O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL E O...

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EMELYN IZABELLE LEAL DA SILVA O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DE BEBÊS CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

EMELYN IZABELLE LEAL DA SILVA

O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL E O

DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DE BEBÊS

CURITIBA

2015

EMELYN IZABELLE LEAL DA SILVA

O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL E O

DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DE BEBÊS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Pedagogia, da Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, como requisito parcial para obtenção do título de Pedagoga. Professora Orientadora: Neyre Correia da Silva

CURITIBA

2015

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, por me dar sabedoria e

persistência em cada dia de minha vida e, principalmente, neste momento em que

concluo minha graduação, pois sem fé, certamente, eu não seria nada.

Agradeço a minha família, pois minha família é meu porto seguro. Espelho-

me muito em cada membro dela, desde a minha pequena Lívia, até naqueles que

por mais distantes que pareçam, em algum momento contribuíram para essa

jornada, pois todos acrescentaram muito em minha formação pessoal e me

incentivaram em minha formação profissional. Obrigada pelas orações, pelas

caronas, pela ajuda financeira e força emocional.

Ao meu noivo, pois sempre esteve ao meu lado, me dando animo e

encorajamento, me aguentando nos tempos difíceis, em que pensava que não daria

conta. Seu amor é minha força, minha luz e meu sorrir. Obrigada por acreditar em

mim sempre e por construir junto a mim o nosso futuro.

Às minhas colegas de curso, àquelas que desistiram dessa jornada

acadêmica, pois deixaram saudades. Mas, principalmente, às guerreiras que

chegaram até o fim, entre elas, as mais que especiais, as que deixaram de ser

colegas para se tornarem verdadeiras amigas, minhas anjas: Joelma, Vanessa e

Carla. Amizade para o resto da vida.

Aos professores, que contribuíram para minha formação, e conseguiram

lapidar minha mente para um novo mundo, com visões críticas sobre a real atuação

de um pedagogo e professor, além de contribuir imensamente para minha formação

intelectual pessoal e profissional. Em especial, à minha orientadora, Neyre Correia

da Silva, pois mesmo diante de tantos desafios em sua profissão e seu tempo

reduzido, assumiu o desafio de me orientar.

Por último, porém não menos importante agradeço à escola, que me acolheu

em seu corpo docente e me cedeu tempo e espaço para a realização da pesquisa

empírica. A toda equipe e às professoras, que permitiram a observação, que

trabalharam comigo e me ensinaram. Muito obrigada a Paty, por ser uma ótima

companhia de todas as manhãs, e aos pais que confiam a nós seus bens mais

preciosos, pois eles são a razão do nosso magistério.

Quando olho uma criança ela me inspira

dois sentimentos, ternura pelo que é, e

respeito pelo que posso ser.

(PIAGET, 1969)

RESUMO

Este trabalho tem como tema o papel do professor de educação infantil e o desenvolvimento integral de bebês. Como objetivo geral apresenta-se: analisar o papel que o professor vem desempenhando em relação ao desenvolvimento integral de crianças de zero a um ano e meio, em um Centro particular de Educação Infantil, na cidade de Curitiba-PR. E, como objetivos específicos temos: caracterizar, segundo Wallon, aspectos importantes que marcam o desenvolvimento de crianças de 0 a 2 anos, que é a faixa etária da população-alvo de pesquisa; observar a atuação do professor no trabalho com bebês, identificando pontos que podem estar favorecendo (ou desfavorecendo) o desenvolvimento integral dessas crianças; analisar como o ambiente, os brinquedos e materiais pedagógicos utilizados pelo professor são organizados, e como esta organização pode estar interferindo no desenvolvimento das crianças participantes da pesquisa. Como metodologia de pesquisa realiza-se observação participante com um grupo de 7 bebês, de zero a um ano e três meses, focalizando especialmente dois deles, mais a professora e a educadora responsáveis pelo grupo. Com base na análise dos dados obtidos é possível afirmar que, de fato, o professor contribui significativamente não apenas no cuidar das necessidades do bebê, o que é, quando realizado de uma forma acolhedora, afetuosa e complementar, bem importante, mas também colabora no educar, pois possibilita a vivência e, consequentemente, a evolução social e cultural dos bebês, contemplando assim diversas dimensões do seu desenvolvimento, de modo integral e com maior qualidade. Palavras-chave: Atuação do Professor; Bebês; Desenvolvimento Integral; Educação Infantil.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

2 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ................................................... 11

2.1 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E AFETIVO DE 0 A 2 ANOS SEGUNDO

PIAGET ..................................................................................................................... 11

2.2 O DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES

SEGUNDO VYGOTSKY ........................................................................................... 13

3 O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA SEGUNDO A PSICOGENÉTICA DE

HENRI WALLON ...................................................................................................... 16

3.1 A BIOGRAFIA DE HENRI WALLON ................................................................... 16

3.2 PRINCIPAIS PRESSUPOSTOS DA TEORIA WALLONIANA ............................. 19

3.3 AS ETAPAS DA CONSTRUÇÃO DO EU SEGUNDO WALLON ......................... 21

4 A EDUCAÇÃO INFANTIL E O TRABALHO COM BEBÊS ................................... 27

4.1 DEFINIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL .......................................................... 27

5 AS ESPECIFICIDADES DA AÇÃO PEDAGÓGICA COM OS BEBÊS ................. 30

5.1 EDUCAÇÃO DE BEBÊS NA VIDA COLETIVA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO

INFANTIL .................................................................................................................. 30

5.2 CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO PARA O ATENDIMENTO DOS BEBÊS ....... 32

5.3 ENCONTROS E RELAÇÕES DENTRO DO CONTEXTO DO BERÇÁRIO ........ 33

5.3.1 As relações entre professores e crianças ..................................................... 34

5.3.2 As relações entre as crianças ....................................................................... 35

5.3.3 As relações com as famílias ......................................................................... 35

5.4 O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA ATENDER AOS BEBÊS E

CRIANÇAS PEQUENAS ........................................................................................... 36

5.4.1 A construção de um contexto ....................................................................... 36

5.4.2 A organização do ambiente .......................................................................... 37

5.4.3 O processo de vivência no berçário .............................................................. 39

6 PESQUISANDO A RELAÇÃO DAS PRÁTICAS DO PROFESSOR DE

EDUCAÇÃO INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DE BEBÊS .......... 42

6.1 CONTEXTUALIZANDO O LOCAL E OS PARTICIPANTES DA PESQUISA ...... 42

6.1.1 As profissionais ............................................................................................. 43

6.1.2 O ambiente ................................................................................................... 44

6.1.3 Os brinquedos .............................................................................................. 45

7

6.1.4 A rotina ......................................................................................................... 45

6.2 O PAPEL DA PROFESSORA NO ACOLHIMENTO, ADAPTAÇÃO E

EVOLUÇÃO DOS BEBÊS ........................................................................................ 46

6.2.1 O dia a dia do berçário .................................................................................. 49

6.2.1.1 Diálogos e músicas ................................................................................ 50

6.2.1.2 A estimulação e massagem ................................................................... 50

6.2.1.3 A utilização dos diversos espaços da escola ......................................... 51

6.2.1.4 A organização e o trabalho com os brinquedos ..................................... 51

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 53

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56

8

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho acadêmico tem como temática o papel do professor de

educação infantil e o desenvolvimento integral de bebês, ou seja, da criança de zero

a um ano e meio. Tem como questão a ser investigada a seguinte pergunta: Qual é

o papel do professor em relação ao desenvolvimento integral de crianças de zero a

um ano e meio que frequentam um Centro de Educação Infantil (CEI) particular, no

município de Curitiba-PR?

Portanto, o trabalho aborda o papel do professor da educação infantil em uma

creche particular, mas que pode ser extensivo a outros Centros de Educação Infantil,

particulares ou públicos. Assim, esta pesquisa está pautada, principalmente, pelo

educar e cuidar bebês da faixa etária de zero a um ano e meio.

Apresentou-se como objetivo geral: analisar o papel que o professor vem

desempenhando em relação ao desenvolvimento integral de crianças de zero a um

ano e meio em um Centro particular de Educação Infantil, na cidade de Curitiba-PR.

E obtivemos os seguintes objetivos específicos: caracterizar, segundo Wallon,

aspectos importantes que marcam o desenvolvimento de crianças de 0 a 2 anos,

que foi a faixa etária que abrangeu a população alvo de pesquisa; observar a

atuação do professor no trabalho com bebês, identificando pontos que poderiam

estar favorecendo (ou desfavorecendo) o desenvolvimento integral dessas crianças;

analisar como o ambiente, os brinquedos e materiais pedagógicos utilizados pelo

professor eram organizados, e como esta organização poderia estar interferindo no

desenvolvimento das crianças participantes da pesquisa.

A escolha da temática abordada deu-se em função do meu grande e

constante interesse pela evolução da criança da faixa etária em questão, pois

observava que em pouco tempo o bebê, a princípio, “tão indefeso” e dependente do

adulto, tornava-se uma criança cheia de energia e força, que buscava sempre

superar seus limites.

Porém, notava também que existia uma diferença no desenvolvimento entre

uma criança que não frequentava a creche e outra que frequentava, pois esta última

aparentemente tinha uma evolução mais acelerada e rica que a primeira, que era

educada apenas em casa e não interagia com outras crianças e nem se socializava

com outros adultos, além de seus pais e demais familiares. Essa observação se

confirmou no momento em que iniciei meus estágios nessa área, pois percebi que a

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dinâmica do ambiente pré-escolar e a atuação do professor podem fazer toda a

diferença na evolução da criança.

Para entender melhor a evolução infantil e o papel da atuação do professor,

decidi dedicar meu Trabalho de Conclusão de Curso a este tema, que é tão rico e

importante na minha vivência acadêmica e profissional. Ao entender melhor essas

questões poderei buscar formas de atuar como professora, de modo que meus

presentes e futuros alunos possam se desenvolver plenamente. E, também, espero

que, por meio da concretização deste trabalho, possa provocar inquietações, novos

estudos e, principalmente a atenção ao profissional e à etapa de educação abordada

aqui.

Como metodologia realizei observação participante focalizando a relação

entre o papel do professor e o desenvolvimento de crianças que compunham um

grupo de cerca de sete bebês, uma professora e uma educadora em um

determinado CEI, particular, no município de Curitiba-PR. Optei por pesquisar o

período do ingresso e adaptação das crianças ao berçário e à organização e à

dinâmica deste ambiente, pois é nele que as crianças, entre quatro meses e um ano

e meio aproximadamente, ingressam na creche e na educação infantil, iniciando seu

convívio social mais amplo, e irão fazer uma série de descobertas importantes para

seu desenvolvimento.

Para compreender melhor o tema tratado em minha pesquisa trabalhei com

textos de Wallon (1975) que foi o autor mais abordado, e materiais de autores (as),

como: Pedro da Silva Dantas (1983), Heloysa Dantas (1990, 1992) e Izabel Galvão

(2002), os quais trazem o pensamento de Wallon de maneira clara para a

atualidade. Além disso, utilizei as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

Infantil (BRASIL, 2010), documento que é de fundamental importância para as

escolas e instituições de educação infantil em nosso país, pois fornece a base

pedagógica e metodológica para se atuar no cuidar e educar da criança em idade

pré-escolar.

Este trabalho conta com a seguinte estrutura: no primeiro capítulo, “Teorias

do desenvolvimento infantil”, abordarei brevemente os pensamentos de Piaget e

Vygotsky, acerca da compreensão do desenvolvimento infantil. No segungo capítulo,

“O desenvolvimento da criança segundo a psicogenética de Henri Wallon”,

apresentarei a contribuição deste autor sobre o desenvolvimento infantil, sobre a

construção do “eu”, destacando aspectos relacionados a sua biografia, buscando

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compreender o que o fez chegar na formulação da sua teoria, nos seus

pressupostos teóricos.

No terceiro capítulo, intitulado “A educação infantil e o trabalho com bebês”,

abordarei as leis que dão base para a educação infantil e ao papel do professor

nesta etapa da educação. No quarto capítulo, denominado “As especificidades da

ação pedagógica com os bebês”, apresentarei como, segundo alguns autores, deve

ser na prática o atendimento aos bebês, desde seu acolhimento inicial, a preparação

do ambiente, onde os bebês, a professora e a educadora estarão em seu cotidiano,

como também a importância da rotina para essa etapa.

No quinto capítulo, “Pesquisando a relação das práticas do professor de

educação infantil e o desenvolvimento integral de bebês”, abordarei a minha

pesquisa de campo. Assim, finalizando este Trabalho de Conclusão de Curso, trarei

a realidade do trabalho diário observado por mim dentro de um Centro de Educação

Infantil particular do município de Curitiba-PR, focalizando o papel do professor para

com os bebês, relacionando os pressupostos teóricos trazidos ao longo de meu

trabalho com a realidade observada, tendo-os como base para que possamos

compreender como deve ser a relação professor/bebê/família, além da importância

do ambiente, do brincar e dos demais fatores que influenciam significativamente na

ação do professor para com o desenvolvimento integral das crianças de zero a um

ano e meio.

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2 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Existem diversos pesquisadores que dedicaram sua carreira a estudar,

avaliar e entender o desenvolvimento e a evolução da criança, desde o seu

nascimento até a adolescência, dentre eles temos os mais abordados no curso de

pedagogia: Jean Piaget (1896-1980), Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) e Henri

Wallon (1879-1962), sendo que este último será o autor mais abordado neste

trabalho, como veremos a seguir.

2.1 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E AFETIVO DE 0 A 2 ANOS SEGUNDO

PIAGET

Para Piaget, afeto e cognição resultam de uma adaptação constante e

interdependente, na qual os sentimentos exprimem os interesses e os valores das

ações ou das estruturas inteligentes. Ao mesmo tempo em que os esquemas

afetivos levam à construção do caráter, os esquemas cognitivos direcionam a

formação da inteligência: “[...] a assimilação1 é responsável pela existência de

esquemas afetivos, ou seja, de maneiras relativamente estáveis de sentir e reagir

em relação aos outros.” (FARIA 1989, p.8)

O conhecimento, na concepção de Piaget, não surge do sujeito nem do

ambiente, mas sim da interação de ambos por intermédio da ação, “[...] por isso,

para haver interação e compreensão do mundo, são necessários dois agentes

diferentes: de um lado, o sujeito, do outro, o objeto.” (FARIA 1989, p. 22)

Na concepção piagetiana, segundo Faria (1989), o desenvolvimento

cognitivo e afetivo humano inicia-se no período sensório-motor (do nascimento até

os 2 anos de vida aproximadamente), passa pelo estágio do Pensamento Pré-

Operatório (dos 2 aos 6 anos de idade), do Operatório Concreto (dos 6 aos 12 anos),

até chegar no Operatório Formal (dos 12 anos de idade e continua ao longo da

1 A assimilação, bem como a acomodação, são conceitos-chave de Piaget, pois é por meio destes

dois mecanismos que a criança se adapta ao meio, organizando-se cognitiva e afetivamente, evoluindo para etapas mais avançadas de conhecimento. “A assimilação é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra (classifica) um novo dado perceptual, motor ou conceitual às estruturas cognitivas prévias” (WADSWORTH, 1996, apud TAFNER 1997). A acomodação define todas as modificações dos esquemas de assimilação pela influência de situações vindas do meio (externas a pessoa) ao quais se aplicam. Piaget, de acordo com Tafner (1997) deixa claro, em seus estudos, que não pode haver acomodação sem assimilação e vice-versa

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vida). Neste trabalho focalizaremos o estágio sensório-motor (de 0 a 24 meses) e

seus subestágios em função dos objetivos propostos pela pesquisa.

Inicialmente a criança tem uma visão indissociada entre seu corpo e o

ambiente no qual está inserida. Com o tempo (nos seis primeiros estágios do

período sensório-motor), por sua capacidade de reagir ao meio, ela irá construindo a

noção de objeto (FARIA 1989, p. 23).

No primeiro subestágio, de zero a um mês, do sensório-motor, a criança não

procura por objetos desaparecidos, não existe “[...] nenhuma consciência do eu, isto

é, nenhuma fronteira entre o mundo interior ou vivido e o conjunto das realidades

exteriores.” (PIAGET; INHELDER, 1985, p. 25). No início do segundo subestágio do

sensório-motor, que vai de um mês a quatro meses, a criança tem encontros ligeiros

com objetos desaparecidos, mas não os procura intencionalmente (FARIA, 1989).

No terceiro subestágio do sensório-motor, dos quatro aos oito meses, a

criança chega naturalmente até o objeto desaparecido, porém não tem a intenção de

busca. O bebê simula uma procura pelo objeto desaparecido de seu campo

perceptual visual, tátil, gustativo, reproduzindo os esquemas inacabados na espera

de, com essa atividade, trazer de volta as sensações experimentadas e perdidas

(FARIA 1989).

No quarto subestágio do sensório-motor, de oito a doze meses, a criança

busca objetos desaparecidos através dos meios ou esquemas adequados à

situação. Segundo PIAGET apud FARIA (1989, p. 85),

[...] a criança já não se limita a seguir com os olhos ou com a mão qualquer coisa em movimento: passa a unir exploração visual à exploração tátil. Ora, essa coordenação de duas ou mais séries distintas de acomodações reforça indubitavelmente a consolidação e a exteriorização do objeto.

No quinto subestágio do sensório-motor, de doze a dezoito meses, a criança

procura de forma ativa o objeto desaparecido da sua visão ou do seu tato, com a

descoberta de novos meios. As ações exploratórias geralmente casuais cedem lugar

às ações de exploração visivelmente intencionais. Ao tentar posicionar um bloco, por

exemplo, a criança age sobre ele de diferentes formas, buscando identificar até que

ponto essas ações conseguem deslocá-lo (FARIA 1989).

Já no sexto subestágio do sensório-motor, de dezoito meses até os vinte e

quatro meses aproximadamente, a criança procura ativamente o objeto

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desaparecido através da invenção de novos meios. A elaboração da noção de objeto

como algo separado do seu corpo é concluída neste estágio, devido à interiorização

dos esquemas. A criança constrói uma imagem em sua mente, lembrando-se desta

imagem das ações que executou sobre ela, com um bloco por exemplo: empilhando,

rodando, derrubando, etc., assim como imagina os deslocamentos do objeto no

espaço (FARIA, 1989).

Sendo assim, Piaget, citado por Faria (1989), aponta que a passagem de um

estágio para outro é marcada por mudanças de comportamento em relação aos

objetos desaparecidos em seu campo perceptivo visual, tátil, gustativo, etc. Com

isso, a questão da idade, mesmo que estabelecida, não determina um índice seguro

para prever a relação dos campos mentais na conquista do objeto permanente.

Neste tópico tivemos a oportunidade de conhecer a concepção de Piaget

sobre o desenvolvimento humano e como ele compreende especialmente o Estágio

Sensório-Motor, que transcorre aproximadamente do nascimento até o fim do

segundo ano de vida, faixa de idade que corresponde a das crianças que foram alvo

da nossa investigação, e entendendo a importância deste estágio para o

desenvolvimento futuro, uma vez que é considerado, especialmente por esse autor,

a base sobre a qual se consolidará todo o edifício do conhecimento do adulto.

A seguir apresentarei a visão de Vygotsky a respeito do desenvolvimento

infantil, como ele caracteriza o desenvolvimento psicológico da criança e qual é a

sua contribuição ao entendimento da evolução do psiquismo da criança.

2.2 O DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES

SEGUNDO VYGOTSKY

Vygotsky teve como um dos principais objetivos de sua obra a

caracterização do desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Suas

preocupações direcionavam-se ao estabelecimento das diferenças entre os

processos de desenvolvimento das funções psicológicas elementares (típicas de

animais) e das funções psicológicas superiores (aquelas que se desenvolvem ao

longo do processo do desenvolvimento humano, de acordo com as relações que se

estabelecem entre os seres humanos). Nessa busca, ele estabeleceu contato com

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diversos teóricos, do campo da educação, da psicologia, da filosofia, entre outros,

Freud, Piaget, Lewin, etc. (KOSHINO; MARTIN, 2011)

Para Vygotsky, o meio social é fonte de desenvolvimento. O ambiente social

dispõe os momentos de experiências e aprendizagens relacionadas à interação da

criança com a cultura, com os adultos e à apropriação dos signos e símbolos. Essa

relação se amplia e tem suas modificações em um processo de construção e

reconstrução do pensar mais elementar ao mais complexo, estabelecendo-se assim

modificações no desenvolvimento tanto no sentido quantitativo quanto no qualitativo

(VYGOTSKY, 1994).

Vygotsky, segundo Koshino e Martin (2011), desenvolveu a noção de

situação social de desenvolvimento como sendo “motor” de desenvolvimento, para

explicar o processo evolutivo infantil. Com isso, ao longo de sua vida, a criança, ao

se relacionar com o meio ambiente e com o adulto (e pares mais desenvolvidos), a

criança passa por determinadas situações em que ela se desenvolve, modificando-

se. Tais situações são denominadas de situação social de desenvolvimento:

[...] A situação social de desenvolvimento é o ponto de partida para todas as mudanças dinâmicas que se produzem no desenvolvimento durante o período de cada idade. Determina plenamente e por inteiro as formas e a trajetória que permitem a criança adquirir novas propriedades da personalidade, já que a realidade social é verdadeira fonte do desenvolvimento, a possibilidade de que o social se transforme em individual (VYGOTSKY, 1933, apud KOSHINO; MARTIN, 2011, p. 264)

Esse desenvolvimento faz referência à natureza da relação pessoal entre a

criança e o adulto em determinado período. A natureza da situação social de

desenvolvimento, no entanto, não é constante, passando por distintos períodos de

desenvolvimento, delineando a estrutura e a dinâmica das mudanças (KOSHIMO;

MARTIN, 2011).

Vygotsky descreve a situação social de desenvolvimento como a gênese,

um “estágio inicial” para todas as situações de desenvolvimento das mudanças em

um determinado período. Essa situação de desenvolvimento determina as relações

entre a criança e o meio, dela surgem e se desenvolvem as novas formações

próprias da idade. As mudanças na consciência da criança ocorrem de forma

determinada por sua criação social, própria de cada idade. Por este motivo as novas

aquisições amadurecem no final de cada idade e não no início dela (KOSHINO;

MARTIN, 2011).

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Cada avanço no desenvolvimento infantil expressa um processo interior e

exterior de mudanças. Os novos motivos, as novas necessidades e impulsos

ganham novos significados e valores para a criança, que darão ordens e desordens

para a próxima etapa. Naturalmente, surgirão novas atividades, novos valores e

sínteses como motivadores da próxima etapa (KOSHINO; MARTIN, 2011).

Como pudemos observar, até o momento, Piaget e Vygotsky têm formas

distintas de abordagem do desenvolvimento humano. Sendo que, para o primeiro, o

desenvolvimento ocorre a partir de uma constante adaptação (assimilação e

acomodação) do sujeito em relação ao ambiente em que está inserido. Já para

Vygotsky, a criança evoluirá a partir da relação com o outro, por meio das

mediações culturais, num movimento de transformação do externo em interno,

sendo que todas as funções psicológicas superiores (pensamento, linguagem,

memória, atenção etc.) primeiro ocorrem nas/por meio das relações com as

pessoas, no interpsicológico, para depois ser tornarem intrapsicológicas.

No próximo capítulo veremos a concepção de desenvolvimento segundo a

visão de Wallon, que fornecerá a base teórica para esta pesquisa. Na minha opinião,

este autor é o que melhor contribui ao tema pesquisado, uma vez que concebe a

criança a partir do seu desenvolvimento integral, abordando assim os múltiplos

fatores que, juntos, integrados, determinarão o desenvolvimento da criança.

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3 O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA SEGUNDO A PSICOGENÉTICA DE

HENRI WALLON

Inicialmente trataremos dos aspectos biográficos da vida de Henri Wallon,

pois para entender sua teoria, é fundamental conhecer sua origem, história e os

fatores que o levaram a pesquisar e encontrar os resultados que obteve. Sem

dúvida, seu histórico é fascinante e vale à pena conhecer.

3.1 A BIOGRAFIA DE HENRI WALLON

Nascido em Paris no dia 15 de junho de 1879, Henri Wallon vem de um

berço, cuja maior parte dos integrantes da família era graduada em história da nação

francesa. Seu avô, de quem herdou o nome, foi deputado representante do Norte na

Assembléia Nacional, em dois períodos distintos, e foi o criador (através de seus

discursos) da Constituição (DANTAS, 1983, p. 12).

O pai de Wallon, o arquiteto e republicano opositor ao Império, Paul

Alexandre Joseph Wallon, sempre lia histórias de Victor Hugo para o filho, inclusive

uma das passagens mais marcantes da infância de Wallon foi à morte deste poeta

que, segundo seu pai, era não somente poeta e escritor, como também um homem

que lutou pela liberdade, pela defesa dos pobres, alguém a quem Wallon foi

orientado pelo pai a servir de espelho (ZAZZO,1993, apud SILVA, 2007).

Após o término de seus estudos de segundo grau, Wallon matriculou-se, em

1899, na Escola Normal Superior na Rua D’ulm, saindo no ano de 1902, licenciado

em Filosofia. Enquanto estudante do Normal Superior foi influenciado pelo professor

Frédéric Rauh, filósofo que escrevera livros sobre psicologia e sobre a investigação

das experiências morais. Lecionou por um ano no Liceu Bar-le-Duc.

Formado em 1908, torna-se imediatamente assistente do professor Nageotte

(1866-1948), um eminente histopatologista da época, e com ele inicia suas

atividades no Hospital de Bicêtre e, algum tempo depois, de Salpêtrière, onde coleta

dados para a elaboração de sua tese de doutorado (e também para o seu primeiro

livro), defendida apenas em 1925, sob o título de L'enfant turbulent (A criança

agitada). O atraso em seu doutorado deve-se ao fato de Wallon ter militado na

Primeira Guerra Mundial e ao seu engajamento como mestre de conferências de

Psicologia Infantil na Sorbonne, entre 1920 a 1937 (DANTAS, 1983).

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Sua participação na Primeira Guerra Mundial muito influenciou em seus

pensamentos sobre o desenvolvimento infantil e sobre as relações entre a emoção e

a razão. Como médico do exército francês, teve a oportunidade de cuidar de

inúmeros feridos neurológicos, e especialmente dos soldados afetados por traumas

de guerra. Wallon observou a interessante relação que tinha entre um maior número

e maior intensidade dos traumas de guerra nos soldados do que em seus

superiores. A busca da compreensão desse fenômeno irá determinar grande parte

da produção de Wallon, que procurará mostrar a função da emoção na psicologia

humana: ela é composta de reações orgânicas, controladas por centros cerebrais

específicos, e caracterizada por transformações corporais visíveis. Tais

transformações são os resultados da interação entre as funções tônica e clônica. A

principal função da emoção é mobilizar o meio social, possibilita o nascimento da

consciência, uma vez que esta nasce e opõe-se a ela (SILVA, 2007).

Na década de vinte, irá dedicar-se como presidente da Sociedade Francesa

de Psicologia e como diretor de estudos na École Pratique de Hautes Études, cargo

que o possibilita prosseguir com as pesquisas no laboratório por ele fundado. Em

1929, juntamente com o amigo Henri Pièron irá fundar o Instituto Nacional do Estudo

do Trabalho e de Orientação Profissional. A partir dessa entrada na área da

Psicologia do Trabalho e da orientação profissional que surgirá seu terceiro livro,

"Princípios de Psicologia Aplicada", publicado em 1930 (SILVA, 2007).

Em 1934, Wallon publicou aquele que é considerado seu primeiro grande

livro, "As origens do caráter", no qual desenvolveu uma das suas principais teses

sobre o desenvolvimento do eu e o papel da emoção e do movimento nesse

desenvolvimento (ZAZZO, 1989, apud SILVA, 2007).

É ali, também, que Wallon descreveu o que vinha a ser o estágio do

espelho, momento do desenvolvimento infantil, por volta dos três anos, em que a

criança constrói uma imagem externa, um esquema corporal de si. Outra importante

definição que se dá nesse momento é a do conceito de caráter. Para Wallon, citado

por (SILVA, 2007, p. 26), o caráter é o componente mais original de cada ser

humano, "esta espécie de índice individual".

No ano seguinte, acontece a publicação de “As origens do caráter”. No final

da década de 1930, Wallon viajará para a capital espanhola onde, juntamente com

estudantes e intelectuais, irá protestar contra a ditadura franquista. Durante a

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ocupação alemã, permanece em Paris atuando como pediatra, mesmo correndo o

risco de ser preso pelos agentes da Gestapo (SILVA, 2007).

Em 1944, é indicado como Ministro da Educação do governo da resistência,

cargo que ocupa por apenas um mês. Entretanto, sua ligação com a educação é

intensa e transcende a teorização. Já em sua primeira aula no Collège de France

(1937), deixa claro que a ligação ideal entre psicologia e pedagogia não é de

submissão entre elas, mas de integração e fortalecimento entre elas. A psicologia

pode oferecer muito à pedagogia, propondo teorias mais realistas com a tarefa de

educar/ensinar, ou esclarecendo os vários estágios e períodos do desenvolvimento

pelos quais passa o aluno. Mas a pedagogia, também pode complementar o olhar

psicológico, propiciando-lhe não apenas o material para seu trabalho, mas indicando

e problematizando situações não visíveis ao psicólogo (SILVA, 2007).

A década de 1940, apesar de grande agitação, provocada pela Segunda

Grande Guerra (1939-1945), será na qual Wallon publicará seus mais importantes

livros: “A evolução psicológica da criança” (1941); “Do ato ao pensamento” (1942); e

“As origens do pensamento na criança” (1945). No livro publicado em 1941, teremos

a explicitação dos estágios de desenvolvimento propostos por Wallon, agora de uma

forma melhor definida, sendo eles: Estágio impulsivo-emocional (0 a 1 ano); Estágio

sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos); Estágio do personalismo (3 a 6/7 anos);

Estágio categorial (7 a 11 anos); e Estágio da adolescência (12 a 18 anos) (SILVA,

2007).

É no seu segundo livro “Do ato ao pensamento” (1942), que Wallon irá

apresentar suas teses sobre a passagem entre a inteligência das situações, própria

do bebê de 0 a 3 anos, e aquela que se compõem pelo uso dos símbolos e signos,

que surge na criança a partir do segundo ano de vida (SILVA, 2007).

Wallon ainda militou em várias frentes: foi o responsável pela emenda que

introduziu o serviço de psicologia escolar nas escolas públicas francesas (1944); foi

deputado na Assembléia Constituinte que se instaurou logo após a Segunda Grande

Guerra (1946); editou a revista Enfance (1948); e foi presidente da Sociedade

Médico-Psicológica (1951). Em 1954, torna-se presidente da Sociedade Francesa de

Educação Nova e participou ativamente, das Jornadas Internacionais de Psicologia

da Criança, no mesmo ano (SILVA, 2007).

Não teve filhos, e pouco se sabe sobre seu relacionamento com Germaine

Anne Roussey. Apenas poucos meses após o falecimento de sua esposa (1953),

19

Wallon sofre um acidente de carro (é atropelado) e acaba sendo obrigado a ficar os

anos finais de sua vida na cama. Apesar disso, continua com seus atendimentos

como médico e produzindo cerca de 80 novas publicações até a data de sua morte,

em 1 de dezembro de 1962, na França (SILVA, 2007).

3.2 PRINCIPAIS PRESSUPOSTOS DA TEORIA WALLONIANA

Wallon utilizou a psicologia genética como método de análise, por entender

que esta posição seria a mais adequada para compreender a transformação da

criança em adulto, pois ela busca seu sentido nos fenômenos da origem e

transformações (MAHONEY, 2000).

Assim, ele elaborou seu próprio método: a análise genética comparativa

multidimensional. Método este que parte de fazer uma série de comparações para

esclarecer cada vez mais o processo de desenvolvimento, partindo de comparações

da criança patológica com a criança normal, da criança normal com o adulto normal,

do adulto de hoje com o de civilizações primitivas, de crianças normais da mesma

idade e de idades diferentes, da criança com o animal, etc., conforme as

necessidades da investigação (MAHONEY, 2000).

Nessas comparações, Wallon analisa o fenômeno em diferentes contextos:

orgânicos, neurofisiológicos, sociais e as relações entre esses fatores. Segundo

Mahoney (2000, p.16-17), dentre os pressupostos da teoria walloniana destacam-se:

A pessoa está continuamente em processo. Isso significa que há um

movimento contínuo de mudanças que se dão desde o início da vida até o fim dela e

podem ser vistos externamente. Internamente, esse processo se caracteriza por um

jogo de forças, de tensões, entre os conjuntos motor, afetivo e cognitivo.

Em cada instante desse processo a pessoa é uma totalidade, um conjunto

resultante da integração dos conjuntos motor, afetivo e cognitivo.

A existência social e a existência individual estão em um processo constante

de transformação, marcadas pela situação histórica concreta em que ocorrem.

A concepção de desenvolvimento está sempre em construção, está em

aberto, o que não elimina regressões, crises e conflitos.

Há conflitos entre a passagem de um estágio para outro, uma negação das

atividades anteriores, que será mola para a passagem a um novo estágio.

20

A resolução de um conflito caracteriza a passagem para uma nova

particularidade de relação entre o indivíduo e as exigências do meio social, ou seja,

a passagem para um novo estágio (MAHONEY, 2000).

A teoria de Wallon é identificada como a Psicologia da Pessoa Completa,

pois visa justamente à produção de um saber psicológico que leve em conta a

totalidade da pessoa, em suas condições concretas de existência (GALVÃO, 2002).

Segundo a concepção de Wallon a psicologia e a fisiologia na criança

ocorrem de forma integrada. Com efeito, as manifestações das necessidades

urgentes da criança a colocam em contato com a sociedade, mobilizando o outro

para o atendimento de suas necessidades (DANTAS, 1983).

Ao perceber que seus gritos e choros têm a função de aliviar a tens, a

criança acaba por estabelecer uma comunhão com o ambiente. Nessa perspectiva,

a escola também possui uma espécie de valor funcional, pois ela coloca a criança

dentro de novas relações de importância capital no desenvolvimento de sua

personalidade. Sendo assim, a criança é ativa aos meios aos quais é colocada,

estabelecendo um intercâmbio de ação e reação a eles (DANTAS, 1983, p.19).

Ao tomarmos a teoria de Wallon para nossas salas de aula, podemos afirmar então que educar significa promover condições que respeitem as leis que regulam o processo de desenvolvimento. [...] A essência do educar é, pois, respeitar essa integração no seu movimento constante. (MAHONEY, 2000, p. 17-18)

As observações feitas por Wallon na área de Psicologia aplicam-se

perfeitamente à Pedagogia. “A formação do professor saiu do puro empirismo e dos

métodos parcelares e preestabelecidos. O professor passou a ser, de fato, um

profissional do ensino e como tal carente de aprendizagem e de cultura.” (DANTAS,

1983, p.19-20).

O professor deve possuir cultura e técnica, sua formação profissional faz

com que adquira o saber e a profissão. O rigor científico da obra de Wallon ensina

que o educador antes de agir, deve compreender a criança dentro do seu meio.

[...] a verdadeira cultura geral é aquela que torna o homem aberto a tudo aquilo que ultrapassa o círculo estreito de sua especialidade. Compreender o outro, saber sorrir de si mesmo e de seu egoísmo para colocar no ponto de vista dos outros, aprender suas necessidades, colaborar na tarefa comum. (WALLON, 1949 apud DANTAS, 1983)

21

O “eu” na teoria de Wallon se constrói essencialmente a partir do outro, seja

como referencial, seja para ser negado, principalmente a partir do instante em que a

criança começa a viver a chamada crise de oposição (por volta dos três anos,

momento do “eu”), em que a negação do outro funciona como uma espécie de

instrumento de descoberta de si própria. Manipulação (agredir ou se jogar no chão

para alcançar o objetivo), sedução (fazer chantagem emocional com pais e

professores) e imitação do outro são características comuns nessa fase, como

afirma Bredas (2014). Até mesmo a dor, o ódio e o sofrimento são elementos

estimuladores da construção do eu. Isso explica a crítica da teoria walloniana aos

modelos tradicionais de educação (DANTAS, 1990).

Assim, a seguir, vamos detalhar como Wallon compreende a construção do

“eu” ao longo dos estágios propostos por ele.

3.3 AS ETAPAS DA CONSTRUÇÃO DO EU SEGUNDO WALLON

A teoria do desenvolvimento apresentada por Wallon aponta conjuntos

funcionais que atuam como uma unidade organizadora do processo de

desenvolvimento. O afetivo, o motor e o cognitivo relacionam-se entre si

profundamente, em todos os momentos, e isso resulta em um Ser Humano Único.

O que define um indivíduo é a consequência das relações internas com as

situações objetivas que ele encontra ao longo de seu desenvolvimento (MAHONEY,

2000). “É contra a natureza tratar a criança de forma fragmentária. Em cada idade

constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão de suas idéias é um

único e mesmo ser em continua metamorfose.” (WALLON, 1981, apud, MAHONEY,

2000, p. 23).

A seguir abordaremos de forma resumida os estágios de desenvolvimento

propostos por Wallon: Estágio impulsivo-emocional (0 a 1 ano); Estágio sensório-

motor e projetivo (1 a 3 anos); Estágio do personalismo (3 a 6/7 anos); Estágio

categorial (7 a 11 anos); e Estágio da adolescência (12 a 18 anos).

No período da vida intrauterina observa-se a dependência biológica do feto

em relação ao organismo da mãe, embora ele já esteja presente no meio social. No

início do estágio impulsivo-emocional, em um primeiro momento, que vai dos três

aos seis meses, a criança começa a se dar conta dos membros de seu corpo em

seu campo perceptivo, surpreendendo-se e suscitando-a a realizar um claro esforço

22

de reconhecimento e discriminação. A partir do final da 12ª semana, a criança

acompanha com o olhar o movimento de suas mãos, e apenas na metade da 19ª

semana ela começa a se interessar pelos movimentos de seus pés e suas juntas.

Isso é explicado porque os membros inferiores não entram tanto no campo visual da

criança (WALLON, 1949, apud MAHONEY, 2000).

No período seguinte, que vai dos seis aos doze meses e até além, a criança

se entrega a uma atividade um tanto complementar e individualizada em relação ao

seu próprio corpo, tendo como resultado a individualização e a predominância das

sensibilidades orgânicas e subjetivas. A criança nesse momento busca explorar o

corpo, colocando-o de maneira diferente e repetida em contato com ela própria, a

criança acaba por fazê-lo produzir, com gestos previstos, impressões também

previstas. Nesse processo a criança vai aprendendo a diferenciar também as partes

do corpo e aquilo que está próximo a ela, porém sem conexão com seu corpo,

batendo na cabeça em uma mesa, por exemplo, irá sentir claramente essa diferença

(DANTAS, 1983).

Com um ano, diverte-se muito batendo nos dentes com objeto duro e depois

rangendo os dentes. Com um ano e um mês ainda dá constantes batidas em sua

cabeça, com feição de espanto, como que por perceber sua dureza (DANTAS,

1983).

Em um período que se sobrepõe ao anterior nota-se que a criança identifica

os órgãos em outra pessoa melhor do que em si mesma. Quando aprende a

identificar os seus, trata-os inicialmente como coisas estranhas e, depois, por uma

espécie de “animismo ingênuo”, como se fossem pessoas anexas.

Em meados do 12º mês nota-se que a criança busca colocar seu sapado em

sua boneca, sem, no entanto, distinguir clara e automaticamente ainda a cabeça dos

pés (WALLON, 1949, apud DANTAS, 1983).

Com um ano e sete meses, quando lhe pedem que dê o sapato, a criança

apanha o sapato, tira de seu pé e o entrega. Porém, quando lhe é solicitado que dê

o pé, a criança irá se esforçar por um tempo com as duas mãos em removê-lo.

Temos aí, sem dúvida, um caso de perseveração, que pode ter ocorrido pelas

ordens terem sido consecutivas e com a mesma forma de pedir. Porém sua

insistência em querer como que remover seu pé de seu corpo indica evidentemente

uma falta de coesão entre as impressões que ela tem do seu corpo e o sentimento

de sua própria atividade (DANTAS, 1983).

23

Com um ano e onze meses, a criança oferece muitas vezes um biscoito aos

seus pés, e ela se diverte muito, na espera de que seus artelhos o agarrem. Uma

simples brincadeira, mas na qual podemos perceber o nível de ilusão gerado pela

criança, que considera a independência e a autonomia de seus próprios órgãos

(DANTAS, 1983).

No estágio sensório-motor e projetivo, localizado entre o segundo e o quarto

ano, os gestos da mímica ou da fala apóiam e até conduzem o pensamento, ainda

frágil. Com esta ação revelam-se as sutis relações entre gesto-intenção, palavra-

ideia, que tendem a se inverter ao longo do desenvolvimento. No início, o gesto

gráfico (movimento que leva ao surgimento do pensamento), por exemplo, precede a

intenção: o projeto é resultado anterior ao controle do gesto que realiza o desenho

(DANTAS, 1992).

Outra característica peculiar na concepção dessa etapa é a aproximação

entre o sensório-motor e o simbólico. Este momento, em que há uma divisão

ocorrida pela entrada em cena da função simbólica, segue muito de perto a

incontinência exploratória da motricidade. Rapidamente instalam-se duas

possibilidades opostas de lidar com o real: a maneira direta, instrumental, que

corresponde à gestualidade práxica, e a maneira simbólica, onde o objeto não é o

que é e sim o que significa. Os gestos simbólicos não são instrumentais nem

expressivos: eles transportam uma ideia que não é determinada pelo objeto

manuseado (DANTAS, 1992).

Quando a criança se torna apta para agir por si mesma dentro de sua

realidade, torna-se capaz também de transcendê-la. Desde esse momento haverá

uma constante superação do aqui e agora, no qual se incluem os seus próprios

estados efetivos momentâneos (DANTAS,1992).

No quarto, quinto e sexto ano, estágio do personalismo, iniciam-se

manifestações que vão desde a rebeldia e o negativismo em estado quase puro, à

sedução do outro e depois à sua imitação. O “eu” ainda se encontra frágil e

necessita do outro para admirá-lo para com isso completar sua construção, e assim

oferece-se como espetáculo. Depois se utiliza do outro, que até então havia negado

e rejeitado, para servir de modelo para a ampliação das próprias competências

(DANTAS, 1992).

Essa sucessão de predominâncias (motoras, afetivas e cognitivas)

corresponde a uma série de necessidades a serem atendidas; fica claro, o papel da

24

educação em cada um de seus momentos: a satisfação das necessidades orgânicas

e afetivas, a oportunidade para a manipulação da realidade e a estimulação da

função simbólica, a construção de si mesmo. Assim, toda e qualquer forma de

expressão é fundamental: plástica, verbal, dramática, escrita, direta, ou indireta,

através de personagens suscetíveis de provocar identificação. Por esse motivo o

currículo deve englobar o trabalho com essas diferentes categorias expressivas

(DANTAS, 1992).

Quando a tempestade enfrentada no personalismo tem um final feliz, permite

a superação do sincretismo, que é a fusão do pensamento real com o pensamento

fantasioso. Esta realização poderá, então, ser passada para o plano da inteligência e

permite a gradual superação do sincretismo do pensamento (DANTAS, 1992, p.95).

A função categorial amplia o alcance da inteligência e abre espaços para

novas definições do “eu”. A criança atinge as dimensões ideológicas, políticas,

metafísicas, éticas, religiosas, que precisar utilizar. Neste momento, segundo Wallon

(apud DANTAS, 1992), o adolescente está em um momento passional e pessoal, no

qual a questão é a descoberta de seu posicionamento. A questão temporal também

ganha sua importância, uma vez que o futuro tem tanta importância, quanto tinha

seu passado para definir a criança.

No momento da adolescência, o jovem tem a tarefa de realizar a integração

complementar, sob pena de desintegrar-se. Busca, ainda, manter o “eu” diferenciado

e, assim, integrado, algo que não é fácil, e o que exige esforços intelectuais. O

produto último da elaboração de uma inteligência, concreta, pessoal, corporificada

em alguém, é uma pessoa, a construção da pessoa é uma autoconstrução

(DANTAS, 1992).

Por fim, é bem importante, retomarmos e ressaltarmos a importância do

“outro” na constituição do “eu”, principalmente, nas primeiras etapas de vida –

estágio impulsivo-emocional e sensório-motor e projetivo –, que são os que são

focalizados neste trabalho.

Wallon (1975) enfatiza que o recém-nascido necessita de atenção em todos

os momentos. Ele é incapaz de agir sozinho, tendo a necessidade das ações e

movimentos dos outros para que suas próprias atitudes tomem formas. Seus gestos

são gerados para demonstrar seus estados emocionais. Por meio de um mecanismo

equivalente ao dos reflexos condicionados vai se organizando uma associação entre

25

os atos da criança para com o outro. O efeito obtido torna-se cada vez mais claras

suas intenções e sua manifestação emotiva.

A importância do outro e de seus gestos é tão grande que se notou que o

sorriso do bebê responde rapidamente ao da mãe. Existe uma espécie de

representação emocional que explica até onde as emoções são comunicativas,

contagiosas e como elas são traduzidas por meio de impulsos sociais e pela

extinção, em cada indivíduo, do seu ponto de vista pessoal, do seu autocontrole

(WALLON, 1975).

Inicialmente, a criança não conseguirá distinguir sua pessoa daquilo que lhe

causa impressões, será através de diversos exercícios e de jogos que tomam uma

precisão crescente, provocando simultaneamente manifestações de espera ansiosa

e explosões de surpresa ou de alegria, que o bebê iniciará essa diferenciação.

Como é o caso dos jogos de alternância, nos quais a criança realiza “atos” que

desencadeiam no outro (frequentemente no adulto) outros “atos” interessantes, que,

por sua vez, voltam a provocar reações na criança de modo a reproduzir aquele

efeito no outro (como por exemplo, rir e esperar pelas cócegas do adulto), a criança

consegue conhecer e realizar ações entre quem atua e quem suporta. O parceiro irá

se destacar da criança, porém os dois mantêm uma espécie de equivalência

essencial, de acordo com Wallon (1975).

O período de alternância acaba, no entanto, por possibilitar ao “eu” a tomada

de posição em relação ao outro, típica, principalmente, do período do personalismo.

Esta etapa transcorre como uma crise de personalidade que surge por volta dos três

anos, como já citamos anteriormente. Os jogos de alternância também se

desenvolvem em diálogos que, muitas vezes, as crianças têm consigo mesma, nos

quais alternadamente faz o papel de dois interlocutores, por volta do segundo e

terceiro ano de vida. Estas conversas consigo mesma, desaparecem por volta do

estágio do personalismo, que inicia no terceiro ano de vida, pois o “eu” começa a

afirmar-se. Desaparece de forma reduzida, mas não é eliminada por completo,

ficando suprimido em estado latente, em papel de segunda ordem (WALLON, 1975).

Como pode ser visto neste capítulo, foi abordado a biografia de Wallon, que

foi um militante apaixonado, que participou das duas guerras mundiais, as quais o

impulsionaram a formular sua pesquisa e teoria sobre o desenvolvimento integral da

pessoa, utilizando-se da psicologia genética como método de analise. Assim, esse

autor nos trouxe um trabalho muito rico, não apenas para o desenvolvimento da

26

criança, deixando claro que é impossível fazer uma análise da criança de forma

fragmentada, pois sua psicologia é a da pessoa completa. Wallon deixa clara a

totalidade do ser humano e, além disso, ainda vai nos apresentar a importância do

trabalho integrado entre pedagogia e psicologia, pois quando ambas trabalham

juntas podem buscar soluções mais concretas e coerentes para a formação do

indivíduo e para os fatores que dificultam essa formação.

Portanto, a seguir, no próximo capítulo abordaremos a educação infantil

como um todo, procurando caracterizar esta etapa educacional em todas as suas

peculiaridades, e seguida focalizaremos o trabalho com bebês.

27

4 A EDUCAÇÃO INFANTIL E O TRABALHO COM BEBÊS

Estar inserida em uma instituição de ensino desde que nasce é um direto

assegurado à criança pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL,

1990) e pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 12.014, de 6 de agosto de 2009, a

qual altera o art. 61 da Lei no 9.394 (BRASIL, 1996), de 20 de dezembro de 1996,

com a finalidade de discriminar as categorias de trabalhadores que se devem

considerar profissionais da educação (BRASIL, 2009).

O atendimento em creches e pré-escolas como direito social das crianças se

afirma na Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), com o reconhecimento da

Educação Infantil como dever do Estado para com a Educação. O reconhecimento

da Educação infantil passou por muitas lutas, apoiado por diversos grupos sociais,

entre eles: movimentos de mulheres, movimentos de trabalhadores, movimentos de

redemocratização do país, além, evidentemente, das lutas dos próprios profissionais

da educação (BRASIL, 2010).

Desde então, o campo da Educação Infantil vive um constante processo de

revisão de concepções sobre educação de crianças em espaços coletivos e de

melhorias de práticas pedagógicas mediadoras de aprendizagens e do

desenvolvimento das crianças. Especialmente, no sentido de buscar prioritariamente

discussões da forma de orientar o trabalho junto às crianças de até três anos, em

creches, e como assegurar práticas junto às crianças de quatro e cinco anos, nas

pré-escolas, que encontrem formas de garantir a continuidade no processo de

aprendizagem e desenvolvimento dessas crianças, sem antecipação de conteúdos

que serão trabalhados no Ensino Fundamental (BRASIL, 2010).

A seguir abordaremos algumas definições de educação infantil e concepções

acerca das práticas pedagógicas com bebês.

4.1 DEFINIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL

A Educação Infantil é a primeira fase da educação básica, deve ser oferecida

em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como instituições não

domésticas, podendo ser ambientes educacionais públicos ou privados, que

trabalham com o cuidar e educar de crianças de 0 a 5 anos, em períodos diários

integrais ou parciais, regulados e supervisionados por órgãos competentes do

28

sistema de ensino e sujeito ao controle social. Devendo o Estado garantir a oferta de

Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção

(BRASIL, 2010).

A criança é concebida como um sujeito histórico com direitos, que constrói

sua identidade pessoal e social, através das interações, relações e práticas

cotidianas, sendo elas: o brincar, imaginar, fantasiar, desejar, aprender, observar,

experimentar, narrar, questionar e construir sentidos sobre a natureza e a

sociedade, produzindo assim sua cultura (BRASIL, 2010).

As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação

Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e garantir

experiências que:

Promovam o conhecimento de si e do mundo por intermédio de experiências sensoriais, expressivas, corporais, que possibilitem ampla movimentação, expressão da individualidade e respeito pelos impulsos e desejos da criança;

Favoreçam a inserção das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical;

Possibilitem experiências de narrativas às crianças, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com distintos meios e gêneros textuais orais e escritos;

Recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais;

Ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas;

Possibilitem situações de aprendizagem com intervenção para a criação da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;

Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que expandam seus padrões de referência e de identidades no diálogo e conhecimento da diversidade;

Incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, temporal e natural;

Criem oportunidades para o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações culturais (música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura);

Despertem a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais;

Propiciem a interação e o conhecimento das crianças pelas manifestações e tradições culturais brasileiras;

Possibilitem a utilização de tecnologias (gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas), e outros recursos tecnológicos e midiáticos.

Cabendo as creches e pré-escolas, ao elaborar a proposta curricular, em acordo com suas características, identidade institucional, escolhas coletivas e particularidades pedagógicas, estabelecerem modos de integração dessas experiências. (BRASIL, 2010, p. 25-27)

29

Quanto à avaliação, as instituições de Educação Infantil devem criar

procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do

desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação.

Com o objetivo de estabelecer primeiramente uma observação crítica e criativa das

atividades, brincadeiras e interações das crianças em seu cotidiano, utilizando de

diferentes recursos para estabelecer este registro (relatórios, fotografias, desenhos,

álbuns etc.), proporcionando que, além da avaliação para que a criança possa

progredir dentro da educação infantil e passar para a próxima etapa, também a

família possa ter conhecimento do trabalho realizado com no processo de

desenvolvimento e aprendizagem da criança (BRASIL, 2010).

Quanto à formação do educador e professor, segundo o Art. 61, da LEI nº

12.014 (BRASIL, 2009), consideram-se profissionais da educação escolar básica os

que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos

reconhecidos, são:

I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim (BRASIL, 2009).

A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às

particularidades do exercício de suas atividades, além dos objetivos das diferentes

etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos:

I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (BRASIL, 2009)

Até o momento, como pode ser identificado, dissertei resumidamente sobre a

Educação Infantil em nosso país, a partir das leis que a amparam e lhe dão base,

abordando aspectos fundamentais sobre como se pensam e se orientam as práticas

nesse contexto educacional. A seguir abordarei as práticas pedagógicas

especificamente com bebês.

30

5 AS ESPECIFICIDADES DA AÇÃO PEDAGÓGICA COM OS BEBÊS

Em uma grande parcela das instituições, as singularidades das crianças de 0

a 3 anos, especialmente os bebês, ficaram submetidas ao entendimento do

desenvolvimento e da educação de crianças mais velhas, pois até hoje a legislação,

os documentos, as propostas pedagógicas e a bibliografia educacional privilegiaram

a educação das crianças maiores (BARBOSA, 2010).

Em nossa cultura identificamos a capacidade de andar (deslocando-se com

desenvoltura) e a de falar (ainda que apenas através de palavras e pequenas

frases), como sinais do final do período da vida que se define um bebê. Por isso, em

meu estudo considero como bebês as crianças do nascimento até um ano e meio

aproximadamente.

Para acompanhar e avaliar como está o atendimento da Educação Infantil,

foi elaborado em 2009, pelo Ministério de Educação, por meio da Secretaria de

Educação Básica, os Indicadores de Qualidade da Educação Infantil (BRASIL,

2009). Esse documento constitui-se um instrumento de autoavaliação da qualidade

das instituições de educação infantil, através de um processo de participação aberto

a toda a comunidade que está ligada aos centros de atendimento da educação

infantil; e também serve de referência para nortear o trabalho com crianças nessas

instituições. Devem ser avaliados como são trabalhados aspectos fundamentais,

como: planejamento institucional; questões multidisciplinares; interações da e com a

criança; promoção da saúde; espaços, materiais e mobiliários; condições de trabalho

dos profissionais da educação infantil; participação e ação da família, entre outros

aspectos (BRASIL, 2009).

Neste tópico serão apresentados alguns aspectos fundamentais que devem

ser trabalhados na educação infantil, em especial no berçário, e que também foram

abordados nos Indicadores de Qualidade da Educação Infantil (BRASIL, 2009).

5.1 EDUCAÇÃO DE BEBÊS NA VIDA COLETIVA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO

INFANTIL

Ao nascerem os bebês se defrontam com um mundo que está em constante

construção. Para acolher estes bebês, os adultos responsáveis selecionam de seu

patrimônio afetivo, social e cultural as práticas de cuidado e educação que

31

consideram mais oportunas para ofertar bem-estar a eles e para educá-los

(BARBOSA, 2010).

Porém, essa tarefa simples é complexa até mesmo aos responsáveis (os

pais dos bebês), vêm de mundos sociais distintos e necessitam de muito diálogo

para estabelecer parâmetros para a educação de seus filhos. Cada família tem um

modo de interagir, desde a alimentação até a higienização dos bebês. E essas

ações podem ser realizadas de diferentes formas, pois as diferentes culturas

inventaram diversos modos de criar suas crianças pequenas. E cada família tem um

modo específico para compreender o choro de uma criança, suas necessidades de

alimentação e de brincadeira e fazer suas escolhas, tendo em vista as tradições

familiares ou concepções aprendidas com diferentes atores (BARBOSA, 2010).

Nas últimas duas décadas houve um número crescente de mulheres que

trabalham em tempo integral um ano após ter concebido seu filho. Há alguns países,

como o Reino Unido, nos quais há tanto licença maternidade, quanto a licença

paternidade, o que faz com que as crianças demorem mais para serem inseridas em

centros de educação infantil. Porém, como esse não é o caso do Brasil, cada vez

mais cedo os bebês precisam ser inseridos nesses ambientes, porém isso não

indica que uma família terá menos atenção e zelo por seus filhos. Esse é outro

aspecto importante que as professoras e educadoras devem estar atentas

(GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006).

A escola necessita estabelecer uma relação de efetividade com as famílias,

e a comunidade local, para conhecer e compreender, de forma crítica e reflexiva, os

saberes, as crenças, os valores e a diversidade de práticas sociais e culturais que

cada grupo social possui na criação de seus bebês. Um bebê ao ingressar numa

turma de berçário vai expandir seu universo pessoal ao relacionar-se com universos

familiares bastante distintos (BARBOSA, 2010).

A escola, mesmo estabelecendo um relacionamento com a comunidade e

com as famílias, terá estratégias pedagógicas diferenciadas, pois ela precisa atender

as crianças na perspectiva da coletividade e não só com o atendimento individual

como acontece nos lares. A instituição de ensino, com a participação dos pais,

organiza em seu projeto político e pedagógico, um modo de conceber a educação

das crianças pequenas favorecendo práticas de vida coletiva, sem se descuidar das

singularidades de cada família, de cada bebê e de cada profissional. Na escola de

educação infantil, as práticas de cuidado e educação de bebês tornam-se um

32

importante campo de estudos, debates e tomada de decisões que necessitam estar

contemplados nos projetos pedagógicos (BARBOSA, 2010).

O Projeto Político-Pedagógico é o resultado de um trabalho conjunto entre

profissionais que atuam na escola, famílias e comunidade, através de reflexão,

debate e confronto. Nele, a partir de princípios legais, um grupo de gestores, pais,

funcionários e professores selecionam e explicitam os princípios educacionais que

dão suporte aos pais e educadores ao constituir referências e a compartilhar ações

(BARBOSA, 2010).

5.2 CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO PARA O ATENDIMENTO DOS BEBÊS

Para a criança a ida para a creche significa a ampliação dos contatos com o

mundo, já para os adultos responsáveis pela educação das crianças na creche,

significa a seleção, reflexão e organização da vida escolar através de práticas

sociais, as quais traduzem a visão do professor sobre a constituição cultural,

artística, ambiental, científica e tecnológica e a forma de atuação pedagógica

(BARBOSA, 2010).

As ações sociais passadas para os bebês e crianças pequenas, pelas

famílias e pela escola, são o marco inicial para a construção de sua identidade

pessoal e para as novas aprendizagens das crianças. Os pequenos, inicialmente,

irão reproduzir a ação que viram o adulto efetuando, por exemplo, o ato de se vestir,

o qual inicialmente o adulto irá vestir o bebê, sem que o mesmo demonstre reações,

aos poucos os bebês irão iniciar um processo de participação na ação de vestir-se e,

enfim eles vão aprendendo a vestir sozinhos suas roupas, demonstrando até mesmo

preferências em suas escolhas. Mesmo sem darmos muita atenção nas escolas de

educação infantil, para esses conhecimentos sociais e culturais adquiridos pelas

crianças, eles são extremamente importantes na constituição das crianças, de seus

hábitos, modos de proceder, relações e na construção sociocognitiva (BARBOSA,

2010).

Dado as concepções sobre os bebês, a infância, a aprendizagem e a

educação tem-se a compreensão de que o currículo deve abordar o

desenvolvimento integral de crianças nas dimensões: expressivo-motora, afetiva,

cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural tendo a compreensão das

33

crianças em seus múltiplos aspectos e respeitando sua individualidade (BARBOSA,

2010).

No entanto, ao pensamos nos bebês temos dúvidas sobre a forma de propor

esse currículo, pois, aulas de exposição verbal não serão de grande serventia neste

período, mas sim através da criação de uma vida cotidiana com práticas sociais que

possibilitem a expansão dos horizontes, a ampliação das linguagens, para que os

bebês vivenciem experiências de seus saberes. Esses saberes, e experiências

vivenciadas principalmente com o corpo, por intermédio das brincadeiras, na relação

com os outros que irão constituir as bases nas quais as crianças posteriormente irão

sistematizar os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico,

ambiental, científico e tecnológico (BARBOSA, 2010).

Educar bebês não se limita apenas na constituição e na aplicação de um

projeto pedagógico objetivo, mas implica em colocar-se, de corpo e alma, à

disposição das crianças e isto exige adultos comprometidos e responsáveis

(BARBOSA, 2010).

5.3 ENCONTROS E RELAÇÕES DENTRO DO CONTEXTO DO BERÇÁRIO

Em uma sala de berçário se estabelecem muitas relações. Relações entre

os bebês e entre os adultos e os bebês. Porém, não se pode descuidar das relações

que se estabelecem entre os diferentes adultos, pais, professores e demais

profissionais. Mesmo realizando atividades distintas, os professores, os gestores e

os demais profissionais da escola, trabalham dentro de um objetivo comum: a oferta

de um ambiente educacional de qualidade para as crianças e seus familiares. Por

diversas vezes a falta de comunicação entre os adultos acaba afetando o trabalho

pedagógico e também as próprias crianças. É fundamental que esses fatos sejam

observados e que se criem na escola oportunidades para a formação e

compartilhamento das dificuldades, a comunicação, a resolução de conflitos e a

busca por êxitos (BARBOSA, 2010).

Diversos textos na área da psicologia informam que os bebês de menos de 8

meses não fazem diferenciação entre os adultos que cuidam deles. Pelo contrário,

eles conseguem tolerar diversos cuidadores, porém demonstram claramente suas

preferências desde muito cedo. (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006).

34

5.3.1 As relações entre professores e crianças

Os adultos têm a responsabilidade na educação dos bebês, mas para

entendê-los é preciso estar com eles, observando-os e decifrando-os, “ouvindo o

que eles dizem”, acompanhar sua linguagem corporal. O professor acolhe, protege e

desafia as crianças para que elas participem de um processo de vida compartilhado.

Constantemente, o professor precisa observar e realizar intervenções

necessárias, avaliar, e adaptar sua proposta às necessidades, desejos e

potencialidades do grupo de crianças e de cada uma delas individualmente. A

profissão de professor e/ou educador na creche vai muito além de apenas cuidar, e

sim deve/m seguir o princípio da construção de profissionais que tenham

competências teóricas, metodológicas e relacionais (BARBOSA, 2010).

Vivendo próximos a um bebê, tornamo-nos capazes de distinguir e

interpretar as mensagens que eles estão transmitindo, através dos diferentes tipos

de choros. O bebê pode estar sentindo fome, dor, desconforto físico, solidão,

estimulação demasiada, ou apenas um sentimento geral de mal-estar. Em alguns

casos o primeiro ato do adulto, ao tentar acalmar um bebê sem êxito é o de passá-lo

para outro adulto, porém o professor deve se atentar para a forma como está

respirando e transmitindo seus sentimentos ao bebê, pois desde muito cedo os

bebês conseguem sentir o stress gerado no adulto, pela respiração, tom de voz, e

até pela forma como seu cuidador está o tocando. Por isso é fundamental que o

professor/educador tenha isso em mente e busque manter a máxima calma e

paciência para com os cuidados com o bebê (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006).

Outro fator fundamental na qualidade da educação é a qualificação dos

profissionais que trabalham com as crianças. Uma boa formação das professoras,

salários dignos, o apoio da direção, da coordenação pedagógica e dos demais

profissionais, no trabalho em equipe, refletindo e procurando aprimorar

constantemente suas práticas, são fundamentais na construção de instituições de

educação infantil de qualidade, e para bom relacionamento entre os profissionais e

os bebês (BRASIL, 2009).

35

5.3.2 As relações entre as crianças

As crianças em creche têm a oportunidade diária de socializar-se com

meninos e meninas de diferentes idades. Os bebês desde muito novos buscam as

outras crianças com olhares, esboçando sorrisos e sons, buscando através do corpo

tocar no colega.

Para os bebês não é muito interessante brincar com outras crianças da

mesma idade. Alguns bebês até conseguem, por pequenos períodos de tempo,

brincar de dar um brinquedo para outra pessoa e logo recebê-lo de volta. No

entanto, os bebês da mesma idade são tratados, ao olhar do outro bebê, como

brinquedos a serem investigados e explorados, mas não ainda “respeitados”

(MALDONADO, 1984).

A ação pedagógica com uma turma de bebês deve proporcionar o encontro

entre eles em diferentes espaços e momentos do dia. A professora precisa ter

atenção em sua observação para os movimentos de relação grupal e favorecer a

evolução corporal, afetiva e cognitiva dos bebês (BARBOSA, 2010).

5.3.3 As relações com as famílias

A escola, através de sua equipe pedagógica, tem o compromisso de

construir relações com as famílias. As relações podem ser realizadas através de

diferentes formas de encontro, como: reuniões, entrevistas, festas, entre outros.

Com atendimentos individuais e coletivos, para haver trocas de ideias (BARBOSA,

2010).

Com essas atitudes as famílias irão sentir-se valorizadas e afirmadas em

seu papel parental, de responsáveis pela educação de seus filhos. Os diversos

encontros favorecem a construção de laços, de confiança e de troca. Antes mesmo

de o bebê ingressar na creche, é preciso que as famílias conheçam a escola e seu

projeto pedagógico. O conhecimento e a relação dos pais e familiares com a escola

é fundamental para a adaptação e segurança da criança. A interação da escola com

as famílias é tão significativa que vem sendo considerada como um dos critérios

fundamentais na avaliação de qualidade das creches (BRASIL, 2009; BARBOSA,

2010).

36

A presença e a relação de familiares e profissionais da educação, e o

sentimento de estar em um ambiente acolhedor são fundamentais para garantir uma

educação infantil de qualidade. Esse sentimento é percebido e compartilhado

naturalmente pelas crianças, gerando respeito, a alegria, a amizade, a consideração

entre todos (BRASIL, 2009).

5.4 O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA ATENDER AOS BEBÊS E

CRIANÇAS PEQUENAS

Ao planejar um processo de aprendizagem e desenvolvimento para os

bebês é necessário que se tenha um Projeto Político Pedagógico (PPP) que defina

objetivos de longo prazo, pois a formação humana é algo que necessita de tempo.

Além disso, a escola tem o dever de saber as necessidades individuais e sociais dos

bebês, para assim, construir estratégias que possam oferecer às crianças

instrumentos necessários para compreender e colocar-se no mundo (BARBOSA,

2010).

A construção desse instrumento deve ocorrer de forma coletiva, pois ter

concepções compartilhadas significa: argumentar, constituir coerência, estabelecer

continuidade e estabilidade tanto horizontal, na escola e na família, como vertical,

entre as turmas ou níveis de ensino. Tendo clareza e compartilhando concepções e

objetivos pode-se, com isso, iniciar a construção do processo educacional. Elaborar

uma intervenção pedagógica numa turma de bebês significa realizar ações de dois

tipos: a construção de um contexto e a organização de um processo de vida

(BARBOSA, 2010), como abordaremos a seguir.

5.4.1 A construção de um contexto

Ao trabalhar com bebês é fundamental que se utilize de sutileza. A primeira

intervenção é na forma de construir um contexto, o qual quando bem organizado nos

proporcionará conhecê-las e interagir com elas. Quando a professora organiza o

ambiente, a presença das crianças, as conversas com as famílias, as interações do

grupo podem ir transformando esses contextos. Se inicialmente ele possui mais

elementos: móveis, brinquedos, decorações, pouco a pouco ele se torna mais social,

pois um aspecto não existe sem o outro. O contexto se estabelece a partir de

37

algumas variáveis como: a organização do ambiente, os usos do tempo, a seleção e

a oferta de materiais, a seleção e a proposta de atividades, e a organização do

cotidiano (BARBOSA, 2010).

Outro aspecto a ser observado, é papel educacional. Não basta trocar, dar

banho e colocar para dormir. O professor de berçário deve ser preparado para lidar

com crianças da faixa etária, promovendo "experiências significativas” com

diferentes dinâmicas do cuidar e educar, tornando-se assim, desde cedo

protagonistas de seus aprendizados (COSTA; BERNARDINO, 2015).

5.4.2 A organização do ambiente

Quanto à organização do ambiente podemos dizer que, a avaliação do

espaço físico da escola nos permite o entendimento de que os ambientes possuem

uma linguagem subliminar, porém intensa. Ele nos ensina como agir, como olhar,

como participar. Uma sala limpa, organizada, iluminada, acessível aos materiais,

objetos e brinquedos é muito diferente de uma sala carregada de móveis, com

objetos e brinquedos fora do alcance das crianças e escura ou muito fechada. Cada

um desses ambientes nos apresenta uma visão de infância, de educação e cuidado

(BARBOSA, 2010).

Os ambientes precisam estar de acordo com as necessidades das crianças,

oferecendo situações de desafio, como também oferecendo segurança. Os

ambientes, quando bem planejados, instigam as crianças a explorar, a serem

curiosas, a procurar os colegas e os brinquedos, criando assim certa autonomia. Ao

organizar a sala para os bebês pequenos, é importante disponibilizar pequenos

espaços, confortáveis, com espelho, tapetes, almofadas, que possam servir de

auxílio para a sustentação das crianças e favorecer seus movimentos (BARBOSA,

2010).

O mobiliário precisa ter sua elaboração pensando no tamanho de bebês e de

crianças pequenas: é necessário que os adultos pensem sobre a altura da visão das

crianças, sobre sua capacidade de alcançar e utilizar os diversos materiais,

arrumando os espaços de forma a incentivar a autonomia infantil. Os aspectos de

segurança e higiene são muito importantes, mas a preocupação com eles não deve

impedir as explorações e iniciativas infantis (BRASIL, 2009).

38

Esse espaço deve ser organizado com o intuito de que as crianças interajam

com outras crianças, brinquem com os objetos e brinquedos podendo, assim,

vivenciar diferentes experiências. Todo o material que entra na sala dos bebês deve

ser concebido em seu estado físico, nas possibilidades cognitivas, motoras e

sensoriais que oferece, bem como na sua qualidade cultural. Constitui compromisso

de a escola oferecer brinquedos e equipamentos que respeitem as características

ambientais e socioculturais da comunidade (BARBOSA, 2010).

Quando as crianças ficam muitas horas num espaço de vida coletiva, é interessante que se institua um lugar para colocar as coisas que vem de casa como, por exemplo, as fotos da criança e da família, os brinquedos, e outros objetos que criam um “oásis” de singularidade na vida e no espaço coletivo. (BARBOSA, 2010, p. 8).

Os bebês na creche têm direito, além da sala, aos espaços de uso coletivo

como as bibliotecas, sala de música, o pátio, entre outros. O parquinho da escola

deve ser pensado e organizado não apenas para as crianças maiores, mas também

para a vivência dos bebês. Além disso, as crianças pequenas precisam ter contato

diário com a luz do sol, o ar fresco e com a observação e interação com a natureza.

O espaço que as crianças vivem tanto tempo precisa ser acima de tudo prazeroso,

bonito, relaxante e alegre (BARBOSA, 2010).

O tempo é um componente importante para a definição da particularidade da

educação dos bebês. As crianças pequenas precisam, de tempos longos e

significativos tempos para a realização das atividades de seu cotidiano. Os bebês

têm a difícil tarefa de compreender e significar o mundo e precisam de tempo para

interagir, observar, utilizar e para criar. Quando temos um contato efetivo com os

bebês e os observamos brincando sozinhos ou com outros bebês verificamos que

eles ficam intrigados e envolvidos com uma tarefa e podem permanecer assim por

muito tempo (BARBOSA, 2010).

O bebê precisa de tempo para brincar, construir e reconstruir brincadeiras,

pois isso permite-se a ele a sedimentação de suas experiências. A organização do

plano de aula na escola precisa atender as necessidades das crianças, sejam elas

de fatores biológico, emocional, cognitivo, social, além de oferecer tempos de

individualização e de socialização (BARBOSA, 2010).

O estabelecimento de uma rotina diária é importante para que os bebês

tenham segurança e domínio sobre este novo mundo em que está sendo inserido,

39

além de os pais e professores poderem se antecipar sobre o que virá a acontecer.

Essa rotina fortalece a construção de um eixo de história e memória, no qual haverá

a construção da identidade social, do grupo, pois, diariamente, no mesmo local, com

as mesmas pessoas, serão realizadas determinadas atividades e repetidos alguns

rituais.

É nesse lugar que as crianças vão se encontrar com outras crianças,

aprender a se relacionar, a conviver, a se ajudar, discordar. É nesse espaço social

que, com seus corpos, perceberão os odores, escutarão as vozes, olharão

observarão, tocarão, compreendendo a realidade através dos sentidos (BARBOSA,

2010).

Os espaços devem também propiciar o registro e a divulgação dos projetos

educativos elaborados através das atividades realizadas junto às crianças.

Desenhos, fotos, objetos tridimensionais, materiais escritos e imagens que

manifestem a expressão infantil, estimulam as trocas e novas iniciativas,

demonstram resultados do trabalho realizado e constituem um acervo precioso da

instituição (BRASIL, 2009).

É através das atividades cotidianas intermediadas por adultos que os bebês

irão aos poucos construir sua individualidade e independência. Em geral as salas

para atendimento aos bebês constroem seu cotidiano, em momentos, que iniciam

pelo acolhimento, passam pelas refeições, pela brincadeira, por atividades de

higiene, pelas práticas de repouso, por uma ida ao pátio, construindo assim

contextos de educação, que dão condições aos meninos e às meninas de adquirir

conhecimentos e habilidades e a realizar interações que estabelecem e aumentam

seu repertório motor, cognitivo, emocional, social e cognitivo (BARBOSA, 2010).

5.4.3 O processo de vivência no berçário

Com a construção dos objetivos presentes no PPP da escola e no

planejamento anual da turma, o professor começa a estabelecer alguns momentos

do ano que são comuns: ao acolhimento dos bebês e suas famílias na creche, o

convite aos percursos, os desafios e a construção de métodos e a análise das

experiências vividas. Para realizar este processo o professor de berçário possui

alguns instrumentos: a observação, o planejamento, as ações e experiências e o

acompanhamento e a avaliação (BARBOSA, 2010).

40

Para conseguir entender e se comunicar com um bebê pequeno é necessário

observar. A observação pode ser realizada de diferentes formas: planejada, natural,

com o uso de instrumentos digitais, como máquina fotográfica ou de filmagem, para

assim nos aproximarmos da maneira como às crianças se relacionam com o mundo

e com as outras crianças, produzindo as suas vidas.

Como ainda não fazem uso da fala, é geralmente através da observação

crítica, atenta e contínua das atividades, das brincadeiras e relações das crianças no

cotidiano que o professor acessa aos sentimentos e questionamentos das crianças.

As observações precisam ser registradas para serem compartilhadas e analisadas.

Além do conhecimento das peculiaridades de todas as crianças, é através da

observação que o professor pode construir projetos de trabalho com as crianças

(BARBOSA, 2010).

Na escola, a chegada de um novo bebê causa nas crianças e nos adultos

uma situação nova, uma reorganização do grupo. Por isso, acolher uma criança na

creche exige, dos diferentes profissionais, atenção, conhecimento e sensibilidade

nas relações com os bebês e suas famílias. Para isto, é preciso primordialmente,

respeitar e valorizar famílias em sua individualidade estrutural e organizacional, e

organizar diversas formas de a família poder participar do cotidiano escolar da

criança na educação infantil. Além de exigir que os professores estabeleçam um

contato pessoal com cada família (BARBOSA, 2010).

Para as crianças, especialmente os bebês, os primeiros dias de permanência

na creche significam uma fase de grande mudança e elas necessitam de um

ambiente que lhes ofereça segurança emocional, acolhimento, atenção. As crianças

logo sentem a confiança que seus pais depositam na escola e nas professoras,

assim, o trabalho de iniciação das crianças na creche passa, necessariamente, pela

relação de confiança entre pais e professores (BARBOSA, 2010).

O professor e a escola têm a missão de criar estratégias adequadas ao

momento de transição da casa para o Centro de Educação Infantil (CEI) vivenciado

pela criança, empenhando-se: em construir de um ambiente inabalável de

colaboração e um clima de confiança tanto para os bebês como para as suas

famílias; em desenvolver as capacidades pessoais do professor que inicia com o

estabelecimento de uma relação com a criança através do olhar, do sorriso, da

oferta de um objeto, e aos poucos constrói a confiança do bebê nesta nova pessoa e

neste novo ambiente; em promover reuniões para apresentar a proposta, as

41

dependências da escola e a equipe que nela trabalha; em realizar entrevista com os

responsáveis para conhecer o bebê e sua família, seus hábitos e valores; em

combinar o processo de iniciação da criança na creche (período de tempo, tempo

diário de permanência, presença dos familiares, etc.) (BARBOSA, 2010).

Após o momento inicial de acolhimento, as crianças e os adultos,

estabelecem um ritmo de trabalho a partir de ações e experiências. Os desafios, as

propostas, os questionamentos vão se estruturando ao longo do processo. Elas

iniciam com o conhecimento de todos os bebês, das situações que parecem mais

importantes e, a partir de então, exigem compromisso do professor e imaginação

pedagógica para continuar com um processo (BARBOSA, 2010).

No entanto, os processos exigem mudanças nas trajetórias quando, ao

procurar escutar aquilo que nos dizem os bebês através das suas múltiplas

linguagens, nos damos conta de que outras ações são mais importantes que

aquelas planejadas. Construir, a partir daquilo que as crianças demonstram é um

processo coerente, com uma história que pode ser registrada através de fotos e,

continuamente, contada às crianças para que elas se reconheçam como sujeitos

históricos, que fazem parte de um coletivo, e que estabelecem marcas e constroem

narrativas, é um importante papel da educação nos primeiros anos (BARBOSA,

2010).

Há bebês que se adaptam bem a creche, desde cedo, principalmente

quando recebem um atendimento atencioso e carinhoso, já para outros bebês pode

ser mais difícil o processo de adaptação. Mas ao final do primeiro ano de vida, as

creches com orientação de qualidade, oferecem às crianças uma variedade de

brincadeiras e estímulos que despertam seus interesses (MALDONADO, 1984).

Neste capitulo finaliza-se a abordagem teórica, com a contribuição de alguns

autores citados anteriormente, os quais neste capitulo serviram de base para o

entendimento de como deve ser a ação do professor e da escola perante a entrada

e o desenvolvimento do bebê em creche. Bem como a preparação do ambiente,

currículo e rotinas ideais para esta fase da vida da criança na creche.

No capítulo a seguir, apresentaremos a pesquisa de campo, a forma como foi

realizada, as práticas de atuação da professora e da educadora no ambiente do

berçário, objetivando, assim, compreender o papel da professora no

desenvolvimento integral dos bebês.

42

6 PESQUISANDO A RELAÇÃO DAS PRÁTICAS DO PROFESSOR DE

EDUCAÇÃO INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DE BEBÊS

Para a realização deste Trabalho de Conclusão de Curso utilizei-me da

abordagem do tipo qualitativa em pesquisa, que tem como objetivo explicar o porquê

das coisas, como os aspectos da realidade que não podem ser quantificados,

centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais

(GOLDENBERG, 1997, apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009).

Utilizei-me da pesquisa bibliográfica, na qual fiz levantamento de referências

teóricas em livros, sites, entre outros recursos eletrônicos, e em textos impressos.

Segundo Gil (2007, apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 37), os exemplos mais

característicos desse tipo de pesquisa são investigações sobre ideologias ou

aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema.

Também, realizei uma pesquisa empírica ou, também denominada, pesquisa

de campo, por meio da observação participante, pois como já participo do contexto

de pesquisa, foi quase impossível ficar apenas na condição de observadora, sendo

que em alguns momentos houve a necessidade de envolver-me e interagir com os

participantes da pesquisa.

A pesquisa de campo caracteriza-se pelas investigações que, além da

pesquisa documental, podem ser realizadas por coleta de dados, com a utilização de

diferentes tipos de pesquisa (FONSECA, 2002, apud GERHARDT; SILVEIRA,

2009). Meu foco principal foi a observação das atuações da professora e da

educadora na educação de alguns bebês de zero a um ano e meio, durante o

período da tarde, em um Centro de Educação Infantil (CEI), particular, do município

de Curitiba-PR.

A observação foi realizada entre os dias 27 de abril e 19 de maio de 2015,

compreendendo, aproximadamente, um total de 34 horas de observações,

acompanhadas de registros escritos, sendo que tais registros foram posteriormente

digitalizados.

6.1 CONTEXTUALIZANDO O LOCAL E OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

O ambiente escolhido foi um Centro de Educação Infantil (CEI), particular,

situado na zona oeste do município de Curitiba, que abrange os bairros de São Braz,

43

Santa Felicidade, Orleans e Campo Comprido. O CEI conta com, aproximadamente,

duzentas crianças matriculadas e com uma equipe de, em torno, trinta profissionais,

entre equipe pedagógica, administrativa, professores, auxiliares e demais

funcionários. As crianças vêm de famílias de classe média e classe média alta, os

pais possuem escolaridade entre ensino médio e superior em sua grande maioria,

sendo eles professores, empresários e comerciantes da região, na maioria dos

casos.

Quanto ao berçário especificamente, no período da tarde, em que fiz a

observação, é realizado o atendimento a sete bebês, os quais têm entre sete meses

a um ano e três meses, por uma equipe de duas pessoas, sendo uma professora e

uma auxiliar, a qual denominarei educadora, para poder fazer a diferença entre a

atuação de uma e de outra. Os bebês que ficam no período integral, nesse CEI,

chegam por volta das 7h30min e vão embora por volta das 18h30min, já os bebês

que ficam apenas meio período costumam chegar por volta das 13 horas e ir embora

aproximadamente às 18 horas.

Apesar de a professora e a educadora estarem constantemente em contato

com todas as crianças, para delimitar melhor o nosso objeto de estudo, o papel da

professora em relação ao desenvolvimento integral de bebês, focalizei a observação

de duas crianças: 1) PO, de um ano e três meses, sexo masculino, sendo o mais

velho da turma e, por isso, o bebê que está há mais tempo em contato com a

equipe; e 2) ML, de sete meses, sexo feminino, sendo a mais nova no berçário e a

que passou por um período de adaptação bastante conturbado, pois era uma

criança bem agitada e chorava muito, acreditava-se que em função da ausência da

mãe, mas, com o trabalho que foi realizado pela professora e pela educadora,

segundo informações obtidas informalmente, hoje em dia é uma das mais adaptadas

à rotina da creche.

6.1.1 As profissionais

As profissionais que atendem aos bebês do berçário são duas, a professora

e a educadora. A professora, que se formou, em 2002, no Magistério, pelo Colégio

Bagozzi, e no ano de 2005, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), por

curso a distância. Esta professora trabalha há três anos com o berçário nessa

escola. E antes de trabalhar nesse Centro de EI, trabalhou por dez anos em outra

44

escola, com diversas turmas, até o nível I (crianças de 4 anos). Ela tem 37 anos, é

casada e tem dois filhos, um de 6 anos e outra de 20 anos, e é avó de uma criança

de 03 anos.

Já a educadora, é formada em Magistério pelo Instituto de Educação do

Paraná, desde 2011. Iniciou o curso de pedagogia no mesmo ano em que concluiu o

magistério, porém ficou grávida e teve que parar de estudar. Trabalhou por cinco

anos em outra escola e hoje faz um ano que está trabalhando nessa escola. Iniciou

nesta escola trabalhando com o Maternal I, e desde o início deste ano está

trabalhando com o berçário. Ambas as profissionais aparentam ser muito calmas e

ter bastante atenção para com as crianças.

Sobre a formação do professor, compreende-se que o mesmo deve ter

cultura e técnica, pois com sua formação profissional adquire o saber de seu

magistério. Em sua obra, parte da qual foi abordada anteriormente neste trabalho,

Wallon nos ensina que o educador antes de agir, deve compreender a criança

dentro do seu meio.

[...] A verdadeira cultura geral é aquela que torna o homem aberto a tudo aquilo que ultrapassa o círculo estreito de sua especialidade. Compreender o outro, saber sorrir de si mesmo e de seu egoísmo para se colocar no ponto de vista dos outros, aprender suas necessidades, colaborar na tarefa comum. (WALLON, 1949, apud DANTAS, 1983, p. 20).

O professor deve sempre estar empenhado em aprender e dedicar-se ao

outro – especialmente quando este outro é um bebê que está em desenvolvimento e

tanto depende dele –, compreendendo as suas próprias limitações e necessidades,

evoluindo sempre e dando condições para que o outro também evolua.

6.1.2 O ambiente

Quanto ao ambiente do berçário, é uma sala ampla para o número de

crianças que o frequentam atualmente, porém não acredito que seja um espaço

suficiente para mais de dez crianças. Ele conta com tatames dispostos no chão para

que as crianças possam circular confortavelmente e, também, para que sejam mais

cômodas as estimulações feitas pela professora e pela educadora, além disso há um

grande espelho emoldurado e fixado na parede, próximo ao chão, em uma altura

adequada para que as crianças possam se ver.

45

Tem uma janela grande para arejar a sala e uma porta que dá acesso ao

solário (espaço utilizado apenas pelo berçário, mas que só pode ser utilizado

quando não está chovendo). Anexa à sala principal tem a “sala do soninho”, onde

existem berços dispostos um próximo ao outro para que os bebês possam ser

colocados após dormirem. Temos ainda o lactário, o qual conta com um frigobar, pia

e um microondas, espaço este no qual são preparadas apenas as mamadeiras e as

refeições que vêm do refeitório do CEI, que são colocadas ali após serem trazidas

pela cozinheira e são servidas logo que a professora ou educadora organize a sala

para o momento do lanche (tanto de manhã quanto à tarde). E, também temos o

trocador, que conta com: uma pia; um leito para trocar os bebês; duas prateleiras

grandes, nas quais ficam as bolsas e as caixas com produtos de higiene (fraldas,

lenço umedecido e pomada para assaduras) dos bebês; e um box, onde se encontra

uma ducha pequena e uma banheira para dar banho (em casos extremos) nos

bebês.

6.1.3 Os brinquedos

Dentre os brinquedos direcionados ao berçário pela professora e pela

educadora, encontram-se itens, como: bolas de plástico grandes (as quais servem

não somente para os bebês brincarem, mas como estimulação dos bebês pela

professora); brinquedos de plástico (bibelôs para os bebês apertarem, blocos de

encaixar etc.); alguns bichinhos de pelúcia e panos coloridos; uma piscina de

bolinhas e um túnel em tecido acrílico; bastante sucatas (garrafas pet de variados

tamanhos, embalagens de iogurte e de macarrão instantâneo em copos, copos de

requeijão etc.).

6.1.4 A rotina

A rotina estabelecida pela professora ao berçário é um item de fundamental

importância para a vivência dos bebês e das profissionais que os atendem viverem

em harmonia. Nesse berçário é possível observar a seguinte rotina no período da

tarde (período em que foi feita a observação):

13:00 horas: Troca de turno dos profissionais, chegada das crianças que

ficam em meio período e começo da troca de fraldas;

46

14:00 horas: Estimulação dos bebês pela professora e pela educadora, e

brincadeiras;

14 horas e 30 minutos: Hora do Lanche dos bebês (em geral é oferecida uma

fruta batida) e após o lanche os bebês dormem;

15:00 às 16:00 horas: Neste período as crianças dormem, então a professora

e a educadora revezam-se para fazer seus intervalos;

16 horas e 30 minutos: Geralmente neste horário todas as crianças já estão

acordadas, e as quatro crianças que ficam o dia todo, aquelas que podem, recebem

a sopa que é dada pela professora. Enquanto isso, a educadora faz a higiene (troca

de fraldas) e arruma os bebês que não comem a sopa para irem embora;

17:00 horas: A partir deste horário todos os bebês já estão arrumados e seus

pais começam a vir buscá-los;

18:00 horas: A professora vai embora e as crianças (cerca de três,

dependendo do dia) ficam com a educadora, aguardando seus pais;

18:40 horas: Aproximadamente neste horário o último bebê está indo embora.

6.2 O PAPEL DA PROFESSORA NO ACOLHIMENTO, ADAPTAÇÃO E EVOLUÇÃO

DOS BEBÊS

Após conversar informalmente com a professora, esta me informou sobre

como é realizada a acolhida e a adaptação dos bebês do berçário, sendo que

escolhi dois casos, os quais mais me chamaram a atenção, devido à atuação da

professora e o desenvolvimento de cada criança.

Temos primeiro o caso de PO, que entrou no final no ano passado (2014) e

que desde o princípio sempre se mostrou um bebê muito calmo e amoroso, não

exigindo muita atenção. Isso de certa forma, segundo o que a professora informou,

ocorreu porque, apesar de estar um pouco ansiosa pela entrada do filho no CEI, a

mãe do PO sempre se mostrou tranquila quanto à atuação da professora. Como já

trouxemos anteriormente, segundo Barbosa (2010), a escola, de fato, deve

estabelecer uma relação de afetividade com a família, como parece ter acontecido

entre a mãe de PO e a professora, afim de conhecer e compreender a forma de

criação de cada criança e assim respeitar e se integrar com o contexto do qual vem

cada criança.

47

No entanto, a professora observou que PO foi o último a engatinhar, pois

mesmo sendo sempre muito estimulado no berçário, os pais em casa não o

estimulavam, o que acabou não dando segurança ao pequeno, segundo a docente.

Até mesmo neste momento em que ele já está com um ano e três meses, fase na

qual outros bebês começam a andar e passam para a próxima fase da educação da

escola (com crianças maiores), PO demonstra muito medo em andar. Diariamente,

ele é bastante estimulado pela professora e educadora, porém ainda resiste e se

contem em dar apenas três passos, os quais logo são trocados pelo seu engatinhar

Outra característica observada pela professora sobre PO é seu jeito

“manhoso de ser”. “Ele quer todos os brinquedos para si e não gosta nem que outra

criança chegue perto. Sempre faz manha e chora muito”, informou a professora, que

sempre busca estimular PO a dividir seus brinquedos, segundo o que pude

observar: “Ei PO assim não pode, a amiga quer brincar também, olhe tem bastante

brinquedos”, fala a professora ao PO, quando o mesmo tenta tirar o brinquedo de

outro bebê e faz birra ao não conseguir. Segundo a teoria walloniana, PO está no

início do estágio sensório-motor e projetivo, por esse motivo já se diferencia

bastante em alguns aspectos dos demais bebês, sendo que PO já está criando certa

autonomia em relação às demais crianças, o que explica suas ações em querer

manipular brinquedos e demais objetos, além disso, já percebeu que através de

seus choros e gritos consegue estabelecer uma relação com o ambiente (WALLON,

1949, apud DANTAS, 1983). O que ressalta, ainda mais, o papel do adulto em suas

intervenções, demarcando os “espaços” ao eu infantil em construção.

Temos ainda que, segundo Maldonado (1984), os bebês não têm grande

interesse em brincar com outros da mesma faixa etária, conseguindo por um

pequeno período de tempo manter uma brincadeira com o outro, e nesse caso, a

outra criança é tida como apenas mais um brinquedo.

Assim, para Barbosa (2010), a professora deve propiciar encontros entre os

bebês, dando atenção para as ações do grupo e buscando favorecer a evolução

integral das crianças. E, de fato, nas nossas observações, pudemos constatar que

estas ações estão ocorrendo em diversos momentos, tanto pela professora quanto

pela educadora.

Foi possível observar claramente uma evolução de PO nesse tempo em que

o acompanhamos. De um bebê que apenas engatinhava, devido aos estímulos da

professora e da educadora, hoje ele já está começando a dar seus primeiros passos,

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com um pouco menos de insegurança e com mais destreza. Pelo o que foi abordado

neste trabalho, segundo Wallon (apud MAHONEY, 2010), pode-se dizer que essa

evolução do PO se deve também por ele já estar conseguindo solucionar conflitos

inerentes à passagem de um estágio para outro, elaborando melhor, assim, seus

medos, e ganhando autonomia ao estabelecer-se em um novo estágio (MAHONEY,

2000).

Já sobre ML, o bebê de sete meses, que é a mais nova do berçário, a

professora relatou que foi uma das adaptações mais difíceis que já vivenciou. A

professora informou que a mãe era bem insegura no início (a bebê entrou quando

tinha apenas quatro meses) e a criança chorava o dia todo durante a primeira

semana de sua adaptação, parando de chorar apenas para dormir e para comer.

“Havia todo um ritual para ela dormir: não podia ouvir a voz de ninguém, tinha que

colocar Funchicórea2 em sua chupeta e um paninho, que foi trazido pela mãe, em

seu rosto”, relatou a professora.

Nessa situação, a professora, segundo ela mesma, tentou manter-se o mais

calma possível e conversar com a mãe passando confiança a ela, para que a

mesma também demonstrasse segurança para a filha, afinal desde cedo os bebês

conseguem sentir a segurança ou não da família e demais educadores. Como já

ressaltado anteriormente, de acordo com Maldonado (1984), muitos bebês

conseguem se adaptar bem a creches desde o início, porém é necessário que

recebam atenção e carinho por parte de seus “cuidadores”.

Barbosa (2010) também enfatiza que os primeiros dias de adaptação do

bebê pequeno no ambiente da creche exige uma atenção e carinho redobrado por

parte das professoras, as quais necessitam preparar muito bem o ambiente,

passando segurança aos pais e demais familiares, pois as crianças sentem

rapidamente a confiança de seus pais pela escola e nas professoras, com isso o

trabalho de entrada das crianças na creche passa, obrigatoriamente, pela relação de

confiança entre pais e professores.

Na segunda semana, ML já estava mais calma, não chorava com tanta

frequência, porém ainda não gostava de ficar fora do bebê conforto, então a

professora intercalava o tempo de ML, entre atividades (relaxamento e estimulação),

no tatame junto a outros bebês e deitada no bebê conforto, porém ainda era difícil

2 Funchicórea é um medicamento fitoterápico em pó, administrado via oral, usado no tratamento de

cólica e prisão de ventre em bebês.

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fazê-la dormir (havia todo aquele ritual). Ao longo das outras semanas, o ritual foi

sendo deixado de lado, ML já estava bem adaptada e chorava apenas para comer

ou quando estava com a fralda cheia. “A ML está bem madura, ela é uma bebê

muito tranquila, que quase não exige nossa atenção”, informou a professora. De

fato, é visível a tranquilidade no rosto e nos gestos da pequena ML, ela é um dos

bebês que mais se diverte no momento da estimulação, no qual a professora apóia o

bebê sobre uma bola grande de plástico e o inclina (segurando bem o bebê) para

frente e para trás. Outra forma de estimulação é através de massagem, que lembra

os movimentos da Shantala3 (porém a bebê permanece vestida). ML come bem e

está sempre sorrindo.

Alguns fatores são fundamentais para essa evolução dos bebês, tais como:

a segurança transmitida pela professora aos pais e espelhada nos filhos; a rotina

estabelecida pela professora; as atividades de estimulação e massagens feitas pela

professora e educadora nos bebês. Esses fatores entre outros, característicos do

cotidiano da vivência no berçário, é com toda a certeza um dos grandes agentes da

evolução de um bebê “chorão” e inseguro para um bebê seguro e feliz, que aprende

e evolui cada dia mais. Por esse motivo, conforme abordamos ao longo do quinto

capítulo, BARBOSA (2010) aponta a importância de se estabelecer um

relacionamento, uma organização de currículo e um cotidiano, voltados para atenção

aos aspectos trazidos acima, pela professora no atendimento de seus alunos. “É

através das atividades cotidianas intermediadas por adultos que os bebês irão aos

poucos construir sua individualidade e independência.” (MALDONADO,1984).

6.2.1 O dia a dia do berçário

Como já foi citado anteriormente neste capítulo, a professora estabeleceu

uma rotina para o berçário, a qual é seguida diariamente, porém existem alguns

fatores que chamaram atenção no cuidar e educar diário do berçário, positiva e

negativamente, como veremos a seguir.

3 A Shantala é uma massagem que foi originada no sul da Índia e foi descoberta pelo médico francês

Frederick Leboyer, que, em uma de suas viagens ao sul da Índia, observou uma mãe massageando seu filho, e batizou a sequência de movimentos que ela fazia com o nome da mãe que a realizava: Shantala (BARBOSA et al., 2011).

50

6.2.1.1 Diálogos e músicas

A professora e educadora sempre mantêm uma voz calma e serena para com

os bebês, a não ser em momentos em que tem a necessidade de chamar a atenção,

pois nesses momentos a voz é firme e o tom pode variar. Usam-se de palavras

como: “Cuidado com fulaninho (a), tem que fazem carinho nele (a), assim machuca.”

Ou na hora de dormir: “PO, agora está na hora de descansar a cabecinha, todos os

amigos já estão dormindo, só falta você.” Em geral os bebês “compreendem” bem o

que está sendo falado e agem rapidamente com ações direcionadas a quem está

falando. Isso me pareceu muito positivo, pois desde cedo as crianças já conseguem

ter a noção do que está sendo direcionado a elas, por mais que não compreendam a

mensagem que se quer transmitir pelas palavras em si, sentem o tom de voz e ficam

atentos a ele. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

Infantil (2010), nesta etapa, devem-se ter como eixos norteadores do trabalho a

interação e a brincadeira, possibilitando “[...] experiências de narrativas às crianças,

de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com distintos

meios e gêneros textuais orais e escritos” (BRASIL, 2010). Neste caso como se trata

de bebês, creio que a estimulação e incentivo para o desenvolvimento da sua fala

oral está acontecendo, por meio de diálogos constantes com as crianças, além das

“explicações verbais” com as registradas acima.

6.2.1.2 A estimulação e massagem

A estimulação é realizada com as bolas, onde as crianças são colocadas

sobre a bola grande de plástico de barriga para baixo ou para cima e a professora

vai trabalhando o equilíbrio da criança ali. Outra forma é através do exercício de

pedalar: deita-se o bebê de barriga virada para cima e com as pernas faz-se o

movimento de pedalar; e com almofadas passando por cima de obstáculos. E, para

os maiores, como PO, segura-se apenas em uma das mãos da criança e a estimula

a caminhar sozinha. Em minha opinião, a estimulação é outro fator fundamental para

o desenvolvimento dos bebês, porém não se pode limitar apenas nesse tipo de

trabalho, é preciso ir além e buscar novos recursos para desenvolver cada vez mais

o bebê. Segundo Wallon (1975), o recém-nascido necessita de atenção em todos os

momentos, sendo incapaz de agir sozinho, necessita das ações e movimentos dos

51

outros para que suas próprias atitudes tomem formas. O efeito obtido torna-se cada

vez mais claras suas intenções e sua manifestação emotiva.

Já na massagem, a professora utiliza um pouco da técnica da Shantala, que

é bem positiva, principalmente quando a criança está com cólica ou alguma outra

indisposição, além do contato físico, o diálogo, tônico e emocional, que se

estabelece ente a criança e o adulto, fundamental para a estruturação do “eu” infantil

(WALLON, 1975).

6.2.1.3 A utilização dos diversos espaços da escola

A utilização de diversos espaços foi uma questão que observamos que não

ocorre com essa turma de berçário. Notamos um espaço tão rico para ser percorrido

com os bebês dentro do CEI e mas isto não ocorre. A responsabilidade não é única

exclusiva da professora, pois existe uma falta de recursos materiais e de pessoas

para conduzir esses bebês por entre os corredores e outros espaços de convivência

da escola. Eles têm o solário, mas como já foi citado anteriormente, quando chove

fica inviável sua utilização. No processo de estimulação do andar de PO, a

educadora, todos os dias, percorre os espaços da escola com ele, no entanto os

outros bebês ficam limitados à sala do berçário, não tendo a possibilidade de

vivenciar novas experiências, em outros espaços escolares. Ao que nos alerta

Barbosa (2010), os bebês em creche têm o direto de utilizar não apenas a sala,

como também os espaços de uso coletivo utilizado pelas crianças maiores, que no

caso desse CEI seriam o parquinho e o salão. Os bebês também têm a necessidade

de contato diário com a luz do sol, ar fresco e com a natureza (BARBOSA, 2010).

6.2.1.4 A organização e o trabalho com os brinquedos

A professora e a educadora tentam suprir a falta de recursos relacionada

aos brinquedos, dando às crianças sucatas. Sem dúvida nenhuma, a sucata serve

como um bom recurso para exploração e como possibilidade de aprender, porém,

alguns brinquedos já estão lá há anos e não são substituídos e mesmo quando a

professora cobra a compra de novos materiais, não é atendida. Segundo os

Indicadores da Qualidade de Educação Infantil (2009), o mobiliário precisa ser

elaborado levando em conta e pensando no tamanho de bebê. Faz-se necessário

52

que os adultos pensem sobre o tamanho das crianças e de seu alcance em utilizar

os diversos materiais, organizando os espaços de forma a incentivar a autonomia

infantil. Os aspectos de segurança e higiene são muito importantes, mas a

preocupação com eles não deve impedir as explorações e iniciativas infantis

(BRASIL, 2009).

Esses foram os dados obtidos na observação participante, que me

possibilitou (re) conhecer papel do professor em relação ao desenvolvimento integral

de crianças de zero a um ano e meio. Percebi que, de fato, o professor é um agente

fundamental para a educação e para o desenvolvimento integral de bebês da faixa

etária abordada, pois é o professor que irá estimular o bebê em seu

desenvolvimento nas diversas áreas nas quais ele irá sendo inserido pouco a pouco.

53

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta pesquisa busquei analisar o papel do professor em relação ao

desenvolvimento integral de bebês, de zero a um ano e meio, no ambiente da

educação infantil em uma instituição particular de Curitiba-PR. Na pesquisa

bibliográfica pude caracterizar, segundo Wallon, quais são os aspectos importantes

que marcam o desenvolvimento de crianças que estão na fase abordada,

entendendo a criança como um ser completo, integral e multidimensional (motor,

cognitivo e afetivo), em contínuo processo de transformação e evolução,

necessitando da relação social para se descobrir e descobrir o mundo.

E como a atuação do professor pode intervir nesse processo de

desenvolvimento do bebê? O professor, na creche, irá atender as necessidades

psicológicas e fisiológicas da criança, sendo que ele deve estar suficientemente

sensível e “empático” às suas manifestações emocionais, as quais o bebê irá

expressar, muitas vezes, em forma de choro ou risos, e diversas expressões

corporais, gestuais e faciais; esta é a linguagem da criança.

A comunicação, o diálogo tônico, como Wallon (1975) denomina, entre a

professora e os bebês é fundamental, seja verbal e/ou corporal. É incrível perceber

as formas como os bebês podem se expressar, com gestos, choros, manhas e

expressões faciais, e mais interessante ainda é ver que a professora consegue

compreender quase que perfeitamente o que o bebê quer expressar a cada

momento. Assim, a essência do papel do educador deve ser a de respeitar,

considerar e intervir para a integração dos movimentos constantes de

desenvolvimento do bebê.

Analisei, ainda, como a professora organiza e utiliza o ambiente, os

brinquedos e os demais materiais pedagógicos, os quais os bebês estão utilizando,

e como essa organização e esses materiais influenciam no desenvolvimento das

crianças. Compreendi que o ambiente deve ser acolhedor, mantendo o cuidado e a

atenção para com objetos que possam vir a desfavorecer o desenvolvimento da

criança. Os objetos que serão ofertados aos bebês devem oportunizar que eles

interajam entre si e que vivenciem experiências diversas. Cada material introduzido

na sala dos bebês deve ser compreendido como um estado físico que se remeterá a

uma organização cognitiva, motora e sensorial, além da qualidade cultural. No

berçário investigado, pudemos observar que o professor e o educador podem tentar

54

compensar a falta ou a inadequação dos objetos que são ofertados aos bebês,

embora possa existir sempre algum prejuízo nesses materiais inapropriados ou na

ausência daqueles que estariam aptos a provocar vivências importantes ao

desenvolvimento infantil.

Ao longo de minha jornada acadêmica sempre tive grande interesse por

essa área abordada em minha pesquisa, e ao observar atentamente, através da

pesquisa de campo realizada, a relação entre professor, família e criança, pude

entender o quanto o uso da comunicação, da linguagem, é importante. Desde que a

criança ingressa em seu primeiro dia no ambiente da creche, a professora precisa

passar confiança, segurança, para a família, sendo que esta a transmitirá para a

criança, o que fará com que a mesma se sinta segura em adentrar nessa nova

experiência.

Outro fator muito importante para o desenvolvimento das crianças é a rotina

estabelecida pela professora, pois as crianças parecem já esperar por determinados

momentos desta rotina, como o momento de se alimentar e dormir. Por mais que as

atividades e os brinquedos mudem conforme os dias, os dois momentos citados

anteriormente se matem sempre os mesmos e as crianças percebem/sentem isso. A

rotina de fato é fundamental para que a criança se sinta segura e para criar limites,

regularidade, desde muito pequenos, tão importantes para a organização do eu

infantil.

Não posso deixar de mencionar também a relação estabelecida dos bebês

entre si e com a professora e educadora. A questão de termos bebês em fases

distintas de desenvolvimento, cria um ambiente muito rico, pois através da

intermediação da professora e da educadora, os bebês mais novos, ao verem

gestos e ações dos maiores, buscam reproduzi-las, e a professora estimula para que

isso ocorra, como é exemplo de um dos bebês de sete meses, que ao ver seus

“coleguinhas” mais velhos batendo palmas começou a imitá-los; e vendo-os se

deslocarem com maior facilidade “sentados” começou a se deslocar dessa forma

também. E, para os mais velhos também é muito importante essa convivência com

bebês mais novos, pois aprendem a ter cuidados com eles. Além disso, ambos

estão aprendendo juntos a socialização com diferentes agentes de seu cotidiano.

Em minha caminhada como aluna de pedagogia aprendi que até pouco

tempo atrás (cerca de 30 anos atrás), o ambiente da creche era tido apenas como

um ambiente para cuidar das crianças enquanto suas mães precisavam trabalhar. E,

55

quando comentava com alguém, que não tem conhecimento sobre a atuação de

professores na creche, ouvia, por muitas vezes, frases como: “trabalhar com bebês é

fácil, é só trocar fraldas e dar comida”. Porém, como pudemos notar, muitos

documentos abordam a necessária formação do professor para atender e educar as

crianças nas creches. Wallon (apud GALVÃO, 2002), inclusive, cita em diversos

momentos de suas obras a importância do papel do pedagogo e da formação do

professor para trabalhar com crianças.

Hoje compreendemos que o atendimento aos bebês alia o cuidar e o educar,

e que esses dois fatores são indissociáveis, pois os bebês estão em constante

evolução e aquisição de conhecimentos, precisando de afeto e de uma prática

sensível aos vários aspectos do seu desenvolvimento integral – cognitivo, afetivo,

motor – segundo Wallon (apud GALVÃO, 2002). Bebês são seres incríveis e

precisam de um professor que os atenda e os eduque, com carinho, atenção à sua

saúde, compreensão aos seus enfrentamentos e que os estimule e os eduque como

um verdadeiro professor sabe fazer.

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REFERÊNCIAS

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