o Período Interbiblico - Enéas Tognini

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O PERÍODO INTERBÍBLICO 400 ANOS DE SILÊNCIO PROFÉTICO Enéas Tognini www.hagnos.com.br © 2009, por Enéas Tognini Edição de texto Aldo Menezes Revisão João Guimarães Capa Souto Crescimento de Marca 1ª edição - abril de 2009 Gerente editorial Juan Carlos Martinez Todos os direitos desta edição reservados para: Editora Hagnos Av. Jacinto Julio, 27 04815-160 - São Paulo, SP (11) 5668-5668 [email protected] www.hagnos.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro SP, Brasil) Tognini, Enéas - O Período Interbíblico : 400 anos de silêncio profético / Enéas Tognini — São Paulo: Hagnos, 2009. Bibliografia ISBN 978-85-7742-050-6 1. Israel - História 2. Judaísmo - História 3. Judeus - História 4. Livros apócrifos I. Título. 09-00835 CDC-229 Índices para catálogo sistemático: 1. Período Interbíblico : Comentários 229 2. Período Interbíblico : Comentários 229

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Este livro fala sobre o período interbiblico.

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  • O PERODO INTERBBLICO

    400 ANOS DE SILNCIO PROFTICO Enas Tognini

    www.hagnos.com.br

    2009, por Enas Tognini Edio de texto Aldo Menezes

    Reviso Joo Guimares

    Capa Souto Crescimento de Marca

    1 edio - abril de 2009 Gerente editorial

    Juan Carlos Martinez

    Todos os direitos desta edio reservados para: Editora Hagnos Av. Jacinto Julio, 27 04815-160 - So Paulo, SP (11) 5668-5668 [email protected] www.hagnos.com.br

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro SP, Brasil)

    Tognini, Enas - O Perodo Interbblico : 400 anos de silncio proftico / Enas Tognini So Paulo:

    Hagnos, 2009. Bibliografia ISBN 978-85-7742-050-6 1. Israel - Histria 2. Judasmo - Histria 3. Judeus - Histria 4. Livros apcrifos I. Ttulo.

    09-00835 CDC-229 ndices para catlogo sistemtico:

    1. Perodo Interbblico : Comentrios 229 2. Perodo Interbblico : Comentrios 229

  • Contedo Agradecimentos Introduo

    1. Definio, ambiente e fontes histricas 2. Antecedentes histricos: de Abrao a Malaquias 3. Perodo Persa 4. Perodo Grego 5. Perodo Macabeu 6. Perodo Romano 7. Seitas poltico-religiosas 8. Instituies judaicas 9. Filosofia e teologia judaicas 10. A preparao do mundo para o advento do Messias

    Apndice 1: Tabelas sinticas do Perodo Interbblico Apndice 2: Hinos de louvor dos essnios Bibliografia

  • Agradecimentos Registro aqui minha palavra de gratido ao pastor Jos dos Reis Pereira, que

    bondosamente reviu os manuscritos da primeira edio deste livro de 1951; ao dr. Silas Botelho, pelas oportunas sugestes; ao irmo Ansio Eugnio Gonalves, que datilografou a primeira edio desta obra.

    Introduo Depois da pregao do profeta Malaquias, o cnon sagrado do Antigo Testamento foi

    concludo. A partir da haveria 400 anos de silncio proftico at o advento de Cristo, quando a comunicao proftica reabriu-se com Joo Batista, o Precursor do Messias, a voz do que clama no deserto (Mt 3.3). Durante muito tempo, esse perodo de silncio recebeu pouca ateno, o que se refletia na escassez de material publicado a respeito do assunto no vernculo. Essa foi a razo por que escrevi este livro em 1951. Hoje, porm, os estudantes dispem de vrias obras no vernculo que abordam esse assunto, mas ainda no existe nenhuma que trate especificamente sobre esse tema.

    No possvel prescindir do estudo dessa poca; entretanto, no necessrio lhe conferir importncia em demasia. Basta pensar que a Providncia, que desde o den prepara o homem para a redeno, no poderia deixar de agir na preparao social e espiritual do mundo, especialmente dos judeus, para o recebimento de Jesus, o Desejado das naes.

    Sem pendores especiais para os assuntos histricos, mas atrado pelos objetivos da cadeira de grego e Novo Testamento, predispus-me obra por meio do incentivo de meu bom mestre e leal amigo dr. W. E. Allen, que proficientemente regeu aquela cadeira do Seminrio Teolgico Batista do Sul do Brasil. Estou cnscio de que, apesar da pobreza de recursos bibliogrficos, esta obra poderia pelo menos contribuir de forma meritria para despertar pessoas mais bem preparadas a fim de que se sentissem compelidas a oferecer um texto muito mais generoso e informativo.

    Comecei a escrever estas pginas visando precipuamente a meus colegas mais novos, a fim de evitar-lhes as canseiras das turmas anteriores, obrigadas a consultar volumes diversos em lnguas estrangeiras. Isso explica os limites da obra e seu estilo didtico. No exaure a matria; no se detm em mincias: aponta, sim, um roteiro, e marca as balizas maiores de uma jornada de quase quatro sculos. o suficiente para a iniciao; essencial para o seminarista; quem quiser aprofundar o assunto precisar recorrer a uma bibliografia mais ampla, incluindo livros estrangeiros. A bibliografia desta obra traz excelentes recursos.

    No captulo 1 apresentamos informaes preliminares, como a definio da expresso Perodo Interbblico ou Intertestamentrio. Esclareceremos questes sobre o ambiente, ou seja, as condies e as transformaes geogrficas, econmicas, polticas e sociais da poca relacionadas com a vida dos judeus no Perodo Interbblico. No menos importante a questo quanto s fontes histricas desse perodo, pois a Bblia mantm silncio desde o ltimo profeta Malaquias, cujo ministrio situa-se entre 470 a.C. a 433 a.C. Assim, precisamos recorrer a Flvio Josefo, a fonte principal sobre esse perodo, alm da literatura apcrifa.

    No captulo 2 faremos um resumo da histria de Israel at o incio do Perodo Interbblico. Esses antecedentes histricos, de Abrao a Malaquias, do-nos uma viso geral de por que os judeus, na condio de povo de Deus, estiveram por tanto tempo dominados por naes pags. O foco recair sobre o cativeiro babilnico e por que Deus permitiu a ida do seu povo eleito ao exlio em terras to distantes. Acompanharemos

  • passo a passo a vida dos judeus na Babilnia e o que mudou na vida deles, em todos os aspectos, durante e depois dessa experincia.

    Os captulos 3 a 6 formam um bloco: o Perodo Interbblico propriamente dito. Depois de Malaquias, comeou o silncio proftico de 400 anos, que s seria interrompido com a pregao de Joo Batista. Nesse perodo, os judeus continuaram sob o domnio dos persas (captulo 3), depois vieram os gregos (captulo 4), incluindo os ptolomeus e os selucidas, no domnio dos quais ocorre a revolta dos Macabeus (captulo 5) e, por ltimo, os romanos (captulo 6), em cuja vigncia nasce o Senhor Jesus. A anlise do desenrolar histrico dessa sucesso de naes dominantes contribui muito para a compreenso do ambiente poltico e religioso em que Jesus nasceu.

    Os captulos 7 a 9 formam outro bloco: o ambiente religioso e poltico em que Jesus nasceu. Estudaremos sobre as seitas poltico-religiosas dos dias de Jesus (captulo 7): escribas, fariseus, saduceus, essnios, herodianos e zelotes. Conheceremos tambm dois grupos margem entre os judeus: os publicanos e os samaritanos. Embora no fossem partidos religiosos ou polticos, eram desprezados pela comunidade judaica. Os acontecimentos do Perodo Interbblico explicam essas animosidades. Ser igualmente importante conhecer as principais instituies do judasmo e sua relevncia para os israelitas: o templo, a sinagoga e o Sindrio (captulo 8). No seria possvel deixar de fora a filosofia e a teologia judaicas (captulo 9). Passar pelas mos de tantas naes deve ter, de algum modo, afetado o modo de o judeu fazer teologia, o que vai nos conduzir para os embates entre Jesus e os lderes religiosos de seus dias. Sobretudo no mundo greco-romano, a filosofia consegue um lugar de destaque na comunidade judaica, mas no sem lutas para se firmar. O captulo curto, mas traz informaes relevantes.

    O ltimo captulo, 10, faz um apanhado do que fora estudado, levando-nos a perceber como a Providncia Divina preparou o mundo para a chegada do Senhor Jesus. Cada acontecimento histrico e cada nao, a seu modo, contriburam de forma positiva para o ambiente em que Jesus nasceu e, depois, para a expanso do evangelho em todo o mundo.

    Duas excelentes ajudas so apresentadas em 2 apndices. No primeiro, Tabelas sinticas do Perodo Interbblico, com um resumo dos principais acontecimentos desse perodo para uma rpida consulta. O segundo apndice traz um material riqussimo: Hinos de louvor dos essnios, que mostra como a hinologia dos essnios era vasta e rica.

    Para concluir, cumpre advertir que no preparo deste compndio tivemos diante dos olhos o excelente livreto From Babylon to Bethlehem, de Claudius Lamas McGinty, do qual foram extradas as tabelas sinticas do Perodo Interbblico. Tambm examinamos, entre outros, os seguintes livros de grande valor: Entre los dos Testamentos, de William Smith; Histria, doutrina e interpretao da Bblia, de Joseph Angus; e New Testament World, de H. E. Dana.

    Entrego este livro nas mos de meu bendito Salvador Cristo Jesus, rogando-lhe que o abenoe para a glria do seu reino e a salvao das almas em minha querida ptria.

    Enas Tognini So Paulo, janeiro de 2009.

  • 1 Definio, ambiente

    e fontes histricas Etimologicamente, interbblico quer dizer entre a Bblia, ou melhor, entre os

    dois Testamentos, isto , entre o Antigo e o Novo Testamento. Da tambm decorre a designao Intertestamentrio.

    O Perodo Interbblico tem incio com a interrupo da atividade proftica entre o povo de Deus. Malaquias foi o ltimo profeta a transmitir as palavras do Senhor at o comeo do ministrio de Joo Batista. O ministrio de Malaquias pode ser datado entre 470 a.C. a 433 a.C. O seu livro foi escrito em alguma data desse perodo.

    Malaquias termina com a promessa do precursor do Messias (Ml 4.4-6; 3.1). Mateus 3.1 o cumprimento fiel dessa profecia. No entanto, entre a profecia (Ml 3.1) e seu cumprimento (Mt 3.1), transcorreram nada menos de 400 anos. Em ligeiros traos, temos aqui uma parte significativa da histria do povo de Deus.

    No transcurso desses anos, houve mudanas radicais, na terra e na vida do povo do Senhor, como tambm na vida e nos costumes das naes gentias. O mapa-mndi sofreu sensveis transformaes. A histria das apuradas civilizaes oscila grandemente. Enquanto poderosssimas civilizaes eram sepultadas pelas armas brutais dos inimigos incontidos, outras surgiam aqui e acol, graas s armas vitoriosas de povos conquistadores. Assim, os gegrafos-historiadores contemporneos ou semicontemporneos desses acontecimentos registraram em seus anais as diversas transformaes pelas quais o mundo de ento passou.

    Os 400 anos do Perodo Interbblico caracterizam-se pela cessao da revelao bblica, pelo silncio profundo em que Deus permaneceu em relao ao seu povo, pois durante esse tempo nenhum profeta se levantou em nome de Deus.

    No silncio desesperador desses 400 anos, o Senhor deixou que os esforos dos homens na resoluo de problemas espirituais falhassem; que a filosofia se desmoronasse; que o poder material enfadasse as almas; que a imoralidade religiosa desiludisse a todos, mesmo os coraes mais mpios; que a corrupo campeasse e atingisse as raias da depravao, mostrando assim ao homem a inutilidade de tais sistemas e instituies.

    Em 500 e poucos anos, os judeus foram derrotados, levados ao cativeiro; sua metrpole fora destruda, seu templo profanado e derrubado. Depois de duras provas pelas quais passaram, eles tornaram a Jerusalm, reedificaram a cidade, reconstruram o templo e prosseguiram na sua histria brilhante e ascendente, cujo trmino se verificou em 70 da nossa era, na destruio de Jerusalm pelos romanos.

    Durante o Perodo Interbblico os judeus viveram sob o domnio consecutivo de trs naes: Prsia, Grcia e Roma. O fundo histrico que vai nos interessar desses povos aquele que diz respeito atuao dessas naes diretamente na vida do povo de Deus. (Isso quer dizer que faremos muitos recortes histricos com a finalidade de ser preciso quanto ao perodo em anlise.) Entre a dominao grega e a romana, tambm estudaremos o Perodo Macabeu, em que os judeus retomaram o controle de sua nao e experimentaram um perodo de independncia poltica e religiosa. Ambiente

    Por ambiente entendemos as condies e as transformaes geogrficas, econmicas, polticas e sociais da poca relacionadas com a vida dos judeus no Perodo Interbblico.

  • O judasmo no Novo Testamento difere substancialmente do Antigo Testamento. Essa mudana de ambiente entre os dois judasmos digna de nota e precisa ser considerada a fim de que entendamos melhor o mundo judeu nos dias dos Evangelhos.

    Antes do incio do Perodo Interbblico, as tribos de Israel j haviam desaparecido. Foram absorvidas pela sagacidade dos assrios. Isaas profetizara que apenas um restante de Jud seria salvo. Com efeito, a tribo de Jud sobreviveu a todas as intempries, tribulaes e humilhaes a que foi submetida, alm de enfrentar o furor dos inimigos. Depois que a tempestade babilnica passou, Jud despontou fulgente em Jerusalm, a fim de reiniciar seus trabalhos e de continuar suas tradies religiosas.

    Os judeus amavam Jerusalm. Uma vez no exlio, toda a dor e opresso, todo o desespero foi insuficiente para amortecer em sua alma o apego Cidade Santa. Prosseguiam em suas tradies cvico-religiosas. Mantiveram acesas as suas lmpadas espirituais. Nesse tempo, a esperana messinica, cujo desfecho aconteceria em Jerusalm, cresceu em seus coraes. Alimentaram, portanto, o desejo vivo de voltar cidade do Grande Rei. Esse desejo obrigou os judeus a no se ajustarem s condies sociais e religiosas do povo vencedor. Por conseguinte, a religio do Senhor, mesmo no cativeiro, foi preservada.

    Um dos maiores benefcios do cativeiro babilnico foi o de colocar um marco entre o povo de Deus para mostrar-nos o velho e o novo judeu. Isto , o judeu velho, pessimista, vencido, sem esperana nas promessas do Eterno, e o judeu novo, despertado, transformado, curado de sua idolatria e pronto a obedecer fielmente voz de Deus.

    Os dois tipos de judeus voltaram a Jerusalm, mas o novo venceu o velho, de sorte que todas as tendncias idlatras e derrotistas foram suplantadas pela atitude otimista dos judeus transformados, que estavam dispostos a lutar at derramar sangue a fim de preservar a pura religio do seu Deus. Da encontramos no Novo Testamento Saulo de Tarso, um judeu excessivamente nacionalista, aferrado s tradies do seu povo, excedendo em zelo e alcanando as raias do fanatismo; cego, pronto a matar, pronto a cometer qualquer atrocidade por falso zelo religioso ou por zelo verdadeiro.

    As transformaes polticas na vida dos judeus no foram menores. O Antigo Testamento deixa a Palestina como uma satrapia persa. Abrimos o Novo Testamento e ali encontramos a dominao romana no apogeu da sua fora. Essa tradio entre o poderio persa e o romano, mediado pelo grego ou macednico, no a encontramos na Bblia, porque ocorreu nos anos do silncio divino. Mas h registros histricos desses eventos. Para melhor interpretar a Bblia, especialmente o Novo Testamento, precisamos conhecer essas partes histricas as quais elas constituem.

    Encontramos nas pginas do Novo Testamento uma onda invasora de influncia grega, permeando a sociedade daquela poca. Em todas as partes prevalecem a lngua, as artes, os costumes, a filosofia e a literatura gregos. O Antigo e o Novo Testamento nada nos dizem a respeito. Mais uma vez, as circunstncias obrigam-nos a recorrer histria para termos luz sobre os fatos. Tambm vamos, atravs desses estudos, descobrir que isso devemos helenizao do mundo, pelo famoso conquistador Alexandre, o Grande.

    Notamos igualmente mudana na lngua falada pelos judeus. Antes os judeus falavam o hebraico. Aps o cativeiro comearam a falar aramaico. Perderam na Babilnia a sua lngua hebraica. O aramaico o hebraico transformado pela influncia de diversos idiomas orientais.

    Durante o cativeiro babilnico surgiram as sinagogas, atravessando sculos e chegando at nossos dias; sua funo na vida religiosa do judeu e na propagao do cristianismo relevante.

  • Em lugar das doze tribos de Israel ocupando o territrio da Palestina, como mostra o Antigo Testamento, encontramos nos dias de Jesus quatro ou cinco regies, como Galileia, Samaria, Judeia, Pereia etc.

    Nos dias de Jesus parece que o exclusivismo judeu, gerado sob circunstncias prementes na Babilnia, que floresce, amadurece, torna-se impertinente e odioso. Entretanto, interpretado esse fator do ponto de vista judeu, ele se nos apresenta como zelo excessivo pelas tradies dos antepassados, cuja liberdade foi conquistada com derramamento de sangue e com enormes sacrifcios.

    Durante o cativeiro apareceram diversas seitas poltico--religiosas que, no correr dos anos, se multiplicaram, principalmente sob o regime romano, cuja dominao severa muito contribuiu para essa situao.

    O cativeiro babilnico foi o tiro de morte na tendncia do judeu na adorao de dolos. Hoje, o judeu prefere a morte a prestar culto a uma imagem. Nem as chamas da Inquisio espanhola, nem as atrocidades de D. Joo III conseguiram fazer que os judeus se ajoelhassem diante de imagens. L entre os deuses, os judeus, que foram para a Babilnia por causa de idolatria, curaram-se desse mal. Esse efeito perdura at os dias atuais.

    No cativeiro, graas benfica influncia dos profetas do Altssimo, graas tambm ao sofrimento, cresceu a esperana messinica, que se mantinha viva ainda nos dias do Novo Testamento. Fontes histricas

    As fontes histricas de informaes para anlise e estudo do Perodo Interbblico vm-nos, sobretudo, de Flvio Josefo e da literatura apcrifa. A Bblia pouco nos informa sobre esses acontecimentos. Flvio Josefo

    Natural de Jerusalm, Flvio Josefo nasceu em 37 d.C. O pai era de famlia sacerdotal, enquanto a me descendia dos hasmonianos, de uma das mais ilustres famlias macabeias.

    Josefo, desde tenra idade, mostrou-se sempre vivo. Aos 14 anos, conforme registra em autobiografia, ensinava aos sumos sacerdotes pontos obscuros da Lei. Fez estudos especiais e tornou-se erudito, portador de vasto saber. Estudou as seitas judaicas de seu tempo. Conta-nos que para se informar bem a respeito dos essnios, aquela seita extica, foi ao deserto onde se achava certo Banus, chefe desse grupo, e ali permaneceu 3 anos. Na sua convico religiosa, era fariseu e dos mais tradicionalistas e exclusivistas.

    Flix condenou diversos sacerdotes, e estes apelaram a Roma, para onde eram enviados. Josefo, aos 26 anos, foi a Roma como advogado desses sacerdotes. Depois de tornar-se famoso, conhecido no Imprio Romano, Josefo achou por bem aconselhar os lderes de seu pas no sentido de evitarem qualquer conflito com os romanos, pois notava a inclinao do seu povo para se indisporem contra o Imprio. Esse conselho foi tomado pelos judeus como uma atitude de traio, de deslealdade.

    Aps as vitrias dos judeus sobre o governador da Sria, Celtius Gallus, os judeus nomearam Josefo comandante da Galileia, a fim de concitar o povo guerra contra os romanos. Nessa conjectura, Nero enviou Vespasiano para guerrear os judeus. Vespasiano e seu filho Tito prenderam Josefo e o algemaram; porm, este se apresentou como profeta e vaticinou que tanto Vespasiano como Tito chegariam a ocupar o trono do Grande Imprio. Animados com a notcia, os dois generais libertam Josefo e o honram muitssimo. Flvio era bem-intencionado, no lhe faltava o patriotismo, nem os

  • sentimentos de nacionalismo deixavam de vibrar em sua alma; e foi exatamente por seu patriotismo que ele desejava evitar a runa de sua nao.

    Em 69 d.C., cumprindo-se a casual profecia de Josefo, Vespasiano ascendia ao trono de Roma. Nesse tempo, as cadeias do historiador foram trocadas por cetro e transferiu--se para Roma, onde esteve ao lado de Vespasiano.

    Conta-se que Josefo se achava como oficial de Tito quando os romanos destruram Jerusalm. Foi visto pelos judeus, que o odiaram muito por causa desse fato. Nos dias aflitivos que sucederam a queda da Cidade Santa, Josefo usou de seu prestgio para salvar a vida de centenas de judeus.

    Ele morreu no ano de 100 d.C., pouco depois de Agripa II. Os romanos o honraram, erigindo sua esttua na grande capital.

    Josefo escreveu obras de incontestvel valor. 1. Guerras judaicas (tambm chamada de A guerra dos judeus ou Histria das guerras

    judaicas). A obra foi escrita nos ltimos anos do reinado de Vespasiano. Aqui, Josefo demonstra sua capacidade literria. Esse tratado foi e continua sendo muito apreciado. Os especialistas em Josefo afirmam que o livro foi escrito medida que o autor ampliava seus apontamentos, tomados quando participava das batalhas nele descritas. O relato principia com rpidas menes dos feitos nacionais do seu povo desde Antoco Epfanes at a luta dos judeus contra os romanos. O livro consta de sete captulos, cinco dos quais descrevem a queda de Jerusalm por Tito.

    2. Antiguidade dos judeus (ou apenas Antiguidade). Composta de 20 tomos, essa obra foi escrita em 93 d.C. Trata-se de obra de flego, em que o autor caprichou, sendo considerada mais preciosa que o Guerras judaicas. A obra, salvo raras excees, apologtica. Nela o autor descreve a histria e interpreta os fatos do Antigo Testamento. Essa narrativa vai da criao ao Perodo Interbblico. Passagens obscuras do Antigo Testamento no entraram nas cogitaes do autor. Ele procura apresentar uma interpretao natural a certos milagres. De forma magistral, ele apresenta a genealogia dos sumos sacerdotes desde Aro at a queda de Jerusalm.

    3. Contra Apion (ou Tese contra Apion). Essa obra uma rplica aos abusos e exageros de crticos de seu livro Antiguidade dos judeus. Havia no seu tempo uma poderosa corrente antissemita; apologistas dessa corrente se insurgiram contra Josefo e suas obras, dentre esses o alexandrino Apion. Supe-se que tenha sido escrito nos ltimos tempos do apstolo Joo.

    4. Autobiografia. Josefo se defende nessa obra das acusaes de Justo de Tiberades, um historiador rival que o acusava de ser o responsvel pela guerra judaica que culminou com a destruio de Jerusalm e do templo no ano 70 d.C. Josefo ento tenta explicar sua participao nos acontecimentos de 66-70 d.C.

    Sem dvida, Josefo foi um grande historiador. Suas obras ainda hoje so estudadas com carinho e prestam estimveis auxlios histria do Perodo Interbblico. Literatura apcrifa

    Leslie Fuller encarece a importncia da literatura apcrifa, a qual surgiu nos anos que medeiam de Malaquias a Joo Batista, o precursor do Senhor Jesus Cristo. A seu ver, trs fatores preponderantes constituem a contribuio dessa literatura para o estudo da Palavra de Deus:

    1. Auxilia diretamente a precisar a cronologia dos livros do Antigo Testamento. 2. Revela-nos com perfeio o ambiente helnico em que se processavam tantas

    transformaes e que conduziram ao mundo e ao ambiente em que Jesus viveu.

  • 3. Habilita o estudante da Bblia a uma melhor compreenso da histria de Israel.1

    A literatura produzida nesse perodo extremamente vasta. Daremos ligeiras informaes sobre to importantes escritos. Definio

    Diversos nomes foram dados literatura desse perodo: 1. Apcrifa. um vocbulo grego que significa oculto e era usado primitivamente em

    literatura para designar o que se achava em sigilo aos iniciados e revelado aos sbios. Sculos mais tarde, serviu para designar escritos de segunda classe; nos dias de Jernimo designava a literatura ilegtima ou falsa, isto , no inspirada. Esse sentido permaneceu. Hoje apcrifo significa falso, que no apresenta autenticidade, ilegtimo etc. Como usualmente entendemos, refere-se coleo de livros no-cannicos, incorporados Septuaginta e Vulgata, mas que foram rejeitados por judeus e protestantes.

    2. Pseudoepigrfica. Nome dados aos escritos judaicos extrabblicos ou no inspirados do Antigo Testamento. Nessa linha temos: Enoque, Os doze patriarcas, Moiss, Esdras etc. Em linguagem moderna o mesmo que pseudonmia (obra literria escrita sob um nome falso).

    3. Apocalptica. Esse termo significa revelado. uma subdiviso da literatura pseudoepigrfica: livros escritos sob pseudnimo. Nessa produo vemos um bem definido movimento literrio no seio do judasmo, que vai do sculo II a.C. at o XIV d.C. Sua origem atesta um forte motivo de controvrsia. A rpida e assombrosa divulgao dos livros apocalpticos s pode ser atribuda prpria natureza das mensagens ou aos assuntos versados em tais escritos. Data

    A questo mais angustiante dos apcrifos, sem dvida, a que diz respeito a sua cronologia. As escolas teolgicas discutem qual livro apareceu primeiro. Uma significativa maioria aponta Eclesistico, datado de 190 a.C. Desse modo, multiplicam-se as hipteses e algumas chegam a extremos, como afirmar o aparecimento dos primeiros livros 300 anos antes de Cristo ou ento dat-los at trs sculos depois de Cristo.

    Leslie Fuller situa grande parte dos apcrifos entre 100 a.C. e 130 d.C. Com as mesmas dificuldades lutam os apcrifos do Novo Testamento. Em se tratando de literatura apcrifa, para ns apenas de valor histrico e literrio, prescindiremos dessa parte, deixando o assunto para os especialistas. Local

    Se a questo cronolgica quase insolvel, no menos a do local onde os apcrifos foram produzidos. Os estudiosos da matria no chegam a um acordo. Para cada livro so apontadas dezenas de lugares possveis onde os apcrifos teriam sido escritos. S esse lado da questo consumiria boa parte do nosso tempo e nos levaria a estudos exaustivos. Para estudos aprofundados da matria remeteremos o prezado leitor ao excelente comentrio de Lange, ao volume dedicado a tal literatura, onde se fazem os mais minuciosos e consumados estudos sobre todos os aspectos dos apcrifos.2

    1 FULLER, Leslie. Comentrio bblico de Abingdon.Tomo II. Buenos Aires: Libreria La Aurora,

    1930, p. 42.

    2 LANGE, John Peter; SCHAFF, Philip. A Commentary of the Scriptures. New York: Charles

    Scribners Sons, 1880. 25 volumes. The Apocrypha of the Old Testament. Veja tambm DAVIS,

  • Autores Determinar os autores dos apcrifos uma questo complicada para os crticos. Sabe-

    se, por exemplo, que os Macabeus no foram escritos por nenhum membro dessa histrica famlia; Daniel no escreveu a parte suplementar das suas profecias conhecidas como Acrscimos a Daniel; Salomo no escreveu o Sabedoria, e assim sucessivamente. Os nomes de Salomo, Daniel e outros ilustres personagens foram dados aos livros por uma questo de prestgio pessoal. A Igreja Catlica Romana resolve o problema valendo-se da autoridade; assim, para ela, Acrscimos a Ester foram escritos por Mardoqueu; Acrscimos a Daniel, por Daniel; Sabedoria, por Salomo; Eclesistico, por Jesus filho de Sirac; desse modo ingnuo, vai-se determinando autor por autor dos apcrifos. Entretanto, para os espritos livres, baseados em crticas judiciosas e moderadas, o problema se apresenta muito mais complexo. Pela data e pelo local em que cada apcrifo foi produzido deduz-se que os nomes dados aos livros no coincidem com a realidade, de onde os fatos nos mandam concluir que tais nomes so supostos e no verdadeiros. Circunstncias em que foram produzidos

    As circunstncias em que os apcrifos foram produzidos eram diversas. Se aceitarmos a data mxima dos modernos especialistas para a escrita dos primeiros apcrifos, ou seja, 300 a.C., penetraremos, ento, no ambiente em que tal literatura realmente apareceu. Dentre as muitas circunstncias, destacamos estas:

    Aps os ltimos profetas (Ageu, Zacarias e Malaquias) a profecia emudeceu. Malaquias deixa os judeus (uma parte em Jerusalm e a maior parte espalhada pelo mundo de ento). Os profetas falaram sobre as grandiosas promessas divinas; apontaram os tempos opulentos e descreveram o Messias, bem como seu reino de glria. verdade que Isaas o descreveu como servo sofredor, mas isto Israel no sabia interpretar, e, pondo-o margem, voltava-se para o auge de poderoso reino. Depois de Malaquias, os judeus no receberam uma palavra por parte de Deus. Comearam a ficar decepcionados com as promessas. Faltando-lhes a revelao divina, voaram nas asas da imaginao, urdindo planos que se consubstanciaram em peas literrias, cujas preocupaes eram consolar o povo que esperava uma palavra de Deus. No silncio da voz divina, multiplicaram-se as palavras humanas.

    Um segundo elemento contributivo foi a disperso dos judeus desde Nabucodonosor. Antes disso, vemos como os reis de Jud fizeram tudo para manter a unidade nacional. Com o fim dessa unidade, o rebanho do Sul, em quem repousavam todas as esperanas do futuro da teocracia, foi disperso. A tribo de Jud foi derrotada e humilhada por estrangeiros. Os judeus viviam aflitos e desnorteados; foram separados do templo e sua hegemonia foi quebrada. A fora de suas tradies foi enfraquecida. Eles abandonaram velhos costumes, adquiriram riquezas, espalharam-se pelo mundo, mas sempre se lembravam de Jerusalm e mantinham-se firmes e fiis a Deus e sua Palavra. Dessa nostalgia nasceram muitos livros apcrifos.

    Outra circunstncia que contribuiu para o surgimento dos apcrifos est no esprito esteiro e nacionalista do judeu em interpretar a profecia. Eles eram exageradamente imediatistas. Concebiam um reino messinico temporal e segundo os caprichos de uma nao, de um povo. Recorriam s profecias do Antigo Testamento e faziam tudo para que essas atendessem s exigncias de Israel. Frustradas as possibilidades, eles recorriam imaginao. Assim, o contedo de diversos apcrifos uma tentativa de John. Novo dicionrio da Bblia. Ed. ampl. e atual. So Paulo: Hagnos, 2005. Verbete

    Apcrifo.

  • harmonizar o que Deus prometeu nos profetas com as contingncias da poca em que viviam.

    Mas no tudo. H outro motivo. Os pontos anteriores podem ser comparados a pequenas vertentes que se vo avolumar nesta, formando uma corrente. Referimo-nos s perseguies movidas pelos srios contra os judeus, aps a morte de Alexandre, o Grande. Quando essa perseguio recrudesceu, a literatura apcrifa multiplicou-se. Um povo tradicional, que esteve nos fastgios da glria, povo forte e respeitado, agora, porm, era vilipendiado. Como se no bastasse, seu templo foi profanado e os tesouros do seu passado foram conspurcados. Vem a reao, que comea com o despertar do sentimento nacionalista. Raia-lhes uma manh de esperana; rompe-lhes um sol de justia. Unem--se, lutam e vencem. Os apcrifos aparecem tanto para conclamar o povo a se unir a fim de reivindicar os seus direitos ultrajados por estrangeiros impiedosos, como para cantar as vitrias concedidas por Deus. Esse o caso dos dois livros de Macabeus, uns dos mais lindos e mais plenos de patriotismo ardoroso. Lista dos apcrifos do Antigo Testamento

    O nmero de livros apcrifos quase infinito. Diversas tentativas foram feitas com a finalidade de catalog-los. Tudo em vo, pois nenhuma delas incluiu a totalidade.

    Os apcrifos do Antigo Testamento no tm nenhuma relao com os genuzim ou livros reservados, que os judeus no consideravam inspirados. Os genuzim eram guardados apenas por razes de piedade na gehizah das sinagogas.

    Os apcrifos refletem as duas correntes rabnicas: halkica ou jurdica e haggdica ou histrica, inclinando-se para o apocalptico. Escritos originalmente em hebraico ou aramaico, mas conservados somente no grego. Dividem-se em trs grupos:

    1. Histricos Livro dos jubileus, Vida de Ado e Eva, Ascenso de Isaas, 3Esdras, 3Macabeus, O testamento de Moiss, Eldade e Medade, Histria de Joo Hircano.

    2. Didticos Testamento dos doze Patriarcas, Salmos de Salomo, Ode de Salomo, Orao de Manasss e 4Macabeus.

    3. Apocalpticos Livro de Enoque, Ascenso de Moiss, 4Esdras, Apocalipse de Baruque, Apocalipse de Elias, Apocalipse de Ezequiel e Orculos Sibilinos.

    A Igreja Romana, por resolues do Conclio de Trento (1545), aceita apenas os seguintes apcrifos: Judite, Tobias, Acrscimos de Ester, Sabedoria, Eclesistico, Baruque, Acrscimo de Daniel, 1Macabeus e 2Macabeus. A Igreja Romana designa-os por deuterocannicos, ou seja, pertencentes ao segundo cnon.3 Canonicidade dos apcrifos

    Sobre o problema da canonicidade dos apcrifos, o padre Jos Carlos Rodrigues afirma: Assim, a primeira verso latina da Bblia (Itlia) feita da LXX [Septuaginta] continha, segundo a opinio dos melhores crticos, todos os apcrifos exceto III e IV Macabeus, mas acrescentou-lhe IV Esdras, que corria em separado. Na verso de Jernimo do original hebraico ele excluiu, est visto, os apcrifos, cingindo-se aos 22 livros daquele cdice. Mais tarde, disse porm (no seu Prol. dos Liv. de Sal.) que como a igreja l Judite e Tobias e os livros Macabeus, apesar de no receb-los no Cnon das suas

    3 Cabe lembrar que assim como as igrejas evanglicas, a Igreja Romana tambm rejeita

    categoricamente todos os apcrifos do Novo Testamento.

  • Escrituras, tambm deve ler estes dois livros (Sabedoria e Eclesistico) para mera edificao, no para confirmao dos dogmas da mesma igreja.4

    Depois dessa concesso, no de admirar que todos os apcrifos fossem obtendo reconhecimento geral. Nos conclios de Hipo ou Hipona (393) e Cartago (397), dominados por Agostinho, foram reconhecidos como cannicos Tobias, Judite, 1Macabeus, 2Macabeus, Sabedoria e Eclesistico. At o Conclio de Trento, em 1546, grandes autoridades eclesistica dos catlicos romanos ainda se manifestavam contra a canonicidade dos apcrifos, bastando citar Toms de Aquino, no sculo XIII. Trento, porm, admitiu como cannicos 3Esdras, 4Esdras, Tobias, Sabedoria, Eclesistico, Baruque, 1Macabeus e 2Macabeus, bem como os acrscimos a Ester e Daniel. Dos chamados apcrifos, que corriam, o conclio s excluiu o 3Macabeus e 4Macabeus.5

    Para ns, todos os apcrifos ou deuterocannicos esto no mesmo plano, isto , so extrabblicos e no so inspirados. A literatura apcrifa pouco reconhecida. O seu estudo nos fascina, afirma o padre Jos Carlos Rodrigues, por apresentar-nos as ideias que flutuavam no judasmo, quando dele nasceu o cristianismo.6 Em nosso estudo, a literatura apcrifa vem ao nosso auxlio fornecendo-nos dados histricos e mostrando-nos o ambiente do Perodo Intertestamentrio. A matria dos apcrifos

    Eis um panorama dos apcrifos mais famosos. 3Esdras

    Na Septuaginta, os livros cannicos de Esdras e Neemias so designados respectivamente 1Esdras e 2Esdras. Os livros de 3Esdras e 4Esdras correspondem aos apcrifos e so ali chamados Esdras A e Esdras B. O livro relata a histria de Josias quando celebrou a Pscoa; menciona as realizaes dos ltimos reis de Jud; alude ao decreto de Ciro, carta dos samaritanos a Artaxerxes, s ordens de Damasco, ao triunfo de Zorobabel, reconstruo do templo de Jerusalm e de sua dedicao ao Senhor, chegada de Esdras na Cidade Santa com sacerdotes e levitas e leitura da Lei de Moiss em 444 a.C. O autor desse apcrifo inverte a ordem dos reis persas e dificulta a inteligibilidade de alguns passos histricos. O que caracteriza o livro a histria de trs rapazes e a vitria de Zorobabel, que, segundo Jos Carlos Rodrigues,7 so verdadeiros contos orientais, semelhana de Noites rabes. Aparece no livro um debate sobre Qual a coisa mais bela? H tambm outras histrias hilariantes. 4Esdras

    Afirma-se que tenha sido escrito em grego e depois traduzido para o latim, mas at hoje s foi encontrada a parte latina. O que levou muitos crticos a essa concluso foi o nmero absurdo de helenismos presentes na obra. Atribui-se que o livro tenha sido escrito nos dias do imperador Domiciano (81-96 d.C.). Parte do livro baseia-se nas

    4 RODRIGUES, Jos Carlos. Estudo histrico e crtico sobre o Velho Testamento, vol. 2, p. 463-464.

    5 Para mais esclarecimentos, veja LANGE, John Peter; SCHAFF, Philip. A Commentary of the

    Scriptures. The Apocrypha of the Old Testament. Veja tambm a introduo aos apcrifos

    (deuterocannicos) de A Bblia de Jerusalm (So Paulo: Paulus, 2002) e a traduo do padre

    Antnio Pereira de Figueiredo, vol. 1, parte introdutria.

    6 RODRIGUES, Jos Carlos. Estudo histrico e crtico sobre o Velho Testamento, vol. 2, p. 462.

    7 RODRIGUES, Jos Carlos. Estudo histrico e crtico sobre o Velho Testamento, vol. 2, p. 464.

  • tradies judaicas e partes em tradies crists. Consta sobretudo de uma srie de revelaes a Esdras concedidas por um anjo. O judasmo apresentado nessas revelaes em seus melhores aspectos.

    1. Primeira viso (3.15.20). Esdras est sentado em Jerusalm, 30 anos depois de sua destruio. O vidente chora ante as runas da grande cidade e ante o oprbrio de seu povo, humilhado no exlio. Nesses momentos de tristezas, aparece-lhe o anjo Uriel, que o censura, dizendo-lhe que a maldade deve permanecer algum tempo, do mesmo modo como as almas no inferno tm o seu tempo de ali permanecerem.

    2. Segunda viso (5.216.34). Esdras queixa-se. O mesmo anjo lhe aparece. Desta vez para lhe dizer que o fim est prximo e quem o trar o prprio Criador.

    3. Terceira viso (6.359.25). O anjo Uriel explica a Esdras que quando o fim do mundo estiver iminente, cujos sinais j lhe foram concedidos, Deus enviar o seu Filho Unignito com a corte de sua Majestade. Haver ento um perodo de 400 anos de alegria completa. Findo esses anos, o Filho e os seus escolhidos morrero. Segue-se a ressurreio, para o juzo, cujo tempo de um ano-semana. Nessa ocasio, haver separao entre bons e maus. Como severo castigo, no haver mais tempo para arrependimento. Ningum poder interceder pelos maus. Diante disso, o vidente lastima que to poucos se salvem, ao que o anjo lhe retruca: ... os nicos culpados desse estado de perdio foram eles mesmos que escolheram o caminho da impiedade.

    4. Quarta viso (9.2610.60). Esdras continua a se queixar. Levantando porm os olhos, v uma mulher, cujo nico filho concebido aps 30 anos de esterilidade morrer espada quando a cidade for destruda. Ele morrer exatamente no dia em que se casaria. A mulher levanta o rosto e grita; a terra treme, muda-se o cenrio; em lugar da mulher, o vidente depara-se com o panorama de uma encantadora cidade. Uriel ento explica-lhe a viso: a mulher Sio; os 30 anos correspondem aos 300 anos em que ali no se ofereceu sacrifcio ao Deus Verdadeiro; o nascimento do filho, a construo do templo de Salomo; a sua morte, a queda de Jerusalm; a nova cidade, Jerusalm reedificada, cuja viso deveria confortar Esdras.

    5. Quinta viso (11.112.51). Esta a mais terrvel e complicada. Esdras v que do mar sobe uma estranha guia com trs cabeas e seis pares de asas, alm de oito sobre asas. As asas se dominam mutuamente por vrios perodos, at se acabarem, restando apenas trs pares de pequenas asas que, pouco a pouco, se vo consumindo. A cabea do centro domina a terra toda; no fim, desaparece. As duas restantes se devoram simultaneamente. Levanta-se um leo que, com voz de homem, brada que a guia era o quarto dos animais a quem Deus confiara a direo do mundo. Tal guia era representativa do ltimo reino de Daniel; as asas eram reinos tambm. O leo no era seno o Messias do Altssimo, separado para determinado objetivo. Depois do desenrolar dessas cenas, Uriel ordena ao vidente que registrasse essa revelao, mas no a divulgasse.

    6. Sexta viso (13.1-58). O vidente contempla um homem saindo do mar; a esse se vm juntar multides de outros homens. O anjo diz a Esdras: o homem da viso aquele por meio de quem Deus resgatar toda a criao. Os seus inimigos sero extintos pela Lei, que um verdadeiro fogo.

    7. Stima viso (14.1-50). O anjo ordena a Esdras que leve a notcia a seu povo, a fim de que este se preparasse convenientemente, pois o Poderoso vai lev-lo da terra.

    12Macabeus Considera-se 1Macabeus, de autor desconhecido, o mais importante dos apcrifos.

    No se sabe quando foi escrito. quase uma fonte histrica de informao sobre a famlia Macabeia. Foi escrito em hebraico, mas s temos cpias em grego. O autor revela-se perito historiador, homem religioso, grande patriota e criterioso. Tem especial

  • predileo por Judas Macabeu. O livro narra a histria de como a Sria chegou a governar a Palestina durante 40 anos (175-135 a.C.), s sendo liberta quando Joo Hircano comeou a reinar ali. Na purificao do templo discutiu-se a questo de onde ficariam as pedras do velho altar, atualmente profanadas e poludas pelos srios. Resolveram guard-las at que viesse um profeta que determinasse sobre elas. O texto esclarece que a eleio de Simo para o cargo de sumo sacerdote seria interinamente, at que surgisse um profeta.

    O livro de 2Macabeus bem diferente do primeiro. Foi escrito muito mais tarde. Conforme lemos em 2.23, esse livro resumo de uma histria mais desenvolvida, em cinco volumes. Seu autor foi Jason de Cirene e abrange um perodo de 15 anos do perodo compreendido no primeiro livro, embora sejam independentes. O prefcio de 2Macabeus tanto tem de longo como de desconexo. O autor discute o saque ao templo por Seleuco IV e termina na vitria de Judas sobre Nicanor (160 a.C.). O livro est eivado de lendas. Encontramos nele a que diz respeito Arca, que seria oculta numa caverna, at que os judeus voltassem do cativeiro. Encontramos nele a doutrina da intercesso pelos santos (7.28; 15.14). Aparece tambm a crena na orao pelos mortos, doutrina estranha ao Antigo Testamento. Tobias

    um livro de histria. Refere-se a Tobiel, pai de Tobias, da tribo de Neftal. Segundo algumas tradies, a famlia de Tobiel foi levada cativa para Nnive, onde permaneceu. Tobiel entregara a um amigo em Rages, na Mdia, certa quantia em dinheiro. Era observador fiel e rgido de Moiss, e crente muito piedoso. No exlio, entregava-se a obras de beneficncia, enterrando os cadveres de seus patrcios, abandonados insepultos pela impiedade dos filhos de Assur. Conta-se que, certa vez, voltando de sepultar um judeu, no desejando continuar em sua casa, dormiu ao ar livre e, ao acordar, estava completamente cego. No decorrer dos anos, j velho, enviou seu filho Tobias a Rages buscar os dez talentos de prata que ali deixara. Ao longo do caminho, Tobias depara-se com um homem que tambm ia a Rages procura desses dez talentos de prata. Era o anjo Rafael disfarado. Banhando-se ambos no rio, Tobias apanha um peixe, cujo fgado, segundo ordem do anjo, deveria ser guardado e estar sempre com ele. Em Rages, Tobias recebe os dez talentos de Gabel, por cuja filha se apaixona e a quem props casamento. Esta, porm, tivera sete maridos, todos morrendo na noite do casamento pela maldade do demnio Asmodeu. Rafael ordenou a Tobias que, ao entrar no camarim nupcial, queimasse o fgado do peixe, cuja fumaa espaventaria Asmodeu. Feito isto, logo a felicidade lhe sorriu. De regresso, Tobias curou a cegueira de seu pai, que ainda viveu 100 anos. O prprio Tobias viveu 127 anos. Judite

    Esse livro uma exortao. Nota-se nele grande influncia farisaica. A cena desenrola-se da seguinte maneira: o rei Nabucodonosor, da Assria [?], querendo atacar Arfaxo ou Arfaxad, rei da Mdia [?], pediu reforos suas colnias, que negaram o auxlio. Holofernes, general de Nabucodonosor, o vencedor. O esprito de vingana o levou a perseguir pequenas colnias, contando-se entre elas Israel. Holofernes cercou a cidade de Betlia em Esdraelon; quando ia precipitar-se sobre aquele povo, Judite, uma linda viva judia, foi ter com Holofernes. Este ficou deslumbrado diante da beleza de Judite; mandou preparar um banquete, onde se embriagou grandemente. Aps as festas, retirando-se o povo, Judite ficou s, na tenda, com Holofernes. Valendo-se da embriaguez do general, Judite o degola com sua prpria espada, mete-lhe a cabea no saco de sua escrava, entra em Betlia aos aplausos, e s aclamaes do seu povo que, frentico, a recebeu. Eclesistico

  • Afirma-se que o principal ou a fina flor dos apcrifos. No entanto, no ganhou lugar entre os livros cannicos do Antigo Testamento. Originalmente foi escrito em hebraico, num estilo dos mais apurados. Parte do original foi descoberta em 1896 e impressa no ano seguinte na imprensa da Universidade de Oxford pelo editor A. E. Cowley. Est includo na Septuaginta com o nome de Sabedoria de Jesus, filho de Sirac. Cipriano, do sculo III d.C., o designou Eclesiasticus. Os latinos o usaram. Agostinho, no seu Speculum, coleo de versos bblicos, destinou cerca de 15% do espao de seu livro a passagens desse livro, que composto de 51 captulos. Foi escrito possivelmente no tempo do rei Fiscon, irmo de Ptolomeu VII, cerca de 180 a.C.

    Seu estilo assemelha-se ao de Provrbios, sendo, em tudo, mais homogneo. Nota-se atravs de suas linhas que o autor um grande observador, homem de esprito elevado e profundamente religioso. Como nos Provrbios, diz Jos Carlos Rodrigues, o autor usa a forma curta de apotegma para incutir os resultados a que chega a sua anlise.

    O filho de Sirac afirma que a verdadeira sabedoria est, em forma absoluta, em Deus. Obedecer ao Senhor revelar profunda sabedoria. Eclesistico estuda as diversas relaes entre os homens; d regras e conselho a todos, como viver na pobreza ou na riqueza, enfermo ou com sade, na mocidade ou na velhice, na presena de amigos ou de inimigos. filosofia prtica. O autor exalta e louva a Lei de Moiss; entretanto, no se exime da influncia do pantesmo grego, onde deixa transparecer traos fundos dessa corrente filosfica em sua obra. Afirma-se que Eclesistico exerceu alguma influncia no cristianismo, principalmente na carta de Tiago. Sabedoria de Salomo

    No se conhece o autor desse livro. Originalmente, foi escrito em grego, num estilo esmerado, supondo ter sido escrito por um sbio de Alexandria, entre 150 e 130 a.C. Deduz-se que seu autor era um fervoroso adepto da religio judaica. Seu autor conclui que a nica coisa certa era o seu Deus e com ele estava a verdadeira Sabedoria, que, lado a lado com Deus, presidia a tudo. Percebe-se que o livro foi escrito para combater acentuada tendncia generalizada entre seus compatriotas de se deixarem arrastar pelas caudalosas avalanches de outros credos religiosos.

    O autor de uma penetrao rara quando externa sobre a imortalidade da alma humana, afirmando que o homem foi criado imagem de Deus, imagem de sua eternidade. Tambm expe de maneira singular o multissecular problema do sofrimento humano. Nota-se atravs de suas pginas que o livro , em grande parte, um libelo terrvel contra o epicurismo, cuja semente germinada produz frutos de incredulidade. O livro precioso, ainda que haja nas suas partes coisas de pouco sabor bblico, o que impediu sua entrada no cnon. Acrscimos a Ester

    Quem l o livro cannico de Ester notar que o nome de Deus no aparece uma s vez. Sentindo essa falta, copistas habilidosos dentre os judeus helenistas resolveram infundir-lhe pequenos trechos sobre Deus; fizeram-no, entretanto, sem qualquer xito, pois tais acrscimos feitos em 114 a.C. no conseguiram incorporao no texto cannico. Acrscimos a Daniel

    O texto grego de Daniel difere do original por incorporar trs acrscimos engendrados, no pelos tradutores da Septuaginta, mas por copistas posteriores. Os acrscimos so: Orao de Azarias e a ao de graas dos trs rapazes na fornalha, Histria de Suzana e Bel e o Drago. Propositadamente deixamos de nos referir a cada uma dessas lendas, que no lograram nenhum xito no cnon devido ao fato de judeus acharem que o livro um amontoado de histrias imaginrias, inverdicas, que no afinam com o diapaso bblico.

  • Baruque Esse apcrifo, escrito em Babilnia no sculo V aps a destruio de Jerusalm,

    plida imitao do grande profeta Jeremias. A tentativa do autor de Baruque foi frustrada de modo absoluto. O padre Jos Carlos Rodrigues afirma que o livro foi escrito em 75 ou 80 da nossa era.8 Nesse caso, o autor referia-se no a Babilnia, mas a Roma; no ao monarca Nabucodonosor, mas a Tito, filho de Vespasiano. O livro pode ser dividido em trs partes: Liturgia, Lei e Profecia. Enoque

    Trata-se de um livro apocalptico. Dentro desse gnero, h crticos que o reputam como o principal, o mais importante. O nome refere-se ao Enoque de Gnesis 5.24, que viveu 365 anos. Surgiram muitas lendas e histrias em torno de to ilustre personagem; algumas dentre os judeus, outras fora da Palestina. Devido ao fato de Enoque no ter provado a morte, atribuam-lhe poderes de operar maravilhas e um conhecimento especial dos mistrios da natureza. As revelaes que encontramos nesse livro foram dadas por Enoque. Esse livro chamado 1Enoque para distinguir de Segredos de Enoque, que mais tarde foi denominado de 2Enoque.

    1Enoque perdeu-se. H pouco mais de um sculo acharam fragmentos dele na Abissnia. De 2Enoque s se conhece a verso eslavnica. Possivelmente foi escrito por diversas pessoas. O livro divide-se assim: O apocalipse das semanas, Fragmentos do livro de No, As vises, Livros dos lumiares celestes, Similitudes e Parte final. A data mais aproximada para a produo de Enoque um perodo que vai de 130 a 100 a.C.

    A primeira parte do 1Enoque (caps. 136) uma viso em que ele implora o perdo de Deus pelos anjos decados, que introduziram o pecado no mundo. Deus no lho concede. Resolve girar a terra e o inferno acompanhado de anjo de luz. Na terra, descreve sete arcanjos; no inferno, ele v os anjos decados, cuja priso se estende de eternidade a eternidade. Saindo do inferno, v sete montanhas, na mais elevada das quais est Deus no seu trono e junto arvore da vida.

    Na segunda parte, Parbolas ou Similitudes (caps. 3771), uma profecia contra os poderosos injustos; sero punidos pela inexorvel justia dos cus. Tambm nos reporta habilitao dos justos, cujo servio principal adotar continuamente o Deus eterno. No topo da glria, ele v o Eleito, o Filho do Homem, cuja misso julgar. O autor alude converso dos gentios e ressurreio.

    Na terceira parte (caps. 7282), o autor se prende astronomia, que, pelas caractersticas, bem poderamos cham-la de astrologia.

    Na quarta parte (caps. 83105) notam-se enormes interpretaes e grande confuso. Fala, entretanto, da converso dos gentios, da ressurreio dos justos e da apario do Messias. Apocalipse de Baruque

    Supe-se que o livro hoje conhecido como Apocalipse de Baruque foi escrito logo aps a destruio de Jerusalm pelos babilnicos. uma srie de vises. Em vez de ver os babilnios destruindo a Cidade Santa, Baruque v quatro anjos. Os gentios sero destrudos e ento vir o juzo sobre todos os mpios. Numa das vises, Baruque v quatro reinos; quando o ltimo estiver prestes a cair, aparecer o Ungido, cujo reinado ser para sempre. Prosseguem as revelaes sobre a natureza da nova ressurreio, a felicidade dos justos e o castigo dos mpios. Baruque tem outra viso: a nuvem negra despejando gua da mesma cor, mas depois se torna clara. A nuvem este mundo; as 8 RODRIGUES, Jos Carlos. Estudo histrico e crtico sobre o Velho Testamento, vol. 2, p. 472.

  • guas, Israel, cuja histria oscila para limpidez das guas claras, apresentando os ureos tempos do reinado do Ungido do Senhor, em cujo domnio no haver tribulao.

    O livro termina com o captulo 87. Chegando-se a essa altura, tem-se a impresso de que a histria de tais revelaes deveria prosseguir. Da a conjectura de alguns crticos de que a ltima parte desse livro foi perdida. Os 87 captulos encontram-se em siraco. Testamento dos doze patriarcas

    Esse livro foi encontrado em 1300 d.C., num manuscrito grego do sculo X. Nesse livro, o autor apresenta o testamento dos patriarcas, como se cada um o tivesse escrito, em que se narram seus pecados e suas virtudes. Cada patriarca prev o futuro de sua tribo. Os crticos se dividem quanto ao tempo em que esse livro foi escrito. Uns afirmam que foi produzido antes de Cristo; outros defendem que produto da pena de um cristo. Por certas referncias, possvel que tenha sido escrito por um cristo. O livro dos jubileus

    O anjo da presena concede a Moiss uma revelao divina, cujo contedo a histria da criao at a era mosaica, contada de 49 em 49 anos, tempo de um jubileu. A narrativa segue em linhas gerais a de Gnesis, percebendo-se a influncia midrashica. A narrativa feita da maneira mais simples possvel. Venera-se a a Lei, principalmente a parte cerimonial. O livro foi escrito entre 160 e 135 a.C. Concluso

    Poderamos ter feito resumo de cada apcrifo. Entretanto, s colocamos aqui o resumo daqueles apcrifos que interessam ao escopo deste livro. O leitor poder ler numa edio catlica romana da Bblia os sete livros apcrifos e os dois acrscimos. Se desejar ler os demais apcrifos, examine o grande comentrio de Lange, em ingls, especialmente o volume sobre os apcrifos. o mais completo que conheo sobre o assunto.9

    A maior parte desses livros apareceu na poca da helenizao do mundo, isto , no Perodo Interbblico. A leitura dessa literatura, do ponto de vista histrico, de inestimvel valor para a compreenso do estudo desse perodo.

    2 Antecedentes histricos: de Abrao a Malaquias

    O mundo antes de Abrao A Bblia afirma que o vale da Mesopotmia foi o bero da primitiva civilizao. A

    humanidade comeou s margens do Tigre e Eufrates, antes e depois do dilvio (Gn 2; 10).1

    Aceitamos plenamente a veracidade divina dos onze primeiros captulos de Gnesis,2 o que implica admitir a criao imediata do homem por Deus e o consequente 9 LANGE, John Peter; SCHAFF, Philip. A Commentary of the Scriptures. New York: Charles

    Scribners Sons, 1880. 25 volumes. Procure o volume The Apocrypha of the Old Testament.

    1 Para mais informaes sobre a Mesopotmia, veja TOGNINI, Enas. Geografia da Terra Santa e

    das terras bblicas. So Paulo: Hagnos, 2009, captulo 16.

    2 A tendncia modernista atual desprezar os onze primeiros captulos de Gnesis. Esses

    mestres pensam que a matria constante nesses maravilhosos captulos espria e infantil.

  • monogenismo, hoje comprovado pela arqueologia, principalmente pelos trabalhos de Leonard Woolley.3 Professamos a preservao da espcie humana por divina interveno em No e sua famlia e na distribuio etnogrfica dos 3 casais provindos de No: Sem, Cam e Jaf. Creio que os trs filhos de No nunca saram do vale da Mesopotmia, mas seus descendentes sim: os de Cam foram para a frica, os de Jaf para a Europa e os de Sem continuaram na sia. Encontramos, todavia, jafitas na sia e frica, semitas na frica e camitas na sia.

    Houve sria disputa entre os especialistas acerca do bero da civilizao: uns afirmavam que foi o vale do Nilo, enquanto outros apontavam o vale da Mesopotmia. Hoje, entretanto, pelos trabalhos desenvolvidos por Leonard Woolley, e ampliados por outros, principalmente Samuel Noah Kramer4 e Arno Poebel, ficou estabelecido que a Bblia tinha razo: a humanidade comeou mesmo no vale da Mesopotmia.

    Samuel Kramer provou a existncia dos sumrios no sul da Mesopotmia entre 4500 e 4000 a.C., com traos de civilizao superior e grande. A contribuio sumeriana mais antiga do que qualquer outra de que temos notcia. Os sumerianos eram camitas, pelo menos tudo indica. Conheciam rudimentos da astronomia, dominavam partes da matemtica, eram mestres da lavoura, construram os primeiros canais de irrigao, drenaram pntanos do sul da Mesopotmia, inventaram o carro de guerra e o arco nas construes, tinham barcos para transportar seus produtos agrcolas e erigiram seus colossais zigurates.5 Eles adoravam o sol e a lua. Em sua obra A histria comea na Sumria, Kramer apresenta uma linha de reis sumerianos anterior ao dilvio: Ensagana e Hipur reinaram, mais ou menos, em 4000 a.C.; os reis da segunda dinastia, Lagal, Zagu e Ereque, em 3500 a.C. Sabe-se hoje, com certeza, que os sumrios no eram semitas.

    Aparece no vale da Mesopotmia, ou j existia nele, um povo meio misterioso, hoje identificado como acdio ou acadiano, que tinha muito de semita e no menos de camita. O dr. Antonio Neves de Mesquita defende que poderiam ser amorreus vindos do deserto da Arbia ou semitas que desceram do planalto da Armnia, ou ainda, de acordo com Gnesis 10.11, teriam vindo da Babilnia por causa das perseguies de Ninrode.6

    O fato que no sabemos de onde esse povo teria vindo. O novo dicionrio da Bblia7 toma Acade como uma cidade fundada, juntamente com Babilnia e Ereque, por Ninrode (Gn 10.10). Seu nome semtico era Akkaadv, enquanto o sumeriano era gade. Inscries mostram que uma primitiva dinastia semtica, fundada por Sargo I (cerca de 2350 a.C.) floresceu ali. Nesse tempo, Acade controlava toda a Sumria (sul da Babilnia) e seus exrcitos atingiam Ela, Sria e Anatlia do Sul. Com intenso comrcio e grande prosperidade a ocorrer no reinado de Sargo e seu sucessor Naram-Sin, a dinastia tornou-se smbolo de uma idade urea. Quando mais tarde Babilnia se

    3 Ur, la Ciudad de los Caldeos. Mexico: Fondo de Cultura Econmica, [s.d.].

    4 A histria comea na Sumria. Lisboa: Europa-Amrica, [s.d.].

    5 Torres colossais, semelhantes descrita em Gnesis 11.

    6 Povos e naes do mundo antigo, 2 ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1973, p. 67-

    68.

    7 WISEMAN, D. J. Acade. Em: DOUGLAS, J. D. O novo dicionrio da Bblia. 3 ed. rev. So Paulo:

    Vida Nova, 2006, p. 8.

  • tornou capital, o termo Acade continuou sendo usado para descrever a totalidade do norte da Babilnia, at bem mais tarde no perodo persa.8

    Sabemos que os acdios eram mais fortes na guerra do que os sumerianos. Os acdios venceram os sumerianos pelas armas; os sumerianos venceram os acdios pela cultura. Esses dois povos se miscigenaram e deram origem a uma terceira civilizao conhecida como acdio--sumeriana. Uma parte desse povo deu origem Caldeia, cuja capital foi Babilnia, sobre o Eufrates; a outra subiu e fundou a Assria com a capital em Nnive sobre o Tigre.

    A regio da Caldeia era superdesenvolvida e sua apurada civilizao influenciou o mundo conhecido de ento. Abrao: o filho ilustre de Ur dos Caldeus

    Ao sul da Babilnia, nas imediaes do Golfo Prsico, ficava Ur, tambm chamada Ur dos Caldeus, cidade-reino adiantadssima, apurada civilizao sumeriana.9 Famosa por seus dolos-deuses, suas colossais construes, seus reis notveis, seus templos grandiosos, como o construdo por Ur-Dungi em 2500 a.C. Uma lpide de mrmore encontrada por Leonard Woolley nesse templo registra o primeiro rei da primeira dinastia sumeriana datado de 4000 a.C.10

    Desde 1928 as descobertas de Woolley apresentam muitos elementos da cultura de Ur. As casas residenciais foram bem construdas tendo em vista o conforto de seus habitantes. A educao era adiantadssima: sabiam extrair razes quadradas e cbicas. As famlias possuam artigos de ouro e de prata, bem trabalhados, datando cerca de 2.000 antes do famoso Tutankamen do Egito.

    Essa cidade multissecular, cuja civilizao era mais apurada do mundo daqueles dias, foi bero natal do patriarca Abrao. Dessa antiga civilizao, Deus chamou o homem Abrao para nele comear um povo, uma nao, uma revelao particular e nele cumprir Gnesis 3.15, que antevia a vinda de um descendente que esmagaria a cabea da serpente: Jesus Cristo (Gl 3.16). Abrao no era, pois, um nmade, um beduno, mas fruto de adiantadssima civilizao. Entre esse povo, ele era dos mais conceituados, pois era amigo de monarcas.

    Abrao saiu dessa cidade idlatra na companhia de Ter, seu pai, de Sara, sua esposa, seu sobrinho L e um grande nmero de servos. Uma tradio siraca diz que ao sair de Har, Abrao foi rei em Damasco. De Ur, Abrao foi para Har. Daqui, morrendo seu pai, Deus o chama novamente (At 7.4) e o conduz a Cana, de onde partiu depois para Betel, Siqum e Hebrom. Deus lhe mostra toda a terra e lhe faz a promessa de posse. Por causa de uma seca, desce ao Egito e retorna a Cana onde peregrina at a morte. Embora a Bblia no mencione datas, a arqueologia hoje pode provar que Abrao viveu de 2100 a 1925 a.C.11 8 Examine tambm Enciclopedia de la Biblia. Barcelona: Garriga, 1963, vol. 1, p. 100.

    9 Para mais informaes sobre Ur, veja TOGNINI, Enas. Geografia da Terra Santa e das terras

    bblicas, captulo 16.

    10 Veja de CARBTREE, A. R. Arqueologia bblica. 2 ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista,

    1958, p. 105-110.

    11 Sobre cronologia do patriarca Abrao e sua fundamentao nos arquivos de Mari,

    descobertos por Andr Parrot, consulte TOGNINI, Enas. Geografia da Terra Santa e das terras

    bblicas, captulos 16 e 17.

  • De Abrao a Moiss A descendncia de Abrao era a administradora das bnos do Senhor para todas as

    naes (Gn 12.2-3). Depois da morte de Abrao, Isaque, o filho da promessa, lhe sucedeu. De Isaque, a bno continuou mediante Jac, aquele que amava as coisas espirituais e desejava conquistar a promessa de Deus. Jac torna-se pai de 12 homens. Por meio de um deles, Jos, Jac e sua casa vo viver no Egito12 por volta de 1870 a.C. Jos havia se tornado vice-rei do Egito na poca do fara Apepi III,13 um rei hicso. Tempos depois da morte de Jac, de Jos e de seus irmos e de toda a gerao que foi viver no Egito, os descendentes de Jac aumentaram sobremaneira nas terras egpcias. Levantou-se ento o fara Totmes III, um rei que no havia conhecido Jos (x 1.8). Temendo o crescimento populacional dos descendentes de Jac (ou Israel), fara escravizou os israelitas, que passaram a viver sob um regime de opresso. Eles foram duramente maltratados pelos egpcios.

    A civilizao egpcia, to adiantada e desenvolvida para a poca, exerceu, sem dvida, grande influncia na vida e no destino dos filhos de Abrao. Os egpcios escreviam e cultivavam as letras, as artes, a religio (o politesmo dos egpcios deveria mobilizar os hebreus contra a idolatria) e a cincia.

    Depois de centenas de anos de escravido, purificados moralmente pela dor, pelo sofrimento e pela opresso, Deus enviou Moiss, um hebreu que fora criado no Egito como filho da filha do fara (Hb 11.24), a fim de libertar seu povo escravizado. Eles deixaram o Egito sob a mo de Moiss nos primeiros anos de governo do fara Amenetep II, que reinou de 1447 a 1423 a.C.14 Moiss, o grande libertador, nasceu em 1520 e morreu em 1400 a.C. Perodo da conquista

    Depois da morte de Moiss, Josu, filho de Num, assume o comando e conduz os israelitas a Cana, a Terra Prometida. Esse curto perodo comea com a queda dos muros de Jeric em 1400 a.C., mesmo ano da morte de Moiss, e estende-se at 1360 a.C., quando morreu o celebrado filho de Num. Perodo dos juzes

    Com a morte de Josu, filho de Num, em 1360 a.C., comea o perodo dos juzes. A nao de Israel, j devidamente instalada na Terra Prometida, vive pocas de apostasia e de declnio espiritual, alm de servido aos povos vizinhos e de guerra civil. Em cada um desses momentos difceis, Deus suscita juzes para libertar o povo do domnio inimigo e reconduzi-lo sua vontade. Ao todo foram catorze juzes, dentre os quais destacamos Otniel, o primeiro juiz, Ede, Gideo, Jeft e Sanso. O perodo termina com Samuel, o profeta-juiz, em 1045 a.C. Reino unido

    Devido idade avanada de Samuel e falta de preparo de seus filhos Joel e Abias, os israelitas pediram um rei como o tm todas as naes (1Sm 8.5). Saul ento foi ungido por Samuel, o ltimo juiz, o primeiro rei dos filhos de Jac em 1025 12 Para mais informaes sobre o Egito, veja TOGNINI, Enas. Geografia da Terra Santa e das

    terras bblicas, captulo 18.

    13 CRABTREE, A. R. Arqueologia bblica, p. 132.

    14 A tendncia luz de novas descobertas arqueolgicas voltar-se a Ramss II como o fara

    da opresso.

  • aproximadamente. A monarquia israelita era considerada uma perfeita teocracia. Mas Saul foi rejeitado por Deus. Com isso, Samuel ungiu o novo rei escolhido por Deus: Davi (1010 a.C.). Este, como Saul, reinou 40 anos. Davi conquistou o monte Sio, onde mais tarde construiria a casa real.

    Com a morte de Davi, seu filho Salomo torna-se rei de Israel, cujo reinado portentoso constituiu o maior orgulho dos judeus. De fato, o reino de Salomo foi o mais glorioso de toda a histria israelita. As naes de leste a sul pagaram-lhe tributo. No aspecto religioso, os judeus foram reconhecidos como os escolhidos do Senhor. Salomo erigiu o Templo de Jerusalm. Tudo floresceu naquela nao, at mesmo o luxo, a vaidade, a opresso, a idolatria e a rebelio ao Senhor. Infelizmente, Salomo (987 a.C.) terminou muito mal seus dias na presena do Senhor. Ele reinou aproximadamente 40 anos sobre as doze tribos de Israel. Reino dividido

    Com a morte de Salomo, seu filho Roboo assumiu a monarquia; porm, por questes de ordem administrativa, poltica e religiosa, o reino foi dividido em duas partes em 936 a.C.: o Reino do Norte (Israel) e o Reino do Sul (Jud). O Reino do Norte (Israel)

    Dez tribos mais a meia tribo de Benjamim rebelaram-se contra Roboo e formaram o Reino do Norte ou Israel, cuja capital passou a ser Samaria. Jeroboo, filho de Neb, tornou-se o rei. A partir do reinado de Jeroboo e sem o Templo de Salomo, as tribos do Norte abandonaram o Senhor Deus e entregaram-se idolatria, sempre acompanhada de imoralidade, devassido, violncia e injustia. As consequncias foram funestas: declnio moral e espiritual, pobreza e confuso.

    Os esforos dos abnegados profetas do Senhor de conduzir o povo ao arrependimento foram inteis. Cada rei que se levantou em Israel era mais mpio e mais profano. Esse estado de corrupo fez a ira de Deus transbordar. Diante dessa avassaladora degradao, Deus enviou o Imprio Assrio para punir a nao rebelde, na poca governada por Osias (Is 20.1; 2Rs 17.19-23), o que aconteceu em 722 a.C. Sargo II, o tirano rei da Assria, destruiu Samaria e dispersou os israelitas por terras estrangeiras.

    Os assrios tinham um modo peculiar de tratar o povo vencido: destruam uma raa ou a unidade de uma nao com misturas ou miscigenaes sucessivas. O processo empregado por eles descrito na Bblia desta forma: ... o rei da Assria trouxe gente da Babilnia, Cuta, Ava, Hamate e Sefarvaim, e a fez habitar nas cidades de Samaria, em lugar dos israelitas; e eles tomaram posse de Samaria e habitaram nas suas cidades (2Rs 17.24).

    Eles traziam gente de diversas partes e as ajuntavam numa cidade, enquanto o povo daquela localidade era removido para outro lugar, perdendo assim sua origem, sepultando suas mais nobres tradies e perdendo o que lhes era precioso e digno. Os israelitas do Norte praticamente desapareceram por causa desse sistema. Todo o povo das dez tribos foi absorvido pelas naes orientais.15 Foi esse povo miscigenado e estranho aos judeus que tanto dificultou os trabalhos de Esdras e Neemias. Isso explica, em parte, a rivalidade entre judeus e samaritanos, como se observa no Novo Testamento.

    15 Possivelmente algumas famlias israelitas resistiram ao longo e penoso cativeiro assrio,

    mantendo-se firmes s tradies de seus pais e voltaram depois a Jerusalm em 536 a.C. com a

    tribo de Jud.

  • O Reino do Sul (Jud) Esse reino ficou sob o domnio de Roboo, herdeiro de Salomo, abrangendo a tribo

    de Jud mais a meia tribo de Benjamim. A capital desse reino continuou em Jerusalm, onde estava o Templo de Salomo.

    O poderio assrio perturbou muitas vezes a paz de Jud. Porm, essa ameaa desapareceu quando as armas babilnicas destruram o poderio dos filhos de Assur. O Imprio Babilnico agora passou a ser a grande preocupao de Jud. Depois da queda de Samaria, Jud, como nao, durou aproximadamente cento e poucos anos.

    Assim como o povo do Norte, os habitantes do Reino do Sul tambm foram infiis ao Senhor, sobretudo seus lderes polticos e religiosos. O mesmo pecado que levou os israelitas do Norte ao cativeiro tambm afetou Jud, e talvez de forma mais acentuada. A palavra e a exortao dos mensageiros de Deus foram desprezadas. Os profetas foram perseguidos, alguns barbaramente mortos. Como resultado desse desatino dos judeus, o Senhor mandou-lhes Nabucodonosor, que os levou cativos a Babilnia. O cativeiro babilnico

    O Antigo Testamento descreve de modo geral os acontecimentos do cativeiro babilnico. A sucesso dos fatos que culminaram no exlio encontram-se em 2Reis 24 e 25 e 2Crnicas 36. As datas so fornecidas pela histria secular e no pela Bblia.

    Depois de vrios avisos por meio de profetas, eles foram levados cativos em trs sucessivas deportaes:

    1. Em 605 a.C., Jeoaquim, rei de Jud, foi amarrado com cadeias de bronze e exilado para a Babilnia. Nessa ocasio, Nabucodonosor levou alguns despojos do tempo de Jerusalm (2Cr 36.6,7). Na ocasio, alguns judeus tambm foram deportados, como Daniel e Ezequiel, que mais tarde se tornaram clebres na histria do povo de Deus.

    2. Joaquim, filho de Jeoaquim, reinou sobre Jud 3 meses e 10 dias (2Cr 36.9). Na primavera do ano (2Cr 36.10), em 597 a.C., Nabucodonosor o levou cativo para a Babilnia, bem como sua me, seus servos, prncipes, oficiais, artfices e valentes (2Rs 24.12-16).

    3. O rei da Babilnia estabeleceu Zedequias como rei-vassalo sobre Jud. Em 11 anos de governo (2Cr 36.11), ele fez o que era mal perante o Senhor (2Cr 36.12-16). Zedequias tambm se rebelou contra Nabucodonosor, o que provocou o cerco a Jerusalm por 2 anos (2Rs 25.1-3). Em 586 a.C., a cidade por fim rendeu-se pela fome. O rei Zedequias e seus soldados fugiram, mas foram capturados. Seus filhos e seus prncipes foram mortos na sua presena. Como castigo, seus olhos foram vazados e ele foi arrastado a Babilnia com a nao de Jud. Nebuzarad, ministro da guerra de Babilnia, destruiu Jerusalm por completo, com muros e casas, incendiou o templo, levou como despojo seus tesouros, e conduziu seus habitantes, em massa, para o cativeiro na Babilnia.

    Entretanto, a desolao de Jerusalm no significa que a terra de Jud ficou desabitada. Eis o que informa o profeta Jeremias: Mas Nebuzarad, capito da guarda, deixou ficar na terra de Jud somente alguns pobres dentre o povo, que nada possuam. E deu-lhes vinhas e campos (Jr 39.10). Alm disso, os pobres e refugiados de Jud tambm receberam do monarca da Babilnia um rei: Gedalias (Jr 40). O monarca tambm ordenou que Jeremias ficasse em Jud (Jr 40.6). Certamente, houve nisso um propsito divino. Ao contemplar as runas de Jerusalm, o profeta escreveu Lamentaes.

  • Esses fatos deixam claro que a terra de Jud no ficou totalmente desolada durante os 50 ou 70 anos de cativeiro babilnico. Josefo afirma: O pas (Jud) ficou deserto por 70 anos. Deserto, sim, de profetas, de atalaias de Deus, de pregoeiros da verdade, mas no de pessoas e acontecimentos.

    O dr. John Richard Sampey (1863-1946) descreve o cativeiro babilnico nestes termos:

    Foi doloroso para os judeus serem arrebanhados por um povo invasor; para uma longa e humilhante jornada de sua terra-ptria num pas estrangeiro. Quando afinal o Templo foi incendiado e o reino de Jud totalmente destrudo, muitos deveriam ter pensado que o Senhor no fosse poderoso como os deuses da Babilnia. Alguns abandonaram sua f religiosa, para se tornarem iguais aos gentios. Outros deram ouvidos aos falsos profetas, que predisseram: o Senhor dentro de breves dias restaurar o seu povo no seu prprio pas.16

    Jud estava fora de sua casa agora, no amargo exlio, longe de sua amada Jerusalm. Em Babilnia, pas estrangeiro, tudo diferente: novos costumes, nova lngua, novas influncias. O povo sofria terrivelmente.

    Apesar da conquista esmagadora, os babilnicos eram diferentes dos assrios na sua poltica de lidar com os povos dominados. Eles levavam todos os cativos para sua metrpole, onde viviam agrupados em bairros, com liberdade de cultuar o seu Deus e praticar todos os seus costumes, ou seja, eles levaram consigo e preservavam suas tradies histricas. Ezequiel e Jeremias deixam claro que os caldeus no oprimiam tanto os exilados como faziam os assrios. O cativeiro babilnico seria muito mais brando do que o egpcio.

    Os judeus continuaram a praticar alguns servios religiosos. Mesmo com limitaes, ainda tinham sacerdotes. Eles guardavam o sbado, circuncidavam, jejuavam, obedeciam a Moiss. Liam as Escrituras, oravam na sinagoga e cultuavam a Deus ao modo judeu (quando Sadraque, Mesaque e Abede-Nego companheiros de Daniel foram lanados na fornalha devido recusa de adorar uma imagem, no se tratava de perseguio religiosa, mas de intriga poltica). Alm disso, os judeus preservaram com muito cuidado as genealogias sacerdotais e reais provindas de Aro e Davi. Essa preservao ajudaria na identificao do Messias da Promessa, pois ele nasceria da tribo de Davi.

    Durante o exlio, alguns profetas escreveram vises e mensagens. Muitos salmos foram escritos, nos quais os autores deixaram transparecer a tristeza por estarem longe de Jerusalm.

    A poltica babilnica tambm ajudou os judeus de outra forma. Antes do exlio, eles se ocupavam quase exclusivamente de lavoura e pecuria. Os anos de cativeiro converteram-nos em hbeis comerciantes. Muitos enriqueceram (em contraste, os que permaneceram em Jud viviam em extrema pobreza). Os judeus ajudaram a construir edifcios, outros trabalharam em paz nos seus prprios lares. Possuam casas (Ez 3.24; 33.30). Outros ainda deram-se agricultura, bem como a outras atividades. Alguns deles, como o profeta Daniel, chegaram a ser pessoas de alto conceito no Imprio, pois prestavam servios diretamente ao rei. Quando os medo-persas conquistaram Babilnia e concederam liberdade aos judeus de retornarem sua ptria, muitos deles rejeitaram a proposta, pois tinham indstria, comrcio, propriedades e riquezas que no lhes

    16 SAMPEY, J. R. O corao do Velho Testamento. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, p.

    228-229.

  • permitiam voltar terra natal. Ficaram em Babilnia, outros foram para o Egito etc. Esses so os judeus da Dispora ou Disperso. Finalidade do exlio

    A Bblia afirma que o cativeiro babilnico veio ao povo judeu como consequncia imediata do pecado.

    Desde Moiss o povo era instrudo a obedecer ao Senhor. A permanncia na Terra Prometida dependia diretamente de sua fidelidade a Deus. O mandamento era claro: No ters outros deuses alm de mim (x 20.3). A ordem mais recomendada pelo grande legislador era a obedincia. Josu, sucessor de Moiss, tambm advertiu os israelitas a no servirem aos deuses dos cananeus. Se fossem fiis em observar a Lei, as bnos seriam numerosas, mas se no a observassem, sofreriam consequncias desastrosas. Esse aviso foi reiterado muitas vezes ao povo. Eis o que Deus declarou a Salomo na dedicao do templo de Jerusalm: Mas, se vs e vossos filhos vos desviardes de algum modo e no me seguirdes, nem guardardes os meus mandamentos e os meus estatutos que vos tenho proposto, mas decidirdes cultuar e adorar outros deuses, ento exterminarei Israel da terra que lhe dei e lanarei longe da minha presena este templo que santifiquei para meu nome; e Israel ser motivo de zombaria entre todos os povos. Todo aquele que passar por este templo to exaltado ficar admirado e zombar, dizendo: Por que o SENHOR fez assim a esta terra e a este templo? E lhe respondero: Eles abandonaram o SENHOR seu Deus, que tirou seus pais da terra do Egito, e se apegaram a deuses estranhos, os adoraram e os cultuaram; por isso o SENHOR trouxe sobre eles todo este mal (1Rs 9.6-9).

    Os profetas proferiram mensagens idnticas e advertiram ao povo para que se abstivessem da idolatria, fugissem da injustia e que andassem com inteireza de corao nos retos caminhos do Senhor. Deus lhe mandou repetidas admoestaes: fome, praga, peste, seca etc. A finalidade era converter os israelitas dos maus caminhos. Mas eles no se arrependeram. Ao contrrio, na sua presuno entregaram-se a toda sorte de idolatria, injustias e maldades; desprezaram o Senhor e sua palavra; perseguiram os profetas e encheram de sangue a terra. Agarraram-se ao templo e entregaram-se a uma religiosidade exterior e vazia. Em decorrncia dessas atitudes inquas, veio o terrvel Dia do Senhor, um tempo de julgamento e purificao. De acordo com Claudius Lamar McGinty, Deus visava a duas coisas em relao ao seu povo: punio e educao.17 Nesse sentido, Nabucodonosor foi um instrumento do Senhor para corrigir a idolatria dos judeus. McGinty prossegue: Israel deveria ser purificado pelo isolamento. A liberdade espiritual conquistada pela servido poltica; a nao sacerdotal ser consagrada pelo sofrimento. Deste processo, deste peneiramento, bem como os desajustes espirituais; estabelecer-se-ia um novo ideal de f e santidade e a preparao para a tarefa que aguardava o restante santo, de cujo seio sairia o Salvador do mundo.18

    Mesmo que os exilados judeus no tivessem sido duramente maltratados na Babilnia como na escravido egpcia do tempo de Moiss, cativeiro sempre cativeiro. L, eles aprenderam uma grande lio. A nostalgia dominava o corao da pobre gente. Lembraram-se da sua terra, de sua Jerusalm, de seu templo, do sepulcro de seus 17 MCGINTY, C. L. From Babylon to Bethlehem. Nashville, Tennessee: S.S.B. of the Southern

    Baptist Convention.

    18 MCGINTY, C. L. From Babylon to Bethlehem, p. 52.

  • antepassados e de suas gloriosas tradies de liberdade. Da nasceu o sofrimento e, com este, o desnimo e a profunda tristeza. Foram Caldeia por causa da idolatria, e na metrpole dos deuses afligiam-se por causa dos dolos. Na distncia e na solido lembraram-se do No ters outros deuses diante de mim. A lembrana os levou ao reconhecimento de que s o Senhor Deus, e esse reconhecimento os conduziu a deplorar os dolos e a voltar-se com fidelidade ao Senhor.

    A finalidade principal do exlio babilnico, portanto, foi punir e educar o povo de Deus, reintegr-lo no caminho do Senhor e prepar-lo para o advento do Messias. Embora uma minoria de judeus tenha ingressado no paganismo poca do exlio na Babilnia, o restante se manteve firme em Deus e s tradies do seu povo e voltou para Jerusalm com f inabalvel no Deus de Jac. Profetas do exlio

    Dos trs ofcios da teocracia israelita profeta, sacerdote e rei , apenas a voz da profecia sobreviveu. A responsabilidade da liderana recaiu sobre o profeta. Os fenmenos, graas providncia divina, so recprocos: para grandes necessidades, grandes homens so levantados. Eles transmitiram ao povo mensagens de consolao e esperana. Os profetas animaram e fortaleceram os exilados! No escuro cu da Babilnia comearam a brilhar Ezequiel, Daniel, Jeremias, Isaas, entre outros. Ezequiel

    Levado para a Babilnia em 605 a.C., ele foi comissionado por Deus para o ministrio proftico entre 593 a.C. Seu ministrio anterior queda de Jerusalm cheio de vises e admoestaes ao povo, para ver se conseguia evitar a catstrofe que ameaava pr a perder a sua ptria. Posteriormente, quando o templo em Jerusalm no mais existia, o profeta anuncia a restaurao de Israel e um futuro feliz para a nao (caps. 33 a 38). Ezequiel chamado o profeta da esperana, pois anuncia que a graa de Deus operar a restaurao do seu povo (cap. 37). Deus promete fazer com eles um concerto de paz e de pr o seu santurio no meio deles para sempre (veja 37.25-26). Assim, das orlas do Quedar, sai a voz de conforto e esperana que ecoa no corao de todos os exilados judeus. Daniel

    Esse sbio servo do Senhor esteve em evidncia na corte babilnica. Chegou elevadssima posio de vice-rei. Por meio dele, o Senhor revelava sua providncia sobre Babilnia e seu rei. Alm de sbio estadista, Daniel foi um grande administrador, conselheiro do rei e orientador dos negcios da corte. Ele tambm confortou o seu povo. Jeremias

    Depois de exortar os israelitas ao arrependimento antes da queda de Jerusalm, ele dedica parte do livro a confortar os cativos da Babilnia, alm de lhes dar bons conselhos (29.5-14). Suas palavras so esperanosas, pois o povo saberia quanto tempo duraria o exlio: 70 anos. No fim desse perodo, Deus voltaria sua ateno ao seu povo e lhe daria a glria de outrora. Mudaria sua tristeza em alegria. Isaas

    A segunda parte de Isaas (caps. 4066) escrita para edificar os abatidos de corao que se achavam no cativeiro. O Senhor o verdadeiro Deus. Sua promessa a Abrao real, tendo sido reiterada posteridade do patriarca. A esperana messinica renasce. Os dolos que at ento os atormentam no passavam de mera vaidade humana. O cativeiro era de carter provisrio. Logo viria o Senhor Sofredor e carregaria no seu corpo as enfermidades de todos, curando-os por suas pisaduras.

    Maquete de Jerusalm

  • A contribuio proftica desses homens de Deus para conservar a esperana dos desterrados foi imensa. Suas mensagens, gloriosas e vivas, animaram o povo. Esse nimo fez que mantivessem sua f naquele que tudo pode. Essa f foi o fundamento das futuras realizaes de Deus, no s para os judeus, mas para toda a humanidade.

    A funo proftica durante o exlio foi decisiva na vida dos judeus. Os profetas do cativeiro so os sustentculos de todo o edifcio do povo de Deus. Do retorno e da restaurao at Malaquias

    O Reino de Jud comeou a ser deportado para a Babilnia em 605 a.C. De acordo com Jeremias 25.11, a deportao deveria durar 70 anos, no fim dos quais os judeus voltariam sua ptria. Essa profecia comeou a se cumprir quando um novo imprio entrou em cena: o Medo-Persa.

    O profeta Jeremias havia profetizado a tomada, a destruio e a desolao da orgulhosa Babilnia (Jr 5051). O profeta Daniel tambm proclamou o fim da Caldeia: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas (Dn 5.28). Assim, diante da palavra do Senhor, Babilnia, governada na poca por Nabonido e Belsazar, foi destruda em 538 a.C. sob o comando de Ciro, o persa. O grande guerreiro tomou a cidade, deixou ali Dario, o medo, e prosseguiu nas suas arrojadas conquistas. Poucos anos depois, em 535 a.C., os judeus tiveram permisso de retornar a Jerusalm. Foi o fim do cativeiro de 70 anos.

    Felizmente, o mtodo dos babilnicos de manter as tradies do povo conquistado ajudou os judeus nesse retorno, pois eles puderam prosseguir com sua trajetria histrica.

    Vrios lderes e profetas foram levantados para auxiliar os judeus a restaurar Jerusalm e ajud-los a seguir e honrar a lei de Deus. Esdras e Neemias esto entre esses lderes. Entre os profetas destacam-se Ageu, Zacarias e, por ltimo, Malaquias, que inspirou o povo a no se descuidar novamente de sua vida religiosa e a aguardar o Dia do SENHOR.

    Depois de Malaquias, comeou o silncio proftico de 400 anos, que s viria a ser interrompido com a pregao de Joo Batista. Nesse perodo, os judeus continuaram sob o domnio dos persas, depois vieram os gregos, incluindo os ptolomeus e os selucidas (quando ocorre a Revolta dos Macabeus) e, por ltimo, os romanos, em cuja vigncia nasce o Senhor Jesus.

    Vamos acompanhar essas trajetrias separadamente. 3

    Perodo Persa Com o fim do Imprio Babilnico, o Imprio Persa assume o papel de superpotncia. Quando a dinastia meda foi fundada por Ciaxiares, a Prsia era uma de suas humildes

    colnias. O ambicioso Cambises, filho de Aqumenes, fundador da Prsia, casou--se com a filha de Astages, da Mdia, esperando com isso ampliar seus territrios, multiplicar seus tesouros e aumentar o seu poder. Embora ele no tenha conseguido isso, seu filho realizou o que o pai no conseguiu. Estamos falando de Ciro II, o Grande, rei da Prsia de 559 a 530 a.C., que incorporou a Mdia aos seus domnios, alm de conquistar a Ldia, a Sria, a Babilnia ou Caldeia, entre outras naes.

    Ciro, o Grande, era um gnio notvel, alm de um guerreiro magnnimo e justo. Ele vivia para lutar, lutava para conquistar e conquistava para libertar. Ele foi, sem dvida, um clebre libertador. E o mais notvel: Deus havia predito por intermdio do profeta Isaas alguns feitos de Ciro.

  • Sou eu que confirmo a palavra do meu servo e cumpro a previso dos meus mensageiros; que digo de Jerusalm: Ela ser habitada; e das cidades de Jud: Elas sero edificadas, e eu levantarei as suas runas; [...] que digo acerca de Ciro: Ele meu pastor e cumprir tudo o que me agrada; ele dir sobre Jerusalm: Ela ser edificada, e o fundamento do templo ser lanado (Is 44.26,28). Assim diz o SENHOR a Ciro, seu ungido, a quem tomo pela mo direita, para abater naes e desarmar reis; para abrir diante dele as portas, para que no sejam trancadas (Is 45.1).

    Quando Ciro entrou na Babilnia, deve ter sido informado pelos judeus dessas profecias. Seja como for, o rei persa libertou os filhos de Israel, no apenas os cativos da Babilnia, mas de outras regies. Ciro firmara um propsito no corao: no tirar nenhum povo de sua terra. Estava no seu plano de realizaes libertar todos os cativos. Assim, Ciro proclamou um decreto nestes termos: os judeus que livre e espontaneamente desejassem voltar sua ptria poderiam contar com as garantias do rei (veja 2Cr 36.22-23; Ed 1.1-4).

    Atendendo ao decreto, Zorobabel, da linhagem real, e Josu, da linhagem sacerdotal, voltaram chefiando a primeira leva de 50.000 judeus, que levaram vasos e outras provises. O remanescente ou restante de Israel (Is 10.20) voltava agora para sua ptria cantando: , Jerusalm, que a minha mo direita se atrofie, se eu me esquecer de ti. Que minha lngua se prenda ao cu da boca, se no me lembrar de ti, seu eu no preferir Jerusalm minha maior alegria (Sl 137.5-6).

    Chegando a Jerusalm, edificaram um altar, e o culto ao Senhor foi restabelecido. Eles lanaram os alicerces do templo. Embora voltassem a habitar sua antiga terra, tiveram de lutar contra filisteus, edomitas, moabitas, amonitas, monglicos samaritanos e outros, que se haviam estabelecido no pas.

    A ascenso de Ciro significa, portanto, o cumprimento da vontade de Deus, a libertao do restante de Jud, a restaurao da cidade de Jerusalm, do templo e do culto e dos sacrifcios do Senhor.

    Outros sucessores de Ciro tambm fizeram histria em sua relao com o povo de Deus, dentre os quais destacamos Xerxes e Artaxerxes.

    1. Xerxes ou Assuero (486-465) casou-se com a jovem e bela judia Ester. Esse casamento providencial ajudou os judeus a no serem mortos em massa devido ao plano homicida de Ham, homem de grande posio poltica no reinado de Xerxes. Com a ajuda de Mardoqueu, primo de Ester, o perverso plano de Ham foi descoberto. A rainha Ester conseguiu do rei a promulgao de um decreto, vlido em todas as regies do Imprio, que permitia aos judeus se armar e se defender dos que quisessem mat-los. Esses dias em que puderam se livrar de seus inimigos foi chamado de Purim (do persa pur = sorte).1 Os judeus at hoje comemoram a festa do Purim (leia o livro de Ester).

    2. Artaxerxes (465-425), cognominado Longimanus por sua excessiva bondade, era filho do monarca Xerxes. A Enciclopdia e dicionrio internacional descreve o carter de Longimanus da seguinte forma: ... foi clebre pela sua bondade e generosidade; permitiu aos judeus que tinham ficado em Babilnia, depois do edito de Ciro, que voltassem a Jerusalm para restabelecer sua religio.

    1 DAVIS, John. Novo dicionrio da Bblia. Ed. ampl. e atual. So Paulo: Hagnos, 2005, p. 1.020.

    Verbete Purim.

  • Os judeus sob o domnio persa Dedicao do templo em Jerusalm

    Muitos anos se haviam passado desde que Zorobabel e Jesua (ou Josu) reconduziram os cativos a Sio e que os alicerces do templo foram lanados. As dificuldades eram quase insuperveis: lutas, inimigos e outras coisas mais embargavam os passos dos judeus na reconstruo de Jerusalm e do templo do Senhor.

    Mais ou menos em 520 a.C., Deus enviou os profetas Ageu e Zacarias para exortar o povo a fazer tudo pela reconstruo do templo. Desse modo, animaram os judeus, que, alegres, prosseguiram nessa santa obra.

    Surgiu outra dificuldade, segundo Esdras 5 e 6. Certo Tatenai (governador do territrio alm do rio Eufrates), Setar-Bozenai e seus companheiros foram a Zorobabel e insolentemente perguntaram-lhe: Quem vos deu ordem para construir este templo e concluir estes muros?. Tatenai ento escreveu carta a Dario Histaspis acusando os judeus de construes irregulares. Histaspis ordenou que se consultassem os arquivos, o que foi feito, dando ganho de causa aos judeus. Dario ento mandou que Tatenai, Setar-Bozenai e seus companheiros deixassem os judeus sossegados; alm disso, decretou que as despesas da construo do templo fossem pagas por recursos do tesouro real e tambm presenteou os judeus com animais para sacrifcios, azeite, trigo etc.

    Por fim, em 516 a.C., para a alegria geral dos judeus, a Casa do Senhor foi edificada. A disperso judaica

    Uma das finalidades do cativeiro babilnico foi dispersar os judeus. Por sua vez, nos propsitos de Deus, isto visava a preparar o mundo para o advento do Evangelho. Quando Ciro e, mais tarde, seus sucessores proclamaram liberdade aos judeus, muitos voltaram para Jerusalm, mas outros preferiram ficar na ptria adotiva. Encontramos desse modo judeus em muitos pontos do mundo, mas os ncleos principais estavam na Babilnia e no Egito. Na Babilnia

    Durante o tempo em que estiveram sob o domnio babilnico, alguns judeus desfrutaram de grande influncia na corte, e isso continuou sob o domnio persa. Daniel, por exemplo, era conselheiro do rei. Isto garantiu conforto, bem--estar e supremacia aos judeus.

    Podemos ver muitos aspectos da vida judaica na Babilnia durante a ocupao persa. Por exemplo, o nmero de judeus espalhados em vrios ncleos pelo vasto Imprio Persa era enorme. Sua influncia era respeitvel. Por exemplo, veja o caso de Neemias, que era copeiro do rei Artaxerxes em Sus. Falar a um rei persa era algo raro, como se l em Ester; mas o prprio rei, certo dia, dirigiu-se a Neemias ao v-lo triste (Ne 2.1-2). Neemias, portanto, era considerado e prestigiado. Conclumos disso que os judeus desfrutavam de completa liberdade sob os medo-persas. Apesar disso, tambm eram odiados e invejados pelos persas e por outros povos subjugados pelo Imprio, como confirma o livro de Ester. No Egito

    J vimos que