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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO O PICO DE PRODUÇÃO DO PETRÓLEO: UMA ANÁLISE DAS VISÕES OTIMISTA E PESSIMISTA GREGOR ALMEIDA BRUCHER Matrícula nº: 101100472 ORIENTADOR: Prof. Edmar Luiz Fagundes de Almeida MARÇO 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

O PICO DE PRODUÇÃO DO PETRÓLEO: UMA ANÁLISE DAS VISÕES OTIMISTA E PESSIMISTA

GREGOR ALMEIDA BRUCHER Matrícula nº: 101100472

ORIENTADOR: Prof. Edmar Luiz Fagundes de Almeida

MARÇO 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

O PICO DE PRODUÇÃO DO PETRÓLEO: UMA ANÁLISE DAS VISÕES OTIMISTA E PESSIMISTA

__________________________________________ GREGOR ALMEIDA BRUCHER

Matrícula nº: 101100472

ORIENTADOR: Prof. Edmar Luiz Fagundes de Almeida

MARÇO 2008

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As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor.

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RESUMO

A partir da triplicação do preço do barril do petróleo nos últimos quatro anos, este

trabalho apresenta a evolução e a atual disponibilidade das reservas mundiais de petróleo. A

temática do pico do petróleo tem por base os estudos de Hubbert, que foi pioneiro ao realizar

estudos técnicos da relação consumo x disponibilidade, não só do petróleo e de

hidrocarbonetos, mas de muitas outras fontes de energia finitas (carvão, gás natural, urânio

etc.).

Este trabalho expressa as opiniões antagônicas de autores pessimistas e otimistas em

relação à exaustão do petróleo, da atual crescente demanda por esse recurso natural, bem

como a distribuição geográfica desigual e a disponibilidade de recursos, conforme as teorias

de Hubbert e Hotelling entre outras.

Entre os argumentos dos autores pessimistas destacam-se a fraca qualidade dos dados

disponíveis; a dificuldade de previsão de novas descobertas; a dependência da oferta mundial

da produção de alguns reservatórios gigantes (giant fields); a não descoberta de poços de

grandes proporções; a irregularidade geográfica da distribuição das reservas; a atuação

politicamente orientada da OPEP; o ritmo de crescimento econômico e as demandas mundiais

atuais, incompatíveis com o crescimento da oferta.

Os autores otimistas acreditam que as forças de mercado, principalmente o custo de

produção e o preço, além dos conseqüentes avanços tecnológicos serão suficientes para uma

gradual extinção da era do petróleo como conseqüência do surgimento de combustíveis

alternativos. Entre os resultados deste trabalho está a constatação de que o comportamento de

longo prazo do mercado petrolífero dependerá do preço, do crescimento da demanda, do

avanço tecnológico para crescimento da taxa de extração de petróleo em poços existentes, de

inovações, não só voltadas para a possibilidade da descoberta de novas reservas mas, também,

de novas tecnologias para aumentar a eficácia dos motores a combustão. Num prazo mais

longo, a velocidade de substituição dos derivados do petróleo, notadamente no setor de

transportes, é que determinará a demanda. Afinal, são essas as mudanças que farão com que o

pico do petróleo seja harmônico ou caótico.

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SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES ANP Agência Nacional do Petróleo bb Bilhões de barris bbd Bilhões de barris por dia CERA Cambridge Energy Research Associates EIA Energy Information Administration IEA International Energy Association GNL Gás Natural Liqüefeito (LNG = Liquefied Natural Gas) GTL Gas-To-Liquids (Processo de conversão de gases para líquidos) TRR Total de Reservas Recuperáveis (URR = Ultimate Recoverable Resources) mb Milhões de barris mbd Milhões de barris por dia OGJ Oil & Gas Journal OECD Organization for Economic Cooperation and Development = Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC = Organization of Petroleum Exporting Countries) SEC Security and Exchange Comission (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) USGS United States Geological Survey WO Revista World Oil

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ÍNDICE INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8 I. CAPÍTULO I – CARACTERÍSTICAS E PANORAMA DO MERCADO DE PETRÓLEO ............................................................................................................................13

I.1. A origem do petróleo ................................................................................................13 I.2. Capacidade de Produção ...........................................................................................15 I.3. Petróleo convencional e não convencional ...............................................................17 I.4. Análise das reservas de petróleo ...............................................................................18 I.4.1. Distribuição por região .........................................................................................18 I.4.2. Evolução das reservas por região:.........................................................................19 I.4.3. Distribuição das Reservas OPEP e Não-OPEP.....................................................19 I.4.4. Empresas supermajors, majors e empresas estatais ..............................................20 I.5. O petróleo vai acabar? ..............................................................................................23 I.6. A escalada dos preços do petróleo a partir de 2002..................................................23 I.7. Fatores que afetam o mercado de petróleo ...............................................................24 I.8. Previsão de demanda segundo o International Energy Outlook 2006 ......................26

II. CAPÍTULO II – VISÃO PESSIMISTA EM RELAÇÃO AO PICO DO PETRÓLEO ............................................................................................................................29

II.1. O Modelo de Hubbert ...............................................................................................30 II.2. Campbell ...................................................................................................................35 II.3. Laherrère ...................................................................................................................40 II.4. Simmons ...................................................................................................................43 II.5. Hirsch........................................................................................................................44

III. CAPÍTULO III – VISÃO OTIMISTA EM RELAÇÃO AO PICO DO PETRÓLEO ............................................................................................................................48

III.1. Qualidade dos Dados e Erro Metodológico: .........................................................49 III.2. Análise Histórica do padrão de consumo de energia ............................................53 III.3. A Teoria Econômica baseada no Modelo de Hotelling ........................................54 III.4. Avanços Tecnológicos ..........................................................................................57 III.5. Ascensão do Gás Natural & Queda na Importância do Petróleo ..........................59 III.6. Dificuldade dos Investimentos & Comportamento Econômico do Upstream......60

CONCLUSÃO.........................................................................................................................65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................68

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES, GRÁFICOS E TABELAS Ilustração 1 – Cadeia de Suprimento da Indústria do Petróleo.................................................10 Ilustração 2 – Perfis de exaustão de Petróleo e Gás (cenário de 2005) ....................................36 Gráfico 1 – Preços nominais do Barril tipo Brent (US$) 2002-2008 .........................................9 Gráfico 2 – Distribuição das Reservas por Região ...................................................................19 Gráfico 3 – Evolução das Rerservas por Região (bilhões de barris) ........................................19 Gráfico 4 – Evolução das Reservas OPEP e não-OPEP (bilhões de barris) .............................20 Gráfico 5 – Consumo Mundial de Petróleo por setor (mbd) ....................................................27 Gráfico 6 – Produção de Petróleo OPEP, não-OPEP e Petróleo não-covencional (mbd) ........28 Gráfico 7 – Curvas de Produção das Estimativas dos Picos de Petróleo..................................29 Gráfico 8 – Curva Natural de Extração.....................................................................................31 Gráfico 9 – Extração em uma Província Petrolífera .................................................................31 Gráfico 10 – Exemplo da Correlação entre o as Descobertas e o Pico de Produção................32 Gráfico 11 – Curva de produção do carvão ..............................................................................33 Gráfico 12 – Curva de produção do petróleo............................................................................33 Gráfico 13 – Energia obtida a partir do carvão e petróleo........................................................33 Gráfico 14 – Curva de Produção Total .....................................................................................34 Gráfico 15 – Estimativa do Pico de Produção de Hubbert .......................................................35 Gráfico 16 – Reservas das Empresas Estatais vs. Empresas Privadas......................................38 Gráfico 17 – Reservas OPEP e não-OPEP ...............................................................................39 Gráfico 18 – Razões R/P históricas e estimadas para Petróleo e Gás.......................................41 Gráfico 19 – Produção onshore dos 48 estados continentais (exclui Alasca e Havaí) .............45 Gráfico 20 – Revisões das Reservas Estimadas para Diferentes períodos no Mar do Norte....52 Gráfico 21 – Tendências na Evolução do uso da Energia 1860-2000).....................................54 Gráfico 22 – Trilha do preço deum recurso finito ....................................................................55 Gráfico 23 – Aumento dos juros...............................................................................................56 Gráfico 24 – Comportamento monopolista...............................................................................56 Gráfico 25 – Curva deOferta de Longo Prazo de um Bem Finito ............................................56 Gráfico 26 – Número de plataformas em atividade x Preço do barril tipo Brent (1980-2007) 62 Gráfico 27 – Preço do Barril (Crude de NY)............................................................................63 Gráfico 28 – Médias das Diárias de Plataformas e Navios de Perfuração................................63 Gráfico 29 – Demanda e Utilização das sondas de perfuração.................................................63 Tabela 1 – Conceito de Reservas, segundo a ANP...................................................................14 Tabela 2 – Conceito de Reservas, segundo o Oil&Gas Journal ...............................................14 Tabela 3 – Relação R/P dos Países com as Maiores Reservas de Petróleo .............................16 Tabela 4 – Empresas Privadas e Estatais Detentoras das Maiores Reservas ............................22 Tabela 5 – Consumo de Energia pro Grupo de Países 2003-2030 (Quatriliões de BTUs).......27 Tabela 6 – Estimativas de Picos de Produção do Petróleo .......................................................29 Tabela 7 – Reservas Provadas de países selecionados da OPEP..............................................39 Tabela 8 – Reservas Provadas segundo as 4 fontes mais utilizadas .........................................53

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INTRODUÇÃO “O transporte é como uma cola que une o mundo — por terra, mar e ar.”

Mohammed Barkindo

Um dos maiores fenômenos econômicos, sociais e culturais que vêm ocorrendo desde

o início do século XX e se intensificando no presente é a globalização. Esse movimento pode

ser compreendido de diversas maneiras, uma vez que se insere num amplo leque de aspectos

do mundo atual. Segue uma descrição apropriada, do vencedor do prêmio Nobel em economia

Joseph Stiglitz:

“Fundamentalmente, é a integração mais estreita dos países e dos povos que resultou da enorme redução dos custos de transportes e de comunicação e a destruição de barreiras artificiais à circulação transfronteiriça de mercadorias, serviços, capitais, conhecimentos e (em menor escala) pessoas” (Stiglitz J. (2004))

O custo cada vez menor dos meios de transporte pode ser resultado dos constantes

avanços em toda cadeia de logística e em seus processos. Podemos também considerar outros

fatores que contribuem para o barateamento do transporte: equipamentos mais eficientes, o

uso de contêineres, guindastes mais modernos, navios maiores, motores mais econômicos,

estoques menores, etc.

Não iremos no entanto analisar fatores de ordem logística nem tampouco o processo

de globalização, mas a presente monografia aborda outro aspecto, talvez o mais significativo

no custo do transporte: o combustível. Esse custo está diretamente relacionado ao preço do

principal recurso utilizado para executá-lo – o petróleo. Nosso objetivo é analisar a

disponibilidade desse bem, considerando os dados disponíveis, os diversos argumentos de

importantes autores e as teorias existentes num ambiente em que ocorre um súbita e acelerada

alta no preço do petróleo.

O gráfico a seguir ilustra a recente escalada dos preços desde 2002. Verifica-se que o

preço do barril de petróleo subiu, de uma média de 20 US$, para preços além dos 80,00 US$,

havendo períodos no final de 2007, em que o barril Brent foi comercializado acima de US$

100,00. Esse fato foi o principal motivador deste trabalho já que trata-se de uma variação de

preço de 200% do bem mais imporatante no setor energético e, definitivamente, um dos bens

mais importantes hoje em dia, além de ser um dos fatores que viabilizou o fenômeno da

globalização.

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Gráfico 1 – Preços nominais do Barril tipo Brent (US$) 2002-2008

Preço do Barril tipo Brent (US$) 2002-2007

$0

$10

$20

$30

$40

$50

$60

$70

$80

$90

$100

janeiro-02

abril-02

julho-02

outubro-02

janeiro-03

abril-03

julho-03

outubro-03

janeiro-04

abril-04

julho-04

outubro-04

janeiro-05

abril-05

julho-05

outubro-05

janeiro-06

abril-06

julho-06

outubro-06

janeiro-07

abril-07

julho-07

outubro-07

janeiro-08

Fonte: EIA (2007)

Historicamente houve diversos períodos de preços voláteis do petróleo. Em 1880,

temeu-se o esgotamento após a queda da produção do estado da Pensilvânia, nos EUA; 30

anos mais tarde, quando o setor de transporte começou a depender dos combustíveis líquidos

acreditava-se na insustentabilidade da produção em acompanhar esse setor; na década de 20,

após as grandes descobertas no Texas, os preços caíram rapidamente.

Na década de 70, o maior choque do petróleo reabriu a questão da sustentabilidade da

produção e dos preços. Naquela época, entretanto, o petróleo já era a principal “commodity”

mundial, o que mobilizou governos e empresas a investirem em projetos alternativos de

energia, uma vez que havia a preocupação de que os preços não voltariam a cair em função do

esgotamento dos recursos de petróleo. No Brasil, por exemplo, foram realizados grandes

investimentos por parte do governo e iniciou-se a produção de um combustível a partir da

cana-de-açúcar – o etanol. Já o contra-choque do petróleo em 1986, gerou a necessidade de

subsídios para manter a sustentabilidade desses projetos e afastou o temor da escassez.

A escalada do preço do petróleo a partir de 2002, após um longo período de preços

baixos desde 1986, fez com que as atenções se voltassem uma vez mais para os estudos sobre

a perspectiva de um esgotamento das reservas. Muitos autores associam a recente elevação

dos preços com a perspectiva de esgotamento iminente das reservas petrolíferas. Por outro

lado, outros analistas apontam outras causas para dinâmica recente dos preços, apresentando

uma visão mais otimista. Neste trabalho apresentamos e analisamos as duas visões sobre a

matéria e apresentamos uma tentativa de análise crítica.

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Estrutura industrial

Do poço até o consumidor, o petróleo e seus derivados percorrem uma longa trajetória.

A gasolina que move o automóvel, por exemplo, requereu a descoberta e identificação de

reservatórios comerciais de petróleo; o produto desses reservatórios necessita ser extraído e

transportado até uma refinaria para ser transformado em gasolina - apenas um dos múltiplos

derivados resultantes do processo - para então ser transportada, distribuída e disponibilizada,

em um determinado posto, ao consumidor final. Para garantir ininterruptamente o “singelo”

evento de encher o tanque é necessário um sistema industrial estruturado por diferentes

segmentos de atividades em cadeia, a saber:

1. Exploração - que inclui a prospecção geofísica e testes de existência para a identificação

das jazidas;

2. Produção e armazenamento;

3. Rede de transporte desde as áreas de produção até as áreas de refino;

4. Refino;

5. Distribuição para as áreas dos mercados de consumo dos produtos derivados do refino e

6. Comercialização.

Por convenção, denomina-se upstream as atividades dos itens 1 e 2 e downstream as

atividades a partir do refino (itens 3, 4, 5 e 6). A Ilustração 1 representa a cadeia de

suprimento da indústria do petróleo, sendo que à esquerda está o upstream e à direita o

downstream.

Ilustração 1 – Cadeia de Suprimento da Indústria do Petróleo

Fonte: API (2006)

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Os atributos técnico-econômicos que fundamentam a economia do petróleo levaram a

maioria das indústrias a integrarem verticalmente essas atividades de forma a distribuir os

riscos e os custos entre os vários segmentos da cadeia industrial e obter um risco e custo

médios que compensem os diferenciais de custo e aumentem os ganhos ao longo dos

segmentos da indústria. Atualmente observa-se que o upstream, por um lado, possui um risco

muito grande em decorrência de projetos de exploração fracassados devido à ausência de

petróleo. Por outro lado, o lucro nessa atividade é muito maior do que no downstream, que

possui menor risco e margem de lucro reduzida. Observa Alveal em “Fundamentos de

Economia do Petróleo”:

“O sentido racional da integração, porém, obedece basicamente à natureza esgotável do petróleo e à incerteza característica da atividade de exploração e produção. Esta atividade concentra cerca de 70 % dos dispêndios de capital da indústria, dá origem a toda a sua cadeia de valor, e, sobretudo, centraliza as suas possibilidades de geração e apropriação da renda.”(Alveal, C. (2003), p. 4)

A princípio o petróleo em si não tem utilidade prática. Importantes são seus derivados

e subprodutos. No setor de transportes, por exemplo, necessita-se da gasolina, do diesel ou do

querosene (e não do petróleo). Ainda assim, mesmo que cada derivado tenha seu próprio

mercado e preço, todos dependem diretamente dos preços do petróleo e é ele o principal

indicador para os projetos de investimento.

O petróleo é classificado de acordo com características físicas como: peso relativo,

viscosidade e quantidade de enxofre e também quanto a sua origem geográfica. O tipo Brent,

por exemplo, é uma combinação de 15 diferentes variedades encontradas na bacia do Mar do

Norte; já o WTI (West Texas Intermediate) é uma cesta dos principais tipos de petróleo

obtidos nos EUA; a OPEP usa como padrão uma mistura de óleos extraídos dos seus países

produtores chamado Cesta de Referência OPEP (OPEC Reference Basket). O tipo Brent, que

é o padrão comercializado na bolsa de Londres, é o petróleo mais negociado, embora em

termos de volume negociado esteja perdendo espaço para o WTI. Além disso, por ser este o

tipo mais estudado e possuir a maior quantidade de dados, o consideraremos como padrão

nesta monografia.

No primeiro capítulo descrevemos a origem do petróleo, a classificação das reservas, a

participação de cada país na produção além de uma análise da evolução e situação atual das

reservas. Distinguimos, também, os tipos de petróleo em convencional e não convencional.

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No segundo capítulo analisamos a dinâmica do mercado de petróleo, a influência da

OPEP e os fatores envolvidos na precificação da commodity, bem como a previsão da

demanda futura.

No capítulo III apresentamos o modelo de Hubbert que serve de base à maioria dos

argumentos dos autores “pessimistas” ou seja, aqueles que acreditam na necessidade de

intervenção imediata e prevêem conseqüências catastróficas decorrentes do pico do petróleo.

No capítulo IV apresentamos os argumentos dos autores “otimistas“, segundo os

quais, o fato de o pico do petróleo estar a décadas de distância não trará mudanças sociais e

econômicas abruptas, podendo, inclusive, ser contornado suavemente.

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I. CAPÍTULO I – CARACTERÍSTICAS E PANORAMA DO MERCADO DE PETRÓLEO

Na medida em que vem se tornando um bem cada vez mais necessário, a busca por

petróleo aumentou, assim como a necessidade de se conhecer a quantidade existente bem

como a capacidade de produção (oferta de curto prazo).

I.1. A origem do petróleo

O petróleo é um composto orgânico de origem incerta. Sua estrutura é basicamente

formada a partir de hidrocarbonetos. É encontrado no subsolo, em bacias sedimentares, e está

associado a outras matérias como rochas e gases. Conseqüentemente nem todo petróleo

existente pode ser extraído. Para determinar a disponibilidade ou os limites de disponibilidade

desse bem, são utilizados conceitos de recursos e reservas além da capacidade de produção

disponível sustentável. A seqüência é indicativa da gradual certeza dos limites quantitativos

disponíveis para sua produção como resultado do investimento realizado na fase de

exploração e produção (upstream). Recursos e reservas são conceitos que identificam os

limites de produção de petróleo cujos níveis e variações influenciam a dinâmica e as relações

entre custos e preços no longo prazo.

O conceito de recursos define a disponibilidade do óleo passível de extração em

condições economicamente não comerciais e presumíveis num futuro indefinido. Pode-se

dizer que os recursos são a quantidade máxima de petróleo que pode ser produzida. Veremos

adiante que esse termo é de grande importância para o debate que segue entre os autores

pessimistas, que consideram os recursos fixos, e os otimistas, que acreditam na variação da

quantidade de recursos de petróleo.

Já o conceito de reservas designa o potencial de óleo passível de ser economicamente

extraído com a tecnologia disponível; Existem três definições, convencionalmente aceitas

como “certeza” , na medição dos limites de quantidade: 1) reservas provadas – identificadas

com elevado grau de certeza em dimensão, localização e qualidade;2) reservas prováveis –

cuja avaliação é de certeza menor; e 3) reservas possíveis (baixa certeza) – estimativas de

volume de óleo a partir de um estágio incipiente de prospecção (inexistência de perfuração).

De acordo com o Glossário da ANP, as reservas são classificadas como segue:

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Tabela 1 – Conceito de Reservas, segundo a ANP

Reservas Recursos descobertos de gás natural e petróleo comercialmente

recuperáveis a partir de uma determinada data

Reservas Desenvolvidas

Reservas de petróleo e gás natural que podem ser recuperadas através de poços existentes e quando todos os equipamentos necessários à produção

já se encontram instalados

Reservas Provadas

Reservas de petróleo e gás natural que, com base na análise de dados geológicos e de engenharia, se estima recuperar comercialmente de

reservatórios descobertos e avaliados, com elevado grau de certeza, e cuja estimativa considere as condições econômicas vigentes, os métodos operacionais usualmente viáveis e os regulamentos instituídos pelas

legislações petrolífera e tributária brasileiras

Reservas Prováveis

Reservas de petróleo e gás natural cuja análise dos dados geológicos e de engenharia indica uma maior incerteza na sua recuperação quando

comparada com a estimativa de reservas provadas

Reservas Totais

Reservas Possíveis

Reservas de petróleo e gás natural cuja análise dos dados geológicos e de engenharia indica uma maior incerteza na sua recuperação quando

comparada com a estimativa de reservas prováveis.

Fonte: Glossário da ANP (2007)

Total de Recursos Recuperáveis – TRR

Do inglês, Ultimate Recovery Rate (URR) – essa é a taxa que representa “quanto”

petróleo poderá ser produzido. Trata-se de uma estimativa subjetiva baseada, somente, nas

informações disponíveis. Alguns autores consideram o TRR , por se basear em dados físicos e

geológicos, como fixo; outros afirmam que a estimativa cresce em decorrência do aumento

do conhecimento, dos avanços tecnológicos e das mudanças na economia. Economistas

freqüentemente negam a validade do TRR uma vez que acreditam que a extração dos recursos

depende de mudanças econômicas imprevisíveis, além da evolução tecnológica.

Se considerarmos a metodologia do Oil&Gas Journal, que também é utilizado pelo

Statistical Review of World Energy 2006 da BP, a distinção é a que segue:

Tabela 2 – Conceito de Reservas, segundo o Oil&Gas Journal

Produção Cumulativa

Estimativa do total de petróleo produzido até uma determinada data

Reservas Provadas Probabilidade superior a 90%

Reservas Prováveis Probabilidade de pelo menos 50%

Reservas Descobertas

Estimativa da produção futura de campos conhecidos e

definidas através de distribuição probabilística

Reservas Possíveis

Probabilidade inferior a 50% (P10 ou P20)

TRR (Total de Recursos Recuperáveis

)= URR (Ultimate Recovery Rate)

Recursos não Descobertos

Estimativa da quantidade de reservas que não foram identificadas

Fonte: BP Statistical Review of World Energy (2006)

O TRR é dividido em três grupos: produção cumulativa, reservas descobertas e

recursos não descobertos. A produção cumulativa é a estimativa do total de petróleo

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produzido até uma determinada data, o que o caracteriza esse dado como sendo o único bem

próximo à realidade. As reservas descobertas são uma estimativa da produção futura de

campos conhecidos e são definidas através da distribuição probabilística. Classificam-se em

reservas provadas, prováveis e possíveis, em ordem decrescente de probabilidade.

Comumente a probabilidade associada a esses tipos de reserva é de 90%, 50% e 20%,

respectivamente.

Taxa de recuperação das reservas (recovery rate ou recovery factor)

É impossível produzir todo o petróleo de um reservatório. Daí, apenas uma fração do

petróleo existente ser considerada como “reserva”. A relação entre a quantidade de reservas e

a potencial quantidade petróleo que pode ser produzida é chamada de “taxa de recuperação.”

Esta sempre cresce cronologicamente de acordo com o histórico das operações e em resposta

às mudanças tecnológicas/ econômicas. A taxa só diminuirá se sugir algum problema técnico

no reservatório o que é considerado como um caso isolado. Segundo a IEA (2005), a taxa de

recuperação situava-se em em média torno de 20% em 1970 sendo que hoje varia de 35 e

50%. Este aumento é um dos principais fatores utilizados para revisões da TRR.

Os avanços tecnológicos foram os responsáveis pelo aumento da taxa de recuperação

das reservas. Essas tecnologias são divididas em três categorias:

• Recuperação Primária: utiliza a própria energia do reservatório para produção.

• Recuperação Secundária: através da injeção de água ou gás cria-se pressão no

reservatório, possibilitando a continuidade e mesmo um aumento na produção.

• Recuperação Terciária: é o estágio mais complexo e avançado de produção onde se

utilizam processos térmicos, além de solventes ou produtos químicos para diminuir a

viscosidade do petróleo e extrair o óleo mais “difícil”.

Os avanços tecnológicos para as recuperações secundária e terciária possibilitaram o

aumento na taxa total das reservas. Em geral, a quantidade das reservas prováveis e possíveis

passa a constituir as “reservas provadas”. Daí, o chamado “crescimento da reserva”. Assim

como as reservas, os recursos empregados são, também, definidos por uma probabilidade,

que, por sua vez, baseia-se em fatores geológicos, econômicos e tecnológicos.

I.2. Capacidade de Produção

A dinâmica do mercado petrolífero de curto e médio prazos é condicionada por um

limite de disponibilidade mais restritivo, denominado capacidade de produção disponível

sustentável para um dado período de tempo, sem comprometer a quantidade de jazidas de óleo

a ser extraído. Este limite, também conhecido como reprodução econômica das reservas, é

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medido por uma razão, convencionalmente designada “R/P”. Esta operação relaciona o fluxo

de produção (b/d = barris por dia; b/a = barris por ano), num determinado período de tempo t,

à disponibilidade de reservas necessárias para manter a produção desse fluxo em um período

futuro tn.

A relação R/P é o principal dado da dinâmica da indústria mundial do petróleo nos

curto e médio prazos. O objetivo dessa relação é estabelecer a duração, por país, da produção

atual, considerando as reservas fixas. Os países do Oriente Médio possuem o maior fator R/P.

Segundo esses cálculos, a Arábia Saudita (maior produtor mundial), se mantiver os atuais

níveis, produzirá por mais 65 anos. Também os grandes produtores como Iraque e Kuwait,

mantidos os níveis atuais de produção e o montante de reservas, produzirão por mais 100

anos.

Tabela 3 – Relação R/P dos Países com as Maiores Reservas de Petróleo

País Reservas* % do total R/P

EUA 29.3 2.4% 11.8 México 13.7 1.1% 10.0 Total América do Norte 59.5 5.0% 11.9 Brasil 11.8 1.0% 18.8 Venezuela 79.7 6.6% 72.6 Total América Latina 103.5 8.6% 40.7 Cazaquistão 39.6 3.3% 79.6 Noruega 9.7 0.8% 8.9 Rússia 74.4 6.2% 21.4 Reino Unido 4.0 0.3% 6.1 Total Europa e Eurásia 140.5 11.7% 22.0 Irã 137.5 11.5% 93.0 Iraque 115.0 9.6% > 100 Kuwait 101.5 8.5% > 100 Arábia Saudita 264.2 22.0% 65.6 Emirados Árabes 97.8 8.1% 97.4 Total Oriente Médio 742.7 61.9% 81.0 Argélia 12.2 1.0% 16.6 Nigéria 35.9 3.0% 38.1 Total África 114.3 9.5% 31.8 Austrália 4.0 0.3% 20.0 China 16.0 1.3% 12.1 Índia 5.9 0.5% 20.7 Total Ásia Pacífica 40.2 3.4% 13.8 Total 1200.7 100.0% 40.6 não-OPEP 298.3 24.8% 21.0 OPEP 902.4 75.2% 73.1 *: bilhões de barris

Fonte: BP Statistical Review of World Energy 2006, com dados das revistas Oil&Gas Journal,

e World Oil, do Secretariado da OPEP, entre outros.

A capacidade de produção disponível sustentável depende da descoberta de novas

reservas, do volume de investimento em exploração de novas áreas e da infra-estrutura

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necessária para a extração. Essas variáveis são os indicadores de custos das novas descobertas

e da extração do petróleo. Para calcular renda (ou receita) da atividade de E/P precisam ser

analisados e comparados, com os preços de curto e longo prazo.

Os dados disponíveis de recursos, reservas e capacidades de produção apresentam uma

conduta “migratória” e sempre poluem as interpretações do já ocorrido e do que ocorrerá na

indústria.. A característica “migratória” deve ser entendida como um movimento

intertemporal, onde, em dado momento, não se conhece, com exatidão, a existência ou não de

um recurso ou reserva, ou, ainda, que não há intenção de divulgar a informação por motivos

que veremos adiante. A rigor, os dados designam um “estoque nunca exato” pois sua

definição é função de um complexo de variáveis. Clô, A. (2000) e Adelman et al. (1983)

definiram essas variáveis como:

• o desenvolvimento tecnológico na exploração prospectiva e a ocorrência de novas

descobertas;

• a evolução do preço do petróleo;

• a evolução da demanda de petróleo e

• a evolução da taxa de juros.

Todas interagem para estimular ou desestimular as decisões de investimento na

incessante atividade de procura e identificação de novas descobertas.

I.3. Petróleo convencional e não convencional

Apesar de não existir uma definição padrão do que seja “petróleo convencional” e

“petróleo não convencional”, considera-se ser petróleo convencional aquele que foi produzido

em maior quantidade até hoje, por ser uma produção viável nas atuais condições econômicas e

tecnológicas.

O petróleo não convencional é obtido de vários modos com utilização de diversas

formas de energia, algumas menos e outras mais intensivas. O petróleo extraído das areias

betuminosas (tar sands) no Canadá é um exemplo. Os tipos de petróleo não convencionais

mais conhecidos, segundo Campbell, C. (1998) são:

• Petróleo extraído em condições climáticas desfavoráveis (ex: Região Polar);

• Petróleo extraído de grandes profundidades offshore (ex: Brasil, Nigéria);

• Petróleo pesado e extra pesado (ex: determinadas regiões da Venezuela);

• Petróleo em poços tão pequenos que não se tornam economicamente viáveis;

• Petróleo produzido a partir de injeção de outra substância (ex: gás, água);

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• Petróleo produzido a partir do xisto betuminoso encontrado em rochas (oil shale),

amplamente encontrado no estado americano do Colorado e

• Petróleo produzido a partir de areias betuminosas (ex: tar sands no Canadá).

Segundo essa definição verificamos que, para Campbell, o petróleo produzido offshore

no Brasil é considerado “não convencional”, por ser sua produção mais cara do que a do

petróleo do Oriente Médio, com custo menor que 5,00 US$ por barril. É difícil saber o custo

em diferentes regiões em razão da escassez de dados disponíveis nos países cujo petróleo é

propriedade/monopólio das empresas estatais. Como veremos mais adiante, o conceito de

petróleo convencional e não-convencional é um conceito dinãmico, sendo principalmente

função da tecnologia, dos custos de produção e do preço do petróleo.

Uma definição de origem mais econômica seria a de que, em geral, o petróleo não-

convencional é aquele produzido com um volume de recursos conhecidos mas cujo custo de

produção é muito alto. A medida que a tecnologia evolui, tornando-o competitivo, ele deixa

de ser não convencional e passa a ser convencional. Atualmente parte das reservas nas areias

betuminosas no Canadá já foi incorporadas às reservas como petróleo convencional, assim

como as reservas offshore do Brasil, Mar do Norte, Golfo do México e Nigéria.

I.4. Análise das reservas de petróleo

O aumento na demanda por petróleo tem levado empresas e governos, com a

utilização de novas tecnologias, a investir maciçamente na busca e ampliação das reservas,

tanto na descoberta de novas como na manutenção das já existentes.

I.4.1. Distribuição por região

Conforme o Gráfico 2, observa-se que mais da metade das reservas mundiais situam-

se em uma pequena área geográfica, no Oriente Médio,. O mesmo ocorre em outras áreas,

embora em proporções bem menores. No Brasil, a maior parte das reservas conhecidas está

nas bacias de Campos e Santos. Nos EUA, as maiores bacias estavam no Texas embora,

atualmente, a maior produção ser a dos reservatórios offshore do Golfo do México. Conclui-

se que os reservatórios tendem a estar aglomerados geograficamente.

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Gráfico 2 – Distribuição das Reservas por Região

5%9%

12%

61%

10%3%

América doNorte

América Latina

Europa &Eurásia

Oriente Médio

África

Ásia e Oceania

Fonte: BP Statistical Review of World Energy 2006

I.4.2. Evolução das reservas por região:

O Gráfico 3 mostra a evolução das reservas mundiais de petróleo por região, exceto o

Oriente Médio. Contrariando previsões anteriores de escassez, observa-se que, desde 1980,

vem ocorrendo um crescimento global das reservas da ordem de 21% no período de 1980 a

2005. Só o Oriente Médio, saltou de reservas de 360 bilhões de barris para 740 bilhões de

barris. Podemos observar que no mesmo período, na América do Norte, que inclui os EUA,

México e Canadá, houve um declínio de 36%, sendo esta a única região que teve um

encolhimento das reservas.

Gráfico 3 – Evolução das Rerservas por Região (bilhões de barris)

1980

1990

2000

2005

Oceania e Ásia

América do N

orte

América Latina

África

Europa e Eurásia

0.00

20.00

40.00

60.00

80.00

100.00

120.00

140.00

160.00

Fonte: BP Statistical Review of World Energy 2006

I.4.3. Distribuição das Reservas OPEP e Não-OPEP

O Gráfico 4 mostra as reservas mundiais de petróleo existentes nos países membros e

são membros da “Organização dos Países Exportadores de Petróleo” (em inglês OPEC –

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Organization of the Petroleum Exporting Countries OPEP). Esta organização, foi fundada em

1960 no Iraque, e tem como membros os países do Oriente Médio, Argélia, Indonésia e a

Venezuela, entre outros. A OPEP procura associar a exportação do petróleo e o lucro obtido

a políticas de desenvolvimento socioeconômico em seus países.

Gráfico 4 – Evolução das Reservas OPEP e não-OPEP (bilhões de barris)

1980

1990

2000

2005

Não-OPEP OPEP

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Não-OPEP

OPEP

Fonte: BP Statistical Review of World Energy 2006

Os países membros da OPEP estão tradicionalmente comprometidos com o upstream

da indústria mundial, deixando o downstream sob responsabilidade das empresas

internacionais. Ultimamente porém, a OPEP tem investido também no downstream. Os países

membros da OPEP, tomaram iniciativas para investir em projetos de downstream o que têm

ocorrido a partir de iniciativas isoladas ou em conjunto com parceiros. Atualmente, uma

capacidade de refino de 600.000 barris por dia está sendo construída, com plano de expansão

adicional de 1.900.000 barris por dia. Entretanto, segundo a OPEP, isso não muda o fato de

que o investimento em downstream é responsabilidade primária das empresas internacionais

de petróleo e dos países consumidores.

I.4.4. Empresas supermajors, majors e empresas estatais

O movimento de fusões e aquisições (F&A) da década passada no setor petrolífero

internacional acarretou na formação de empresas consideradas gigantes no setor (chamadas

supermajors), como a ExxonMobil, ChevronTexaco, Total, e BP. Há que se considerar

também operações de F&A entre empresas privadas de porte médio, como a ConocoPhillips.

Devido a essas transações, as companhias privadas vêm, nas atividades de upstream, elevando

suas escalas de produção em comparação com as estatais. Essas mesmas companhias estão

também, ampliando as vantagens no segmento de downstream.

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O movimento de F&A que ocorreu principalmente na década de 90 possibilitou as

empresas compradoras adquirir as reservas das empresas compradas, viabilizando um

aumento de suas reservas sem em nenhum momento ter investido na atividade de exploração.

O que ocorria de fato, dados os preços muito baixos do petróleo, é que as empresas grandes

decidiram que era muito mais fácil investir as quantias destinadas à exploração na aquisição

de novas empresas, aumentando indiretamente suas reservas. Tal fato também resultou em

subinvestimento na exploração de petróleo na década passada.

Após solidificadas as F&A, as empresas incrementaram suas posições no ranking das

maiores empresas do setor, como demonstra o The Economist(2005) com dados do Petroleum

Intelligence Weekly publicado em dezembro de 2002. As referidas supermajors, resultantes de

F&A, estão, juntamente com a Shell, entre as 10 maiores empresas de petróleo do mundo.

Tabela 5 – As 10 Maiores Empresas de Petróleo em 2005

Posição em 2005

Posição em 2004

Nome da empresa

País de origem

1 1 Saudi Aramco Arábia Saudita

2 2 ExxonMobil EUA

3 4 NIOC Irã

4 3 PDV Venezuela 5 5 BP Grã Bretanha

6 6 Shell Grã Bretanha/ Países Baixos

7 9 PetroChina China

8 8 ChevronTexaco EUA

8 7 Total França

10 9 Pemex México Fonte: The Economist (2006)

Todavia, esse movimento de F&A e a conseqüente formação das supermajors

privadas, não reduziu a competição no setor a nível global. Pelo contrário; o que se observou

a partir dos anos 90 foi maior concorrência no setor. Isto se explica pelo surgimento de novas

companhias originadas de processos de privatização em alguns países da Europa, como na

Itália (ENI) e na Noruega (Statoil e Hydro) e, também, pelo atuação mais agressiva das

empresas estatais em outros países.

Apesar do variado nível tecnológico e gerencial, mas principalmente pelo fato de

serem influenciadas por fatores não econômicos, as estatais formam o segundo tipo de

organizaçöes detentoras de reservas. A tabela abaixo lista as 20 maiores empresas de petróleo

em relação às reservas.

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Tabela 4 – Empresas Privadas e Estatais Detentoras das Maiores Reservas

Empresa País Reservas(bb) % estatal Saudi Aramco Arábia Saudita 259,800 100 NIOC Irã 132,740 100 INOC Iraque 118,000 100 KPC Kuwait 99,000 100 PDVSA Venezuela 77,000 100 Adnoc Emirados Árabes 55,200 100 LibyaNOC Líbia 22,700 100 NNPC Nigéria 21,200 100 Pemex México 18,786 100 Lukoil Rússia 16,000 8 Gazprom Rússia 28,616 73 Exxon Mobil EUA 73,000 - Yukos * Rússia 11,800 - PetroChina China 18,300 90 Petrobras Brasil 12,300 32 Qatar Petroleum Quatar 11,000 100 Total França 11,000 - Sonatrach Argélia 10,500 100 BP Reino Unido 10,300 - Chevron EUA 5,626 - *: atualmente controlada pelo governo russo

Fonte: PDVSA, ExxonMobil, Petrobras, Total, BP e Chevron: dados obtidos nos websites das empresas em 2007. Para as outras empresas, dados obtidos na Petroleum Economist, de 2004.

Observa-se a que a maior parte das reservas situa-se no poder das empresas estatais. O

aumento recente nos preços do petróleo permite a associação de aumento do poder de

mercado, principalmente das estatais.

Em relação ao futuro do petróleo, o nível de preços é conseqüência de dois fatores:

• Grande parte das reservas encontram-se nos países membros da OPEP, sendo que

cerca de 70% estão situadas no Oriente Médio. O crescimento da demanda

aumentará a dependência mundial da produção e exportação desses países.

• Os investimentos em aumentos de produção dependem muito dos planos e do

potencial das empresas estatais, notadamente nos países da OPEP. Como vimos

acima, somente uma pequena parte das reservas atuais pode ser explorada por

empresas privadas.

Considerando esses fatores, podemos prever que os preços do petróleo serão

fortemente influenciados pela geopolítica praticada no Oriente Médio e pela capacidade de

financiamento para o aumento da produção dos países membros da OPEP.

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I.5. O petróleo vai acabar?

"Meu pai andava de camelo. Eu dirijo um carro. Meu filho voa em um jato. Seu filho andará de camelo." Provérbio Saudita

O que motivou o presente trabalho foi a recente disparada dos preços do petróleo e a

conseqüente influência na dinâmica da indústria e do mercado de petróleo e, ainda, a tentativa

de obter uma definição de quanto petróleo está ou poderá vir a se tornar disponível. Após

análise das opiniões de diversos autores que estudaram o assunto, há diversas indagações: O

petróleo vai acabar? Quando? Quais as conseqüências da escassez? Quais as opções

alternativas?

Essas são as principais indagações. É fato que existe uma quantidade finita de petróleo

no planeta. A questão mais importante é saber o QUANTO e tentar estabelecer o prazo de

duração das reservas.

Nos anos 70, acreditava-se que as quantidades de petróleo estavam se deteriorando e

que era necessário, a curto prazo, desenvolver outro tipo de combustível para substituí-lo.

Hoje, passados mais de 30 anos, pouco mudou nesse sentido, havendo, inclusive uma

crescente dependência do produto.

I.6. A escalada dos preços do petróleo a partir de 2002

Fatores cíclicos e de curto prazo não previstos convergiram de tal maneira que o

crescimento da demanda vem pressionando os preços. Contribuem para essa alta o

crescimento acelerado do PIB e o conseqüente aumento na demanda do produto. Outros

fatores são a depreciação do dólar, os preços da gasolina, as mudanças estruturais na indústria

do petróleo, as políticas da OPEP, a restrição na capacidade de produção e o estoque

existente, persistentemente baixo.

Expectativas sobre as condições futuras do mercado como o terrorismo, guerras e

incertezas políticas, tal como a relação do governo russo com sua a maior petrolífera, a

Yukos, foram rapidamente incorporadas ao preço do barril. Riscos políticos e financeiros, que

ocorrem em países com governos instáveis e economias frágeis também exerceram forte

influência na dinâmica do mercado de petróleo. Para exemplificar tais riscos, só em 2007

tivemos alguns exemplos de naturezas diversas que afetaram o preço do barril.

• Greve de trabalhadores e consequente interrupção da produção na Nigéria, além de

ameaça aos trabalhadores extrangeiros;

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• Corte de abastecimento do gás vindo da Rússia, afetando a oferta na Europa;

• Decalrações do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, ameaçando as exportações

para os EUA.

Compras e vendas do ativo por especuladores também afetam o preço uma vez que

operadores financeiros ajustam o portfólio de seus investimentos levando em consideração,

também, as expectativas das condições de mercado futuro.

Motivos de ordem climática, como ocorrido durante o furação Katrina, onde a as

operações e produção do Golfo do México foram parcialmente interrompidas, além de

pressões e exigências ambientais, principalmente com o crescente debate sobre aquecimento

global, também influenciam o nível de preços.

I.7. Fatores que afetam o mercado de petróleo

Atualmente o petróleo é o combustível mais importante do setor energético; a relação

entre crescimento econômico e aumento no uso de energia é direta, variando apenas a

elasticidade-demanda da energia, isto é, o quanto de energia adicional é necessário para o PIB

crescer, digamos 1%. Essa relação dependerá, entre outros fatores, principalmente da estrutura

industrial dos países, dos hábitos da população e da disponibilidade e tipos das fontes de

energia.

Além da absoluta importância no mercado de energia, o petróleo tem peculiaridades

que as outras commodities não apresentam. Poucos mercados de commodity possuem, por

exemplo, uma instituição como a OPEP. Desde sua criação em 1960, a OPEP influencia o

preço de forma variada através do sistema de cotas de seus países membros.

O petróleo está também sujeito a cortes no abastecimento em função da instabilidade

política em alguns países e é sensível a fatores tecnológicos característicos de sua cadeia de

produção. Ainda, as transações mundiais de petróleo são fixadas em dólares americanos

(US$) o que afeta o valor dessa moeda nos mercados de câmbio, além de implicar em

mudanças no valor monetário das reservas, e portanto na capacidade de financiamento, dos

países importadores e exportadores.

A previsão da demanda mundial de energia e de petróleo é fortemente dependente do

crescimento econômico mundial. Na última década ocorreu um crescimento econômico

espetacular na Ásia continental, onde países tiveram taxas de crescimento do PIB de quase

10%. Como esses países estão em fase de transição de uma economia rural para economias

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industriais, estruturalmente bem mais dependentes de energia, observa-se e ainda prevê-se

grande aumento na demanda. De acordo com o relatório da OPEP, o maior aumento na

demanda futura de energia ocorrerá nos países em desenvolvimento (OPEP, 2006b). Com

uma população combinada de aproximadamente 2,5 bilhões, Índia e China recentemente

testemunharam aumentos significativos de demanda. No futuro, a demanda deverá aumentar

sensivelmente, uma vez que existem atualmente 10-20 veículos para cada 1000 habitantes na

Chna enquanto que a média, nos países da OECD é de 500 veículos por 1.000 habitantes.

Sendo o setor de transporte considerado como a maior fonte de crescimento na demanda por

petróleo, há enorme potencial para o aumento do consumo do petróleo nesses países.

Nos EUA o crescimento econômico está ligado a níveis mais altos de consumo no

qual a demanda por gasolina é o componente principal. Tanto na China como nos EUA, o

crescimento do PIB e o aquecimento da atividade econômica em geral, resultaram em

aumentos na demanda por energia.

Existe porém, uma relação de feedback para diminuir esse efeito, que pode ser

definido de duas maneiras; na primeira hipótese, se os responsáveis pelas políticas financeiras

considerarem que os custos cada vez maiores com o petróleo irão acarretar uma inflação de

preços, decidirão provavelmente por adotar uma política monetária restritiva. Como

conseqüência, a economia seria freada para conter a inflação. Se os consumidores não podem

ou não querem reduzir o consumo de produtos derivados de petróleo diante da alta dos preços,

eles provavelmente reduzirão gastos com outros bens e serviços, freando a economia pelo

efeito substituição.

A segunda maneira de se observar o feedback é na relação entre as nações. Na Rússia,

por exemplo, o PIB cresceu por um lado graças ao aumento do preço e da quantidade de

petróleo exportada e, por outro, como conseqüência do próprio crescimento da indústria russa

de petróleo, por sua vez, resultante do boom nos preços.

Preços altos levam a investimentos em exploração e desenvolvimento a nível mundial.

Ao encontrar mais petróleo como conseqüência desse tipo de investimento, a oferta maior

reduz o preço, afetando os países exportadores. A mesma lógica se aplica quando

investimentos em combustíveis alternativos surgem como conseqüência dos altos preços do

petróleo. A disponibilidade de um substituto para o petróleo reduz seu preço.

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Segundo o relatório da OPEP, os combustíveis renováveis e de menor emissão

contribuem positivamente para o mix energético dos países, embora sua participação marginal

deverá manter elevada a demanda pelos derivados de petróleo (OPEP, 2006b).

A demanda por petróleo também é afetada pelas políticas públicas dos países

consumidores. Impostos sobre combustíveis e tarifas energéticas, além de gerarem receitas

importantes e volumosas, são políticas para controlar a demanda, influir no meio ambiente

pela redução de emissões e garantir a segurança energética. Tais políticas são consideradas

voláteis e imprevisíveis e contribuem para incerteza de demanda futura. Cargas tributárias

maiores ou mesmo subsídios para outro tipo de combustível desestimulam o consumo de

derivados do petróleo na medida que favorecem o consumo de combustíveis alternativos.

I.8. Previsão de demanda segundo o International Energy Outlook 2006

Ao analisar a previsão de demanda da Energy Information Administration (EIA-2003)

até 2030 notamos que, considerando uma taxa média de crescimento do PIB mundial de 3,8%,

a previsão de crescimento anual da demanda mundial por energia é de 2% até 2030, sendo que

os países em desenvolvimento (não membros da OECD) serão responsáveis por 75% do

crescimento das necessidades energéticas. A partir de 2015 esses países serão os maiores

consumidores de energia. Em 2030, sua necessidade será 34% maior que a dos membros da

OECD.

Apesar do crescimento significativo na demanda dos países em desenvolvimento, os

países desenvolvidos ainda são os maiores consumidores uma vez que o consumo per capita

nesses países é bem maior. Estima-se que em 2025 esse consumo ainda seja cinco vezes

maior do que o dos países não membros da OECD. Embora a estrutura demográfica seja mais

determinante na necessidade energética do que o crescimento populacional devemos também

considerar o crescimento demográfico mundial, onde cada indivíduo adicional gera uma

necessidade energética, mesmo que tenha nascido em um país subdesenvolvido.

Um fator que contribui para a incerteza de previsão da demanda futura é a relação

crescimento do PIB/crescimento das necessidades energéticas. Historicamente tem se

observado que países em desenvolvimento aumentam muito mais as necessidades energéticas

do que os países desenvolvidos. Estes, para um mesmo crescimento do PIB, necessitam

menos energia. Comumente a expansão no uso de petróleo é alimentada por crescimento

econômico robusto, que resulta em atividade industrial e expansão do setor de transporte.

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Tabela 5 – Consumo de Energia pro Grupo de Países 2003-2030 (Quatriliões de BTUs)

Região 2003 2010 2015 2020 2025 2030 Variação Anual: 2003-2030 (%)

OECD 234.3 268.1 289.9 281.6 294.5 308.8 1 América do Norte 118.3 131.4 139.9 148.4 157 166.2 1.3 Europa 78.9 84.4 87.2 88.7 91.3 94.5 0.7 Ásia 37.1 40.3 42.8 44.4 46.1 48 1 Não-OECD 186.4 263.6 283.5 331.6 371 412.8 3 Europa e Eurásia 48.5 56.5 62.8 68.7 74 79 1.8 Ásia 83.1 126.2 149.4 172.8 197.1 223.6 3.7 Oriente Médio 19.6 25 28.2 31.2 34.3 37.7 2.4 África 13.3 17.7 30.5 22.3 24.3 26.8 2.6 América do Sul e Central 21.9 28.2 32.5 36.5 41.2 45.7 2.8

Total Mundial 420.7 608.7 683.4 613 686.4 721.8 2

Nota: Totais podem não ser somas devido a arredondamentos independentesrevisado até aqui. Fontes: EIA - International Energy Outlook 2006; 2010-2030 System for the Analysis of Global Energy Markets

Estima-se que a demanda por petróleo cresça 47% de 2003 a 2030, de 80 mbd para

113 mbd, respectivamente, sendo que os países em desenvolvimento asiáticos (incluindo a

China e Índia) serão responsáveis por quase metade desse crescimento. Observa-se entretanto,

grande volatilidade nas previsões da própria EIA, uma vez que o relatório de 2005 previa que,

já em 2025, a demanda atingiria 119mbd, principalmente por causa do preço bem menor do

barril de petróleo em 2004.

O maior responsável pelo incremento na demanda por petróleo é o setor de transporte,

seguido pelo industrial e, em quantidades proporcionalmente bem menores, pelos setores

residencial, comercial e elétrico como pode ser observado no gráfico a seguir:

Gráfico 5 – Consumo Mundial de Petróleo por setor (mbd)

0

20

40

60

80

100

120

140

2003 2010 2015 2020 2025 2030

Eletricidade

Transporte

Industrial

Comercial

Residencial

Fontes: EIA - International Energy Annual (2006); 2010-2030 System for the Analysis of Global Energy

Markets

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A produção de petróleo não convencional, por ser mais cara que a do petróleo

convencional, se torna viável toda vez que o preço do barril do petróleo suba a níveis mais

altos. Como pode ser observado no Gráfico 6, a seguir, partindo do princípio de que o preço

do barril continue acima de 60 US$, observa-se que a produção de petróleo não convencional

aumenta gradativamente.

Gráfico 6 – Produção de Petróleo OPEP, não-OPEP e Petróleo não-covencional (mbd)

0

10

20

30

40

50

60

70

1990 2003 2010 2015 2020 2025 2030

OPEP

não-OPEP

Petróelo não-convencional

Fontes: EIA - International Energy Annual (2006); 2010-2030 System for the Analysis of Global Energy

Markets

A oferta de petróleo não-OPEP crescerá gradativamente, de 48,9 mbd em 2003 para

72,6 mbd em 2030, na medida que preços mais altos viabilizarem investimentos em áreas

antes consideradas não econômicas. Como resultado, o market-share da produção de petróleo

não-OPEP em 2030 subirá para 62%, em comparação com os 61% em 2003.

Vale notar que segundo a EIA os recursos disponíveis não sofrerão escassez até 2030,

cabendo às circunstancias políticas, econômicas e ambientais o desenvolvimento da oferta e

demanda de petróleo. Flutuações no preço sempre ocorrerão a curto prazo; mas, segundo o

relatório, a longo prazo, as leis de mercado é que definirão a dinâmica da indústria mundial do

petróleo. Assim, a substituição do petróleo por combustíveis alternativos, como o próprio gás

natural, pode impôr um teto ao preço do petróleo. A preços mais altos, reservas marginais se

tornam economicamente viáveis assim como o petróleo não-convencional é adicionado às

reservas provadas. Avanços tecnológicos na exploração e produção devem contribuir para

evitar maiores aumentos no preço assim que essas reservas adicionais forem incorporadas às

já existentes.

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II. CAPÍTULO II – VISÃO PESSIMISTA EM RELAÇÃO AO PICO DO PETRÓLEO

A partir da recente elevação dos preços do petróleo a imprensa internacional passou a

dar um grande destaque aos autores que prevêem um iminente pico do petróleo. Estes autores

tem realizado previsões a partir do modelo desenvolvido por Hubbert. Tais autores têm como

principal desafio determinar a quantidade disponível de petróleo, para então utilizar-se do

modelo e fazerem suas previsões sobre a ameaça do pico do petróleo.

Na Tabela 6 estão expostas diversas estimativas desses picos; no Gráfico 7 estão

plotadas as curvas de produção estimadas dos referidos picos de produção. A teoria e

metodologia usadas para essas previsões serão, também, analisadas neste capítulo.

Tabela 6 – Estimativas de Picos de Produção do Petróleo Data Estimada Fonte Referência da Fonte e Origem

2006-2007 Bakhitari, A.M.S. Executivo de Petróleo (Irã) 2007-2009 Simmons, M.R. Diretor de banco de investimento (EUA) Após 2007 Srebowski, C. Editor de jornal de petróleo (Reino Unido)

Antes de 2009 Deffeyes, K.S. Geólogo de empresa de petróleo (EUA) Antes de 2010 Goodstein, D. Vice Presidente da CalTech (EUA)

Por volta de 2010 Campbell, C.J. Geólogo de Petróleo (Irlanda) Após 2010 World Energy Council ONG Mundial

2012 Pang Xionogqi Executivo de Petróleo (China) 2010-2020 Laherrère, J. Geólogo de Petróleo (França)

2016 EIA nominal case Análise da DOE (EUA) Após 2020 CERA Consultores de Energia (EUA)

2025 ou após Shell Empresa de Petróleo

Fonte: The Economist (2005)

Gráfico 7 – Curvas de Produção das Estimativas dos Picos de Petróleo

Fonte: TrendLines (2008)

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A diversidade de visões e opiniões esta associada a falta de transparência que

caracteriza o mercado mundial de petroleo, principalmente no que diz respeito às informações

sobre reservas provadas onde as empresas estatais exploram os recursos petrolíferos.

O boletim Infopetro de Janeiro/Fevereiro de 2005 fornece uma explicação para o

alarme relacionado à credibilidade de informações relativas àquelas dos indicadores de

reservas. A questionabilidade desse tipo de informação é um dos principais argumentos

analisados pelos autores pessimistas.

“Ao longo de 2004, as questões empresariais decorrentes de falhas informacionais, no caso da Shell e de problemas fiscais, no caso da Yukos, ampliaram o grau de incerteza no mercado. O “efeito Shell”, que implicou na necessidade de reconhecimento de um menor nível de reservas provadas, acendeu uma luz amarela com relação à credibilidade das informações referentes à relação do indicador reservas/ produção, afetando o valor das ações da empresa. Mesmo admitindo-se que o problema possa ser apenas um episódio singular, é bastante compreensível a reação de desconfiança de muitos operadores, traduzida pela manutenção de prêmios mais elevados para cobrir os riscos informacionais.” (Pinto Jr., H., & Motta,P., 2005, p. 3)

A partir da apresentação do Modelo de Hubbert, este capítulo apresenta as visões de

quatro autores influentes de visão pessimista com relação à proximidade do pico de produção

de petróleo com conseqüências catastróficas.

II.1. O Modelo de Hubbert

Em artigo de 1956, o geólogo Marion King Hubbert afirmou que o petróleo se origina

de alterações químicas sofridas por sedimentos orgânicos ao longo de milhões de anos. Esse

material, inicialmente sólido, transforma-se em uma mistura líquida ou gasosa de

hidrocarbonetos que preenche os interstícios de uma camada rochosa. Esses hidrocarbonetos,

pelo fato de terem densidade inferior ao material orgânico original, estão submetidos a

considerável pressão por parte das rochas que os contêm. Ao se perfurar um poço, a pressão

nos poros da camada rochosa faz com que o petróleo aflore.

A pressão da jazida explica o perfil de extração normalmente encontrado nos poços,

como no Gráfico 8. Após uma rápida expansão até um pico, a extração decresce

gradativamente. À medida que diminui a pressão o fluxo do petróleo fica comprometido em

razão da tensão superficial dos poros.

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Gráfico 8 – Curva Natural de Extração

Fonte: Campbell, C. (1997)

O fenômeno ocorre não só em poços individuais, mas também, de uma forma geral,

nas jazidas de toda uma província petrolífera. A única – e crucial – diferença é que, em face

dos motivos econômicos utilizados para a otimização da produção de diversos poços, a

produção de uma província petrolífera pode ser representada por uma curva normal (Gráfico

9). Quando o poder de mercado da empresa proprietária da jazida for suficiente para controlar

a taxa de extração, pode ocorrer um patamar ao invés de um pico, ainda que não se observem

modificações nos períodos de crescimento e declínio.

Gráfico 9 – Extração em uma Província Petrolífera

Fonte: Campbell, C. e Laherrère, J. (1998)

Baseando-se nos perfis de extração acima expostos, Hubbert previu que a produção de

petróleo dos Estados Unidos atingiria seu pico em torno de 1970, seguindo-se um longo

período de declínio. A previsão revelou-se correta (o pico foi atingido em 1969) e pode ser

considerada como a origem mais sólida dos estudos a respeito da exaustão do petróleo. O

ponto em que a produção atinge o clímax foi denominado “Pico de Hubbert,” em sua

homenagem.

A metodologia utilizada por Hubbert é relativamente simples se considerarmos os seus

conceitos básicos citados abaixo. A premissa inicial é que as jazidas de petróleo são

descobertas, em geral, de forma seqüencial, como descrito a seguir:

� primeiro descobrem-se as jazidas mais acessíveis;

� à medida que evoluem as tecnologias de prospecção e o conhecimento geológico da

província em questão, descobrem-se as jazidas de maior dimensão; e

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� as últimas jazidas a serem descobertas serão as de acesso mais difícil e dimensões

relativamente reduzidas.

Essa seqüência corresponde, aproximadamente, a uma curva normal, cujo ponto médio

seria ocupado pela jazida de maior porte da região. Tal perfil de descobertas não é apenas

hipotético, mas coincide com a produção observada em diversas regiões. Por outro lado, a

curva de produção também é aproximadamente normal desde que os produtores não

interrompam “artificialmente” o aumento da extração (hipótese pouco realista numa

conjuntura de crescimento do consumo).

A evolução da produção numa determinada província permite, portanto, estabelecer

uma estimativa razoavelmente precisa do pico de produção, desde que sejam conhecidos o

total das reservas e a seqüência temporal da produção. O pico da produção pode ser estimado

a partir da seqüência das descobertas. Conforme pode ser observado no exemplo do Gráfico

10, as sequencias de descobertas (barras em roxo) e da produção (linha verde) seguem, em

linhas gerais, o mesmo padrão (curva normal), e é possível estimar o pico a curva de produção

desde que considerada a defasagem de algumas décadas entre as curvas.

Gráfico 10 – Exemplo da Correlação entre o as Descobertas e o Pico de Produção

Fonte: Campbell, C. (1997)

A previsão de Hubbert foi bastante facilitada pela abundância de informações sobre a

produção e descobertas de petróleo nos Estados Unidos e, também, pelo fato de que essa

produção ter seu padrão influenciado, principalmente, por fatores econômicos.

Aprofundando o seu estudo, Hubbert observa que, até o século XIII, a humanidade,

dependia da energia solar para possibilitar a agricultura; utilizava-se da queima da madeira

das árvores; da energia animal que dependia da ração, além das energias eólica e fluvial. As

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grandes transformações nos modelos energético e econômico ocorreram a partir da descoberta

dos combustíveis fósseis e devido ao desenvolvimento de tecnologias que possibilitaram o

armazenamento em grandes quantidades de energia (carvão e petróleo).

Em seu trabalho de 1956 Hubbert compara as descobertas e a produção do carvão

mineral e do petróleo cru no mundo e nos EUA (gráficos 11-13).

Gráfico 11 – Curva de produção do carvão

Fonte: Hubbert, M. (1956)

Gráfico 12 – Curva de produção do petróleo

Fonte: Hubbert, M. (1956)

Gráfico 13 – Energia obtida a partir do carvão e petróleo

Fonte: Hubbert, M. (1956)

Hubbert destaca a semelhança das curvas pois todas iniciam com pequena inclinação

seguida de um aumento. Chamou esse ponto de “ponto de inflexão”, que ocorreria por volta

de 1915 para o carvão (Gráfico 11) e em 1950 para o petróleo (Gráfico 12). O ponto de

inflexão significa a intensificação no uso do recurso.

Para melhor entender esse comportamento são necessárias duas considerações. A

primeira é a de que dois pontos da curva são conhecidos de antemão; o primeiro (t0) sendo

antes do início da produção; o segundo (t∞) sendo o momento de sua exaustão. Isso signigfica

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simplesmente que na produção de qualquer bem finito, sua quantidade começa em zero e

volta ao zero após um período de produção máxima.

A segunda consideração baseia-se no cálculo integral onde, para a representação

gráfica de uma dada função de valor único y=f(x), a área entre a função e o eixo horizontal é

representada pelo intervalo da integral onde a função corta o eixo horizontal, isto é, nos

pontos conhecidos mencionados acima (t0 e t∞) da curva de produção de um bem finito

(Gráfico 14).

Gráfico 14 – Curva de Produção Total

Fonte: Hubbert, M. (1956)

Como dito na introdução, é freqüente a utilização da relação reservas/produção

quando se analisa o futuro da produção de petróleo que é justamente a taxa de produção

(production rate) no eixo vertical do Gráfico 14.

Hubbert previu a quantidade total de recursos em 1250 bilhões de barris, sendo:

90 bb produzidos (cummulative production)

+ 250 bb já descobertos (proven reserves)

+ 910 bb a serem ainda descobertos (future discoveries).

Ao plotar o gráfico de produção de petróleo e considerar fixo o crescimento da taxa de

produção futura, Hubbert estimou que o pico de produção mundial ocorreria em torno do ano

2000 (Gráfico 15).

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Gráfico 15 – Estimativa do Pico de Produção de Hubbert

Fonte: Hubbert, M. (1956)

É possível visualizar o formato de um sino (bell curve) com um pico que foi chamado

de “Pico de Hubbert”. Aqui o artigo é apresentado de forma resumida, mas é a partir dessas

informações que muitos autores, principalmente geólogos, consideram estar o pico da

produção mundial de petróleo próximo ou mesmo já ter ocorrido.

II.2. Campbell

Colin Campbell baseia sua estimativa de produção futura de hidrocarbonetos

utilizando dados sobre reservas, produção e estatísticas de perfuração. Afirma que a

capacidade de oferta já foi excedida no ano 2000 o que acelerou os preços e causou recessão

econômica. Além disso, afirma que “qualquer sinal de recuperação econômica irá promover

novamente demanda maior do que oferta o que resulta em um ciclo vicioso” (Campbell, C.

1997).

Acredita ainda que a produção de petróleo tomará o formato da curva em forma de

sino plotada por Hubbert e que, após o ápice (pico), os preços do petróleo dispararão

resultando em uma crise global. Fundamenta sua afirmativa com base no comportamento das

forças de mercado (demanda e preços altos) que não podem contrariar um fato geológico nem

as limitações da engenharia.

Hoje cada nova descoberta é adicionada ao total de reservas. Campbell, entretanto,

salienta a importância de se pré-datar (backdate) as revisões sobre as descobertas dos

reservatórios. A ausência do backdate cria a ilusão de que as reservas estão aumentando o que

poderia justificar o comportamento, para o petróleo, da teoria clássica da demanda e oferta.

Quanto ao argumento de que a tecnologia evoluirá enquanto houver suficiente oferta,

afirma: “Podemos achar uma agulha num palheiro, mas ainda assim trata-se de uma agulha”

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(Campbell, C., 2002). Ou seja, a tecnologia possibilita a descoberta de novos campos que, por

serem pequenos, pouco contribuem para um aumento significativo das reservas.

Uma das maiores contribuições para chamar a atenção do pico do petróleo foi uma

estimativa técnica detalhada de produção de hidrocarbonetos que utilizou-se de dados

referentes à produção potencial futura, individual, dos países. Os resultados são somados para

refletir um cenário global. Além dos dados publicamente disponíveis, Campbell também

utilizou informações do banco de dados da IHS Energy. O resultado, amplamente usado e

divulgado em publicações e newsletters da Associação do Estudo do Pico do Petróleo (em

inglês Association for the Study of Peak Oil - ASPO) está representado na Ilustração 2.

Conclui-se que o pico de petróleo ocorrerá por volta de 2010, embora a ASPO afirme que

“com razoável confiança ocorrerá um pico de produção a qualquer momento entre hoje e

2015”(ASPO Austrália, 2005). Para entender o argumento de Campbell, olhando para as

curvas da ilustração e abstraindo a produção de gás natural, basta visualizar a grande área que

representa a produção de petróleo convencional (verde) constrastando com a participação

marginal e diminuta do petróleo não convencional: petróleo pesado (marrom), petróleo de

águas profundas (azul) e petróleo de regiões polares (branco).

Ilustração 2 – Perfis de exaustão de Petróleo e Gás (cenário de 2005)

Fonte: ASPO (2004)

Dificuldade de mensuração das reservas As informações sobre a produção e reservas mundiais são bastante divergentes e, com

freqüência, pouco confiáveis. A produção de petróleo na região com a maior reserva – o

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Golfo Pérsico – sofre forte influência de fatores geopolíticos, o que distorce consideravel-

mente as projeções.

Estimativas de reservas tomam por base dados de fontes diversas. Empresas estatais e

privadas fazem suas previsões muitas vezes segundo suas próprias opiniões e objetivos , o

que as torna bastante subjetivas. Como nota Campbell, mesmo usando as técnicas mais

avançadas e de total objetividade, não é possível fazer uma previsão 100% correta:

“A principio sendo impossível de medir exatamente o quanto de óleo se encontra num reservatório hoje existem técnicas avançadas e diversas empresas que fazem dessa questão sua atividade. Dentre as técnicas se destacam a sísmica 3D, leituras elétricas (electric logs) e avançado conhecimento dos fatores geológicos e de engenharia. Sempre haverá incertezas até a exaustão do campo e seu conseqüente abandono, quando suas reservas iniciais se igualam à produção, mas a dimensão de incerteza pode ser definida e compreendida.” (Campbell, C., 1997)

Observando-se as empresas privadas é comum supor que, antes da exploração física de

determinado campo, os exploradores superestimem o tamanho das reservas. Isso é

conseqüência do fato de estarem sob pressão para investir na exploração ou para garantir

aprovação corporativa. Caso o poço se revele promissor/produtor, é freqüente a divulgação de

dados – agora analisados por técnicos – mais conservadores, com índices de probabilidade

bastante altos e, portanto, com maiores possibilidades de que, em revisões futuras, a

estimativa inicial aumente. A empresa exploradora prefere trabalhar com estimativas iniciais

baixas por diversas razões: para suavizar o valor de seus bens durante os anos de insucesso,

quando não há novas descobertas; para motivar os acionistas em relatórios anuais com

reservas de reposição; e para diminuir a carga tributária ao possibilitar, ainda que

indiretamente, maior investimento em depreciação. O crescimento das reservas, apesar de

muitas vezes ser atribuído ao avanço da tecnologia, é, freqüentemente, nada mais que a

correção de uma estimativa inicial intencionalmente baixa. Finalmente, Campbell afirma que

“ninguém nunca saberá quanto óleo existe, pois uma grande parte ficará eternamente na

rocha.” (Campbell, C, 1997)

Apenas as empresas menores divulgam, ocasionalmente, estimativas otimistas, com

intuito de inflar o preço de suas ações. Entretanto, essas estimativas, quando divulgadas,

sofrem um rigoroso processo de avaliação da comissão de valores mobiliários (Stock

Exchange Controls – SEC, nos EUA) das bolsas de valores onde são negociadas, assunto do

próximo capítulo.

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Gráfico 16 – Reservas das Empresas Estatais vs. Empresas Privadas

0

200000

400000

600000

800000

1000000

1200000

Estatais Privadas

mbb

Estatais

Privadas

Fonte: elaboração própria a partir dos websites das 20 maiores empresas em reservas (dados de

2004)

Grande parte das reservas mundiais é propriedade das empresas estatais. Sua

divulgação sofre influência dos interesses governamentais que têm por objetivo, entre outros,

transmitir uma imagem positiva do governo e viabilizar a obtenção de empréstimos externos.

Essas estatais têm definições e motivações bastante “exclusivas” o que influi nos seus

relatórios. Pela sua natureza, estão acima das rígidas auditorias externas que atingem suas

congêneres particulares.

Outra razão dessa dificuldade é a indefinição do que seja petróleo convencional e não

convencional. O México exagerou quando incluiu em suas reservas um campo enorme,

embora de difícil produção (Bacia de Chicontepek).

Um fato significativo dessa afirmação ocorreu em 1987, quando a Venezuela

“dobrou” seu potencial ao incluir uma reserva de 20bb de petróleo pesado (heavy oil), já

conhecida há muito tempo. Como a OPEP reparte sua produção em cotas proporcionais às

reservas de cada pais, a Venezuela foi beneficiada. Nos anos seguintes, observou-se aumento

significativo e duvidoso nas reservas de outros países membros como Irã, Iraque, Kuwait e

Arábia Saudita (ver Tabela 8 e Gráfico 18). Tal aumento pode ser parcialmente explicado pela

revisão dos dados, pós-retirada das empresas de petróleo privadas, desses territórios. Mas,

segundo Campbell, ainda assim esses dados deveriam ter sido pré-datados à época da

descoberta. Mesmo assim, um aumento de 300bb em três anos sem grandes mudanças nos

investimentos de exploração é pouco plausível, principalmente considerando que, nos anos

seguintes, as reservas continuaram inalteradas mesmo com a produção contínua.

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Gráfico 17 – Reservas OPEP e não-OPEP

0.0

200.0

400.0

600.0

800.0

1000.0

1200.0

1400.0

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

OPEP

não-OPEP

Fonte: BP Statistical Review of World Energy 2006 (Dados de 2005)

Tabela 7 – Reservas Provadas de países selecionados da OPEP Reservas Provadas (1000 x mb): OPEP

Ano 1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94

Venezuela 20 20 25 26 28 54 56 58 59 59 60 63 63 64 65

Irã 58 57 56 55 59 59 93 93 93 93 93 93 93 93 94

Iraque 30 32 59 65 65 65 72 100 100 100 100 100 100 100 100

Kuwait 68 68 67 67 93 92 95 95 95 97 97 97 97 97 97

Quatar 4 3 3 3 5 5 5 5 5 5 3 3 3 3 4

Arábia Saudita 168 168 165 169 172 171 170 170 255 260 260 261 261 261 261

Fonte: BP Statistical Review of World Energy 2006 (Dados de 2005)

Observa-se na Tabela 8 que nos anos de 1989-1993 Irã, Iraque e Kuwait declararam

suas reservas inalteradas, o que é pouco provável, devendo-se subtrair do valor das reservas a

quantidade da produção daqueles anos. Segundo Campbell, nos últimos 20 anos as reservas

têm crescido constantemente, embora o autor ache inviável esse crescimento se manter nas

próximas décadas. Afirma, também, que 80% da produção atual ser de campos descobertos

antes de 1973, campos estes que já atingiram seu pico de produção.

Para retardar a época do pico, Campbell salienta que reservas em lugares

inexplorados, como grandes profundidades e regiões polares, podem ser significativas.

Argumenta, entretanto que, como grande parte das bacias sedimentares já ser conhecida (com

existência ou não de petróleo), as possibilidades de novas descobertas são remotas.

O principal argumento e preocupação de Campbell sobre a insustentabilidade da

situação futura é que atualmente a demanda por petróleo cresce a 2% ao ano e segundo ele,

avançará 60% até 2020. Com o pico de produção mundial, excluindo a produção da OPEP,

sendo atingido, a fatia de mercado (market-share) da OPEP irá aumentar possibilitando altas

constantes e arbitrárias no preço do barril antes, ainda, de ser atingido o pico de produção.

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Ele acredita, entretanto que, com preparação suficiente, isto é, com a utilização de

algum substituto ao petróleo, principalmente no setor de transporte, a economia mundial

poderá evitar o desastre.

II.3. Laherrère

Jean Laherrère utiliza outros tipos de estatísticas para reforçar a idéia original de

Hubbert. Utiliza taxas e dados do crescimento populacional, da substituição do uso de animais

como força motriz e de curvas de produção de óleo de baleia.

O autor responsabiliza a OPEP, notadamente o sistema de cotas de produção baseadas

nas reservas estimadas, pela falta de coerência nos dados divulgados pelos países membros.

Como Campbell, considera a dificuldade de mensurar reservas, principalmente pelos países

membros da OPEP. Sobre a ausência do backdate, afirma que:

“[...] as estimativas são baseadas em valores correntes, e nunca são revisados pelo Oil and Gas Journal ao passo que a World Oil compara os resultados com os do ano anterior. O relatório estatístico da BP usa dados do OGJ e não os seus próprios dados para evitar aborrecimentos com os membros da OPEP (eles fizeram isso no passado, mas foram reprimidos e não querem fazer isso de novo!).”(Laherrère, J. (2004))

Quanto à tecnologia, compartilha as opiniões de Campbell de que sua influência como

solução ser ambígua quando acelera e barateia a extração de poços convencionais, embora

não reflita um aumento na taxa de extração. Segundo Laherrère, esta varia de 3% a 85%

dependendo da porosidade da rocha. Ele observa que nenhuma tecnologia nem a elevação dos

preços têm poder para alterar a geologia dos reservatórios. Por outro lado, admite que novas

tecnologias e aumentos de preço poderão aumentar a taxa de extração para reservatórios de

petróleo não convencional.

O que os economistas consideram “tecnologia de ponta”, como a análise sísmica

tridimensional e poços horizontais, já existe há mais de 30 anos e vem sendo utilizada em

campos produtivos. Ao contrário de metais como ouro e prata, que são regulados pela

concentração econômica mínima que diz que será lucrativo extrair o recurso se o custo for

menor do que o preço de venda, o limite de extração dos combustíveis sólidos depende da

energia líquida disponível; ou seja: a diferença de energia utilizada na extração e obtida na

utilização do combustível precisa ser positiva; caso contrário a extração torna-se improdutiva,

tornando quaisquer tipos de subsídios inúteis.

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A obtenção do etanol a partir do milho, processo fortemente subsidiado pelo governo

americano, é considerada energia líquida negativa. Ouro pode ser extraído a 4000m de

profundidade mas a extração do carvão dessa profundidade é improdutiva, segundo Oil & Gas

Journal.

Em relação às estimativas de produção futura através da taxa de recuperação (R/P),

Laherrère plota as previsões (retas) e dados históricos (pontilhados) em um gráfico (Gráfico

18) e observa que:

“Um dos parâmetros mais usados quando se estuda o futuro do petróleo é a razão R/P, isto é, o resultado em anos das reservas restantes sobre a produção anual presente. Freqüentemente se diz que o R/P do petróleo é de 40 anos sugerindo que exista petróleo suficiente para os próximos 40 anos. Mas em primeiro lugar, assume-se que a produção aumente e a característica física da produção não permite que o nível de produção seja constante durante 40 anos e não exista nenhuma produção no ano seguinte. Para as reservas provadas dos EUA, a razão R/P têm sido ao redor de 10 anos desde 1946, quando as estatísticas começaram, o que mostra que esse parâmetro não tem significado nenhum. Para as reservas provadas mundialmente a razão R/P está inalterada desde os primeiros dados, mas considerando-se os dados técnicos situava-se em 120 anos em 1950 e após a uma função linear desde os últimos 20 anos teríamos um resultado de reserva nula em 2035. É claro que a razão mudará e o dado deve ser ignorado.”(Laherrère, J. (2004))

Gráfico 18 – Razões R/P históricas e estimadas para Petróleo e Gás

Fonte: Laherrère, J. (2004)

Um fator importante citado por Laherrère são os ganhos de refinaria. Quando um

volume de petróleo é processado, o volume de resíduos resultante do processo de refino é

sempre maior. Em média, pode-se considerar esse ganho como sendo de 10%, mas esse

percentual pode variar bastante dependendo da tecnologia de refino, do tipo de petróleo,

quantidade de enxofre e de outras variáveis.

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Segundo Laherrère, há que se ter dados objetivos do passado e criteriosos estudos

geológicos dos recursos disponíveis para uma previsão futura. A incerteza das reservas é

grande por causa da complexidade geológica e dos limitados tipos de mensuração (os poços

exploratórios e a sísmica somente revelam um percentual pequeno da área total do poço).

Apenas após o abandono do poço é que as reservas são conhecidas com precisão. Argumenta

que a publicação de dados sobre produção e reservas é um ato político por estar relacionado à

imagem que o autor pretende, sendo que o próprio autor escolhe o valor dentro dos limites da

grande margem de incerteza.

Em razão das implicações políticas, a qualidade dos dados é pouco relevante, assim

como a definição do produto. Não há interesse em modificar esses fatos em razão da e por

causa da confidencialidade e da competição. Enquanto os países membros da OPEP

persistirem em disputar suas cotas na produção da organização (enquanto houver capacidade

de produção ociosa) a qualidade dos dados não melhorará.

A produção de óleo camufla a descoberta com um certo hiato – 7 a 50 anos – mas é

limitada também pela demanda. O primeiro choque do petróleo, em 1979, foi causado por

demanda baixa frente à uma expectativa de preços altos.

As descobertas nos EUA chegaram ao pico nos anos 30 e a produção atingiu o auge

em 1970. Já o pico das descobertas mundiais de petróleo deu-se nos anos 60, devendo o pico

de produção ocorrer na próxima década ou na seguinte. Este pode assumir a forma de um

platô se a recessão econômica contrair a demanda o que resulta em produção constante. Já

com relação à produção de gás, a estimativa de Laherrère é que o pico ocorra após o do

petróleo, ainda que restrições de oferta no mercado norte americano possam ocorrer em breve,

dada a queda na produção local e, ainda, o fato de insuficiente quantidade de GNL chegar ao

mercado dadas às restrições de navios e portos para transportar e receber esse combustível. Os

recursos disponíveis de gás natural podem ser inferiores àqueles reportados. Quanto ao

carvão, Laherrère afirma que a produção pode alcançar o pico muito antes do que o esperado.

Os combustíveis fósseis irão atingir seu pico de produção por volta do ano 2030,

embora a produção per capita, que tem se mantido constante nos últimos 25 anos, continue

constante e implicará na questão de como dividir essa energia limitada entre países pobres e

ricos. Uma política de energia e preços altos é a melhor solução para economizar energia e

evitar problemas futuros de demanda. Baseado nessa ocorrência, Laherrère condena as

sociedades de consumo muito alto que necessitarão modificar esse modelo urgentemente.

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Para concluir, Laherrère afirma que, antes da escassez dos combustíveis fósseis,

provavelmente ocorrerá escassez de água, da pesca e de produtos agrícolas.

II.4. Simmons

Matthew Simmons, após examinar a produção de petróleo no Oriente Médio,

argumenta que os poços da Arábia Saudita estão em declínio uma vez que, para manter sua

produção, os mesmos estão sendo injetados, com grandes quantidades de gases e água (doce e

salgada). As mais modernas tecnologias são usadas para manter a produção e poucas

descobertas vêm sendo feitas. Apenas 5-7 campos de petróleo produzem 90% da produção

árabe. O argumento é esmiuçado no seu livro Twilight in the Desert.

Simmons observa que métodos avançados de perfuração contribuem para exploração

mais eficiente de poços. Verificou que a perfuração horizontal em poços da empresa saudita

SaudiAramco vem sendo utilizada a partir do momento em que a perfuração vertical não

conseguir manter a produção.

Em seu trabalho “The Oil World: 1973 compared to 2000”, Simmons identifica pontos

em comum entre os anos de 1973 e 2000. Como empreendedor de uma empresa de análise de

investimentos no setor de energia, Simmons é mais enfático ao se deter na dinâmica do

mercado de curto prazo onde sua maior crítica fica por conta do limitado estoque de reserva

de petróleo. Mas, assim como Campbell e Laherrère, critica a quantidade e qualidade das

informações sobre petróleo, tanto quanto às reservas e, principalmente, quanto aos estoques e

previsões de demanda e oferta.

A realidade é que os campos muito grandes (super giant fields) estão em decadência e,

desde 1968, não ocorreu nenhuma descoberta. Ademais, poucos campos gigantes (giant

fields) foram encontrados após 1973 e estes estão em fase de declínio.

Simmons não entra nos detalhes da teoria de Hubbert e simplesmente avalia o fato de

que embora o esforço exploratório tenha crescido como nunca a partir de 1979, fase que ele

chamou de boom da perfuração (drilling boom), o volume de produção dos principais estados

americanos produtores caiu de 10.7 mbd em 1973 para 7.8 mbd em 1979 e apenas 4 mbd em

1999.

Com base na análise da demanda e na crítica aos preços muito baixos do petróleo,

Simmons demonstra que, desde 1973, o consumo de petróleo para gerar eletricidade e aquecer

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residências caiu significativamente. Por outro lado, a frota de veículos quase dobrou, sendo

que os utilitários esportivos e picapes (light trucks), de alto consumo, são responsáveis pela

maior parte desse incremento e com isso contribuem para que a demanda de petróleo no setor

de transporte seja 50% maior em 2000 do que foi em 1973.

Segundo Simmons, a atual tecnologia mais avançada apenas acelera o ritmo de

produção de um campo, não influindo na quantidade de petróleo que pode ser extraído. A

dificuldade da oferta em manter o ritmo de crescimento da demanda também se dá pelo fato

de os projetos de aumento da produção necessitarem de um prazo longo para iniciarem as

operações (5-7 anos).

O autor é um grande defensor da reforma e padronização de dados sobre reservas pois

discorda dos dados divulgados pelas empresas estatais.

II.5. Hirsch

Robert L. Hirsch salienta que, além de extremamente importante para o setor de

transporte, o petróleo também é um insumo para a indústria farmacêutica, para a agricultura,

produtos plásticos e outros.

Embora já existam alternativas para serem postas em prática, a substituição do

petróleo por outras fontes de combustível é muito demorada.

Segundo o autor, o pico do petróleo é baseado no caso singular de um campo que

segue a curva de produção já demonstrada por Hubbert. A produção mundial seria a soma de

todas as curvas dos campos individuais e o somatório teria forma semelhante.

“É importante reconhecer que o pico do petróleo não significa escassez de petróleo. O pico do petróleo é a capacidade máxima de produção o que tipicamente ocorre após metade do óleo extraível num campo tenha sido produzido. O que é possível para uma escala mundial vale para campos de petróleo individualmente porque a produção mundial é por definição a soma do total de produção de todos os campos do mundo.” (Hirsch, R. (2005c) p. 3)

Hirsch afirma que todo campo de petróleo, após atingir o pico de produção, não volta

àqueles níveis, pois um campo de petróleo pode ter reservas estimadas grandes, mas se um

campo bem gerenciado passou do máximo de produção, as reservas restantes só podem ser

extraídas a taxas decrescentes. As vezes essas taxas decrescentes podem ser minimizadas e

mesmo mantidas mas o retorno para a produção de pico é impossível mesmo com constante

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investimento na produção. Para ele, “esse fundamento freqüentemente não é aceito por

aqueles não familiarizados com a produção de petróleo”.

Ainda criticando as teorias econômicas freqüentemente aplicadas à produção do

petróleo nota que

“Assim, a algum nível de preço, as reservas recuperáveis mundiais de petróleo convencional atingirão um máximo por causa de fundamentos geológicos. Após esse ponto, uma quantidade insignificante de petróleo convencional será possível de ser extraída a preços realistas. Isso é um fato geológico que freqüentemente não é compreendido por economistas, muitos dos quais estão acostumados a lidar com minerais, que possuem uma geologia fundamentalmente diferente.” (Hirsch, R., 2005c, p.6)

O Gráfico 19 demonstra a fragilidade da combinação de avanços tecnológicos e preços

altos a partir de 1980. Essa combinação impossibilitou o aumento ou mesmo a manutenção da

produção dos estados continentais dos EUA, o que contraria a teoria econômica.

Gráfico 19 – Produção onshore dos 48 estados continentais (exclui Alasca e Havaí)

Fonte: Hirsch, R. (2005d)

Hirsch enfatiza a importância de mudanças imediatas, pois acredita que o tempo é

valioso e que mudanças nos hábitos para substituir o petróleo demorarão a surgir.

“Iniciando um programa de substituição 20 anos antes do pico oferece uma possibilidade de evitar uma escassez mundial de combustíveis líquidos no longo prazo. A razão para que seja necessário tanto tempo é que a escala de consumo mundial é enorme – fato esse freqüentemente perdido num mundo onde a abundância de petróleo tem ocorrido por tanto tempo. Se o preparo for muito pequeno, muito tarde, o balanço de oferta e demanda mundiais terá de ser obtido através de destruição massiva da demanda e períodos de escassez o que significa extremas dificuldades econômicas. Por outro lado, com preparo suficiente, os danos econômicos podem ser minimizados.”(Hirsch, R., 2005a, p. 6-7)

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Em outro estudo, Hirsch analisou regiões onde o pico já ocorreu. Considerou a

produção da América do Norte, Grã-Bretanha, Noruega, Argentina, Colômbia e Egito que são

regiões certa ou muito provavelmente passaram do pico, que basicamente sofreram apenas

influências de ordem econômica e possuem dados críveis sobre a produção. Examinando o

histórico mostrou que em todos esses casos não era óbvio que a produção fosse chegar ao pico

um ano antes de ocorrer, isto é, os níveis de produção antes do pico não evidenciavam tal fato.

Na maioria dos casos os picos de produção foram engrenes, variando abruptamente e sem um

nível máximo plano, como muitos esperam. Finalmente, em alguns casos o declínio da

produção após o pico foi bem rápido.

Contrariando a suposição de Hubbert, verifica que a curva em forma de sino tem uma

ponta aguda, e “não se consegue vê-la chegar”. Nota que o fato de o pico ocorrer não ser um

problema energético, mas sim um problema de combustíveis líquidos, principalmente aqueles

usados no transporte e de difícil substituição nesse setor. Conclui:

“Durante o século passado o desenvolvimento econômico mundial tem fundamentalmente sido atingido através da disponibilidade de petróleo abundante e de baixo custo. Transições energéticas anteriores (madeira para carvão, carvão para óleo etc.) foram graduais e evolucionárias; o pico do petróleo será abrupto e revolucionário. Como defendido pelo EIA, a importância do petróleo em outros setores de consumo deverá declinar onde outros combustíveis são competitivos, como o gás natural, carvão e energia nuclear, no setor elétrico, mas atualmente não existe fonte de energia alternativa que possa competir economicamente com o petróleo no setor de transporte”.(Hirsch, R., 2005c, p. 13)

Conclusão do capítulo

A visão pessimista sobre as conseqüências do pico de produção do petróleo mostrou

os argumentos e pontos de vista dos principais autores dessa corrente de pensamento. A linha

argumentativa aqui segue com ênfase na orientação determinista, onde os autores buscam

definir a quantidade de petróleo restante e a data do pico de produção do petróleo. A partir

dos dados e modelos probabilísticos utilizados eles obtêm as diferentes previsões para as datas

de pico de produção do petróleo. Para tal argumtanção, evidencia-se uma grande dependência

dos dados sobre reservas e produção, que têm caráter subjetivo por serem fornecidos por

entidades que arcam com as consequências das quantidades divulgadas. Essas quantidades são

frequentemente fornecidas por instituições politica ou financeiramente dependentes como os

países membros da OPEP ou o USGS.

Ademais, argumentos sobre a dependência da oferta de alguns reservatórios gigantes,

o poder de mercado da OPEP, a impossibilidade de avanços tecnológicos contornarem

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princípios geológicos e a negligência de países, instituições e políticos em se importar com

uma possível escassez repentina a nível global.

Os autores pessimistas são mencionados pela mídia em períodos de alta de preços

como a partir de 2005. Em tais momentos, a mídia preocupada pelos problemas nacionais

comumente divulga os argumentos e pontos de vista mais sensacionalistas desses autores. Nos

EUA a escassez do petróleo sempre está relacionada ao problema de segurança nacional. Nos

países europeus, notadamente aqueles com fortes grupos ambientalistas, nota-se o argumento

de conseqüências problemáticas da permanência e aumento dos níveis de emissão de gases

poluentes.

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III. CAPÍTULO III – VISÃO OTIMISTA EM RELAÇÃO AO PICO DO PETRÓLEO

Neste capítulo apresentamos os autores que acreditam não haver necessidade de

alarme e pânico em relação à oferta de petróleo. Estes também chamados de “otimistas”

quando se trata do pico do petróleo, baseiam-se, principalmente, em motivos de ordem

econômica e tecnológica, mas também criticam a carência e qualidade de dados sobre

reservas como veremos adiante. São também citados argumentos mais teóricos e tangíveis,

como a redução da demanda por petróleo e o aumento da eficiência na exploração do mesmo

e, ainda, a substituição do petróleo convencional pelo não convencional, as tendências

mundiais de consumo de energia e o crescimento no uso do gás natural e de combustíveis

renováveis.

Os argumentos dos autores otimistas se inserem num cenário de desenvolvimento

ambíguo pois por um lado vemos um acelerado crescimento da demanda mundial aliado a

restrições de oferta de petróleo. Ademais, evidenciam-se restrições de investimento por causa

acesso, regulamentação, risco político e de guerra em algumas regiões. O aquecimento global

e o efeito estufa resultam nas exigências ambientais, principalmente a partir do

comprometimento de muitas nações com protocolo de Kyoto e redução na emissão de gases

estufa e aparecem como um efeito exógeno ao mercado de petróleo. O preço alto aliado ao

crescimento da demanda num ambiente de redução das regiões exploratórias resulta em

preocupações de segurança energética, principalmente nos EUA. Por outro lado, os preços

altos propiciam investimentos cada vez maiores em exploração e desenvolvimento de novas

tecnologias.

Daniel Yergin, autor do premiado livro “The Prize: the Epic Conquest for Oil, Money

and Power” e diretor do grupo de consultores do mercado de energia Cambridge Energy

Research Associates (CERA), sustenta que não há razão de preocupação quanto à escassez

geológica do petróleo. O aumento na oferta de petróleo virá, tanto de países membros da

OPEP, como dos demais. Afirma que:

“Existem riscos em qualquer previsão. Nesse caso, os riscos não são geológicos ou de escassez de recursos do tipo “abaixo do solo”. Eles são muito mais do tipo “sobre o solo” – instabilidade política, conflitos, terrorismo e lentidão nas tomadas de decisão por parte do governo nos países produtores de petróleo.” (Yergin, D., 2005)

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Com relação à teoria de Hubbert e previsões pessimistas do pico do petróleo, no artigo

“How Much Oil Is Really Down There?” da CERA Yergin descreve que:

“Baseado em um número amplo de potenciais cenários e análises individuais dos campos, a CERA conclui que a produção mundial não atingirá o pico antes de 2030, mas que a idéia de um pico em si é dramática e altamente questionável. A produção global irá eventualmente seguir um platô ondulado por uma ou mais décadas antes de declinar lentamente. O padrão global de produção não será uma simples curva logarítmica ou em forma de sino como previsto por M. Hubbert, mas será assimétrico – com a sessão de declínio mais gradual e não um espelho da rápida taxa de crescimento – e muito além do pico geométrico. Será um platô ondulado que pode durar décadas.” (CERA, 2006)

Robert Esser, colaborador do CERA, cita outro motivo de dificuldade da indústria do

petróleo para aumentar a capacidade de produção, motivo esse também não relacionado à

problemas “abaixo do solo”: Segundo o autor, “talvez o maior problema no presente seja a

falta severa de recursos de mão-de-obra qualificada e limites impostos pela indisponibilidade

de plataformas e estaleiros.” (Esser, R., 2005)

Para Yergin, o padrão nos ciclos de alta dos preços do petróleo é subestimar o impacto

da tecnologia como no ciclo atual quando a tecnologia é a chave. Reservas provadas não são,

necessariamente, um bom guia para o futuro. Apesar do otimismo causado pela oferta do

petróleo, os colaboradores da CERA estão cientes da gravidade do problema. Esser, em seu

discurso para o House of Representatives dos EUA em 2005, afirmou que:

”Esse é um assunto que precisa ser considerado seriamente. Afinal, o planeta possui recursos finitos e o mundo está consumindo 30 bilhões de barris por ano. Mas a compreensão da situação precisa ser esclarecida. Considerações chaves incluem tecnologia, economia, timing, termos fiscais e regulatórios, e um entendimento completo de capacidades de produção corrente e futura. “(Esser, R., 2005)

III.1. Qualidade dos Dados e Erro Metodológico:

Yergin critica a qualidade dos dados sobre reservas provadas das empresas privadas. A

primeira crítica baseia-se na utilização de métodos arcaicos pela Comissão de Valores

Mobiliários dos EUA (Stock Exchange Comission – SEC) com o objetivo de provar a

quantidade de reservas. Seu argumento:

“O sistema atual exigido pela SEC para reportar “reservas provadas” se tornou antigo e a informação que fornece aos investidores cada vez mais se afasta do montante de recursos de muitas companhias.[…] As regras não reconhecem o vasto progresso tecnológico dos últimos 30 anos. “[…] (Yergin, D., 2006)

Desenvolvidas a partir do choque do petróleo de 1973, com intuito de garantir a

segurança energética, as regras, na época, precisavam ser detalhadas para se saber quanto

petróleo existia nos EUA. Em conseqüência, o Congresso ordenou à SEC a implementação de

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um sistema para reportar as reservas provadas com a base de recursos. A SEC, por sua vez,

baseou seu julgamento visando a proteger os investidores e, frente a complexidade da

definição, uma vez que reservatórios não podem ser auditados ou verificados, pediu ajuda à

Sociedade Americana de Engenheiros do Petróleo (Society of Petroleum Engineers – SPE).

As definições da SPE foram promulgadas em 1965. Apesar de três atualizações após essa

data, a SEC continua adotando a primeira definição, que considera o padrão tecnológico e

operacional dos anos 60 e 70. Finalmente, o objetivo da SEC em proteger os interesses dos

investidores acabou por levá-los à grande indecisão, devido ao conservadorismo das

estimativas da SPE.

“As regras atuais da SEC, que definem as reservas para investidores, são baseadas em tecnologia utilizada há 30 anos e oferecem uma estimativa incompleta do potencial futuro. A medida que as técnicas melhoram, a oferta de muitas regiões produtoras será muito maior do que antecipado.”(SEC, 2000)

De fato, partindo do princípio da SEC de que “certeza razoável implica que, a medida

de que mais dados técnicos ficam disponíveis, uma revisão positiva, ou para cima, tem maior

probabilidade de ocorrer que uma revisão negativa, ou pra baixo.” Para provar a existência de

reservas perante a SEC é necessário algum tipo de teste que comprove sucesso na exploração

no reservatório. Dados sísmicos não são aceitos como prova de existência de reservas ou

continuidade de produção em áreas já exploradas. Enfim, a SEC enfatiza a existência de

algum teste concreto para avaliar a existência ou não de reservas. Em conseqüência, os

grandes avanços tecnológicos não foram incorporados à metodologia empregada, como

observa Yergin.

‘”Surpreendente como possa parecer, as regras correntes para reportar reservas – o que pode ser chamado de “Sistema de 1978” – insistem essencialmente em tecnologias e metodologias de 1970. Àquela época não existia a revolução digital, e a fronteira de desenvolvimento offshore era de 600 pés de lâmina d’água, hoje são 12.000 pés”.(Yergin, D., 2006)

A incorporação das fontes de petróleo não convencional à produção irá aumentar

substancialmente a quantidade de reservas provadas e também a capacidade e o fluxo

constante da oferta, uma vez que a quase totalidade de recursos não convencionais serem

explorados em países fora da OPEP, com investimento de empresas privadas.

“Uma parcela cada vez maior da oferta virá dos óleos não tradicionais – de águas ultraprofundas, areias betuminosas, gás natural liqüefeito, gás convertido em liquido (GTLs), carvão convertido em íquido etc. Ao passar do tempo, esses não tradicionais se tornarão tradicionais. [...] Ao invés de um “pico”, devemos esperar um formato de “platô ondulado”, daqui a 3 ou 4 décadas.” (Esser, R., 2005)

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Outro autor otimista, Michael Lynch, baseia dois de seus argumentos na metodologia

empregada pelos pessimistas para a estimativa das reservas e do pico de produção. As

estimativas com modelo de Hubbert usam o TRR como um dado estático, embora para o autor

se trate de uma variável dinâmica. Lynch afirma que o TRR não se refere ao total dos recursos

– esse sim um montante fixo – mas sim à proporção do total desse montante em condições de

extração. Como essa variável com os avanços tecnológicos, há a tendência de aumentar a

proporção de campos que possam ser economicamente produtivos. Por outro lado, mudanças

de ordem não tecnológica - que reduzam custos - viabilizam a produção de campos menores,

mais profundos ou, ainda, dos campos menos produtivos.

O gráfico a seguir representa as estimativas de reservas com as chamadas “Creaming

Curves”, muito utilizadas por Laherrère. Essas curvas plotam a quantidade de reservas de

acordo com o número de campos petrolíferos descobertos. Para cada época é feita uma

revisão, que representa uma linha. Ocorre que com o passar do tempo, após cada revisão de

volume de reserva, essa curva se desloca na representação do montante revisado. No Gráfico

20 estão plotados dados para descobertas do Mar do Norte sendo que as 4 curvas inferiores

mostram o volume de petróleo dos 23 campos descobertos e produtores até 1980 e o seu

crescimento que das 1780 milhões de toneladas produzidas em 1980 atingiu o total de 2400

milhões de toneladas em 1998 - um crescimento de 1,6% ao ano portanto. A curva superior

mostra todos os campos encontrados e produtores até o ano de 1998, cuja assíntota chega a

3500 milhões de toneladas.

Para Lynch o uso dessas curvas induz a um erro metodológico grave, porque “elas

comparam estimativas correntes do tamanho dos campos com descobertas feitas em diferentes

períodos. Isso é como comparar arbustos a árvores; naturalmente as árvores são maiores, mas

isso não significa que os arbustos sempre serão pequenos.” (Lynch, M., 2002).

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Gráfico 20 – Revisões das Reservas Estimadas para Diferentes períodos no Mar do Norte

Fonte: Lynch, M. (2002)

As revisões cada vez maiores levam Lynch a crer que o total das reservas recuperáveis

(TRR) não poder ser tratada como um valor fixo. O autor se opõe a diversos autores que

afirmam a estabilização das estimativas do TRR ser em torno de dois trilhões de barris,

sugerindo que a tecnologia tenha alcançado uma assíntota.

Entretanto, as análises das estimativas do TRR foram baseadas nas pesquisas dos anos

1970 e início dos anos 1980, o que induziu um um resultado falso de uma assíntota histórica.

Partindo do princípio de que a quantidade de petróleo recuperável depende da tecnologia e

que quase todas as estimativas do TRR dependem da tecnologia vigente (ao invés do

desenvolvimento tecnológico e seus impactos), estimativas feitas em um período deveriam ser

similares.

Para Lynch as estimativas do TRR se expandem com o tempo uma vez que a

estimativa em 1950 e 1960 era de 1 trilhão de barris ou menos; atualmente a estimativa é de

três trilhões de barris aproximadamente. Veja-se a estimativa da USGS que aumentou de 1,7

trilhões em 1984 para 3 trilhões em 2003. Até Campbell aumentou sua estimativa do período

1991/1997 em 150 bilhões de barris o que, segundo Lynch, representa mais do que o consumo

no período.

Peter Odell, o quarto autor otimista estudado nesse capítulo, critica, assim como

Campbell, a subjetividade utilizada nos diferentes estudos que, segundo o autor, causa

disparidades nas avaliações das reservas provadas conforme a Tabela 8:

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Tabela 8 – Reservas Provadas segundo as 4 fontes mais utilizadas Regiões Oil and

Gas Journal

World Oil

Petro Consultants

United States Geological

Survey

América do Norte 77 77 64 103 América do Sul 78 85 51 74

Europa 16 31 30 37 Ex- União Soviética 59 191 76 121

África 73 79 53 72 Oriente Médio 660 590 439 583 Ásia Oriental 42 51 38 62 Oceania 2 4 3 4

TOTAL 1007 1107 746 1056 Fonte: Odell, P. (1999)

Além disso, Odell discorda de Campbell quando dá sua opinião sobre a firma “Petro

Consultants,” da qual Campbell faz parte: “Os dados da Petroconsultants estão longe dos

dados publicados por outras agências por motivos desconhecidos, dada a natureza privada e

inacessível do estudo e portanto, da própria organização” (Odell, P., 1999).

III.2. Análise Histórica do padrão de consumo de energia

Para ilustrar o ponto de vista de Peter Odell, reproduzimos o trecho do programa de

rádio Counterpoint da rede ABC na Austrália, realizado pelo repórter Michael Duffy que

além de Peter Odell, entrevista Kenneth Deffeyes, outro especialista do assunto.

Michael Duff: Kenneth Deffeyes, quando você acha que ocorrerá o pico do petróleo?

Kenneth Deffeyes: Bem, eu penso que já ocorreu. No caso de Hubbert...apenas uma expressão – você só tem certeza quando você está vendo no espelho retrovisor – você sabe, após ter acontecido no passado. Mas o pico de 1970 foi óbvio, quando em 1972 a Comissão de Estradas de Ferro do Texas (Texas Railroad Comission) que era comparável com a OPEP de hoje, anunciou que não haveria mais racionamento na produção do mês seguinte, todos os poços estariam autorizados a produzir o quanto quisessem, 100% permitido. Em março de 2003, a Saudi Aramco e o governo Saudita disseram aos países e governos do oeste que eles estavam produzindo no nível máximo, eles poderiam alcançar 9,2 milhões de barris por dia e que eles jamais haviam atingido 9,2 ou 9,5 milhões de barris em nenhum mês. E no ano passado eles haviam produzido uma média de 8,9 milhões de barris por dia. Assim, para mim, esse pronunciamento saudita foi um eco do que a Comissão de Estradas de Ferro do Texas dissera.

Michael Duff: Peter Odell, posso lhe perguntar o que você pensa sobre a previsão de Ken?

Peter Odell: Eu ouço o que ele fala mas não aceito o que ele quer dizer. Eu acho que defender o pico de Hubbert em termos de ano está correto, mas a curva de declínio tem sido bem menos íngreme do que sua previsão, porque o que ele não observou é que as reservas crescem ao passar do tempo com a necessidade da demanda. Isso aconteceu nos EUA; a tendência declinante não foi invertida, certamente, mas a necessidade da demanda tornou a curva bem menos íngreme. E com certeza não está ocorrendo a níveis internacionais. A Saudi Aramco na Arábia Saudita não tem apenas certeza que produzirá mais do que 10 milhões de barris por dia como está direcionada a essa meta, e mesmo 15 milhões tem sido indicado como um potencial futuro para o maior país produtor de petróleo do mundo.

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É interessante notar que Odell não nega a existência do pico de produção do petróleo.

Quando se refere ao pico ocorrido nos EUA em 1970, minimiza o fato de que a produção

caíra rapidamente uma vez que, através da redução no consumo e dos investimentos em

exploração, os EUA mantiveram um nível de produção bastante elevado.

Sobre a taxa de crescimento na utilização global de energia, Odell se baseia em dados

disponíveis desde o século XIX. Como demonstrado no Gráfico 21, com a utilização de retas

de tendência, ele constata que a partir de 1973, a taxa de aumento na utilização de energia

reverteu para a tendência de longo prazo, observada no período 1860-1945, de uma média de

2% ao ano, comparada com a taxa média de crescimento de 5% que ocorreu entre 1945 e

1973. A possibilidade de um retorno para taxas de crescimento de 5%, segundo o autor,

“agora é próximo de zero, uma vez que isso refletiu uma combinação temporária inerente de

um conjunto de condições de uso de energia em todas as partes do mundo que não pode

recorrer” (Odell, 1989). Assim, esse crescimento menor de fontes de energia não renováveis é

coerente mesmo não considerando o impacto adicional das preocupações com as emissões de

dióxido de carbono (CO2) e o conseqüente estímulo que implicará em taxas maiores de

crescimento do uso de energia renovável aliadas a taxas menores no uso de fontes poluentes

como os hidrocarbonetos.

Gráfico 21 – Tendências na Evolução do uso da Energia 1860-2000)

Fonte: Odell, P. (1999)

III.3. A Teoria Econômica baseada no Modelo de Hotelling

Harold Hotelling, em seu artigo “The Economics of the Exhaustibel Resources”, de

1931, inseriu a extração de um recurso finito numa teoria econômica: esse processo pode ser

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visto em sua forma mais simples como um problema de maximização de lucro, valendo tanto

para um agente individual como para a sociedade como um todo. Como a sociedade maximiza

o lucro por todo o período de extração, o valor futuro do lucro precisa ser descontado a uma

taxa maior ou igual à taxa de juros.

Esse é o problema fundamental de toda a economia dos recursos finitos; foi proposta e

resolvida por Hotelling nesse artigo. A solução para o lucro máximo total é que é a

formulação, conhecida como a Regra de Hotelling, e prevê que o preço do bem a ser extraído

aumenta a uma taxa exponencial que iguala a taxa de juros. Isso significa que, no sentido

econômico, um recurso finito tem o mesmo valor que um título atrelado à taxa de juros. O

Gráfico 22 representa o comportamento dos preços de um recurso finito, conforme as curves

de demanda e oferta resultantes da constatação de Hotelling.

Gráfico 22 – Trilha do preço deum recurso finito

Observa-se que, a partir da trilha do preço, função da taxa de juros, e das restrições de

demanda e produção, este continuará crescente até que outra tecnologia ou um substituto para

o recurso seja economicamente viável, isto é, até o bem atingir o preço de interrupção

(backstop price). O recurso estará na parte plana da sua curva de extração, o preço no nível

máximo e a produção começará a cair. Nesse ponto o recurso é considerado economicamente

exausto, embora ainda existam quantidades disponíveis para extração. Assim, partindo do

princípio de que existe outra tecnologia que interrompa a produção a um preço

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suficientemente alto, nenhum recurso pode ser totalmente extraído de forma economicamente

viável.

Tomando esse fato por base, podemos analisar mudanças de ordem econômica, como

um aumento da taxa de juros. Juros mais altos (Gráfico 23) levarão os investidores a vender o

recurso para aplicação a uma taxa alta de retorno o que resultará numa taxa de produção

maior e exaustão mais rápida. Graficamente, temos uma curva mais ingrime.

O Gráfico 24 ilustra o comportamento monopolista que se aplica à indústria do

petróleo tendo em vista a atuação da OPEP. O monopolista busca a maximizar os lucros

mantendo o preço mais alto do que o preço de equilíbrio, o que leva a uma oferta menor e à

conseqüente exaustão mais lenta do recurso.

Gráfico 23 – Aumento dos juros

Gráfico 24 – Comportamento monopolista

A descoberta de novas reservas, o desenvolvimento de tecnologias e o uso de

estratégias de conservação do recurso irão forçar o preço de equilíbrio a se situar em níveis

mais baixos, prolongando a vida econômica do recurso (Gráfico 25). A longo prazo, a curva

toma a forma de serra, sendo que cada ponta da lâmina significa uma das mudanças

mencionadas.

Gráfico 25 – Curva deOferta de Longo Prazo de um Bem Finito

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III.4. Avanços Tecnológicos

Segundo Hirsch, já mencionado anteriormente, o pico do petróleo é conseqüência da

utilização dos combustíveis líquidos e não de uma crise energética, como é freqüentemente

afirmado. Náo há alternativas concretamente víaveis para a substituição dos combustíveis

líquidos nos veículos a motor, aviões e navios. Fontes de energia não derivadas de

hidrocarbonetos, como a energia solar, eólica, geotérmica e nuclear, produzem eletricidade

(mas não combustíveis líquidos). Portanto, além de necessitar considerável investimento em

pesquisa e desenvolvimento, a utilização dessas energias no transporte ainda está distante. As

pesquisas de Hirsch identificaram um número de opções viáveis a curto prazo para o aumento

da eficiência dos combustíveis nos veículos, melhorias na recuperação de petróleo

convencional em reservatórios e a substituição de combustíveis líquidos originados de óleo

pesado/ areias betuminosas, carvão e gas-to-liquids (GTL). Todas essas alternativas teriam

que ser consideravelmente desenvolvidas a fim de se tornarem viáveis, no mínimo, na década

que antecede o pico do petróleo e evitar danos em escala mundial. Um programa extenso e

oneroso como esse, para ser posto em prática antes dos sinais de mercado, requer forte

intervenção e suporte por parte dos governos.

A intervenção governamental que aumentou a eficiência na utilização dos

combustíveis provou sua eficiência após o embargo do petróleo em 1973 e será um elemento

crucial na redução, a longo prazo, do consumo de combustíveis líquidos. Os EUA possuem

uma frota de mais de 200 milhões de automóveis, vans, caminhonetes e utilitários. A

substituição de pelo menos metade desses por modelos de eficiência maior, necessitaria de um

prazo de, pelo menos 15 anos ou mais, a um custo de US$ 2 trilhões. Essa transformação seria

onerosa e lenta não só nos EUA como no resto do mundo. Aumentos da eficiência dos

combustíveis, principalmente em veículos de alto consumo, criam, a longo prazo, uma

perspectiva de redução do consumo de gasolina e do diesel.

Ainda, para Hirsch, os avanços tecnológicos podem favorecer o retardamento do pico

de duas maneiras: A) aumentando-se a taxa de extração atual e com isso moderar a declinante

produção de petróleo de poços que já passaram do pico. Ele cita a injeção de dióxido de

carbono como a mais promissora tecnologia para o aumento da taxa de recuperação. B) A

exploração de reservas de petróleo não convencional quando ocorrer o declínio das reservas

convencionais. Ele cita a existência de diversos tipos de óleo não convencionais muito

atrativos e comercialmente viáveis como os óleos pesados (que dependem da capacidade das

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refinarias para serem processados), de combustíveis sintéticos como o combustível liquido do

carvão. Afirma o autor:

“O petróleo não convencional será cada vez mais responsável por uma fatia maior na demanda do mercado mundial por petróleo ao mesmo tempo em que a participação do petróleo convencional decline. Entre os mais atrativos dos petróleos não convencionais são os de tipo pesado, as areias betuminosas e os combustíveis líquidos obtidos a partir do gás natural e do carvão. Todas essas alternativas estão prontamente viáveis. Petróleo pesado e as areias de betume são muito viscosos, parecidos com uma resina, dos quais a maioria se encontra no Canadá e Venezuela. “(Hirsch, R.,2005d)

Atualmente os custos de produção de óleos pesados e daqueles oriundos de areias

betuminosas ainda são consideravelmente mais elevados do que os do óleo convencional uma

vez que, nos processos de produção e refino desses óleos, é usada mais energia para extrair,

produzir e refinar, o que resulta num balanço energético (energia líquida) menor. Já a

liquefação do gás natural vem sendo permanentemente aperfeiçoada, principalmente através

do método, ambientalmente correto, de Fischer-Tropsch.

A obtenção de combustível liquido a partir do carvão vem sendo estudada desde a 2ª

Guerra Mundial, quando os alemães, com grandes reservas de carvão, tentaram obter uma

alternativa para o petróleo. O processo necessita de duas etapas: primeiro o carvão é

gaseificado para então ser submetido ao processo de Fischer-Tropsch, similar ao processo

aplicado ao gás natural. O resultado é um combustível limpo, de alto teor energético e sem

necessidade de refino. O carvão tem localização geográfica mais homogênea e pode ser

convertido em combustíveis líquidos através da utilização de tecnologias comercialmente

viáveis (ou quase).

Hirsch cita ainda dois potenciais tipos de combustíveis não convencionais embora

ainda não comercialmente viáveis: o óleo obtido a partir de pedras (xisto betuminoso) e óleos

vegetais, originados de biomassa (etanol, biodiesel etc). Mas observa que a viabilidade desses

combustíveis depende de consideráveis investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

O impacto tecnológico na expansão dos recursos pode ser observado numa variedade

de casos. Como exemplo, a produção em pequenos campos no Mar do Norte que é viabilizada

pela ampla rede de dutos (pipelines) de gás e petróleo, inexistentes nos anos 80. A produção

britânica em 1995 (2,7 mbd) , tinha 16% de seu volume (0.44 mbd) originado de poços que

foram descobertos antes de 1980 quando sua produção diária era de 1.66 mb, mas que se

tornaram viáveis apenas a partir de 1990 após a instalação da infra-estrutura para escoar a

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produção. Nota-se que metade do aumento da produção nesse período se deu por causa dos

ganhos de eficiência.

Reforçando a possibilidade de aumento da produção através de inovações

tecnológicas, Lynch constata que muitos países permitem apenas que empresas estatais

explorem as reservas. Se esses países permitissem a exploração por empresas privadas,

tecnologicamente bem superiores às estatais, a produtividade do upstream da indústria do

petróleo aumentaria significativamente.

Os avanços tecnológicos todavia são propriedade das majors privadas, mas a maioria

das reservas situam-se em países cujas empresas estatais monopolizam o setor de exploração.

Quando esses países permitem o investimento externo e a exploração privada, o risco político

influi consideravelmente na tomada de decisão das majors. Como nota Yergin, se as empresas

privadas tivessem como aplicar sua tecnologia em regiões monopolizadas por empresas

estatais, a oferta de petróleo poderia, em pouco tempo, aumentar sensivelmente. (Yergin,

2005).

III.5. Ascensão do Gás Natural & Queda na Importância do Petróleo

Segundo Odell, a importância do carvão como fonte de energia irá cair rapidamente

nos próximos anos, sendo ultrapassada pelo gás natural que, até o final do século, deverá ser a

principal fonte de energia, ultrapassando, em 2040, o próprio petróleo que responderá, em

2100, por diminutos 28,8% da demanda por hidrocarbonetos. O gás natural provavelmente

ultrapassará o carvão como fonte global de energia até 2010 mersmo considerando a

utilização do gás natural como substituto ao petróleo aumentando. A expansão rápida da

produção em anos recentes reflete que as reservas provadas de gás natural mais que dobraram

desde 1980 e a expansão da Europa e outros mercados na demanda por gás natural desde o

início da década de 90. Assim, o gás natural entrou o século 21 com uma relação R/P de 62

anos.

Comparando a oferta de petróleo, gás e carvão, Odell explica que até em 2010 poderia

existir uma indústria de petróleo maior do que a do ano 2000. Até lá, entretanto, no contexto

das limitações do potencial do recurso e da competição intensificada de outras fontes de

energia, o petróleo contribuirá menos do que o carvão na oferta mundial de energia: ao

mesmo tempo que tenha sido há muito tempo ultrapassado pelo gás natural.

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A concentração do petróleo em poucos países também irá diminuir à medida que a

utilização do petróleo não convencional aumentar sua participação no total, em razão de sua

menor utilização.

“Nesse contexto, ao mesmo tempo em que a importância geopolítica do petróleo continue nas primeiras décadas do século 21, ele irá depois disso, ser meramente uma outra fonte de energia de importância decrescente na participação energética mundial: e será cada vez mais diversificada geograficamente do que nos dias atuais.”(Odell, P., 2003)

Sua argumentação, entretanto, torna-se incoerente devido à afirmação, feita em 2003

ao The Global Energy Outlook for the 21st Century, onde considera os preços do barril em

torno de 20 US$. Como os preços atuais estão, pelo menos, quadriplicados, sua previsão para

2010 de 25US$ é irreal. Devemos considerar, entretanto que, no mesmo artigo, ele observa

que “influências de curto prazo nos preços do petróleo irão ocorrer sem dúvida no futuro, mas

dada a natureza essencialmente efêmera, eles são irrelevantes para prever custos totais de

longo prazo e tendências de preço”(Odell, P., 2003). Os preços de 60 US$ já duram mais de 1

ano e um novo patamar parece evidente.

A crença de Odell na independência, à curto prazo, do preço do barril de petróleo, das

pressões da demanda ou da oferta, é afirmada na declaração abaixo:

“O petróleo se tornará um tomador de preços (price taker) – e menos um criador de preços (price maker) – a ponto de a indústria poder se beneficiar do fluxo de receita gerada a partir dos preços maiores do gás natural. Isso possibilitará retornos suficientes para financiar investimentos na expansão contínua da produção de petróleo não convencional”(Odell, P., 2003).

Observe-se que o autor salienta a escalada do gás natural como principal fonte de

energia e commodity energética, além dos benefícios na exploração do gás serem

compartilhados para ambos os combustíveis.

III.6. Dificuldade dos Investimentos & Comportamento Econômico do Upstream

Vimos no Capítulo I que a indústria do petróleo, notadamente o setor de upstream,

possui várias características econômicas singulares. Assim, considerando o volume, o risco e

a dinâmica associados ao setor de exploração em conjunto com a volatilidade nos preços do

petróleo concluímos que a tomada de decisão para investimentos acarreta enormes riscos e

dificuldades. Sobre a previsão futura do preço do petróleo, podemos nos orientar pela

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afirmação do chefe da gigante petrolífera saudita Saudi Aramco, na reportagem “Oil in

Troubled Waters”, da revista The Economist:

“Para onde o preço vai, ninguém sabe.[...] A chave é ter estabilidade para podermos planejar. Os investimentos em petróleo levam um longo tempo até darem frutos”. (The Economist, 2005)

Para reforçar a idéia de volatilidade, citamos interessante observação do autor do

mesmo artigo, publicada na revista The Economist:

“De fato, a única coisa sensata que pode-se dizer sobre os preços do petróleo hoje é que eles provavelmente não ficarão estáveis. Um ataque terrorista à infra-estrutura de petróleo saudita poderá elevar o preço para 100US$; um crash no mercado financeiro pode empurrá-lo abaixo dos 10US$.” (The Economist (2005)

A dificuldade na tomada de decisão em relação aos investimentos dos planejadores

das majors e das empresas estatais se dá por causa do excesso de oferta dos anos 80 e 90,

originado pelas enormes reservas existentes na época. Naquela ocasião, os investimentos em

petróleo foram muito baixos e em grande parte frustrados; a possibilidade de ocorrer um

retorno àqueles patamares, portanto, assusta os investidores e empresas do ramo.

A ilusão de que o petróleo está em permanente sobreoferta levou a duas décadas de

sub-investimento na indústria do petróleo. O mundo têm vivido a partir da lenda de

capacidade de reserva criada a muitos anos atrás. Dadas os preços altos de hoje em dia, pode-

se indagar se o mercado proverá a nova infra-estrutura necessária. No entanto, parece que o

mundo está se desenvolvendo bem com os preços altos de hoje em dia, talvez eles tenham que

persistir por mais tempo ou mesmo aumentar ainda mais antes que investidores sejam postos

em ação. Em 2007 o preço atingiu preços ainda maiores do que em 2006 e nenhuma recessão

era visível. Outro motivo para o autor é “a memória azeda do petróleo a 10 dólares por barril”

(The Economist, 2005).

Atualmente, embora os preços do petróleo se situem bem acima dos 60 US$, as

empresas baseiam suas políticas de investimento considerando os preços na faixa dos 20-25

US$. Com relação à tomada de decisão das empresas privadas, o artigo nota que as majors do

oeste estão mais aterrorizadas com um novo colapso de preços, e estão segurando as arredias

nos seus gastos em aumento de capacidade produtiva (capital expenditure). Os projetos são

tipicamente testados para darem lucro com preços do barril a 20 dólares. “(The Economist,

2005) colocar com seu texto

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Dados sobre atividade das plataformas e navios de perfuração atualizados

mensalmente pela empresa Baker Hughes, e relacionados aos preços do barril de petróleo tipo

Brent, se plotados em um gráfico mostram uma relação direta:

Gráfico 26 – Número de plataformas em atividade x Preço do barril tipo Brent (1980-2007)

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

Numero de plataformas deperfuracaoPreco

Fonte: elaboração própria a partir de dados da Baker Hughes de 2007 (Numero de plataformas) e BP 2006 (preços reais do barril tipo Brent)

É possível visualizar a tendência de mudanças na quantidade global de plataformas

(onshore e offshore) em resposta à variações no preço do barril de petróleo, o que reflete o

comportamento tipicamente econômico do mercado de exploração. Se desconsiderarmos o

hiato temporal, resultante do período decorrente entre o início da tomada de decisão e o início

das operações com novo contrato, podemos observar que, quanto maior o preço do barril,

maior a demanda por unidades que possibilitem a obtenção desse bem.

Outro indicador do comportamento econômico pode ser visualizado nos Gráficos 27 e

28. Essa análise leva em consideração o valor médio de aluguel diário ou simplesmente

“diária” (dayrate) de sondas offshore que inclui jack-ups (JU), semi-submersíveis (SS) e

navios-sonda (DS) e utiliza o preço do barril comercializado em Nova Iorque (WTI).

Verifica-se que quando o preço do barril atingiu um pico de 25 US$ em 1997, o valor de

aluguel diário continuou a subir durante quase um ano. Houve, portanto, um hiato de 11

meses entre o início da queda do preço do barril e o início da queda do preço da diária das

sondas. No pico seguinte do preço do barril, em 2000, o mercado de sondas novamente se

ajusta ao preço embora com um intervalo temporal maior (12-16 meses). Análise análoga se

aplica aos períodos de preço mínimo do barril. Além da constatação do gráfico anterior

podemos adicionar que o tempo de queda no dayrate frente à queda do preço do barril é mais

rápido do que quando o preço sobe.

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Gráfico 27 – Preço do Barril (Crude de NY)

Fonte: Rigzone (2007)

Gráfico 28 – Médias das Diárias de Plataformas e Navios de Perfuração

Fonte: Rigzone (2007)

O comportamento econômico e o aumento dos investimentos a partir da recente

escalada do preço do barril, estreitando o horizonte de tempo para 13 anos (1995-2008), é

demonstrado no Gráfico 29, com dados do International Rig Report de Junho de 2007.

Verifica-se a crescente utilização das sondas, além das previsões futuras que estimam uma

utilização de 100% desses equipamentos.

Gráfico 29 – Demanda e Utilização das sondas de perfuração

Fonte: International Rig Report Junho-2007 (Dados: ODS-Petrodata 2007)

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Conclusão do capítulo

A análise dos autores otimistas retoma o argumento da qualidade dos dados também

visto no Capítulo II embora interpretados de modo diverso. Mostramos também o argumento

da tendência histórica de crescimento da demanda por petróleo, que apesar das previsões de

crescimento mundial econômico acelerado prevê um comportamento de crescimento natural

da demanda por energia em torno de 2% ao ano.

Como ponto central do capítulo destacamos a teoria de Hotelling que baseia-se no

comportamento diferenciado que os bens finitos como o petróleo possuem, que resulta em

uma oferta de petróelo dependente de mudanças do mercado como avanços tecnológicos,

mudanças nos preços e na demanda. Avanços tecnológicos serão resultados tipicos de preços

altos enquanto que o preços baixos provavelemnte estanquem investimentos em pesquisa.

Preços altos por longos períodos podem ocasionar desenvolvimento de outras fontes de

energia e consequente queda na importância do petróleo.

Todos os argumentos vistos nesse capítulo resultam em cenários econômicos

evolucionários bem ao contrário da previsão dos autores pessimistas.

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CONCLUSÃO

O resultado do estudo e pesquisa sobre a questão do pico de produção do petróleo é

reflexo direto das opiniões divergentes dos estudiosos e especialistas. Alguns temem um caos

global enquanto que outros acreditam numa transição progressiva.

O caos global seria resultado da impossibilidade ou de tempo demasiado extenso no

desenvolvimento de qualquer tipo de substituto para o petróleo na cadeia energética mundial,

com ênfase no setor de transporte. Seus defensores baseiam a visão pessimista na teoria de

Hubbert que parte da premissa de que exista razoável certeza no conhecimento da quantidade

de reservas existentes, além da quantidade de petróleo produzida até o momento. Nessa linha

determinista, o centro da argumentação dos pessimistas gira em torno da qualidade subjetiva

dos dados disponíveis sobre o petróleo, principalmente sobre as reservas restantes.

Ademais, os argumentos dos autores pessimistas variam entre a grande dependência

que o mundo tem atualmente do petróleo, na irregularidade geográfica da distribuição das

reservas e na crescente participação do petróleo OPEP no mercado, além da falta de incentivo

de organizações e da pouca mobilização de governos para a redução do consumo e o

desenvolvimento de energias alternativas.

Os autores que não vêem o pico de produção do petróleo como uma ameaça ao bem

estar mundial, baseiam-se no avanço tecnológico e no aumento da produção de tipos de

petróleo não convencionais. Afirmam que essas mudanças serão possíveis em razão do

aumento do preço do barril de petróleo, o que viabilizará maiores investimentos e favorecerá

o surgimento de concorrentes, atualmente, ainda economicamente inviáveis.

Outra grande área de incerteza se refere ao desenvolvimento da oferta de petróleo não

OPEP. Fatores diversos, como o preço do petróleo, regimes fiscais e legais no upstream e

investimentos em países não OPEP, avanços tecnológicos e sucesso na exploração, irão

delinear o cenário futuro da oferta desse petróleo.

O posicionamento dos pessimistas é pertinente, pois consideram que a demanda e os

preços alcançaram níveis repentinamente altos. Mas seus argumentos tornam-se frágeis ao

observarmos que, se suas previsões anteriores fossem verdadeiras o mundo já teria atingido o

pico do petróleo pela quinta vez. O modelo de Hubbert, apesar de funcional, só poderia ser

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usado como ferramenta de previsão se os dados disponíveis sobre as reservas fossem menos

subjetivos, conseqüentemente, mais confiáveis.

Os argumento otimistas se inserem economicamente mais orientados, o que significa

um estudo profundo do mercado de petróleo. O comportamento do mercado de petróleo é

bastante dependente de fatores externos (como mudanças de demanda) mas por ser um bem

tão comercializado e sua natureza exigir montantes muito grandes e irreversíveis de

investimento, as decisões tomadas na própria indústria influem no mercado o que se reflete no

seu comportamento ser conseqüência direta e indireta das mudanças ocorridas anteriormente,

ocorrendo uma demanda dinâmica. Um preço suficientemente alto pode levar a aumentos nos

investimentos em exploração e capacidade de produção. Tais investimentos entretanto, só são

materializados, isto é, só são sentidos em termos de variação nas quantidades produzidas num

prazo de tempo bem amplo (pelo menos 5 anos) além da maior parte desses investimentos

serem irreversíveis. Assim, se no momento onde se inicia o investimento e o crescimento

econômico mundial for grande então é possível que no momento da materialização do

investimento o crescimento já tenha cessado e a demanda tenha caído aos níveis

anteriormente baixos, frustrando todos os investimentos cometidos.

Atualmente, ainda existem fatores de ordem não econômica cada vez mais

importantes, como as exigências ambientais e o comprometimento com a redução das

emissões que resultam em queda na demanda por hidrocarbonetos, notademente o carvão e o

petróleo. Para muitos autores, inclusive, o pico do petróleo não é motivo de preocupação uma

vez que as pressões ambientais e climáticas resultarão em nencessidade de reduzir o consumo

de todos os hidrocarbonetos.

A preocupação dos EUA em manter sua segurança energética é um outro fator

exógeno que pode ocasionar mudanças no abastecimento de petróleo mundial. As políticas

adotadas pelos EUA perante os países produtores podem ter conseqûencias adversas e no

mercado de petróelo.

A teoria de Hotelling ajuda a explicar, com base na ciência econômica, a noção de

substituição do petróleo por outro bem ou tecnologia a níveis de preço muito altos, o que,

assim nos parece, leva os autores otimistas a não temerem uma escassez de petróleo. Embora

os choques do petróleo e os distúrbios conseqüentes não serem algo desejado, o fato é que a

natureza dos choques não teve sua origem na escassez de petróleo. O que causou esses

choques foram as características singulares do mercado de petróleo ou seja: a irregularidade

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na distribuição das reservas provadas, o poder de monopólio da OPEP aliado ao nacionalismo

de seus países membros e as mudanças repentinas na demanda por petróleo que tanto

isolados, mas especialmente atuando em conjunto e na mesma direção resultam em preços

extremamente voláteis na commodity mais importante do mundo.

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