O predador que virou vítima

9
TEXTO E FOTOS ANDRÉ SEALE COLABOROU NATÁLIA MARTINO TUBARÕES > A FAMA DE FERA ASSASSINA DOS MARES PERSISTE, MAS OS TUBARÕES ESTÃO CADA VEZ MAIS AMEAÇADOS, PRINCIPALMENTE PELO MERCADO DE BARBATANAS que virou vítima O predador Tubarões-de-Galápagos flagrados próximos à costa norte da Ilha Oahu, no Havaí HORIZONTE GEOGRÁFICO 44 HORIZONTE GEOGRÁFICO 45 André Seale graduou-se em biologia marinha na Universidade de Miami e foi durante a faculdade que se tornou praticante de fotografia subaquática. Continuou estudando e fotografando depois da formatura. Hoje, é doutor em zoologia pela Universidade do Havaí e dedica-se a projetos fotográfico e ações de conservação e conscientização sobre a vida marinha

description

A FAMA DE FERA ASSASSINA DOS MARES PERSISTE, MAS OS TUBARÕES ESTÃO CADA VEZ MAIS AMEAÇADOS, PRINCIPALMENTE PELO MERCADO DE BARBATANAS

Transcript of O predador que virou vítima

Page 1: O predador que virou vítima

TEXTO E FOTOS ANDRÉ SEALE COLABOROU NATÁLIA MARTINO

T U B A R Õ E S >

A FAMA DE FERA ASSASSINA DOS MARES PERSISTE, MAS OS TUBARÕES ESTÃO CADA VEZ MAIS AMEAÇADOS, PRINCIPALMENTE PELO MERCADO DE BARBATANAS

que virou vítimaO predador

Tubarões-de-Galápagos flagrados próximos à costa

norte da Ilha Oahu, no Havaí

HORIZONTE GEOGRÁFICO44 HORIZONTE GEOGRÁFICO 45

André Seale graduou-se em biologia marinha na Universidade de Miami e foi durante a faculdade que se tornou praticante de fotografia subaquática. Continuou estudando e fotografando depois da formatura. Hoje, é doutor em zoologia pela Universidade do Havaí e dedica-se a projetos fotográfico e ações de conservação e conscientização sobre a vida marinha

Page 2: O predador que virou vítima

HORIZONTE GEOGRÁFICO46

to, veio para o Brasil na década de 1980 para dar aula no Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande (RS). Segundo ele, o desen-volvimento da indústria pesqueira, subsidiada pelo governo, tem dizimado a população de tubarão da costa do país. Sandro Klippel, analista ambiental do Ibama, completa: “O governo federal concede muitos incentivos à indústria pesqueira, como isenção de óleo diesel e subsídio na construção de embarcações, o que bate de frente com a tentativa de promover o manejo sustentável da pesca. Mas isso não é privilégio do Brasil, esse tipo de incentivo é muito comum no mundo inteiro”. Uma das conse-quências desse fato, segundo Vooren, é o aumento do número de águas-vivas em alguns pontos do lito-ral brasileiro. “As águas-vivas preenchem os espaços vazios deixados no ambiente marítimo”, explica. Outro defensor dos tubarões, Wendell Estol, diretor técnico da ONG Sea Shepherd Brasil, aponta outra causa, numa reação em cadeira: menos tubarões significa mais peixes que se alimentam de corais, cuja população está se reduzindo, prejudicando a sobrevivência dos próprios peixes que se alimentam deles e gerando, assim, um círculo vicioso que empobrece todo o ambiente marinho.

Além da função de controlar a população de outros peixes, os tubarões atuam na manutenção da saúde do ecossistema, alimentando-se de ani-mais doentes e mortos – o que reduz as carcaças

O olhar frio e inquietante, os dentes pontia-gudos, o enorme corpo e a velocidade com que se movimenta não deixam dúvidas: estamos diante de um assassino nato. Um caçador implacável que reina absoluto na

imensidão dos oceanos. E, diz a lenda, uma eterna ameaça aos nossos semelhantes. O diretor Steven Spielberg soube muito bem captar o “carisma” desse animal quando dirigiu o filme Jaws (Tubarão) em 1975, obtendo um êxito de quase meio bilhão de dólares. E selou a fama de monstro que não pode ser considerada justa, mas que tem prevalecido. Há até pessoas que sofrem de fobia de tubarão – co-nhecida como selacofobia – e, por isso, se recusam a entrar no mar. Sem dúvida, eles são predadores sofisticados, mas não evoluíram alimentando-se de animais terrestres como o homem.

A verdade é que o ser humano é que ameaça a existência dos tubarões. Segundo a União Inter-nacional para a Conservação da Natureza (IUCN na sigla em inglês), algumas espécies desse animal sofreram, desde 1986, redução acima de 65% em sua população. Oficialmente, 17% das 1.044 espécies de tubarão conhecidas estão na lista vermelha, ameaçadas de extinção, da IUCN. Na costa brasileira, mais de 40% delas está em alguma categoria de ameaça.

O biólogo holandês Carolos Vooren, um dos mais importantes especialistas mundiais no assun-

Tubarão-martelo preso a linhas de espinhel e içado a bordo de um barco de pesca em águas brasileiras

T U B A R Õ E S >

Page 3: O predador que virou vítima

HORIZONTE GEOGRÁFICO 47

1 - Lambaru, que chega a medir até 4 metros 2 - Tubarão recifal, mede até 2,5 metros 3 - Tubarão carpete, atinge até 3 metros 4 - Tubarão galha branca, pode chegar a 4 metros de comprimento 5 - Tubarão-baleia, alcança até 12 metros 6 - Tubarão-de-pontas-brancas-de-recife, não ultrapassa 1,5 metro

Evolução e adaptaçãoA maioria das espécies de tubarão povoou o planeta muito antes da existência do ser humano. Os fósseis encontrados comprovam isso, como o do megalodon, ou “megadente”, que habitou a Terra há dois milhões de anos. Provavelmente foi o maior tubarão que já existiu, com dentes que chegaram a medir 18 centímetros. Ele é considerado parente do tubarão-branco, embora muito maior, com peso estimado entre 20 e 50 toneladas. Hoje, os tubarões exibem as mais diversas formas, cores, tamanhos e comportamentos: do gigantesco e pacato tubarão-baleia, que chega a medir 12 metros, ao minúsculo tubarão-pigmeu, que cabe na palma da mão. Habitam desde águas tropicais até as mais gélidas dos polos, da superfície até quilômetros de profundidade. Uns nadam sempre em mar aberto, enquanto outros se adaptaram a uma estratégia de vida mais sedentária, próxima do litoral. Todas essas adaptações exemplificam o sucesso que os tubarões obtiveram em se adequar e povoar a maioria dos ambientes aquáticos existentes no planeta durante sua longa história evolutiva.

1

3

5

6

2

4

SPOT

TY/W

IKIP

EDIA

Page 4: O predador que virou vítima

As questões legaisNo Brasil, a legislação permite que o pescador tenha uma quantidade de barbatanas de no máximo 5% do peso total das carcaças em seu barco. O problema é que o peso da barbatana varia muito, assim como sua relação com o peso total do animal. Além disso, as barbatanas, uma vez secas, perdem mais da metade do seu peso e, assim, permitem que os 5% represente um número maior de barbatanas em relação ao de tubarões carregados pelo barco. O instituto Aqualung luta para que a portaria se assemelhe com a legislação americana, na qual se exige que o animal seja desembarcado com o corpo íntegro, ou seja, antes de a barbatana ser retirada.Para Wendell Estol, diretor técnico da ONG Sea Shepherd Brasil, porém, a medida pode ajudar na fiscalização, mas não será suficiente para salvar os tubarões. “É preciso uma moratória de, no mínimo, dez anos para que as populações tenham tempo para se recuperar e, a partir daí, poderíamos pensar em uma pesca manejada”, explica ele. Uma lei rígida, nos termos defendidos pela Sea Shepherd, teve em 2010 seu primeiro exemplo: o Havaí proibiu completamente a posse, a venda, o comércio e a distribuição de barbatanas de tubarão.

No finning, o que interessa é apenas a barbatana, produto valioso no mercado emergente chinês. O resto do animal é descartado no mar

Barbatanas de tubarão secam ao sol em embarcação de pesca brasileira. A maioria delas vai sair do país sem ser contabilidzada pelas autoridades nacionais

HORIZONTE GEOGRÁFICO48

T U B A R Õ E S >

Page 5: O predador que virou vítima

dinastia Sung, em 960 a.C. A sopa de barbatana é uma iguaria em Hong Kong e o resultado é um mercado de números astronômicos: uma única barbatana de tubarão-baleia, por exemplo, pode ser vendida por R$ 27 mil, tornando-se assim um sinal de status.

Dessa maneira, a prática do finning tem se disseminado pelos oceanos afora, inclusive no Brasil. “É como se criássemos gado para comer apenas o filé-mignon: não teríamos carne disponível para todos por muito tempo. Isso é absolutamente insustentável”, avalia Marcelo Szpilman. A legis-lação brasileira permite a pesca do tubarão, mas não o finning. O problema é que transportar toda a carcaça do animal até o porto significa carregar um enorme volume do qual apenas uma pequena parte é realmente valiosa. Enquanto a carne de tubarão-martelo ou tubarão-azul rende de R$ 1,50

no fundo do mar das quais também se alimentam bactérias e micro-organismos. “O equivalente disso na terra seria os urubus. Sem eles, não só trope-çaríamos em animais mortos o tempo todo, mas também respiraríamos um ar repleto de bactérias e, provavelmente, não sobreviveríamos”, compara Marcelo Szpilman, diretor do Instituto Aqualung.

Economia do tubarãoEsses fatos, no entanto, não impedem o

crescimento da indústria dos tubarões, capaz de movimentar somas expressivas no mercado inter-nacional, que busca a carne com baixos índices de gordura saturada (a tão apreciada carne de cação), os óleos para produzir cosméticos, a pele para sapatos e bolsas.

Mas nada se compara à prática do finning, cujo objetivo é o comércio de barbatanas. Trata-se de uma atividade cruel na qual as barbatanas são, na maioria das vezes, retiradas dos tubarões ainda vivos. Jogados de volta ao mar, incapacitados de nadar, os animais agonizam sem defesas. Quem alimenta essa prática é o mercado chinês, que procura atender a uma tradição que remonta à

DEPOIS DE ARRANCADAS AS BARBATANAS, OS TUBARÕES SÃO JOGADOS AO MAR PARA AGONIZAR ATÉ A MORTE

Barbatanas de tubarão secas à venda em um mercado de Hong Kong

HORIZONTE GEOGRÁFICO 49

Page 6: O predador que virou vítima

HORIZONTE GEOGRÁFICO50

O caso de RecifeNa década de 1990, os ataques de tubarão na praia de Boa Viagem, em Recife, produziram 13 mortes de banhistas e muitas notícias na mídia, provocando a interdição de algumas praias da capital pernambucana. O principal motivo para esse súbito confronto entre tubarões e seres humanos foi, segundo especialistas, a intensificação do uso do Porto de Suape, localizado ao sul de Recife. Segundo Marcelo Szpilman, diretor do Instituto Aqualung, o porto foi construído sobre um mangue, o que, juntamente com o tráfego de navios, fez diminuir a quantidade de peixes da região. Além disso, o porto obstruiu o fluxo de dois rios, dificultando a reprodução do tubarão cabeça-

Dentes Os dentes do tubarão crescem constantemente por toda a vida desde o momento em que nascem e quando um se perde, imediatamente aparece outro em substituição. Ao longo de 50 anos de vida de um tubarão-limão, por exemplo, estima-se que sejam produzidos cerca de 40 mil dentes.

OlhosQuando atacam, os tubarões cobrem os olhos com uma membrana nictitante para proteger os olhos. Sem enxergar, passam a navegar e a dirigir as investidas por meio da captação de estímulos elétricos em pequenos órgãos localizados no focinho. Esse recurso é particularmente importante para espécies que buscam alimentos no fundo do mar, pois possibilita a detecção de campos elétricos fracos gerados pela musculatura das presas enterradas no substrato ou sob a areia.

Um animal muito especialMuitas espécies de tubarão possuem inovações fisiológicas que permitem sua adaptação nos mais diferentes ambientes marinhos. Veja algumas delas:

chata, já que as fêmeas costumam entrar nos rios para o parto. Diante disso, os tubarões precisaram se deslocar em busca de um local com maior disponibilidade de alimento e melhores condições para reprodução. Foram parar na região da praia de Boa Viagem, onde, para o azar dos banhistas, a água é turva. “Nessas condições, o tubarão não vê uma pessoa, vê um braço ou uma perna, muito menores do que ele, e vai lá para conferir o que é”, explica Szpilman. No caso, “conferir” significa uma mordida investigatória. “Ele morde, percebe que não é o que está acostumado a comer e solta. Tubarão não come gente”, reforça o biólogo.

T U B A R Õ E S >

HORIZONTE GEOGRÁFICO50

Sistema disgestivoA maioria dos tubarões engole a presa inteira ou a dilacera em pedaços relativamente grandes. Tem estômago em forma de “U” que secreta ácidos e enzimas potentes e o restante do alimento não digerível, como ossos grandes, que são regurgitados.

SentidosNo tubarão, são extremamente aguçados. A audição principalmente: são capazes de perceber ruídos a quilômetros de distância. Também possuem olfato extraordinário e podem sentir rastros de aromas, como os de sangue, por exemplo. Algumas espécies, como os tubarões cinza de coral, podem detectar uma parte de extrato de peixe para dez bilhões de partes de água, o que seria equivalente a uma gota de sangue em uma piscina. A visão é dez vezes mais sensível que a dos mamíferos. Além de dilatarem a pupila, possuem um tecido atrás da retina que funciona como um espelho, multiplicando a quantidade de luz. Tubarões têm ainda um bom paladar, para poder imediatamente aceitar ou rejeitar uma presa tóxica.

Page 7: O predador que virou vítima

NadadeirasTubarões não param: nadam constantemente para manter a posição na coluna d’água e precisam economizar energia. Graças às grandes nadadeiras peitorais e caudas achatadas, conseguem reproduzir um efeito parecido com o das asas de um avião quando decolam. Por isso são extremamente velozes.

SonoHá evidências de que os tubarões reduzem sua atividade metabólica durante certos períodos de descanso. Tubarões tigre, por exemplo, já foram encontrados no Golfo do México em estado completamente estacionário.

Escamas

O tubarão cabeça-chata é a espécie responsável pelos ataques em Recife

Válvulas espiraisLocalizadas atrás dos olhos, são orifícios respiratórios usados para suprir oxigênio diretamente aos olhos e cérebro do animal. Nas espécies de fundo, como o tubarão carpete, as válvulas espirais são usadas para respiração enquanto descansam no substrato.

BLIC

KWIN

KEL

/ ALA

MY

/ OTH

ER IM

AGES

BRA

SIL

HORIZONTE GEOGRÁFICO 51

Estrutura internaÉ composta de tecido cartilaginoso que, apesar de mais flexível e leve que o osso, não compromete a proteção dos órgãos internos. Essa estrutura, de densidade quase neutra em relação à água do mar, garante facilidade e rapidez no deslocamento entre várias profundidades – ao contrário dos demais peixes ósseos, que dependem do processo de adicionar ou remover gás da bexiga natatória para regular a flutuação.

Ampola de LorenziniGraças a elas, tubarões podem detectar pequenos campos eletromagnéticos gerados pelas contrações musculares de presas em potencial. Permitem também que o tubarão detecte mudanças de temperatura.

Page 8: O predador que virou vítima

a R$ 2 por quilo para o pescador no Rio Grande do Norte, as barbatanas secas valem R$ 350 por quilo. O resultado é um mercado ilegal milionário, no qual as barbatanas são, em geral, secas em alto-mar e depois misturadas à roupa da tripulação, o que faz da fiscalização uma tarefa quase impossí-vel. “E são milhares de pescadores fazendo isso dia-riamente. Um trabalho de formiga mesmo”, explica Szpilman, afirmando que o problema vai além dos barcos chineses pescando em águas internacionais e se ramifica no aliciamento de pescadores locais. “O finning é uma prática oportunista. Ainda que o pescador esteja atrás de um peixe valorizado, como o atum, por exemplo, se tem a chance, ele vai pescar um tubarão por causa da barbatana, mas não vai querer ocupar espaço no seu barco com aquela enorme carcaça sem grande valor comercial”, diz Sandro Klippel, que aponta erros na legislação re-lacionada a essa prática (veja quadro na página 48).

Do Brasil para a ÁsiaO fato é que o Brasil contribui de maneira

significativa para o mercado de barbatanas da China. Segundo estudo da pesquisadora Shelley Clarke, realizado em 2004, o Brasil fornece cerca de 5% das barbatanas vendidas em Hong Kong. Em 2002, foram 625 toneladas do produto saídos do Brasil para esse mercado, embora os dados de exportação da Secretaria do Comércio Exterior acusem somente 4,5 toneladas exportadas. “Há uma grande quantidade de barbatanas de tubarão que saíram do Brasil como um produto diferente, provavelmente como forma de declarar valores inferiores e consequentemente pagar menos im-posto”, diz diz Sandro Klippel, do Ibama.

Perseguido por tantos motivos, o tubarão, ainda por cima, não é um um grande reprodutor. Ele precisa investir considerável energia e tempo na formação dos seus filhotes. A espécie mangona, por exemplo, tem uma gestação que varia de 9 a 12 meses e os primeiros filhotes alimentam-se dos outros, ainda dentro de cada um dos dois úteros maternos, e o resultado desse canibalismo uterino é uma prole de apenas dois filhotes por gestação.

Combater a matança indiscrimada do tuba-rão torna-se ainda mais difícil diante da rejeição

popular ao animal, que prevalece baseada mais na fama do que nos fatos. Afinal, somente três espécies podem realmente ser consideradas perigosas: o tubarão-branco, o tubarão-tigre e o tubarão cabeça-chata. “Mas deve-se esclarecer que todos os ataques são motivados por circuns-tâncias especiais, como erros de identificação ou invasão de território. Se fôssemos apetitosos para os tubarões, haveria muito poucas praias seguras ao redor do mundo e os ataques seriam diários e contados aos milhares”, diz Marcelo Szpilman, que vem praticando há anos o mergulho com as mais variadas espécies de tubarão, sem nenhum incidente. Ele explica que os oceanos são regidos por uma regra: o maior come o menor: “Se em terra firme é comum um leão atacar uma girafa, no mar isso seria impensável. Um mergulhador de 1,5 metro de altura, equipado com pé de pato que mede mais quase 1 metro, pode nadar com tranquilidade entre os tubarões, já que a maioria não ultrapassa 2,5 metros”. Acidentes fatais são ra-ríssimos e as estatísticas mostram que não passam de dez anualmente no mundo tudo. A situação só muda em ambientes desequilibrados, como é o caso de Recife (veja quadro na página 50).

Habitantes dos oceanos há mais de 400 mi-lhões de anos (veja quadro na página 47), o desa-

EM 2002, 625 TONELADAS DE BARBATANAS SAÍRAM DO BRASIL PARA HONG KONG. APENAS 4,5 TONELADAS FORAM REGISTRADAS NAS EXPORTAÇÕES

HORIZONTE GEOGRÁFICO52

T U B A R Õ E S >

Page 9: O predador que virou vítima

parecimento dos tubarões poderia trazer consequ-ências graves para o bioma marinho e a economia das pessoas que vivem no entorno. Que o digam os pescadores da Tasmânia: anos atrás, assistiram ao colapso da indústria da lagosta causado pela quase extinção dos tubarões na região. A população de uma de suas presas, o polvo, aumentou muito e o número de lagostas, presas dos polvos, diminuiu – o que obrigou a uma reestruturação da indústria pesqueira local. Enquanto tubarões mortos trazem a renda de um dia para algumas poucas pessoas, os animais vivos podem trazer renda contínua para várias famílias locais por meio do ecoturismo e ainda garantir a saúde dos ambientes marinhos.

No mar caribenho, em algum lugar entre o Canal de Yucatán e a badalada Cancún, barcos que outrora pescavam, agora oferecem aos vi-sitantes a possibilidade de se aventurar em um mergulho com tubarões-baleia. A imponência com que se movem esses animais, que podem chegar a 36 toneladas e medir até 12 metros – e são inofensivos, pois se trata de uma espécie que sobrevive filtrando micro-organismos da água – atrai os visitantes e ajuda a transformar a economia na região. Protagonistas de histórias sangrentas, esse seria um final feliz para os tu-barões: serem admirados pela magnitude que desfilam em todos os mares.

Assustador, mas inofensivo: apesar de seus 12 metros de comprimento, o tubarão-baleia sobrevive filtrando micro-organismos

HORIZONTE GEOGRÁFICO 53