O Oscar da Cidadania - ANABB · tural, um bairro pobre na periferia de Brasília, e que já recebeu...

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1 Ação out-nov/2005 A ANABB entregou, em setembro, o Troféu Betinho e prêmios no valor de 36 mil reais a 11 projetos desenvolvidos por organizações não governamentais, voluntários e comitês de cidadania dos funcionários do BB. Os projetos, escolhidos entre 113 inscritos no IV Prêmio Cidadania, são exemplos de idéias simples que mudaram a realidade de comunidades pobres do interior e de capitais brasileiras. O Oscar da Cidadania O Oscar da Cidadania

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1Ação out-nov/2005

A ANABB entregou, em setembro, o Troféu Betinho e prêmios no valor de 36 mil reais a 11

projetos desenvolvidos por organizações não governamentais, voluntários e comitês de

cidadania dos funcionários do BB. Os projetos, escolhidos entre 113 inscritos no IV Prêmio

Cidadania, são exemplos de idéias simples que mudaram a realidade de comunidades

pobres do interior e de capitais brasileiras.

O Oscar da CidadaniaO Oscar da Cidadania

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ANABB - SCRS 507, bl. A, lj. 15 CEP: 70351-510 Brasília/DFAtendimento ao associado: (61) 3442.9696 Geral: (61) 3442.9600Site: www.anabb.org.br E-mail: [email protected]ção: Ana Cristina Padilha e Fernando LadeiraE-mail: [email protected]ção e Editoração: Optare ComunicaçãoEditora e jornalista resp.: Renata Feldmann Revisão: Maria Júlia LuzPeriodicidade: mensal Tiragem:104 mil Capa: Tico FonsecaImpressão: Gráfica e Editora Positiva Fotolito: Colorpress

VITÓRIAS NO FGTS

Muito grato à ANABB e aos advogadospela oportuna e benfazeja liberação demeu FGTS – Planos Econômicos. A perti-nácia, a fé e a confiança mútua propi-ciam essas vitórias e justificam a existên-cia de instituições como a ANABB.Geraldo Bezerra MeloFortaleza - CE

Em breve, irei sacar mais de R$ 55 mil naCaixa, referentes à ação vitoriosa do FGTS.Passaram-se dez anos, mas valeu a pena.Pedro Vanolin MacedoCaçapava do Sul - RS

OPINIÃO ACERTADACaro Élcio, o Jornal Ação, da ANABB, éum, dentre outros, que mesmo com poucotempo não deixo de ler, principalmente aseção “Opinião”. Em agosto, tive o prazerde ler o texto “Nas mãos do Capeta”, desua autoria e escrito com muita proprieda-de. Apresento-lhe a admiração, em espe-cial, pelo seus pontos de vista muito seme-lhantes aos meus. Se fossemos escrever so-bre o assunto em pauta, não tiraríamosnem acrescentaríamos uma vírgula.Maria Izabel OliveiraAracaju - SE

Quero parabenizar a colega Graça Ma-chado que, na seção Opinião intitulada “Ador de perceber”, do Ação 180, expressacom muita propriedade a indignação e odesalento que toma conta de todos nós quedepositamos nossas esperanças de justiça

naqueles que hoje discursam e agem comonossos antigos patrões.Francisco Orlando Nunes PinheiroFortaleza - CE

PREVI E CASSIParabenizo as colegas Cecília Garcez eGraça Machado pela brilhante exposiçãode idéias sobre o BB, a Previ e a Cassi doAção 180. Às vezes me pergunto se o sr.Luiz Oswaldo lembra da canção “GuerreiroMenino” (um homem também chora...).Rudival Castro CanárioSalvador - BA

CARIMGostaria de encontrar, com a ajuda doAção, colegas com dificuldades junto àPrevi-Carim para reduzir saldo devedore parcelas do financiamento. Quero for-mar um grupo para trocar idéias e pro-por alternativas para a solução do em-préstimo imobiliário. Interessados, favorcontatar [email protected] Luiz CoppeteUrussanga - SC

PEA X PAI 50Sou associado da ANABB e saí do BBpelo PAI 50. Dois meses depois, apesardo Banco ter garantido que não haverianovo plano de demissões voluntárias, foilançado o PEA, com mais vantagens queo Pai 50. A ANABB acredita haver con-dições para acionar judicialmente o BB?Antonio Pedro da Silva NetoSão Paulo - SP

NR:NR:NR:NR:NR: A ANABB notificou o Banco no Minis-tério Público do Trabalho, no intuito de fa-zer com que o BB prestasse esclarecimen-tos a respeito do PEA, uma vez que deixouquem aderiu ao PAI 50 em situação des-vantajosa. Porém, o vice-procurador geraldo MPT, Otávio Brito Lopes, entendeu quenão houve ilegalidade e a notificação foiarquivada. A ANABB estuda outra forma dequestionar o Banco e entrar com ação naJustiça. Qualquer decisão sobre o assuntoserá divulgada em nossos informativos.

DIRETORIA-EXECUTIVAVALMIR CAMILOPresidente

GRAÇA MACHADODiretora Administrativa e Financeira

ÉLCIO BUENODiretor de Comunicação e Desenvolvimento

DOUGLAS SCORTEGAGNADiretor de Relações Funcionais, Aposentadoriae Previdência

EMÍLIO S. RIBAS RODRIGUESDiretor de Relações Externas e Parlamentares

CONSELHO DELIBERATIVOANTONIO GONÇALVES (Presidente)Ana Maria Dantas LeiteAugusto Silveira de CarvalhoCamillo Calazans de MagalhãesCecília Mendes Garcez SiqueiraDenise Lopes ViannaÉder Marcelo de MeloFernando Amaral Baptista FilhoHenrique PizzolatoInácio da Silva MafraJosé Antônio Diniz de OliveiraJosé BranissoJosé Sampaio de Lacerda JúniorLuiz Antonio CareliMário Juarez de OliveiraMércia Maria Nascimento PimentelPaulo Assunção de SousaRomildo Gouveia PintoTereza Cristina Godoy Moreira SantosVitor Paulo Camargo GonçalvesWillian José Alves Bento

CONSELHO FISCALCLÁUDIO JOSÉ ZUCCO (Presidente)Antonio Carlos Lima RiosAntonia Lopes dos SantosHumberto Eudes Vieira DinizNaide Ribeiro JuniorOsvaldo Petersen Filho

DIRETORES ESTADUAISMarcos de Freitas Matos (AC)Ivan Pita de Araújo (AL)Marlene Carvalho (AM)Pedro Paulo Portela Paim (BA)Francisco Henrique Ellery (CE)Elias Kury (DF)Sebastião Ceschim (ES)Saulo Sartre Ubaldino (GO)Miguel Ângelo R. e Arruda (MA)Francisco Alves e Silva - Xixico (MG)Edson Trombine Leite (MS)José Marcos de Lima Araújo (PA)André Luiz de Souza (PB)Luiz Gonzaga Ferreira (PE)José Ulisses de Oliveira (PI)Aníbal Rumiato(PR)Antonio Paulo Ruzzi Pedroso (RJ)Herminio Sobrinho (RN)Francisco Assumpção (RO)Edmundo Velho Brandão (RS)Carlos Francisco Pamplona (SC)Emanuel Messias B. Moura Júnior (SE)Armando Cesar F. dos Santos (SP)Crispim Batista Filho (TO)

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Este espaço destina-se à opinião dos leitores. Por questão de espaço e estilo, as cartas podem ser resumidas eeditadas. Serão publicadas apenas correspondências assinadas e que sejam selecionadas pelo Conselho Edito-rial da ANABB. As cartas que se referem a outras entidades, como Cassi e Previ, serão a elas encaminhadas.

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Dia desses, estava len-do na revista Globo Rural umartigo do irreverente e genialcantor, compositor e jardinei-ro Tom Zé. Essa simpática epolêmica figura falava de suainfância na década de 40, emIrará, no interior nordestino.O pai, dono de um pequenomercado, abastecia os pe-

quenos produtores de fumo com gêneros de primeira ne-cessidade, tais como roupas e alimentos. O clima da re-gião alternava secas e chuvas em proporções que, na mai-oria das vezes, não eram favoráveis à lavoura. No final decada safra, conta ele, a receita dos produtores era usadapara pagar a conta aberta no pequeno mercadinho e co-brir outras despesas indispensáveis como as despendidascom remédios. A conta era, quase sempre, maior que osrecursos minguados colhidos na disputa com São Pedro.O pai recebia o que podia e mantinha a conta aberta atéuma próxima safra, sabedor de que dependia dos peque-nos produtores – que representavam a maioria dos seusclientes – tanto quanto estes dependiam dele. O nossoTom Zé disse que, nessa época, nunca ouviu a palavra so-lidariedade. E filosofou: a gente só escuta a palavra soli-dariedade quando falta o gesto.

O funcionalismo do Banco criou suas entidades emcima da solidariedade. A Previ, a Cassi, as AABBs, a Coo-perforte, a ANABB e, ainda, as entidades de aposentados,foram criadas juntando todos para buscar o bem de to-dos, sem a preocupação de que as demandas e necessi-dades fossem iguais ou não. Na Cassi, encontramos omaior exemplo de que este principio é base fundamental:cada um contribui como pode e usufrui como necessita.Hoje, alguns até arriscam propostas de contribuição pordependentes, pagamento parcial de todas as despesas,fórmulas que destroem a solidariedade, que está na essên-cia de sua criação. O Banco foi parceiro da criação damaioria dessas entidades e se orgulhava de poder consi-derar que o seu maior patrimônio era seu funcionalismo.

Cadê o gesto de solidariedade?

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Parece que hoje, apesar do governo Lula, os tempos sãooutros.

Acho que Tom Zé tem razão. Estou eu aqui falandoda solidariedade exatamente por estar faltando o gesto.Um gesto poderia ser dado agora, no momento de recu-perar a Previ para todos. As mudanças que foram feitas naLei, os chamados novos tempos, o mercado, as reformasna previdência oficial e tantas desculpas não podem nosafastar do propósito de continuar buscando o caminho dasolidariedade e da isonomia. A Previ foi criada e ganhou aconfiança de mais de 130 mil funcionários (só no Plano deBenefícios 1) por estabelecer regras que garantiam umdesfecho justo para a definição dos complementos deaposentadorias. Todos os funcionários foram admitidospor concurso público, devem contribuir por pelo menos 30anos para garantir a integralidade dos proventos de apo-sentadoria e devem ter seus benefícios definidos com re-gras do próprio Fundo. Incorporar outras situações nãodefinidas no momento da opção pelo Plano foi um erro;não corrigir este erro é errar duas vezes.

As distorções criadas no Fundo, que resultaram nosprejuízos dos colegas que se aposentaram após dezembrode 97 e que contaminam as aposentadorias daqueles queainda irão se aposentar, podem e devem ser corrigidas.Os princípios da solidariedade, de isonomia e de justiçadevem ser perseguidos pelos novos dirigentes como foramperseguidos no passado por aqueles que nos legaram es-tas instituições. Que estes princípios fossem esquecidospelos representantes do governo, do BB, da Previ, da Cassie do movimento sindical era última coisa a esperar. Falardo Banco e do governo como se estas instituições fossemadministradas por seres estranhos aos compromissos as-sumidos com o funcionalismo nos diversos processos elei-torais é a mais pura traição. A histórica criatividade dofuncionalismo do Banco do Brasil não merece a mediocri-dade das desculpas esfarrapadas de hoje.

Valmir CamiloPresidente da ANABB

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A cerimônia foi aberta com a apresentação do CoralReciclando Sons, formado por meninos e meninas da Vila Estru-tural, um bairro pobre na periferia de Brasília, e que já recebeuapoio financeiro do Programa Brasil Sem Fome. Foram distribuí-dos R$ 36 mil entre os ganhadores do Prêmio. O maior cheque,no valor de R$ 10 mil, ficou com o projeto de moradia popular“Casa João-de-Barro”, implantado no município de Ribeira doPombal (BA). Além do valor em dinheiro, os 11 voluntários e re-presentantes das entidades premiadas receberam o Troféu Beti-nho, criado pelo escultor paranaense Celso Ramos. A estatuetahomenageia o inspirador da Campanha de Combate à Fome eà Miséria e pela Vida, lançada em 1993.

A quarta edição do Prêmio, instituído em 1995, registrou113 projetos inscritos, dos quais 75 encaminharam, dentro doprazo, a documentação necessária. O tema deste ano foi livre,mas os projetos deveriam abordar, prioritariamente, as seguintesquestões: erradicação do analfabetismo; educação regular depessoas nas comunidades carentes; cursos profissionalizantes;combate, prevenção e erradicação de doenças; ações de ge-ração de emprego e a conseqüente melhoria na distribuiçãode renda e redução das desigualdades sociais.

Rio de Janeiro (13), Minas Gerais (11), Rio Grande do Sul(9), Paraná (8) e São Paulo (8) foram os Estados que apresenta-ram maior número de projetos. Entre os 11 premiados, o desta-que ficou com a Bahia, que emplacou três dos quatro projetosinscritos. Em seguida, aparecem Minas Gerais e Rio Grande doSul, com dois projetos premi-ados cada um. É interessan-te notar que a Região Nortefoi a menos representada,com apenas um projeto ins-crito e nenhum premiado.

As Regiões Sul e Sudeste concentram setedos 11 projetos premiados. O Nordesteaparece com três e o Centro-Oeste comum.

Os projetos foram avaliados poruma comissão julgadora formada porcinco intregrantes indicados pela Funda-ção Banco do Brasil, pelo Instituto Brasi-leiro de Análises Sociais e Econômicos(Ibase), pela Federação Nacional dasAABB (Fenabb), pela Associação Brasilei-ra de Assistência às Famílias de CriançasPortadoras de Hemopatias (Abrace) epela ONG Movimento Integrado de Saú-de Mental Comunitária (Mismec).

JUSTA HOMENAGEMO bispo Dom Mauro Morelli, home-

nageado especial no IV Prêmio Cidadania,não pôde comparecer à cerimônia, masfez questão de visitar a sede da ANABB,onde foi recepcionado pela diretoria e re-cebeu, antecipadamente, o Troféu Betinho.A visita aconteceu na manhã do dia 14. AAssociação decidiu homenageá-lo por tersido, juntamente com Betinho, um dos

grandes idealizadores e ani-madores da ação da cida-dania e da ética na política.

Sensibilizado, DomMauro Morelli elogiou a ini-ciativa da ANABB. “Alegra-

A ANABB promoveu, no dia 14 de setembro, na sua sede, em Brasília, a cerimônia de entre-ga do IV Prêmio Cidadania Herbet de Souza. A cerimônia reuniu dirigentes da ANABB, convida-dos e representantes dos Comitês de Solidariedade e Cidadania dos funcionários do BB e das or-ganizações sociais responsáveis pelos 11 projetos premiados. A solenidade contou ainda com apresença de Daniel de Souza, filho de Betinho, que representou a família. “A melhorforma de homenagear o Betinho, que neste ano faria 70 anos, é premiando açõesconcretas e inovadoras de cidadania. Faço questão de vir por isso. O Prêmio éuma iniciativa concreta”, declarou Daniel de Souza ao receber a estatueta embronze, com o busto do pai.

por Paulino Motter Fotos: Tico Fonseca

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Cristina Lopes (Ibase), Rachel H. Salles (Abrace), Waldir Vígolo (Mismec),Mauro Lúcio G. Campante (FBB) e Fernando Guimarães (Fenabb)

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me saber que vocês se empenham em hon-rar a memória e preservar o legado doBetinho. A dedicação à causa transfor-mou-se em prioridade absoluta em minhavida”, declarou o prelado. Depois de tersido por 24 anos bispo da Diocese de Du-que de Caxias, na Baixada Fluminense, elededica tempo integral à causa social. Entreoutras atividades, Dom Mauro Morelli pre-side o Conselho de Segurança Alimentarde Minas Gerais e de São Paulo e integra oConselho Nacional para Alimentação.Também assessora iniciativas de combate àfome no Brasil e no exterior.

ENTIDADE CIDADÓQueremos ser uma entidade cidadã,

que incentiva e valoriza o trabalho voluntá-rio e a responsabilidade social”, afirmouEmílio Santiago Ribas Rodrigues, diretor deRelações Externas e Parlamentares daANABB. Com o Programa Brasil Sem Fome,criado em 1993, a ANABB passou a mobili-zar uma das categorias profissionais maisnumerosas e com maior inserção em todosos cantos do País – o funcionalismo doBanco do Brasil. “São pessoas com boaformação e larga experiência de militânciae de prestação de serviços à comunidade.O que fizemos foi mobilizar o capital socialdos funcionários do BB para impulsionarações de cidadania nas comunidades maiscarentes”, explicou.

Segundo Emílio Rodrigues, a reper-cussão da iniciativa tem sido altamente po-sitiva, tanto junto aos associados quantoao público externo. “Estamos premiandoprojetos que têm tido grande impacto juntoàs comunidades. Este reconhecimento esti-

mula as pessoas envolvidas acontinuar participando ativa-mente”, declarou Emílio.

Entre os 11 projetos pre-miados pelo IV Prêmio Cidada-nia, prevalecem iniciativas quevisam criar oportunidadeseducativas ou de inserçãono mercado de trabalhopara crianças, jovens eadultos de comunidadescarentes. Um exemplo deprojeto educativo é o “Alfa-betização de Adultos e In-clusão Social” (3º. Lugar),de Araraquara (SP).

NOVO ENFOQUEPara Graça Macha-

do, diretora Administrativae Financeira da ANABB, o Prêmio consolida uma mudançade enfoque. Se no início os projetos e ações tinham um ca-ráter assistencial, agora estão mais voltados para a criaçãode oportunidades de geração de renda e a promoção dodesenvolvimento sustentável. “Os Comitês de Solidariedade eCidadania do BB estão inseridos nas comunidades, conhe-cem bem a realidade local e mobilizam as pessoas para so-lucionar os problemas, sem ficar esperando que o governoresolva tudo”, afirmou.

Um bom exemplo é o projeto de construção de cister-nas de placas (6º. Lugar), realizado pelo Comitê ContadoriaCidadã, de Brasília. Com muita criatividade, o projeto resol-veu o problema de falta de água que afligia a população ru-ral do município de Chapada Gaúcha, no norte de MinasGerais, com a captação de água da chuva por meio daconstrução de 27 cisternas de placas pré-moldadas.

“Desde a época do Betinho, tudo em que o funcionalismodo BB coloca a mão vira ouro”, elogia Graça Machado, lem-brando que a grande maioria das ações desenvolvidas pelos

comitês não conta com apoio patronal. “Os projetossão viabilizados com doações e trabalho voluntáriodos funcionários do BB”, destacou. Para a diretora,a importância do Prêmio Cidadania é que ele repre-senta um estímulo à continuidade das ações desen-volvidas pelos comitês. “O Prêmio ocorre de três emtrês anos, mas o apoio da ANABB é permanente. Ascontribuições são repassadas aos comitês para aexecução de projetos”, explicou Graça Machado.

O homenageado especial Dom Mauro Morelli recebe o TroféuBetinho dos diretores da ANABB

Para a diretoraGraça

Machado,comitês

funcionamporque

conhecem arealidade local

RECICLANDO SONS: coral de meninos emeninas da periferia de Brasília

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Depois do sucesso da quarta edição do Prêmio CidadaniaHerbet de Souza, a ANABB estuda duas mudanças parainstitucionalizar a iniciativa: tornar o concurso anual e criar oInstituto ANABB de Cidadania – IAC. O Instituto se encarrega-ria tanto das ações sociais e filantrópicas desenvolvidas pelaAssociação desde 1993 no âmbito do Programa Brasil Sem Fo-me, quanto da organização do Prêmio. Pelo menos uma deci-são já foi tomada: a estatueta em bronze do busto do sociólogoHerbet de Souza, o Betinho, será adotada como o “Oscar” daCidadania.

O IV Prêmio ANABB de Cidadania superou todas as ex-pectativas. Segundo Douglas Scortegagna, diretor da Associa-ção e coordenador da iniciativa, o número de 113 projetos ins-critos é bastante expressivo, já que as ações de cidadania nãotêm o mesmo ímpeto que tiveram no auge da Campanha deCombate à Fome e à Miséria e pela Vida, lançada por Betinho,em 93, e liderada por ele até sua morte, em 97.

“O Prêmio é um incentivo ao voluntariado e às ações decidadania. O maior estímulo que podemos dar é o reconheci-mento do trabalho que vem sendo realizado pelos Comitês deSolidariedade e Cidadania do BB. Isso conta muito mais do quea premiação em dinheiro propriamente”, acredita o coordena-

dor do Prêmio. Comoexemplo, ele cita arepercussão do prê-mio conferido aoprojeto “CursinhoAssistencial Amigosde Itajubá”, que fi-cou em segundo lu-gar. Os representan-tes do Centro foramrecebidos com festaao retornar a MinasGerais com o troféu,com direito a extensa

cobertura na imprensa local. “O prêmiocontribui para legitimar o projeto perantea comunidade”, avalia Scortegagna. “Agente consegue mexer com a auto-estimados voluntários e o aspecto motivacional éfundamental para a continuidade dasações.”

ESCOLA DE CIDADANIAO BB já foi uma grande escola de

cidadania e civismo. Se, anteriormente,os valores cultivados pela instituição in-centivavam os funcionários ao engaja-mento social e à participação políticanas comunidades em que estavam inseri-dos, hoje prevalece uma estrutura de in-centivos que estimula a competitividade ea produtividade. O cumprimento de me-tas é o principal critério para a ascensãofuncional. A consciência social ficou emsegundo plano.

Evidências dessa profunda mudançaforam trazidas à tona pelo IV Prêmio Cida-dania. “Os que se dedicam ao trabalhovoluntário são, em sua grande maioria, osfuncionários mais antigos que têm essaformação de servir à comunidade. Osmais novos, em geral, não se envolvem.

ANABB deveinstitucionalizar Prêmio

Representantes dos 11 comitês reunidos na ceri-mônia de premiação

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“A exclusão é um problema

ético de toda a sociedade e não

conseqüência inevitável do

desenvolvimento.” (Betinho)

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Hoje, não há incentivo”, analisa DouglasScortegagna.

Ironicamente, no mesmo momentoem que o BB dava uma guinada rumo aomercado para adaptar-se ao ambientecrescentemente competitivo daglobalização, a diretoria criava uma Vice-Presidência de Gestão de Pessoas e Res-ponsabilidade Socioambiental, sinalizan-do que o seu papel social não seria aban-donado ao transformar-se num bancocomercial. Mas o ethos dos funcionáriosdo BB parece ter sofrido uma mudançairreversível, acompanhando a perda dostatus econômico da categoria. “Os no-vos funcionários não têm expectativa neminteresse em fazer carreira. Para muitos, oBanco é um trampolim até conseguir umemprego melhor. Por isso, a maioria dosnovos funcionários não participa de tra-balho voluntário,” sugere Scortegagna.

CATEGORIA SOLIDÁRIAO Programa Brasil Sem Fome, lança-

do pela ANABB em 93, respondendo àconvocação nacional feita pelo Betinho,demonstra que os valores da solidariedadeestão profundamente enraizados entre osfuncionários do BB, a despeito das mu-danças apontadas. Concebida como umacampanha de arrecadação de contribui-ções da categoria para apoiar ações con-tra a fome e a miséria, a iniciativa buscou,desde o início, incentivar o voluntariado. Oimpulso inicial pode ter arrefecido com opassar dos anos, mas a semente plantadagerminou e continua dando frutos.

O Programa já recebeu contribui-ções de 5.714 funcionários e associados

da ANABB. De 1º de março a 31 de agosto de 2005, foram ar-recadados R$ 295 mil. Esses recursos são destinados aos Comi-tês de Solidariedade e Cidadania, por meio do financiamento aprojetos específicos. A campanha de doação também é perma-nente. A ANABB tem feito um trabalho dirigido aos associadosbeneficiados por ações judiciais movidas pela entidade.Scortegagna faz questão de frisar que a doação é espontâneae o valor fica a critério decada associado.

Os recursos arrecada-dos são inteiramente aplica-dos em projetos desenvolvi-dos pelos comitês. Como for-ma de assegurar o bom usodas contribuições dos asso-ciados, a ANABB visita regu-larmente os comitês que rece-bem auxílio, verificando deperto a execução dos proje-tos financiados. “O BrasilSem Fome também está sem-pre aberto a novos projetos”,esclarece Scortegagna. Umadas razões pelas quais está em estudo a criação do IAC é sepa-rar a contabilidade do Programa Brasil Sem Fome da contabilida-de da Associação. Por enquanto, todas as despesas do PrêmioCidadania correm por conta do orçamento da ANABB.

A quarta edição do Prêmio custou R$ 76 mil, dos quais R$36 mil foram distribuídos aos projetos selecionados. O restantecorresponde às despesas administrativas com a organização dapremiação, incluindo divulgação e viagens dos premiados aBrasília para a solenidade de premiação.

Agora, começa o planejamento do V Prêmio Cidadania,em data a ser fixada. Com a experiência de quem coordenoutodas as edições do Prêmio, Douglas Scortegagna considera di-fícil realizar o concurso todos os anos, conforme proposta emestudo. “Envolve muito trabalho, mobilizando um universo gran-de de pessoas. Vamos continuar incentivando os comitês pormeio das publicações da ANABB, divulgando projetos exempla-res que podem ser copiados. Este é o espírito do Prêmio Cidada-nia”, conclui Scortegagna.

Uma outra idéia em estudo é criar um Portal da Cidada-nia, vinculado ao site da ANABB, permitindo que os comitês cri-em e hospedem suas próprias páginas. Afinal, ações de solidarie-dade e cidadania são muito importantes para permanecerem es-condidas. O Prêmio Cidadania Herbet de Souza já provou queelas se multiplicam e propagam quando ganham reconhecimen-to e visibilidade.

Douglas Scortegagna, o estudante premiado GustavoOsório e o associado da ANABB, Hermes Oliveira

Douglas Scortegagna, coordenador doBrasil Sem Fome: programa sempre

aberto a novos projetos

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“Quem tem fome, tem pressa”, insistia Betinho na sua in-cansável pregação em prol da solidariedade e da participaçãoda sociedade nas ações de combate à fome e à miséria. O mo-vimento ganhou força e, mais de uma década depois do lança-mento da Campanha Natal Sem Fome em 1993, o legado dosociólogo que se tornou símbolo nacional de cidadania perma-nece vivo e, em grande medida, influenciou as políticas sociaisdos últimos governos.

“A agenda proposta pelo Betinho continua atual. Por issoele é tão lembrado”, afirmou Daniel de Souza, filho doidealizador do Movimento de Combate à Fome, à Miséria epela Vida, ao participar da solenidade de premiação do IV Prê-mio Cidadania. Embora reconheça que o presidente Lulaencampou o combate à fome como prioridade do seu governo,ele diz que não podia ser diferente, pois o quadro social doPaís se agravou na década de 90. “Quando o Betinho lançoua campanha Natal Sem Fome, em 1993, havia 32 milhões debrasileiros abaixo da linha da pobreza. Hoje, são mais de 50milhões de pessoas nessa situação”, comparou.

Daniel de Souza vê com ressalvas o Programa Bolsa Famí-lia, principal vitrine da política social do atual governo. “O Bol-sa Família é uma medida emergencial, coerente com a idéia deque as ações contra a fome devem ter um caráter de urgência,pois, como repetia sempre o Betinho, quem tem fome, tem pres-sa. Mas, paralelamente a esse programa emergencial, é preci-so uma política estrutural de distribuição de renda para trans-formar as condições de vida dos milhões de brasileiros que vi-vem abaixo da linha de pobreza”, ponderou.

RESPONSABILIDADE DO ESTADOO ideário que guiou a militância política de Betinho pode

ser resumido no seguinte postulado: o papel do Estado, comoindutor de políticas redistributivas e inclusivas, é insubstituível,mas a sociedade civil pode fazer a sua parte para melhorar ascondições de vida dos mais fracos e destituídos. “O principal le-gado deixado pelo meu pai foi demonstrar que embora o com-

bate à fome e à desigualdade seja umaobrigação do governo, a sociedade podeajudar com ações de cidadania”, afirmouDaniel de Souza.

Desde a redemocratização, o Brasilvem experimentando um florescimento dochamado terceiro setor, constituído por or-ganizações não-governamentais que pro-movem projetos sociais, compensando,muitas vezes, a omissão do poder público.De acordo com estimativas, o terceiro setoraplica cerca de R$ 5 bilhões por ano naárea social. Nem por isso, o Brasil superoua condição vexatória de figurar entre ospaíses mais desiguais do mundo. “O pró-prio movimento da cidadania contra afome e a miséria, liderado pelo Betinho,constituiu uma forma de cobrar ação doEstado”, argumenta Daniel de Souza.

Ao prestigiar a entrega do TroféuBetinho, Daniel de Souza elogiou aANABB por ter mantido ao longo dos últi-mos 12 anos o Programa Brasil SemFome. “Premiar boas iniciativas e práticasinovadoras é a melhor forma de homena-gear o Betinho e manter viva sua memó-ria,” repetiu, reiterando o apoio da famí-lia à iniciativa da ANABB. “Este Prêmiopromove o encontro entre várias iniciati-vas mantidas pela dedicação de pessoasque fazem um trabalho anônimo. Nestesentido, incentiva a complementaridadeentre os projetos, a disseminação de ex-periências inovadoras e o conhecimentorecíproco entre os voluntários envolvidosnas ações de cidadania”, concluiu.

Filho deBetinho elogiainiciativa

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Num país onde o déficit de moradia é estima-do em 7,7 milhões de unidades, de acordo com oPrograma das Nações Unidas para Assentamen-tos Humanos – UN-Habitat –, um projeto comuni-tário de construção de casas populares mereceaplausos. Não é mera coincidência, portanto,que o IV Prêmio Cidadania conferiu o primeiro lu-gar ao projeto “Casa João-de-Barro”, que há dezanos já construiu 136 casas na pequena Ribeirado Pombal, situada no Polígono da Seca, naBahia.

À frente do projeto está o engenheiro agrôno-mo Gandhi Almeida Dantas Costa, cuja atividadeprofissional principal está associada a um dossegmentos mais promissores da incipiente econo-mia local: a apicultura. A familiaridade com otrabalho em equipe das abelhas que povoam ascolméias do seu apiário incentivou o “Gandhibaiano” a arregaçar as mangas e mobilizar a co-munidade de Ribeira do Pombal para enfrentar oproblema da falta de moradia.

O Projeto “Casa João-de-Barro” começou em1993, idealizado por Ivan Neves de Oliveira. Aprimeira casa foi entregue em janeiro de 95. Des-de então, a meta de entregar uma casa por mêstem sido rigorosamente cumprida. O custo médiode cada unidade é de R$ 4.200,00. Os recursos

são provenientes de contribuições de doa-dores particulares. Entre os voluntáriosque cooperam com o projeto estão fun-cionários do BB. Todas as casas são dealvenaria e seguem o mesmo padrão, com55 metros quadrados. Os terrenos sãodas famílias beneficiadas ou doados porterceiros.

A escolha dos beneficiados é feita coma participação da população, por meio devotação popular nas rádios locais e nosite do projeto. Existem cerca de 200 fa-mílias cadastradas. Agora, a AssociaçãoProjeto João-de-Barro, criada com base nalei que instituiu o regime jurídico das Orga-

nizações da Sociedade Civil de Interesse Públi-co – OSCIP –, pretende fazer uma parceria coma Caixa Econômica Federal para ampliar o pro-grama de construção de casas populares e, as-sim, acelerar o atendimento das famílias inscritas.

Ao receber o Troféu Betinho e o cheque de R$10.000,00, Gandhi Almeida disse que ficou sur-preso com o primeiro lugar conquistado peloprojeto. “O que realmente importa é o reconheci-mento alcançado nacionalmente. Este prêmio émuito importante para o projeto e para a comu-nidade”, declarou ele, informando que o destinodo prêmio será discutido com os membros da as-sociação. Ele acredita que a premiação vai incen-tivar a adoção da idéia em outros municípios daregião.

O apicultor que constrói casas acredita que ofuturo de Ribeira do Pombal pode estar associadoà emergente indústria do mel. O município já é omaior produtor de mel da Bahia e o terceiro doNordeste. A apicultura local já emprega cerca de1.000 pessoas. O trabalho silencioso das abe-lhas e o do João-de-Barro estão, aos poucos, co-locando Ribeira do Pombal no mapa nacional dacidadania e da solidariedade.

O milagre da Casa de João-de-Barro

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Valmir Camilo festeja o prêmio com Daniel de Souza e Gandhi AlmeidaDantas Costa, do Projeto Casa João-de-Barro, com a estatueta

CONTATO: (75) [email protected]

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No momento em que o Congresso Nacionaldiscute projeto de lei que reserva vagas nas Insti-tuições Federais de Ensino Superior para estu-dantes de escolas públicas, uma iniciativalançada por estudantes do curso de EngenhariaElétrica da Universidade Federal de Itajubá –Unifei –, em Minas Gerais, mostra que existemoutras alternativas para democratizar o acesso àuniversidade pública. Trata-se do projeto Cursi-nho Assistencial Amigos de Itajubá – CAAI –,mantido pelo Centro de Estudantes VoluntáriosAmigos de Itajubá, segundo lugar no IV PrêmioCidadania.

Criado em 2003 por iniciativa de quatro estu-dantes da Unifei, o cursinho pré-vestibular gra-tuito atende alunos de baixa renda que freqüen-tam escolas públicas da região – só este ano,são 60 alunos. Toda a equipe do CAAI (direto-res, professores e monitores) é formada por uni-versitários voluntários recrutados pelo CentroAmigos de Itajubá. O regime de trabalho é regi-do pela lei que dispõe sobre as condições doexercício do serviço voluntário e o espaço físicoé cedido pela própria universidade, que apóia a

iniciativa dos seus alunos.Um dos idealizadores do proje-

to é o estudante Gustavo JoséRizzi Osório, que está no quartoano do curso de Engenharia Elétri-ca e representou o projeto na so-lenidade de premiação do IV Prê-mio Cidadania. “Acreditamos queé possível mudar este País. A cadainiciativa que colocamos em práti-ca, estamos criando um futuronovo”, declarou Osório ao recebero Troféu Betinho.

Osório não é a favor da políti-ca de cotas, proposta pelo Minis-tério da Educação. Na sua opi-nião, o governo deveria preocu-par-se mais com a melhoria da es-

cola pública. “Faltam investimentos na educaçãobásica. São raras as escolas que oferecem ensinode qualidade”, criticou o estudante que, para en-trar na Unifei, fez todo o ensino médio em escolaprivada. “Creio que cursinho comunitário é umaalternativa”, defendeu. Apesar de fazer um cursobastante exigente, Osório dedica 14 horas porsemana ao projeto e garante que consegue con-ciliar com o bom desempenho acadêmico. Com aformatura já apontando no horizonte, ele acredi-ta que a iniciativa terá sustentabilidade depoisque os seus idealizadores passarem o bastão. “Agarantia de continuidade está nos ex-alunos quepodem atuar no projeto como professores emonitores”, concluiu.

No retorno a Itajubá, Gustavo Osório levouna bagagem, além do Troféu Betinho, um chequede R$ 8.000,00. O dinheiro será revertido paraas atividades desenvolvidas pelo Centro de Estu-dantes Voluntários Amigos de Itajubá que, com adivulgação que obteve com o prêmio, deverá terbastante trabalho pela frente.

Caminho mais curto para auniversidade

Douglas Scortegagna, Ana Carolina, Daniel de Souza e Gustavo Osório, coordenadordo cursinho comunitário, com o Troféu Betinho

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CONTATO: (35) 8813.3955 - www.amigosdeitajuba.com.brE-mail: [email protected]

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O que começou há seis anos com uma simplesclasse de alfabetização de adultos, por iniciativa dasIrmãs Franciscanas do Externato Santa Terezinha, deAraraquara (SP), acabou transformando-se num pro-jeto de educação popular que atende mais de mil jo-vens e adultos nos bairros populares da cidade. Comapoio da Prefeitura Municipal, que cede espaço nasescolas municipais e repassa recursos do ProgramaBrasil Alfabetizado, e a colaboração de quase umacentena de voluntários, o Projeto de Alfabetização deAdultos de Araraquara – Proeaja – se consolidou eampliou o atendimento. O reconhecimento nacionalveio com a conquista do 3º lugar no IV Prêmio Cida-dania.

Hoje, o Proeaja está espalhado em 35 núcleos,com 40 salas de alfabetização conveniadas com oMovimento de Alfabetização de Adultos da SecretariaMunicipal de Educação, 12 salas de suplência (5ª a 8ªsérie) e duas turmas de informática. Depois de ter co-meçado, em 1999, com 50 alunos e 11 voluntários, oProeaja atende cerca de 1.200 alunos e conta com acolaboração de cerca de 80 voluntários. À frente doprojeto está a Irmã Maria Edith Costa, presidente daONG e coordenadora de Orientação Pedagógica.

Com o objetivo de erradicar o analfabetismo emAraraquara, o projeto prioriza, nas classes de alfabeti-zação, o atendimento a pessoas de 16 a 80 anos queainda não tiveram a chance de escolarização para ter-minar o ensino fundamental. Grande parte dos alunossão cortadores de cana. A maioria das turmas funcio-na em escolas municipais, ocupadas durante o dia pe-

los alunos do ensino fundamental regular. Ànoite, o espaço ocioso é cedido pela prefeiturapara as classes de alfabetização e de suplên-cia. Nos bairros onde não existe escola munici-pal, são utilizados espaços alternativos, comosedes de associações de moradores e salas decatequese de igrejas.

Nos últimos dois anos, o projeto expandiu asua atuação na suplência de 5ª a 8ª série,atendendo à grande demanda. “Os jovens eadultos alfabetizados pelo Proeaja não tinhamcomo dar continuidade ao processo de

escolarização. Agora, estamos oferecendo a eles aoportunidade de concluir o ensino fundamental”, ex-plicou Iraê Ribeiro, que concilia a secretaria da ONGque coordena o projeto com as funções de professorade Português. De duas salas de suplência, o projetopassou para doze.

Os professores que atuam no projeto passaram areceber, a partir de 2004, uma bolsa-auxílio mensalde até R$ 225,00 – de acordo com os critérios de re-muneração dos alfabetizadores fixados pelo Ministérioda Educação no Programa Brasil Alfabetizado. Alémdas classes de alfabetização e suplência, a ONG ofe-rece curso básico de informática. Com onze computa-dores usados obtidos por meio de doações e parceriacom o SENAC, um dos doadores dos PCs, jovens aci-ma de 16 anos e adultos de baixa renda estão tendoa oportunidade de aprender noções básicas deinformática.

Sobre a conquista do troféu, Iraê Ribeiro disse queo mais importante foi o reconhecimento nacional al-cançado pelo projeto. “Quando soubemos que fo-mos selecionados, não importou muito a colocação.Nem que fosse o décimo primeiro lugar, estaríamosigualmente satisfeitos”. Ela adiantou que caberá à di-retoria do projeto, formada por 13 integrantes, decidironde o prêmio de R$ 6.000,00 será investido.

Além do apoio da atual administração municipal,o Proeaja recebe a colaboração de empresas, sindica-tos, universidades, SENAC e do SEBRAE.

Inclusão social pela alfabetização

A diretora Graça Machado, Daniel de Souza, a Irmã Maria Edith, aprofessora Iraê Ribeiro e Fernando Ribeiro (da esq. para a dir.)

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CONTATO: (16) [email protected] - www.techs.com.br/proeaja

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culinária afro, seminários e palestras, semprebuscando melhorar a auto-estima dos adoles-centes negros. São idéias simples, como a reali-zação de Baile Comunitário de Debutantes e deConcurso de Beleza Negra.

Palestras sobre temas sérios precedem todasas atividades. A participação em palestra sobrea gravidez na adolescência, por exemplo, foi orequisito para as adolescentes de 15 a 17 anosse inscreverem no Baile Comunitário deDebutantes. Antes de brilhar na pista de dança,45 meninas receberam orientações sobre comoprevenir gravidez e se proteger de doenças e fo-ram acompanhadas por 20 garotos.

O Concurso de Beleza Negra, por sua vez, mobi-lizou 62 adolescentes e jovens, sendo que a maioria,como era de se esperar, meninas. Mas a idéia debuscar envolver também os garotos encorajou a par-ticipação de um número significativo. O concurso,que deve se repetir todos os anos, foi dividido emduas faixas etárias: de 10 a 14 anos e de 15 a 24anos.

Outra atividade concretizada pelo projeto Oficinados Sonhos foi um curso para Tratadores de Piscina.Como o município concentra grande número de síti-os de moradores do Rio de Janeiro, identificou-se ademanda por profissionais treinados para limpeza etratamento de piscina. Ao custo de R$ 180,00 poraluno, monitores da Secretaria Estadual de Meio Am-biente e do Sindicato dos Engenheiros Químicos ca-pacitaram 25 jovens, dos quais 22 cumpriram os re-quisitos e foram certificados.

Todas as atividades são realizadas por voluntári-os, com a colaboração da comunidade. O atual de-safio da Agir é conseguir a doação de computadoresusados para oferecer cursos de informática aos ado-lescentes e jovens carentes do município. Sem o inte-resse por parte das empresas privadas da cidade, aesperança está depositada nas empresas estataiscomo a Petrobrás e o próprio BB.

O sonho que combate a exclusão

Pobreza, racismo, discriminação, desemprego e es-quecimento: estas são algumas das barreiras enfren-tadas cotidianamente pelos moradores dos bairrospopulares de Guapimirim, cidade de 43 mil habitan-tes, localizada a meio caminho entre Magé e Teresó-polis. Emancipado há apenas 13 anos e situado a 75quilômetros da capital do Estado, o município é o ter-ceiro mais pobre do Rio de Janeiro. Para enfrentar aexclusão social, que afeta mais a população afrodes-cendente, predominante no município, um grupo demulheres voluntárias se uniu e decidiu agir.

Assim surgiu, em 1999, a Associação Guapiensede Integração e Renovadora – AGIR. Desde o início,a Agir definiu como missão trabalhar a questão raci-al, tornando visíveis as diferentes formas de discrimi-nação e promovendo a consciência negra. CarmemHelena, presidente da Agir, explica que o principalobjetivo da iniciativa é despertar nos adolescentes ejovens orgulho pela sua cor, contrapondo-se aos pa-drões de beleza da cultura dominante.

O projeto Oficina dos Sonhos, quarto lugar no IVPrêmio Cidadania, nasceu com o objetivo de atrair osjovens e adolescentes para atividades de qualificaçãoprofissional e discutir temas relevantes, como preven-ção de doenças sexualmente transmissíveis (DST),gravidez na adolescência e drogas. Com uma con-cepção ‘guarda-chuva’, o projeto alcança diversasiniciativas, como cursos profissionalizantes, eventosculturais, atividades de lazer, oficinas de artesanato e

Emílio Rodrigues, Daniel de Souza, Carmem Helena Ferreira Leite (com otroféu) e Luciana Vieira Belém

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CONTATO: (21) 2224.0949 [email protected]

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Salvaçãopara a seca

Um anjo naperiferia

O sucesso conquistado por um pequeno grupo deteatro formado com crianças e adolescentes do BairroGetúlio, em Pelotas, em 2001, foi o que motivou o entãosindicalista Ben Hur Alves Flores a montar um projetoque hoje é exemplo. O ator lembra que o grupo de tea-tro, na época com apenas quatro integrantes, começoua mudar a realidade dos envolvidos, moradores do bair-ro mais violento da cidade gaúcha. “Resolvemos entãoestender o grupo a oito crianças e adolescentes, até che-garmos a 65 moradores do bairro”, conta.

O ator criou o “Centro de Cultura, Esporte e Lazer,Anjos e Querubins”, que passou a ter o apoio do Comi-tê de Cidadania dos Funcionários do BB de Pelotas.Além de oficinas de teatro, Ben Hur comanda, com ou-tros voluntários, cursos de instrumentação, onde baldese latas se juntam a vozes de um coral; grupos de leiturae de dança. O cartão de visitas é o Coral Cênico. Comuma linguagem típica da periferia, o coral dá show emconferências, escolas, associações de bairro e igrejas.Outro “xodó” é um casal de crianças de 7 e 9 anos,dançarinas de forró.

Os R$ 2.000,00 conseguidos com o quinto lugar noPrêmio Cidadania foi usado para ampliar a sede daONG. “Juntamos com mais R$ 1.000,00 e compramosuma casa”, conta Ben Hur, provando saber tambémcomo multiplicar dinheiro. “Para um projeto do BairroGetúlio, pensávamos que ficar entre os dez melhoresseria uma vitória. O quinto lugar foi uma surpresa”,agradece. Depois do prêmio, o projeto passou a aten-der mais 15 crianças e adolescentes, aumentando para80 o número de beneficiados.

Antonio Gonçalves, Daniel de Souza, Odilon Lorenzato Almeida eBen Hur Alves Flores (com o troféu)

Osvaldo Petersen e Daniel de Souza entregam os prêmios a Mariade Lourdes Araújo Barbosa, Gil Aurélio Garcia e Walmir Passos

Há quatro anos, os bancários da Contadoria doBanco do Brasil em Brasília vêm ajudando a minimizaros efeitos da seca numa cidade que poucos deles co-nhecem. O cenário é a cidade de Chapada Gaúcha,no norte de Minas Gerais e a 450 quilômetros da capi-tal do País. Com contribuições mensais, os 300 funcio-nários da área custeiam a construção de cisternas emcasas da região. Até hoje, foram construídas 27 cister-nas de placas pré-moldadas, atendendo 164 pessoas.O objetivo é construir mais 60 cisternas.

A ajuda a distância teve uma motivação particular.Em visita à região onde nasceu, um dos voluntários in-tegrantes do Comitê conheceu o problema. Foi feito en-tão um convênio com a associação comunitária, quepassou a administrar a construção das cisternas. “Co-meçou com a construção de um poço, depois construí-mos outro e o projeto vingou”, conta Saulo Rodrigues,funcionário do BB e coordenador do comitê. Os volun-tários de Brasília vão sempre à cidade fiscalizar a apli-cação do dinheiro.

Agraciado com o sexto lugar no Prêmio Cidadania,o projeto é o carro-chefe do comitê que promove ou-tras ações no Distrito Federal. O prêmio de R$1.000,00 não poderia ter chegado em hora mais opor-tuna. Com o início do período de chuvas em dezembro,as cisternas têm que ser construídas até o mês quevem. “Com o dinheiro do Prêmio e a arrecadação deagosto e setembro, vai dar para construir cinco cister-nas”, anima-se Saulo. Até dezembro, a meta é conse-guir dinheiro para instalar mais dez cisternas de placas.Depois, o trabalho fica por conta da chuva. E as famíli-as beneficiadas vão ter água limpa para beber e cozi-nhar, e se preparar para o próximo período de seca.

13CONTATO: (53) 3223.0119 - [email protected]

CONTATO: (61) 3310.4455 - [email protected]

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Os primeirospassos

De sorrisoaberto

A creche que em 1994 abrigava 10 crianças deaté dois anos hoje atende mais de 140 bebês. Lá,eles são alimentados e medicados. As primeiras crian-ças cresceram e, com elas, o projeto “Resgatando aCidadania”, dos voluntários da cidade baiana deMairi. Ao longo dos anos, o projeto foi ampliadopara aulas de reforço escolar, escolinha de futebole escolinha de música, e atende vários bairros po-bres do município. Mais de 400 crianças se benefi-ciam das aulas, que são dadas por 23 professores,remunerados pelo projeto. Os 15 voluntários quetrabalham no projeto estão sempre pensando nofuturo. “As nossas primeiras crianças estão com 12anos e o objetivo agora é fazer um trabalho paraadolescentes”, diz Normeide Carneiro, voluntáriaque dirige o “Resgatando a Cidadania”.

O sétimo lugar conquistado no IV Prêmio Cida-dania pode ser um primeiro passo. Com os conta-tos feitos em Brasília, a voluntária promoveu umabela festa no dia 12 de outubro para mais de 700crianças. “Tivemos o apoio da Fenabb e promove-mos um dia inteiro de jogos”, conta Normeide.“Além do reconhecimento pelo trabalho, trocamosexperiências, o que pode render projetos futuros.”Os pais das crianças atendidas também são assisti-dos na alfabetização de adultos e com a constru-ção de cisternas nas casas onde não existe águaencanada. Os voluntários de Mairi receberam umprêmio de R$ 1.000,00.

De um simples encontro surgiu a idéia que já pro-porcionou um belo sorriso a mais de 2,7 mil pessoas.A funcionária do BB aposentada, Eunice Nogueira,nunca havia pensado em ajudar a comunidade comtratamentos dentários. Foi quando conheceu um den-tista, em Viçosa (MG), que queria vender o consultório.Conversa vai, conversa vem, ele acabou doando partedo equipamento e, com duas colegas de Banco,Eunice montou um consultório dentário. Ela conseguiua adesão de dentistas da cidade e, em pouco tempo,eles estavam tratando os dentes de centenas de crian-ças carentes. Surgiu assim o Projeto “Adote um sorriso.Faça uma criança feliz”.

Hoje, o antigo consultório é a Associação Odonto-lógica Jesus é o Caminho, que conta com a ajudade cerca de 80 dentistas voluntários – 22 prestamatendimento, 33 atendem pacientes encaminhados pelaassociação em consultórios próprios e outros 20 aju-dam com a doação de material. Os pacientes, a maio-ria crianças e adolescentes, são encaminhados por enti-dades assistenciais. “Só no ano passado, atendemos500 crianças e adolescentes, com tratamento comple-to”, orgulha-se Eunice.

Mal recebeu o Troféu Betinho e o prêmio de R$1.000,00, Eunice já viu o projeto crescer. “O Prêmio Ci-dadania teve uma repercussão na comunidade e, a par-tir daí, conseguimos a adesão de três ortodontistas.Agora, vamos passar a colocar aparelhos”, diz animada.

Normeide Carneiro, com o troféu, recebe o cheque do presidentedo Conselho Fiscal da ANABB, Cláudio Zucco

O conselheiro da ANABB José S. Lacerda Júnior entrega o prêmio àvoluntária Eunice Nogueira

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CONTATO: (74) 3632.2304 - [email protected] CONTATO: (31) 3892.7059 - [email protected]

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Papel quevale ouro

Vitória de umaguerreira

Dois dias após Betinho ter lançado a campanhaAção da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pelaVida, em 93, surgiu o Comitê de Cidadania de Salva-dor. Das primeiras ações – distribuição de cestas bási-cas e apoio alimentar a crianças atendidas em cre-ches comunitárias e orfanatos de bairros pobres –, ocomitê passou a preocupar-se em criar oportunidadesde geração de renda para os assistidos.

Foi assim que se buscou profissionalizar as famíliasenvolvidas. Cursos de panificação, culinária e corte ecostura passaram a ser ministrados e o comitê come-çou a treinar atendentes para trabalhar em lanchone-tes. Hoje, há até uma Padaria e uma Lanchonete daCidadania, de onde os novos profissionais tiram o seuganha-pão. O comitê também tem o monopólio sobrea revenda do papel usado refugado pelas agências eunidades do BB em Salvador, o que proporciona umareceita extra de cerca de R$ 4,5 mil por mês. O volun-tário Israel Vieira, coordenador do projeto, aproveitapara sugerir que os comitês de outras capitais sigamo exemplo de Salvador.

Todos os meses, 800 voluntários doam entre 5 e15 reais, debitados em suas contas correntes. Ao re-ceber o Troféu Betinho e o cheque de R$ 1.000,00pelo nono lugar no IV Prêmio Cidadania, Israel Vieiranão escondeu a satisfação. “Para os funcionários quecolaboram, este Prêmio tem um grande valor simbóli-co. É o reconhecimento do esforço pessoal de cadavoluntário”, declarou. Vieira ressaltou que o prêmiotambém contribui para renovar as energias das lide-ranças que estão à frente do comitê.

Nair Soares Bastos chegou a Osório, no litoral Gaú-cho, em 73, para trabalhar. Viúva, mãe de dois filhos, adoméstica que estudou até a 6o série do ensino funda-mental, construiu, em poucos anos, um império. Orga-nizou os catadores de papel da cidade, formou umapequena empresa de prestação de serviços para dis-putar licitações, e capacitou-se para alfabetizar adul-tos, usando a sala da própria casa como sala de aula.

Com o respeito conseguido, Dona Nair recebeu oapoio do Comitê Lagoa Viva, formado por funcionáriosdo BB em Osório. Nascia daí o projeto “Brava Guer-reira”, premiado em décimo lugar pela ANABB. Hoje, oprojeto possui dez turmas de alfabetização de adultos,quatro telecentros – estações digitais equipadas comcomputadores, onde crianças e adultos aprendeminformática e recebem capacitação profissional –, alémde hortas comunitárias, nos três bairros mais pobresda periferia de Osório e em 13 comunidades rurais.

O Comitê Lagoa Viva surgiu em 99, a partir do fe-chamento de uma agroindústria na região. Para suprira necessidade das famílias desempregadas, um grupode funcionários do BB passou a montar módulos deprodução na área rural. “Reunimos algumas famílias ecada grupo passou a fabricar um tipo de alimento or-gânico”, conta Leonel Wagner, coordenador do comitê.Hoje, 80 famílias tiram o seu sustento em 12 módulosde produção de doces, rapaduras, pães e biscoitos.

Os voluntários de Osório dividiram os R$ 1.000,00do Prêmio Cidadania entre as 32 escolas públicas ca-dastradas no comitê.

O conselheiro José Branisso confere o 9º lugar ao Comitê de Ci-dadania de Salvador, coordenado por Israel Vieira

Daniel de Souza e o deputado distrital Augusto Carvalho, conse-lheiro da ANABB, na entrega do prêmio a Leonel Wagner

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CONTATO: (71) 3320.7199 - [email protected] CONTATO: (51) 3373.1860 - [email protected]

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Abaixo aviolência

A comissão julgadora sugeriu e a Diretoria daANABB acatou a indicação de uma Mensão Hon-rosa para o “Projeto Cidadania – Ler, Exercitar e Brin-car”. Trata-se da iniciativa de uma única pessoa, aprofessora de português e moradora de Foz do Iguaçu(PR), Marelise Catarina Kerber Betto. Com muita dispo-sição, a paranaense transformou a realidade da co-munidade onde está localizada a Escola J.K. de Olivei-ra, que atende os bairros Jardim das Flores, JardimVenâncio, Jardim Morinitas 1 e Morinitas 2 – estes doisúltimos antigas favelas. “Até isso conseguimos, eliminaro estigma de favelados que tinham os moradores des-sas duas regiões”, afirma Marelise.

Com uma carga horária de 50 horas semanais, aprofessora encontra tempo livre para cuidar dos seusalunos. Com atividades extracurriculares para 320 es-tudantes do ensino médio, da 6a à 8a série, ela ocupao tempo dos alunos com rodas de leitura e escrita, ar-tes cênicas, dança, desenho, música, teatro e oficinasde meio ambiente. “Começamos plantando 8.500 mu-das de pinheiros em 98”, lembra Marelise.

O trabalho evita que os adolescentes se envolvamcom drogas, fumo e com o álcool. Os resultados sãoestatísticos. “Depois de anos figurando nas páginaspoliciais, nossa escola é a que tem os menores índicesde violência da cidade”, orgulha-se Marelise. MareliseBetto voltou de Brasília com um cheque de R$1.000,00. Para quem toca o projeto praticamente sozi-nha, o prêmio teve um valor especial. “Essa mençãohonrosa valeu muito mais que um primeiro lugar”, diz.

No período de 20 meses, entre março de2004 a agosto de 2005, o Programa Brasil SemFome recebeu 5.714 doações, no valor total deR$ 295,7 mil. Para cada R$ 50,00, os doadoresganharam uma camiseta com a logomarca doprograma. Ao mesmo tempo, a ANABB repassouR$ 117,7 mil para projetos de 19 comitês de soli-dariedade e cidadania em todo o País. No fim deagosto, o programa dispunha ainda de R$ 120,2mil para financiar novos projetos.

O quadro abaixo apresenta um demonstrati-vo financeiro do Programa Brasil Sem Fome nes-se período. Ao divulgar este balanço sintético, aANABB reitera o compromisso com a transparên-cia na gestão dos recursos doados pelos associa-dos e colaboradores. Graças às milhares de con-tribuições, o Programa Brasil Sem Fome estácompletando 13 anos tendo apoiado, sem inter-rupção, centenas de projetos desenvolvidos peloscomitês de funcionários do Banco do Brasil.

5.714 DOAÇÕES RECEBIDAS via boleto: R$ 295.753,81 (+)Renda de aplicações financeiras: R$ 25.915,75 (+)Outras doações: R$ 3.334,18 (+)TOTAL RECEITAS: R$ 325.003,74 (+)

Financiamento de projetos (19 Comitês): R$ 117.731,45 (-)Despesas com tarifas bancárias (boletos): R$ 11.373,11 (-)Despesas com banners: R$ 2.809,50 (-)Despesas com camisetas para os doadores: R$ 72.800,00 (-)

TOTAL DE DESEMBOLSOS: R$ 204.714,06 (-)

SALDO DISPONÍVEL - NOVOS PROJETOS: R$ 120.289,68 (*)

PRESTAÇÃO DE CONTAS:Brasil Sem Fome

A professora Marelise Betto com o Troféu Betinho não esconde aalegria

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CONTATO: (45) 3527.5427 - [email protected]

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“Vivemos uma grave crise política no País. Háquem acredite que toda crise tem um lado bom, éuma oportunidade para crescer. Não concordo quenenhuma crise seja boa. O que é bom, o que per-manece são as boas idéias e os bons exemplos. Pre-miar os bons exemplos é uma forma de incentivarsua continuidade, para que possam ser multiplica-dos”, declarou Valmir Camilo, presidente da ANABB,ao se dirigir aos participantes da solenidade depremiação do IV Prêmio Cidadania.

Fazendo uma referência especial ao Bispo DomMauro Morelli, homenageado na quarta edição doPrêmio Cidadania Herbet de Souza e “exemplo deabnegação e de dedicação aos mais necessitados”,Camilo defendeu soluções simples e gestos concre-tos para melhorar a vida dos brasileiros que vivemem situação de pobreza e exclusão. “Muitas vezes agente perde grandes oportunidades de fazer algotentando ‘inventar a roda’. O Programa Brasil SemFome e o Prêmio Cidadania são formados por idéiassimples, que já ajudaram a formar mais de 2.200Comitês de Solidariedade e Cidadania em todo oPaís”, destacou o presidente da ANABB.

Segundo ele, uma das principais razões do su-cesso da iniciativa é incentivar a organização de co-mitês locais, que conhecem as carências das comu-nidades nas quais estão inseridos. “A filosofia do Pro-grama Brasil Sem Fome é que os recursos devem sergerados, distribuídos e aplicados nas comunidades”,enfatizou Camilo. Ele lembrou que quando a iniciati-va foi lançada foram vendidas mais de 300 mil cami-setas, o que proporcionou uma arrecadação de cer-ca de R$ 800 mil, inteiramente destinados aos Comi-tês de Solidariedade e Cidadania.

MANTER A CHAMAO Prêmio Cidadania foi instituído pela ANABB

com o propósito de manter vivo o legado de Betinho.

“Sabemos que somospassageiros à frentedesta Instituição. Que-remos que os que vie-rem depois de nós re-conheçam e dêemcontinuidade a essetrabalho. Toda vez queparticipamos de umasolenidade como esta,ao mesmo tempo emque reconhecemos eprestamos homena-gem ao trabalho doscolegas dos Comitêsde Solidariedade e Ci-dadania, é uma oportunidade de mostrar aquiloque deve ficar na vida da gente,” declarou Camilode improviso. E completou: “Não está no estatutoda ANABB ter essa vertente de ação contra afome. É um pouquinho a mais que a nossa Asso-ciação faz por um país mais justo”.

Ele aproveitou para reiterar que a Diretoria daANABB hipoteca todo apoio político ao projeto, elo-giando o trabalho de coordenação do Prêmio Cida-dania realizado pelo diretor de Relações Funcionais,Aposentadoria e Previdência, Douglas Scortegagna.Mas reservou as palavras mais calorosas de agra-decimento aos comitês e “a todos aqueles que con-tinuam acreditando neste projeto. O mais impor-tante é a contribuição dos associados.” Empolga-do, revelou que o Programa Brasil Sem Fome acabade receber uma vultosa doação anônima, de umaposentado do Rio de Janeiro. Esta doação forma-rá um fundo especial para financiar projetos de re-cuperação de presidiários, com a implantação decursos profissionalizantes, conforme desejo mani-festado pelo doador.

O presidente da ANABB manifestou, ainda, odesejo de que o Prêmio passe a ser realizado todosos anos, como forma de aumentar o incentivo àsações de cidadania. A mudança ainda está em es-tudo. De qualquer modo, a Associação pretendeintensificar o trabalho de divulgação do ProgramaBrasil Sem Fome e dos projetos desenvolvidos pelosComitês de Solidariedade e Cidadania. “Mensal-mente entram novos recursos de doação paraatender outros projetos inscritos”, revelou Camilo.

VALMIR CAMILO: idéias simplespodem mudar a realidade

O trabalhonão podeparar

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Dr. Sebastião Variane, gerente daCentral 0800 da Cassi, costuma dizer:“Todos nós temos um encontro marca-do com a Cassi e a gente espera queesse encontro demore o máximo detempo possível para acontecer, masque, quando isso se der, a Cassi estejaforte e saudável para nos atender.”

Lembrei-me dessa frase ao acom-panhar mensagens de alguns colegas que criaram ume-group na Internet ([email protected]).Participo das discussões com a preocupação de co-nhecer os anseios dos associados, com o objetivo deajudar a esclarecer algum assunto sobre a Caixa deAssistência. Lendo as mensagens daquele interessa-do e inquieto grupo percebi que a Previ aparece combem mais registros do que a Cassi.

Constato que a Previ e seus R$ 9 bilhões de su-perávit em 2004 despertam muito mais interesse doque a Cassi e seus sucessivos déficits operacionaisno Plano de Associados (R$ 44 milhões em 2004 -números que nos assustam cada vez mais já queas reservas atingem níveis muito preocupantes).Discutir Opportunity, participação em conselhos deempresas, CPI e Teles desperta mais atenção do quedebater a delicada situação da Cassi. Esse aparenteparadoxo merece reflexão.

Talvez seja muita pretensão estudar isso empoucas linhas, mas vou arriscar algumas ilações. Aprimeira delas é que as notícias apimentadas, eiva-das de suspeitas, são muito mais atrativas do que asmensagens que buscam conscientizar para uma si-tuação grave, mas sem escândalo associado.

Outra dedução é que a grande maioria parecevalorizar mais o ganho da aposentadoria do que agarantia da proteção à saúde. Curioso é que,questionadas sobre o que mais valorizam, as pes-soas certamente dirão que é a saúde. Só que, naprática, é possível concluir que só pensamos na nos-

Encontro marcado com a Cassi* José Antônio Diniz de Oliveira

sa saúde quando ela nos falta.Pode ser também que o interesse

menor pela Cassi se deva a uma comu-nicação imperfeita. Essa alternativa temgrande chance de ser verdadeira.

Reflexões à parte, vou concluir di-zendo da insensibilidade em relação àCassi da parte, não dos associados,mas do Banco do Brasil. Em encarte de12 páginas, veiculado no último númeroda Revista BB.Com.Você, a área de Ges-tão de Pessoas gastou 12 linhas para fa-lar do problema da Cassi. No artigo,

diz que “o Banco está desenvolvendo estudos paraenfrentar a questão estrutural do Plano de Associa-dos, buscando o equilíbrio entre arrecadação e des-pesas, ou seja, a sustentabilidade do plano e da pró-pria Cassi. Esses estudos levam em conta a possibili-dade de revisão dos valores pagos pelos funcionári-os e pelo BB. Além disso, a adoção de qualquer me-dida... será precedida de ampla discussão entre osassociados.”

Depois de 2 anos e meio buscando sensibilizaros representantes da área de gestão de pessoaspara a dramática situação das finanças da Cassi, seacena para a “revisão dos valores pagos pelos fun-cionários e pelo BB”. E o máximo que oferecem é“uma ampla discussão entre os associados”. É muitopouco, convenhamos! E torna apropriada a epígrafedeste artigo, de autoria do célebre Barão de Itararé.É com grande decepção (sem humor, portanto) queregistro isso, me valendo da frase um pouco modifi-cada (misturando o Barão de Itararé com a Lei deMurphy): “De onde mais esperávamos, daí é quenão saiu nada mesmo!”.

Nem por isso vamos esmorecer na busca de saí-das para a Cassi, mesmo pela via judicial, ainda queo ideal fosse o caminho da negociação, a partir deuma maior sensibilidade por parte dos gestores doBanco.

* José Antônio Diniz de Oliveira é diretor (eleito)de Produtos e Atendimento a Clientes da Cassi

“De onde menos se espera, daíé que não sai nada.”

Barão de Itararé

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A opinião expressa bem a paixão doparaibano Eduardo Cavalcanti de Mello, 35 anos,pela coleção, um dos mais amplos arquivos de do-cumentos bancários e financeiros do País. São 20álbuns nos quais estão organizados 15 mil itensque mostram, de forma peculiar, um pouco daevolução da história bancária do Brasil e de ou-tros países desde o século 18. Auditor fiscal, Mellocoleciona tudo o que diga respeito a transaçõesbancárias. Tem recibos, ordens de pagamento, le-tras de câmbio, notas promissórias de bancos, có-pias de ações de bancos nacionais e estrangeirose cheques, muitos cheques, que, segundo ele,formam a sua “coleção mestra”. “Tenho docu-mentos de todo o Brasil e de outros 130 países”,orgulha-se.

Uma das raridades da coleção data de 1773.Trata-se de uma ordem de pagamento emitidapela administração geral de diamantes da entãoVila Rica, hoje Ouro Preto, e naquela época capi-tal da Província de Minas Gerais. Mello explicaque a ordem de pagamento era uma espécie de

Papéis carose raros

recibo pelos diamantes e pepitas de ouro en-tregues ao governo. “Esses recibos circula-vam como dinheiro na época”, explica. Acoleção inclui também promissórias do Im-pério do ano de 1830 e excentricidadesestrangeiras como alguns dos primeiros

cheques emitidos na Inglaterra, em 1789;cheques do banco francês Crédite Lion, datadosde 1800; e até um cheque do Bank of Tonga, umapequena ilha situada no meio do Pacífico.

Boa parte da coleção do auditor fiscal é de-dicada aos documentos de transações bancáriasemitidos pelo Banco do Brasil e que permitem acom-panhar um pouco a história da primeira instituiçãofinanceira criada no País. Mello tem notas emitidaspelo primeiro Banco do Brasil, criado em 1809, echeques a partir de 1880. Ele lembra que ao longodo século 19 e início do século 20 existiram váriosBBs. Em 1853, por exemplo, o Visconde de Mauácriou um Banco do Brasil, que foi reformulado doisanos depois. O último a ser oficialmente criado,segundo ele, foi em 1906 com o título de Bancoda República. De todos eles Mello guarda cédulas.“As do banco criado pelo Visconde de Mauá sãoas mais raras e difí-ceis de conseguir”,conta o colecio-nador. A coleçãotem até uma dasprimeiras ca-dernetas deconta corren-

Papéis carose raros“Coleção é um ser vivo, que vive mudando.É preciso querer sempre achar mais coisas.Se a coleção vai para um museu, ela passaa ser conservada no formol.”

por Cristiana Nepomuceno Fotos: divulgação

“Coleção é um ser vivo, que vive mudando.É preciso querer sempre achar mais coisas.Se a coleção vai para um museu, ela passaa ser conservada no formol.”

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te abertas, no início da década de 60, pela agên-cia do Banco do Brasil na Argentina. Mello tam-bém tem exemplares de cheques emitidos pelasagências do Banco nos quatro cantos do mundo,como Japão, Inglaterra, França e cidades da Ásiae África.

O ofício de colecionador começou cedo. Aosseis anos, Eduardo Mello já juntava selos. Maistarde, adolescente, passou a colecionar carteirasde cigarros e, depois, cédulas e moedas. E nãoparou mais. Até hoje, guarda as coleções antigas,mas sua preferida é a de cheques e documentosbancários. É ele quem cuida pessoalmente doacervo, abrigado no escritório da casa onde moraem João Pessoa. Por enquanto, é o único da famí-lia que tem como hobby guardar documentos ra-ros e antigos, mas tudo indica que a tradição vaicontinuar. “Meu filho de seis anos já começa aguardar coisas do mesmo jeito que eu fazia. Elese interessa por alguns documentos da coleção”,revela.

Para renovar oacervo e garimpar rari-dades, o auditor fiscaltem a internet comopoderosa aliada. Tam-bém mantém contatocom colecionadoresde várias partes doBrasil e do mundo,aficcionados comoele por um docu-mento bancário.Mello é membro daBritish Banking

History Society, antiga sociedade de colecio-nadores de cheques da Inglaterra. “Conheço

gente no Brasil todo e tenho vários contatos láfora. Sempre que aparece uma novidade, meavisam, é tudo na base da troca”, explica.

Como todo colecionador que se preze, elenão titubeia quando precisa investir dinheiropara obter aquele item que vai tornar sua co-leção ainda mais especial, mas garante quenunca fez uma loucura financeira para com-prar um documento raro. Para conseguir a

ordem de pagamento da antiga Vila Rica, porexemplo, ele pagou cerca de R$ 300, mas já che-gou a dar R$ 3 mil por cédulas da década de 50.

Para Eduardo Mello, uma coleção nunca che-ga ao fim. Há sempre um documento ou um obje-to raro que vale a pena ser perseguido. Agora,

Cheques edocumentos do

século XVIIIpovoam a coleção

de Eduardo, quecontinua

“perseguindo”raridades do

mundo financeiro

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por exemplo, ele procura letras de câmbio emi-tidas pelo governo holandês, durante o domí-nio no Nordeste brasileiro, que registraram em-préstimos feitos aos senhores de engenho. “Éum buraco na minha coleção. Não sobrou ne-nhum desses registros de crédito no Brasil.Talvez, em função do nosso clima tropical,eles tenham se perdido, mas pode ser queeles ainda existam na Holanda”, diz semperder a esperança. Mello garante quetambém faltam à sua coleção cheques deoutros bancos brasileiros.

DOCUMENTO HISTÓRICOA paixão pelos documentos bancári-

os permitiu que o auditor acompanhasseas mudanças na história do sistema finan-ceiro do Brasil. As várias cédulas de quedispõe são provas dos incontáveis planoseconômicos que vigoraram no País. “O tem-po passa muito rápido, se você não guardaum documento, rapidamente ele desaparece”, en-sina. Ele lembra, por exemplo, que os pequenosbancos e os bancos re-gionais praticamente fo-ram varridos do mapa eagora prevalecem ape-nas grandes instituiçõesfinanceiras, sejam nacio-nais ou estrangeiras. Se-gundo o auditor fiscal,nos Estados Unidos ain-da existem pequenos bancos regionais que aju-dam no desenvolvimento do interior do país. “Esse

estímulo aos bancos regionais foi algo que o regi-me militar fez e depois desapareceu. Os governosrecentes têm tentado reanimar as cooperativas de

crédito, que agora cumprem essepapel”, explica.

Apesar de ainda não quererdividir as curiosidades de sua co-leção com o público, entregan-do-a, por exemplo, a um museu,Mello está disposto a comparti-lhar seu conhecimento sobre ahistória dos bancos, tanto que

escreve seu primeiro livro sobre o tema, com a his-tória dos bancos da Paraíba. Mas o colecionadornão deve parar por aí. Além de contar com a pró-pria coleção, ele busca informações nos vários li-vros e documentos que tratam da história dosbancos. “Possuo históricos dos mais de 450 ban-cos brasileiros dos quais tenho cheques e penso,no futuro, verter isso para um livro”, revela. Masgarante que o ofício de escritor não substituirá a

eterna busca por relíquias. E é por isso que fazum apelo para colecionadores comoele. “Estou aberto a trocar informações

para conseguir novas peças. O céu é olimite para a minha coleção”, garante.

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Contato: [email protected]

“Tenho históricos de mais de450 bancos. No futuro, querotransformar isso tudo em

livro.”

“Tenho históricos de mais de450 bancos. No futuro, querotransformar isso tudo em

livro.”

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BETINHO CHEGA ÀS TELAS EM 2006

“Morto em 9 de agosto de 1997, aos 61 anos, o sociólo-go Herbet José de Souza, o Betinho, se tornará persona-gem central de um filme, que deverá chegar aos cinemasem 2006. O filme, que será baseado na biografia deBetinho, não será sua primeira aparição das telas.Já está em cartaz um documentário sobre a saga dostrês irmãos Souza mais famosos do Brasil – Betinho, omais velho; Henfil, celebrado cartunista que morreu emjaneiro de 88 aos 43 anos; e Chico Mário, músicotalentoso, que morreu pouco mais de dois meses depoisdo irmão, aos 39 anos.Personalidades públicas, os irmãos Souza se tornaramsímbolos nacionais na luta contra a AIDS. Hemofílicos,foram vítimas de transfusões com sangue contaminado.Diagnosticado como portador do vírus HIV em 86,Betinho fundou a Associação Brasileira Interdisciplinar deAids – Abia –, organização não-governamental que setornaria referência na luta por maior controle dos bancosde sangue e contra a discriminação. O documentário ex-plora a militância sócio-cultural e a tragédia que inter-rompeu precocemente a vida dos irmãos Souza.“Três irmãos de sangue” foi dirigido por Ângela PatríciaReyniger e por Marcos Souza, filho do músico e composi-tor Chico Mário. O lançamento faz parte do ciclo de ho-menagens ao sociólogo Herbet de Souza, que neste anoestaria completando 70 anos. Marcos Souza também as-sina a trilha sonora.O documentário e diversos lançamentos literários sobrea vida e a obra de Betinho confirmam que sua presençacontinua viva no imaginário nacional.

A ANABB entregou à Cassi, em 18 de outubro, o abaixo-as-sinado exigindo que a Caixa de Assistência faça uma con-sulta ao corpo social para autorizar a abertura de processojudicial contra o Banco do Brasil. A proposta da ação é co-brar do BB que volte a contribuir com 4,5% para a Caixa dePrevidência para todos os funcionários. Por uma decisãounilateral, desde 1998 o Banco paga contribuições de ape-nas 3% para os funcionários admitidos a partir dessa data,contribuindo para a situação deficitária em que o caixa daCassi se encontra hoje. Foram obtidas 9.939 assinaturas,número bem superior às 4.300 (3% do corpo social) que sefaziam necessárias segundo o Estatuto da Entidade. A con-sulta deve ser concluída em um mês. A ANABB vai pagar ascustas processuais de uma possível ação judicial.

A AMÉRICA NASUA ORIGEMA exposição “Por Ti Amé-rica”, maior mostra dascivilizações pré-colombi-anas do continente ameri-cano, traz objetos entrejóias, cerâmicas e livros(sim, eles já existiam e sechamavam códices) demais de 15 mil anos – ummosaico cultural que ca-racterizava a América an-tes da chegada de

Colombo. Na exposição que fica até 29 de janeiro no Cen-tro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, 52 povosestão representados através de 350 peças cedidas por ins-tituições de sete países – Brasil, Argentina, Chile, Colômbia,Guatemala, México e Peru. Simultaneamente à mostra, tam-bém ocorrem eventos performáticos itinerantes que utilizamrecursos cênicos e musicais . As apresentações exploram ri-tos e lendas do cotidiano dos povos da América.

ABAIXO-ASSINADO PEDEPROVIDÊNCIAS À CASSIABAIXO-ASSINADO PEDEPROVIDÊNCIAS À CASSI

RECADASTRAMENTO DEAPOSENTADOSA partir de novembro, beneficiários da Previdência Social deve-rão fazer seu recadastramento no INSS. O censo busca atualizaros dados e o endereço dos aposentados e pensionistas que re-cebem pela Previdência e será importante para detectar frau-des. Caso o aposentado não seja localizado, seu benefícioserá cancelado. Os beneficiários vão receber um aviso, pormeio do caixa eletrônico, para comparecerem à agência ban-cária na qual têm conta, munidos de CPF e identidade. A orien-tação para os associados da Previ é esperar o INSS procurá-los. Se forem notificados por meio do caixa automático, de-vem seguir as orientações válidas para os outros aposentados.

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ParcelaPrevi

* Cecília Garcez é diretora (representante dos elei-tos) de Planejamento da Previ

* Cecília Garcez

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Neste mês, assisti a umaapresentação da Centrus (Fundode Pensão do Banco Central) e fi-quei impressionada com a rees-truturação que eles fizeram a par-tir de 2001. Não dá para comparar com a Previ,pois o número de associados é bem menor e é umplano maduro, ou seja, todos os associados estãoaposentados, mas a forma como operaram as mu-danças, inclusive de cultura, é que nos faz refletir.O que impressiona é que, pela segunda vez, ascontribuições serão reduzidas e, agora, estão fa-zendo uma proposta de pagar bônus para os as-sociados todo ano, além dos benefícios previstos.

Hoje, a Centrus tem 38% de renda variável,composta apenas de ações que compõem o índiceBovespa, o que significa uma carteira com ótimasempresas e com boa liquidez. Há ainda uma boaparte em renda fixa, outra parte pequena em imó-veis e operações com participantes. O conselhotodo é composto de associados (aposentados) queparticipam ativamente da gestão, porém, os exe-cutivos são selecionados no mercado. É o conse-lho quem monitora se os recursos estão sendobem empregados e a estratégia a adotar no futu-ro. A palavra de ordem da fundação é liquidez, jáque todos os associados estão recebendo benefí-cios. Os dividendos anuais que são recebidos desuas aplicações em renda variável pagam metadedos benefícios anuais. Eles tinham investimentosem 70 empresas e reduziram para 25 boas empre-sas. Quer dizer, livraram-se dos problemas e fica-ram com os “filés”.

Não consigo deixar de pensar nesse modeloe em como seria a situação da Previ se tivéssemos

em nossa carteira de rendavariável apenas ações de em-presas que compõem o índiceBovespa. Se, com tantos“micos” e tantos ativos ruinsconseguimos obter superávitsfantásticos, o que aconteceriase não fôssemos vítimas demás administrações passadasque impuseram à Previ o in-vestimento em ativos semliquidez e sem retorno? Poderí-amos dizer que os superávitsseriam muito maiores, e aívêm outras duas perguntas:Se a carteira estivesse sanea-da e os superávits fossem mui-to maiores, não seria porque

o plano está desequilibrado? E esse desequilíbrionão seria por conta de benefícios calculados a me-nor ou pelas contribuições calculadas a maior?

Pois é, meus amigos, a resposta todos sabe-mos. Volto a repetir, o Plano de Benefícios 1 écomposto de vários grupos, apesar de ser um pla-no solidário, e há um grupo (os que se aposenta-ram ou irão se aposentar depois de 1998) queestá amargando e sentindo na pele tudo isso. Aredução da Parcela Previ proposta pelos sindicatose pelo Banco minimizará o problema, mas não vairesolvê-lo. Faço mais uma pergunta: Por que, dian-te de tanto superávit e de tantos problemas commaus investimentos passados, esse grupo tem depagar a conta e continuar arcando sozinho com orisco de que no futuro ocorra novo descasamentoentre a Parcela Previ e o INSS?

Vocês têm de concordar que, apesar de se-rem perguntas fáceis de responder, o patrocina-dor – o Banco do Brasil – se cala e não sabemosaté quando vamos conviver com essas discrepân-cias e correndo o risco de ficarmos novamente aver navios – apesar de superávits crescentes econstantes.

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Restarápedrasobrepedra?

Emílio Rodrigues é diretor de Relações Externas eParlamentares da ANABB

Restarápedrasobrepedra?

Começo a minha reflexão com o pensamentono outro lado do mundo, mais precisamente, naChina. Temos notícias de que lá o crescimento éacelerado. O país cresce quase 10% ao ano. En-quanto outros analistas dizem que, em vinteanos, o número de chineses será duas vezes su-perior ao de chinesas (isto é grave!). Chego à Eu-ropa, onde dizem que os habitantes estão enve-lhecendo. Estudos afirmam que o controle da na-talidade inibiu a população e muitos preferem cri-ar cachorros a ter filhos. Na América do Norte,vejo mudanças climáticas que preocupam. Algunsafirmam que “tem a ver com a revolta da nature-za”. Retornando ao nosso querido Brasil, há fogoe seca na Amazônia e degelo nos pólos. Enfim, asnotícias vão e voltam noite e dia, o mundo nãodorme.

No Congresso Nacional, a grande maioriaestá sob suspeita e a crise se arrasta, interminá-vel. As CPIs já fazem parte do cotidiano parla-mentar e as denúncias entraram numa fase quenão surpreendem mais. Nos corredores do Poderjá começaram as campanhas para as eleiçõesmajoritárias, a única esperança de renovação.Até sobre o nosso festejado futebol, as nuvens es-tão pesadas depois que a máfia do apito foi des-coberta.

Nós, bancários, saímos de uma campanhacurta e inacabada. As mesas de negociação es-pecíficas continuam, as discussões permaneceme a pressão é importante e deve continuar paranão cair no esquecimento. Por falar em esqueci-

mento, vocês se lembramda reposição das perdas?Uma das mesas saiuaplaudindo o resultado al-cançado nessa campanha,mas é preciso saber se asatisfação é plena. Aí en-tra a discussão sobre mesaúnica ou separada, queprecisa envolver o funcio-nalismo.

Em todos os setores einstituições há reflexõespertinentes e pesa sobretodos a responsabilidadede resolver questões, algu-

mas simples, outras mais complexas. E incluo,neste segundo rol, controle de natalidade, quei-madas, secas, degelos glaciais e envelhecimentoda população da terra. Restará pedra sobre pe-dra? Vamos aprendendo muitas lições e as pe-dras acabam se movimentando, apesar de lenta-mente. Algumas vão ruir, causando-nos a impres-são de “terra arrasada”, mas não é isso. Cadamovimento executado pelos indivíduos um dia re-flete no coletivo. O jogo está montado.

Jogos e pedras são brincadeiras que mentesprivilegiadas executam para demonstrar o quan-to é importante jogar. Mas a sociedade cobraque o jogo seja leal e, mesmo nas diversidadesde pensamentos, devemos estar atentos paraprincípios e fundamentos éticos. Teremos algunscenários aparentemente arrasados, mas serãocenários e não idéias´. Tentaremos, assim,rearranjar as pedras dos nossos sonhos e ideais,reconstruir estruturas. Lembrando que o melhorjogo será sempre aquele, fruto da confiança e dorespeito ao todo. Devemos, sim, continuar acre-ditando nas instituições. Vamos jogar o bomjogo, o jogo da responsabilidade, em que todosganham. Vamos colocar “pedra sobre pedra”, naconstrução de novos rumos na política, na rela-ção capital e trabalho e na reforma das institui-ções.