O Padre E A MoçA, Carlos Drummond De Andrade

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O Padre e a Moça” Antologia Poética de Carlos Drummond de Andrade Literatura Brasileira Literaturas de Língua Portuguesa 12º ano Docente: Maria Isabel Cosme Ferreira Alexandre e Helena, 12º H Escola Secundária D. Afonso Henriques Ano Lectivo 2009/2010

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“O Padre e a Moça”Antologia Poética de Carlos Drummond de Andrade

Literatura Brasileira

Literaturas de Língua Portuguesa 12º anoDocente: Maria Isabel Cosme FerreiraAlexandre e Helena, 12º H

Escola Secundária D. Afonso HenriquesAno Lectivo 2009/2010

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Introdução

Em mais um trabalho da disciplina de Literaturas de Língua Portuguesa vamos, desta vez, tratar um poema do autor brasileiro Carlos Drummond de Andrade: “o Padre e a Moça”. Um dos poemas mais carismáticos de Carlos Drummond tendo sido adaptado para o cinema em 1965. Vamos explorar a vertente religiosa do povo brasileiro e a povoação de Minas Gerais.

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Carlos Drummond de Andrade

Nasceu em Minas Gerais, numa cidade cuja memória viria a permear parte de sua obra, Itabira. Posteriormente, foi estudar em Belo Horizonte e Nova Friburgo com os Jesuítas no colégio Anchieta. Formado em farmácia, com Emílio Moura e outros companheiros, fundou "A Revista", para divulgar o modernismo no Brasil. Durante a maior parte da sua vida foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguido até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua única filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade. Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crónicas.

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O BrasilCapital BrasíliaCidade mais populosa São PauloLíngua oficial Português Governo República federativa

presidencialista Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Vice-presidente José Alencar Gomes da SilvaPresidente da Câmara dos Deputados Michel Elias Temer LuliaPresidente do Senado Federal José Sarney de Araújo CostaPresidente do Supremo Tribunal Federal

(STF) Gilmar Ferreira Mendes

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O Brasil e a Religião

O Brasil é um dos países do mundo com maior percentagem de Cristãos-Católicos. Vivem e assumem as suas crenças de forma muito aberta e franca, aplicando várias normas teológico-morais no quotidiano. Rosto Visível desta religiosidade declarada é a estátua do Cristo do Corcovado ou Cristo-Rei um dos maiores do mundo, o que deixa os brasileiros muito orgulhosos da sua fé.

“Adveniat Regnum Tuum”

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Minas Gerais e as Revoltas Coloniais - a inconfidência mineira

Desde o início da colonização portuguesa o Brasil foi palco de revoltas, da resistência das nações indígenas à luta colectiva dos africanos escravizados por meio da organização dos quilombos, representada principalmente pelo Quilombo dos Palmares, que lidou com os ataques da metrópole desde sua fundação, em 1580, até seu fim, com o assassinato de Zumbi.

No final do século XVII, a insatisfação dos colonos acarreta no surgimento dos primeiros movimentos contra a Coroa Portuguesa. Parte dessas rebeliões foi gerada por insatisfação económica, como foi o caso da Revolta de Beckman, a Guerra dos Mascates e a Guerra dos Emboabas, conflito entre 1707 e 1709 que colocou em oposição os bandeirantes paulistas e todos os demais exploradores, denominados por aqueles de "emboabas", quanto à posse das Minas Gerais. Porém, dois movimentos ficaram marcados por terem a intenção de proclamar a independência: a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana.

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A inconfidência mineira

A Inconfidência Mineira foi um movimento que partiu da elite de Minas Gerais. Com a decadência da mineração na segunda metade do século XVIII, tornou-se difícil pagar os impostos exigidos pela Coroa Portuguesa. Além do mais, o governo português pretendia promulgar a derrama, um imposto que exigia que toda a população, inclusive quem não fosse mineiro, contribuísse com a arrecadação de 20% do valor do ouro retirado. Os colonos se revoltaram e passaram a conspirar contra Portugal.

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Em Vila Rica (actual Ouro Preto), participavam do grupo, entre outros, os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás António Gonzaga, os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Francisco António de Oliveira Lopes, o padre Rolim, o cónego Luís Vieira da Silva, o minerador Inácio José de Alvarenga Peixoto e alferes Joaquim José da Silva Xavier, apelidado Tiradentes. A conspiração pretendia eliminar a dominação portuguesa e criar um país livre. A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, inspirados pelas ideias iluministas da França e da recente independência norte-americana. Traídos por Joaquim Silvério dos Reis, que delatou os inconfidentes para o governo, os líderes do movimento foram detidos e enviados para o Rio de Janeiro, onde responderam pelo crime de inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Em 21 de Abril de 1792, Tiradentes, de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por enforcamento. Sua cabeça foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi esquartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais. Era o cruel exemplo que ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder de Portugal.

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O Padre e a Moça

 A moça mostrava a coxa

A moça mostrava a coxa,a moça mostrava a nádega,só não mostrava aquilo– concha, berilo, esmeralda –que se entreabre, quatrifólio,e encerrra o gozo mais lauto,aquela zona hiperbórea,misto de mel e de asfalto,porta hermética nos gonzosde zonzos sentidos presos,ara sem sangue de ofícios,a moça não me mostrava.

                 " …

E torturando-me, e virgemno desvairado recatoque sucedia de chofreá visão dos seios claros,qua pulcra rosa pretacomo que se enovelava,crespa, intata, inacessível,abre-que-fecha-que-foge,e a fêmea, rindo, negavao que eu tanto lhe pedia,o que devia ser dadoe mais que dado, comido.Ai, que a moça me matavatornando-me assim a vidaesperança consumidano que, sombrio, faiscava.

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Roçava-lhe a perna. Os dedosdescobriam-lhe segredoslentos, curvos, animais,porém o maximo arcano,o todo esquivo, noturno,a tríplice chave de urna,essa a louca sonegava,não me daria nem nada.Antes nunca me acenasse.Viver não tinha propósito,andar perdera o sentido,o tempo não desatavanem vinha a morte render-meao luzir da estrela-d'alva,que nessa hora já primeira,violento, subia o enjoode fera presa no Zôo.

        Como lhe sabia a pele,em seu côncavo e convexo,em seu poro, em seu douradopêlo de ventre! mas sexoera segredo de Estado.Como a carne lhe sabiaa campo frio, orvalhado,onde uma cobra despertavai traçando seu desenhonum frêmito, lado a lado!Mas que perfume teriaa gruta invisa? que visgo,que estreitura, que doçume,que linha prístina, pura,me chamava, me fugia?Tudo a bela me ofertava,e que eu beijasse ou mordesse,fizesse sangue: fazia.

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Outras fontes, outras fomes,outros flancos: vasto mundo,e o esquecimento no fundo.Talvez que a moça hoje em dia...Talvez. O certo é que nunca.E se tanto se furtaracom tais fugas e arabescose tão surda teimosia,por que hoje se abriria?Por que viria ofertar-mequando a noite já vai fria,sua nívea rosa pretanunca por mim visitada,inacessível naveta?Ou nem teria naveta...

Mas seu púbis recusava.Na noite acesa, no dia,sua coxa se cerrava.Na praia, na ventania,quando mais eu insistia,sua coxa se apertava.Na mais erma hospedariafechada por dentro a aldrava,sua coxa se selava,se encerrava, se salvava,e quem disse que eu podiafazer dela minha escrava?De tanto esperar, porfiasem vislumbre de vitória,já seu corpo se delia,já se empana sua glória,já sou diverso daqueleque por dentro se rasgava,e não sei agora ao certose minha sede mais bravaera nela que pousava.

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Tema e Assunto

Tema: O Erotismo e o celibato.

Assunto: Neste poema o “eu” poético fala de um padre seduzido e encantado por uma “moça”, que por sua vez se retrai e demora a revelar-se, a “abrir-se para ele”. Assim a febre sexual do padre é interrompida pela castidade da moça e é assim durante todo o longo poema, constituindo o assunto que é tratado, numa linguagem fortemente metafórica com conotação sexual e erótica.

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Recursos Estilísticos

Anáfora: “A moça mostrava a coxa/a moça mostrava a nádega” (v. 1 e 2)

Enumeração: “concha, berilo, esmeralda” (v.4). “crespa, intacta, inacessível” (v.19)

Metáfora: “misto de mel e asfalto” (v.8)

Hipérbole: “e torturando-me” (v.13)

Aliteração: “abre-que-fecha-que-foge”

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Reflexão

Este poema de Carlos Drummond de Andrade serviu de inspiração para o filme “O Padre e a Moça” realizado em 1965 no Brasil. Um filme polémico surgido no ano de encerramento do 2º Concílio do Vaticano, de onde sairia o documento que autorizaria as celebrações na língua nativa, numa altura em que os mais conservadores viam com maus olhos a liberalização da vida sacerdotal. Este filme parece quase um “prenúncio daquilo que os padres poderiam fazer uma vez livres”. Mesmo para um país de maioria católica como o Brasil, este filme fez grande sucesso.

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Conclusão

Este poema foi um dos que mais gostamos de analisar até agora por ter uma temática muito interessante e fora da comum-poesia que estudamos até este ano. O padre e a moça é uma história que desperta corações e almas mais desatentas para os problemas do celibato e da sedução a que as criaturas celibatárias estão sujeitas.

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Fontes:

www.wikipedia.org/wiki/brasil www.filmesdoseculo.br Imagens do Google e fotogramas do

filme “O Padre e a Moça”.