O Príncipe da Vila Esquete a partir do romance de Cyro Martins apresentado no evento CELPCYRO 15...

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  • O Prncipe da Vila Esquete a partir do romance de Cyro Martins apresentado no evento CELPCYRO 15 ANOS 11 ago 2012 Atores: Natlia Souza e Anildo Michelotto
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  • Ests cansado Brandino? No, s me preocupa horrio do trem.
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  • Ora, o que isso homem? Pra um gacho do teu porte e da tua idade, passar a noite na farra brincadeira.
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  • Brandino semicerrou os olhos e, estonteado, perguntou-se o que diriam, se adivinhasse o coronel Sabino, Teresa, a me Luzia e... o Prncipe? Em seguida apalpou o bolso direito, de dentro,do palet. Lhe restaria ainda quanto? Mais ou menos trezentos dos quinhentos que o tesoureiro lhe deu. Teria coragem de enfunerar dinheiro do municpio em uma noitada de cabar? Pode ser que isso acontecesse, num momento de loucura.
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  • Demais, no deixaria, de forma alguma, de forma alguma, o Cardosinho arcar Solito com a despesa. Gastos de cabar sempre so grandes, sabia-o de ouvir dizer, de causos de aventureiro. s vezes as coisas se complicam, terminam mal, em baderna, garrafadas, suicdio. Correu-lhe um arrepio. Cardosinho o trouxe tona, puxando um assunto ameno.
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  • No gostas de poesia, Brandino? Gostar, eu gosto, s que quase no conheo poetas. Nenhum? O Lobo da Costa, o Castro Alves, o lvares de Azevedo. Opa, gente boa! Uma vez eu li uma poesia dum tal Olavo Bilac, que andou visitando o Rio Grande do Sul e esteve at no Cati, onde foi recepcionado pelo Joo Francisco, o facnora da fronteira. Como tu sabes coisas, Brandino! Pois o Bilac que seria poeta pra gente recitar numa noite dessas, caminhando ao luar rumo Estrela do Sul. S que no foi o Bilac que esteve no Cati, foi o Coelho Neto.
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  • Andaram mais uns cem passos e Cardosinho apontou para uma meia-gua, com uns bicos de luz na fachada. Brandino sentiu a terra abrir-se sob seus ps. Ao mesmo tempo, porm, pensava que precisava reagir. Caramba, no ia casar dentro de trs meses? Se a Teresa soubesse... Saber o qu? De que jeito? Isso so coisas que nem em sonhos passam pela sua cabea. Teresa, a cndida, a imaculada. Ele, o casto, o virtuoso.
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  • Chegamos. Brandino sentiu que a batalha estava comeando na porta, quando um leo-de-chcara o fez erguer os braos para lhe examinar a cintura. Menino assustado, tremia que nem vara verde. Casa cheia, muita fumaa, na pista vrios pares se requebrando e figurando num tango. Cardosinho tinha seu prestgio. Em poucos minutos arranjaram pra eles uma mesinha. um amigo de Porto Alegre, muito viajado, j com certa influncia poltica...
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  • Para um bom entendedor, e o gerente o era, essas palavras, ou outras que tais, penetravam-lhe com fora no corao. Aturdido, Brandino sentou-se na cadeirinha que o garom lhe trouxera por sobre as cabeas e agarrou-se a ela como a um autntico barco de salvao. Bebemos o qu? Brandino olhou surpreso para o companheiro, como que lhe perguntando se ainda por cima precisava beber. No bastava ter vindo, entrado, sentado? O aperitivo da casa. Ordenou Cardosinho ao garom, com um ar tranquilo de veterano, que Brandino j comeava a invejar. Em seguida, Cardosinho acenou para algum.
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  • Apareceu Dulce. Arredaram as cadeiras. O garom providenciou numa cadeira pra ela. Na penumbra, Brandino de repente se topou com um par de olhos luminosos, bem chegadinhos aos dele. Porque ela, que era amiga de Cardosinho, se voltara pra ele? A troco de qu? A resposta logo veio. De tus ojos. Tienes la mirada ms hemosa que ya he visto. Una cara morena com ojos verdes! Siempre ador. Todo esto te d un aire muy fino.
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  • Brandino sentia-se enredado num labirinto. No Passo, nunca ningum, nem sua me, antes, nem Teresa, agora, lhe tinham falado daquele jeito cobre seus olhos. E ficara subitamente curioso por mirar-se num espelho a ver se era verdade o que dissera a castelhaninha. E ela insistia e se aproximava e se roava e o tragava com os olhos, Brandino, a todas essas, estava perto e longe. Seu pensamento galopeou disparada. Conhecia algum no Passo, homem ou mulher, que tivesse semblante moreno e olhos verdes? Passou em revista, aceleradamente, a gente do povoado.
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  • Te quedas cuantos dias por ac? Eu?... Ah, me recordei dum, engraado, o Juca Cavalheiro. Qu dices? Bueno, nem sei.
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  • E virou o aperitivo num trago. Quantos minutos passaram naquela atrapalhao? Sentia-se cada vez mais confuso, tanto que nem viu o Cardosinho chamar uma mulher e ir bailar o seu tango.
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  • De repente, um frisson no cabar. Parou o baile, todos silenciaram, muitos acenavam com a cabea cumprimentando, alguns abanavam, o gerente abria alas e pedia desculpas, no o esperava, a casa estava cheia, as mulheres ocupadas, mas daria um jeito, pra ele sempre havia um jeito, o reservado para ocasies extremas, de enchente transbordante. Quem seria? Quem no seria? Foi Dulce quem esclareceu a Brandino.
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  • Es el diputado Flores da Cunha, con sus capangas y adulones. Siempre que pasa la noche en Santa Maria viene aqui. Dios quiera que no me moleste! Como? Siempre me manda llamar. E se te chamarem? Se o patro ordenar? No voy, decididamente. E no te prejudicar essa recusa? Pero hay una nueva, una italiana, que dice venida de Roma, pero es de Caxias. Esa le sirve para l qu a l le gusta. Esa d todo!...
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  • Nesse meio tempo se chegou a ela o cabaretier, que insistiu em vo. O que pretendia nela com aquele desconhecido, quem sabe se um pelado? No importava, fazia anos, qui toda a vida, que buscava um rosto moreno de olhos verdes.
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  • Afinal, naquela noite, de surpresa, eis que o destino, chamado Cardosinho, lhe trouxera o tipo sonhado. E tambm no iria sofrer se fosse por uma noite apenas. Acostumara-se a subir e descer estribos de trens, de homens, de situaes.
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  • Outro trago? S, otro, cuantos quisieres. Brandino mal a ouviu, no tanto pelo rudo do ambiente, mas porque seu esprito estava distante. Se o Prncipe sonhasse! Se imaginasse o enredo em que se metera o seu dono! Da, poderia at sentir-se orgulhoso.
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  • Naquela hora precisava pensar muito no Prncipe, senhor do terreiro, trepando impvio as franguinhas, uma, duas, quantas aparecessem, e depois, batendo as asas, cocorocoo!... Vitria!
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  • Vamos, querido? Mais uma vez ela o surpreendeu. Vamos aonde? A mi pieza.
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  • E escorregaram entre as mesas, ela na frente, soberana, e Brandino seguindo-a, temeroso do desconhecido que o esperava, mas desejando-a. No quarto, Dulce se comportou como se j soubesse de tudo. Ele chegou a supor que o Cardosinho lhe passara alguma dica, atravs dum olhar, duma senha, dum aperto por baixo da mesa. A colorao rsea das cortinas, dos lenis e das fronhas, mais os tragos que bebera, ele, que nunca passara dum copo ou dois de cerveja, mas sobretudo a mornido do corpo de Dulce, o entrelaamento, a entrega, a seduo, o abismo, a loucura... tudo isso o fez acordar dum soninho ligeiro s cinco da manh e sair correndo para no perder o trem.
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  • O Prncipe estaria cantando quela hora. Tambm ele tinha ganas de abrir o peito. Seria um eterno agradecido Dulce. Talvez nunca mais a visse, mesmo que, por um motivo ou outro, voltasse a Santa Maria. Essas mulheres no param, viajam muito... Sempre ouvira dizer. O mais entendido nessas questes de vida mundana, l no Passo, o dom Alberto. Os outros s entendem de putaria de chinedo. Sim, senhor! demorou, mas comeou por cima, pelo fino. Quando, na vida, ia pensar que um dia uma mulher iria preferi-lo em lugar do Flores da Cunha.