O Pregador - Sua Vida e Obra - John Henry Jowett

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    Gratido:

    A Deus, pela vida e obra deJohn Henry Jowett.

    A "Harper & Brothers Publishers"pela divulgao feita de obra to inspiradora.

    Ao Dr. Oliveiros Valim e a sua digna esposa,em cujo lar fiz a presente traduo.

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    UMA PALAVRA AO LEITORNo dia 6 de abril de 1960, data em

    que conclu a traduo deste livro nacidade de Osvaldo Cruz, escrevi oseguinte:

    Este livro contm sete inspiradorasprelees apresentadas pelo autor, JohnHenry Jowett, na Universidade de Yale, depoisde j ter servido muitos anos no pastorado.

    Para mim sua leitura foi uma bnopreciosa. Convicto de que o ser para muitoscoraes, ofereo esta traduo. Espero emDeus no fazer jus ao ditado: "Traduttori,traditori", pois julgo ter conservado, tantoquanto possvel, a letra e o esprito da obraoriginal.

    Quem ser leitor deste livro?

    Fiz a traduo na certeza de que a

    mensagem do livro ser benfica,instrutiva einspiradora para pastores, evangelistas epregadores leigos, presbteros, diconos,professores da Escola Dominical e... paratodos os crentes em Cristo. Estas especifica-es no se restringem a uma ou duas deno-minaes evanglicas, mas abrangem todo o

    evangelismo.

    Ver o leitor que no exagero.

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    JOHN HENRY JOWETT

    A Deus, graas, louvor e glria pela vidae pela obra de John Henry Jowett!A Deus, splicas para que esta obra seja

    poderoso instrumento da graa divina,veculo de bnos ricas e abundantespara a rea brasileira de Sua Seara.Amm.

    Estou certo de que as palavras acima so vlidashoje, especialmente em sua referncia ao benefcio queas prelees de Jowett comunicaro aos que trabalhamnas fileiras do Mestre j como membros de igreja, jcomo obreirosnesta hora de conturbao total.

    Neste momento histrico, quando as mensagens eaes negativas, desagregadoras, foram entrada nocorao dos poderosos e dos simples, a obra de Jowettvale por um contundente e animador grito de

    EXCELSIOR!

    cujos ecos ficam retinindo construtivamente nas fibras daalma do leitor atento. estimulante como aquele vigorosoestribilho doSalmo 24:

    "Levantai, portas, as vossas cabeas,levantai-vos, entradas eternas, e entrar o

    Rei da Glria!"

    Campinas, janeiro de 1969.

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    NDICEUma palavra ao leitor

    PRELEES

    1A vocao do Pregador..........................................07

    2Perigos do Pregador..............................................25

    3Os Temas do Pregador...........................................45

    4O Pregador no Gabinete..........................................67

    5O Pregador no Plpito.............................................87

    6O Pregador nos Lares...........................................105

    7O Pregador como Homem de Negcio...................124

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    A VOCAO DO PREGADORPrimeira preleo

    "Separado para o Evangelho de Deus."

    No decurso destas prelees, pretendo falarsobre o seguinte tema geral: "O pregador sua vidae obra." H pouca ou nenhuma necessidade deintroduo. A nica palavra de prefcio que desejopronunciar esta: J trabalhei no ministrio cristomais de vinte anos. Amo esta minha vocao. Gozoardente deleite nos seus servios. Minha conscinciano me acusa de extravio para qualquer tipo de rivais

    que apelem para o meu vigor e minha obedincia.Uma s minha paixo e por ela tenha vivido: A obraobsorventemente rdua, gloriosa embora, deproclamar a graa e o amor de nosso Senhor eSalvador Jesus Cristo. Portanto, levanto-me diantedos senhores como um companheiro de servio, quese atarefa com certa parte do campo, e meu objetivo

    simples mergulhar no lago da minha experincia,referir determinadas opinies e descobertas, e darconselhos e exortaes nascidos dos meus prpriosxitos e fracassos.

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    Presumo estar falando a homens que estoolhando o campo do ponto de vista da circunferncia,que esto contemplando a obra do ministrio,disciplinando agora as suas foras, preparando osseus instrumentos e, de modo geral, elaborando osseus planos para a jornada num terreno que, paraeles, ainda regio inexplorada. Percorri diversoscaminhos e quero contar-lhes algo daquilo que en-contrei.

    IDevo falar-lhes hoje sobre a vocao e a mis-

    so do pregador. de momentosa importncia amaneira como um homem entra no ministrio. Huma "porta" neste aprisco, como tambm h "outrocaminho." O indivduo pode entrar influenciadoapenas por um raciocnio pessoal ou pode faz-loconstrangido por conselhos puramente seculares deamigos. Pode ele compreender o ministrio comouma profisso, como um meio de ganhar a vida, comouma distino social desejvel, como um negcio queoferece oportunidades agradavelmente favorveis delazer bafejado pela cultura, de cobiadas lideranas

    e de atraente publicidade. H quem se torne ministroporque, depois de pesar cuidadosamente vantagensrelativas, prefere o ministrio ao direito, ou medicina, ou cincia, ou indstria e comrcio. Oministrio posto em fila com outras muitasalternativas seculares e escolhido por causa dealgum atrativo saliente que apele para o gosto

    pessoal. Ora, em todas estas decises o candidatoao ministrio bate em porta errada. Sua viso totalmente horizontal. Sua perspectiva a do"homem do mundo": Predominam consideraes,

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    semelhantes usam-se as mesmas balanas deopinio. O motivo constrangedor a ambio e ameta cobiada o triunfo. No h nada que sejavertical no seu modo de ver. No h uma elevaodos olhos "para os montes." Nada h que seja "decima." No h nenhum mistrio espantoso como de"um vento que sopra onde quer." O homem resolveusobre a sua vocao, mas "Deus no estava em seuspensamentos."

    Pois eu afirmo, com profunda convico, queantes de algum escolher o ministrio cristo como asua carreira, deve ter a certeza de que a seleo foiimposta imperativamente pelo Deus eterno. Ochamado do Eterno tem que ressoar atravs dasrecamaras da sua alma de modo to claro como osom dos sinos matinais ressoa pelos vales da Sua,convocando os campnios para a primeira orao elouvor. O candidato ao ministrio tem que se movercomo um homem aprisionado por algemas mis-teriosas. "A necessidade infligida" a ele. Suaescolha no uma preferncia entre alternativas. Emltima instncia, ele no tem alternativa: Todas asoutras possibilidades se calaram; permanece apenasum chamado inconfundvel, ecoando como a

    imperiosa intimao do Deus eterno.

    Ora, ningum pode definir ou descrever aoutrem a aparncia e a forma da vocao divina. Ascircunstncias da vocao deste e as daquele noso exatamente mensurveis, e a natureza dascircunstncias da nossa vocao a torna distinta e

    original. Alm disso, o Senhor honra a nossa indivi-dualidade na prpria singularidade do chamado queEle nos dirige. A singularidade da nossacircunstncia e a espantosa singularidade de nossas

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    almas fornece o meio pelo qual ouvimos a voz doSenhor. Conforme as Escrituras, quo estranha-mente variados so os "aparelhos" pelos quais a vozdivina determina a vocao dos homens! Aqui Amos, pobre boieiro meditativo e solitrio no seio dasfranzinas pastagens de Tcoa. Chegam-lhe aosouvidos os rumores de negros atos praticados nasaltas rodas da nao: A riqueza gerando aprodigalidade; a luxria gerando a insensibilidade; ainjustia galopando a freios soltos e "a verdadejazendo cada pelas ruas." E, segundo o estro dopastor humilde, "lavrava o fogo." Naquelas vastidesdesertas, ele ouviu um chamamento misterioso e viuacenos de mo! Para ele no havia caminho alter-nativo. "O Senhor me tirou de aps o gado, e o Se-nhor me disse: Vai, e profetiza."

    Mas nas condies em que Isaas foi chamado,que diferena! Isaas era amigo de reis; era eruditofreqentador dos crculos palacianos; sentia-se emcasa nos recintos das cortes reais. E por que meiosoou a vocao divina para este homem? "No ano emque morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor." Isaas ligarasua f a Uzias. Uzias era "o sustentculo dasesperanas de um povo." Sobre a sua soberania forte

    e esclarecida estava sendo edificado e purificado umEstado firme. E agora caa aquela coluna e pareciaque toda a bela e promissora estrutura haveria deruir com ela, e a nao de novo cairia na impureza econfuso. No trono vazio, porm, Isaas descobriu apresena de Deus. Quebrara-se uma colunahumana; permanecia a Coluna do Universo. "No ano

    em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor." Isaasteve a viso de um Deus poderoso, movendo eremovendo os homens como ministros do seupropsito grandioso e bom. Isaas lamentava a queda

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    de um rei quando ouviu o chamado para o ofciodivino! "A quem enviarei, e quem h de ir por ns?"Um homem cara; havia necessidade de outro! Ochamado de Deus retumbou atravs das fileirasreduzidas e bateu no corao e na conscincia deIsaas; e Isaas encontrou a sua vocao e o seudestino: '"Eis-me aqui, envia-me a mim."

    Quo diversas, ainda, as circunstnciaspresentes vocao de Jeremias! H lquidos quecom uma sacudidura precipitam em slidos; e hcoisas fludas e nebulosas na vida, fenmenos vagosjacentes ocultos nas nvoas da conscincia que, comalgum sacudimento ou mudana repentina das cir-cunstncias, podem precipitar em clara intuio, emconhecimento firmee passamos a possuir a mentee a vontade de Deus. Sim, uma pequena inclinaodas condies, e a nvoa cedem lugar viso, e aincerteza se transforma em convicta percepo dodestino. Creio que foi exatamente assim com Jere-mias. Houvera em sua vida pensamentos sem con-cluses, momentos obscuros de percepo semorientao clara, longas meditaes sem vocaesdefinidas. Mas um dia, no sabemos como, ascircunstncias sofreram ligeiro desvio, e as suas

    vagas reflexes se mudaram em vivida convico, eele ouviu a voz do Senhor Deus a dizer-lhe: "Antesque sasses da madre, te santifiquei; s naes te deipor profeta." Era um chamamento evidente; maissemelhante ao relmpago que semelhante luz; e eleo temeu muito, aceitando com relutncia.

    Dei trs exemplos dos vrios tipos dechamados do nosso Deus; mas se fossemmultiplicados indefinidamente chegando a incluirnesta apresentao o ltimo a ouvir a voz mstica,

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    ainda se veria que toda vocao genuna tem a suaprpria singularidade, e que, atravs daoriginalidade das circunstncias pessoais, ochamado divino comunicado alma individual. Eassim ns no podemos relatar como o chamado hde vir a ns, ou qual ser a maneira da sua vinda.Pode ser que a coao divina seja to branda e gentilcomo um olhar: "Eu te guiarei com meus olhos."Talvez dificilmente possamos descrever a Suadireo to reservada, calma e discreta ela . Oupode ser que a coao nos agarre como com umaperto de mo invisvel e forte, como se estivramoscustodiados por mo de ferro da qual no puderaescapar. Penso que esta a significao da figuraestranhamente violenta usada pelo profeta Isaas: "OSenhor me falou com mo forte." O chamado divinolanou-se ao jovem profeta maneira de uma "fortemo" que o aprisionasse como tenaz! Sentia que notinha alternativa! Foi arrastado pela coero divina!'"A necessidade foi infligida" a ele! Eleestava "em ca-deias" e tinha que obedecer. E eu acho que estasensao da "mo forte," este senso da misteriosacoero s vezes um constrangimento silenciosoque outorga apenas ligeira iluminao ao juzo. Oque eu quero dizer isto: Algum pode visualizar sua

    vocao ao ministrio no poderoso imperativo de umaprisionamento que ele no pode explicar bem. Noduvida dessa impulso. to manifesta como a lei dagravidade. Mas quando ele se pe a buscarexplicaes a fim de justificar-se, v que se move napenumbra, ou no mais profundo mistrio da noite.Percebe a sensao da mo forte que o move,

    mas no pode dar uma interpretao satisfatria domovimento. Se posso diz-lo sem faltar com adescrio, este foi o carter de meu prpriochamado - o mais remoto para o ministrio. Por

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    algum tempo, estive como um cego conduzido pela"mo forte" de um guia silencioso. Havia a orientaode uma coero, mas no havia nenhuma visomanifesta. Eu estava '"em cadeias", mas conhecia a"mo" e tinha que obedecer. "Eu levarei o cego porum caminho que ele no conhecia." "Tu pousaste aTua mo sobre mim."

    E assim que o tipo de "chamado" de um ho-mem pode ser bem diferente do tipo do "'chamado"de outro, pois na essncia so uma e a mesma coisa.Quero declarar a minha convico de que em todosos chamados genunos para o ministrio h umasensao de que a iniciativa divina, uma solenecomunicao da vontade divina, um misterioso sen-timento de comisso que no deixa ao homem al-ternativa alguma, mas que o coloca no caminho destavocao depositando-lhe nos ombros a embaixada deservo e instrumento do Deus eterno. "Porque todoaquele que invocar o nome do Senhor ser salvo.Como, porm, invocaro aquele em quem nocreram? e como crero naquele de quem nada ou-viram? e como ouviro se no h quem pregue? ecomo pregaro se no forem enviados?" A certeza deser enviado o elemento vital da nossa comisso.Mas ouamos de novo a Palavra de Deus: "No man-

    dei os profetas, e todavia eles foram correndo; nofalei a eles e, todavia, profetizaram." A ausncia dosenso de vocao tirar a responsabilidade dapessoa e tender a secularizar completamente o seuministrio.

    Ora, o homem que entra no ministrio pela por-

    ta da vocao divina, certamente aprender "a gl-ria" da sua vocao. Ele estar sempre maravilhadoe a sua admirao ser um anti-sptico moral deque ele tenha sido nomeado servo no errio da

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    graa, para tornar conhecidas "as insondveis ri-quezas de Cristo." Os senhores no podem deixar dever esse tipo de admirao na vida do apstoloPaulo. Depois do infinito amor do seu Salvador, e daassombrosa glria da salvao da sua pessoa, suaadmirao atrada e alentada pela sobrepujanteglria da sua vocao. Seu "chamado" nunca seperde na mistura de profisses. A luz do privilgioest sempre fulgindo no caminho do dever. A aurolada sua obra jamais se apaga e a sua estrada nuncafica toda escura, nem se torna inteiramente vulgar.Ele parece prender a respirao toda vez que meditana sua misso, e no meio de grandes adversidades, aglria ainda maior. Da, desde o momento da suaconverso e chamado at a hora da sua morte, esta a espcie de msica e de cntico que neleencontramos sempre: "A mim, o menor de todos ossantos, me foi dada esta graa de pregar aos gentioso evangelho das insondveis riquezas de Cristo.""Por esta causa eu, Paulo, o prisioneiro de CristoJesus por amor de vs, gentios; se que tendesouvido a respeito da dispensao da graa de Deus amim confiada para vs." "Para isto fui designadopregador e apstolo (afirmo verdade, no minto),mestre dos gentios na f e na verdade!" No sentem

    os senhores uma sagrada e ardente admiraonestas exclamaes, um orgulho santo e exultanteem sua vocao ligado a uma humildademaravilhosa de que a mstica mo da ordenaopousara sobre ele? Aquele assombro permanentefazia parte do seu equipamento apostlico, e o seusenso da glria da sua vocao enriquecia a sua

    proclamao das glrias da graa redentora. Seperdermos o senso da transcenda da nossacomisso, ns nos tornaremos semelhantes a

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    comerciantes comuns, num mercado comum,parolando acerca de mercadoria comum.

    Eu acho que os senhores havero de descobrirque todos os grandes pregadores preservaram esteadmirvel senso da grandeza da sua vocao. Isto impressionantemente verdadeiro com relao ao Dr.Dale, distinguido preletor de Yale, e meupredecessor no plpito, em Carrs Lane. Freqente-mente os membros da minha velha congregaotentam descrever-me o misto de dignidade e humil-dade com que ele proclamava o evangelho de salva-o. Dizem que s vezes ele faltava com uma espciede modstia pessoal nascida de uma grande sur-presa: A de ter sido achado digno de "levar os vasosdo Senhor." Eles me contam que isso era pecu-liarmente manifesto Mesa do Senhor e em outrasocasies em que, ao tratar dos mais augustos temas,levava sua gente aos mais ntimos segredos do lugarsanto. Tudo isso era igualmente verdadeiro emreferncia a outro homem, dotado de equipamentomental bem diferente do possudo pelo Dr. Dale.Trata-se de Robert M'Cheyne que, na Esccia, levouas riquezas da graa a multides quase incontveis.Andrew Bonar, amigo ntimo de M'Cheney,

    narrou--nos com que plena e delicada admirao elecumpria o seu ministrio no Senhor. Quandoconversava, muitas vezes se expandia em profunda ealegre surpresa. A glria do seu ministrio iluminou odever comum semelhana de um halo, e se lhe tor-naram cnticos os estatutos de Deus. No me admirode que Andrew Bonar escrevesse estas palavras

    sobre ele: "Era to reverente para com Deus, tosatisfeito em suas aspiraes com referncia a Ele...Jamais parecia desprevenido. Sua lmpada sempreestava ardendo, e os lombos sempre cingidos. Seu

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    esquecimento de tudo aquilo que julgava no visar glria de Deus era notvel e parece que nunca houveocasio em que ele no sentisse bem a presena deDeus."

    Esta atitude de grandioso espanto pessoal face glria da nossa vocao, conquanto nos mantenhahumildes, tambm nos engrandecer. Impedir quenos tornemos pequenos oficiais de empresastransitrias. Far-nos- verdadeiramente grandes e,portanto, nos livrar de gastarmos os nossos diascom quefazeres triviais. Emerson disse algures deque os homens cujos deveres so cumpridos sobcpulas elevadas e soberbas, conquistam progressonobre e certa sublimidade de conduta. E ospregadores do Evangelho, cuja obra realizada de-baixo do zimbrio altaneiro de algum glorioso e ma-ravilhoso conceito do seu ministrio, adquiriro certagrandeza de procedimento em que a petulncia eoutras leviandades nem podem respirar. "Correreipelo caminho dos teus mandamentos, quando dila-tares o meu corao."

    Pois bem, se tal o cunho sagrado da nossavocao e sua glria conseqente, no podemos per-

    manecer cegos diante das suas solenes responsabili-dades. um grande encargo, e terrvel, e santo.Somos chamados para guias e guardies das almashumanas, conduzindo-as no "caminho da paz." Te-mos de estar sempre ocupados nos interesses eter-nos, levando os pensamentos e os desejos doshomens para as coisas de primeira importncia e

    desembaraando-os dos interesses menores ouinferiores, os quais retm os homens em escravido.Temos que ser os amigos do Noivo, ganhando almas,no para ns mesmos, mas para Ele, preparando as

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    bodas para o Senhor, grandemente satisfeitosquando promovemos o encontro da noiva com oNoivo. No me causa espanto o fato de sucumbiremos homens diante da vocao, sobretudo quando lhepercebem a glria! No me causa espanto o temorsanto dos homens, quando se acercam do sagradoofcio! Ouam estas palavras de Charles Kingsley,escritas no seu dirio particular, lavradas no alvor dodia em que havia de ser ordenado ao ministrio doSenhor: "Durante algumas horas, toda a minha almaestar aguardando em silncio os selos da admissoao servio de Deus, honra de que a muito custo ousoconsiderar-me digno... H meses, dia e noite, minhaorao tem sido Oh Deus, se no sou digno, se omeu pecado em levar almas para longe de Ti aindaest sem perdo, se o meu desejo de ser ministro no exclusivamente com o propsito de servir-Te, se mister me seja mostrada a minha fraqueza e asantidade do Teu ofcio com maior fora ainda, ohDeus, rejeita-me!" Afirmo que no me causa espantoeste abatimento, e eu que no haveria de orar paraque chegasse o dia em que tal abatimentodesaparecesse por completo, pois poderia ser que,levados perigosa confiana em ns mesmos, vis-semos a perder a noo do esplendor da glria,

    adquirindo uma empobrecida concepo da nossagrandiosa vocao. Neste ponto, como em outrosmuitos, "o temor do Senhor uma fonte de vida", e "otemor do Senhor o princpio da sabedoria."

    IIPortanto, tal a vocao do pregador to

    sagrada, to cheia de responsabilidades, to glorio-sa; qual h de ser a misso de uma vocao assim?Possumos alguma palavra clara de ilustrao que a

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    coloque nossa frente como vereda iluminada?Creio que sim. Sempre que eu quero reviver a missosuperlativamente sublime da minha vocao, voltoreverente para o lugar santo onde o nosso Mestreest em comunho com o Pai, e naquela misteriosacomunho eu ouo, definida, a minhavocao. "Assim como Tu me enviaste ao mundo,tambm Eu os enviei ao mundo." dominante aserenidade que pervaga aquela seqncia. A tran-qilidade da passagem a tranqilidade das alturasassombrosas. a serenidade do sublime. O "assim...tambm" que liga as duas sentenas no mesmo nvelde pensamento e propsito majestoso e divino.Coloca a misso dos pescadores de homens galileusem p de igualdade com a misso redentora do Filhode Deus.

    Movamo-nos com reverncia naquele secretolugar santo. "Assim como Tu Me enviaste." As pa-lavras conduzem nosso lento e falho pensamentopara o inconcebvel estado que nosso Senhor des-creveu como "a glria que Eu tive junto de Ti, antesque houvesse mundo." Bem sei que no possumosasas para elevar-nos ao reino misterioso, nem olhospara ver a candente bem-aventurana. Mas podemos

    sentir a majestade daquilo que no conseguimosexprimir. bom perder-nos na ampla significao depalavras como estas: "a glria que Eu tive junto de Ti,antes que houvesse mundo." Ponderem bem isso. Asublime habitao! A santa Paternidade! A luzinefvel! As presenas msticas! Os querubins eserafins que "no tm descanso nem de dia nem de

    noite, proclamando: Santo, Santo, Santo!" Ento,naquela glria, a misso redentora do Prncipe daGlria! Maravilha mais gloriosa que a glria arenncia da glria! "A Si mesmo Se esvaziou."

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    Assombro dos espritos ao redor do trono! "E oVerbo se fez carne." Que maravilha!Que reverncia! "Assim como Tu Me enviaste aomundo."

    Agora, mudana de cena. A glria inconcebvel posta de lado. O Filho da Glria no est maiscercado pelos querubins e serafins alados e puroscomo a luz. Mas na forma de um aldeo Galileu temao seu redor alguns pescadores, rudes na apreensodo propsito espiritual, de corao tmido, devontade irresoluta, muitas vezes buscando promoopessoal em veia do progresso da verdade, muitodefeituosos, muito apagados e todos muito im-perfeitos e prontos para esquec-Lo e fugir.

    E as duas cenas so estreitamenterelacionadas. "Assim como Tu Me enviaste aomundo, tambm Eu os enviei ao mundo." O fato deestar o primeiro "enviado" ligado aos outros paramim a maravilha das maravilhas. O admirvel queambos devem ser mencionados de um s flego,includos no mesmo feixe de pensamentos,compreendidos no mesmo propsito. Que significa,pois, esta associao? Significa a exaltao do

    apostolado cristo, a glorificao do ministriocristo. Significa que a ordenao mstica querepousou sobre o Filho da Glria quando veio a terra,repousou tambm no pescador Pedro quando foi aCesrea. Significa que a mesma santa comisso queoperou no ministrio redentor do Filho de Deus,operou tambm nas energias do apstolo Paulo

    quando avanou rumo Macednia, Corinto, Atenase Roma. Significa que os senhores, em sua esfera deservio, e eu na minha, na posio em queestivermos, podemos participar da mesma comisso

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    jubilosa usufruda pelo Prncipe da Glria quando foifeito semelhana do homem. a glorificao damisso e do servio do apstolo. "Assim como TuMe enviaste."

    Portanto, precisamos examinar cuidadosamen-te o que dito acerca da natureza e do carter damisso do Senhor, se que desejamos compreendera nossa comisso e assim perceber a glria da nossadesignao e a dignidade do nosso servio.Precisamos contemplar reverentemente a primeirapara que, por ela, compreendamos a outra. Temosalguma orientao mais, concernente misso denosso Senhor? Ele a definiu porventura? Descre-veu-a? Esboou-a algures em traos que possamoscompreender? Creio que tais luzes nos foram dadas.Somos informados de que Jesus foi a Nazar numsbado. Entrou na sinagoga. Abriu um livro, escolheue leu uma passagem, e depois fez a aplicao daspalavras mostrando que elas descreviam a Suapessoa e achavam cumprimento na Sua vida. Quetexto era? "Ele me enviou a pregar o Evangelho aospobres, a curar os quebrantados de corao, apregar redeno aos cativos e restaurao da vistaaos cegos; a pr em liberdade os oprimidos e h

    proclamar o ano aceitvel do Senhor." (') Serpossvel que a passagem seja uma luz pela qual pos-samos interpretar o nosso ministrio? Olhemos aspalavra cardeais no texto "pregar", "curar", "re-dimir", "pr em liberdade", "proclamar"!Podemos extrair o valor comum dos vocbulos? Tmeles alguma significao geral? Existe algum

    denominador comum? Podemos dizer que em todasestas palavras diversas h um penetrante sentimentoe propsito de emancipao? No sugerem todas aidia de levantamento, livramento? Passemos em

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    revista as palavras: "Enviou a pregar" apossibilitar a viso aberta da graa divina quelescujo pensamento est sombriamente limitado eaprisionado. "A curar" a dar a graa do confortoqueles que se acham esmagados pelo inconcebvelpeso da tristeza e das preocupaes. "A redimir oscativos" a dar os espaos livres de uma nobreliberdade a todos quantos afrouxaram em qualquertipo de servido. "A pr em liberdade os oprimidos" dar trnsito livre a todos os que jazem com osombros ou membros quebrantados, a todos cujasforas foram arruinadas pelo desapontamento ederrota. "A proclamar o ano aceitvel do Senhor" a anunciar a porta franca na hora presente, e a dizerque pela graa de Deus h um direito de passagemagora, da mais profunda escurido da alma rumo radiosa luz da aceitao junto a Deus. Em todas estaspalavras parece haver este sentido geral de levanta-mento e libertao. H uma abertura de mente, umaabertura de corao, uma abertura de olhos, umaabertura de portas. Em cada vocbulo os portais deferro se afastam, e ressoa o cntico da liberdade.

    Ento, luz destas palavras, ousamos tomar adeixa do Mestre e aplicar esta mesma interpretao

    nossa misso, ao nosso servio? Acredito que este o nosso privilgio santo. um aspecto do "Prmioda soberana vocao de Deus em Cristo Jesus.""Assim como Tu Me enviaste ao mundo" a pregar,a curar, a redimir, a abrir os portes de ferro, a agircomo embaixadores de uma gloriosa liberdade parao corpo, para a mente e para a alma. Sim, eu acho

    que podemos aceitar esta iluminada interpretao denossa vocao; a misso do apstolo determinadapela misso do Mestre, e o que vemos declarado que essa misso a de ampla e total emancipao.

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    Se for assim, se podemos ler a nossa vocaonas palavras do Mestre, com que mtodo devemosseguir o ministrio da emancipao? Temos de se-gui-lo por dois modos pelo servio de boas novas,e pelas boas novas de servio. Primeiro, devemosachar a nossa misso no servio de boas novas. Anossa vocao primariamente esta: Temos que sernarradores de boas novas, arautos da salvao. Eisaqui palavras enfticas: "Pregai!" e de novo, "Pre-gai!", "Proclamai!" "E, medida que seguirdes,proclamai!" E qual h de ser o tema das boas novas?Isto ser analisado mais pormenorizadamenteadiante. Por enquanto, diga-se o seguinte. Devem serboas novas a respeito de Deus. Devem ser boasnovas a respeito do Filho de Deus. Devem ser boasnovas a respeito da vitria sobre a culpa e a respeitodo perdo de pecados. Devem ser boas novas arespeito da sujeio do mundo, da carne e do diabo.Devem ser boas novas a respeito da transfiguraoda tristeza e do fenecimento das mil e uma razesamargas da ansiedade e da inquietao. Devemser boas novas a respeito do aniquilamento doaguilho da morte, e a respeito do tmulo frustrado,sem mais razo de ser. Esta a nossa primeira misso

    no mundoveculos de boas novas. Esta deve ser anossa gloriosa misso. Temos que seguir o nossocaminho ao encontro de homens e mulheresoprimidos e quebrantados, deprimidos sob o peso detemores, aflies e mortes, encarquilhados no corpoe na mente, e com a luz prestes a extinguir-se-lhes naalma. E a ns compete levar-lhes as novas que sero

    como leo para lmpadas cuja luz desmaia, como oar vitalizador para quem fraqueja, como a fora deasas novas para pssaros derrubados em pleno vo.

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    "As palavras que eu vos tenho dito, so esprito e sovida."

    Mas o nosso dever no se restringe a pregar asboas novas. Temos tambm que encarn-las emservio vital. Nossa misso deve ser de emancipaotanto por palavras como por obras evangelho ecruzada. Em toda parte deparamos com grandesiniqidades, terrveis como castelos em prontidopara a guerra. Em torno de ns h prises horrorosasonde jaz enterrada a inocncia. No mundo inteiroexistem cativos mantidos em mil e uma escravidesnocivas. E aqui est nossa misso reflexo damisso de nosso Senhor "Ele me enviou a darliberdade aos cativos." A palavra da graa tem queser confirmada por aes graciosas. O Evangelhoprecisa ser corroborado pelo testemunho deousadas proezas. O arauto precisa ser como valentecavaleiro, revelando o poder da sua mensagem nassuas atitudes como cavaleiro. Isto quer dizer quepousa sobre o pregador o supremo privilgio dodever e do sacrifcio. mister que ele esteja cheio do"amor e piedade" que so as prprias energias daredeno. As boas novas sem as boas aes nos dei-xaro incapacitados. Mas o esprito do amor

    sacrificial nos far invencveis.

    H muita coisa que nos pode causar temor.Mesmo os termos da nossa comisso podemencher-nos de medo. "Eis que eu vos envio comoovelhas para o meio de lobos." Quo quixotesco nosparece o empreendimento! Deixemos os nossos

    pensamentos regressarem at os primeiros que seatiraram cruzada da pregao, to visivelmentefracos, mas destemidos, comparveis a ovelhasinocentes! E tais homens so enviados a um

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    ambiente lupino, onde a desigualdade desvantajosaparece dominante a perspectiva a do fracassodesesperado e cruel. Pois as palavras da comissono foram alteradas. O Mestre diz ainda aossenhores e a mim: "Eis que eu vos envio comoovelhas para o meio de lobos" contra a crueldade,a lascvia, a ambio, a indiferena, contra toda sortede pecados, contra um exrcito de antagonistasferozes e terrveis. Qual h de ser a nossa inspiraoe confiana? Aventuro-me a colocar lado a lado duaspassagens isoladas a fim de poder oferecer-lhes oencorajador segredo da sua comunho. Eis umadelas: "Assim como Tu Me enviaste ao mundo." Eaqui est a outra: "Eis o Cordeiro!" O Senhor que foienviado para o ambiente brutal ou indiferente doshomens era o Cordeiro de Deus! O Cordeiro veio parao meio dos lobos. Agora porei em paralelo outro parde textos, e a analogia nos ajudar na busca dainspirao de que necessitamos. Eis aqui uma delas:"Tambm Eu os enviei ao mundo." Eis a outra: "Euvos envio como ovelhas." O prprio Cordeiro de Deusveio para o meio de lobos. E Ele envia as Suasovelhas para o meio dos mesmos elementos furiosose destruidores. O Cordeiro envia as ovelhas!

    At onde ser assim com o Cordeiro? Volto-mepara a Palavra de Deus e leio: "Pelejaro eles contrao Cordeiro, e o Cordeiro os vencer." "E olhei, e nomeio do trono estava o Cordeiro, de p." (') OCordeiro em triunfo. No foi o lobo o vencedor, e simo Cordeiro, e na vitria do Cordeiro est con-firmao da segurana e vitria das ovelhas. Esta a

    nossa inspirao. "No mundo passais por aflies;mas tende bom nimo, eu venci o mundo." Somoschamados "com santa vocao." A nossa misso cercada de antagonismos. O caminho raramente

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    seno jamaisser fcil. Mas na f e obedincia denobres cavaleiros a vitria certa.

    PERIGOS DO PREGADORSegunda preleo

    "No venha eu mesmo a ser desqualificado."

    Dou incio nossa considerao dos perigosdo pregador citando esta espantosa afirmao doapstolo Paulo: "Assim corro tambm eu, no semmeta; assim luto, no como desferindo golpes no ar.Mas esmurro o meu corpo e o reduzo escravidopara que, tendo pregado a outros, no venha eumesmo a ser desqualificado." E os senhores bem sa-bem que a palavra aqui traduzida por "castaway"(expulso), e na "Revised Version" traduzida por

    "rejected" (rejeitado) (') aplicada a coisas que nopodem suportar o teste padro, que se revelamfalsas e indignas quais moedas que no tm o ver-dadeiro "timbre" e que so postas parte como in-feriores e esprias. E o apstolo Paulo prev o perigode se tornar moeda falsa na circulao sagrada, falsointermedirio das sublimes realidades, guia indigno

    para as "insondveis riquezas de Cristo." Eleenxerga o sedicioso perigo de se tornarem profanosos que se ocupam de coisas santas. O homem podeestar lidando com "ouro refinado trs vezes" e ainda

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    assim pode estar cada vez mais imiscudo nas es-crias do mundo. Pode conduzir outros para a veredaceleste e ele mesmo perder o caminho. Pode serdiligente no atendimento santa vocao e todaviadegenerar-se cada vez mais profundamente. onefasto pressgio daquilo que talvez seja a maistriste e pattica tragdia da vida: O espetculo dohomem que, "tendo pregado a outros", viesse a tor-nar-se "desqualificado."

    Ora, o apstolo Paulo previa o perigo e, comdiligncia e orao, tomou providncias contra ele.Os senhores e eu fomos escolhidos para andar aolongo deste caminho, e haveremos de encontrar to-dos os perigos que o infestam. Nenhum de ns serimune ao seu assdio. Os perigos so sempre osassistentes do privilgio e so mais abundantes emtorno das posies mais elevadas. Suponho que cadaprofisso e cada ramo do comrcio tenha os seus ini-migos peculiares, exatamente como cada espcie deflor atacada por suas pragas peculiares. Suponhoainda que cada profisso possa afirmar que estesmicrbios diferentes so mais sutis e eficientes emsua esfera de ao particular. Contudo, creio firme-mente que o artfice que trabalha com as mos, ou o

    negociante ocupado no comrcio, ou o profissionalda jurisprudncia, ou da medicina, ou da literatura,ou da msica, ou da arte, no capaz de conceber osinsidiosos e mortais perigos que infestam a vida doministro. O plpito no raro considerado como umcrculo encantado, onde "a destruio que assola aomeio dia" nunca chega. Somos tidos como filhos

    favorecidos, "cuidadosamente equipados",protegidos por mil modos dos ventos cortantes quesopram impetuosos atravs da vida comum. Achamos outros que h muitas tentaes sedutoras que no

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    expem a sua brilhante mercadoria nossa janela!Que h muitas inquietaes mordazes que jamaismostram os dentes nossa porta! Dizem eles quepossumos a era do conforto e "vestes repousantes",e que a nossa vida lembra um jardim mais que umcampo de batalha.

    Mas, cavalheiros, o desastroso defeito dessaafirmao consiste nisto: Fundamenta-se no falso ra-ciocnio que leva suposio de que o "privilgio"toma o lugar da "proteo", e que brandas condiesgarantem imunidade. O raciocnio implica asuposio de que um jardim uma fortaleza e de queuma vida favorecida poderosa defesa. O raciocnio de que um jardim nunca pode ser um campo de lutaquando, afinal de contas, um jardim serviu de cenriopara o mais rduo combate na batalha de Waterloo.O privilgio jamais confere segurana; pelocontrrio, d surgimento s circunstncias da maisrenhida luta. Alegre e agradecido, reconheo que oministro vive acarretado de privilgios inmeros, masreconheo tambm que a medida dos nossosprivilgios a medida exata dos nossos perigos; queo levantamento do inventrio do nosso jardimofereceria tambm o inventrio das pestes

    destruidoras que perseguem todas as flores, plantase rvores. literal e terrivelmente verdadeiro que"onde a graa foi abundante" a morte pode sertambm abundante, pois os nossos favoresespirituais podem ser "cheiro de vida para vida oucheiro de morte para morte." Talvez suceda que le-vemos gente para a riqueza, sendo ns mesmos

    impostores; talvez preguemos a outros enquanto quens mesmos somos desqualificados. Proponho-me,pois, a examinar alguns destes perigos que se

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    nutrem do privilgio, estes inimigos que iropersegui-los at o fim da sua vida ministerial.

    O primeiro que enumero e o coloco em pri-meiro lugar porque seu contacto assaz fatal operigo da mortfera familiar idade com o sublime. Noministrio, os senhores no demoraro a descobrirque possvel estar o ministro barulhentamenteocupado com o que diz respeito ao Lugar Santo e aomesmo tempo perder a maravilhosa percepo doSenhor Santo. Podemos ter muito a ver com a religiosem que sejamos religiosos. Podemos trans-formar-nos em meros postes-guia quando importaque sejamos guias. Podemos indicar o caminho semque sejamos achados nele. Podemos ser professoressem que sejamos peregrinos. Nossos gabinetespodem ser oficinas em lugar de "cenculos." Nossaparticipao nas provises de mesa pode ser a deanalistas em lugar da de hspedes. Podemos dei-xar-nos absorver tanto pelas palavras que nos es-quecemos de alimentar-nos da Palavra. E a consu-mao do perigo sutil pode dar-se assim: Podemosvir a supor que falar bem viver bem, que a habili-dade expositiva piedade profunda, e enquantoabraamos afetuosamente o no essencial,

    escapa--nos a genuna essncia.

    Para mim, este um dos mais traioeiros peri-gos, qui o predominante, na vida do pregador. Oindivduo pode morar numa regio montanhosa eperder toda a sensao das alturas. E um terrvelempobrecimento este, quando a zona montanhosa

    vem a ter a significao vulgar das plancies. Opregador convocado para viver entre estupendosassuntos de interesse humano. Os culminantesaspectos da vida constituem o seu ambiente familiar.

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    Vive quase todos os momentos com os olhos nasrealidades imensas e eternas a terrvel soberaniade Deus e os gloriosos, embora nebulosos, mistriosda graa redentora. Eis porm a a possvel tragdia:Pode viver em constante viso destas realidadetremendas e deixar de v-las. Estas podem passar aser meros "manequins" de gabinete, no mais asterrficas dignidades que prostram a alma emadorao e temor. Este o nosso perigo. Precisamosestar sempre falando dessas coisas, e podemoscontinuar falando vivamente dela mesmo depois deas termos perdido. Podemos reter nosso interesseem filosofia e perder a nossa reverncia. Podemosmanter ativo intercmbio de palavras, mas "o temordas alturas" no mais nos faz tremer em face darealidade urgente. Podemos falar acerca demontanhas sendo cegos e insensveis filhos dasplancies. A abundncia dos nossos privilgios podedeixar-nos entorpecidos. "Deixar o homem a nevedo Lbano?" A calamidade que podemos fazer issosem que o saibamos jamais.

    O segundo perigo na vida do pregador que de-sejo apontar o da mortfera familiaridade com oslugares-comuns. J mencionei a possibilidade de fi-

    carmos insensveis na presena das elevaes; exis-te o perigo igualmente sutil de nos tornarmos amor-tecidos para as sangrentas tragdias da vida comum.Sombrias aparies que surgem a outros como visi-tantes ocasionais e assustadores, esto em nossacompanhia todo dia. Movem-se em nossos arredoresdiariamente . Experincias que comovem e cativam

    os homens de negcio porque incomunsso osaprestos comuns da nossa vida. E o perigo possvelsempre o de que, acostumando-nos com astragdias, fiquemos tambm endurecidos.

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    H, por exemplo, a nossa familiaridade com amorte. Sei que existe algo com respeito Morte, comtal cunho de mistrio e inevitabilidade, que nuncapassa como uma realidade assaz vulgar. O ar frgidode sua passagem jamais se perde totalmente.Contudo, os senhores vero a possibilidade depermanecer estranhamente impassveis na casavisitada pela Morte. Haver coraes quebrantados sua volta; para o meio deles veio a Morte qual feracruel, quebrando e esmagando sem cuidado os fr-geis juncos em sua marcha para os cursos dgua; esentem que nunca sero capazes de erguer-se denovo a doce brisa e luz do sol. E os senhores poderoestar ali como qualquer estranho indiferente tragdia! Bem sei que pode ser uma das misericor-diosas atenes de Deus para conosco, como neces-sidade do nosso tipo de labor, colocar Ele a almofadado costume entre ns e os golpes momentneos decircunstncias negras e graves. Ningum poderealizar sua tarefa se lhe no for dado consolo para odesaparecimento da vida. Se o costume no nosproporcionasse defesa, perderamos o nimo por pu-ra exausto.. O impacto de tais golpes sobre ns atenuado a fim de que possamos ajudar aqueles so-

    bre os quais caram os golpes com toda a sua foraestonteante. Mas esse possvel ministrio e tornaimpossvel se a almofada vira pedra. Se a familia-ridade incluir insensibilidade, ento cessar a nossacapacidade de ministrar consolo.

    Ora, este um dos riscos que temos de correr,

    e muito real e freqente. O perigo pode ser evitadomas a est ele, uma das possveis ameaas em nos-so caminho. A familiaridade pode ser mortal, e po-demos ser semelhantes a mortos no freqente e per-

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    turbador aparecimento do infortnio, do sofrimento eda morte. O pattico pode deixar de enternecer-nos,o trgico pode cessar de chocar-nos. Podemosperder a capacidade de chorar. At a fonte denossas lgrimas pode vir a secar. As visitaes quedespertam e avivam os nossos semelhantes podemlevar-nos ao sono fatal. O estupor nascido da fa-miliaridade pode fazer-nos distanciados das necessi-dades comuns. Para empregar a frase do apstolo,podemos chegar a ser "sem sentimento."

    O terceiro perigo da carreira ministerial apossvel perverso da nossa, vida emocional. Apregao do evangelho do Senhor Jesus Cristo exigee produz no pregador certo poder de emoo digna,e esta mesma emoo torna-se o centro de novaameaa ao ministrio. Pois as emoes podemtornar-se pervertidas. Podem tornar-semrbidamente intensas e infamadoras. Podemaviltar-se. O emocional pode facilmentetransformar-se em neurtico. Nem sei comoexpressar precisamente o perigo que vejo. Asemoes do pregador podem ser to constante eprofundamente excitadas que as suas defesasmorais venham a correr perigo. A emoo exageradapode ser qual enchente a dominar e submergir os

    seus diques morais e a precipit-lo ao desastreirreparvel.

    Lembro-me bem de que um dia assazmomentoso em que fiz longo passeio pela cidade deLondres junto com Hugh Price Hughes. Notranscurso da nossa conversa, ele parou de repente

    e, agarrando meu brao sua maneira impulsiva,disse-me: "Jowett, o pregador evanglico estsempre na beira do abismo!" Talvez haja excessivocolorido no julgamento, mas isto indica um srio

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    perigo que imperativo nomear e contra o qualdevemos estar sempre vigilantes. Creio que conheoo seu significado. A prdica que brande as emoesdo pregador, movendo-o como vendavais marinos,exige demais dos nervos e s vezes produzesgotamento nervoso. Isto equivale a dizer que opregador evanglico, constantemente ocupado comgrandes fatos e verdades que bolem nossentimentos, podem fazer-se vtima da depressonervosa, e em seu depauperamentoafrouxaram-se-lhe as defesas morais, o inimigo saltapara dentro das portas, e o seu esprito caiprisioneiro de escravido trevosa e carnal. "Quemtem ouvidos, oua", e "Aquele pois que pensa estarem p, veja e no caia."

    Agora vou mencionar um perigo que h de sermais evidente que aquele que acabei de indicar, por-quanto o encontramos em toda a estrada da vida eporque mantemos relaes com ele desde muito tem-po antes de atirar-nos obra do ministrio propria-mente dito. Refiro-me perigosa gravitao domundo. Afirmo-lhes que podero encontrar este pe-rigo em toda parte, mas em lugar nenhum de modomais insidioso e persistente que no ministrio cris-

    to. Est ao redor de ns como a malria e bempodemos ficar suscetveis de sofrer seu contgio. Elese oferece espontneo como o clima e corremos orisco de ser arrastados a aceit-lo como a atmosferada nossa existncia. Suponho que uma das maisprofundas caractersticas do mundanismo um tipoilegtimo de esprito de transigncia. So-lhe

    atribudos muitos nomes agradveis tais como"diligncia", "tato", "diplomacia", e s vezes ascendea planos superiores arrogando-se parentesco com"genialidade", "sociabilidade" e "amizade." Mas a

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    despeito destes belos atavios tomados deemprstimo, o esprito mundano de transigncia exatamente o sacrifcio do ideal moral em favor dopadro popular, e a sujeio da convico pessoal opinio em voga. Existe no Livro do Eclesiastes umconselho meio cnico que descreve bem o que estouprocurando exprimir: "No sejas demasiadamentejusto... No sejas demasiadamente mpio." Para mim,esta advertncia moral coloca em relicrio o prpriognio do mundanismo. A transigncia toma a linhamdia entre o branco e o preto e utiliza o pardoambguo. No partidrio da meia noite nem do meiodia. Prefere o crepsculo, mistura de meia noite commeio dia, e mantm idnticas relaes com ambos. portanto uma figura deveras especiosa,confraternizando-se com todos os tipos e condiesde homens, acenando amigavelmente para o santo etendo relaes achegadas com o pecador,sentindo-se em casa em qualquer lugar,misturando-se ora com os cultuadores no templo, oracom cambistas no ptio do templo. A cor parda muito til, combinando bem com bodas ou comfunerais. Entretanto, a palavra da Escritura Sagrada clara e decisiva, exigindo o mais elevado padro:"Mantm sempre alvos os teus vestidos."

    Pois bem, os senhores encontraro esseesprito de mundana transigncia, e o encontraro nasua mais sedutora forma. Ele procurardeterminar--lhes o carter da vida pessoal. Ele ostentar a usarem hbitos pardos quando seenvolverem com os homens de negcio da sua

    congregao e tentar induzi-los a "palavras pardas"quando conversarem com eles. Certa delicadeza ouurbanidade surgir espontnea, como veculo, e aospoucos iro permitindo a invaso de frouxos ideais

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    ticos. Isto no se trata de fantasia ociosa. Estoudescrevendo a estrada que no poucos ministros tmpercorrido chegando mortal degenerao eincapacidade. Somos tentados a deixar atrs, nogabinete, as nossas "luzes mirdias" e alocomover-nos entre os homens do mundo com umalanterna de furta-fogo que podemos manejar paraadapt-la companhia do momento. Pagamos otributo dos sorrisos ao baixo padro comercial.Pagamos o tributo das gargalhadas pilhria do dia.Pagamos o tributo da tolerncia fcil favorecendoprazeres duvidosos. Suavizamos tudo a umacondio de confortvel aquiescncia. Procuramosser "todas as coisas para todos os homens" paraagradar a todos. "Corremos com a lebre e caamoscom os galgos." Tentamos "servir a Deus e sriquezas." Tornamo-nos vtimas da criminosatransigncia. No h nada em nosso carter quepromova distino. Nosso carter no uma coisanem outra. Somos da espcie descrita pelo profetaIsaas: "O teu vinho se misturou com gua", ou comoaqueles assim retratados por Jeremias: "Pratarejeitada lhes chamaro."

    Mas na perigosa gravitao do mundanismo h

    mais que o criminoso esprito de transigncia: Haquilo que chamarei de fascinao do brilhantismo.No decorrer do nosso ministrio, todos ns estamosexpostos s tentaes que nosso Senhor enfrentouno deserto e que O afrontaram repetidas vezes antesde chegar cruz. "Tudo isto Te darei se, prostrado,me adorares." Era a apresentao do esplendor

    carnal, o oferecimento de prmio imediato. Otentador empregou o chamariz do "pomposo" e pro-curou eclipsar a viso da realidade. Usou o brilhan-

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    tismo para seduzir os olhos, afastando-os do "ourorefinado trs vezes."

    Este perigo os assediar no mesmo dia do in-cio do seu ministrio. E no s: Ele j est com ossenhores enquanto se preparam. Mesmo agora ossenhores podem ser atrados por fogos de artifcio,perdendo a viso das estrelas. No dia em que foremordenados, correro o risco de cair vtimas domundanismo, com a alma prostrada perante Mamon.Os senhores qui estejam a buscar "os reinos domundo e a glria deles", a procurar "brilho" em lugardo "ouro" verdadeiro. Somos tentados a cobiareloqncia pomposa ao invs de profundo e discreto"esprito de poder." Podemos ficar mais interessadosem encher os bancos reservados do templo que emalmas redimidas. Podemos estar mais desejosos dever aumentar o rol de membros que de ter os nomesdo nosso povo "escrito no Cu." Podemos ter maisentusiasmo pelos "louvores dos homens" que pelo"bom prazer de Deus." So estes os perigos domundanismo. A ameaa que nos assedia a de irmosaps o "brilhantismo", a de "lutarmos" e"gritarmos" para que a nossa voz seja ouvida "nasruas", a de seguirmos o brilho fraco de vidro foco

    em vez do "fulgor" vero, e a de nos darmos porsatisfeitos se os nossos nomes repercutirem bem nascorruptoras manses da fama terrena.

    Assim, mencionei muitos perigos que os afron-taro na sua vocao, e eles apresentam a tendnciafatal e comum de arrast-los para longe de Deus.

    Eles faro tudo para impeli-los para fora das "nevesdo Lbano", do grandioso celeiro dos seus recursosonde nascem os rios poderosos que levam aoshomens a dinmica de um ministrio vigoroso e efi-

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    ciente. E, certamente, de todas as vises patticasneste mundo de Deus, nenhuma mais pattica que ado pregador do Evangelho que, por causa doentorpecedor poder do hbito, ou pelos enganos edesenganos do mundo, foi separado de seu Deus!Pois quando o pregador, por impura absoro namera letra da verdade, ou por triunfante investida domundanismo, afasta-se de Deus, as medonhas con-seqncias so imediatas e destruidoras.Permitam--me indicar alguns resultados.

    Primeiro que tudo, nossos caracteresperdero a espiritualidade. Faltar em ns queladelicada fragrncia que faz o povo saber quehabitamos "os jardins do Rei." Os "ares celestes" nomais circularo em torno do nosso esprito. Nossapresena no ocasionar aquela misteriosa mudanana atmosfera. No mais conduzimos a energia do ardas montanhas para as comunidades fechadas ebolorentas. E o certo que este deve ser um dosmais benficos servios do ministro cristo produzir, com sua simples presena, um clima peloqual sejam avivados os abatidos e sobrecarregados.No retrato que Paulo faz de seu amigo Onesforo, hum trao excelente que descreve justamente esta

    caracterstica do servio ministerial: "Muitas vezesme deu refrigrio." e dar refrigrio exatamentecomunicar novo ar inspirar um sopro vitalizador, renovar o clima para as almas enfraquecidas efatigadas! A chegada de Onesforo era como aabertura duma janela para aquele que estava emapertada priso. Trazia ele consigo uma

    atmosfera que ele mesmo havia encontrado no soprodo Esprito Santo. Meus irmos, a nossaespiritualidade que prove essa atmosfera derefrigrio e age quando estamos em silncio como

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    quando falamos. Se formos arrastados para longe deDeus, essa atmosfera desvitalizada, o nosso "ar"pessoal perde a capacidade de estimular, e nenhum"corao quebrantado" usufrui bnos quandopassamos.

    Mas um segundo fato sucede quando nos apar-tamos do Senhor a quem prometemos servir. O nossofalar carece daquela misteriosa impresso carac-terstica. Somos cheios de palavras mas vazios depoder. Somos eloqentes mas no persuadimos. So-mos bons argumentadores mas no convencemos.Pregamos bastante mas fazemos pouco. Ensinamosmas no cativamos. Fazemos "demonstrao deforas" mas os homens no se abalam. Os homensvm e vo, talvez interessados ou divertidos, masno se dobram em penitente rendio aos ps do Se-nhor. Continuamos a falar, falar, e as manifestaesdo "maligno" proclamam com escrnio a nossafutilidade. As nossas palavras so exatamente as"palavras persuasivas de sabedoria humana" e no"em demonstrao de Esprito e de poder."

    O que acontece com a nossa pregao,acontece com os nossos empreendimentos. Se os

    perigos nos levam de vencida, as nossas realizaesse transformam em passatempos em vez decruzadas. Ficamos ocupados mas somos fteis.Talvez estejamos em constante atividade, mas asfortalezas no caem. Tomamos mltiplas resoluesmas ningum se mexe. Organizamos grmios esociedades mas no h movimento vital rumo a Deus.

    O fato central da questo este: Quando o pregadorse afasta de Deus e do bom prazer de Deusque eleno mais valoriza, deixando ele tambm de servalorizadoo mal dana petulantemente na estrada

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    livre, aberta por sua atitude negligente, pois j nopossui nenhum armamento milagroso com quecort-lo ou destru-lo.

    Volto-me, porm, para um aspecto mais positi-vo do meu tema. Como evitar estes perigos? Almdisso, como podemos fazer com que os nossos peri-gos prestem servios a uma vida mais rica, mais po-derosa e mais frutfera? Pois esta a verdadeiravitria da vida no ignorar os perigos, mas des-poj-los. possvel tirar as foras de uma ameaa einclu-las no rol dos nossos recursos. Nisto consiste oprivilgio da tentao: Podemos saque-la etransferir a riqueza de suas foras para o tesouro danossa vontade. Grande privilgio este! A vida doministro corre muitos riscos e, portanto, conta commuitas provises para possvel enriquecimento. Nopodemos afirmar isto a ns mesmos com demasiadafreqncia e demasiada confiana; perigos vencidostornam-se aliados; em cada triunfo h umatransferncia de dinmicas. Os perigos podemindicar nosso possvel empobrecimento; indicamigualmente nosso possvel enriquecimento.

    Ento, como h de ser feito? Pela estudiosa e

    reverente observao dos supremos lugares comunsda vida espiritual. Precisamos atender com assi-duidade ao cultivo da nossa alma. Zelosa e sistema-ticamente precisamos arranjar tempo para orao epara leitura devocional da Palavra de Deus. Preci-samos designar ocasies particulares para delibera-da e pessoal apropriao da Palavra Divina, para nos

    examinarmos perante as suas admoestaes, parano humilharmos perante os seus juzos, para bus-carmos novo vigor perante as suas gloriosas espe-ranas. No meio de nossas atividades barulhentas e

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    incessantes, em todas as frivolidades inmeras que,qual nuvem de p, ameaam pr nossas almas emestado de choque, o ministro necessita resguardaras suas horas tranqilas e reclusas, no permitindonenhuma interferncia ou intruso. Agora que vimtrabalhar neste pas (USA), dou este conselho comparticular urgncia. Estou profundamenteconvencido de que um dos mais graves perigos queassediam o ministrio deste pas uma incessantedisperso de energias em assombrosa multiplicidadede interesses que no deixam margem de tempo nemde foras para receptiva e absorvente comunhocom Deus. Somos tentados a estar sempre "a correr"e a medir a nossa produtividade por nossas correriase pelo terreno percorrido por ns durante a semana!

    Cavalheiros, nem sempre ns produzimos maisquando parecemos estar mais atarefados. Talvezjulguemos estar mais atarefados. Talvez julguemosestar deveras ocupados quando na verdade estamosapenas em movimento, e um breve retiro posto noprograma enriqueceria sobremaneira os nossos rela-trios. Somente somos grandes quando possudospor Deus; escrupulosos esforos de aparelhamentono cenculo com o Mestre ho de preparar-nos para

    as canseiras e durezas da mais estrnua campanha.Portanto, precisamos defender, firmes e perseveran-tes, este princpio primrio de que, todas as coisasque necessitamos fazer, esta a necessidade supre-ma viver em ntima comunho com Deus. Man-tenhamos constantemente uma racional percepode valores e coloquemos cada dever que aparea em

    seu devido lugar. E em qualquer classificao devalores, esta deveria ser a deciso bsica: No po-demos fazer nada bem feito se nos desviamos de

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    Deus. Comunho espiritual negligenciada sinnimode futilidade no percurso inteiro.

    Mas a disciplina da alma deve ser sria e dili-gente. Este elevado cultivo no deve ser governadopelo acaso ou capricho. mister que haja propsito,mtodo e regularidade. Convenam-se de quequando se aplicarem seriamente assim ao cultivo daalma, isto ser um trabalho e no uma distrao. Sefosse fcil, no haveria de ser um bom conselho; tremendamente difcil, mas as suas recompensas soinfinitas. Um dos espritos mais ilustrados dometodismo moderno, homem cujo estilo to fortequo elevados os seus pensamentos, recentementeemitiu esta opinio, aps ter passado em revista osanos do seu ministrio: "Nunca deixei de estudar;nunca deixei de visitar; nunca deixei de escrever emeditar; mas falhei na orao. . . .Mas por que noorava? s vezes porque no queria; outras vezesporque no ousava; e ainda outras vezes porquetinha algo mais que fazer. Sejamos bem francos. uma coisa magnfica encontrar um ministro que ora....Tenho ouvido homens que nunca ousaram na vidafalarem sobre orao. Pensavam que o faziam; masenquanto eram ouvidos faziam eles mesmos a sua

    confisso sem que o percebessem." Estas sentenaserguem o vu de uma experincia reveladora eexpem a verdade solene de que a orao custosa,exigindo at mesmo sangue, e que as igrejas quepossuem ministros que oram nem podem perceber oesforo por meio do qual o poder obtido. -nosdado contemplar o nosso Mestre em orao: "Ele,

    Jesus, nos dias da Sua carne, tendo oferecido comforte clamor e lgrimas, oraes e splicas..." "E,estando em agonia, orava mais intensamente. Eaconteceu que o Seu suor se tornou como gotas de

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    sangue caindo sobre a terra." Havia algo ali de quejamais seremos capazes de participar e, contudo, halgo a de que temos que participar, se quepretendemos estar ligados ao Senhor no ministrioda intercesso, e entrar na "comunho de Seussofrimentos."

    Para ilustrar o preo deste cultivo intensivo daalma, talvez no me seja possvel fazer mais queapresentar o exemplo do Dr. Andrew Bonar. O Dr.Bonar mourejou na Esccia uma gerao ou duasatrs, tendo adornado o seu ministrio com uma vidarealmente santa e com servio realmente produtivo.Ele manteve um dirio ou jornal particular constandode dois pequenos volumes que encerramapontamentos desde 1828 at poucas semanas antesde sua morte em 1892. Sua filha permitiu que fosseentregue ao mundo aquele inaprecivel registro daperegrinao de uma alma, "na crena de que a vozagora em silncio na terra seja ainda ouvida nestaspginas, exortando-nos, como do mundo alm, a quesejamos 'imitadores daqueles que, pela f e pelalonganimidade, herdam as promessas'."

    Tomo a liberdade de dar-lhes um ou dois ex-

    tratos desse dirio: "Pela graa de Deus e pelo poderdo Seu Esprito Santo, desejo estabelecer a regra deno falar aos homens antes de falar a Deus; no fazercoisa nenhuma com minhas mos antes de me pr dejoelhos; no ler cartas ou jornais antes de ler algumaporo das Santas Escrituras." . .. "Em orao nobosque por algum tempo, havendo separado trs

    horas para devoo; senti-me deveras impelido aorar por aquela fragrncia peculiar que tm ao redorde si os crentes que esto em constante comunhocom Deus."... "Ontem reservei o dia para mim, para

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    orao. Para mim, todo perodo de orao, ou quasetodo, comea com um conflito. .." .. ."O meu maisprofundo pesar que oro to pouco. Eu devia contaros dias no pelo que possua de novos exemplos deutilidade, mas pelas vezes que tenha sido habilitado aorar com f, e a submeter-me a Deus." ..."Perceboque se no me mantenho fazendo breves oraestodo dia e o dia todo, a intervalos, perco o esprito deorao." ...Trabalho demais sem oraocorrespondente. Hoje estou me dedicando orao. O Senhor no demora a enviar-me algocomo um orvalho sobre a minha alma. .. ."Pudepassar parte de quinta-feira no templo, orando.Depois disso tenho tido grande auxlio nos estudos."..."A noite passada, pouco pude fazer alm deconversar com o Senhor sobre o despertamento dasalmas e suplicar-Lhe esta bno com fervor."..."Passei hoje seis horas em orao e leitura daBblia, confessando pecados e buscando bnospara mim e para a igreja."

    Palavras como estas, escritas no para olhoshumanos mas para Deus ver, d profundasignificao sentena que citei de nosso distintoamigo metodista: " uma coisa magnfica encontrar

    um ministro que ora." Outro fato se evidencia a luzdeste dirio: O orao real a que participa da "obraque faz vir o Reino de Deus." Andrew Bonar era umardoroso ministro da "graa do Senhor Jesus," e nacombativa comunho da orao ficou poderoso paracom Deus e os homens. Homens desse tipo, cujasalmas so elevadas e refinadas por horas de sublime

    comunho, encaram tudo "de cima" e no "de baixo,"O problema com muitos de ns justamente este aproximamo-nos da nossa obra partindo de nveisinferiores, de ngulos vulgares, com pontos de vista

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    comuns. Desse modo que vamos para os nossossermes, para os nossos plpitos, para o nossotrabalho pastoral e para as demais ocupaes dointeresse da Igreja. Somos "de baixo." No nosatiramos a nossos labores vindos "de cima", com asensao do celeste nossa volta, com sereno sen-timento de elevao, com forte poder de viso e coma percepo das propores e dos valores dascoisas. Os que so "de baixo" amesquinham edegradam as coisas que tocam. Os que so "decima" exaltam--nas e conferem distino e dignidadeao menor servio. E se algum ministro pretende viver"nos lugares celestiais em Cristo Jesus" e pretendecontar com este sublime ponto de apoio e com estaexaltadora coao em sua obra cotidiana, sepretende ser puro e promover purificao, deveento aprender a "orar sem cessar."

    Devo acrescentar ainda uma palavra com re-ferncia disciplina do carter pelo cultivo da alma:Somente por este cultivo primrio que obtemosaquelas virtudes secundrias que desempenhampapel to vital em nossas defesas morais e na efi-cincia das nossas realizaes. A fragrncia do ca-rter normalmente surge das virtudes aparentemen-

    te subordinadas, virtudes comumentenegligenciadas ou ignoradas. Todos os dez leprosostinham f; s um tinha gratido, e este foi o nico aadquirir permanente beleza e simpatia na estima doSenhor. E esta mesma graa da gratido preenchegrande parte da vida do ministro; assim tambm coma cortesia, a pacincia, aquele fenmeno esplndido

    chamado ponderao, a tolerncia, e o bomtemperamento. Chamei-as virtudes secundrias, masestou receoso de lhes haver rebaixado a posiomerecida, to alto e principesco lugar ocupam no

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    fulgurante equipamento do ministrio cristo. E eu asnomeio aqui a fim de ratificar a minha convico deque estas graas to poderosas e atraentes no so"obras"; so "frutos", so o desenvolvimento naturale espontneo da intensa comunho com Deus. Onosso carter poder exalar deliciosos aromas,fulgindo em beleza e poder, desde que habitemos osjardins do Rei.

    Cavalheiros, mencionei os perigos que nosameaam e sugeri os recursos, os quais so maisque suficientes para aqueles. Uma carreira semobstculos no seria digna da nossa escolha. OsSenhores enfrentaro armadilhas e adversrios,tentaes e perseguies no caminho todo, mas agraa abundante", e "a alegria do Senhor a vossafora."

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    OS TEMAS DO PREGADORTerceira preleo

    "Pastoreia as minhas ovelhas."

    Vou falar-lhes hoje sobre os temas do pregadore me aventurei a anexar ao ttulo as palavras donosso Mestre, ditas a Simo Pedro: "Pastoreia asminhas ovelhas." No esqueo as condies parti-culares que deram surgimento ao conselho, mascreio que, sem qualquer violncia ao texto, tem elesignificao direta para esta nossa meditao. Aspalavras descrevem o cunho das relaes pastoraiso pastor cuidando das necessidades do seu reba-nho. O pastor deve levar as suas ovelhas da aridez dodeserto, ou das nesgas de terra onde a forragem escassa e insatisfatria, para os "verdes pastos" e"guas tranqilas." E deve estar sempre alerta con-tra a fome e a sede. Deve "pastorear" as suas ove-

    lhas, "encher a sua boca de bens."

    As nossas relaes tambm so de carterpastoral. Um rebanho entregue aos nossoscuidados. H multiformes deveres ligados ao ofcio,mas agora estamos pensando na responsabilidadeprecpua de defender as nossas ovelhas do perigo da

    fome. nos confiado o solene dever de encontraralimento. As ovelhas dependem muito dos seuspastores quanto

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    riqueza ou pobreza das provises sua disposio.Temos que tomar providncias contra a inanio to-tal ou parcial que resulta da falta de substnciasnutritivas na forragem parca e que acaba em fra-queza, anemia e doena. Compete-nos escolher aspastagens. Onde faremos a escolha?

    Concluindo a minha metfora, os senhores e eusomos, por nossa prpria vocao, consideradosresponsveis pelo sustento de almas imortais. Viroa ns em busca de alimento espiritual. Recebemos aincumbncia de satisfaz-las, de supri-las no tocante nutrio substanciosa e saudvel pela qual sejamcapacitadas a carregar as suas cargas dirias e alanar-se aos embates da vida sem esmorecimentoou exausto. Isto o que os senhores iro fazer nomundo. Os senhores tero que ser os guardies dasade da igreja, providenciando contra a fome espi-ritual e moral. Os senhores tero que agir de modoque o po que "refrigera" a alma esteja sempre mo. Quando os homens e mulheres vierem as-sentar-se mesa espiritual, com dolorosos anseios edesejos, devero achar provises tais que lhes sejapossvel sair com as palavras do salmista nos lbios:"Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma

    faminta." Ns seremos satisfeitos da bondade da Tuacasa e do Teu santo templo."

    Pois bem, que daremos ns a elas? Que enten-demos por po? A que aspectos da verdade deveroconduzir as almas? Qual h de ser a essncia danossa pregao? Quais os nossos temas? Das

    necessidades clamantes, a quais nos dirigiremos?"Avida", diz um observador deveras sbio, 'est ficandomais e mais acerba. A dor se torna mais interna. Astenses e angstias progridem ao lado da segurana

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    e conforto materiais. A civilizao s serve paraesconder no ntimo os problemas. Temos menosferidas, mas temos mais aborrecimentos. Somosmais bem cuidados, mas temos mais cuidados.Talvez haja menos agonias, mas talvez tambm maismisrias."Que "po da vida" levaremos s vidas tosobrecarregadas e hostilizadas? Que pregaremos?

    Suponho ser opinio geral que em muitas par-tes tem havido grande mudana no carter dos te-mas dos plpitos e no desenvolvimento deles. Soapresentados hoje assuntos que nunca teriam me-recido considerao at uma gerao atrs. Emmuitos casos, os assuntos no so temas propria-mente ditos, no sentido da demonstrao de grandesverdades, sendo antes "tpicos" a consideraode alguma crise que passa, ou de alguma restritacombinao das circunstncias, ou de algum in-cidente que esteja chamando a ateno da imprensadiria. Muitas razes so alegadas para explicar estamudana.

    Em primeiro lugar, dizem que a explicao que a concepo da misso do pregador agoramais ampla e mais sadia. Falam-nos que a ambio

    do pregador devia ser no s possuir "esprito de sa-bedoria" mas tambm "esprito de compreenso",no mero conhecimento de princpios, mas habili-dade em sua aplicao prtica. Ele deve ser maisque vidente, deve ser arquiteto, deve ser arteso.Sua predica tem que fazer mais que indicar ideais emetas: Tem que preparar o caminho que conduz s

    metas. O pregador tem que ser mais que "luz para omeu caminho"; tem que ser "lmpada para os meusps." Tudo isto significa que o ministro precisa sermais que idealista, mais que telogo, mais que

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    evangelista: Precisa meter-se nos domnios daeconomia poltica e social.

    Pessoalmente, nada tenho a dizermenoscabando estes importantssimos tipos deministrio, e presto profunda homenagem aoshomens que neles esto envolvidos. -me deverasgrato reconhecer os dons e a viso singularmenteespeciais com que alguns homens alcanam o seuequipamento e a sua vocao para esta peculiarforma de servio. Com igual prontido e gratido,reconheo o papel que alguns homens tmdesempenhado na iluminao de ideais sociais, nodesembarao de complexidades sociais e nainspirao de servios sociais. Com tudo isso,porm, os senhores me permitiro exprimir a minhaconvico quanto aos perigos que cercam o prega-dor em temas e ministrios como esses. No tenhodvidas quanto minha posio como cidado, meusdeveres e privilgios na vida da nao. preciso queeu no esteja alheio sociedade, isolado edistanciado das suas atividades e dores. Minhasforas devem juntar-se aos poderes reais e vitaisque, atravs de obstculos tremendos, procuramentronizar a justia e a verdade. Concedo ainda que

    seja provvel surgirem ocasies crticas, quando oplpito ter o dever de falar com a clareza do clarimsobre a poltica do estado ou da nao. Mas apesardestas admisses, vejo claramente o perigo de que aconcepo ampla da misso do pregador leve nfase da mensagem de reforma, caracterstica doVelho Testamento, em vez de nfase mensagem de

    redeno, do Novo Testamento. Os homens podemficar to absorvidos nos erros sociais que esquecema doena mais profunda do pecado pessoal. Podemsoltar os tirantes da opresso, deixando porm o

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    fardo da culpa. Podem esforar-se por corrigir asirregularidades sociais, mal passando os olhos pelaespantosa desordem da alma. Parece-me que algunspregadores adaptaram sua mente a viver conforme oVelho Testamento e no conforme o Novo, e andarmais com o profeta do que com o apstolo e com oevangelista. A escolha que o indivduo faz do seuprincipal lugar de habitao determina diferenassurpreendentes: Se, digamos, habitar no EvangelhoSegundo Joo, ou no Livro de Amos; se, digamos,nos maravilhosos domnios da Epistola aos Efsios,ou no pequeno mundo de Isaas ou Jeremias. tudouma questo de lugar para morada, de centro, de larestabelecido. Onde vive o pregador? De que localcomeam as suas jornadas? A que limites chegamem seu regresso? Estes so os testes centrais, e aminha observao me leva a pensar que a concepomais ampla da misso do pregador tende, s vezes, aatra-lo para a periferia, para os subrbios da vida, ea apagar em parte as tremendas verdades da graaredentora. Na amplitude fascinante, estamos sujeitosa perder a centralidade: Coisas secundrias esubordinadas podem tomar posse do trono.

    No seja eu mal compreendido. Enquanto es-

    crevo estas palavras, trago em minha mente a lem-brana do Dr. Dale e o carter da sua vida e do seuministrio. Ora, o Dr. Dale foi grande poltico e amigontimo, alm de colega, de Gladstone, Bright eChamberlain. Ele ardia de paixo pela justia.Aprofundou-se nas questes polticas, educacionaise sociais, e se lanava com desabrido entusiasmo em

    todas as campanhas promovidas em favor da reti-ficao de condies erradas, em favor da solturados freios da liberdade e em favor do enriquecimentoda vida da nao em geral. Sim, Dale foi grande

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    poltico, mas foi maior pregador, e os temas do seuplpito eram mais vastos e de mais fundamentalimportncia que os temas tratados em sua platafor-ma poltica. Jamais o plpito foi dedicado a temasmais poderosos que quando ocupado por Dale! Ve-jamos o seu livro sobre "A Expiao": cada captulofoi divulgado pelo seu plpito! Tomemos a suain-comparvel obra sobre Efsios: foi toda pregadado seu plpito! Ou examinemos a sua obra mais ama-durecida, o grande livro sobre "Doutrina Crist: cadapalavra dele foi entregue sua gente atravs doplpito! "Ouvi dizer que voc est pregando sermesdoutrinrios congregao de Carrs Lane",disse-lhe certa vez um colega de ministrio; "nosuportaro isto." Dale replicou: "Tero que supor-t-lo." E em todo o seu longo e nobre ministrio nosomente o suportaram, mas o receberam bem,regozijaram-se com isso, e foram alentados para oesplndido servio que aquela igreja tem prestadosempre causa da liberdade civil e religiosa. Nomomento mesmo em que ocupava o primeiro lugarcomo poltico, o seu plpito tratava dos terrveis masgloriosos mistrios da graa redentora. O lar de Daleno estava entre os profetas, e sim entre osapstolos e evangelistas. Visitava Isaas, mas vivia

    com Paulo. Alm disso, habitava "nos lugarescelestiais em Cristo Jesus", e eram as glrias dessaafinidade sublime que ele havia conquistado pelagraa e perante as quais estava sempre maravilhado eram essas glrias que ele procurava desvendardomingo aps domingo aos seus ouvintes. O seuplpito era reservado para temas vitais e de capital

    importncia; jamais permitia que as solicitaes dacidadania de cunho mais amplo o afastassem do seutrono.

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    Indicarei outro perigo. O sentido da verdade b-blica muito delicado, podendo ser facilmente en-fraquecido. Todo pregador sabe como sensvel orgo da percepo espiritual e com que vigilnciadeve ele ser protegido, desde que haja o desejo deconservar a viso e a percepo das "coisas maisprofundas" de Deus. Os senhores vero no seu minis-trio que o mau temperamento pode torn-los cegos.Vero que a inveja pode picar-lhes os olhos at nomais ser percebida a luz dos cus. Vero que otemperamento mesquinho ergue nuvens de origemterrena entre os senhores e os montes de Deus.Quando entrarem no gabinete, vero que o seu esta-do moral e espiritual requer a sua primeira ateno.J me aconteceu sentar-me para preparar o meusermo, e os cus terem ficado como bronze! Tendoprocurado o Evangelho Segundo Joo, foi--me comoum deserto, sem vegetao, sem frescor! Sim, ossenhores vero que quando o seu esprito estiverenfraquecido, a sua Bblia, os seus dicionrios e osseus comentrios sero apenas como outros tantosculos sem olhos atrs: os senhores estarointeiramente cegos!

    Provavelmente os senhores concordaro com

    tudo isto enquanto a nossa ateno se limita in-fluncia do pecado premeditado sobre a viso espiri-tual. Mas, eu lhes pediria que analisassem a questose o rgo espiritual do pregador no estar sujeito aprejuzos, desde que ele seja seduzido a aplicartodos os poderes da sua ateno a discusses econtrovrsias secundrias, a matrias que cer-

    tamente no ocupam a primeira plana dos interessesda alma. Eu creio que possvel o socilogo estragara qualidade de evangelista no pregador, e que oindivduo pode perder a capacidade de desvendar e

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    tornar manifestas "as insondveis riquezas deCristo." Cavalheiros, este receio no produto daimaginao. Tenho ouvido homens confessarem queadquiriram gosto e aptido por certo tipo depregao, e perderam o poder de expor aquelesassuntos mais profundos que engolfavam de modoabsorvente o corao e a mente do apstolo Paulo.Quando o pregador se faz economista, h homens defora do ministrio que podem sobrepuj-lo no ofcio.A sua influncia nestes remados secundrios relativamente pequena. O seu trono legtimo eindivisvel est em outra parte e no meio de outrostemas. A ele compete manter a pura, clara everdadeira a percepo das coisas que maisimportam, sondar o maravilhoso amor de Deus, es-cavar e explorar os tesouros da redeno, "nada sa-ber entre os homens, seno a Jesus Cristo, e estecrucificado"

    Mas dada uma segunda razo pela qual ostemas do plpito devem ser mais amplamente varia-dos que os da gerao passada. Dizem-nos que huma queda trgica no interesse pela Igreja. A Igrejaest agora cercada de interesses em conflito ou emcompetio. A vida moderna apresenta-se revestida

    de coloridos mais brilhantes; tornou-se maisdeslumbrante, mais atraente, mais fascinante. Asociedade hoje mais sedutora e as tentaes dosprazeres pululam por toda parte. E tudo isto estfazendo a Igreja parecer muito apagada e sombria, eos seus mtodos retrgrados e arcaicos lembram umtrole no seio desta era fulgurante e veloz dos

    automveis e avies! Desta maneira, a Igreja tem que"apertar o passo" e fazer os seus servios maisatraentes e agradveis. Os seus temas devem seratualizados. Devem ser assuntos "vivos" para ho-

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    mens "vivos"! Devem ser at um tanto sensacionais,se que visam a prender o interesse dos homens quevivem no meio de copiosa sensao, todos os dias.

    Compreendo bem os que tomam tal posio eacho que eles oferecem certos conselhos razoveisque sero sbios ouvir com ateno. Por outro lado,porm, acho que essa estrada est ladeada de peri-gos para os quais precisamos atentar com a mesmavigilncia. O apstolo Paulo reconhecia certos tiposde alteraes das circunstncias e resolveu adotaralguma elasticidade, fazendo-se "tudo para com to-dos" para que pudesse "salvar alguns." Entretanto,em toda a elasticidade das suas relaes, nunca elemudou os seus temas. Ele andou no meio dos des-lumbramentos de feso, Corinto e Roma, pormnunca se apossou do esplendor que o rodeava paraeclipsar com ele a Cruz. Nenhum "caminho domundo" o seduzia para afast-lo dos seus temascentrais. Aonde quer que fosse, quer a uma pequenareunio de orao a beira-rio em Filipos, quer ao seiodo provocante e sensacional esplendor de feso ouCorinto, ele "decidiu nada saber entre os homens,seno a Jesus Cristo, e este crucificado." E eu estoupersuadido de que, no meio de todas as

    circunstncias alteradas de nossos dias as revo-lues sociais, a corrida aps riquezas, a busca deprazeres no ganharemos coisa nenhuma comesta histria de abraar as coisas secundrias e deprestar homenagens petulncia e frivolidade danossa poca. A Igreja est em rumos perigososquando comea a imitar as notas sensacionalistas da

    hora que passa. Um dos mais ilustres e sbios con-selheiros dos nossos tempos, conhecedor dossegredos dos homens porque habitava "noesconderijo do Altssimo", deu este excelente

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    conselho ao ministrio, h algum tempo: "Contra osensacionalismo religioso, as afirmaesexageradas, as elocues assustadoras, as palavrasprofanas, as oraes irreverentes, os jovensministros devem tomar p com firmeza, pelo amor daIgreja e do mundo, pelo amor da sua carreira e de simesmos." Para mim, estas palavras no descrevemum perigo imaginrio. O perigo est j s nossasportas; em alguns lugares j se transformou emameaa real ao culto, e aqui e ali essa ameaa j uma "destruio que assola ao meio-dia." Existecerta dignidade reservada e reticente que sersempre um dos elementos essenciais do nosso poderentre os homens. Jamais atingiremos a sala maisinterna da alma de qualquer pessoa se empregarmosos recursos do diretor de espetculos ou do palhao.O caminho da irreverncia nunca nos levar ao lugarsanto. Sejamos to familiares em nossas relaesquanto quisermos, mas com a familiaridade dasimplicidade, a simplicidade que em tudo se vestecom naturalidade, pureza e apuro. Penso que se nosexercitssemos nas coisas supinamente belas,acabaramos por acertar nas coisas supinamentesensacionais, e que os ministros que usam temasimprprios, ttulos pomposos e vociferaes

    retumbantes no plpito, so indesejveis para oservio de busca e cura de almas.

    Quais as necessidades dos ouvintes que nosencaram dos bancos no templo? Qual ser a splicaque se oculta no recndito da sua alma? Estaroansiosos por ouvir a discusso dos assuntos dos jor-

    nais, acrescentados apenas da sano do santurio?Ser o pregador assim, como um editor acessvel, aapresentar a sua mensagem no meio de solenes ins-piraes de louvores e oraes? Qual a

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    orientao apostlica sobre a questo? Quandomedito no testemunho e na pregao dos apstolos,fico cada vez mais enlevado diante da plenitude eglria da mensagem. Seu alcance, sua amplitude,sua fulgurncia e seu colorido tm-me feito andarcada vez mais maravilhado nestes ltimos anos.Quando penso nisto, sinto-me como se estiver a emregies alpinas: altitudes majestosas e tratos de nevepura; desafios de abismos intransponveis e o maissignificativo silncio; rios notveis cheios at asbordas o ano todo; campos de lindas flores abrigadassob o desvelo protetor de vastides alcantiladas;rvores frutferas nas faldas mais abaixo, cada qualdando os seus frutos na estao prpria; o canto dospssaros; o ar estimulante; a tempestade terrvel.Pensem em qualquer das epstolas de Paulo, eexperimentaro este sentido de ar estimulante, deespao, de altura e de grandeza. Meditem emEfsios, ou Colossenses, ou Romanos, e no sesentiro em alguma pequena regio de colinas, eainda menos em alguma planura inexpressiva emontona; estaro, sim, repentinamente, numa zonamontanhosa, terrvel, dominante e, ao mesmo tempo,fascinante, amigavelmente convidativa, ntima. NaCarta aos Efsios, os senhores elevaro os olhos

    extasiados para a Glria inefvel, mas tambmvagaro pelos rios da graa e caminharo nasveredas da luz, e colhero "os frutos do Esprito" darvore que cresce no caminho. Eu lhes digo que,enquanto avanam os anos do meu ministrio, maisme encanta, mais e mais me domina esta grandeza,esta glria da pregao apostlica. H nela

    alguma coisa capaz de despertar a admirao doshomens, a lev-los ao temor santo, a prender o seuesprito, a expandir o seu entendimento, e a dilatarimensamente o seu pensamento e a sua vida.

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    E o que certo quanto pregao apostlica,tambm o quanto a todas as grandes pregaesatravs dos sculos at a hora presente. Tomemos onome de Thomas Boston. -nos dito que a sua lnguase "atarefava e afadigava ao mximo, para medir ecompreender", quando falava sobre "aquelasbnos redentoras que vo ao encontro de todas asnecessidades dos homens... o pleno e irrevogvelperdo de pecados; a restaurao ao favor e ami-zade de Deus; o dom do Esprito Santo em Suas in-fluncias iluminadoras, purificadoras epacificadoras, transformando os homens em templosvivos do Deus vivo; a vitria na morte e sobre amorte; logo aps a morte, a recepo da alma nacasa do Pai celeste, e a beatfica viso de Deus."Estes foram os temas de transcendental interesseque enriqueceram e glorificaram a predica deThomas Boston, e que fizeram dela um poder para omais alto bem, poder to grandioso que dificilmentehaveria um lar em todo o distrito de Etterick em queno fossem achados alguns dos seus conversos.

    Ou ento tomemos o exemplo de Spurgeon. Ossenhores talvez no gostem da sua teologia. Ou

    talvez fiquem chocados com certas partes dafraseologia que a sua teologia envolve. Mas eu lhesdigo que, se tiverem a predica de Spurgeon comoseu guia, os seus movimentos no se restringiro auma espcie de exerccios formais numa estril reade asfalto, nem se confinaro aos limites dum quintalacanhado. Ouam-no falar do amor de Deus, da

    graa de Jesus Cristo, da Comunho do EspritoSanto. Ouam-no discorrer sobre textos como"Aceitos no Amado", "A Glria da Sua Graa", "OEsprito Santo da Promessa", "A Suprema Grandeza

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    do Seu Poder para com os que Cremos"ouam--noem temas como estes, e percebero um sentimentode grandiosidade bem prxima daquela grandio-sidade que lhes infunde reverncia quando procuramouvir o apstolo Paulo. Cada diviso aparentementesimples do sermo como a sincronizao dotelescpio com alguma nova galxia de luminosoresplendor no firmamento insondvel.

    Ou ainda, pensemos em Newman. Que quemantinham escravizadas em quase penoso silncioas multides na Igreja de Santa Maria? Bem sei queali estava o mais alto gnio da pregao. Haviatambm aqueles misterioso fascnio que se ligasempre ao mstico e ao asceta, queles que, de modomais evidente, esto desligados dos impulsores eexcitantes interesses do mundo. Mas acima e almdisso, havia grandiosidade e intimidade nos temas deque tratava. Os seus ouvintes eram impelidos doescritrio ao santurio, do mercado ao lugar santo, eat "os lugares celestiais em Cristo Jesus." Osprprios ttulos dos seus sermes falam-nos do lugarde sua habitao: "Conhecimento Salvador"; "OEsprito Vivificador"; "A Humilhao do Filho Eterno";"Santidade Necessria para a Bem-aventurana

    Futura"; "Cristo Manifesto em Rememorao"; "AGlria de Deus." A simples apresentao dos temasalarga a mente e induz quele temor sagrado que "o princpio da sabedoria." O pregador estavasempre a locomover-se num mundo vasto, a solenegrandiosidade da vida estava continuamente sobreele, e sempre estava presente a vocao do Infinito,

    mesmo nos conselhos prticos concernentes aosdeveres do dia imediato.

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    Afirmo que tem sido esta a nota caracterstica,e a maneira de ser de todas as grandes e eficientespregaes. Foi exatamente assim a predica deThomas Binney. Diz algum que o conhecia bem: "Eleparecia mirar o horizonte, e no um terreno cir-cunscrito, nem o cenrio de uma paisagem local.Tinha ele um modo maravilhoso de relacionar todosos assuntos com a eternidade por vir." Sim, e isto nsencontramos em Paulo e nos apstolos. Era como seestivessem olhando um pedao de madeira trincadana janela de uma vila sua e, levantando os olhos,vissem a floresta onde crescera a madeira e,erguendo ainda mais a vista, contemplassem asneves eternas! De fato, assim acontecia com Binneye tambm com Dale, Bushnell, Newman e Spurgeon estavam sempre querendo ficar janela da vila,mas estabeleciam sempre ligao entre as ruas e asalturas e enviavam as almas aos seus cuidados apercorrerem o cume dos montes eternos de Deus. Eisto o que me impressiona sempre e cada vez mais a solene amplido dos seus temas, a glria dosseus desvendamentos, os seus esforos lingsticospara tornar conhecida tal glria, a voz do Eterno emseus apelos prticos; e a est o que impulsionava toprofundamente os seus ouvintes ao "arrebatamento,

    amor e louvor."

    Pois bem, a nossa predica contempornea caracterizada por esta mesma amplido dos temasapostlicos, por esta revelao da cativante riquezae glria espiritual? Fao estas perguntas no paraque registremos um veredito apressado e des-

    cuidado, mas para sugerir uma investigao pessoale sria. O Dr. Gore, bispo de Oxford, contou-nos re-centemente o que julga ser a perigosa tendncia dosministros e mestres da religio protestante. Declara

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    ele que ns estamos procurando refgio dasdificuldades de pensamento nas oportunidades deao. Sugesto deveras grave. Significa que estamosintensamente ocupados na pequena oficina daaldeia, e no temos a viso dos pinheirais, nem dosaugustos resplendores dos montes perenes. Signi-fica ainda algo mais que isto. No conseguiremosenriquecer as nossas aes pelo empobrecimento donosso pensamento. Uma teologia superficial noproduzir uma filantropia mais profunda. No pas-saremos a amar mais ardentemente os homens peloesfriamento do nosso amor a Deus. Os senhores nopodero extinguir os grandes temas e produzir gran-