O Poder Da Identidade.cap 1

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  • 5/12/2018 O Poder Da Identidade.cap 1

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    Manuel Castells

    o P OD ER D A ID EN TID AD EV olu me II

    Traductio: Klauss Brandini Gerhardt

    ffiP AZ E T ER RA

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    (Q Manuel Castells 1996, The John s Hopkins Univer si ty Pres sTraduzido do origina l: T b e p o w er oj identi ty

    ClP-BrasiL Catalogao:;ao-Na-Fonte

    (Sindicato Nacional dos Editores de Livros, R], Brasi l)Sa o Pau lo : P az e Ter ra , 1999.

    Inc lu i b ib liogra fia c ind ice rerniss ivo

    c344pCastells, Manuel, 1942-

    O d da id id de / Manuel Castclls . traducao Klauss Brandini Gerhardt.po cr a 1 cntr It _C ,- ( , T_ Sao Paulo: Paz e Terra, 1999. _ (A e ra c ia infor l11 ao: ;i io : ee onomia, s oc ic da de e cu ltur a ;v .2)

    Traduc ao de : The powe r o f iden ti tyInclui apcndiccs c bibliografia

    ISBN 85-219-0336-71 .Govc rn o rep re se nt at ivo e rcp rc sc nt ac ao . 2 . Auroritarisrno. 3. Democracia.

    1. S te pa n, A lf re d. I I.

    99-0624 CDD 321.8CDU 321 .7

    EDlTORA PAZ E TERRA S.A.Rua do Triunf o, 177

    01212-010 - S ao Pau lo-SPTel.: (011) 223-6522Fax: (011) 223-6290

    1999Impressa no Brasi l I Printed ill Brasil

    . Prefaciopar Ruth Correa Leite Cardoso

    Vejo este livro como uma grande aventura, e seu autor como urn grande desbra-vader . Levando uma bagagem pesada , com mui ta sociologia , bas tante antropologia euma visao poli ti ca c la ra , Manuel Castel ls par tiu para visi ta r 0 mundo. Tal como osviajantes antigos, observou detalhes, interessou-se pelas diferencas e pelas peculiari-dades , procurando urn f io de meada que pudesse explicar 0 mundo p6s -moderno oupes -indus tr ial ou qua lquer outro nome que se que ira dar para as novidades do rnundogJoba lizado. 0 desa fio e ra compreender a diversidade de manifest acoes que se repe-t iam em mui tos pai ses sem ser iguai s e que nem se sabe sepoder iam ser c1as si fi cadascomo da mesma especie,

    o desaf io era grande mas agora sabemos, lendo seu s Iivros, que encontrou aspis tas que procurava e com elas decifrou 0 rnisterio. Sua grande contribuicao foi ofe-recer uma expli cacao abrangente , inst igante , que renova a teori a da rnudanca soc ia l eapresenta uma visao total izante que engloba as transformacoes tecnol6gicas, a culturae a sociedade.

    Para a tingi r esse objet ivo inovou ta rnbern no campo da metodologia : a estudode caso, a observacao participante e a preocupacao corn a cornparacao estavarn semprepresentes (como na melhor t radicao ant ropologica ), mas sem esquecer que 0 objetivoera , e e , chegar a uma visao compres siva em que 0 geral nao seja urn empobrecimentodo especffico, A diversidade e desaf iante, mas a lguns (entre os quai s Castel Is) a indaacreditam que e preci so ref le tir sobre os eontextos novos ern que se desenrola a vidasocial para compreender os mecanismos de mudancas e , par tindo des sas s ituacoes,buscar urn novo quadro te6rico para explica-los ,No volume I desta se ri e, Caste ll s rnost rou 0 efeito das imensas transforma-

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    Sumario

    Figuras :.... 9Tabelas IIQuadros _ 13Agradecimentos " 1 5Introdneao-Nosso rrnmde, nossa vida ,. 17I. Parafsos cornunais: ideutidade e significado na

    sociedade em rede 21A construcao da identidade , 22Os paraisos do Senhor: fundamentalismo religiose e identidacle cultural 29

    Umma versus Jahiliya: 0 fundamentalismo islamico 30Deus me salve! 0 fundamentalismo cristae norte-arnericano 37

    Nacoes e naciona li srnos na e ra da glcba lizacao: comunidadesimaginadas ou imagens cornunais? 44

    As nacoes contra 0 Estado : a d issolucao da Uniao Soviet ic a e da Comunicladede Estados Impossiveis (Sojuz Nevozmaznykn Gosudarstv) 49Nacoes sem Estado: a Catalunya 60As nacoes da era da informacao , 69

    A desagregacao etnica: raca, cla sse e identidade nasociedade em rede 71

    Identidades territoriais: a comunidade, local 78Conclusao: as cornunas culturais da era da informacao 842. A outra f ac e d a T en -a : r no vim e nto s s oc ia is c on tr a a n ov a o rd em g lo ba l . .. . 9 3

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    6 Surmirio Surnario 7

    Globalizacao, inforrnacionalizacao e rnovim entos sociais 93O s z ap ati sta s d o M e xic o: 0 p rim e ir o m o vim e nt o d e g ue rr il ha

    inform acional................ 97Quem sa o o s zapatistas? 98A e st ru tu ra d e v alo re s d os zapatistas: identidade, adversaries e ob je t ivo s 1 01A estrategia de com unicacao dos zapatistas: a Internet e a rnfdia 1 03A re lac ao c on tra dito ria e ntre rn ov im en to so cial e

    i ns ti tu ic a o p ol iu ca 1 06A s arm as co ntra a nov a ordem mundial: a Milicia Norte-Americana e 0

    Movimento Patri6tico dos anos 90 1 08As milicias e o s p atrio tas: u ma rede de informacoes de multiples

    ternas 1 1 2As bandeiras dos patriotas 1 1 8Quem sao os patriotas? 1 21

    As milicias, os patriotas e a s ociedade norte-am ericana dos anos 90 1 22Os L am as do Apocalipse: a Verdade Suprem a do J apao 1 23

    A sahara e 0 surgim ento da Verdade Suprem a 1 24M eto do lo gia e c re nc as d a V erd ad e S up re ma 127A Verdade Suprema e a sociedade japonesa 1 28o 5ignificado das msurreicoes contra a n ova ordern global 1 31

    Conclusao: 0 desafio a globalizacao 1363.0 "verdejar" d o se r: 0movimento ambientalista 141A dissonancia criativa do ambientalisrno: uma tipologia 1 43o s ig nif ic ad o d o "verdejar": questoes s oc ie ta is e 0 desafio

    do s ecologistas : 1 53o a mb ie nta li sm o em acao: fazendo cabecas, domando 0 capital, cortejando 0Estado, dancando conforme a m idia 1 61

    J us tic a a mb ie nta l: a n ov a f ro nte ir a d os e co lo gi sta s 1654.0 tim d o p atriarc alism o: m ov im en to s sociais, familia e s exua li dade

    na era da inforrnacao 1 69A crise da fam ilia patriarcal 1 73

    As mulheres no mercado de trabalho 1 91o p od er d a c on gr eg ac ao f em in in a: 0 Movimento Ferninista 21 0Fem inismo americano: uma continuidade descontfnua 21 2o feminismo e global? 220Feminismo: uma polifonia instigante 229

    o po der d o arnor: m ov im entos d e libertacao lesbiano e gay 238Feminismo, lesbianismo e liberacao se xu al e m Taipe 24 1Espacos de liberdade: a comunidade gay de Sao Francisco 248Resumo: identidade sexual e a f am flia patriarcal 256

    Famflia, sexualidade e p ersonalid ad e na c rise d o parriarcalisrno 257A f arr uli a q ue e nc ol he u drasticarnente 257A re pro du ca o d a f ig ura m ate rn a e rn re la ca o a n ao -re pro du cao d opatriarcalismo 26 4Id en tid ad e c orp ora l: a (rejconstrucao da sexualidade , 271Personalidades flexiveis em urn m undo p6s-patriarcal 275

    Sera 0 f im do pa tr ia rca li smo? 27 75. Urn Estado destitufdo d e p od er ? 287A g lob alizacao e 0 Estado 288o ruicleo transnacional das econom ias nacionais 288

    A va lia eao e sta tistic a d a n ov a c ris e f is ca l d o E sta do n a e co no miaglobal 290

    A g lob alizacao e 0 Estado do bern-estar social 296R ed es g lo ba is d e c om un ic ac ao , au die nc ias lo cais , in ce rte za s so bre

    regularnentacfies 298Urn mundo sem lei? 303o Estado-Nacao na era d o multilateralisrno 306o g ovem o global e 0 super Estado-Nacao : 31 1

    Identidades, govemos locais e a d esconstrucao do Estado-Nacao 31 5A identificacao d o Estado 31 9A s c ris es c on te rn po ra ne as d os E st ad os -N ac ao : 0 Estado m exicano do PR I e 0

    governo federal dos EUA nos anos 90 322

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    8 S u m: 1r i o

    NAFfA, Chiapas, Tijuana e os estertores do Estado do PRI 322o povo contra 0Estado: a pe rda grada t iva da legitimidade do governafederal dos EUA 334

    Estrutura e processo na crise do Estado ,,, ,, 345Estado, Violencia e Vigilancia: do "Grande Irrnao" as "Irmazinhas" 348A crise do Estado-Nacao e a teoria do Estado 352.Conclusao: 0 Rei do Universo, Sun Tzu e a crise da democracia 3566. A polftica informacional e a crise da democracia 365Introducao: a polftica da sociedade 365A mfdia como espaco para a politica na era da inforrnacao 369

    A midia e a politica: a conexao des cidadaos " 369A polftica showbiz. e 0marketing politico: 0modelo

    norte-americano 374Estani. a polft ica europeia passando par urn processo de "americanizacao"? ..381o populismo eletronico da Bolfvia: compadre Palenque e a chegada doJach'a Uru 386

    A politica informacional em acao: a polftica do escfindalo 391A crise da democracla " 401Conclusao: a reconstrucao da democracia? 409Conclusao: A transformacao social na sociedade em rede 417Apendice Metodologico " 428Resumo do Indice dos Volumes I e III 461Bibliografia 463Indice rernissivo 491

    fr

    4.54.6

    4.7

    4.8a4.8b

    4.9

    t 4.10"

    Figuras

    2. 1 Distribuicao geografica dos grupos patriotas nos EUA por mirnerode grupos e campos de treinamento pararnilitar nos estados norte-arnericanos, 1996,............................................................................ 114Curvas de soorevivencia dos casameotos na I talia, AlemanhaOcidentale- Suecia; maes nascidas entre t934-38 e entre 1949-53 . .. 176Evolu~i'io do rnirnero de primeiros casamentos em paises da UniaoEuropeia a partir de 1960 178indices brutos de casamentos em pafses selecionados 179Proporcao ( 0 / 0 ) de mulheres (15 a 34 anas) cujo primeiro f ilho nasceantes do primeiro casarnento, por raca e etnia, nos Estados Unidos ,1960-89 " 182Sfntese da taxa de fertilidade em paises europeus a partir de 1960 1 8 8Indice total de fer ti lidade e mimero de nasc. imentos nos EstadosUnidos, 1920-90 189Aumento dos indices de emprego no seto r de services e daparticipacao feminina, 1980-90 "..................... 194Percentua l de mulheres na forca de t raba lho par tipo de funcao .. 197Farnf lias nos Estados Unidos em que as esposas par ticipam daforca de trabalho, 1960 -90 : 198Mulheres com ernpregos de meio expediente, po r tipo de familia,em pafses membros da Comunidade Europeia, 1991 209Inter-relacao dos diferentes aspectos da sexualidade voltada parapessoas do rnesrno sexo 242

    4.l

    4.2

    4.34.4

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    I_t

    Manuel Castells

    o P OD ER D A ID EN TID AD EV olu me II

    Traduciio: K la us s B ra nd in i G e rh ar dt

    Data: ffiP AZ E T ER RA

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    20 Introduciio: Nosso mundo, nossa vida

    s ig nif ic ad o d es se c on ce ito , a pre se nto d es de ja m in ha d ef in ic ao d e m ov im e n-t os s oc ia is : s ao a r; oe s c ole ti va s c om u rn d ete nn in ad o p ro po si to c ujo r es ult ad o.ta nto e m ca so d e suc esso c om o d e f ra ca sso, tra nsf orm a os v alores e institu i-c ;: oe sd a s oc ie da de . C on sid era nd o q ue n ao h a p er ce pc ao d e h is to ria a lh eia ah i st o ri a que pe r cebemos , do ponto de vista analitico, n ao e x is te rn mov imen to ss oc ia ls " ba ns " a u "r na us ", p ro gr es sis ta s a u r etro gra de s. S ao e le s re fle xe s d oq ue s om os , c am in ho s d e n os sa tra ns fo rm a ca o, u ma v ez q ue a tra ns fo rrn ac aopod e levar a urna gam a v ariada d e parafsos, de infernos au d e infernos pa-r ad is fa co s. N ao s e t ra ta d e o bs er va ca o m e ra m en te in cid en ta l, v is to q ue o s p ro -cessos d e transform acao social em nosso m und o nao raro tom arn form a def an at ism o e v io le nc ia q ue n ao c os tum amo s a ss oc ia r a mudanc a s oc ia l p os it iv a ,N ao o bs ta nte a tu do iS50, este e n osso m und o, isto som os n os, e m n ossa co n-t ra d it or ia p lu ra li dad e, e e is to q ue te rn os d e c omp re en de r, s e f or a bs ol ut am e n-te n ec es sa ria e nf re nta -Io e s up era -lo . Q ua nto a o s ig nif ic ad o d e i SIO e de nos,c on vid o- os a d es ve nd a- lo p ela le itu ra d o q ue s eg ue .

    1Paraisos comunais:

    identidade e significado na sociedade em rede

    Notas

    A capital esta proxima ii MOJI IGI iF ia Zhong;Resplandescem os palacios e usportais;Florestas ejardins luxuriantcs exalani delicioso perfume;Cassias c orquideas cotnpletam-se em sua beleza.Gpo/c ic io proibido J magnifico:E di {r ci as e !lal'illlf)(;'.I r i a a l t ur a c i t ' ('('111IIIda res.Suloes e entradas, maravilltosos e brilhantes:Gongos e slnos ressoam melodiosaniente.As torres alcancam as ceus;No s a/tares, animais sa o ofenados em sacrificio.Linipos e flit rificados.jejuamos c 110 .1' banltamos.S0l110S rcspeitosos e r/I'\'II/O.l' /1(1 ndo/'(l((/o.G lo r if ic ad o s e . I'e re n o, \ n o p rr ce .1! '1IJ JIO.\StI.\)('I'I'Ol'ii.\II.I' si in l icas,coda um busca alegria efelicidade.as povos incivilirados efronieiricos rendem-nos tributos,E os bdrbaros estdo subjugados.N,Io importa a vastidiio do territorio,Todos estardo subsnctidos ao IIOSSIJ dominio.

    I. Poema declarnado no dia ciaposse do presidenre dos Estados Unidos, 22de janeiro de 1993.

    Hong XiuquanF ora rn e ss as a s p ala vra s d o "C on to lrn pe ria l d e M il P ala vr as ", d e a uto ria

    d e H on g X iu qu an , m e nto r e p ro fe ta d a R eb elia o T aip in g, a p6 s e sta be le ce r s eure in o ce lestia l e m N anjing e m 1 85 3. 1 0 objetivo da revolta de T aiping T ao(C am in ho d a G ra nd e P az ) e ra c ria r u rn re in o c orn un al, f un da rn en ta lis ta n eo -cristae na C hin a. P Ol' m a is d e u ma d ec ad a, 0 re in o fo i o rg aniz ad o seg und o ar ev ela ca o d a B fb lia q ue H on g X iu qu an , c om o e le p ro prio a firr na va , re ce be rad e s eu irm a o m a is v elh o, J es us C ris to , a po s h av er s id o c on ve rtid o a o c ris tia -n is mo p ar m is sio na rie s e va ng elic os . E ntre 1 84 5 e 1 86 4, a s p re ce s, o s e ns in a-menros e os exercitos de Hong abalararn tada a China, e 0 rn un do , p ois

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    22 Puraisos comunuis: ide nridade e significado na socicdude em rcde

    i nte rf er ia rn n o c re sc en te c on tr ol e q ue v in ha s en d o e xe rc id o s ob re 0 I mp erio d .M eio pelos estrangeiros. 0 R eino T aiping pereceu da m esm a m aneira ques ub sis tiu , e m m e io a s an gu e e f og o, c eif an do a v id a d e 2 0 m ilh oe s d e c hin es es .o reino a lim en to u a e sp eran ca d e c ria r u m pa ra iso te rre stre co mb ate nd o o sdem 6nios que se haviam apossado da C hina, de m odo que "todo 0 p ov o pu -d esse v iv er e m f elic id ad e e te rn a a te qu e, fin alm ente , seria m le va do s ao c eup ar a s au da r 0 Pai".' E ra um a epoca d e crise para a m aquina b urocratica d oE sta d o e a s t r ad ic oe s mo ra is , d a g lo ba li za ca o d o c or ne rc io , d o l uc ra ti vo tr af ic od e d ro ga s, d o ra pid o p ro ce ss o d e in du str ia liz ac ao q ue s e a la str av a p elo m u n-d o, d as m is so es re lig io sa s, d o e m po bre cim e nto d os c am p on es es , d as c on vu l-sees nas estruturas fam iliares e d e com unid ad es, d e rnalfe itores locais eex erc ito s in te rna cio na is d a d if usa o d a im pre nsa e d o a na lfa be tism o e m m as-sa , u ma c po ca d e inc erie za e desesperanca, d e c ris e d e id en tid ad e, e nf irn , o u-tros te mpo s. O u sera qu e n ao?

    A construcao da identidadeE nte nd e-se p or id entid ad e a fon te d e sig nif ic ad o e e xp erien cia d e urn

    p ov o. N as p ala vra s d e C alh ou n:Nao temos conhecimento de urn povo que nao tenha nomes, idiomas oucul turas em que a lguma forma de dis tincao entre 0 eu eo outro , n6 s e eles,nao seja estabelecida . .. 0 autoconhecimento - invariavelmente urna cons-trucau, nao importa 0 quan ta possa parecer u rna descoberta - nunca estatotalrnente dissociado da necessidade de ser conhecido, de modos especffi-cos, pelos ourros. '

    N o q ue d iz r es pe ito a a ta re s s oc ia is , e nte nd o p or id en tid ad e 0 processod e c on struc ao d e sig nifica do c om b ase e m u rn atrib uto cu ltu ra l, o u a in da urnc o nj un to d e a tr ib u to s c u Jt ur ai s i nt er -r el ac io n ado s, o (s ) q u al (a is ) p re v al ec e (m )s ob re o utr as f on te s d e s ig nif ic ad o. P ara u rn d ete rm in ad o in div id uo o u a in dau rn a to r c o le ti vo , p o de h ave r i de n ti dad e s rm il ti pl as , No entanto, e ssa p l ur a li dadee fo nte d e te ns ao e c on tra dic ao ta nto n a a uto- re pres en ta ca o qu anta n a a ~aosocial. 1550 porque e n ec es sa rio e sta be le ce r a d is tin ca o e ntr e a id en tid ad e e 0qu e tra dic io na lm ente o s soc iolog os tern c ha ma do d e p ape is, e c onjun tos d ep ap eis . P a pe is ( pa r e xe rn plo , s er t ra ba lh ad or , m a e, v iz in ho , m i lit an te s oc ia li s-ta , s in dic alis ta , jo ga do r d e b as qu ete , f re qu en ta do r d e u ma d ete rm in ad a ig re ja,

    Puraisos cornunais: identidade e significado na socicdade em rede 23

    e f ur na nte , a o m e sm o te m po ) s ao d ef in id os p or n orm a s e stru tu ra da s p ela s in s-ti tu ic oe s e o rg an iz ac oe s d a s oc ie da d e. A ir np or ta nc ia r ela tiv a d es se s p ap ei s n oa te d e i nf lu en ci ar 0 c om po rta me nto d as p essoa s d ep end e d e ne goc iac oe s ea co rd o s e nt re o s i nd iv id uo s e e ss as i ns ti tu ic oe s e o rg an iz ac oe s. Jd en ti oa d es ,p ar s ua v ez , c on stitu em f on te s d e s ig nif ic ad o p ar a o s p r6 prio s a to re s, p or e le so ri gin ad a s, e c on st ru fd as p or m e io d e u rn p ro ce ss o d e i nd iv id ua ca o. " Emb or a,c on fo rm e a rg um e nta re i a dia nte , a s id en tid ad es ta rn be m p os sa m s er f orm a da sa p ar tir d e in stitu ic oe s d om in an te s, s om e nte a ss um e m ta l c on dic ao q ua nd o es e o s a to re s s oc ia is a s i nte m aliz am , c on str uin do s eu s ig nif ic ad o c om b as e n es -s a in te rn al iz ac ao . N a v e rd ad e, a lg um a s a ut od e fin ic oe s p od em t amb er n c oin ci-dir com papeis sociais, por exem plo, no m om enta em que ser pai e a r na isirn po rta nte a uro de fin ic ao d o p on to d e v is ta d o a to r, C on tu do , id en tid ad es s aoto nte s m a is im p or ta nte s d e s ig nif ic ad o d o q ue p ap eis , p or c au sa d o p ro ce ss od e a uto co ns tru ca o e in div id ua ca o q ue e nv olv em . Em te rm o s m a is g en eric os ,p od e -s e d iz er q ue id en tid a de s o rg a ni za rn s ig n if ic ad os , e nq ua nt o p ap ei s o rg a-n iz am f un co es . D e fin o significado c om o a id en tif ic ac ao s im b 6lic a, p ar p ar ted e u m a to r s oc ia l, d a f in alid ad e d a a ca o p ra tic ad a p or ta l a to r, P ro po nh o ta m -b er n a id eia d e q ue , p ar a a m a io ria d os a to re s s oc ia is n a s ocie da de e m r ed e, po rmo tiv os q ue e sc la re ce re i r na is a d ia nte , 0 s ig nif ic ad o o rg an iz a- se em t or no d eum a id e nt id a de p rim a ri a ( um a id e nt id a de q ue e str ut ur a a s d em a is ) a uto -s us te n-tavel ao long o do tem po e do espaco. E mbora tal ab ord agem se aproxim e daf o rmu la c ao d e i d en ti d ad e p ro p os ta p o r E r ik s on , e s ta re i c o nc e nt ra d o b a si cament en a i de nt id ad e c ol et iv a, e n ao in di vid ua l. 0 in di vid ua lis rn o ( di st in to d a id e nt i-d ad e in div id ua l), c on tu do , p od e ta m be m s er c on sid era do u m a f orm a d e " id en -tid ad e c ole tiv a" , c on fo rm e o bs er va do n a " cu ltu ra d o n ar cis is mo " d e L as ch .'

    N ao e d if tc il c on co rd ar c om 0 f at e d e q ue , d o p on to d e v is ta s oc io l6 gi co ,to da e q ua lq ue r id en tid ad e e c on stru fd a. A p rin cip al q ue sta o, n a v er da de , d izresp eito a c om o, a pa rtir d e q ue , pa r qu em , e pa ra q ue isso a con tec e. A c ons-tru ca o d e id en tid ad es v ale -s e d a m a te ria -p rim a f or ne cid a p ela h is to ria , g eo -g ra fi a, b io lo gi a, i ns ti tu ic oe s p ro du ti va s e r ep ro du ti va s, p ela m em6r ia c ol eti vae p or f an ta si as p es so ais , p elo s a pa ra to s d e p od e r e r ev e la co es d e c un ho r eli gio -s o. P or er n, to do s e ss es m a te ria is s ao p ro ce ss ad os p elo s in di vi du os , g ru po s s o-c ia is e s oc ie da de s, q ue r eo rg an iz ar n s eu s ig nif ic ad o e m f un ca o d e te nd en cia ss oc ia is e p ro je to s c ultu ra is e nr aiz ad os e m s ua e stru tu ra s oc ia l, b er n c om o e ms ua v is ao d e te rn po /e sp ac o. A ve nto a qu i a h ip 6te se d e q ue , e m lin ha s g era is ,q ue m c on stro i a id en tid ad e c ole tiv a, e p ar a q ue e ss a id en tid ad e e c on stru id a,s ao e m g ra nd e m e did a o s d ete rm in an te s d o c on te iid o s ir nb olic o d es s a id en ti-d ad e, b ern c om o d e s eu s ig nif ic ad o p ara a qu ele s q ue c om e la s e i de ntif ic am o u

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    24 Paraisos comunais: i denudade e s igni fi cado na soc iedade em r ede Paraisos comunai s : idernidade c significado na sociedade em rcde

    d ela se e xc lu ern . Um a v ez q ue a c on stru ca o so cia l d a id en tid ad e s em pre o co r-re em urn contexte m arc ad o p or relacoes de poder, proponho um a distincaoe ntr e tr es f or m as e o rig en s d e c on st ru ca o d e i de nt id ad es : Identldade legltimadora: introduzida p el as i ns ti tu ic oe s d or ni na nt es d a so -

    ciedade n o in tu it o d e e xp an di r e r ac io na liz ar s ua dominacao em r ela ca o a osa to re s s oc ia is , te ma e ste q ue e sta n o c ern e d a te oria d e a uto rid ad e e d om in a-v ao d e S en ne tt ," e s e a pli ca a d iv er sa s te or ia s d o n ac io na li sm o .'

    Identidade de resistencia: criada p or a to re s q ue se e nc on tra m e m posicoes/condicoes d es va lo riz ad as e /o u e sti gm a ti za da s p eJ a 1 6 gic a d a d om in ac ao .:c on st ru in do , a ss im , tr in ch eir as d e r es is te nc ia e s ob re viv en ci a c om b as e emp ri nc ip io s d if er cn te s d os q ue perrneiarn as instituicocs d n s oc ie da de , o u nics-m o opostos a estes ultim os, conform e prop6e C alhoun ao explicar 0surgimento d a p oli tic a d e identidade."

    Identidade de projeto: q ua nd o o s a to re s s oc ia is , u tili za nd o- se d e q ua lq ue rtipo d e m ate ria l c ultural ao se u a lc anc e, con stroem um a nov a identidadec ap az d e re de fin ir s ua p os ic ao n a s oc ie da de e , a o f az e- lo , d e b us ca r a tra ns -f orm ac ao d e to da a e stru tu ra s oc ia l. E ss e e 0 c as o' , p or e xemplo , d o f er ni-n is mo q ue a ba nd on a a s trincheiras de r es is te nc ia d a i de n ti dad e e do s d ir ei to sd a r nu lh er p ar a f az er f re nte a o p at ria rc al ism o, a f am il ia p at ria rc al e , a ss im ,a toda a estrutura de producao, reproducao, s ex ua li dad e e p er so na li dad es ob re a q ua l a s s oc ie da de s h is to ri cam en te s e e st ab ele ce ram .

    m e nt e c ar re ga c on sig o um a c on ota ca o p os it iv a d e r nu da nc a s oc ia l d er no cr ati -c a . En tr et an to , e s ta e n a v erd ad e a c on ce pc ao o rig in al d e so cie da de c iv il, c on -f or me f or m ul ad a p or G ram sc i, 0 me nt or i nte le ctu al d es se c on ce it o nmbtguo.N a conc epc ao d e G ram sc i, a soc ie dad e c iv il e constitu ld a d e um a seric d e" ap ar ar os ". t ai s c omo : a (s ) I gr ej a/ s) , s in d ic at os , p ar ti do s, c oo pc ra ti va s, e nt id a-de s civicas etc. que, se por um lado prolong am a d ina rnic a d o E sta do, poro utr o e sta o p ro fu nd am e nte a rr aig ad os e ntr e a s p es so as .? E p re c is amen te e ss ed up lo c ara te r d a s oc ie da de c iv il q ue a to rn a u m te rre no p riv ile gia do d e tra ns -fo rrnacoes po li ti c as , poss i bi li tando 0a rre ba ta me nto d o E sta do s em la nc ar m aod e u m ataq ue d ir eto e v i ol ent o . A conqu is ta do Estado pelas forcas da mudan-~a (d ig am os as Iorcas d o socialism o, no univ erse id cologico d e G rum sci) pre-s en te s n a s oc ie d ad e c iv il e p o ss ib il it ad a j us tament e p e la c on ti nu id ade d a r el ac aoe ntre a s in stitu ic oe s d a so cie da de c iv il e o s a pa ra to s d e p od er d o E sta do , o rg a-nizados em torno de u rn a i de nti da de s er ne lh an te ( ci dad an ia , d emoc ra c ia ,politizac ao d a transform ac ao social, confinarnento d o pod er ao E sta do e assu as ra rn if ic ac oe s, e o utra s s irn ila re s). O nd e G ra ms ci e T oc qu ev ille v ee m d e-m ocra cia e civ ilid ad e, F ouc ault ou S enne tt e, antes d ele s, H orkheirner ouM a rc us e, v ee rn d or ni na ca o in te rn ali za da e le git im a ca o d e um a id en ti da de irn-p os ta , p adr on iz ado ra e n ao- d if e re n ci ad a .o seg und o tipo d e construcao d e id entid ad e, a identidade destinada aresistencia, leva a f orm ac ao d e comunas, Oll comunidades, segundo Et zi on i .' ?E p ro va ve l q ue se ja e ss e 0 t ip o m a is im p or ta nte d e c on st ru ca o d e id en ti da deern nossa soc ie dad e. E le d a orig em a forrnas d e r es is te nc ia c ole ti va d ia nt e d eum a o pressao que, d o contrario, nao se ria suportav el, em g eral c om b ase ernidentidades que, aparenternente, forarn d ef in id as c om c la re za pela hist6ria,geografia o u b io lo gia , f ac ilita nd o a ss im a "essencializacao" do s limites dar es is te nc ia . P o r e x er np lo , 0 n ac io na lis mo f un da do n a e tn ia , c on fo rm e s ug ereScheff, geralmente "surge, por u rn lad o, a pa rtir d e urn sentimento d e a li en a -< ;f lo c . p or o ut ro . d e u rn r es se nt im e nt o c on tr ar io a e xc lu sa o i nj us ta , de naturezapolit ic a. c conornica ou socia l"." 0 Iund am entalisrno relig inso. a s c om unid a-des tcrritoriuis, a uuto-afirmaciin nacionalista ou rncsrno o orgulho de dcnc-grir-se a si proprio , invertendo as terrnos do discurso opressivo (como naculturada s "bichas loucas" d e a lg um as d as tendencies d o m ov im ento g ay), sa o todasrnanifestacoes d o q ue d en om in o exclusiio dos que excluem pelos excluidos, ous eja , a c on stru ca o d e u ma id en tid ad e d ef en siv a n os te rm o s d as in stitu ic oe s/i deo l og i as do rn i nan te s , r ever tendo 0 julg am ento d e v alores e, a o m esm o te m-p o, r ef or ca nd o o s l im it es d a r es is te nc ia . N e ss ec as o, s ur ge um a q ue sta o q ua nt aa c omu ni ca bili da de r ec lp ro ca e ntr e e ss as id en ti da de s exclufdas/excludentes,

    Ob viam en te , id en tid ad es q ue c or ne cam c omo r es is te nc ia p od em a ca ba rresultando em p ro je to s, o u mesrno tornarern-se d om in an te s n as instituicoes das oc ie da de , tr an sf or ma nd o- se a ss im em i de ntid ad es l eg itir na do ra s p ar a r ac io -n aliz ar s ua d om in ac ao . D e f aro , a d in am ic a d e id en tid ad es a o lo ng o d esta se -q ue nc ia e vid en ci a q ue , d o p on to d e v is ta d a t eo ri a s oc ia l, n en hum a id en ti da dep od e c on st it uir um a e ss en ci a, e n en hum a d el a s e ne er ra , per se, valo r p rogr es -s is ta au rerrogado se estiver f or a d e s eu c on te xto h is t6 ric o. Uma questao diver-sa e extremamentc importaruc, diz respeito ao s b e ne f fc io s g e rados pOl' partede cada identidade para as pessoas qu e a incorporam.

    Na minha visao, cad a tipo de processo de construcao de identidade levaa u rn r es ul ta do d is ti nto n o q ue ta ng e it c o ns ti tu ic ao d a s oc ie d ad e . A identidadelegit imadora dd origem a Ulna sociedade civil, o u se ja , u m c on ju nto d e o rg a-n iz ac oe s e in stitu ic oe s, b em c om o u ma se rie d e a to re s s oc ia is e stru ru ra do s eo rg an iz ad os , q ue , e mb ora a s v ez es d e m od o c on flita nte , re pro du ze m a id en ti-d ad e q ue ra cio na liz a a s f on te s d e d orn in ac ao e stru tu ra l. T al a firm ac ao p od ep ar ec er s ur pr ee nd en te p ar a a lg un s le it or es , p ois 0 t ermo soc ie d ad e c iv il g e ra l-

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    26 Parafsos cornunais: ldentidade e significado na sociedade em rede

    A resposta a essa questao, que somente pode ser ernpfrica e hist6rica, deterrni-na se as sociedades permanecem como tais ou fragmentam-se em uma conste-Iacao de tribos, por vezes renomeadas eufernisticamente de comunidades.o terceiro processo de construcao de identidade, a identidade de projeto,produz sujeitos, conforme definido por Alain Touraine:

    C h ar no d e s uj ei to 0 d es ejo d e se r um ind iv id uc , d ec ria r u ma h istoria pe sso al,de atribuir signif icado a t od o 0 c on ju nt o d e e xpe ri en c ia s d a v id a i nd iv id ua l . ..A transforrnacao d e i nd iv fd uo s e m s uj ei to r es ul ta d a c or nb in ac ao n ec es sa ri ade d uas afirm ac oes: ados ind ivfd uos c ontra as com unidade s, e ad os indivl-d uo s c on tr a 0mercado."Sujeitos nao sao individuos, mesmo considerando que sao constituidos

    a p ar ti r de indivfduos. Sao 0 alar social c ole tiv o pe lo qual. individuos atin-gem a signif icado holfs tico em sua exper iencia.! ' Neste caso, a construcaoda identidade consi ste em um proje to de uma vida diferente , ta lvez com baseem uma identidade opri .mida, porern expandindo-se no sentido da transfer-macae da sociedade como prolongamento desse projeto de identidade, comono exemplo menc ionado anteriormente de sociedade pos-patria rcal, resul -tando na liberacao das mulheres, dos homens e das criancas por meio dareali zacao da identidade das mulheres. Ou, ainda , de uma perspec tiva bas-tante di st inta, a reconc iliacao de todos os seres humanos como fieis, irrnaose irrnas, de acordo com as leis de Deus, seja Ali ou Jesus, como conseqiien-c ia da conversao das sociedades infiei s, materia listas e cont rarias aos valo-res da familia, antes incapazes de satisfazer as necessidades humanas e osdesignios de Deus,

    Como, e por quem, diferentes tipos de identidades sao construidas, ecorn qua is resul tados, sao questoes que nao podem ser abordadas em linhasgerais, abstratas: estao estritamente relacionadas a um contexto social. A poli-rica de identidade, escreve Zaretsky, "deve ser situada historicamente"."

    Ass im, nossa discussao estara inserida em um contexto especif ico, qualseja, 0 surgimento da sociedade em rede. A dinarnica da identidade nesse con-texto pode ser bern cornpreendida se comparada a caracterizacao de identida-de claboruda pm Giddcns durante a "rnodernidade tardia", urn perfodo historicoque, crcio eu, rcflete um a era que chega ao seu Iim --:-com que abso lu tamemeni'in prctcndn ~tlgcrir que-cstcjnrnos de nlzum modo chegnndo no "tim da his-(1)I'i;I", L11111llJllll' pllslulmo LllIlIlglllllllS I.!xll'uvngllllciHs p(,S-lllotlcl'IIllX. Eill UIl

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    28 Puraisos comunais: identidade e sigl1~ficad.(lria socredndc em rcdc

    q ue sta o, A pre se nto a h ip ote se d e q ue a c onstitu ic ao d e su je ito s, no ce rne d op ro ce ss o d e tra ns fo rm a ca o s oc ia l, to m a u rn ru m o d iv ers e d o c on he cid o d ura n-te a m od ernid ad e d os p rim eiro s te mp os e e m se u p erio do m ais ta rd io, ou se ja ,sujeitos, se e quando construidos, niio siio mais formados com base ern socie-dades civ is que esti io em processo de desintegracdo, mas sim como um.pro-longameruo da resistencia comunal. E nq ua nto na m od ern id ad e a identidaded e p ro je to f or a c on stitu ld a a p artir d a s oc ie da de c iv il (c om o , p or exernplo, nosocialisrno, c om b as e no mov imento trabalhista), n a s oc ie d ad e e ~ rede, a iden-tidade de p ro je t o, se e q ue se p od e desenvolver, origina-se a partir da resisten-cia cornunal . E esse 0 s ig n if ic ado r ea l d a n o va p rimazi a d a p o li ti ca d e i de n ti dad en a s oc ie d ad e em r ed e. A a na li se d o s p ro ce ss os , c on di co es e r es ul ta do s d a t ra ns -formacao da resistencia cornunal em sujeitos transformacionais e 0 terrenoi d ea l p a ra 0 d es en vo lv im e nto d e u m a te or ia d e tra ns fo rrn ac ao s oc ia l n a e ra d ainformacao.T en do c he ga do a u ma f orm ula ca o c on je tu ra l d e m in ha s h ipo te se s, se -r ia c on tr ar io a os p rin ci pi os m e to do lo gi co s d es ta o br a d e ix a- la em b re nh ar -s eainda mais pelo cam inho d a teorizacao a bstra ta , q ue lo go c airia n o ca mpod as r ef ere nc ia s b ib lio gra fic as . P ro cu ra re i s ug erir a s im p lic ac ce s e xa ta s d em in ha a na lis e a te nd o- m e a o e xam e d e u m a s erie d e p ro ce ss os f un dam en ta lsp ara a c on stru ca o d a id en tid ad e c ole tiv a, s ele cio na do s p or s ua re le va nc ia n op ro ce ss o d e tra ns fo rrn ac ao s oc ia l n a s oc ie da de e m r ed e. In ic ia re i e ste tra ba -lh o c om 0[undamentalismo religiose, ta nto e m su a v ersa o islam ic a q ua ntac rista , a q ue n ao sig nif ic a q ue o utras re lig io es (pa r ex em plo, hin du ism o,b ud is m o, ju da fs m o) s eja m m e no s im p or ta nte s a u te nh am rn en or in clin ac aoa o fu nd am en talism o. E m se gu id a, p ro sse guire i a m in ha a na lise c om 0 na-cionalismo, c on sid er an do , a pe s a pre se nta r u rn a v is ao g er al s ab re 0 assunto,d oi s p ro ce ss es b a st an te d is ti nto s, PO l- em b a sta nt e s ig ni fic at iv o s: 0 pa pe l d on ac io na lis mo n a d es in te gr ac ao d a U nia o S ov ie tic a e n as re pu blic a s p es -s o-v ie tic as ; e a f orm a ca o e re ss urg im e nto d o n ac io na lis m o c ata la o. P os te rio r-m en te , v olta re i a a te nc ao i identidade etnica, d is cu tin do a id en tid ad ea f ro - ame r ic ana c o nt empo ran ea . POl' fim, encerrarei 0 e stu do c om b re ve sc on sid er ac oe s a ce rc a d a ideniidade territorial, com base em m inhas obser-v acoes d e m ov irnentos de cunho urb ano e com unid ades locais em todo 0mu nd o. C on clu in do , b us ca re i a pre se nta r u rn a b re ve s in re se d as p rin cip ais! in ha s d e qu estio nam ento re su lta ntes d o e xa me d e d iv ers o s proc esso s c on -tem poraneos d e (rejconstrucao d e id entid ade com b ase na resistenciacomunal .

    P i l r a f : - . o : - . cornunuis: idcnud.idc e significado nu xociedace em rcde 19

    Os paraisos do Senhor: fundarnentalismoreligiose e identidade cultural

    E urn a t ributo d a s o ci ed ad e, e ous ar ia dizer, da natureza hurnana, se eq ue t al e nt id a de exisie, encontrar console e refug io ria religiao. 0 m ed o d amorte , a dor d a v id a, pre cisa rn d e D eu s e d a fe n'Ele, s eja rn q ua is f or em s ua smaniresla~ocs, para que ax pcssoas xigarn vivcndo Dc tu to , Ioru de no s Deustoruar-se-ia u rn desabri gado.

    Jr i 0 fundamentalisrno religiose e algo m ais. E e u in sis to e m a firm a r q ueesse "alga rnais" representa um a das mais im p or ta nte s f on re s de consirucao deid en tid ad e nu so cie da de e m re de p or motives q ue s era o e sc la re cid os , a ss irne sp ero , n as p ag in as a se gu ir. Quanta a se u coriteudo r ea l, e xp er ie nc ia s, o pi -nioes, h is t6 ria e te oria s s ao ta o d iv ers as q ue d es af ia m qua lqu er t en ta ti va desfntese Felizrnente, a Amerlcan Academy of Arts and Sciences realizou, nofinal da decade de 1980 , urn g ra nd e p ro je to c om p ar ativ o c om 0 o b je ti vo d ea na lis ar f orr na s d e fundarnentalismo e m d iv ersos c on tex tos so cia is e in sti-tu ci on ais .! ' D e ss e modo , sabernos qu e "o s fundament al isms sa o invariavel-mente reativos, r e aci o ll a ri o s" l~ e que:

    os fundarnernalis tas s50 s el er iv os , P od er n m u it o b er n j ul ga r estarern abracandotodo 0 passad o em su a form a m ais p ura, porern s ua s e ne rg ie s e sr ar ao c on ce rt -tra das n a ap lic ac ao d as caracterfsticas ma is adequadas a afirmacao desuai den -tidade; a preservacao da unidade de scu rnovirnento, a construcao de linhasd efe nsiv es p ara su as f ron te iras e a manutencao do s outros a d i s tanc ia. . .O sfundaruentalistaslutarn amparados par D eus - no c aso de urnareligilloteisra- au p elos sin uis d e ulgu mu form a d e tru nsce nd enc ia."

    P ara s er m a is e xa to , c re io q ue s eja a de qu ad o, p ara f in s d e c oe re nc ia c oma c ole ta ne a d e e nsa io s re un id os n o P ro jeto "F un da me nta lism o e m O bs erv a-cao", definirfulldamentalismo, e m m in ha co nc ep ca o, c om o a construciio doidentldade cole/iva segundo a idensificaciio do comportamento individual edas instituicoes do sociedade com (IS normas oriundas da lei de Deus, inter-pretadas por uma autoridade definida que atua como intermedidria entre Deuse a humanidade. P or ta nto , c omo suxten ta Marty, " E irnpossfvel

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    Jil

    Obvinll1ente. 0 nindarnental iSl110 religioso esteve presente ao longo detodu a hist6rin da humanidade ContuJo, parece estar surpreendentemente 1'01'-te e in flu en te c om o to nre d e id entidad e n este final d e m ile nio . P OI' q ue ') M i-1111:l~un.i li scs do l"ullll,1I11enlalisIllO isl;lInicll. bern como do rundanlclll

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    32 P:tfi.liso~ CQIllUJl;.tI: --; idcnudade C s i g n il i c a dt l Ilil x oc rc du dc c m r cd c P;II':li~o:"lcumun:u.....ulcnttdudc c : - . ig n i l i c ad o nn sucicdudc em rcrlc J.\

    (c am in ho c orre to ), tra ca do d e a co rd o c om a c om un id ad e o rg an iz ad a p elo p ro -f eta M ao rn e e m M ed in a, T od av ia , p ara s up er ar a s f orc as d os im pio s, p od e s ern ec es sa ri o la nc ar m a o dajihad (lu ra e m n om e d o I sla ) c on tra o s in fie is, 0 qu ep er s ua v ez p od e sig nif ic ar, e m c as o s e xtre mo s, re co rre r a guerra santa. atradicao Shia, 0 r nar ti ri o , r evi vendo 0 sacriffcio de Im am A li no ano de 681 ,e sta n a e sse nc ia d o e sta do d e p ure za re lig io sa . P ore m, 0 Isla c om o urn rod oc or np ar ti lh a d a glorificacao d os s ac rif fc io s e xig id os p elo c ha rn ad o d e D eu s(ai-da 'wah), C om o afirm a Hassan al Banna, fundador e lfder da IrrnandadeMuc ulrn an a, a ss as sin ad o e m 1 94 9: "0 C ora o e nossa consti tu icao, 0 P ro fe ta enosso G uia ; a morte em nom e da gloria de Ala e n os sa m a io r arnbicao" ." 0p rin cip al o bje tiv o d e to da s a s a co es h um an as d ev e s er 0 e sta be le ci me nt o d a le ide Deus para toda a hurnanidade, co loca nd o a ssim um ponto final na atualoposicao entre Dar al-Islam (0 mundo muculmano) e Dar al-Harb (0 mundonao-rnuculmano).Nessa estrutura cu lt ll ra l lr e li g io sa/ po l ft ic a , a i den t idade is la rn ic a e cons-I rl lfda com buxc cm uma duplu deSCOllSl'lIyUO, rcalizada pclos nrorcs sllL'iais cpclux iI1Sillli,:l)C~ d

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    Paralsos cornunuis: idcntidade e significado nusociedude em rcde

    t an te c lo ima Naco st e, 0 S en ho r d o T emp o (wali al-ramani, n o i nt ui to d e r ea fi r-m a r a p re em in en cia d os p rin cf pi os r el ig io so s. A r ev ol uc ao is lam ic a o pu nh a- se ,simultunearnente. a instituicao cia monarquia (Khomeini: "a Is la e fundarnen-talrnente contrario a nocao de monarquia");" ao Estado-Nacao (ar tigo 10 cianova Constituicao iraniana: " To do s o s m uc ulm an os c on stiru ern u ma u nic a n a-c;:ilo");e ~lr no d er ni zn cao c omo exp re ss ao c ia o c id e nt al iz ac ao (0 a rtig o 43 d aC on stitu ic ao ira nia na e sta be le ce a "p ro ib ic ao d e e xtra va ga nc ia s e d es pe rd f-c io s e rn to da s a s questoes relacionadas a e co nom ia , in clu siv e c on s umo , i nv es -tirnento, producao, distribuicao e services"). 0 p od er d os ulernas. principaisa lv os d as r ef or rn as in stit uc io na is p ro rn ov id as p elo X a. f oi c on sa gr ad o c omo 0agente intermediario entre a sharia e a s oc ie da de . A radicalizacao d o re gim ei sl ar ni co , ap 6s 0 ataque do Iraque em 1 980 e a guerra atroz que ocorreu ems egu id a , l ev o u a p urif ic ac ao d a s oc ie da de e a d es ig na ca o d e ju fz es r eli gio so scom a func ao d e reprim ir atos Irnpios, com o 0 "adul te r io , a ho rnossexuali da-de. as apostas em jogos de azar, a hipocrisia, a com paixao pelos ateus e atraicao''.'? A isso s e s egu ir am rnilhares de prisoes, mutilacoes e execucoespelos rnais diversos m otiv es. A on da de t er ro r , particularmente d ir ig id a a c ri ti -c os d e e sq ue rd a e g ue rrilh as m arx is ta s. f ec ha ra m 0 circulo c ia 1 6 g ic a f un d a-mental ista n o I ra .Q ua is s ao a s b as es so cia is d o f un dame nta lisrn o? N o Ira, onde outras for-):as revolucionarias participumrn das longas e obstinadas mobi lizacoes para ad erru ba da d a d ita du ra s an gre nta d e P ah le vi, o s lf de re s forarn o s c le rig os , e a sm esquites forarn 0 a brig o d os g rupos rev oluciona rios que org aniz aram a in-s ur re ic ao p op ul ar . Q ua nt a a os a to re s s oc ia ls , a r na io r f or ca d o mo vir ne nto c on -c en tr av a- se em T ee ra e o utr as g ra nd es c id ad es , p rin cip al me nt e e ntr e e stu da nt es .i ruclcctuais, corncrciantcs de hazarcs c artesaos. Quando 0 movi mente Ioi ;lSru as , te ve s ua s f ile ira s e ng ro ss ad as p ela s m as sa s d os tra ba lh ad ore s ru ra is re -cern-chegados. qu e passararn a habitar vilas irnprovisadas DO S inchados subiirbi-os de Teera na decada de 70. apos a rnodemizacao da agricultura te-los expulsadod o c amp o.

    Os i sl amicos da A rg elia e d a T un is ia p are ce rn te r u rn p erf il s oc ia l s ern e-lhante, de acordo c om a lg un s dados esparsos: 0 apoio a FIS partiu de urng ru po b ere ro ge ne o d e in te le ctu ais , p ro fe ss ore s u niv ersita rio s e funcionariospilb lic os d e b aixo escalao, a os qua is se juntararn pe quenos com ercia ntes eartesaos, a o o bs ta nte , ta is rn ov im en to s o co rrid os n os a n os 8 0 ta mb ern tiv e-ram suas ralzex sociais no exodo rural. Um a pesquisa realizada na Tunisiaapontou que 48% dos pais dos mil itantes eram analfabetos ao rnigrarem deareas rurais ernpobrecidas para as cidades, na decada de 70. Os mi li tan te s

    Pu r ai sox c o rn u na i s: i d e nt i da d e e s i gni f ic a do na sociedude em redc 35

    eram jovens: na Tunisia, a m edia de idade de 72 m ilitantes condenados emam ple julgam ento em 1 987 era de 32 anos." No Eg it o, 0 islarnismo predomi-na entre e st ud an te s u ni ve rs it ar io s ( a m aio ria d as u nio es e stu da ntis te rn sid elid era da p or f un dame nta lista s isla rn ic os d esd e m ea do s d a d ec ad a d e 8 0) e re -cebe 0 a po io d e f un cio na rio s d o g ov er no , p rin cip al rn en te professores, tendoc re sc en te in flu en cia n a p olf ci a e n o e xe rc it o. "

    As raizes s oc ia is d o f un dame nta lis mo ra dic al p are ce m re su lta r d a c om -b in a cao e nt re a mod er ni za c ao bern-sucedida, c on du zid a p elo E st ad o DO S anos50 e 60. eo fracasso d a m od ern iz ac ao e co no rn ic a n a m ala ria d os p af se s m u-culmanos d ur an te o s an os 7 0 e 80, urna v ez q ue s ua s e co nom ia s nao consegui-ram se adaptar 3 S novas condicoes impostas pela concorrencia g lobal e are vo lu ca o te cn olo gic a n o p erf od o. A ssim , u ma p op ula ca o jo ve m u rb an a e c omelevado nivel d e. in str uc ao , c omo r es ulta do d a p rim e ir a o nd a d e rnodernizacao,tev e suas e xpectativ as frustrad as, po i s a e conom ia na o pede se suste ntar en ov as f orm as d e dependencia cu lt ur a l fo ram ins ti tu fdas . 0 descontentamentoe ste nd eu -s e ta m b e rn a s m as sa s e mp ob re cid as e xp ulsa s d as a re as ru ra is p ara a sc id ad es p or c au sa d a d is pa rid ad e d o p ro ce ss o d e mo de rn iz ac ao d a a gr ic ul tu ra .E ss a m is tu ra s oc ia l to rn ou -s e e xp lo siv a p or c au sa d a c rise d o E sta do -N ac ao ,c uj os f un ci on ar io s, in clu siv e m il it ar es , am ar ga ra rn s uc es siv as q ue da s n o p a-d ra o d e v id a, p erd en do a ss irn a c on fia nc a n o p ro je to n ac io na lis ta . A crise delegit imidade do Estado-Nacao foi resultudo de sua corrupciio general izada,in ef ic ie nc ia , d ep en de nc ia d e p ote nc ie s e stra ng eira s e , n o O rie nte M ed ic , d ere pe tid as h urn ilh ac oe s n o amb ito m ilita r d ia nte d e Is ra el, se gu id as d e u m p ro -ce sso d e ac om od ac ao com 0 inim ig o sionista. A construca o d a id entid ad eis la rn ic a c on te rn po ra ne a r ea l i za -s e c omo uma r ea ca o c on tr a a mo de rn iz ac aoinatingfvcl (capitalista ou sociulistu), os eteitos negatives da globalizacao e 0colapso do p ro je to nacionalista p a s- c ol on ia l. E s se e 0 mo tiv o p el o q ua l 0 de -s en vo lv im e nto di fe re ne ia l d o f un dam en ta lis rn o n o mu nd o muculrnano parecee sta r re la cio na clo a v aria co es n a c ap ac ic la de d o E sta do -N ac ao d e in re gra r e mse u p ro je to ta nto a s m as sa s u rb an as , p or m eio d e c on dic oe s e co no rn ic as f av o-r av ei s, q ua nta o s c le ri go s r nu cu lm a no s, p ela ra ti fic ac ao o fi cia l d o p od er r eli-g ioso sob a egide d o E sta do , c om o o co rre ra n o c alif ad o d e Umma yy ad au noImpe ri o O to tT h 3. n042A ss irn , e mb ora a A ra bia S au dita se ja f orm alm en te u mam onarquia islam ica, os ulerna s constam d a folha d e pag am ento d a C asa d eS au d, q ue f oi b em -s uc ed id a e m d es ern pe nh ar, a o m es rn o te mp o, o s p ap eis d eg ua rd ia d os sftios sagrados e tambern do petroleo do Oc iden te . A I ndo ne s ia ea M alasia pa rece m te r sid e c apaz es d e incorpora r as press6es islam icas aosseus au to r ir a ri os Es tados-Nacao , 0 q ue a ss egu ro u u rn c re sc imen to e c on or ni co

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    36 Paraisos comunais: .demidude e :-.ignifiC:J.da na socredade em rcde

    a ce le ra do , e a br iu p ers pe ctiv as p ro mis so ra s a s eu s s uje ito s, e rn bo ra rensoess oc ia is e ste ja m s e a g ra va nd o e m a lg um a s c id ad es d a I nd on es ia . P ar o utro la de ,a s p ro je to s n ac io na li sta s d o E g ito , A rg eli a e T un is ia , a lg un s d os p ais es m u cu l-m a no s m a is a ci de nt al iz ad os , e ntr ar ar n em c ola ps o n a d ec a da d e 8 0, c ulr ni na n-d o e m te ns iS es s oc ia is q ue f ora m p rin cip alm en te c ata lis ad as p elo s is la m ic ose m sua s v ersoe s m od era da (Irm and ad e M uc ulm ana ), rad ic al (Iama 'at: al-I s l am i y ya i a u d emo cr at a- ra di ca l ( a FIS da Arge li a ). " E p ro va ve l q ue , n os a no s90, 0desafio imposto pelo H am as ao Estado protopaiestino constituido so b alideranca d e Yass e r Arafat, contando com a colaboracao de I s rae l, seja um do sm ais pro fun dos c ism as e ntre a na cion alism o a ra be (cu ja e pitom e e a m ov i-mente palestino) e a fundamentalismo islarnico radical.C asas e m qu e vitorias eleitorais do s islamicos, como ocorreu na Argeliae m d ez er nb ro d e 1991, f or am a nu la da s p or r ep re ss ao m il it ar , a ca ba ra rn r es ul-l an do em violencia generalizada e gu er ra civil." At e mesrno no mais ocidenta-liz ad o d os p ais es m uc ulrn an os, a Turquia, a h era nc a s ec ula r e n ac io na lis ta d eKemal Ataturk fo i contestada historicamente nas eleicoes de 1995, qua nd o a sis lam ic os s e tornaram a p r inc ipa l forca politica do pais, legitimada pelo votod e i nt ele ct ua is r ad ic al iz ad os e eleitores menos favorecidos das areas urbanas,e fo rmararn 0 g ov ern a e rn 1 9 96 .

    o islamismo polftico, bem como a identidade fundarnentalista isldrnica,parecem estar se expandindo nos anos 90 em um a scrie de couiextos sociuise institucionais distintos, sempre r e lac ionados a dinamica d e e xc lu sa o e /o u ac ris e d o Estado-Nacao. Assim, segregacao social, discriminacao e desempre-go e n tr e a juventude francesa originaria da regiao d o M ag re b, en tre a s turcosna scid os na A le ma nha e e ntre o s pa qu istan ese s n a G ra -B reta nha , a u m esm oe ntr e a s a fr o- am e ric an os , le va a o surgimento d e um a n ov a id en ti da de i slf im i caentre a j LI v cn tudc m ar gi n uliz ad a, e m um pr occsso a vussaln do r t ic tr an x le rcn -c ia d o is la mis mo ra dic al d ir eta rn en te p ara a s a re as s oc ia lm e nte e xc lu ld as d esociedades capitalistas avancadas." Po r outro la do , a colapso do Estado 50-v ietico propiciou a surgim ento d e m ovim entos islam icos no C aucaso e naA sia C en tra l, e a te m e sm o a f orm a ca o d e u m P artid o d a R es ta ura ca o Is la rn ic ana R ussia, urn claro ind fcio de que os tem ores d e avanco das revolucoesis la m ic as o co rr id as n o A fe ga nis ta o e n o Ira s ob re a s e x- Re plib lic as S ov ie ti-c as p od em se tamar realidade."Em r ne io a u rn a g ra nd e v ar ie da de d e p ro ce ss a s p olf tic os , d ep en de nd o dad in am ic a d e c ad a Estado-Nacao, b em c om o d a fo rm a d e a rtic ulac ao g lob al d ecada econornia, urn projeto fundamentalista islamico surgiu em todas as socie-d ad es is la mic as , e ta mb ern e ntre a s m in oria s rn uc ulm an as e m s oc ie da de s n ao -

    .,

    m uc uirna na s. U ma nova i dent idade e st a s en do construida, nao pa r um retornoa tra dic ao , m as p eia m a nip ula ca o d e m a te ria is tra dic io na is p ara a f orm ac ao d elIlll novo mundo divino c cornunal. em qu e masxax excluidas e in te lectuaisrnargiualizados possam r ec on sr ru ir s ig ni fi ca do s em uma alternativa elobal aoo rd em mu nd ia l excludente." N as p ala vra s d e Khosrokhavar:

    Quando a projeto de i01l11Ur;aO d e i nd iv fd uo s q ue p ar ti ci pe rn ativarnente dam od crnid ad e re ve la-se ab surd o na e xpe rie nc ia re al d a v id a c otid iana, a v io-l e nc i a t or na -s e Q ii nic a f urm a d e auto-afirrnacao do novo s uj ei to ( . .. J Assim,a neocomunidade I:OI11i1-se l ima necrocornunidade. A exclusao da modernidadeadqui rc um significado rel igioxo: deste modo. : \ uuto-imolucao pas:;;) xcr Jforma de ILila contra a exclu s iio ."Pela negacao da exclusao, a in da q ue p elo e xtre m is rn o d o auto-sacriffcio,

    surge urna nova i den t idade is lfim ic a no processo hisrorico de conxtrucao daill11/710. 0 paraiso cornunal p ar a a s v er da de ir os f ie is .

    DeLIS me salve! 0fundamentalismo cristdo norte-americana(lwgfllll

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    38 Paraisos cornunals: ioentidnde e s i g n i f i c ad o IIi_! sociedade em rede

    mes intitulada The Fundamentals, p ub li ca da e nt re 1910 e 1915 como ernpre-endimento privado de dois irrnaos c om er cia nt es , c uja intencao era compilerte xtos sag rad os e ditad os par teolcgcs ev ang elicos c onserv adores d a virad a d oseculo. Em bora a influencia fundarnentalista tenha passado por m udancas emd ifere ntes perfod os hist6ric os, jam ais d esa parece u por c om plete . N as de ca da sde 80 e 90, certam ente "explodiu". N ao obstante 0 f ar o d e q ue a d es in te gr ac aoda M om/ M ajo rit de Falw ell em 1989 tenha levado alguns observadores IIanunciar 0 declinio d o fu nd am en ta lis mo ( pa ra le la rne nte a o d es ap are cim en tod o Sa ta c om unista , cuja oposicao constituia im portante fonte d e leg itirnid ad ee l ima boa form a de angurinr fundos em prol da causa fundamentalism). logoficou clara a ideia de que se tratava m uito mais d e u ma t en sa o o rg an iz ac io na le u rn e st ra ta ge rn a p oli ti co do que propriamente de uma crise de identidadetundumcntalista," Nos anos 90, ria este ira da vitoria de C linton nas eleicocsp re sid en eia is d e 1992,0 fundamentalismo a pare ce u no primeiro plano do cena-r io po l it ico, dessa vez s ob a f or ma da Coalizao C ri st a l id er ad a p or P at R ob er ts onc Ralph Reed, contundo co m 1,5 milhiio d e f il ia d os e dernonstrarrdo considc-r(lvd inf lucncia p o lf ti ca j un t o uo e lc it or ud o r cp ub lic un o. A lc m disxo. as idciasc a vis;i() de IlIU1Itln dos Iund.uncutnlixtus parcccm c nc on ir ar g ra nti e rl 'S SO n; \ll -c i: 1 ! lO S 1 ': sl :l ll () s Uuidos dt) .IiI! fi(' sih/f'. Po r cxcmplo . segundo J1l'squis:I d"instiruto Gallup rcalizuda em 1979 no pais, urn em cuda tres adultos declurouter passudo por urna exper iencia de conversao rel igiosa; quase a metude delesacred itava na Bfblia com o urn livro infalive l: e m ais de 80% declaravarn queJesus Cristo tinha origem divina.? Sern duvida, os Estados Unidos sernprefora rn, e a inda sao, lim a socie dad e rnuito re lig iosa, m uito rnais, por e xe rnplo,que a Europa Ocidental ou 0 Japao. Pore rn, e sse sentirnento religiose parec eestar assum indo um tom cada vez mais evangelizador, fluindo em direcao aum a pod erosa c orre nte funda rne ntalista . Seg und o Sim pson:

    (...)0 fundarnentalismo, em seu sentido prirneiro, consiste em urn conjuntode crencas e experi encias c ri st il s que incluem (I) a fe na ansoluta lnspiracaodivina da Bfblia, bern como em sua infaJibil idade; (2) a salvacao individualmediante a ace it ac fio de Cri sto como 0 Salvador (tendo ressuscitado) porconta desua redencao des pecados c loshornens em sua morte e ressurreicao;(3) a expec ta tive do retorno de Cr is to do Parafso it Terra antes do firn dornilenio; (4) 0 apoio its doutrinas cristas dos protest.antes ortodoxos, como 0nascimento virginal e a santissirna trindade."C ontudo, por ser um a tend enc ia tao am pla e d iv ersific ad a, 0 fundamen-

    tal is mo c ris la o impC)~u rn dcsu fio a t e n t a t i v e de proper u r ua c 1 c l1 n i < ,: i1 o c apaz d e

    Parafsos cornunals: identidade c s i gn i fi c ad o na sociedade e m r ed e 39

    incorporar as d iv erge ncia s entre os ev ang elicos pe ntecosta is e ca rism atic os,seguidores das doutrinas pre-m ilenarias ou pos-rnilenarias, os pietistas e osa tiv istas. Felizrne nte, pod ernos nos fund am enta r em urna exce lente , erud ita eb er n d oc urn en ta da s fn te se d as d ou tr in as e e ns in arn en to s d o f un da rn en ta lis monorte-am ericano elaborada par M ichael L ienesch, a partir da qual, e com 0a uxflio d e outras fontes que , em linhas ge ra is, d ao sustenta ca o a se us reg istrose a rg um entos, tenta re i rec onstruir a s principa is c arac terfstic as d a id entid ad efundamentalista crista."

    C onform e sustenta Lienesch, "na essencia do pensam ento cristae con-serv ad or, m od ela nd o a 110C;[[0 d o ser d efend id a pel a d outrina , resid e 0 conceitoda conversao, 0 ate de fe e perdao pelo qual os pecadores sao tirades do peca-do para g anhar a v id a e te rn a" .." Po r meio desse " re n as ce r" p e ss oa l, toda apersonalidade passa po r urn processo de reconstrucao, tornandc-se "0 pontode partida para a construcao de um a nocao nao 56 de autonornia e identidade ,m as de ordem social e objet ivo polft ico' '. " 0 elo de Iigacao entre personalida-de e soc icdudc passu pela reconstrucao da fam ilia, a instituicao centra Ida so-c ic da dc q ue c os tu ma vu SC I' 0 rcrlJgio diunte de l I 111 mundo caotico e hostil, eque atual mcn tc csl:l dcxmnrunnndo em IlllSS:1 socicdudc. Essa "Iortalcza devida l 'r is l; I" I L' II I d.. SC I' r CCO l ls lr ui ll :1 1 1 [ ;1 ; 1 r c: il il "l 1 !a ~ ~l lJ do putriurculismo, queconsiste na santidade do matrimonio (cxcluindo-se 0 divorcio eo adulter io) c,sobretudo, a autoridade do hornern sobre a rnulher ( no s en ti do l it er al c on fo rm eapresentado na Bfblia: Genesis 1;Efesios 5, 22-23) e a estrita obediencia do sfilhos, reforcada, se necessario, pela agressao ffsica. Na realidade, os filhosnascern no pecado: "e altarnente benefice ao pai ou a m ae perceber em seusfilhos l ima tendencia n at ur al p ar a 0 mal"." D es sa fo rm a, e essencial a familiaed ucar filhos ternentes a D eus e ob ed ie ntes a autoridade dos pais, com o tam -bern contar com total apoio da educacao crista m ini strada na escola. C om oconsequencia 6bvia dessa visao, as escolas piiblicas tornaram-se 0 cam po deb at al ha e nt re 0 bem eo m al, entre a familia c ri st a e a s i ns ti tu ic oe s r ep re se nt an -tes da secularizacao.

    Urna profusao de recom pensas terrenas aguarda 0 cristao que se com -prom ete a obedecer a esses princ ipios e preferir os designios de DeLIS a o seupr6prio planejarnento de vida, reple to de im perfe icoes. Para c or ne ca r, u m aexc ele nte v id a se xual no c asa rnento. O s fa mosos e b ern-suced id os autore s T ime B ev erly L a H aye cla ssific am se u m anual se xua l c om o "inte ira rnente b folic oe a lt am e nt e pratico"," dernonstrando, com a ajud a de ilustrac ces, todos osprazeres da sexualidade que, urna vez santificados e voltados a procriacao,c stiio d e p le ne a co rd o c om o s p rin cip io s d o crisiianismo. S ob e s sa s c on di co es ,

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    os hom ens podern tornar-se hornens novam ente: em vez das "cristianetes".nunix. os I lI ll llL IlS dcvcm ')l' poriaI' l' ;\~:dl' como 1:l is , Sl',!!IIIHI(llIllI:1 (11111';\rndi-\~nu\_'l'i:'dll: j,I.lL.dl~ Ilfin t'l :llll'IUill:IL!U.'i'J N~~{'p.I:ltll, a l'!III~d/:H~:II~ !IiI ""."\\1,111dade agressiva m asculine em urn casarnento bem -sucedido e exscncial para asociedade, t an to p ar a 0 c on tr ol e d a v io le nc ia q ua nt o p el o faro de xer a tonte da"etica protestante do trabaiho", e, consequentemente, da prudu\ividadc econt)-m ic a, N essa v i sao, a sub lim acao sexual constitui 0 f un dam en to d a c iv il iz ac ao ,Quanta as mulheres, sao bio logical1 le l l te definidas para assumir n co nd i cao demaes e se r tambern 0 cornplernento e moc ion al d o h om ern , basicamente racio-nal (segundo Phyllis Schlafly). A subm issao da m ulher ira ajuda-la a co nqu is -" ,ta r urn sentim ento d e auto-estirna. E pelo s ac riflc io qu e a s m ulh ere s assurnernsua identidade como pessoas independentes dos hornens. Assi Ill,de acordocom Beverly La Haye: "Nao tenha m edo de ceder, ceder e ceder"." 0 resulra-do sera a salvacao da fam ilia, "esta pequena com unidade , 0 a li ce rc e s ab re 0qual se sustenta toda a sociedade."?'

    T end o a salv ac ao ga rantid a, conqua nto sejam rigorosam ente ob servad osos ensinam entos da Bfblia, e com lim a fam ilia patriarcal estavel com o bases6lida para a vida, os neg6cios tamberu irao bern, desde que a governo naointerfira na econornia, deixe abandonados a propria sorte ospobres indignosde melhores condicoes e rnantenha as impastos dentro de limites razoaveis(cerca de 1 0% da renda). Os fundarnentalistas cristaos nao parecern se impor-tar com a contradicao inerente ao Iato d e s er em teocratas morais e l ib e rt a ri o seconornicos." Deus ajudara 0 bam cristae nos neg6cios: afinal de com as, e letem d e prov er 0 sustento de sua fam ilia . Prov a v iva d isso e justam ente 0 Ifderda C oaliza o C rista, Pat R ob ertson, fam oso ev ange lista d a telev isao. A p6s suaconversao, imbuido de sua recem-conquistada autoconfianca, Robertson par-tiu para os negocios: "Deus m e rnandou ate aqui para cornprar sua estacao deTV", afirrnou, fazendo um a oferta corn base no "valor inform ado por Deus":Disse-me 0 Senhor: "nao ultrapasse dois rnilhoes e m eio"63 Enfim, a t ra ns a -- ; : 3 . 0 a cab ou se rev eland o um excelente neg 6cio, pelo qual Pat R ob ertson serna-nalmente agradece a Deus em seu prog ra ma "700 C lub".

    Todavia, 0 m odo de vida cristae nao pod e ser realizado no p la no in div i-d ua l, p or qu e a s i ns ti tu ic oe s da s oc ie da de , p ri nc ip al m e nt e 0 governo, a m fdia e are de p ub lic a d e e ns in o s ao c on tro la do s p ar h um an is ta s d e v aria s o rig en s, a ss oc ia -dos se zund o v arias v ertentes fund am entalista s, aos com unistas, b anqueiros,, "hereg es e j ude us, O s inim ig os m ais insid iosos e am eac adores sa o a s fem inistas eo s h om os se xu ais , p ois s ao e le s qu e a ba la m a ins titu ic ao fa mi lia r, fo nte p rir ne irad a estab ilid ad e socia l, d a v id a c rista e d a reaiizaca o pessoal, (Phyllis Schlafly

    P~raf~n...comunui ... idcmid.ulc c ...gnijiv udo na sucicdade em rode -II

    refere-se a "doenca charnada de movimento ferninista't.P' A luta contra 0 aborroSilllholi/.:l Intius us c si"un;ils vnll:H lus :1 prl'Sl'I"V,lL,':ind < l i'n!lllli

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    42 Paruisos comuraix: identidade c significado na sociedade em rede

    coes politicas"." 0 fu nd ament al ismo nao parece ser um a racionaiizacao do si nt er es se s d e c la s se , tarnpouco u rn p os ic io na m en to c om b as e n o te rrito rio . Emvez d isso, ele atua nos processos politicos em defesa dos v al ores rnorais ec ris ta os .? ? T ra ta -s e d e u rn r no vi m e n to r eu ti vo , v olt ad o a c on st ru ca c d a id e nt i-d ad e soc ial e pe sso al, c om o n a rn aio r pa rte d os c asos d e fu nd am en ta lis rnoen con trad os na H isto ria, c om b ase e m im ag en s d o pa ssa do p roje ta das e m u mfu tu ro u to p ic o , v is ando a s up er ac ao d o i ns us te nt av el t em p o p re se nt e,R eacao a que? 0 que e i ns us te nt av e l? A s c au sa s r na is i m ed ia ra s d o f un da -m enta lism o crista e pa re ce rn se r d ua s: a a mea ca d a g lob aliz aca o e a crise d opu ui arc a l isrno.

    N as p ala vra s d e M is zta l e S hu pe , " a d in arn ic a d a g lo ba liz ac ao p ro m ov eua d in arn ic a d o f un da rn en ta lis rn o d e f orm a dialetica"." Le c hn e r ap ro f un d a- seurn po uc o rn ais na s raz oes pa ra a existen cia de tal dialetica:

    N o p ro ce sso d e g lo balizac ao , a so cie dad es se in stitu cio naliza rarn e nq uan rofate s g lo bais. E nq uan to o rg an iza co e .. fu nc io narn e rn te rrn os se cu lare s: e msu as re lu co cs, o be de ce m a re gru s se cu iare s; p ratic am en tc n en hu rn a trac liy ~or el ig io se a tri bu i u rn c ar at er t ra ns ce nd en ta l a s sociedades ta l com o em suaforma aural .., P el os p ad ro e s d a r na io ri a d as t ra di co es r el ig io sa s, 0 societalisrnoi ns ti tu c io n al iz ad o e q ui va le it idolatria, M as isso sig nific a q ue tarn be rn a v id ae rn s oc ie da de t or no u-s e u rn d es afi o it r el ig ia o t ra di ci on al . .. P re ci sa rn en te p o r-qu e a ordern global reprcsenta um a orc\em no rm ative institucionalizada, ep lausivel que ali surja algum tipo de busca de urn fu nd arn en to " maie r" , d ealg urn a re alid ad e tran sc en de nta l ale rn d esse rn un do , p ela q ual e ste p od eriaSCI d ef in id o c om rn ais c la re za ."

    A le m d is so , e m bo ra a a rn ea ca c om un is ta te nh a- se p re sta do a ju stif ic ar ai de n ti fi ca c ao e n tr e o s i nt er es se s d o go v er no n o rt e- amer ic ano , 0 c ri sti an ism o eo s E sta do s U nid os c om o a n ac ao e sc olh id a, 0 c ola ps o d a U nia o S ov ie tic a e os urg im e nio d e u ma n ov a o rd em g lo ba l g er am u m a in ce rte za a m ea ca do ra q ua ntaao c o nt ro 1 e s o br e 0 d es tin e d o p ai s. U rn d os t em a s r ee or re nt es d o f un da rn en ta -lis rn o c ris ta e n os E sta do s U nid os d ur an te o s a no s 90 e a o po si ca o a o c on tr ol ed o p ais e xe rc id o p or u rn " go ve rn o rn un dia l" , c om a uto rid ad e s ob re 0 governofe deral d os E UA (q ue , na v isa o d o m ov i rne nto , e co niv en te c om e s e p roc es-s o) , s an cio na do p ela s N ac oe s U nid as , p elo F un do M on eta rio In te rn ac io na l ep ela O rg a ni za ca o Mu nd ia l d e C om er ci o, e ntr e o ut ro s o rg a ni sm o s i nt er na cio -nais. Em a lg un s e c rito s e sc ato lc gic os , e ss e n ov o " go ve rn o r nu nd ia l" e c om -parad e ao A nticristo, e seus sim bolos, que incluern 0 microprocessador ,r ep re se nta m a M arc a d a B es ta q ue a nu nc ia 0 " ti m d os t em p os ". A c on str uc ao

    I .

    Purafsoscorm.nuis: ldentidade e significado nasocicdade em rcdc 43

    d a ic le nt id a de f un dam en ta li st a p ar ec e s er um a t en ta ti ve d e r ea fi rm a ca o d o c on -tr ole s ob re a v id a e s ob re 0 p al s, u r na r ea ca o d ir et a a o p ro ce ss o d es en fr ea do d eglobalizacao q ue se fa z c ad a v ez m ais p re se nte n a e con om ia e n a rn id ia .

    En tr et an to , p ro v av e lr ne n te a c aus a r na is impo rt an te d o f u nd a rn e nt al ismoc ris ta e d os a n os 80 e 90 e a r ea ca o c on tr a 0 d es af io a o p at ri ar ca li sm o , f ru to d asr ev olta s d a d ec a d a d e 60 , e e xp re ss o p el os mo vi m en to s f er ni nis ta , d as l es bi ca se d os gays." A le rn d isso , a b ata lh a na o e som en te id eo kig ic a. N a v erd ad e, af am il ia p a tr ia r ca l n o rt e- amer ic ana e st < ie rn c ri se , 0 qu e e c or np ro va do p or to -d as a s e st at is ti ca s s ob re d iv or ci o, s ep ar ac ao , v io le nc ia n a f am i lia , f ilh os n as ci -d os f or a d o c as am e nt o, c as am c nt os tardios, r cd u cao n o s i n d ic e s d e r na te rn id ade ,e stilo s d e v id a s olita rie s, c as ais d e g ay s e le sb ic as e a re je ic ao g en era liz ad a d aau to ri d ad e p a tr ia rc a ! ( v er c api tu lo 4 ). Hi u ma r ea ca o o bv ia d a p a rte d os h om e nsem d e fe sa d e .s eu s p ri vi le g io s, c on ve ni en tem en te f un dam en ta da n a l eg iti rn id a -d e d iv in a, u ma v ez qu e se u pa pel c ad a v ez m en os sig nific ativ e co mo iin ic op ro ve do r d a f am i li a a ba lo u a s b a se s r na te ri ais e i de ol og ic as d o p atr ia rc al ism o.P or er n, e xi st e a in da a lg a r na is , c or np ar ti lh ad o p or h om e ns , r nu lh er es e c ri an -c as . U rn te m or p ro fu nd am e nte a rr aig ad o p elo d es co nh ec id o, e m e sp ec ia l a s-s us ta do r q ua nd o is so d iz re sp eito a o c otid ia no d a v id a p es so al. I nc ap az es d ev iv er s ob a e gid e d o p atria rc alis mo s ec ula r, m a s a pa vo ra do s c om a s olid ao e ai nc er te za p re se nte s em uma s oc ie da d e t re m en dam en te c or np et iti va e in di vi du a-! is ta , e rn q ue a f am ilia , c om o r nito e re alid ad e, r ep re se nta va a u ni co a br ig oseg uro, m uitos hornens, rnulheres e criancas rogam a D eus que os traga d ev olta a o e sta do d e in oc en cia e m q ue p od ia m v iv er s atis fe ito s c orn 0 patriarca-Iism o b en ev ole nte , d e a co rd o c om a s le is d e D eus. A o re za re m ju nta s, e ssa sp es so as s e to rn a m c ap az es d e c on viv er o utra v ez . J us ta m en te p or e ss a ra za o, 0f un dam en ta li sm o c ri sta e n or te -a rn er ic an o e st a p ro fu nd am e nte m a rc ad o p ela sc ar ac te rf st ic as c ult ur ai s d o p al s, s el l i nd iv id ua lis rn o ampa ra do n a f am i lia , s eup ra gm atis rn o e s eu re la cio na m en to p er so na liz ad o c om D eu s, c om o ta m be rnc om os d esig nios d e D eus, c om o u ma fo rm a d e so lu cio na r os p ro blem as p es-soais em um a v id a cada vez rnais im previsiv el e incontrolavel, C om o se 0f un da rn en ta lis ta , ro ga nd o a D eu s, f os se re ce be r d a m is er ic or dia d iv in a a re s-t au ra ca o d o American Way of Life, em tro ca d o c om prom isso d o pe ca do r c omo a rr ep en dim en to e 0 t es temunho c ri st ae .

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    44 Parulsos cornunuis: .dcnudadc c signif icud n;l sociedadc em rcdc

    Nacoes e nacionalismos na era da globalizacao:comunidades imaginadas ou imagens comunais?

    enfraquecimento de s ESlados-Nw;iio aruais, na o s e e nq ua dr a m u it o b er n n ex scmode le t eo ri co qu e c om p ara nacoes e nacional ism o ao surzirnento e consol ida-c ; a o do E sta do -N ac ao m od er no po s- Re vo lu ca o F ra nc es a, ~ue serviu de moldepara boa parte dos Estados em todo 0 mundo , Na o i rn po rt a. P ar a H ob sb uw rn .e~s~ aparente ressurgi rnento e n a v er da de 0 produto historic o d e problemasn ac io na is n ao s ol uc io na do s, g era do s p el a re de f ni~50 t er ri to ri a l d a Eu rop a entre1 91 8 e 1 921 , 7X N ao o bstante , c on fo nne ap onta D avid H oo son e m sua introdu-C ;50 a p es qu is a g lo ba l e di ra da p or e le p ro pri o, a Geography and National Identity:

    Somente quando todos nos ~ todos lUIS ~ recob ra m 10,1' nossa 111( , I I I1; r i ( ( ,teremos condiciies. nos e eles, de deixar de ser nacionalistas.

    R ub ert d e Veruos. Nncronalismos"

    A era da globalizacao e ta rnb ern a e ra d o r es su rg im e nt o d o n ac io na li s-m o, m anifestado tanto pe lo d esafio qu e im p6e a Estados-Nacao estabelecidosc om o p ela am pla (rejconstrucao da identidade c om b as e n a n ae io na li da de ,i nv ari av elme nt e d ef in id a p or o po si ca o a o e st ra ng ei ro . E ss a t en de nc ia h is t6 ri care m surprcendido alguns obscrvadores, u r n s a m o rr e d o n acio na lis rn o te l' si doanunciada par um a c au sa t ri pl a: a g lob alizaca o da econornia e a i nt er nu c iona-l iz ac a o d as i ns ti tu ic o es po li ti ca s; 0 uni ve rs al ismo d e uma cu lt ur a compar ti lh a-d a, difund id a pe la m id ia ele tronica , ed uca ca o, alfa be riza ca o, urbanizacao emodernizacao; e as ataques desfechados po r acadernicos contra 0 c on ce ito d e113 l ; :6es,ons id eradas "comunidades j rnaginadas'?' numa versao rnenos agressi-va da t eo ri a a nt in ac io n al is ta , o u "criacoes historicas arbitrarias", com o na COI1-rundente fo rrn ula ca o d e Gellner," advin das de movimentos nacionalistasc on tro l a do s p elas e lite s e m se u projeto d e e stab ele cim en to d o Estado-Nacaomod er no . N a v er da de , p ara G el ln er , "nacionalismos nao p assa m d e tribalismos.o u q ua is qu er o ut ro s tipos de comunidades orientadas a e ss e fim, qu e por sane,e sfo rc o o u c ircun stancia, foram be rn-suc edidas e m tran sform ar-se e m u rn aforca eficaz sob as condicoes da realidade rnoderna''." S egundo Ge ll ne r, et am b er n Hobs bawm ," 0 s uc es so c on si st e ri a c o n st ru ca o d e um E st ad o- Na ca omoderno e s ob er an o. A ss im , so b e ss a p er sp ec tiv a, o s movirnentos nacionalis-t as , como r ac io ua li za do re s d os i nt er es se s de urua d eterm inad u e l itc , criam um aidentidade n ac io na l q ue , s e bern-sucedida, e a co lh id a p e lo E sta do -I a ca o, sen-d o p oste rio rm en te d isse min ad a e ntre se us su je ito s por m e io d a p ro pa ga nd apolitica, a tal ponro que os "nacionuis" cstarao prontos para monel' por suanacao. Hobsbawrn a ce ita scm hesita ca o a ev id encia historic a d o nacionalixrnocom o um m ovim ento que parte das bases para 0 topo (a partir d e a tr ib ut osIing uf st ic o s, t c rr it o ri ui s, ~L nic os. rc l ig io so s c p oln ic o-h istoric os cornparti lindos), p01'e111 rotu la -o d e "p roto na cio na lis mo" , po rqu anto sorncnte a partir ciaformacao de L11l l Estado-Naciio e que as nacoes c 0 n ac ion alism o passam ae xistir, se ja c om o e xp re ssao d esse E sta do -N ac ao , se ja c om o f orm a d e c en te s-ta ca o d esse E stad o e m f un ca o d e u ru f utu ro E sta do . A e xp lo sa o d os m ov irn en -to S n ac ion alistas ne ste final de rnilenio, fato in t i m am en te re lac ion ad o ao

    a segunda m e L ade do seculo xx entrara para os anais da historia com o um ano va e ra de p ro life rac ao d e movirnentos n ac io na li st as t ur bu le nt os , d e n at ur e-z a r na is d ur ud ou ra, s em ap re se nta r c on tu do a c ara cte ris ti ca d as t err fv eis ti ra -n ia s. ( )r~ 1 hnnit lus , '111(' t u m h c m mu rc arr un 1 l0 SSP sl\culo,", O s illlSl'illS dec xp rc ss ur a p ro pr ia idcnridnde e d e l0 -la re co nhe cid n d e Iorrnn c on cr ct a p cl os(lUlI"OS s~o cad a ve z l11ai~cUIlLagianL

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    46 P~lra;');o."comuru.i ..;:idcnridade e s i g n i l lc m J o 1 1 : . 1 socicdudc em rcdc

    e xce cao a is so. A oposicao en tre com unidades "reais ' e "im aginadas" sao depouca ut i I id ad e a na l i ti ca a lem do s lou vaveis esforcos de d esm is ti ficacao da sid eo lo gi es d e n ac io na lis rn o e ss en ci al is ta (Ita M ic he le t. P OIe m. se 0 sentidoda afirm acao e 0 d e qu e, c onform e e xplicita do n a te ori a de Gellner. as na-y O C S c ons titu ern a rte fa tos pur am ente id eolo gic os construidos por m eio dernanipulacoes a rb itra rias d e mites historicos por parte de intelectuais traba-Ihando em pro! dos interesses d as elites socioeconornicas, entao os reg istroshistoricos parecern re futa r tal e xc ess o d e d esc onstru cio nisrno." S em d uv id a,etnia, rel igiao, idioma, terri torio, per se, nao sa o s uficientes pa ra erig ir na-c oe s e ind uz ir 0 nacionalism o. A experienc ia com partiJhada sirn: tan to osE stad os U nid os qua nta 0 Japao sao pafses com forte identidade nac ional, ernuitos de seus "c idadaos" r eal rn ent e sent e rn , e e x pr es sa rn , u rn p ro fu nd o s en -tirnento patriotico. No e n ta n to , 0 Japao e urna d as n ac oe: m ais hornog enea sdo mundo do ponto de vista e tnico, enquanto as Estados U n idos sao exata-men te 0 contrario. Em am bos os casos, 0 q ue e xis te e lim a hist6ria e limproje to cornpartilhados, e as narrativas histo ricas dos dois pafses sao criadascom base em um a experiencia d iversificada nos aspectos soc ial, etnico,te rritorial e de genera, porern com um aos povos de cada urn desses paisessob perspec tiv as d iversas. Outras nacoes e m ovim entos nac ionalistas naoating irarn a condicao de Estado-Nacao rnoderno (por exem plo, Escoc ia.C ata lunha , Q ueb ec , C urd istao, P ales tina ), e a inrla as sirn d crnons tram , se nd oq ue a lg un s 0 vern fazendo por varies seculos, um a forte identidade cultural!territorial que e m anifesta com o LIm a form a de carater nacional.

    A ssim , a o se d iscu tir 0 nacionalisrno conternporaneo no que range asteorias sociais do nac ionalisrno, devem ser enfatizados quatro pontes funda-rnen tais para analise . P rim eiro, a nac ionalism o conternporaneo po de ou naoe st ar v ol ta do a construcao de um Estado-Nacao soberano e, po rtanto, as na-~6es sao, tanto do ponto de v ista histo rico quanta analitico, entidades inde-pendentes c lo Estado." Segundo, as nacoes, b ern C01100. Estados-Nacao.niio c stiio historicu mc ntc lim ita dos ao E stu do-N ac iiu m od crno ta l com o co ns-tiruido na Europa nos 200 anos apos a Revolucao Francesa. A experienc iapolitica atual parece rejcitar a ideia cle que 0 nacionalisrno e st ej a e xc lu si va -mcutc vurcul.ul iIll llerfnLo de I 1 l1"1 II i l t _: iH I l It l E~lild()-Nill;i)lI II uulc I"lIU, IL'IHI"sell ;~Jlicc nu xcculo XIX. c rcprruluv.idu IHI proccsxo de dcxco Ion i'/a~~11 derneados do seculo XX pela irnportacao do m odele de Estado-Nacao ociden-ta l p ar a 0 Terceiro Mundo." T al afirrnacao, atualrnente em voga, nao passade LIm a m anifestacao de eurocentrism c, conforrne argum enta Chatterjee."N os term os de Panarin:

    Para.sos cornun ..is: identidade e significado na sociedade em rede 47

    o g ran de m al-e ute nd id o d o se cu lo Io i a falta d e d isc ern irn en to e ntre a au to -d ete rm in acilo d o p ov o e a au to dete rm in acao d a T la~ao . A tran sfe re nc ia p ura-mente r ne ca ni ca d e c er to s princfpios da Europa Ocidental pam 0 t err en o d ec u lr ur as n a o- eu r op c ia s norrnalrnente ac ab a g eran do m on stro s, U rn d ele s fo io conce i to de so be r an ia n acion al transplaniado para 0 so lo n ii o- e uro peu [ . .. ]o sincretisrno do conceito de nacao no lexica politico da Europa im pede ase ur op eu s d e e sta be le ce re rn d is ti nc oe s ir np ort an te s re la ti va s a " so be ran ia d op ov o" , "so be ran ia n acio nal' e "d ire ito s d e u ma d ete rrn in ad a ernia'."N a v erd ad e, a ana lise d e Pa na rin e c orrob orad a pelo a pa rec irnen to d em o-

    v irn entos na cio nalista s e m d iv ersa s re gi5 esd o m un do no fina l d o s ec ulo X X, d ea cord o c om L Im a e norm e v aried ad e d e tend enc ia s c ultu ra is e proje tos politic os.

    Terceiro,.o n ac io na li sr no n ii o e n ec es sa ri ar ne nt e u rn f en 6m e no da s elites,nao ram refletindo ate m esm o um a reacao con tra as elites m undiais . D e fato , aexem plo d o que ocorre em todos os m ovirnentos soc iais, as liderancas tendema te r urn niv el cultural rna is elev ad o e sere rn m ais v ersad as (o u d ota da s d e b ansconhecim entos de inform atica, em nossa epoca) que as m ass as populates quese m ob iliz am e m torno d e ob je tiv os na ciona lis tas . C ontud o, isso na o d irninuia a pe lo e o s ig hif ic ad o d o n ac io na lis mo a r na nip ul ac ao d as m as s a s p ela s e li te s,de acordo com os proprios inte resses dessas elites. C onform e escreve Sm ith,em tom d e la rnen to:

    Com lim a historia e destine comuns, mernorias p od em se r m an tid as v iv as e ag l6 ri a d as acoes preservada. Porque som ente na sequencia de geracoes da-q ue le s q ue c orn partilh arn as lace s h ist6 tic os e q uase fam iliais e qu e os indi-vfduos p od em al im en tar a e s pe r an c a de conquista de urna n oo ;: ao d ei mo rt ali da de , ai nd a q ue i nse rid os e rn e ra s d e h or iz or it es p ur am en te t err en os .N esse se nti d o, a fo rm ac ao d as n ac oe s e o su rg im en to d e n ac io nalisrn os e tn i-c os se asse rn elh arn m ais a in st it uc io na liz ac ao d e u ma " re lig ia c a lt ern at iv a"do que propriurncnte a u ma i de olo gi c p ol it ic a, s cn do p or ta nt o bern r na is d u-r ad o ur os c p od c ro so s do que no s p e rm u ir n os adrnitir."

    Quarto. em virtude do Jato de 0 nac iona l ism o c onte rn pora ne o se r m aisrcutivo do que ali v o. tcndc a SCI' m ais c ult ura l d o que p ol Irico. c. ro nan to. m aist1irigitlu i 111L:1e.: . ,a de. : 1I111~1culuu ajn inxruucionullz.ulu du que it C() I1Sl rl lyD( ) 011defl'S;J de um I~SI;Jdl). ()U;Jndli nOV;lS iIlSlill1i~lit:s plilflicas suo criudas, Uti rc-cria da s, c onstituern rrinche ira s d efe nsiv as d e id entid ad e, e na o pla ta forrna s d elan ca rnento d e so bera nia polftica . P ore sa ra za o, c re io q ue urn ponto d e p arti-d a te or ic o m ai s a de qu ad o a c om p re en sa o d o n ac io na li sr no c on te m po ra ne o e aanalise de nacionalisrno cultural de Kosaku Y oshino no Japao:

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    48 Paraisos comunais: .dcnridade e significado na sociedadc em rcde

    o n acio nali m o c ultu ral p ro cu ra reg en erar a c orn un id ad e n ac io nal p or m eiod a c r ia c ao , p re s er va ca o O U f or ta le ci me nto d a id en ri da de c ul tu ra l d e li m p ov o.quando se sente sua falta O L . 1 um a ameaca a essa identidade, Tal nacicnalismove a nacao como fruto d e s ua historia e cultura unicas , b e rn c om o urna solida-rie dad e c ole tiv a d otad a d e arrib uro s sin gu lare s. E m su ma, 0 nacionalisrnocultural preocupa-se c om o s e le me nt os distintivos cia cornunidace culturalc om o e ssen cia d e lim a nac ao ."

    Assim, constroi-se 0 nacionalisrno a partir de ac;:6es e reacoes sociais.tanto por parte das elites quanto das m assas, conform e susterua Hobsbaw m.contrariando a ideia de Gellner de que a "alta cultura" e a fonte de origeme xc lu si va d o n ac io na li sm o . Contudo, ao contrario da s visoes de Hobsbawm ouAnderson. 0 na cio na lis mo c om o fonte d e id entid ad e nao pode f icar restri to aurn determinado perfodo hist6rico e aos processos e conquistas do Estado-Nacao m odem o. Restringir a ideia de nacoes e nacionalism os unicam ente aoprocesso de construcao do Estado-Nacao i nv ia bil iz a q ua lq ue r j us ti fi ca tiv a p ar aa ascensao do nacionalism o p6s-m oderno concom itante ao d eclfnio do Estad omoderno.

    Rubert de V entos, em urna versao re vista e a tua liz ad a d a pe rs pe ctiv a c la s-sica de Deutsch," propos u ma t eo ri a rnais complexa que ve 0 surgimento daidentidade nacionai m ediante a interacao hist6rica entre quatro conjuntos defatores:Jatores primaries, tais c om o e tn ia , te rritorio, id io rna , re lig ia o e sim ila-res;fatores gerativos, como 0 d ese nv olv im ento d os m eios d e c or nunic ac aoe tecnologia, a formacao de cidades, 0 surg imento de exercitos modernos emonarqu ia s c ent ra l izadas .j nro re s induridos, com o a codificacao da lingua emg rarn at ic a s o f ic ia i s, 0 crescim ento da m aquina burocratica e 0 e st ab ele ci m en -ta d e urn sis tem a na cio na l d e e du ca ca o; efatores reativos, quais sejam , a defe-sa das identidades oprim idas e interesses subjugados por urn grupo socialdorninante ou pelo aparato institucional, resultand o na busca de identidadesalternativas na m em 6ria coletiva do pOVO.89 Q ua is e le me nt os d es em pe nh amdeterm inados papeis na form acao de urn dado nacionalism o, e em um a deter-m inada nacao, sao variaveis que dependern dos respectivos conrextos histori-c os, d a m ate ria -prim a d is poniv el a memoria coletiva e da interacao entree stra te gia s d e pod er c onf lita nte s. A ssirn, 0 na ciona lism o e , na v erd ad e, c ultu-ra l e p olitic am ente c onstruf do, m as 0 que realm ente irnporta, tanto do ponte dev is ta p ra ti co q ua nt a t e6 ri co e , como, a partir de que, por quem e para que urnaidentidade e construida,

    Nessefin de siecle, a e xplos ao d os m ov irne ntos na cio na lis tas , a lg uns d ele sr es po ns av eis p el a d es co ns tr uc ao d e E sta do s m ul ti na ci on ai s, o ut ro s p el a c on str u-

    P~~rai~o:-,.. .omuna i . .. . d cm idudc c s i gn i fi c ndo n a so ci e dadc em redc

    c ;:5 0 de e ntid ad es plurina ciona is. n ao esta relacionada it formacao d e E sr ad osc l. is xi co x, m o dc rn ox , x ob cr un os . A o c on tn ir io , 0 nacionalixrno aparenta scr lim agrande forca subjacente [[constituicao de quase-Estados, isto e, entidades pol Iti-c as d e s ob e ra ni a cornpartilhada. por meio de urn modele apri m orado d e federa-lismo ~COI1l0 e 0 cuxo da (relconsrituicilo canadense em p ro ce ss a ou da "nacaode nacionalidades", proclam ada na Constituicao da Espanha de 1 978 e am pla-m e nt e d if un di da na pratica durante a decada de 90) ou de m ultilateralism o in-remacional (com o na Uniao Europeia ou na renegociacao da Com unidade deE sta dos Ind epe nd entes d as e x-r ep ub lic ax so vietic as). O s E sta dos- Na ya o c entra -liz ad os q ue re sis te rn a e ssa iendencia de movirnentos nacionalistas em busca delima condicao de quase-Estado com o nova realidade hist6rica (par exem plo,Indonesia. N igeria. Sri Lanka e ate mesrno a I nd ia ) podem muiro bem c ai r v it i-m as do erro fatal de rer a nacao assinalada pelo Extado, com o um Estado forteCOl1l0 0 do Puquistao eniendcu apos a xeparucfio de Bunuladcsh.

    A tim de explorar a complexidade da (rejconstrucao da identidade na-cional em nosso novo conrexto historico, farei urna b reve analise de dois casosque rcprCSC!1l,1I11 (1Sdois pulos du diulciica que proponho C01l10 curaciensticadesse periodo: a desconstrucao de lIlll E sta do c entra liz ad o e m ultina cio na lcom o a extinta Uniao Sovietica e a form acjio subseqiiente d o q ue c on si de roquasc-Estadns-Nacao: eo quaxc-Estado n uc io nu l q ue vern s ur gi nd o n a C at ul u-nha por m eio d o duplo rnovimento d e fe de ra lix mo n a E sp an ha e c on led er alixm ona Uniao Europeia. Ap6s exernplificar m in ha a na li se COIll e ss es d ais es tud osde caso. fornecerei algum as ind icacoes quanta aos novos carninhos historicosdo nacionalism o com o fonte renovudn de identid ad e colctiva.

    As nacoes contra 0 Estado: a dissoluciio daUnido Sovietica e da Comunidade de Estados lmposstveis

    ( So ju z N e vo zmo zn yk h Gos ud ar stv )o povo russo (/(1.1' cidades e aldeias. /;{'Sf({S csuipidas, cm cstudo de semi-selL'!!'geri, quase assustadores, 111O}"/ "{ ' / "CIO para darlugar (J tuna J l OVO mea huniana.

    Maximo Gorki. "D o c u rnp es in u to russo"?"A revolta dos Estados m ernb ro contra 0 Estad o sov ietico foi um elm mais

    ir np or ta nt es ta to re s, e rn bo ru n ii o 0 u n i co , p ar a 0 surp rc cnd ente c ola ps o d a U ni5 0Sovietica, conform e argum enra Helene Carrere dEncausse e Ronnie! GrisorSuny." entre ouuos cstudioxos. M ais adiuntc (I1U volume H I ) . lu rc i u ma a nJ li -

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    5D Paraisos cornunais: identidade e significado na sociedudc e m r cd e

    s e d a c om ple x a re la ca o e ntr e o s e le me nto s e co no mic os , te cn ol6 gic os, p olf ti-c os e de id entid ad e na ciona l que. juntas. elucidam LIm do s rnais extraordinti-ril ls dcsdohr.uucntox du 1 -1 istoriu, Lima ve z que asRcvoILH;OCSRussux marcurtuu,)nbcriuru c ()Icclunucuto e l l ) cspcciro politico Li p scculo XX. Enrrctnuro. uoSl:discut ir a ronn~H,:ao da idcntidade nac ional e sells novos c on to rn os d ur an te lISanos 1)0, e fundamental tazer urn cornentario sabre a experiencia sovieticu,b em c om o sob re suas consequencias, p ais e ss e e u rn te rre n o p riv ile gia do p araa observacao da interacao e ntr e a s nacoes e 0Estado, d ua s e ntid ad es q ue , e mm i nh a o pi ni ao , s ao historica e an al it ic amen te d is ti nt as . A r evo lt a n ac io na li st acontra a Uniao Sovietica fo i particularrnente s ig nif ic at iv a, p ois a URSS f oi u rnd os p ou co s E sta do s mo de rn os e xp li cit am e nt e constituidos com o um Estadoplurinacional, com nac ionali dades definidas ta nto n o p la no in div id ua l (to d ocidadao sovietico apresentava, um a determinada nacionalidade constante, des eu p as sa po rte ), q ua nta n o p la no d a a dr nin is tra ca o te rrito ria l d a U nis o Sovie-tica. 0E sta do s ov ie tic o e ra o rg an iz ad o c om b as e e m u rn c orn ple xo s iste ma d e1 5 r ep ub li ca s f e de ra is , ~\S q ua is s e a cre sc en ta va m re piib lic as a ut6 no ma s d en -t ro d as r ep iib li ca s f ed er ai s, te rr ito rie s (krai) e d is tr ito s n ati ve s a uto nomos(okrag), s en do q ue c ad a r ep ub lic a c om pre en dia d iv ers as p ro vin cia s (oblasti).Ca da u rn a d as r ep ub lic as f ed er ai s, b em c omo a s r ep ub li ca s a ut on or na s in se ri da sna s repiiblicas f e de ra is , e s ta v a fundada em u rn p ri nc fp io t er ri to ria l d e naciona-li da de . T a l construcao i ns tit uc io na l n ao e ra uma simples ficcao. E 6 bv io q uernanifestacoes nac ionali s tas au t6nomas contrarias a v on ta de d o p ar ti do c omu -l 1is tu s ov ic ri co c ra m irnpiedosarnente r ep ri rn id as , s ob re tu do d urante a eras ta lin is ta , e m ilh oe s d e u cra nia no s, e sto nia no s, le to es , iitu an os , a le m ae s d oV olg a, ta rta ro s d a C rirn eia , c he ch en os , m es qu etia no s, in gu ch etio s, b alk ars ,k ara ch ais e k al r nik s f ora rn d ep orta do s p ara a S ib eria e Asia Cent ra l p a ra e v it aru rn a p os siv el c oo pe ra ca o c om o s in va so re s a le rn ae s o u o utro s p ote nc ia is in i-m ig os , o u s im ple s m en te p ara d eix ar 0 t er re n o l iv re p a ra p ro je to s e s tr at eg ic o se la bo ra do s p elo E sta do . 0 rn es rn o a co nte ce u c om rn ilh oe s d e ru ss os, p or u mas e ri e d e r azo es , mu it as v e ze s e sc o lh id o s a le a to ri amen te . Nao o b st an te , a r ea l i d ad ed as a dr nin is tr ac oe s f un da rn en ta da s n a n ac io na lid ad e foi a le rn d e n o rn e ac o ess ir nbo li ca s d e e li te s n a ci on a is p a ra o c up a re rn p o si co e s- c hav e n a ad rn in is tr ac aod as r ep ii bl ic as ." A s p olf tic as d e n at iv iz ac ao (koren iza ts iyas c on ta ra m c om 0a poio d e L en in e S ta lin a te a d eca da d e 30, s en do r eto rn ad as n os a no s 60. Elese sti m ul ar ar n a p re se rv ac ao d os c os tum es e i dio rn as n ati vo s, im p le rn en ta ra rnp ro gr am a s d e " ac ao a fi rr na tiv a" , f av or ec en do 0 r ec ru ta me nto e a p ro mo ca o d en ac io na li da de s n ao -r us sa s n os a pa ra to s d o E st ad o e d o p ar tid o n as r ep ii bl ic as ,b er n c omo n as in sti tu ic oe s e du ca ci on ai s, e f om e nta ram 0 d e se n vo lv ir ne nt o d e

    Paraisos comunuis: identidadc e significado na socicdude ern rede

    e lite s c ultu ra is n ac io na .is , n atu ra lm e nte s ob a c on dic ao d e s ub se rv ie nc ia a opoder sovierico, Nas pnlnvras de Suny:

    I'l'rdida CSI:! 11:11'

  • 5/12/2018 O Poder Da Identidade.cap 1

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    c om b ase e m c lasse s. L en in c S ta lin o pu sc ru m-se ~xsu id~ ja la ll ;, ;am lo \ll~() tillprincipia da tenitorialidade com o fundarnento do conceito de nacao. lsso re-sultou num a estrutura nac ional de m ultiplas carnadas do Estado sovietico: aidentidade nacional foi reconhecida nas instituicoes do g ove rno. C ontudo.aplicando-se 0 p ri nd pi o d o c en rr al is mo democratico, ta l d iv ers id ad e d e s uje i-to s r errito ria is e sta ria s ob 0 controle dos aparatos dorninantes do partido co-munis ta soviet ico e do Estado sovietico. Dessa form a, a Uniao Sovietica foiconstrufda em torno de um a dupla identidade: de um lado, as identidades etni-co-culturais (incluindo a russa); d o D utro, a id entidad e sov ietica com o alicerced a n ov a s oc ie da de : soversk i i narod (0 p ov o so vie tic o) s eria a n ov a id en tid ad ecultural a ser conquistad a no horizonte historico d a construcao com unista.

    H ouv e tam be