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O PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO COMO IMAGEM: O SIMULACRO NA PAISAGEM DE OURO PRETO. VANESSA REGINA FREITAS DA SILVA Universidade Federal de Pelotas/RS CAPES [email protected] Introdução
O debate sobre a preservação do patrimônio no mundo é crescente e esta pesquisa1
contribui com uma reflexão sobre o que representa o patrimônio edificado na atualidade e a
motivação para a sua preservação. Para tanto, a reconstrução de uma edificação localizada na
Praça Tiradentes, em Ouro Preto, Minas Gerais, é utilizada como estudo de caso. Ressalta-se
então a importância de Ouro Preto, cidade capaz de se tornar referência sobre as discussões
patrimoniais no Brasil.
O objetivo é discutir a valorização do patrimônio arquitetônico a partir da imagem que
evoca sobre a paisagem preservada. Para o desenvolvimento do trabalho foi aplicada uma
metodologia técnica – através da coleta de dados por meio de pesquisa de campo com registro
fotográfico da edificação e do contexto onde se insere e levantamentos documentais sobre a
história da edificação e sobre o projeto executado – e uma metodologia de análise – através
dos marcos teóricos utilizados após extensa pesquisa bibliográfica, entre os quais se destacam
Milton Santos e Baudrillard, respectivamente sobre paisagem e imagem.
Uma Reconstrução em Ouro Preto
A antiguidade de Ouro Preto e a sua representação na história do país, bem como o
valor arquitetônico e paisagístico que possui, refletem no entendimento do patrimônio cultural
do Brasil e nas políticas públicas de preservação desde a década de 1930. O arraial que deu
origem à atual Ouro Preto foi fundado em 1698, iniciando o Ciclo do Ouro no Brasil. Em
1711 foi elevada à categoria de vila com o nome “Vila Rica” e tornou-se capital da capitania
de Minas Gerais em 1720. Ainda no século XVIII, em 1789, foi palco da Inconfidência
Mineira, expressivo movimento separatista contra a Coroa Portuguesa. Em 1823 foi alçada
por Dom Pedro I à “Imperial Cidade de Ouro Preto”, adotando a partir de então o nome “Ouro
Preto”. Somente ao final do século XIX, em 1897, a capital do Estado de Minas Gerais é
transferida de Ouro Preto para Belo Horizonte.
Ouro Preto foi declarada Patrimônio Nacional em 1933, mediante um decreto do
governo provisório federal. Após a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
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Nacional/IPHAN em 1937, a cidade foi inscrita no Livro do Tombo de Belas Artes (1938), no
livro Histórico e, décadas depois, no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico (1986).
Foi a primeira cidade brasileira a receber o título de Patrimônio Mundial pela Organização
das Nações Unidas/UNESCO em 1980. Seu rico acervo edificado tornou-se mais valorizado
especialmente a partir dessa época, intensificando o turismo no local, o que aumentou a
intenção em manter seu caráter paisagístico preservado.
Os títulos e inscrições citados justificam a permanência da cidade como exemplar de
sítio histórico com grande expressividade e importância. Nesse contexto, intervenções em
sítios urbanos tombados, como Ouro Preto, suscitam discussões sobre como realizá-las de
modo a preservar a paisagem e a imagem de uma cidade como um bem patrimonializado. A
Praça Tiradentes é um referencial de centralidade de Ouro Preto, ponto de encontro, local das
festividades e solenidades. Agrega valores estéticos, históricos e econômicos que reforçam a
preocupação em preservar a imagem urbana evocada como memória e como patrimônio,
nacional e internacionalmente.
a) b) FIGURA 01 – A Praça Tiradentes em Ouro Preto. a) a edificação reconstruída a direita da foto. b) a edificação reconstruída a esquerda da foto. Fonte: Vanessa Regina Freitas da Silva. Acervo particular, 11 ago. 2009.
Para a análise proposta, uma edificação localizada nessa praça foi determinada como
ícone: o atual Centro Cultural e Turístico do Sistema FIEMG - Federação das Indústrias do
Estado de Minas Gerais. O local onde está implantado o centro foi reconstruído, após o
incêndio que destruiu a edificação do século XVIII, um dos marcos edificados da praça.
A edificação destruída abrigava o “Hotel Pilão” em todo o seu segundo piso. O serviço
de hotelaria era uma referência para os moradores que denominavam a edificação como “O
Pilão”. No subsolo e no pavimento térreo existiam comércios: lojas de móveis e
eletrodomésticos, de artesanato e de pedras preciosas e jóias; uma farmácia; e um café que
permitia acesso à rede internacional de computadores. Não há registros exatos que atestem a
época da construção, mas segundo De Grammont (2006), após o incêndio, escavações
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realizadas revelaram estruturas de alvenaria de pedra do século XVIII. Outros indícios
apontam três fases: em 1812 existiam três casas no local, em 1868, duas; e em 1894 apenas
uma. Ou seja, foram feitos remembramentos até chegar à tipologia de uma edificação única
no século XIX.
O incêndio no imóvel começou no fim da tarde do dia 14 de abril de 2003 e se alastrou
rapidamente; em duas horas a edificação estava destruída pelo fogo. Existem controvérsias
sobre a causa do incêndio e um inquérito permanece instaurado. O prédio foi comprado por
um empresário meses antes do incêndio; a intenção era transformá-lo em um empreendimento
mais moderno, mas mantendo o uso hoteleiro. Desde essa compra, o hotel não estava mais em
funcionamento; apenas os comércios foram mantidos. Após o incêndio e destruição do
imóvel, o qual possuía um seguro contra sinistros, o proprietário decidiu vendê-lo, realizando
a transação em dezembro de 2004. Sendo assim, a FIEMG tornou-se a proprietária e, em
2005, iniciaram os debates junto com a Prefeitura de Ouro Preto e o IPHAN sobre a forma de
intervir na cidade tombada. A instalação de um Centro Cultural e Turístico em Ouro Preto
aproveitou a boa localização do imóvel no espaço urbano e a vocação turística da cidade.
a) b) FIGURA 02 – a) A edificação sendo consumida pelo fogo. Fonte: Eduardo Trópia. Jornal Estado de Minas. Belo Horizonte, p. 01(capa), 15 abr. 2003. b) O aspecto da edificação no dia posterior ao incêndio. Fonte: Marcelo Santa’Anna. Jornal Estado de Minas. Belo Horizonte, p. 01(capa), 16 abr. 2003.
Durante os debates sobre a intervenção entendia-se que o projeto elaborado deveria se
adequar ao contexto urbano da praça. Ressaltou-se que em casos semelhantes de destruição
por incêndios ou danos de guerra são admitidas três opções: deixar o lote livre, urbanizando-
o; inserir uma edificação notadamente moderna e contrastante com o entorno; ou projetar uma
edificação reinterpretando a edificação perdida; sendo a última opção a escolhida para o caso
em Ouro Preto. Entre as ações técnicas que têm como característica manter uma referência
original de um bem se destaca a Reconstrução. A reconstrução promoveu uma releitura da
volumetria da edificação antiga e dos elementos compositivos das fachadas, todos similares
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aos da edificação destruída. O diferencial está na aplicação de tecnologia construtiva moderna
– estrutura metálica – aliada às ruínas de alvenaria de pedra, bem como dos materiais
colocados nos elementos arquitetônicos externos como gradis, esquadrias e cimalhas que
foram simplificados.
Algumas questões contrárias foram colocadas quanto aos aspectos externos da nova
edificação proposta: a confusão da leitura dos elementos arquitetônicos que compõem a
paisagem e a falta de clareza ao leigo sobre a informação do período em que foi erguida. O
que se temia era que a arquitetura reconstruída levasse a um falseamento da realidade o que,
no jargão utilizado na área da restauração e conservação, significaria criar um pastiche –
quando se imita grosseiramente uma obra anterior ou original.
a) b) FIGURA 03 – a) A edificação antiga, antes do incêndio. Fonte: Rodrigo Marcandier. Inventário Nacional de Bens Imóveis de Sítios Urbanos Tombados/INBI-SU, IPHAN, 2002. b) A edificação atual, após a reconstrução. Fonte: Vanessa Regina Freitas da Silva. Acervo particular, 11 ago. 2009.
Contudo, o que interessou foi a manutenção da imagem paisagística expressa pelo
conjunto da Praça Tiradentes, indiferente ao impacto sobre a autenticidade do bem. A opção
pela reconstrução considerou alguns fatores:
Complexidade de uma intervenção em um espaço urbano fortemente caracterizado pela harmonia de seu conjunto arquitetônico; caracterização da intervenção como reintegração de uma grande lacuna urbana da Praça Tiradentes, causada pela destruição do antigo Hotel Pilão; dificuldades para se organizar um concurso público para a escolha de técnicos com sólidas formações teórica e prática no assunto para a elaboração de um projeto de intervenção em uma propriedade privada; sentimento de que a grande maioria da população de Ouro Preto aprovaria uma reconstrução no local. (DE GRAMMONT, 2006, p.18)
Após argumentos favoráveis, o projeto de reconstrução foi aprovado pelos órgãos de
preservação municipal e federal na cidade. As obras foram iniciadas em agosto de 2005 e
apresentou rapidez devido aos trabalhos arqueológicos prévios realizados no terreno e pela
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utilização de tecnologia rápida em obra. No dia 20 de abril de 2006, a nova edificação foi
reinaugurada, oferecendo um programa de uso diferenciado para abrigar um café, uma
livraria, uma galeria de arte e ambientes para informações turísticas e reuniões.
a) b)
c)
FIGURA 04 – O Centro Cultural e Turístico do Sistema FIEMG em Ouro Preto. a) Paredes de alvenaria de pedra remanescentes em parte da livraria b) Pilares de alvenaria de pedra e ao fundo o café. c) Alvenaria de pedra conjugada à estrutura metálica; vista do mezanino onde funciona a galeria de arte. Fonte: Vanessa Regina Freitas da Silva. Acervo particular, 11 ago. 2009.
Restauração da paisagem: o patrimônio como imagem
Houve grande repercussão sobre a reprodução dessa arquitetura colonial em uma
cidade Patrimônio da Humanidade como forma de manter uma paisagem reconhecida para
todo o mundo. Ao analisar a preservação da Praça Tiradentes no espaço urbano, compreende-
se em que medida intervenções no patrimônio edificado são direcionadas para a manutenção
de uma imagem fortemente consolidada.
Considerando o objeto de investigação apresentado e sua relação com a preservação
do patrimônio, as Cartas Patrimoniais se tornam referenciais para algumas definições,
inclusive de “paisagem”. A Recomendação Europa de 1995 (sobre a conservação integrada
das áreas de paisagens culturais como integrantes das políticas paisagísticas) oferece como
definição:
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Paisagem - expressão formal dos numerosos relacionados existentes em determinado período entre o indivíduo ou uma sociedade e um território topograficamente definido, cuja aparência é resultado de ação ou cuidados especiais, de fatores naturais e humanos e de uma combinação de ambos. Paisagem é considerada em um triplo significado cultural, porquanto: definida e caracterizada da maneira pela qual determinado território é percebido por um indivíduo ou por uma comunidade; dá testemunho ao passado e ao presente do relacionamento existente entre os indivíduos e seu meio ambiente; ajuda a especificar culturas e locais, sensibilidades, práticas,
crenças e tradições. (CURY, 2004, p.331)
Nota-se que “paisagem”, na definição acima, relaciona aspectos físicos, sociais e temporais,
refletindo um significado cultural. Pode ser aprofundada pela visão do geógrafo Milton
Santos, pois, para ele, “a paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento,
exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e
natureza.” (SANTOS, 1996, p.83). E continua:
A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais - concretos. Nesse sentido a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes, uma construção transversal. (...) A paisagem existe através de suas formas, criadas em momentos históricos diferentes, porém coexistindo no momento
atual. (SANTOS, 1996, p.83).
Desta forma, a paisagem guarda tempos desiguais nas formas objetivas construídas,
contudo, busca comunicar uma imagem de temporalidade única, como pode ser observado na
Praça Tiradentes. Considerando essas reflexões, a reprodução da arquitetura colonial se
justifica como tentativa de manter uma unidade estética e também temporal.
Relacionado à arquitetura, o conceito de paisagem é algo que se deseja construir para
contemplação; a paisagem como uma segunda natureza, a natureza construída. A paisagem
entendida desta maneira, como construção, permite constatar que possa ser modificada de
acordo com as intenções dos agentes que a constrói. Por outro lado, a paisagem pode ter um
significado de cenário, inerte, somente como interpretação estética. Assim, essa interpretação
“pressupõe a separação do sujeito com respeito ao objeto e a construção deste objeto de
acordo com os valores impostos pelo sujeito” (ALIATA; SILVESTRI, 1994, p.12). Porém,
em Ouro Preto, a paisagem não pode ser vista somente como um cenário. A paisagem tem
valor como elemento importante e participativo, sendo assim, “a paisagem, como tema de
estudo, de reflexão, de expressão, de inspiração ou de criação é uma realidade viva, dinâmica,
atual” (NOGUÉ, 1985, p.97).
Eco (2005) apresenta a arquitetura como um sistema de signos que sugerem
significantes os quais podem denotar funções precisas à luz de determinados códigos.
Simplificadamente, a denotação permite que mesmo com função básica inexistente, um objeto
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arquitetônico comunique outra função. Como exemplo, ele cita uma janela falsa em uma
edificação. Ela terá a função estética, de composição; e a função simbólica, através da forma.
Por esse prisma, é possível avaliar a reconstrução da edificação na Praça Tiradentes: a
reprodução dos elementos arquitetônicos e da volumetria, similares aos da edificação perdida,
seria uma maneira de destacar as funções estética e simbólica. A intenção da reconstrução foi
manter a identidade visual do conjunto, sua imagem, retomando a informação paisagística que
remetia. Desta maneira, “intervir nos centros urbanos pressupõe avaliar sua herança histórica
e patrimonial, seu caráter funcional e sua posição relativa na estrutura urbana” (CASTILHO E
VARGAS, 2006, p.03).
A paisagem, portanto, relaciona aspectos físicos, sociais e temporais e sua expressão
se dá através dos objetos que a compõem. A paisagem pode ser desnaturalizada quando um
elemento novo, produto de uma urgência para mantê-la no seu estado anterior, é inserido. Foi
exatamente o que aconteceu em Ouro Preto. Em busca da imagem urbana reconhecida
internacionalmente, optou-se por apressar em construir uma nova edificação, porém
reproduzindo externamente elementos da edificação anterior, bem como de edificações do
entorno. A intenção foi expressar forte similaridade e unicidade para recompor o conjunto
edificado da praça. Nesse sentido, a Praça Tiradentes foi restaurada a partir da reconstrução
de um elemento destruído inesperadamente. E a sua imagem, ou seja, aquilo que se pretende
ver, contemplar e perceber foi retomado.
Ao destacar a paisagem como imagem permite-se avaliá-la como um bem simbólico,
de acordo com a teoria de Bourdieu (1992):
As diferenças propriamente econômicas são duplicadas pelas distinções simbólicas na maneira de usufruir estes bens, ou melhor, através do consumo, e mais, através do consumo simbólico (ou ostentatório) que transmuta os bens em signos (...) ou, para falar como os lingüistas, em “valores”, privilegiando a maneira, a forma da ação ou do objeto em
detrimento de sua função. (BOURDIEU, 1998, p.16)
Ou seja, o patrimônio apresenta maior valor, nesses casos, somente pelo o que
comunica visualmente, como imagem dos seus objetos. A reconstrução em análise, dentro do
contexto de paisagem e imagem, pode ser considerada um simulacro, conforme Baudrillard
(1991) afirma: “Simular é fingir ter o que não se tem. (...) a simulação põe em causa a
diferença do ‘verdadeiro’ e do ‘falso’, do ‘real’ e do ‘imaginário’” (BAUDRILLARD, 1991,
p.09-10). Para Baudrillard, há uma “histeria da produção e da reprodução do real” e o
simulacro é um rompimento da compreensão da diferença entre “verdadeiro” e “falso”, pois
não há como distinguir mais o que é inventado, fingido ou copiado do que é o real. Simulacro
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não é apenas imitação; é o que substitui o real. Assim, a intervenção arquitetônica substituiu a
antiga construção; é uma substituição do que era, mas, ao mesmo tempo, procurando manter o
passado nas novas formas expressas do presente e comunicando uma temporalidade única
inexiste na realidade. Desta forma, está claro que a tendência a padronização espacial para
atender a uma demanda de mercado turístico, fabrica simulacros:
Para que o passado não seja abolido é preciso que tudo o que se vive seja atualizado. As diferenças temporais entre o passado, o presente e o futuro são aniquiladas graças aos simulacros dessa atualização. O passado e o futuro parecem se conjugar no presente, ao passo que o próprio presente se
torna o tempo da reprodução antecipada do passado. (JEUDY, 2005, p. 16)
Finalmente, através do caso apresentado, entende-se a influência de uma edificação
isolada interligada à paisagem em que se insere no debate de como e por que reconstruir um
patrimônio edificado, buscando a restauração de um conjunto arquitetônico. Desta maneira,
tem-se os motivos que estão subjacentes aos interesses de preservação, relacionados ao modo
de produção capitalista, quando a imagem dos lugares transforma-se em mercadoria.
Conclusão
O estudo de caso permite o debate sobre como, em que circunstâncias e quais são as
justificativas que torna válido reconstituir um bem edificado para, notadamente, reconstruir
uma paisagem e uma imagem. A reconstrução fez uma releitura da volumetria da edificação e
dos elementos compositivos das fachadas similares aos da construção anterior para se
aproximar da paisagem estabelecida como a original, como imagem da paisagem.
A reinterpretação dos elementos procurou restabelecer a unidade de um conjunto em
busca da manutenção de uma realidade local a ser visitada e consumida. A reprodução externa
da arquitetura colonial predominante na paisagem permite a restauração de uma imagem
urbana consolidada histórica, estética e simbolicamente. Reflete, portanto, a manutenção do
passado através de uma imagem urbana do período colonial do Brasil e indica uma
singularidade do local, ao mesmo tempo em que visa valorizar o patrimônio através da
construção de imagens similares, como se uma identificação global fosse possível.
Ao considerar a preservação da Praça Tiradentes no espaço urbano de Ouro Preto e a
reconstrução de um elemento da sua paisagem, percebe-se que as intervenções atuais no
patrimônio arquitetônico são voltadas para uma cultura da imagem. O simulacro rompe o
entendimento entre verdadeiro e falso e, exemplificado na reconstrução, faz com que o
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presente se torne espaço temporal para reafirmar o que a cidade foi um dia, mantendo-a como
imagem de um passado.
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1 Este artigo é um dos desdobramentos da dissertação desenvolvida pela arquiteta urbanista Vanessa Regina Freitas da Silva no programa de mestrado “Memória Social e Patrimônio Cultural”, da Universidade Federal de Pelotas/UFPel-RS, bolsista CAPES, sob orientação do Prof. Dr. Sidney Gonçalves Vieira do departamento de Geografia do Instituto de Ciências Humanas da UFPel.
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