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1 FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: PROJETO ARQUITETÔNICO II PROF.: ROCHA JR. A ADOÇÃO DO PARTIDO NA ARQUITETURA APRESENTAÇÃO O texto que se segue é um resumo das idéias contidas no livro A adoção do Partido na Arquitetura, de Laert Pedreira Neves (Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBa.,1989),utilizado pelas disciplinas de Planejamento Arquitetônico do Currículo do Curso de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. Em algum momento do resumo, no entanto, utilizamos idéias de outras obras e autores. Quando isso ocorre – para distinguir da obra de Laert Neves e respeitar o direito autoral pela produção científica dos outros autores – citamos a referência diretamente no corpo do texto. Quando não há citação é porque trata-se de idéia contida no livro de Laert Neves. 1) A CONSTRUÇÃO BELA A arquitetura está sempre ligado à construção, mas nem todo mundo sabe dizer com precisão como se entrelaçam os significados dessas expressões. Também, de um certo modo, existe um vínculo entre arquitetura e beleza. Então a arquitetura seria a providência de uma construção bela(LEMOS, Carlos. O que é arquitetura. São Paulo: Brasiliense, 1980. Coleção Primeiro Passo). Surge, então, dúvidas a respeito da subjetividade dos julgamentos acerca do que seja ou não uma construção bela. Nunca será fácil separar as construções belas das outras, para que sejam eleitas e distinguidas como trabalhos de arquitetura. Por medida de prudência metodológica, Carlos Lemos divide as construções em três grandes grupos: a) as levantadas segundo um critério artístico qualquer (que varia com o momento histórico), por todos conhecidos; exemplos: pirâmides do Egito, os templos greco-romanos, as catedrais românicas, góticas, renascentistas... b) as erguidas sem um desejo específico de se fazer arte, mas admiradas por pouco elementos da sociedade a elas contemporâneas, ou mesmo por terceiros a posteriore como verdadeiras fontes de prazer estético; obras populares, - que são analisadas, interpretadas e curtidas pelos críticos eruditos. ’’Arquitetura sem arquitetos’’. Construção bela sem que tenha havido intenção plástica a priori, regida pelos cânones ditos civilizados. Ex: Mercado da Carne de Aquiraz.

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1FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: PROJETO ARQUITETÔNICO II PROF.: ROCHA JR.

A ADOÇÃO DO PARTIDO NA ARQUITETURA APRESENTAÇÃO O texto que se segue é um resumo das idéias contidas no livro A adoção do Partido na Arquitetura, de Laert Pedreira Neves (Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBa.,1989),utilizado pelas disciplinas de Planejamento Arquitetônico do Currículo do Curso de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. Em algum momento do resumo, no entanto, utilizamos idéias de outras obras e autores. Quando isso ocorre – para distinguir da obra de Laert Neves e respeitar o direito autoral pela produção científica dos outros autores – citamos a referência diretamente no corpo do texto. Quando não há citação é porque trata-se de idéia contida no livro de Laert Neves. 1) A CONSTRUÇÃO BELA

A arquitetura está sempre ligado à construção, mas nem todo mundo sabe dizer com precisão como se entrelaçam os significados dessas expressões. Também, de um certo modo, existe um vínculo entre arquitetura e beleza. Então a arquitetura seria a providência de uma construção bela(LEMOS, Carlos. O que é arquitetura. São Paulo: Brasiliense, 1980. Coleção Primeiro Passo).

Surge, então, dúvidas a respeito da subjetividade dos julgamentos acerca do que seja ou não uma construção bela. Nunca será fácil separar as construções belas das outras, para que sejam eleitas e distinguidas como trabalhos de arquitetura. Por medida de prudência metodológica, Carlos Lemos divide as construções em três grandes grupos: a) as levantadas segundo um critério artístico qualquer (que varia com o momento histórico),

por todos conhecidos;

exemplos: pirâmides do Egito, os templos greco-romanos, as catedrais românicas, góticas, renascentistas...

b) as erguidas sem um desejo específico de se fazer arte, mas admiradas por pouco elementos da sociedade a elas contemporâneas, ou mesmo por terceiros a posteriore como verdadeiras fontes de prazer estético; obras populares, - que são analisadas, interpretadas e curtidas pelos críticos eruditos. ’’Arquitetura sem arquitetos’’. Construção bela sem que tenha havido intenção plástica a priori, regida pelos cânones ditos civilizados. Ex: Mercado da Carne de Aquiraz.

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Detalhe da estrutura do telhado da edificação central do Mercado da Carne em Aquiraz -Ceará-Brasil.

c) as construções nascidas ao acaso, por iniciativa de pessoas destituídas de senso estético e

que a ninguém agradam (embora seja difícil imaginar construções levantadas sem que tenha havido um mínimo de intenção plástica). Obras destinadas ao fim precípuo de fornecer abrigo. Exs: barracos, galpões.

2) DEFINIÇÃO DE ARQUITETURA Visando a uma metodologia de ensino, Carlos Lemos trata do binômio ciência-arte contida em todas as definições de arquitetura, procurando ver com mais ênfase só os condicionantes não estéticos que necessariamente mantêm relações entre si quando agem na criação arquitetônica. Para isolar a questão estética, Lemos se utiliza da noção de partido arquitetônico para definir arquitetura:

a) ‘’Arquitetura é toda e qualquer intervenção no meio ambiente criando novos espaços, quase sempre com determinada intenção plástica, para a tender a necessidades imediatas ou a expectativas programadas por aquilo que chamamos de partido’’ (LEMOS, 1980: p. 41/42).

3) O PARTIDO ARQUITETÔNICO: a) Conseqüência formal derivada de uma série de condicionantes ou de determinantes; seria o resultado físico da intervenção sugerida ( LEMOS:1980); b) A idéia preliminar do edifício projetado. A adoção do Partido Arquitetônico é o método dessa idéia preliminar, contendo, em essência, as informações que ensinam o modo como percorrer o caminho que leva ao ato de projetar, independente de qual seja o tipo específico de projeto 4) O MÉTODO visa basicamente servir de referencial de análise e diretriz de procedimento na ordem das idéias, na manipulação das variáveis do projeto, para que o projetista possa utilizá-lo simultaneamente na atitude de síntese arquitetônica 5) PRINCIPAIS DETERMINANTES/CONDICIONANTES DO PARTIDO ARQUITETÔNICO (LEMOS: 1980): a) técnica construtiva (recursos locais: materiais e humanos); b) o clima; c) condições físicas e topográficas do sítio d) programa de necessidades (usos, costumes, conveniência do empreendedor) e) condições financeiras do empreendedor; f) legislação.

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36) PLANEJAMENTO ARQUITETÔNICO 6. 1 )Dois conceitos importantes: a) projetar é o ato de idealizar algo a ser feito. Na ótica arquitetônica significa idealizar o edifício a

ser construído b) o projeto é o documento demonstrativo deste algo idealizado. Na ótica arquitetônica representa o

documento explicativo do que deve ser o edifício projetado (produto do ato de projetar, que é fruto da imaginação criadora, da sensibilidade do autor, de sua percepção e intuição).

Como é possível ordenar o pensamento do projetista para produzir o partido arquitetônico? 6.2 ) Ordem de procedimentos: 1ª) Indutivo1, que conduz o pensamento desde o ponto inicial, o de querer elaborar o projeto, armazenando e analisando informações; 2ª) Criativo, quando a mente desencadeia o processo de síntese, dando resposta a idéia da solução arquitetônica; 3ª) Evolução da idéia, que é ao mesmo tempo indutiva e criativa, na qual a idéia arquitetônica esboçada na etapa anterior é aperfeiçoada, até chegar à conclusão do projeto. 6.3) Etapas do planejamento arquitetônico derivadas dos procedimentos do item anterior (ação de projetar): 1º) Coleta e análise das informações básicas: a) de natureza conceitual/teórica; b) de natureza físico-ambiental. Podem ser coletadas dos seguintes modos:

- Discussão com a clientela; - Discussão com especialistas - Pesquisa de dados bibliográficos; - Visita a organizações similares; - Pela intuição do projetista que interpreta a sociedade e propõe uma dada forma de

organização da vida no espaço arquitetônico; - Pela soma obtida por todos os modos anteriores.

2º) Transpor para o papel, na linguagem do desenho, a solução arquitetônica correspondente à formulação conceitual do projeto (etapa do partido arquitetônico, da síntese criadora); formulação da idéia básica/preliminar do edifício; 3º) Solução final/desenvolvimento da idéia expressa no partido, produzindo o projeto executivo. Etapa da consolidação de diversas variáveis envolvidas no projeto executivo (funcionais, dimensionais, tecnológica, plásticas). 7) O TEMA O planejamento arquitetônico obviamente é desencadeado a partir do tema, que é a essência do projeto. O projetista deve saber claramente, de início, a definição precisa do tema a abordar. Quanto mais claro estiver esta definição, com mais precisão se desenvolverá o trabalho de planejamento arquitetônico. Do tema derivam todos os passos da elaboração do projeto. O tema é a solicitação inicial do cliente. Cabe ao arquiteto dar solução arquitetônica ao tema. O arquiteto não é obrigado a saber, de início, sobre o tema dado. As informações sobre o tema ele obterá na primeira etapa da adoção do partido arquitetônico.

1 Indução: operação mental que consiste em se estabelecer uma verdade universal ou uma proposição geral, com base no conhecimento de certo número de dados singulares ou de proposições de menor generalidades; Dedução: processo pelo qual com base em uma ou mais premissas, se chega a uma conclusão necessária, em virtude da correta aplicação das regras lógicas.

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48) OBJETIVOS DO PARTIDO ARQUITETÔNICO 1º) Registro gráfico da idéia preliminar do edifício; 2º) Instrumento indispensável para que o processo criativo de síntese arquitetônica possa efetivar-se numa expressão perceptível. O ato de desenhar o partido não é apenas um procedimento mecânico, mas um processo de mentalização no qual se fundem o ato de desenhar com o ato de criar; 3º) Instrumento arquitetônico utilizado pelo projetista para dialogar com o cliente, expressando a idéia do edifício que imaginou e ouvindo da clientela a sua opinião sobre a idéia proposta, o atendimento da expectativa e da viabilidade da solução; 4º) Instrumento para compatibilizar a idéia do edifício, como interpretação arquitetônica, com as diversas implicações de ordem tecnológica (estrutura, instalações, técnicas construtivas, materiais para construção, problemas especiais etc) inerentes à solução. A busca dessa compatibilização pode ensejar modificações na idéia, inclusive alterações substanciais, quando se torna difícil conciliar os diversos aspectos tecnológicos, e é no partido que os ajustes podem ser melhores encaminhados 5º) Pode constituir-se num produto acabado em si mesmo, que cumpre seu papel de expressão de idéias. Quando a finalidade da síntese arquitetônica é a especulação sobre a busca de alternativas possíveis e de variáveis conhecidas, ele serve, neste caso, como instrumento de consulta arquitetônica, de especulações de possibilidades viáveis para a tomada de decisões sobre um empreendimento arquitetônico a ser realizado.

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5PRIMEIRA ETAPA _________________________________________________________________ COLETA E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES BÁSICAS 9) ASPECTOS CONCEITUAIS DO TEMA As informações básicas conceituais são o embasamento sobre o qual se assentam todas as idéias do partido arquitetônico. A formulação de conceitos e o estabelecimento de parâmetros referenciais da teoria sobre o tema podem ser:

- intuídos pela mente do projetista, que filosofa sobre a vida, a sociedade e as pessoas e suas atividades, numa atitude prospectiva;

- fruto de um trabalho exaustivo, complexo, sofisticado, de duração prolongada, com equipe numerosa, indo até a elucidação de todas as dúvidas;

- ou um outro modo entre esses extremos. As informações, em síntese, devem abordar duas ordens distintas: a) referentes aos aspectos conceituais do tema e b) aos físicos do sítio a ser utilizado. Informações básicas referentes aos aspectos conceituais: 1) O conceito do tema; 2) A caracterização da clientela; 3) O programa arquitetônico; 4) As relações do programa; 5) O pré-dimensionamento do edifício. 9.1) Conceito do tema (Primeiro Passo) • conceito resulta da interpretação do objetivo e da função ou funções decorrentes das principais

atividades a serem exercidas no edifício. O conceito ou conceitos do tema a ser abordado devem estar definidos da forma mais clara e correta possível para que o projetistas não tenha dificuldades futuras. E a busca de novos conceitos para o tema conhecido induz o projetista a soluções inovadoras de projeto.

• Projetar é formular hipóteses do que acontecerá no futuro num dado edifício. É a incorporação

de previsões e de riscos. As funções e atividades imaginadas no planejamento arquitetônico poderão, ou não, ser exercidas na realidade. Isso só vai ser observado depois do prédio pronto e posto a funcionar. A formulação teórica, conceitual correta do tema é a responsável pelo acerto do projeto. O projeto será sempre a interpretação do conceito adotado.

9.2) Caracterização da Clientela e das Funções (Segundo Passo) • A clientela são os usuários ou grupo de usuários mais significativos envolvidos no tema e em seu

conceito. • Conhecido o tema e o seu conceito, o projetista deve identificar ou produzir a caracterização da

clientela e das funções inerentes ao tema. Esta identificação, que representa a evidência do caráter e das propriedades dos usuários ou grupos de usuários, serve para detectar as exigências funcionais básicas que deverão ser atendidas na edificação. Quanto mais detalhada for a caracterização da clientela, mais aprofundada será o nível de informação a disposição do projetista e mais segurança terá para a elaboração do projeto.

• Função, no planejamento arquitetônico, é a atividade principal ou o conjunto das atividades

exercidas para atender determinada necessidade vital, num espaço arquitetônico. A atividade é a ação desenvolvida para satisfazer a uma ou mais necessidades. A função cozinhar de uma residência, por exemplo, envolve várias atividades, como, as de armazenar alimentos duradouros e perecíveis, de limpeza e preparo dos alimentos e de cocção.

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6 • A caracterização das funções de determinados temas, quando a organização que vai funcionar

no edifício tem atividades definidas de modo preciso e sequenciado, como num processo de produção industrial, pode ser expresso na forma de lay-out , um esquema da seqüência das atividades e da disposição ordenada dos equipamentos e instalações.

• Em síntese, a caracterização das funções decorre num nível geral do objetivo do tema e, no nível

particular, das características da clientela e das suas atividades. Essa caracterização servirá de referência básica para a definição dos ambientes ou elementos do programa arquitetônico.

9.3) O Programa Arquitetônico (Terceiro Passo) • O programa arquitetônico é a relação de todos os compartimentos, ambientes, ou elementos

arquitetônicos previstos para o edifício. • O programa traduz, sob a forma de um elenco de elementos arquitetônicos, os espaços onde se

desenvolverão as funções e atividades previstas para o tema, levando-se em conta as características da clientela e do conceito do tema.

• Cada função dessa tanto pode ser representada no programa por apenas um ambiente

arquitetônico como serem conjugados várias dessas funções no mesmo ambiente. • O programa arquitetônico pode ser elaborado, tanto pelo raciocínio intuitivo que capta com

clareza as funções do tema, quanto pode resultar da elaboração cuidadosa do estudo das atividades de uma determinada organização de funções. Na prática profissional do arquiteto ocorrem as seguintes situações:1) a do cliente que sabe exatamente o que quer do projeto e já realizou a programação, tendo o programa elaborado; 2) a do cliente que discute exaustivamente com o arquiteto os diversos aspectos envolventes do programa para a sua elaboração e 3) o arquiteto incumbe-se de elaborá-lo.

• Para tornar o programa mais compreensivo e ordená-lo de modo a ajudar o trabalho a ser

realizado adiante, na etapa do partido arquitetônico, dispor o programa por setores afins. Todo o programa pode ser ordenado por grupo de funções que têm ligações entre si. A ordenação feita desse modo ajuda a viabilizar o programa setorialmente e, ao mesmo tempo, servirá para a elaboração dos raciocínios de pré-dimensionamento e das idéias arquitetônicas do partido.

9.4) Relações do Programa (Quarto Passo) • Existem relação de maior ou menor grau de intimidade ou aproximação entre os cômodos ou

elementos do programa. É importante compreender as relações dos elementos do programa, pois essa compreensão é útil para a adoção do partido arquitetônico. Essas inter-relações caracterizam a funcionalidade existente entre esses elementos e condicionam as disposições espaciais deles no terreno e no edifício.

• As inter-relações entre os elementos do programa encontram-se na interpretação das

peculiaridades da clientela e na percepção das afinidades das funções e das atividades do tema.

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FUNCIONOGRAMA: Diagrama que expressa as inter-relações dos elementos do

Programa Arquitetônico; ORGANOGRAMA : Diagrama que expressa as funções e as relações de hierarquia

dos elementos de uma organização; FLUXOGRAMA: Diagrama que expressa a noção de fluxo dos elementos

considerados.

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9 9.5) Pré-dimensionamento do Programa (Quinto Passo) • As áreas de todos os elementos constantes no programa arquitetônico constituem-se na base

dimensional do edifício, a ser usada na adoção do partido arquitetônico, especificamente na segunda fase, a da síntese criativa. É uma referencia dimensional que pode posteriormente ser alterado, mas quando o dimensionamento final se mostra muito diferente do pré-dimensionamento é que houve raciocínios diferentes na elaboração de ambos.

• O pré-dimensionamento é sempre estabelecido interpretando-se as exigências dimensionais, em

área, das atividades que serão exercidas em cada compartimento listado no programa e das funções previstas.

Croquis para o pré-dimensionamento de um quarto

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10 10) ASPECTOS FÍSICOS DO TERRENO ESCOLHIDO As informações básicas sobre o terreno são o embasamento de natureza físico-espacial com o qual conta o projetista para a elaboração do partido arquitetônico. Elas formam com os aspectos conceituais o binômio conceitual-espacial indispensável à consideração do planejamento arquitetônico. Essas informações podem estar incluídas nos tópicos seguintes (numeradas de seis a quatorze, seguindo a seqüência do processo de adoção do partido arquitetônico): 6) A escolha do terreno; 7) A planta do terreno; 8) A forma e dimensões; 9) A conformação do relevo; 10) A orientação quanto ao sol; 11) A orientação quanto aos ventos; 12) Os acessos; 13) As relações com o entorno; 14) A legislação pertinente. 10.1) Escolha do Terreno (Sexto Passo) • A escolha do terreno deve obedecer a critérios de seleção previamente estabelecidos. Os

critérios são a razão da escolha, que tem motivações diversas (subjetivas, pessoais) . Porém, alguns aspetos técnicos devem ser observados na escolha de um terreno para a implantação de um edifício, importantes nos critérios de seleção:

a) A localização; b) A área; c) O relevo; d) A orientação quanto ao sol e aos ventos dominantes; e) As vias de acesso e as facilidades de transportes; f) A urbanização e o tipo de vizinhança; g) Os serviços públicos (abastecimento de água e energia, rede de esgoto, de águas pluviais etc); h) Restrições e permissões de uso, contidos na legislação pertinente; i) Custo. 10.2) Planta do Terreno (Sétimo Passo) • A planta do terreno deve conter as seguintes informações: a) Desenho do terreno na escala adequada com sua forma e suas dimensões exatas

(comprimentos dos lados e área); b) A rua ou ruas que o limitam, sua largura, os passeios e suas larguras; c) O relevo, com cotas de pontos de nível, quando plano e curvas de níveis, quando inclinado,

indicativas da altimetria; d) Indicativo da direção do norte (o verdadeiro ou, na falta deste, o norte magnético), que serve de

orientação geográfica; e) Indicativo de acidentes geográficos (rio, lago, mar etc e revestimento vegetal (árvores e seu

porte) significativo, quando houver; f) Outros elementos significativos quando houver (alteração na topografia original: corte etc). 10.3) Forma e Dimensão do Terreno (Oitavo Passo) • O importante da análise da forma e das dimensões do terreno é perceber o grau de influência

dessas variáveis sobre as decisões do projeto que serão tomadas na etapa seguinte, da síntese criativa.

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1110.4) Conformação do Relevo (Nono Passo) • Haverá sempre no planejamento arquitetônico uma relação muita íntima entre a conformação do

terreno e a idéia arquitetônica do edifício. O projetista deve captar o grau de influência dessa variável física e saber usá-la adequadamente e de modo criativo nas decisões de projeto.

10.5) Orientação Quanto ao Sol (Décimo Passo) • A influência do sol decorre basicamente do excesso de iluminação (a luminosidade natural no

ambiente arquitetônico) e da insolação (o efeito calorífico sobre as paredes e o interior do edifício) que causam desconforto.

• Numa região tropical como a que nos encontramos a preocupação maior é de atenuar ou reduzir

ao máximo o desconforto provocado pelo excesso de iluminação natural e da insolação do edifício.

• O iluminação natural do edifício tem relação com sua orientação quanto ao sol e à disposição

interna dos elementos do programa. Essa iluminação pode ser controlado pelas envazaduras feitas no edifício (portas, janelas, basculantes, aberturas diversas e elementos arquitetônicos feitos com essa finalidade).

• O controle do excesso de insolação depende, basicamente, da orientação do terreno escolhido,

da disposição do edifício e seus elementos constitutivos quanto ao sol. Esse controle requer uma análise da influência do sol para obter as referências de orientação a serem adotadas na disposição do edifício no terreno e, consequentemente, na dos setores e dos elementos do programa no edifício.

Modos de se obter a influência do sol no terreno escolhido: a) Observar o movimento aparente do sol na abóbada celeste; b) Utilização da carta solar (um diagrama elaborado para registrar o movimento aparente do sol

observado da terra) do lugar em que se situa o terreno Diagrama de Insolação

10.6) Orientação quanto aos ventos (Décimo Primeiro Passo)

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12 • São vários os componentes do clima: a atmosfera, a insolação, os ventos. Depois da insolação,

o que tem maior significado para o ser humano nos ambientes arquitetônicos é sem duvida o vento que constitui fator primordial no controle dos efeitos do clima para tornar confortável a vida nesses ambientes.

• Verificar como os ventos atuam e oriente o edifício de modo a tirar proveito da ventilação e

atenuar a insolação. A boa ventilação natural no interior do edifício serve para corrigir o desconforto do clima e obter redução da temperatura a fim de trazê-la para a zona desejável de conforto térmico.

10.7) Acessos (Décimo Segundo Passo) • A influência dos acessos ao terreno está intimamente vinculada à via ou vias de acesso

existentes nos limites do terreno e dependem do tipo de via, da quantidade, da sua extensão e disposição.

• O acesso (ou acessos) ao edifício está intimamente vinculado às possibilidades de dispô-lo no

terreno, decorrendo essa disposição da análise e interpretação de algumas variáveis: umas de natureza física, como as relativas às vias de acesso, ao relevo e a disposição dos setores do programa no terreno; outras de natureza conceitual como as derivadas das relações de funções que exigem acessos diretos para elas, e da complexidade ou não do tema arquitetônico que determina os tipos de acesso e seus níveis de importância.

10.8) Relações com o Entorno (Décimo Terceiro Passo) • O entorno é o ambiente físico, natural ou criado, existente à volta do terreno escolhido. O entorno

tanto pode ser o conjunto de construções vizinhas, como pode ser a paisagem visível até a linha do horizonte ou ainda, o conjunto de edificações do bairro onde se situa o terreno.

• O entorno pode conter elementos capazes de influir favoráveis ou desfavoravelmente na

idealização do partido arquitetônico no terreno escolhido. É em função dessa influência que se estabelece a relação entre o terreno e o entorno.

• A vista que se apresenta ao observador situado no terreno, que pode ser desfrutada do interior

do edifício, é um dos fatores do entorno a ser considerado e pode influir na disposição dos setores e dos elementos do programa no terreno.

• As considerações de ordem tipológica da arquitetura existente no bairro podem induzir o

projetista a relacioná-las com a tipologia do edifício a ser projetado 10.9) Legislação Pertinente (Décimo Quarto Passo) • A legislação pertinente encontra-se nos planos diretores, nas leis de uso e ocupação do solo e

nos códigos de obras e posturas

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13SEGUNDA ETAPA ADOÇÃO DO PARTIDO ARQUITETÔNICO 11 ) IDÉIAS BÁSICAS PARA A ADOÇÃO DO PARTIDO A questão essencial para o projetista é saber como transformar as idéias em projeto. Esta transformação é denominada como o ato de adoção do partido que é, em síntese, o trabalho de processar as informações básicas, imaginar a idéia preliminar do projeto e expressá-la numa forma perceptível através do desenho. A adoção do partido arquitetônico pode nascer: a) De uma idéia dominante, numa interpretação direta do tema como resposta arquitetônica ao

desafio feito ao projetista, decorrendo dessa idéia todas as demais idéias do projeto (que pode ser o resultado de uma nova interpretação conceitual da sociedade);

b) Da idéia da função (prático-funcional); c) Da idéia da forma (plástico-ideal); d) Da tecnologia a ser empregada; e) De um sem números de idéias viáveis sobre a concepção do edifício

É conveniente o projetista utilizar-se de um método de adoção capaz de permitir o ordenamento das idéias como auxiliar do pensamento criador, a fim de facilitar a tomada de decisões de projeto e obter a síntese arquitetônica desejada. Não há um método que seja o mais recomendável. Cada projetista desenvolve o seu método de trabalho. No entanto, o ideal a ser perseguido para a adoção do partido arquitetônico é o de imaginar o edifício conjugando todas as variáveis envolvidas simultaneamente, numa concepção integral. No processo de planejamento arquitetônico o projetista há que raciocinar e combinar diferentes linhas do pensamento (Utilizando um método que separa os raciocínios de cada decisão, distinguindo, detalhadamente, as variáveis envolvidas em cada caso, para facilitar o trabalho de síntese e de compreensão): a) As decisões do projeto; b) As idéias dominantes; c) As idéias geradas nos planos horizontais; d) As idéias geradas nos planos verticais; e) Os ajustes tridimensional das idéias.

11.1 – Decisões de projeto A concepção do projeto requer a tomada de inúmeras decisões: na primeira etapa (conceito do tema); nesta segunda etapa, quando atingem seu momento mais significativo; e continuam a ser tomadas na terceira etapa (projeto executivo). Exemplos de tomadas de decisões (na segunda etapa): • Escolha da forma do edifício; • Escolha do modo de ocupação do edifício no terreno; • Definição da quantidade de pavimentos; • Distribuição dos elementos do programa nos diversos pavimentos; • Escolha do tipo de coberta, sua forma e estrutura de sustentação; • Escolha dos setores e dos elementos do programa que vão ficar em tal ou qual orientação

quanto ao sol e aos ventos; • Os tipos de acesso e seus locais no terreno;

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14• Os elementos de fachada, as esquadrias; as texturas; os materiais etc.

Projetar é um contínuo exercício de tomada de decisões. E a adoção do partido arquitetônico é, sobretudo, o resultado do exercício de optar. As decisões de projeto têm sempre uma ou

mais razão de ser, uma ou mais justificativas, têm sempre um porquê. A escolha não deve ser uma decisão baseada somente numa preferência subjetiva, numa simpatia. O trabalho de conceber um partido arquitetônico é essencialmente um trabalho técnico e a escolha, a opção, a decisão, deve ser sempre feita com bases em razões de ordem técnica, plástica, econômica, social etc. As informações básicas conceituais e físicas são variáveis que criam um quadro referencial de influências, de graus variados. Essas influências, porem, não constituem em si mesmas decisões de projeto. Apenas geram alternativas a serem usadas convenientemente. As decisões arquitetônicas de maior significação – que se constituem na base dos raciocínios do partido arquitetônico são as seguintes: a) interpretação dos conceitos; b) modo de ocupação do edifício no plano horizontal (disposição dos setores/programa

arquitetônico decorrentes da função, orientação, ventos, relevo, acessos, forma do terreno); c) número de pavimentos; d) distribuição dos setores/elementos do programa; e) relações do programa entre os setores/elementos; f) elos de ligação entre setores/elementos; g) relações do programa face à conformação do relevo; h) disposição dos acessos; i) restrições e permissões da legislação; j) relação forma do edifício/dimensões do terreno, k) compromisso com o entorno; l) disposição das circulações horizontais e verticais; Outras decisões importantes (simultâneas às anteriores): 1) tecnológicas • sistema estrutural; • tipo de cobertura • técnicas construtivas; • esquadrias • custos dos materiais e da construção. 2) plásticas • a forma do edifício como expressão de beleza; • as proporções nos planos horizontal e vertical; • as relações entre forma e conteúdo; • combinações e contrastes dos elementos de fachada; • as texturas e cores dos materiais. 11.2 – Idéias dominantes A idéia dominante é a que domina a composição do partido e condiciona o raciocínio das demais idéias do planejamento arquitetônico. Pode ser originária de uma ou de várias das informações básicas ou das decisões de projeto (exs: baixo custo da construção, sofisticação da arquitetura, proposta inovadora no campo da filosofia/teoria da arquitetura/interpretação da sociedade, relação entre forma e função, formas dominantes, sistema estrutural, conjunto de idéias).

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1511.3 – Idéias e planos Compreende o modo de idealizar o partido (concepção de um sólido geométrico). Quanto mais desenvolvida a habilidade do projetista de imaginar o edifício na percepção tridimensional, mais apto estará para produzir um bom projeto. A adoção do partido processa-se, basicamente, em dois procedimentos: a) ordenamento do pensamento criador com base nas informações básicas para idealizar o

edifício; b) expressão do edifício numa forma perceptível:

• plano horizontal (planta de situação/planta baixa/planta de cobertura); • plano vertical; • perspectiva.

A técnica gráfica do desenho expressa-se em níveis diferentes de linguagem conforme a etapa do planejamento arquitetônico.