque eu conheci

muito, sou muito simpatizante porque era uma pessoa fora do comum, uma

pessoa de uma personalidade, de uma dignidade, aqui em Rosário não teve

outra pessoa igual a ele. O oitocentas era um engenho moía, eu alcancei

moendo e tudo mais, ele era um usineiro de pouco recurso, o que ele tinha

muito era uma personalidade, não tinha senhor de engenho aqui em Rosário

que teve a personalidade e dignidade que José Paes de Azevedo Sá teve132.”

130 Trecho do depoimento da Senhora Gulnar Vieira de Azevedo cedido ao Documentário do Projeto Massapê.

Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos. 131 Idem, p.13 132 Documentário do Projeto Massapê. Massapê Rosário do Catete Memórias e Engenhos.

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Com as dificuldades que enfrentavam seus pais para educar os quatro filhos nos cursos

primário e ginasial (hoje 1º grau), procurou seguir a carreira de telegrafista, fazendo curso em

Campinas, contudo exerceu a profissão por pouco tempo, pois teve que retornar a sua terra

natal devido ao falecimento do seu genitor.

Mesmo voltando a viver em um meio acanhado, num estado pequeno, não se

descuidou do aprimoramento de seus conhecimentos; era um autodidata, conseguiu por

esforço próprio um nível cultural invejável.

É verdade que apesar de não ter formação superior, era um entusiasta de Balzac, Zola,

Victor Hugo, Shakespeare, Tolstoi, Dostoievske e inúmeros outros representantes da cultura

estrangeira.

Da literatura brasileira não se cansava de apontar Machado de Assis, Castro Alves,

Tobias Barreto, Rui Barbosa, Silvio Romero, Emílio de Menezes entre outros. Cujas obras

deveriam constar nos currículos escolares, para um melhor aprofundamento. O mesmo foi

chefe político por várias décadas, tendo ocupado uma cadeira na Câmara de Vereadores da

qual foi Presidente.

Ele ocupou temporariamente o poder executivo em 1937. Também exerceu a função

de secretário da casa de Caridade de Rosário do Catete de acordo com o jornal O Rosário

datado de 13 de agosto de 1933, p.4., que anuncia a posse da nova diretoria e entre os nomes

da a comissão está do senhor José Paes de Azevedo Sá, reeleito para o cargo de secretário.

Em relação ao Engenho Oitocentas, vale salientar que seus proprietários foram todos

da mesma família, tendo pertencido ao Senhor Manoel Paes de Azevedo e antes deste, aos

seus genitores; contudo, entre todas as gerações é relevante destacar o senhor José Paes de

Azevedo Sá.

José Paes de Azevedo Sá (Juca das Oitocentas) nasceu em Riachuelo no dia 7 de maio

de 1875, registrado como rosarense filho de Manoel Paes de Azevedo, mencionado acima e

da senhora Ernestina Teles de Menezes com quem teve quatro filhos entre eles o Juca das

Oitocentas.

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Ele fez o curso ginasial e depois seguiu para o Estado de São Paulo, na cidade de

Campinas, iniciando o curso de telegrafista. Mais certo, dia sua mãe o chamou para retornar a

sua terra natal, pois o pai dele havia falecido.

Conforme solicitação de sua mãe Ernestina Teles de Menezes o filho José Paes de

Azevedo Sá regressou para cuidar da propriedade com afinco e dedicação, tornando-se anos

depois senhor das Oitocentas.

Imagem 12

José Paes de Azevedo Sá

(Juca das Oitocentas)

Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê

Para Nilza Vieira de Brito, a filha caçula: “Ele procurava ser grato a todos da família,

amigos, trabalhadores. Procurava construir elos de amizades e por isso não o tinham

somente como chefe de família, senhor de engenho, mas como amigo, um homem à frente do

seu tempo bem liberal”133.

Com relação às características físicas, o Senhor José Paes de Azevedo Sá era vistoso

no aspecto físico, forte, bonito e falava muito alto. Ele deixava por onde passava uma boa

impressão entre os que o cercavam.

Tinha o hábito de ir à cidade vizinha de Maruim, frequentava o gabinete de leitura,

falava com os amigos, sempre almoçava mediante rodízio, em casa de familiar.

133 Depoimento em janeiro de 2017.

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Ele enamorou-se de Cecília, filha do Senhor e da Senhora de engenho Sitio Novo e do

engenho Catete Velho, José Sotero Vieira de Melo e dona Maria Barreto de Menezes. Eram

seus vizinhos e primos, e casou-se com ela em 30 de junho de 1900, passando a chamar-se

Cecília Vieira de Sá, filha do senhor. O enlace matrimonial se deu numa manhã de inverno, na

cidade de Rosário do Catete, na igreja Nossa Senhora de Nazaré, propriedade dos pais de

Cecília. Foi celebrado como um grande acontecimento social, pois selava a união de duas

famílias importantes da sociedade rosarense: a junção de muitas famílias entre eles dos Vieira

de Melo com os Azevedo.

Desse Consócio, surgiu a família Vieira de Azevedo. Em cinquenta anos de casados,

José Paes de Azevedo Sá e Cecília Vieira de Sá tiveram uma numerosa família de doze filhos.

Suas trajetórias serão descritas a seguir, ordem de nascimento e respectivos herdeiros. Para

além de uma descrição pura e simples, a necessidade de deslindar aspectos da história do

lugar e de suas pessoas.

Em tudo Seu Juca pensava e via beleza, procurava dá sentido à vida. Certamente não

se descuidou da educação de seus herdeiros, os mais velhos estudaram as séries iniciais em

Maruim, depois seguiram para o Rio de Janeiro para o colégio militar em Minas Gerais na

cidade de Ouro Preto.

Seu Juca morava no Engenho Oitocentas, e viveu do cultivo da cana de açúcar, dos

produtos industrializados pelo engenho, bem como da criação de gado e dos produtos da terra.

Decorrente do seu esforço e trabalho nas Oitocentas pôde educar e criar todos os seus filhos,

uma empreitada que certamente não deve ter sido fácil, pois teve uma numerosa prole e seu

principal objetivo formar os filhos.

Segundo depoimento da filha Dona Nilza, para formar o caráter ela se espelhou em

seu pai que era uma figura trabalhadora séria que antes de assumir a fazenda da família

trabalhou como telegrafo em São Paulo.

Cada indivíduo tem recordações, memórias de infância, de lugares de objetos.

Recordar ações, fatos, acontecimentos, é viver o presente, os exemplos do passado,

enriquecendo-se como pessoas.

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Os filhos de sua mocidade receberam uma herança inapagável de seus pais: caráter

combativo, sentimentos de justiça, ética que foram transmitidos aos seus descendentes nas

várias gerações.

São os herdeiros não de bens materiais e patrimoniais, propriedades que valem pouco

e se dissipam, mas o caráter de um homem que faz parte da história com uma trajetória de

determinação e com a missão única de criar e educar seus doze filhos.

Imagem 13 – Alguns dos filhos de Juca das Oitocentas: Agliberto,

Ibelza, Osvaldina, Temístocles, Nilza, esposo José, Gilca, Graziela,

Gulnar Vieira de Azevedo.

Acervo: Josineide Luciano Almeida

Péricles Vieira de Azevedo nasceu no dia 10 de abril do ano de 1903 e veio a falecer

prematuramente com cinquenta e sete anos em fevereiro de 1961. Primeiro dos doze filhos de

José Paes de Azevedo Sá e Cecília Vieira de Melo. Cursou as séries inicias na cidade de

Maruim e depois foi enviado por seus pais sob o cuidado de seu tio Heitor Paes de Azevedo,

irmão de seu pai, para a cidade do Rio de Janeiro, onde cursou o Colégio Militar. Após a

conclusão do ensino secundário, ingressou na Escola Militar e assim seguiu a carreira das

armas. Chegou ao posto de Tenente Coronel da Infantaria no Rio de Janeiro.

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Imagem 14 - Tenente Coronel Péricles Vieira de Azevedo

Do Exército e Advogado

Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê

Foto: Data de 28/03/1942

As cartas134 trocadas entre Péricles Vieira de Azevedo e Graziela Vieira de Azevedo

são fontes relevantes para o entendimento acerca do engenho oitocentas.

Vejamos o trecho abaixo:

“Quando me lembro das Oitocentas o que aconteceu todos os dias e uma

paisagem bonita, centro da nossa vida da família, símbolo da nossa unidade,

abrigo de todos nós, fonte cristalina onde não falta água da afeição, cajazeira

perfumando o ambiente dando boa sombra. Perto do encontro dos nossos

deveres maiores e das nossas alegrias mais profundas. Amo o Oitocentas

com grande transbordamento de afeto.

Amo com saudades, amo chorando quando evoco a minha infância os dias

difíceis do Oitocentas, aqueles dias que levaram anos em que se a tenacidade

do pai e a boa existência de nossa mãe tornaram possível á arvore dá frutos

tão bonitos; amo com orgulho.

Como é delicioso, confundir Graziela com Cecília, Agliberto com Juca!

Amo-a querida Graziela, adoro-a porque seu nome verdadeiro é Oitocentas e

seu sobrenome é Cecília.

Tudo que sou devo a Oitocentas. E as Oitocentas que devo a justa

compreensão que tenho da vida, e oitocentas é essa mistura de afeto.......

beijo e lágrimas.......... Junção de dificuldades e vitórias135. ”

Péricles, além da carreira militar, dedicou-se ao estudo do direito. Segundo seu primo,

Silvio de Melo Dantas136, filho de Dovalina Vieira de Melo, sua tia, irmã de dona Cecília.

134 Carta manuscrita e assinada a punho por Péricles. Teresina, 10 de novembro de 1959. 135 Trechos da carta de Péricles Vieira de Azevedo - Sua Memorias acerca do Engenho Oitocentas. Carta

manuscrita e assinada a punho por Péricles. Teresina, 10 de novembro de 1959. 136 DANTAS, Melo de Sylvio. Minha família – Árvore Genealógica Comentada. - Salvador dezembro de 2013.

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Ele relata sobre seu primo Péricles e sobre os demais filhos de Juca de maneira breve e

em alguns trechos alguns equívocos que foram tratados, confrontados e na medida do

possível, colocados de forma clara no depoimento das próprias filhas e neta de seu Juca.

Ainda sobre Péricles, Melo de Sylvio Dantas afirma: quando o mesmo era aluno da

Escola Militar, aderiu à Revolução de 1922, e por essa razão foi expulso da escola. Foi

quando iniciou seus estudos na área do direito e segundo sua irmã Gulnar, ele exerceu a

profissão de advogado, mas que não teve muito êxito, pois naquela época, recém-formado

sendo que para viver da advocacia era difícil então advogou por pouco tempo.

Sua irmã Gulgar ratifica em seu depoimento, que era um jovem muito inteligente, de

conversa fácil e agradável, um orador primoroso. Na ocasião do falecimento do seu avô José

Sotero Vieira de Melo, ele representou a família.

Como dizia os antigos, ele não tinha papas na língua. Como se costuma dizer por não

temer as consequências. Pagou o seu preço quando em temporada aqui em Sergipe veio a ser

preso pelo presidente de Sergipe, Manoel Correia Dantas. Péricles fez uma denúncia acerca

do êxodo rural que estava acontecendo no país, particularmente em Sergipe.

Péricles casou com Zilda Bastos Azevedo, desse enlace, nasceram: Solange, Sônia e

Sérgio Bastos de Azevedo.

Solange Bastos de Azevedo é uma das netas de seu Juca, ela deu oportunidade de

conhecer mais um pouco das memórias das Oitocentas e dos seus avós em depoimento que

nos concedeu em 7 de setembro de 2018, quando em visita à suas tias, em comemoração do

aniversário de 103 anos da atual proprietária Graziela Vieira de Azevedo. Nasceu em 17 de

fevereiro de 1935 e casou-se em 17 de fevereiro de 1955, é filha de Péricles Vieira de

Azevedo e Zilda Bastos de Azevedo. Casou em primeiras núpcias com Ronaldo Bueno

Caixeta com quem teve três filhos: Roseane, Ronaldo e Alexandre de Azevedo Caixeta, cada

um deles também já constituíram suas famílias. Com o falecimento do seu esposo, Solange

contraiu novas núpcias, com Elesbão Bastos de Andrade e desta união teve mais uma filha

Denise Azevedo Bastos de Andrade. Elesbão também já faleceu e Solange, mais uma vez está

viúva, e fixou residência em Belo Horizonte.

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Em relação aos netos137 de Juca, tivemos oportunidade de conhecer alguns deles. Os

mesmos têm por ele admirável gratidão, ao seu lado viveram temporadas de férias

inesquecíveis, dias de intensas felicidades e anos de ótimo aprendizado através de cordatos

conselhos e da história de vida de seu avô.

A senhora Solange, uma de suas primeiras netas e teve oportunidade de conhecer o

cotidiano138 na vida nas Oitocentas. Segundo a mesma, sua infância seguiu o estilo

tradicional das famílias que possuíam propriedades, terras. Seguia os banhos de rios, quando

em estada na casa da vovó Cecília e vovô Juca, lembro os passeios a cavalo, os doces que a

vovó fazia, em tempo de São João ela fazia uma fogueira para cada um dos netos que ali

estivessem.

“Comíamos milho, bolos, canjica, pamonha e tantas outras guloseimas. Tudo

isso acontecia no período das férias escolares, era nossa melhor diversão,

além de ver todo o movimento do engenho: os trabalhadores, que traziam as

canas de açúcar, aqueles que faziam todo o processo de produção industrial

do açúcar cristal. Tive oportunidade de conviver com essas invenções

cotidianas por ser neta de senhor de engenho.139”

Outro filho de Péricles é Sérgio, nascido no dia 24 de dezembro do ano de 1938.

Casado com Maria Ângela Vasconcelos, em 15 de abril de 1963 e desse matrimônio nasceram

Patrícia e Ernesto Vasconcelos Gomes de Azevedo, quando em contato com algumas cartas

trocadas por Sérgio para a tia Graziela expondo suas memórias e tristezas ao perder a figura

paterna prematuramente.

137 Solange, Sérgio Bastos de Azevedo, Cecília, Nelson Tavares de Brito, entre outros desta numerosa

descendência de Juca das Oitocentas. Bisneto Ronaldo Bueno Caixeta que tivemos oportunidade de conhecer

juntamente com sua mãe em 2018. 138 CERTEAU, Michel de, 1925-1986. A invenção do Cotidiano:2 Morar, cozinhar/Michel de Certeau, Luce

Giard, Pierre Mayol; Tradução de Ephraim F. Alves e Lúcia Matilde Endich Ort.12. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,

2013.

139 Entrevista de Solange Bastos de Azevedo em janeiro de 2018.

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Momentos difíceis de Sérgio140 ao perder a figura paterna, e resolve escrever para suas

tias para assim abri seu coração suas tristezas e expectativas. Registramos abaixo a carta data

de 25 de março de 1961 (Ouro Preto):

Carta de Sérgio Bastos de Azevedo para:

“As queridas tias,

Está é a primeira carta que lhes escrevo depois da morte de papai.

Recebemos lá em casa o telegrama que vocês nos enviaram.

Não vou falar afim, naturalmente da dor que sentimos, não vou falar ela foi

de todos nós a mesma maneira e é grande demais para se pôr em palavras.

A vida prossegue, num processo dinâmico modificando-se a cada dia....essa

é a nossa herança, esse é nosso orgulho, orgulho de não esmorecer nunca de

lutar sempre. Espero notícias de vocês, escrevam sempre. Quero saber de

vocês e de Oitocentas, que é nossa. ”

Temístocles Vieira de Azevedo nasceu nas Oitocentas, no dia 5 de abril de 1904,

segundo suas irmãs ele era bem mais rígido do que seu pai Juca. Afirmaram que deve ter sido

por causa de sua formação inteiramente militar.

Assim foi a trajetória de Temístocles, a exemplo de seu irmão Péricles, cedo ingressou

na carreira militar e sentou praça no exército em abril de 1924, ingressou na Escola da

Infantaria, chegando a ser promovida a aspirante em janeiro de 1927, a segundo tenente em

julho do mesmo ano e a primeiro- tenente em julho de 1929. Nesse período, de julho a

outubro do ano de 1932, participou do combate à Revolução Constitucionalista141, em São

140 Carta de Sérgio Bastos de Azevedo filho de Péricles Vieira de Azevedo para as suas tias Gulnar, Gilca,

Graziela Vieira de Azevedo. 141 Revolução Constitucionalista – 1932 em São Paulo.

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Paulo; em novembro desse mesmo ano, foi promovido a Capitão e exerceu a função de

Comandante da Força Policial de Alagoas.

Imagem 15 - Temístocles Vieira de Azevedo

Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê

Embora sua formação fosse militar, se viu na posição de Interventor do Estado de

Alagoas, em 2 de março de 1934, por decisão direta do presidente em exercício Getúlio

Dornelles Vargas.

No ano de 1934 assumiu a interventoria interina em Alagoas, substituindo o

Interventor Osmam Loureiro de Faria, permanecendo no cargo até o dia 1º de Maio de 1934,

quando o titular regressou ao posto.142

Temístocles ainda alcançou a patente de major, em outubro de 1942, tenente-coronel,

em março 1948, e coronel em julho de 1952. Em seguida foi promovido, sua maior patente

General de Divisão da Reserva Remunerada.

Quando serviu na cidade de Maceió, como Interventor chegou a conhecer Erotildes de

Araújo Costa, nascida em 20 de março de 1912, com quem veio a contrair matrimônio em 30

de março de 1930 e passou a chamar-se Erotildes de Araújo Azevedo. Dessa união nasceram,

Heloísa, Enaura, Alberto, Nilton e Neuza Vieira de Azevedo dos quais versaremos a seguir.

142 Fontes: Jornal do Brasil de 27 de março de 1999; Mini. Guerra Almanaque de 1948 e 1958; Arquivo público

de Alagoas.

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Heloísa nasceu em 18 de novembro do ano de 1930, casou-se com Armando Firmo de

Moura. Eles tiveram cinco filhos: Mauricio, Ricardo, Maria Cecília e Murilo Azevedo Firmo

de Moura. O esposo de Heloísa veio a óbito prematuramente e mesma herdou a difícil tarefa

de cuidar e educar dos filhos. Ela também dedicou muita atenção a seu pai, em seus últimos

dias de vida, fazendo rodizio com os irmãos. Preferia ficar uma semana completa no Rio de

Janeiro para assim cuidar da saúde do seu progenitor, que faleceu no Rio de Janeiro em 20 de

março de 1999 aos 94 anos de idade.

Registramos que a família de Temístocles também foi numerosa e todos os filhos e

filhas galgaram êxito. Esses próximos parágrafos tratam-se dos descentes de Temístocles os

filhos e netos do mesmo que passamos a descrever: Mauricio Azevedo Firmo de Moura

formado em engenharia civil pela Universidade Mackenzie, casado com Tania Faé de Moura

e tiveras três filhos. Ricardo Faé de Moura formado em Direito pela Universidade de São

Paulo, e fez também fez medicina especialidade na área da pediatria. Carlos Faé de Moura

formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing.

Adriana Faé de Moura, formada na área de arquitetura pela Universidade Mackenzie e

pós-graduação em Arquitetura ambiental pela politécnica de Milão.

Maria Cecília Azevedo Firmo de Moura, formada em pedagogia pela Universidade

Mackenzie e atualmente diretora de produção.

Murilo Azevedo Firmo de Moura é diretor de produção da Murilo A. L. Moura

Confecção Ltda. Casado com Gabriela Baumgat. Gabriela teve dois filhos do primeiro

casamento.

Enaura Vieira de Azevedo, casada com João Luiz Ziller Merege, dessa união

nasceram: Celso, César, Renato e Rogerio de Azevedo Merege.

Celso de Azevedo Merege, formado em Engenharia elétrica pela UERJ, casado com

Anna Chistina Garambone da Cruz desse enlace nasceram Juliana Garambone Merenge

formada em Engenharia Química UFRJ.

Daniel Garambone Merge, estudante secundarista. César de Azevedo Merege

formado em engenharia Civil, casado com Áudara Claudia Souza de Carvalho não tiveram

filhos.

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Alberto Vieira de Azevedo, formado arquitetura casado com Maria Selma Honório

Lisboa. Faleceu prematuramente mais dessa união nasceram Ana Clara (In Memoriam),

Alberto Luiz Lisboa de Azevedo Engenheiro de Segurança e arquiteto. Casado com Cristine e

dessa união nasceram Ygor Vidal de Azevedo, estudante Yasmin Vidal de Azevedo estudante

nascida em 2004.

Temos ainda, Newton Vieira de Azevedo, casado com Miriam Rodrigues Viana de

Azevedo. Desse enlace nasceram Christian Viana de Azevedo, formada em Direito e

professor de Inglês, agente da polícia Federal. Eduardo Viana de Azevedo, professor

universitário formado pelo UFMG. Thiago Viana de Azevedo solteiro formado pela UFMG

em geografia. Hoje reside em Belo Horizonte viúvo e reside com o filho Tiago.

Neuza Vieira de Azevedo, irmã gêmea de Newton, funcionária pública aposentada.

Divorciada, casou-se com Jorge Haffer Filho, dessa união nasceu Marco Aurélio de Azevedo

Haffner, formado em Direito pela PUC –RJ. Especialista em Direito processual trabalhista.

Podemos confirmar que realmente a família de Temístocles é numerosa e os Azevedo dessa

terceira e quarta geração certamente não conheceu mais certamente ouviu falar do seu avô

Juca das Oitocentas.

Ibelza Vieira de Azevedo permaneceu nas oitocentas com Graziela Vieira de

Azevedo, sua irmã e administraram a propriedade juntamente com seus progenitores. Segundo

sua irmã Gulnar, Ibelza foi para o Rio de Janeiro estudar, mas não se adaptou, ficou doente e

assim retornou para seu recanto nas Oitocentas, não desejando retornar e se formar. Ibelza

ficou com os seus progenitores, administrando a pequena usina oitocentas e cuidando nos

afazeres domésticos com sua mãe, Cecília e no cuidar dos seus irmãos mais novos. A mesma

herdou por toda a sua existência, a calma da mãe e o entusiasmo de papai, sempre alegre e

disposta. Vejamos como sua sobrinha, Heloisa Vieira de Azevedo, filha de Temístocles, assim

descreveu em uma das cartas escrita para queridas tias. “Foi muito bom ter participado desse

encontro, onde tudo foi alegria junto a um grupo tão grande de pessoas queridas. Pena que

faltasse, algumas pessoas como a Enaura143 que teria ficado muito feliz de ter estado aí. Tia

Ibelza está ótima quem me dera ter a chance de chegar aos oitenta cheia de vida, com uma

cabeça boa e de bem com o mundo. ”

143 Neta de Juca das Oitocentas - Enaura Vieira de Azevedo filha de Temístocles Vieira de Azevedo.

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Imagem 16 - Ibelza Vieira de Azevedo

Acerco: Banco de Dados Projeto Massapê

Ibelza nasceu em 31 de julho de 1905, e veio a óbito em 25 de abril de 2004, com seus

noventa e nove anos de idade. Apesar de não ter continuado seus estudos, junto com sua irmã,

Graziela tocaram a pequena Usina Oitocentas mesmo contando com muitas dificuldades e

grande concorrência.

Agliberto Vieira de Azevedo nasceu no Engenho Oitocentas de propriedade da

família, situada nas proximidades da cidade de Rosário do Catete (SE), no dia 19 de outubro

de 1906. Concluiu os estudos básicos na cidade de Maruim, indo no ano seguinte para o Rio

de Janeiro, na época Distrito Federal, onde residiam seus irmãos mais velhos: Péricles e

Temístocles o mesmo conclui o curso no ano de 1926.

Agliberto sentou praça em abril de 1927, ao entrar na Escola Militar do Rio de Janeiro,

no bairro do Realengo. Nessa ocasião havia se envolvido com as ideais socialistas.

Como os seus irmãos optaram pela carreira militar, Agliberto se encaminhou para a

Aviação do Exército. Com a criação da Aviação, pelo presidente Getúlio Dorneles Vargas, no

ano de 1929, optou pela arma de aviação, sendo transferido para o Campo dos Afonsos, no

Rio de Janeiro. Ele passou a colaborar financeiramente com o jornal comunista: A Classe

Operária.

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A linha ideológica abraçada por Agliberto, fez dele um idealista e revolucionário,

filiou-se ao Partido Comunista (PCB), que tinha por objetivo auxiliar militantes e família que

necessitassem. Em janeiro de 1930 foi declarado aspirante- a –oficial da arma da aviação.

Foi promovido a segundo tenente em julho, em outubro aderiu ao movimento armado

pela Aliança Liberal que depôs o presidente e Washington Luís, assumindo uma postura

crítica em relação a Revolução de 1930.

Como podemos perceber, apesar de um contexto de revolta e pressões políticas e

ideológicas da “Era Vargas”144, Agliberto esteve galgando posições dentro da aeronáutica e

assim continuava sendo promovido, desta vez, a primeiro tenente. Em junho do ano de 1932,

passou a trabalhar na organização do jornal comunista Asas Vermelhas.

No seguinte ano, ingressou nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Registramos ainda, que no ano de 1934, chegou ao posto de capitão quando chefe de pista na

Escola de Aviação Militar.

Sempre se envolvendo em movimentos populares, de ideais anti-imperialistas e

antilatifundiarios. Em 1935, filiou-se à Aliança Nacional Libertadora (ANL), esse movimento

reuniu representantes de diversos segmentos da sociedade brasileira que foram identificados

como opositores do presidente Getúlio Vargas. A Aliança Nacional Libertadora foi colocada

na ilegalidade pelo governo, em julho do mesmo ano. A ANL continuou com suas ações

políticas cladestinamente, sob proteção do Partido Comunista Brasileiro (PCB), esse

movimento articulou um plano de insurreição.

Capitão Agliberto Vieira de Azevedo, juntamente com Capitão Sócrates Gonçalves da

Silva integrava o comando. Na madrugada do dia 27 de novembro iniciou o levante em

duas unidades militares do Rio de Janeiro, mas, foi prontamente dominado pelas forças

comandadas pelo General Eurico Dutra do 1ª Região Militar.

144 Era Vargas é o período da história do Brasil entre 1930 e 1945, quando Getúlio Vargas governou o Brasil por

15 anos e de forma continua é compreendida como a Segunda República e a Terceira República.

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O Capitão Agliberto foi preso e perdeu a patente e o posto de Capitão,145 só deixou a

prisão em 1945, pois foi beneficiado pela anistia concedida pelo presidente Getúlio Vargas

aos presos políticos.

Registramos que neste período após a soltura, passou a integrar a Comissão Nacional

de Organização, ou seja, passou a trabalhar ativamente na organização do Partido Comunista

Brasileiro, desta vez dentro da legalidade, defendendo Luís Carlos Prestes no partido e na

política nacional dessa forma Prestes o nomeou juntamente como o Agildo Barata para o

Comitê central.

Na qualidade de membro do órgão de direção e do PCB, Agliberto preparou diversas

células do partido e participou da comissão de organização e finanças. A ação foi

intensificada devido à aproximação das eleições marcada para dezembro de 1945, e o Partido

Comunista Brasileiro também concorreria.

No ano de 1947, o Partido Comunista entra na ilegalidade após decretação mais uma

vez na Clandestinidade. Do Rio de Janeiro o Agliberto foi transferido para Recife onde

trabalhou na organização do Comitê Regional. Mais uma vez foi preso em 1950 suspeitos de

exercer atividades partidárias nas forças armadas.

Perdeu seu posto, sua patente, mas seguia em frente com a “mesma convicção

revolucionária, mais preparado, sempre o mesmo valente e combativo”146 com sua absoluta

certeza de que seriamos um pais melhor.

Preso e condenado pelo Conselho de Justiça da Aeronáutica, condenado a quatro anos

e quatro meses de prisão, e mesmo depois de ter cumprido a pena, continuou preso e foi

transferido para o DOPS do Rio de Janeiro e só foi libertado após impetração de Habeas-

corpus e seu processo só foi arquivado no ano de 1958.

De volta à liberdade, o partido Comunista o envia para o Paraná, onde passa a ser

colaborador do jornal Tribuna do Povo e mais dois outros periódicos: Novos Rumos e Terra

Livre. Saiu candidato a deputado estadual pelo Paraná no ano de 1962, mas não foi eleito.

145 Preso perdeu o posto e a patente de Capitão pelo Decreto-Lei nº558 que foi homologado em 31 de dezembro

de 1935, foi julgado pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN), recebendo a maior pena entre os réus

envolvidos. 27 anos e seis meses de prisão. 146 Jornal Imprensa Popular 19 de julho de 1952 p. 2.

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Seguia os movimentos político militar pelo Brasil. No entanto, foi em março de 1964

que os direitos políticos foram casados mediante o Ato Institucional número 1 foi decretado

em 9 de abril isso depois do Presidente João Goulart se deposto. Agliberto foi detido para

interrogatório e permaneceu mais uma vez preso até 1966. Após liberto, entrou

cladestinamente na Argentina, onde em contato com o Partido Comunista da Argentina,

passou a morar com militantes ligados ao Sindicato de construção civil, onde passou a

trabalhar como operário nas construções em Buenos Aires.

Esse revolucionário viajou em 1969 para vários países após estabelecer contato com o

partido Comunista da França, e do PCB, em nome do comitê central trabalhou na organização

dos exilados políticos e em jornais comunistas. Agliberto participou de diversas reuniões de

partidos comunista da Europa. Foi enviado para no ano de 1973 para Praga onde trabalhou em

uma Revista Internacional. E nesse mesmo ano participou em Moscou das reuniões do Comitê

central do PCB, com objetivo de reorganizar e confirmar sua posição Partidária.

Enquanto isso, aqui no Brasil, em agosto de 1979 foi decretada a anistia aos presos

políticos, contudo, Agliberto só regressou ao Brasil em 1980, e em 1989 foi definitivamente

anistiado, promovido ao posto de Coronel-aviador da reserva. Com o falecimento de Luís

Carlos Prestes em março de 1990, ele afastou-se das atividades políticos partidárias.

Agliberto escolheu uma vida combativa, revolucionária com ideias do regime

comunista, por isso, teve uma carreira militar interrompida, prejudicada mediante as inúmeras

prisões147 a que fora submetido na clandestinidade e exilio que fora obrigado a passar.

Em carta de 2 de fevereiro de 1980, Agliberto declara o desejo de poder reencontrar

as irmãs nessa inesquecível oitocentas que vocês vêm mantendo como tradição unitária do

nosso núcleo familiar, renovando no mínimo de conforto e ampliação das possibilidades,

como unidade econômica, capaz de sobreviver enfrentando a desenfreada competição com os

grandes proprietários. Essa palavra nos dá a entender que as irmãs Ibelza, Ligia e Graziela

continuavam mesmo dom dificuldades mantendo o funcionamento da usina é uma hipótese

apesar de nos registros afirmarem que esteve em funcionamento até 1960.

147 O jornal correio da noite de 27 de novembro de 1935. Jornal a voz operária Rio de Janeiro, 21 de dezembro

de 1951, p.4. A voz operária Rio de Janeiro 31 de março de 1935.

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Após anistiado, pôde viver uma vida em paz, seus últimos anos com anistia foi

devolvida não somente sua vida, sua liberdade de ir e vir mais também foram promovidos, na

inatividade, ao posto de Brigadeiro, o que resultou na melhoria de sua situação econômica.

Agliberto era casado com Maria da Glória Oliveira de Moura Castro e da união

nasceu seu único filho, a quem deu o nome de Gennysson Castro Azevedo, em homenagem

ao seu irmão que faleceu ainda muito jovem.

Imagem 17 - Capitão Agliberto Vieira de Azevedo –

Esposa Maria da Glória Oliveira de Moura Castro

Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê

Seu filho Gennysson, casou com Vilma Travassos Azevedo e desse enlace, nasceu

Luiz Travassos Azevedo. Seu neto Luiz, também se casou com Vera Lucia M. Rocha Filha e

da união nasceu o Antônio Rocha Azevedo. Agliberto viveu seus últimos anos com sua

família, particularmente das suas irmãs, que nunca lhe negaram apoio em seus momentos

difíceis.

Por isso, ao receber o montepio148, considerou suas irmãs suas dependentes e assim,

as mesmas passaram a fazer jus, após o falecimento dele aos 90 anos de idade, no Rio de

Janeiro, em 14 de dezembro de 1995, a pensão por ele deixada uma vez que seu único filho já

era homem.

148 É uma espécie de pensão destinada a prover o sustento de um beneficiário.

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A Senhora Gulnar confirmou em depoimento que seu irmão realmente era um

revolucionário e não passava de um idealista. Também declarou essas informações no o

depoimento cedido ao Documentário Massapê. “Meu pai apoiava, era muito liberal ele

apoiava as ideias do filho”.

Ele morava no Sul, teve uma vida muito atropelada, foi preso várias vezes e tudo por

causa de suas ideais em relação ao comunismo, pois foi filiado ao Partido Comunista

Brasileiro e por isso passou por todas essas situações que foram descritas.

Imagem 18 - Oswaldina Vieira de Azevedo- Enfermeira

Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê

Oswaldina Vieira de Azevedo nasceu Osvaldina em 21 de agosto de 1910, em10 de

fevereiro do ano de 2010, comemorou sua data natalícia do seu centenário em uma linda

reunião familiar, que contou com as presenças das irmãs, Graziela, Gilca, Gulnar, Nilza e a

maioria dos seus Sobrinhos e primos e um número generoso de amigos. Até a data citada

acima, não havia ocorrido entre os Vieira de Azevedo. Décadas depois outras centenárias

também apareceram com o passar dos anos nesse caso temos a Gilca que hoje conta com 101

anos de idade e a própria Graziela com 103 anos completos.

Ainda sobre Osvaldina, formou-se em Enfermagem e exerceu sua profissão na cidade

do Rio de Janeiro. Retornou a sua terra natal ao se aposentar vindo residir com suas irmãs

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Gulnar e Gilca em Aracaju. Como já foram mencionados os filhos e as filhas que quiseram

estudar fora dos termos de Sergipe, Osvaldina foi uma das que souberam sonhar e buscar

novos horizontes para vida.

Ela foi casada com Moacyr Mota Pereira, dessa união não teve filho, durante as

comemorações de seu aniversário, participou de todo o ritual da Santa Missa em ações de

graças seguida dos cumprimentos e almoço. Ela conversava com todos apesar de sua idade

avançada estava lucida. Segundo depoimento de sua irmã Gulnar, ela veio a óbito aos 103

anos de idade. Ainda hoje as filhas de Juca as remanescentes têm essa tradição de realizar

almoço mediante data natalícia uma das outras e reunir a família os Sobrinhos e primos e

amigos.

Genisson Vieira de Azevedo149 nasceu no dia 2 de junho de 1908 e faleceu em 7 de

abril de 1933, com vinte e quatro anos de idade. Conforme depoimento de sua Irmã Gulnar

ele saiu das Oitocentas após fazer os estudos primários e estudou na cidade de Ouro Preto em

Minas Gerais onde deu início a faculdade de engenharia que não chegou a concluir devido a

um agravo na saúde.

Dessa forma teve que retorna para cidade natal para cuidar-se, contudo a enfermidade

agravou-se de tal maneira mais não houve jeito ele veio óbito ainda prematuramente como já

mencionamos jovem de modo que não teve oportunidade de ajudar os pais na administração

da empresa.

Lygia Vieira de Azevedo nasceu em 24 de março no ano de 1912 e faleceu em 15 de

dezembro de 1964, aos cinquenta e dois anos de idade. Estudou em Maruim as primeiras

letras e depois seguiu a carreira da docência, residiu nas Oitocentas, onde além de cumprir

com as tarefas domésticas auxiliando sua mãe, também ensinava em uma escola que foi

fundada e sustentada pelo seu pai. A escola fornecia todo o material escolar e era restrita aos

filhos dos trabalhadores da propriedade.

149 Não encontramos nos registros e acervo da família nenhuma foto que o representasse.

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Imagem 19 - Ibelza Vieira de Azevedo – Auxiliou na administração do Engenho

Lygia Vieira de Azevedo- Foi Professora

Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê

Essa escola recebeu o nome em homenagem ao filho Agliberto Azevedo, por ele ter

sido um sonhador, idealizador e por estar distante. Devido às lutas e ideias esteve sempre

presente nas memórias e lembranças de cada membro dessa família que o apoiou em seus

ideais. Lygia era solteira e por ter falecido prematuramente, não pode levar até o fim seus

objetivos.

Graziela Vieira de Azevedo nasceu em 7 de setembro do ano de 1915. Estudou as

primeiras letras em Maruim e depois foi para o Rio de Janeiro, mas não se adaptou e retornou

para as Oitocentas. Não deu continuidade em seus estudos como seus irmãos. Sendo assim,

passou a auxiliar seus pais na administração geral das Oitocentas com sua irmã Ibelza.

Imagem 20 - Graziela Vieira de Azevedo –

Uma das filhas que optou Administra o Oitocentas

Acervo: Banco de Dados Massapê

Foto: Data 32/06/1950

Comemoração as bodas de ouro de seus pais

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Seus irmãos acharam por bem deixar a propriedade para as duas irmãs que sempre se

dedicaram aos pais e aquele local de memórias lutas e vitórias de maneira que quando foi

feito o inventário deixaram como herança para suas irmãs Graziela e Ibelza e com falecimento

de uma a outra tornaria proprietária.

Nesse caso Graziela foi a comtemplada e tornou-se proprietária, mas sendo de idade

avançada e sem poder se locomover, os cuidados, manutenção e administração encontra com

um Subrinho Nelson Tavares Azevedo de Brito filho da sua irmã Nilza. Ele auxilia a parte

burocrática, cabendo a Gulnar, irmã da proprietária e procuradora, o cuidado com a

conservação do patrimônio físico, de sorte que a casa grande apresenta bom estado de

conservação: os trabalhadores abrem a casa grande para limpar e aquecer e com esses e outros

cuidados aquele lugar de memória tem perpassado gerações.

Graziela com idade avançada passou a residir em Aracaju com as demais irmãs e

sempre que podiam iam visitar e reunia a família para aquele almoço de confraternização e

relembrar os costumes e vida nas Oitocentas mais ultimamente apenas recebe informações

sobre a propriedade por parte da irmã, da governanta e pessoa de confiança da senhora Gulnar

a senhora Ivanice Oliveira150 já está com a família a vinte e oito anos, sendo que o pai da

senhora Ivanice prestou serviços de carpintaria nas Oitocentas, também conheceu e conviveu

de perto com seu Juca.

Mais ao final do ano de 2009, Graziela chegou a ser hospitalizada e seu problema de

saúde a obrigou interna-se em hospital e ali ficou por mais de onze meses, tendo recebido alta

em 20 de agosto de 2010, vésperas do centenário de sua irmã Osvaldina que já mencionamos.

Sendo assim recebida por todos com muita alegria e por ter se restabelecido, assistindo a

Santa Missa e todos os outros atos da solenidade.

Hoje se encontra aos 103 anos de idade impossibitada de ir a sua propriedade mais

sendo bem tratada, cuidada pela sua irmã e cuidadores: enfermeiros, secretária e uma equipe

médica a contento, de forma que tem sido longeva e deixa uma história de cuidado por aquele

lugar de tantas histórias e memórias para essa grande família.

As memórias pessoais que temos de Graziela são poucas, não foi possível colher seu

depoimento, pois a mesma tem dificuldades para falar, mas o que temos é o bastante para

150 Maria Ivanice de Oliveira. Governanta da casa e secretária pessoal de dona Gulnar Vieira de Azevedo.

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saber que aqueles locais significados afetivos e memoráveis e conseguiu resistir ao tempo

graças aos esforços e dedicação, pois sempre tiveram unidos como grande família e maior

legado sua história e memória.

É conhecido que ao longo dos anos na vida das famílias certos indivíduos se destacam

por preservar objetos, coisas simbólicas que trazem lembranças, recordações de viveu para as

Oitocentas e fez o que podia para manter o engenho em pleno funcionamento mais a crise e

com o falecimento do seu pai o engenho declinou com o passar dos anos seguintes funcionou

até 1960 conforme dados do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico)151

Os objetos são representativos demostram uma relação de pertencimento, memória e

identidade da família Vieira Azevedo na pessoa da senhora Graziella Vieira de Azevedo pós-

morte de seus genitores passou a ser a legitima proprietária.

Memórias de Graziela sobre alguns momentos nas Oitocentas como estava se sentindo

naquele momento ao descrever a carta para o seu Subrinho Sérgio. São momentos grandiosos

ao descrever a paisagem, o campo, o engenho.

Segue abaixo, a carta pessoal o dar-a ver de Graziela Vieira de Azevedo

Oitocentas 23 de abril de 1961.

“Hoje está chovendo. Está semana é o terceiro dia que chove. Tudo está

verde, de um verde bonito, verde de tonalidades diferentes fazendo

contrastes com os bois pastando. Oitocentas apresenta uma paisagem bonita,

mais uma beleza morta sem vida. Tudo é triste como os dias de chuva e as

nossas almas.

Não adiante fazer o possível e impossível para levantar Oitocentas152 pois

falta nela a alma que é o povo. Todos fogem aqui e não sabemos o que fazer

para arranjar algumas famílias.

No momento só temos nós e a família do vaqueiro. Felizmente é grande está

é numerosa. Até Enedina alugou casa em Rosário e faz oito dias que se

mudou. Diz ela que é a precisão obrigou mais acho que deu um passo errado

alugar casa quando a vida está tão cara. Estamos esperando Ligia dia 30, esta

semana vamos arrumar a casa para recebe-la lavar, limpar os moveis e

arrumar nos seus lugares pois há dois meses que está tudo fora do lugar.

Estamos fazendo uma limpeza na casa e só ontem nos demos por

terminada”.153

151 Arquivo do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional) – O I inventário de

conhecimento de Patrimônio Cultural da cana de açúcar na Região do Baixo Cotinguiba/SE. Volume VII/junho

de 2010. 152 Nesse período Oitocentas já estava dando sinais de declínio passando pelo processo de transição deixando de

ser usina e passado a engenho de fogo morto. 153 Carta pessoal o dar-a ver de Graziela Vieira de Azevedo para seu sobrinho Sérgio.

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Imagem 21 - Gilca Vieira de Azevedo – Funcionária Federal

Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê

Nasceu Gilca Vieira de Azevedo no dia 17 de setembro do ano de 1917. Estudou as

primeiras letras em Maruim e conclui no Rio de Janeiro os estudos secundários e cursos na

área administrativa o que a fez ingressar mediante concursos na Empresa de Correios e

Telégrafos - ECT e, por causa da transformação desta referida empresa em sociedade mista,

teve que optar entre ela e outro órgão federal.

Mediante essa situação escolheu ficar com a Procuradoria Da Fazenda, onde ingressou

após concurso realizado em Salvador, e por onde veio se aposentar.

Apesar de pequena surdez ela apresenta um está de lucidez, embora fisicamente esteja

um pouco debilitada por questões de agravos em sua saúde e com a chegada de seu

centenário.

Atualmente, ela vive aos cuidados de sua irmã Gulnar juntamente com Graziela em

Aracaju na treze de julho, acompanhada de cuidados, companheirismo, laços de amor

fraternal.

Walter Vieira de Azevedo nasceu em Rosário do Catete – SE, em 31 de outubro de

1920, fez o curso de Medicina pela UNI-RIO em 1945, especialização em Radiologia, tendo

sido professor desta especialidade, 4ª Cadeira de Clínica médica da Universidade Federal do

Rio de Janeiro.

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Na edição do jornal Rosário154 é editado que o jovem Walter Vai estudar aos 13 anos

de idade em colégio no Rio de Janeiro confirmando que os filhos de Juca também tiveram

educação diferenciada.

De acordo com o Jornal o Rosário, edição número 55.p.3 de 1936 traz uma nota

específica. “Para o Rio de Janeiro, onde estuda, seguiu no dia 18 o jovem Walter Vieira de

Azevedo, nosso distinto colaborador e filho do Sr. José Paes de Azevedo Sá nosso ilustre

conterrâneo e ledor. Ao Walter, que se despediu do diretor155 desta folha, boa voagem e

prosperidade nos seus estudos”.

Walter casou-se com Creuza Dantas da Silva, em 18 de dezembro de 1948. Ela,

formada em 1948 pela universidade Federal Fluminense, estado do Rio de Janeiro como

médica pediatra. Desse enlace nasceu Carlos, Luiz, Creuza, Cecília da Silva Azevedo.

Imagem 22 - Walter Vieira de Azevedo – Médico e a esposa Creuza Dantas da Silva

Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê

O filho Carlos da Silva Azevedo nasceu no dia 20 de janeiro de 1951. Formado como

médico Radiologista pela faculdade de Medicina de Petrópolis. Fez residência médica em Rio

de Janeiro pela Universidade do Estado do Rio. Ocupou o cargo de Coronel- médico da Força

Aérea Brasileira e está em atividade no hospital da FAB, no Galeão. Foi Casado com Maria

154 Jornal O Rosário, ano de 1933 Edição nº 12, p.3. 155 Jornal O Rosário de 1936, Edição nº55, p. 3. Diretor José Eduardo de Oliveira

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Cristina Maioli, medica hematologista da UERJ. Desse casamento nasceram Thiago e

Verônica.

Thiago Maioli Azevedo é engenheiro Em Desenho Industrial pela Universidade

Federal do Rio de Janeiro. Foi casado com Thaís Ronaz, também engenheira e não tiveram

filhos.

Verônica Maioli Azevedo, Bióloga formada pela Universidade do Estado do Rio de

Janeiro e doutora em Biologia.

Nasceu Luiz da Silva Azevedo no dia 22 de dezembro de 1954, engenheiro pela

UEJR, exercendo suas funções na prefeitura do Rio do Janeiro. Divorciado e sem filhos.

Creuza da Silva Azevedo nasceu em 10 de maio de 1959, Psicóloga formada pela

Universidade do Rio de Janeiro, professora da Fundação Oswaldo Cruz. Casou no primeiro

consorcio com Paulo Melo e o segundo consórcio com César Victor Duarte desta união

tiveram três filhas: Laura Azevedo Duarte estudante em Universidade do Rio de Janeiro curso

de Biofísica. Outra filha é a Luiza Azevedo Duarte estudante secundarista. Por último temos

a Paula Azevedo Duarte, formada pela universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro.

Cecília da Silva Azevedo nasceu, no dia 4 de dezembro do ano de 1960, formou-se em

história pela Universidade Federal do Rio Janeiro. Fez pós doutorando156 em relações

internacionais. É professora da Universidade Federal Fluminense. Casada com Ricardo Luz

C. Beltrão, engenheiro com quem teve dois filhos André Azevedo Beltrão, advogado e Ana

Azevedo Beltrão formada em Medicina.

Esses acima citados são os filhos e netos de Walter Vieira de Azevedo o mesmo foi

médico e professor, mas, um trágico acidente lhe ceifasse a vida em 2 de março de 1977, após

acidente de automóvel em viagem de férias, á Guarapari- ES.

Gulnar Vieira de Azevedo nasceu na fazenda oitocentas em 20 de fevereiro do ano

de 1924, estudou as primeiras letras no próprio colégio já mencionado Escola Agliberto

Azevedo nos termos do próprio Engenho Oitocentas sendo sua professora a sua irmã Lygia

Vieira de Azevedo e depois foi enviada ao internado Nossa senhora das Graças, em Propriá

onde ficou pouco tempo.

156 DANTAS, Sylvio Melo. Minha Família-Árvore genealógica comentada. 2013, p.93.

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Depois veio estudar em Aracaju na escola Tobias Barreto. Fez o curso de

contabilidade. A mesma concluiu o curso superior e mediante concurso ingressou na Receita

Federal, por aonde veio aposentar como auditora.

Assim nos declarou ao ser questionada quanto ao passado do Engenho Oitocentas,

“vejo o Oitocentas como um lugar pleno de lembranças, lugar de memórias”157 e

acrescentamos dizendo um espaço de recordação com muitas histórias e memórias a ser

contadas.

As memórias humanas também são importantes no viés da história, auxiliando na

compreensão do passado, os acontecimentos do engenho oitocentas estão presentes nas

lembranças daqueles que viveram neste espaço de recordação.

As memórias da senhora Gulnar são importantes para compreensão sobre as

oitocentas, seus genitores José Paes de Azevedo Sá e dona Cecília Vieira de Melo, o cotidiano

da numerosa família, em seu depoimento que ocorreu no dia 16 de novembro de 2017, dia 7

de setembro de 2018 em sua residência cita Avenida Beira Mar Edifício Fenando Sampaio.

Imagem 23 - Gulnar Vieira de Azevedo

Banco de Dados do Massapê

A Senhora Gulnar citou com muita serenidade e clareza os nomes de seus irmãos por

ordem cronológica de nascimento e o contexto em que cada um vivenciou ao longo da

trajetória de vida, por meio desse depoimentos fizemos uma longa viagem no passado através

da leitura das cartas que tivemos oportunidade ler, para que ela confirmasse, a veracidade

157 Depoimento de Gulnar Vieira de Azevedo.

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daquela escrita e se a assinatura em cada carta de fato era dos seus irmãos, o que muito nos

alegrou positivamente, pois estávamos diante de fontes primaria, concreta e dessa forma

comprovando a veracidade e historicidade dos fatos.

Em depoimento perguntamos o nome, idade e que falasse sobre o pai dela, um pouco

do que foi o engenho oitentas em seu olhar de filha e assim descreveu suas memórias.

“Meu nome é Gulnar filha de Juca das Oitocentas, tenho noventa e quatro

anos, eu sei que meu pai era um homem culto pra época, com a cabeça

aberta pra época era um homem avançado pra época. Ele estudou em São

Paulo depois foi trabalhar na cidade de Campinas como telegrafista, ele teve

que se atualizar, pois a cultura de Sergipe era muito diferente da cultura do

Sul. Minha Mae Cecília Vieira de Azevedo tinha uma característica singular

era retraída, paciente, seu aspecto físico era demonstrado de forma que

aparentava ter não ter uma vida muito fácil, magrinha e sempre

observadora”.

A senhora Gulnar nos descreve que após alguns anos a avó Ernestina Teles de

Menezes mandou buscar o filho, pois o meu avô Manoel Paes de Azevedo estava muito

doente e ele deveria tocar a propriedade oitocentas e como um bom filho e obediente retornou

para Sergipe para conduzir a propriedade dos pais.

Com o falecimento dos seus genitores, ele comprou as partes dos irmãos, comprou

mais terras, são as que temos até hoje, cerca de 450 hectares158 de terras, é uma pequena

propriedade se comparando com os grandes latifundiários da época.

De acordo com a senhora Gulnar seu pai era de poucos recursos, ele tinha um irmão

que era oficial do exército e encaminhou os filhos de Juca para o colégio militar, Péricles e

Temístocles seguiram no exército e Agliberto escolheu a aeronáutica.

Em relação à religiosidade da família a depoente expressou-se:

“Meu pai ele dizia que era ateu mais não era ateu não, era como os demais

homens da época ia para a igreja as famílias tinham tribuna as mulheres na

frente rezando e os homens ficavam na porta conversando com meu pai e

outros fazendeiros da família ficavam conversando, não tinham assim essa

religiosidade não, ele também acreditava mais não era ateu, só não era de

estar rezando”.

158 O Engenho Oitocentas sempre foi pequeno suas terras tem atualmente 450 hectares, sendo que um hectare

equivalente a 10.000 000 000 mm².

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Algo interessante que verificamos nos engenhos da região do Cotinguiba - SE, que em

alguns engenhos existia próximo a casa grande uma Capela, quando não, um quarto de Santo

ou oratório. In locos, ratificamos que no Caraíbas, Pedras, Catete Velho possuía capela, outros

existia o quarto de Santo nesse caso os Engenhos Pati, Engenho Jordão, Engenho Santa

Bárbara.

O Engenho Oitocentas havia um oratório com diversos santos inclusive até hoje existe

um oratório que antes ficava na varanda da casa grande, hoje uma réplica do oratório está no

quarto que foi dos antigos donos, pois os santos originais maiores foram doados para a igreja

de Maroim, todavia não encontramos nenhum documento comprovando o termo de doação e

os santos pequenos estão no apartamento onde residem, essas informações provenientes das

memórias da filha Gulnar.

Imagem 24 - Oratória do Engenho Oitocentas

Fotografia: Josineide Luciano Almeida

Acima, um Oratório representando as imagens do Crucifixo de oratório, São João

Batista, Santa Luzia, Nossa Senhora do bom Parto, Imaculada Conceição, São José, Santo

Antônio, Santa Rita, Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora de Lourdes. Esses oragos

foram identificados pelos padres Diogo Ávila, Padre Fabrício Santos Lopes.

Ainda conforme a depoente Gulnar, no engenho existiam muitas famílias. Os

moradores do engenho eram trabalhadores livres, na época de Juca das Oitocentas, nunca

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houve escravos, a única que conheci, quando papai nasceu colocou-o em seus braços e foi

como uma ama de leite se chamava Loureça, era uma negra bonita, alta, a mãe preta e o

considerava papai como sinhozinho. Essa negra nasceu nos tempos da Lei do ventre Livre,

aos longos dos anos ficou na propriedade do meu avô159 auxiliando minha avó Ernestina nos

afazeres da casa e cuidando do sinhozinho Juca. A mesma nunca foi tida como escreva,

quando meus avós faleceram meu pai cuidou dela, fez uma casa dentro dos termos da

propriedade para ela.

Essa foi a única negra que conheci nos termos do engenho oitocentas, não era escrava

pois já nascera livre, quando eu nasci ela já era bem idosa, além de Lourença também

tínhamos outra pessoa que foi agregada a nossa família a Enedina Pereira160.

Havia outros trabalhadores também o carreiro mor, na época não existia carro então

eram conduzidos tanto as canas do campo para moenda na usina, como conduzia as famílias

até Rosário do Catete em tempos de festas de Nossa Senhora do Rosário. O carreiro mor

conduzia o carro de boi nas oitocentas, tínhamos o Senhor Guilhermino, e além dele outros

trabalhadores como Antônio José, e o Elói eram poucos, pois o engenho era pequeno.

Quanto aos trabalhadores eram livres e recebiam baseados na moeda corrente e nas

diárias daquele contexto, que não recordo bem se eram réis, estes faziam os serviços no

campo, usina e na lida da vida cotidiana do engenho. “Quando papai faleceu tudo mudou, foi

difícil tocar o engenho.

Graziela e Ibelza tocaram o engenho até quando puderam depois o pessoal que

residiam na propriedade foi indo embora aos poucos, para outros locais. Então a crise,

dificuldades de manter a usina e enfrentar a concorrência com os grandes produtores de

maneira que Oitocentas entrou em declínio. Em 1960, último ano de funcionamento tornando-

se assim engenho de fogo morto.

Graziela e Ibelza ficaram fornecendo a cana para os Engenhos Caraíbas e

principalmente à Santa Bárbara161, que eram parentes próximos até toda a safra e entre safra

159 Manoel Paes de Azevedo 160 Enedina Pereira trabalhou auxiliando a mãe de seu Juca, dona Ernestina Teles de Menezes nos afazeres

domésticos e quando os donos da propriedade faleceram ela permaneceu trabalhando para dona Cecília aos

cuidados do seu Juca das Oitocentas. 161 Nesse período o Engenho Santa Bárbara um dos engenhos mais opulentos da região do Cotinguiba pertencia

aos parentes da família Vieira de Azevedo eram primos era do tio por parte materna seu Salústio Vieira de Melo

era irmão do Senhor José Sotero Vieira de Melo, pai de dona Cecília esposa de Juca das Oitocentas.

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aos longos dos anos terminarem. Assim ficaram cuidando apenas da criação de gado e da

propriedade como um todo.

Hoje as terras da propriedade estão arrendadas para criação de gado, somente as terras,

a casa grande não está disponível para arrendatário, a casa está à disposição da família Vieira

de Azevedo, tem um casal de moradores que ficam em outra casa da propriedade e prestam

serviços na Casa Grande: abrir, limpar, deixar portas e janelas abertas em dias de sol, para que

a casa seja aquecida e assim com esses e outros cuidados continuar sendo preservada.

Imagem 25 - Nilza Vieira de Azevedo – Odontóloga- Empresária

Acervo: Banco de Dados do Projeto Massapê

Nilza Vieira de Azevedo é a filha caçula da família, nasceu em Rosário do Catete

Sergipe no dia 24 de maio de 1929. Após os primeiros estudos em Sergipe, em 1947 aos

dezoitos anos, seguiu com seu irmão médico Walter Vieira de Azevedo para o Rio de Janeiro,

onde prestou vestibular e iniciou em 1948 o curso de odontologia na universidade Federal do

Rio de Janeiro. Seu irmão mais velho que era militar conseguiu um trabalho que ela pudesse

conciliar os estudos na secretaria do Cube militar.

Nilza casou-se no dia 30 de junho de 1953 com José Tavares de Brito, passando a

chamar-se Nilza de Azevedo Brito. Ele era de nacionalidade Portuguesa e radicou-se no

Brasil. Quando conheceu a futura esposa era vendedor de firma. Após o casamento os dois

foram residir em Vila Velha, no Espirito Santo.

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Como Nilza havia deixado à profissão de odontóloga e precisava aumentar a renda da

família, a fundadora começou a fazer sapatinhos artesanais para nenéns, na garagem de sua

residência. A procura pelos sapatos foi aumentando e assim resolveram contratar assistentes

para auxiliar nas demandas solicitadas.

Assim nasceu a Pimpolho162, o José Tavares de Brito deixou sua antiga profissão e

dedicou-se na administração da nova empresa, e assim galgou um grande futuro como

empresário.

A empresa cresceu bastante, rapidamente, seus produtos são vendidos em quase todos

os estados do Brasil e as vendas atingem países da América do Norte, América do Sul,

Central, África, Oriente Médio e Europa.

José e Nilza ao viajarem pelo mundo, particularmente aos países asiáticos, eles

recolhiam ideias para a fabricação de novos sapatinhos. A história da Pimpolho começou e foi

fundada em 5 de fevereiro ano de 1962, José e Nilza decidiram concretizar seu sonho. E na

garagem de sua própria casa instalou a fábrica de sapatos infantis artesanais e transformaram

o sonho em realidade.

Esse foi o primeiro passo para a concretização do que veio a ser uma das principais

indústrias de calçados no segmento infantil.

Em relação à continuidade da empresa está sendo administrada pela terceira geração

da família vejamos:

“Os quatros filhos do casal, que cresceram com a Pimpolho, passaram agora

o bastão para a terceira geração da família. Dois netos de Dona Nilza e do

Sr. José, Já falecido, com um dos filhos do casal assumem a direção das

quatro empresas do grupo’163.

Realmente os últimos dias de José, esposo de Nilza, foram difíceis e de muito

sofrimento para a família devido ao estado de saúde dele ter se agravado. Com a finalidade de

162 Pimpolho: assim conta dona Nilza _ Lia muitos livros para meus filhos dormirem e um deles era a fábula

dos três porquinhos e na edição que ela possuía em casa, os três porquinhos eram chamados de pimpolhos, como

se eles fossem crianças. Então quando montamos a fábrica lembrei –me do nome Pimpolho- Depois verifiquei no

dicionário para ter a certeza e o nome Pimpolho significa - galho de Videira e criança pequena. Então assim

surgiu a ideia e quis colocar Pimpolho que é o nome até hoje – Memórias de Nilza Azevedo de Brito. 163https://couromoda.com/noticias/ler/pimpolho-comemora-50-anos-com-homenagem-a-vovo-nilza/ acessado

em 05/02/2019 as 12; 28.

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continuar o tratamento em São Paulo adquiriram um apartamento naquela cidade, ali passou a

residir.

Sua Esposa Nilza e os filhos se revezavam em fazer companhia, também prestava

assistência à empresa. José viveu seus últimos dias internando no hospital Albert Einstein, em

São Paulo onde faleceu no dia 16 de julho de 1995 aos 71 anos de idade. Nilza e seus filhos,

com êxito deram continuidade a um sonho que o casal tanto sonhara e conquistaram juntos.

O filho Antônio Tavares Azevedo de Brito, casado com Maria Emília Tanure da Silva

com quem teve dois filhos Rodrigo e Ricardo Silva Tavares de Brito.

Cecília Tavares Azevedo de Brito recebeu seu nome homenageando sua avó materna é

casada com Fernando Paixão Monteiro e desse enlace nasceram Flavia e Fernando de Brito

monteiro.

Nelson Tavares de Brito, casado com Lícia Lopes de Brito e dessa união nasceram

duas filhas Gabriela e Marina Lopes de Brito.

José Tavares Azevedo de Brito, desde pequeno é chamado de Juca em homenagem a

seu avô Juca das Oitocentas; casado com Cristina Mariani, dessa união nasceram, José

Henrique e João Victor Mariani de Brito.

Os filhos e netos de Nilza têm grande gratidão, ao seu lado vivem momentos

inesquecíveis, dias de imensas felicidades e anos de próspero aprendizado, através de sábios

conselhos e de sua história de vida sem esquecer suas origens e memórias.

Os relatos e as memórias são muitos desses herdeiros culturais de José Paes de

Azevedo Sá, carregados de emoções, alegrias e saudades. Pela quantidade dos herdeiros, é

impossível pontuar cada um e registrar todos nessas memórias.

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Imagem 26 - Juca das Oitocentas, Cecília sua esposa e suas filhas.

Acervo: Banco de Dados Projeto Massapê

Foto: Data de 25 de dezembro de 1951

De acordo com a depoente Gulnar Vieira de Azevedo o dia 25 de dezembro de 1951

antes que seu Juca vir a óbito estava todos reunidos. A filha caçula havia chegado do Rio de

Janeiro formada em Odontologia com muitas novidades, alegrias e rodeado pelas filhas Ibelza

Ligia, Graziela, Gilca, Gulnar e Nilza Vieira de Azevedo e a da senhora Cecília Vieira de

Azevedo sua esposa. Sentado à mesa da sala pronunciou as seguintes palavras: Minha missão

está cumprida, minha filha mais nova está formada, minha missão está cumprida e faleceu

subitamente era um dia de natal.

Essas são um dos momentos mais melancólicos da trajetória da família Veira de

Azevedo e assim descreveu em depoimento senhora Gulnar com muita emoção os últimos

momentos com seu pai, foram testemunhas desses momentos tristes. Passei dias acordada sem

dormir estávamos muito abatidas. A partir de então o natal sempre é lembrado como o dia em

que perdemos o senhor das Oitocentas, chefe de família, amigo.

“As Terras das Oitocentas Cobriram-se de Luto”, assim publicou o Sergipe Jornal na

segunda ferira dia 31 de dezembro de 1951:

“Ecoou dolorosamente nesta capital, a notícia do falecimento do Sr.

José Paes de Azevedo Sá, proprietário da uzina “Oitocentas” situada

no município de Rosário do Catete.

Largamente estimado, cidadão probo e trabalhador, o Sr. José Paes de

Azevedo Sá era elemento de grande projeção da indústria açucareira

sergipana.

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Registramos que no cemitério de Rosário do Catete repousam os

restos mortais do boníssimo amigo Jose Paes de Azevedo Sá”164.

Mas na casa grande, nos lares dos trabalhadores ouviam-se soluços e lágrimas naquele

momento o sentimento que se derramava nostalgia, tristeza, pela perda do Patriarca das

Oitocentas ficou a melancolia reinante e patente sobre aquele espaço de recordação.

“O senhor José Paes de Azevedo Sá, casado com a exma. Senhora Cecília

Vieira Azevedo, o pranteado extinto que contava com 75 anos de idade,

deixa os seguintes filhos: Ttenente Coronel Péricles Vieira de Azevedo,

Ttenente Coronel Temístocles Vieira de Azevedo, Capitão Agliberto Vieira

de Azevedo, Dr. Walter Vieira de Azevedo, e as senhoritas Ibelza,

Oswaldina, Ligia, Graziela, Gilca, Gulnar e Nilza Vieira de Azevedo. O

senhor José Paes de Azevedo Sá deixa 10 netos.

A Exma. Viúva dona Cecília Vieira, de Azevedo, filhos, netos ao Sr. Heitor

Paes de Azevedo e demais parentes do saudoso cidadão José Paes de

Azevedo Sá. As sinceras condolências do Sergipe Jornal”165.

Quem esteve a sua volta poderia ficar certo que sempre que precisasse, iria receber sua

palavra de estimulo, seus preciosos conselhos, a paciência e a compreensão fizeram dele um

patrão exemplar e um pai amigo assim era José Paes de Azevedo Sá.

As Oitocentas perpassaram gerações sobrevive nas memórias de filhos, netos, bisnetos

que até hoje lembram e cuidam desse lugar de memória, desse espaço de recordação como

representação de um passado sempre presente nos corações e mentes de quem viveu e quem

apenas ouviu sobres às histórias e as memórias das Oitocentas e da família dos Azevedo.

Portanto em uma meditação acerca do esquecimento, enquadramos a perspectiva de

interpretação da condição histórica dos seres humanos para além da memória, a história e o

esquecimento sempre andam juntos pois com o tempo podemos escolher o que lembrar o que

guardar ou até mesmo o que silenciar em relação a nossas lembranças e memórias.166

164 Sergipe Jornal, 31 de dezembro de 1952, p.3. 165 Sergipe Jornal, 31 de dezembro de 1952, p.3. 166RICCEUR, Paul, 1913. A memória, a história, o esquecimento / Paul Ricceur – tradução: Alain François –

Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2017.

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CONSIDERAÇÕES

As descrições e impressões aqui expostas tiveram como mote a necessidade de refletir

sobre a relação entre os lugares, as coisas e as pessoas numa perspectiva memorialística, mas

também histórica, tendo como esteio discursivo a memória familiar em torno de um lugar de

memória, notadamente o Engenho Oitocentas, em Rosário do Catete.

No texto introdutório, procuramos demarcar os limites teóricos, espaciais e

metodológicos desta pesquisa. Ao logo do desenvolvimento dividimos em três capítulos, com

os quais norteamos nosso estudo.

Ao longo dos capítulos fomos traçando o caminho da pesquisa, inicialmente, nos

propondo a fazer um apanhando da revisão da historiografia sergipana a partir de um diálogo

com esta historiografia e pontuando, retrospectivamente um corpo significativo de autores e

obras que trataram sobre a cultura açucareira, seu contexto sócio político e econômico.

Em seguida, fizemos um apanhado histórico do município de Rosário do Catete, sua

origem, emancipação política, suas festividades religiosas, além de desenvolver acerca da

distribuição dos principais engenhos em seus territórios a exemplo: Paty, Caraíbas, Jurema,

Serra Negra, Santa Bárbara e o Engenho Oitocentas. Seu passado e presente como um lugar

de memória, um espaço de recordações que foi representada com imagens panorâmicas do

conjunto do engenho a casa grande e usina.

Compreendemos o papel de comunicar as gerações contemporâneas, como as

sociedades do passado viviam, pensavam viabilizando uma ponte entre o passado e o

presente. As fontes orais são verdadeiros testemunhos dos fatos passados. Por isso, cabe-nos

refletir a formação da história e da memória a partir do lugar ou de um espaço de recordação.

Dessa maneira, permitindo-nos entender como desencadeou a sociedade açucareira, já

que perpassou fases da história sergipana. Apresenta-nos também a relação estabelecida entre

senhores patriarcal e seus familiares.

Esforçamo-nos por fazer uma minuciosa investigação documental e de revisão da

historiografia sergipana de autores clássicos aos contemporâneos, equacionando tradição e

inovação da historiografia, levando-nos refletir sobre a importância e o desenvolvimento que

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a indústria do açúcar alcançou, por meio dos engenhos e das usinas a vapor, num tempo em

que a cultura do açúcar também obteve seu apogeu. Logo, fizemos a análise das referências

historiográficas acerca da temática sobre engenho, no contexto das elites rurais da aristocracia

açucareira.

Registramos também a análise dos documentos como as cartas manuscritas escritas

pelos filhos do antigo proprietário, do Engenho Oitocentas para suas irmãs, fotos

iconográficas, ás minúcias, vestígios, construído de fragmentos e interpretações reabrindo o

passado em novos olhares e possibilidades.

Este engenho é um dos sobreviventes do patrimônio cultural sergipano, notadamente

rural. Como usina permaneceu em funcionamento até o final do século XX, no ano de 1960,

restando uma casa grande que internamente possui diversas peças mobiliárias e acervo

iconográfico que foi utilizado como representação de um passado pleno de memórias, com

diversas fotografias do lugar, inclusive de quando estava em pleno funcionamento.

Quanto ao referencial teórico, nos pautamos por algumas discussões em torno da

história oral, da memória e do ugar de memória, dos espaços de recordação, com o auxílio de

pesquisadores como Pierre Nora e Aleida Assmann, Le Goff.

Por fim, nos detemos sobre o processo das entrevistas de história oral e sobre as

depoentes, abordamos documentos do acervo pessoal da família como: fotos de cada um dos

filhos, dos objetos da casa grande, cartas escritas por familiares, estas, redigidas ao longo de

décadas, trata-se das memórias e a importância do Engenho Oitocentas na criação e formação

dos filhos do senhor José Paes de Azevedo Sá.

Nesse seio familiar do engenho oitocentas, onde estão inseridas as recordações que

demos uma ressignificação da história e memória. É importante perceber que foi feita uma

seleção das representações no meio da história. A própria história das representações torna-se

história da reconstrução de fatos e memórias isso através das práticas e costumes culturais da

família e do seu patriarca.

Portanto, consideramos o acervo iconográfico de grande relevância na recuperação do

passado, pois as mesmas podem servir como auxiliares na recordação e lembranças de um

passado familiar em um lugar memorável e pôde ser representado através das diversas fontes

iconográficas.

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A Revista Brasil açucareiro trás em suas páginas uma série de matérias acerca da vida

comercial e situações diversas sobre a história do açúcar no Brasil, bem como em outros

países que tem a produção de açúcar na economia, descreve os estatutos e legislações da

época, e faz um levantamento de seus respectivos proprietários como na tabela acima que

registra o funcionamento da Usina Oitocentas no ano de 1949.

Em meio a todo esse acervo documental, incluindo as fotos, as cartas dos filhos aos

antigos proprietários da usina Oitocentas para tratar das memórias e das recordações,

buscamos, via de regra, discutir a relevância desse engenho na criação dos filhos e ao mesmo

tempo deixar um registro de um personagem singular que foi Seu Juca das Oitocentas,

sobretudo por ousar fazer a diferença dos demais senhores de Engenho que ostentavam seus

bens e riquezas moveis, quando ele preferiu educar e formar seus filhos, garantindo não

somente seu futuro, mas também o legado patrimonial e memorial do lugar.

Portanto fizermos a análise do engenho a sua história e as memórias sua origem,

concepção e valor histórico e memorável tanto para a família dos Azevedo, como para a

sociedade rosarense e deixando como mais uma pesquisa para a historiografia sergipana.

Buscamos entender fazendo a confrontação da relação passado e presente que estão

intrínsecas mesmo com as modificações visíveis mais o ocaso da memória a história do

engenho oitocentas no baixo cotinguiba em Sergipe foi legitimada para as futuras gerações.

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REFERÊNCIAS

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Gulnar, Gilca, Graziela Vieira de Azevedo.

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Jornal o Rosário (1933 a 1936)

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Jornal A voz operária ano 1951;

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Fontes Visuais

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Editora Massangana –PE -2010.

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Fontes Orais

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dados do Projeto Massapé.

Entrevista de Dona Gulnar Vieira de Azevedo. Aracaju, 24 de novembro de 2016.

Entrevista com Gulnar Vieira de Azevedo, Aracaju, 18 de fevereiro de 2017.

Entrevista com Gulnar Vieira de Azevedo, Aracaju, 11 de novembro de 2017.

Entrevista com Gulnar Vieira de Azevedo, Aracaju, 7 de setembro de 2018.

Entrevista de Dona Nilza Azevedo de Brito. Aracaju, janeiro de 2017.

Entrevista de Solange Bastos de Azevedo em janeiro de 2018.

Entrevista com a senhora Ivanice de Oliveira no dia 24 de outubro de 2015 as 15h00min horas

in loco nas dependências do engenho oitocentas.

Entrevista do senhor Luiz Ferreira Gomes - de outubro de 2014- Banco de dados do Projeto

Massapé.

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