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O PLANEJAMENTO NO CONTEXTO ESCOLAR Anailton de Souza Gama 1 Sonner Arfux de Figueiredo 2 Resumo: O presente artigo pretende discutir o planejamento no contexto escolar, entendendo que a escola tem um importante papel na formação e no desenvolvimento do homem e, um aliado insubstituível dessa concepção de escola, é o planejamento educacional que possibilita a ela uma organização metodológica do conteúdo a ser desenvolvido pelos professores em sala de aula, baseado na necessidade e no conhecimento de mundo dos alunos, que por sua vez são os principais interessados e possivelmente os principais beneficiados com o sucesso nesse tipo de organização metodológica que visa o crescimento do homem dentro da sociedade. Palavras-chave: Planejamento; professores; contexto escolar. Introdução O planejar foi uma realidade que sempre acompanhou a trajetória histórica da humanidade. O homem sempre pensou suas ações, embora não soubesse que deste modo estaria planejando. Ele pensa sobre o que fez, o que deixou de fazer, sobre o que está fazendo e o que pretende fazer no futuro; ele usa sua razão, sempre imagina o que pretende fazer, ou seja, suas ações. O ato de imaginar, pensar, não deixa de ser uma forma de planejamento. O planejamento está presente em nosso dia-a-dia, mesmo que implícito, como o caso da pessoa que, ao levantar-se pela manhã, pensa no seu dia, no que vai acontecer ao longo dele. Como não se tem certeza do que realmente irá acontecer no passar dessas vinte e quatro horas, a pessoa obriga-se a pesar, prever, imaginar e tomar decisões, contudo, ela sempre espera tomar as decisões mais acertadas, para que sua ação alcance os objetivos esperados; mesmo não tendo consciência de que está realizando um planejamento, esta pessoa está fazendo o uso do ato de planejar. No caso do planejamento educacional são várias as definições, sendo que cada autor procura descrevê-lo sob sua própria visão. Segundo Martinez e Oliveira (1997, p. 11): Entende-se por planejamento um processo de previsão de 1 Graduado em Letras (UFMS), Especialista em Literatura Comparada (UFMS), Mestre em Lingüística pela UFMS. Professor\UEMS. 2 Graduado em Matemática. Mestre em Engenharia Elétrica (UNITAU), Professor do Curso de Matemática/UEMS.

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O PLANEJAMENTO NO CONTEXTO ESCOLAR

Anailton de Souza Gama1

Sonner Arfux de Figueiredo2

Resumo: O presente artigo pretende discutir o planejamento no contexto escolar, entendendo que a escola tem um importante papel na formação e no desenvolvimento do homem e, um aliado insubstituível dessa concepção de escola, é o planejamento educacional que possibilita a ela uma organização metodológica do conteúdo a ser desenvolvido pelos professores em sala de aula, baseado na necessidade e no conhecimento de mundo dos alunos, que por sua vez são os principais interessados e possivelmente os principais beneficiados com o sucesso nesse tipo de organização metodológica que visa o crescimento do homem dentro da sociedade.

Palavras-chave: Planejamento; professores; contexto escolar.

Introdução

O planejar foi uma realidade que sempre acompanhou a trajetória histórica da

humanidade. O homem sempre pensou suas ações, embora não soubesse que deste

modo estaria planejando. Ele pensa sobre o que fez, o que deixou de fazer, sobre o que

está fazendo e o que pretende fazer no futuro; ele usa sua razão, sempre imagina o que

pretende fazer, ou seja, suas ações. O ato de imaginar, pensar, não deixa de ser uma

forma de planejamento.

O planejamento está presente em nosso dia-a-dia, mesmo que implícito, como

o caso da pessoa que, ao levantar-se pela manhã, pensa no seu dia, no que vai acontecer

ao longo dele. Como não se tem certeza do que realmente irá acontecer no passar dessas

vinte e quatro horas, a pessoa obriga-se a pesar, prever, imaginar e tomar decisões,

contudo, ela sempre espera tomar as decisões mais acertadas, para que sua ação alcance

os objetivos esperados; mesmo não tendo consciência de que está realizando um

planejamento, esta pessoa está fazendo o uso do ato de planejar.

No caso do planejamento educacional são várias as definições, sendo que cada

autor procura descrevê-lo sob sua própria visão.

Segundo Martinez e Oliveira (1997, p. 11):

Entende-se por planejamento um processo de previsão de

1 Graduado em Letras (UFMS), Especialista em Literatura Comparada (UFMS), Mestre em Lingüística pela UFMS. Professor\UEMS.2 Graduado em Matemática. Mestre em Engenharia Elétrica (UNITAU), Professor do Curso de Matemática/UEMS.

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necessidades e racionalização de emprego dos meios materiais e dos recursos humanos disponíveis a fim de alcançar objetivos concretos em prazos determinados e em etapas definidas a partir do conhecimento e avaliação cientifica da situação original.

Este tipo de definição não se caracteriza por um tipo específico de

planejamento, podendo também ser compreendido como planejamento econômico,

industrial ou ainda como o tipo de planejamento que o presente artigo se propõe a

apresentar, ou seja, o planejamento educacional.

Para Menegola e Sant’Anna (2001, p. 25):

Planejar o processo educativo é planejar o indefinido, porque educação não é o processo, cujos resultados podem ser totalmente pré-definidos, determinados ou pré-escolhidos, como se fossem produtos de correntes de uma ação puramente mecânica e impensável. Devemos, pois, planejar a ação educativa para o homem não impondo-lhe diretrizes que o alheiem. Permitindo, com isso, que a educação, ajude o homem a ser criador de sua história.

Nesta definição podemos perceber que os autores preocupam-se em especificar

que tipo de planejamento educacional visam, sobretudo, enfatizar o papel como

formador de opiniões e acima de tudo capaz de ser o criador de sua história.

Então se entende que a escola tem um importante papel na formação e no

desenvolvimento do homem e, um aliado insubstituível dessa concepção de escola, é o

planejamento educacional que possibilita a ela uma organização metodológica do

conteúdo a ser desenvolvido pelos professores em sala de aula, baseado na necessidade

e no conhecimento de mundo dos alunos, que por sua vez são os principais interessados

e possivelmente os principais beneficiados com o sucesso nesse tipo de organização

metodológica que visa o crescimento do homem dentro da sociedade.

APROFUNDANDO O CONCEITO DE PLANEJAMENTO

A discussão do conceito de planejamento, à primeira vista, pode parecer perda

de tempo, sendo que, na verdade o ponto de maior importância seria discutir o como

fazer. Mas torna-se importante perceber que a clareza no conceito do planejamento

proporciona maior liberdade e mais autonomia do sujeito professor, sendo que quanto

menor for a conceitualização de planejamento maior será a necessidade de receitas

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prontas e modelos a seguir.

Com a ajuda de um dicionário, buscaremos tornar o mais claro possível o

conceito de planejamento. O dicionário utilizado é o dicionário mais popular da Língua

Portuguesa no Brasil que é o Aurélio Buarque de Holanda, 2º edição, 1986.

PLANO - (Do latim planu) projeto ou empreendimento com fim determinado.

Conjunto de métodos e medidas para a execução de um empreendimento (...).

PLANEJAR. -V. T. D. 1. Fazer o plano de; projetar; traçar. Um bom arquiteto

planejará o edifício. 2. Fazer o planejamento de; elaborar um plano ou roteiro de;

programar, planificar: planejar um roubo. 3. Fazer tenção ou resolução de; tencionar,

projetar (...).

PLANEJAMENTO - S. M. 1. Ato ou efeito de planejar. 2. Trabalho de

preparação para qualquer empreendimento, seguindo roteiro e métodos determinados;

planificação: o planejamento de um livro, de uma comemoração (...).

PROJETO- (do lat. Projectu, lançado para diante) S. M. Idéia que se forma de

executar ou realizar algo, no futuro, plano, intento, desígnio. 2. Empreendimento a ser

realizado dentro de um determinado esquema. (...).

Segundo Vasconcellos (2000) o conceito de planejar fica claro, pois: “Planejar

é antecipar mentalmente uma ação ou um conjunto de ações a ser realizadas e agir de

acordo com o previsto. Planejar não é, pois, apenas algo que se faz antes de agir, mas é

também agir em função daquilo que se pensa.” (p.79).

Sendo assim, planejar pode ser obra de um indivíduo, de um grupo ou mesmo

de uma coletividade social bem mais ampla, como no caso do planejamento

participativo dentro de uma rede de ensino.

O conceito de planejamento é algo bem amplo que pode ser compreendido de

várias formas sendo que também pode ser compreendido como o define Vasconcellos

(2000, p. 79):

O planejamento enquanto construção-transformação de representações é uma mediação teórica metodológica para ação, que em função de tal mediação passa a ser consciente e intencional. Tem por finalidade procurar fazer algo vir à tona, fazer acontecer, concretizar, e para isto é necessário estabelecer as condições objetivas e subjetivas prevendo o desenvolvimento da ação no tempo.

Segundo a definição que Vasconcellos atribui para o ato de planejar, podemos

perceber que este tipo de metodologia visa a integração do indivíduo com a sociedade

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buscando realizações de ações articuladas dentro de um processo teórico-metodológico.

O PLANEJAMENTO NA ESCOLA PÚBLICA

Planejar o conteúdo a ser aplicado durante o ano letivo é uma tarefa que

envolve tanto professores quanto diretores e coordenadores pedagógicos, enfim, toda

massa de profissionais voltados para a área da educação pertencentes à escola.

O planejamento voltado para a área da educação apresenta variações, sendo

que o mesmo pode ser educacional, curricular ou de ensino.

No planejamento educacional, a visão que se tem é mais ampla, pensa-se no

progresso global do país. Podemos então definí-lo, segundo Joana Coaracy (1972, p. 79)

como:

Processo contínuo que se preocupa com o para onde ir e quais as maneiras adequadas para chegar lá, tendo em vista a situação presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da educação atenda tanto às necessidades do desenvolvimento da sociedade, quanto as do indivíduo.

O planejamento curricular visa, sobretudo, a ser funcional, promovendo não só

a aprendizagem do conteúdo, mas também promovendo condições favoráveis a

aplicação e integração desses conhecimentos.

Podemos definir o planejamento curricular, nas palavras de Sarulbi (1971, p.

34) como:

Uma tarefa multidisciplinar que tem por objetivo a organização de um sistema de relações lógicas e psicológicas dentro de um ou vários campos do conhecimento, de tal modo que se favoreça ao máximo o processo ensino aprendizagem.

O planejamento de ensino está pautado a nível mais específico dentro do

contexto da escola podendo ser compreendido como: “Previsão das situações do

professor com a classe.” (Mattos, 1968, p.14). Este tipo de planejamento varia muito de

uma instituição para outra.

O Planejamento e a LDB

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Em 20 de Dezembro de 1996, o presidente Fernando Henrique Cardoso

sancionou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, proposta pelo senador Darci

Ribeiro, depois de oito anos de tramitação pelo Congresso Nacional. Ela estabelece

normas e procedimentos que afetam todos os níveis do sistema educacional.

No que diz respeito à organização da educação nacional cabe salientar que de

acordo com a LDB, o planejamento fica delegado aos cuidados da instituição de ensino,

juntamente com o corpo docente, que tem um importante papel a desempenhar nesse

sentido que é o da aplicação desse planejamento, levando em consideração que o

docente necessita, acima de tudo, zelar pela aprendizagem dos alunos, bem como

estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento escolar, ou

seja, cabe também ao docente reorganizar o seu planejamento conforme as necessidades

educacionais do aluno, visando o seu objetivo, que é o da preparação dos alunos, não só

para encarar o futuro com confiança, mas sobretudo fornecer a eles condições de

aprendizagem necessárias ao indivíduo para que ele possa sobressair de situações que

exijam raciocínio lógico.

Segundo a LDB o professor tem como incumbência não só ministrar os dias

letivos e horas aulas estabelecidas, mas também participar de forma integral dos

períodos dedicados ao planejamento, além de participar, também, da elaboração da

proposta pedagógica do estabelecimento de ensino a qual ele pertença.

A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESCOLAR

A metodologia do planejamento escolar enquadra-se no cenário da educação

como uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos

da sua organização e coordenação em face dos objetivos propostos; quanto a sua

previsão e adequação no decorrer do processo de ensino.

Segundo Libâneo (1994, p. 222) o planejamento tem grande importância por

tratar-se de: “Um processo de racionalização, organização e coordenação da ação

docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social”.

Sob essa linha de raciocínio que Libâneo adota ao definir a importância do

planejamento, fica evidente uma preocupação em integrar a coordenação da ação

docente à problemática do contexto social em que o seu público alvo está inserido,

visando, sobretudo com essa integração, um maior rendimento escolar, pois facilitará e

muito aos alunos, verem conteúdos que falem sobre a realidade que eles vivenciam em

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seu dia -a –dia.

Adentrando no conceito de planejamento e da importância dessa metodologia

Libâneo (1994, p. 222) ainda salienta que:

A ação de planejar, portanto, não se reduz ao simples preenchimento de formulários para controle administrativo, é, antes, a atividade consciente da previsão das ações político – pedagógicas, e tendo como referência permanente às situações didáticas concretas (isto é, a problemática social, econômica, política e cultural) que envolve a escola, os professores, os alunos, os pais, a comunidade, que integram o processo de ensino.

Toda a comunidade escolar necessita integrar-se visando resultados positivos

no ensino aprendizagem do aluno, sendo que um aliado importante nessa integração é o

planejamento, pois é através dele que prevemos ações docentes voltadas para a

problemática social, econômica, política e cultural que envolve toda a escola e, por

conseqüência dessa integração, conseguimos alcançar resultados positivos quanto à

educação do corpo discente.

O método do planejamento é útil e, sobretudo, muito importante, mas o mais

importante é o maior ou menor conhecimento que se tenha do aspecto da realidade em

que se está agindo, de sua inserção no conjunto.

Tendo em mente a importância de uma metodologia que direciona o processo

educativo, precisamos ainda mais saber que planejar é tomar decisões, mas essas

decisões não são infalíveis, o planejamento sempre está em processo, portanto em

evolução.

Sendo assim, podemos dizer que cabe à Escola a elaboração de seus planos

curriculares, partindo da orientação dada pela Lei ou pelos sistemas, com a finalidade de

atender às características locais e às necessidades da comunidade e, sobretudo às

necessidades do aluno.

CARACTERÍSTICAS DO BOM PLANO DE ENSINO

No momento em que o professor elabora o seu planejamento, algumas

características precisam ser lembradas, para que ele possa desenvolver um bom plano de

ensino.

Segundo Ricardo Nervi (1967, p. 56) estas são as características essenciais do

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bom plano de ensino.

COERÊNCIA: as atividades planejadas devem manter perfeita coesão entre si de modo que não se dispersem em distintas direções, de sua unidade e correlação dependerá o alcance dos objetivos propostos.SEQÜÊNCIA: deve existir uma linha ininterrupta que integre gradualmente as distintas atividades desde a primeira até a ultima de modo que nada fique jogado ao acaso.FLEXIBILIDADE: é outro pré-requisito importante que permite a inserção sobre a marcha de temas ocasionais, subtemas não previstos e questões que enriqueçam os conteúdos por desenvolver, bem como permitir alteração, de acordo com as necessidades ou interesses dos alunos.PRECISÃO E OBJETIVIDADE: os enunciados devem ser claros, precisos, objetivos e sintaticamente impecáveis. As indicações não podem ser objetos de dupla interpretação, as sugestões devem ser inequívocas.

Estas são, segundo Ricardo Nervi, algumas das principais características que o

bom planejamento de ensino deve conter, sendo que todo o professor deve conhecer as

fontes onde buscar novos elementos relacionados à sua disciplina, fundamentando o seu

planejamento de ensino.

O professor, ao realizar seu planejamento de ensino, antecipa de forma

coerente e organizada todas as etapas do trabalho escolar, não permitindo que as

atitudes propostas percam sua essência, ou seja, o seu trabalho a ser realizado encaixa-

se em uma seqüência, uma linha de raciocínio, em que o professor tem a real

consciência do que ensina e quais os objetivos que espera atingir, para que nada fique

dispenso ao acaso.

O planejamento, a primeiro momento, passa por fases semelhantes, sendo ele

planejamento educacional, curricular, de ensino ou de aula.

Em uma visão geral a fase inicial é a de preparação que consiste em uma

realização de passos que visam assegurar a sistematização, o desenvolvimento e a

concretização dos objetivos previstos. Em um segundo momento, já na fase do

desenvolvimento do que anteriormente havia sido preparado, a ênfase recai na ação do

aluno e do professor, e aos poucos com o desenvolvimento do trabalho aprimora-se os

níveis de desempenho do processo.

Já na fase do aperfeiçoamento envolve a testagem e a determinação do alcance

dos objetivos. Estes procedimentos de avaliação permitem os ajustes que se fizerem

necessários para a execução dos objetivos, demonstrando que o processo do

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planejamento é um “organismo vivo” flexível, adaptável a diferentes realidades e

necessidades que possam surgir, contrariando os poucos que ainda acreditam que o

planejamento por si só já é a solução de todos os possíveis problemas que possam surgir

ao longo do desenvolvimento do trabalho em questão.

Assim sendo, o bom planejamento de ensino é aquele que melhor adapta-se a

realidade sócio-cultural em que o aluno está inserido, é aquele que visa objetivos

concretos com a utilização de linhas ininterruptas de pensamento, mas flexíveis o

bastante para tomar caminhos diferenciados sem perder a direção.

NÍVEIS DE PLANEJAMENTO

No contexto escolar podem ser realizados diferentes níveis de abrangências de

planejamento.

Segundo Vasconcellos (2000, p. 95 – grifo nosso) são esses os diferentes níveis

do planejamento:

O planejamento da escola trata-se do que chamamos de projeto político-pedagógico ou projeto educativo, sendo esse plano integral da instituição, o mesmo é composto de marco referencial, diagnóstico e programação. Este nível envolve tanto a dimensão pedagógica quanto a comunitária e administrativa da escola”

Partindo para o nível de abrangência seguinte, Vasconcellos (2000, p. 95)

define o planejamento curricular como sendo:

A proposta geral das experiências de aprendizagem que serão oferecidas pelas Escolas incorporados nos diversos componentes curriculares, sendo que a proposta curricular pode ter como referência os seguintes elementos: fundamentos da disciplina, área de estudo, desafios pedagógicos, encaminhamento, proposta de conteúdos, processos de avaliação.”

Este nível de abrangência das escolas é realizado sempre com base nos PCNS

(Parâmetros Curriculares Nacionais) que foram elaborados procurando de um lado,

respeitar diversidades regionais, culturais e políticas existentes no país e, de outro lado,

considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao processo

educativo em todas as regiões brasileiras. Com isso pretende-se criar condições, nas

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escolas, que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos

socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania. Os

PCNS vêm com intuito de fortalecer a Escola como unidade do sistema escolar,

credenciá-la para a elaboração de um projeto educacional.

Com base no que diz os PCNS sobre o nível de projeto educativo:

O projeto educativo precisa ter dimensão de presente, a criança, o adolescente, o jovem vive momentos muito especiais de suas vidas; vivenciam tempos específicos da vida humana e não apenas tempos de espera ou de preparação para a vida adulta. Daí a importância de a equipe escolar procurar conhecer, tão profundamente quanto possível, quem são seus alunos, como vivem, o que pensam, sentem e fazem. Quando os alunos percebem que a escola atenta às suas necessidades, os seus problemas, as suas preocupações, desenvolvem autoconfiança e confiança nos outros, ampliando as possibilidades de um melhor desempenho escolar; isso vale também para os adultos que trabalham na escola ou que estão de alguma forma, envolvidos com ela: professores, funcionários, diretores e pais. (BRASIL, 1997, p. 87)

Todos os níveis do planejamento deveriam tomar como base os parâmetros

curriculares nacionais.

Partindo agora para outro nível de abrangência do planejamento, segundo

Vasconcellos (2000, p. 96) o: “Projeto de ensino aprendizagem, que é o planejamento

mais próximo da prática do professor e da sala de aula, diz respeito mais restritamente

ao aspecto didático. Pode ser subdividido em projeto de curso e plano de aula”.

A Escola, além de desenvolver todos esses níveis de planejamento já acima

citados, também deveria desenvolver o planejamento de projeto de trabalho que

geralmente assume caráter interdisciplinar, como afirma Vasconcellos (idem): “O

projeto de trabalho é o planejamento da ação educativa baseado no trabalho por

projeto: são projetos de aprendizagem desenvolvidos na escola por um determinado

período, geralmente de caráter interdisciplinar.”

Todas as modalidades de planejamento dentro de uma instituição de ensino

procuram atender aos PCNS, seguindo-o fielmente ou apenas baseando-se nele, mas

sempre de acordo com o que ele diz.

OS PROFESSORES E O PLANEJAMENTO

O ato de planejar é de fundamental importância na vida de todo ser humano,

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principalmente quando esse planejar influencia num bom desempenho de crescimento

intelectual, como é o caso do planejar a educação. Esse tipo de atitude favorece a

organização das ações pedagógicas bem como estabelece uma metodologia de

seqüência lógica, que influi nos futuros resultados de ensino aprendizagem no quais

professores e alunos estão submetidos dentro do espaço da sala de aula.

O planejamento proporciona ao professor uma linha de raciocínio, que

direciona-o em suas ações, sendo que a ação docente vai ganhando eficácia na medida

em que o professor vai acumulando e enriquecendo experiências ao lidar com situações

concretas de ensino, pois segundo Libanêo (1994, p. 225): “O professor serve, de um

lado, dos conhecimentos do processo didático e das metodologias específicas das

matérias e, de outro, da sua própria experiência prática”. O docente, a cada nova

experiência, vai assim criando sua didática, e com isso, enriquecendo sua prática

profissional e, também, ganhando mais segurança, sendo que agindo dessa forma, o

professor acaba usando o seu planejamento como fonte de oportunidade de reflexão e

avaliação da sua prática.

O professor precisa estar preparado, também, para os momentos em que o seu

planejamento necessite ser modificado sem que com isso o planejamento perca a sua

essência, observando também que planejar não significa alienar-se da realidade dando

assim autonomia para que o mesmo adapte o seu planejamento a cada realidade de sala

de aula. Mas para que isso aconteça realmente, o professor necessita, cada vez mais,

compreender que o planejamento é uma prática que procura ajudar a sanar problemas de

organização de conteúdos e que ele, por si próprio, não é a solução absoluta de todos os

problemas que surgirão quanto a organização metodológica, tendo em vista que o

planejamento é somente um passo de uma caminhada longa. Como afirma Libanêo

(1994, p. 225): “O planejamento não assegura, por si só, o andamento do processo de

ensino”.

O importante é salientar que o planejamento sirva para o professor e para os

alunos, que ele seja útil e funcional a quem se destina objetivamente, através de uma

ação consciente, responsável e libertadora, desconsiderando a noção de planejamento

como uma receita pronta, pois sabemos que cada sala de aula é uma realidade diferente,

com problemas e soluções diferentes; cabe ao professor, em conjunto com os demais

profissionais na área de educação pertencentes a escola, adaptar o seu planejamento,

para que assegure o bom desenvolvimento a que ele se propõe, que é o de nortear as

práticas docentes em sala de aula. Em alguns determinados momentos os professores

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mostram-se descrentes, na metodologia do planejamento.

Segundo Menegola e Sant’Anna (2001, p. 43), alguns professores não

simpatizam com o ato de planejar:

Parece ser uma evidência que muitos professores não gostem e pouco simpatizem em planejar suas atividades escolares. O que se observa é uma clara relutância contra a exigência de elaboração de seus planos. Há uma certa descrença manifesta nos olhos, na vontade e disposição dos professores, quando convocados para planejamento.

O que acontece com esses profissionais para que mostrem-se desmotivados

com a metodologia do planejamento ninguém sabe ao certo, mas acreditamos que seja

devido à descrença, pois esses profissionais acreditam que planejar é apenas atender à

burocracia escolar, evidenciando a não utilização do que se planeja, pois a partir do

momento que não acreditamos nos resultados de nossas ações deixamos de praticá-las

da forma que ela está prevista, ou seja, planejamos mas não usamos o planejamento,

tendo em vista que não acreditamos no possível sucesso desta metodologia. Cabe ao

professor uma mudança de postura: procurar conhecer melhor as vantagens e

desvantagens de usar o planejamento para então, depois, resolver se é ou não viável a

utilização dessa metodologia, que encontra-se desacreditada por alguns docentes.

FLEXIBILIDADE EM QUESTÃO

É comum quando ouvimos falar em planejamento, também ouvirmos falar

sobre a flexibilidade, que necessita ser uma característica essencial do planejar, mas por

outro lado, segundo Vasconcellos (2000, p. 159), há uma questão que precisa ser levada

em considerarão pelo planejador:

Estamos aqui correndo o risco de duas tentações extremas: de um lado, o planejamento se tornar o tirano da ação, ou de outro, se tornar um simples registro, um jogo de palavras desligado da prática efetiva do professor.

Segundo Vasconcellos (2000), observamos que ao planejar corremos dois

grandes riscos: de ficarmos presos ligados ao extremo no planejamento, alienando-nos

da realidade, tornando-nos tiranos da ação. Já por outro lado, também corremos o risco

de sermos flexíveis aos extremos, perdendo assim a essência do planejamento, deixando

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que essa metodologia torne-se algo banal, ou seja, um simples registro, um jogo de

palavras totalmente desligados da prática do educador em sala de aula.

Vasconcellos (2000, p. 159) procura atentar-nos para um ponto muito

importante:

Precisamos distinguir a flexibilidade de frouxidão: é certo que o projeto não pode se tornar uma camisa de força, obrigando o professor a realizá-lo mesmo que as circunstâncias tenham mudado radicalmente, mas isto também não pode significar que por qualquer coisa o professor estará desprezando o que foi planejado.

O planejamento não pode ser colocado, como diz Vasconcellos, como uma

camisa de força, que aprisiona quem a veste, mas, por outro lado, a frouxidão das ações,

também não pode ser encarada como um fator positivo, pois pode colocar o

planejamento em uma posição ridicularizada, fazendo com que ele perca a sua

credibilidade, que arranha ainda mais a imagem de uma prática, que para alguns

professores já nasce fadada ao descrédito.

Uma coisa é certa, em qualquer momento, alguma das ações previstas pelo

planejamento não serão concretizadas mas, saibamos que isto ficará por conta de fatores

adversos, que são difíceis de serem previstos, ou seja, significa que se algo não for

realizado como estava previsto no planejamento, uma explicação lógica para a sua não

realização deverá partir do professor para justificar a tal mudança.

O mais importante deve ser a postura de comprometimento que o professor

deverá assumir, visando a prevenção de uma possível acomodação, já que o

planejamento pode assumir uma postura flexível em alguns raros momentos.

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